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Memória Roda Viva

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Anthony Garotinho

20/3/2006

Pré-candidato à Presidência nas eleições de 2006, Garotinho critica a política econômica do governo Lula

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Programa ao vivo.

Paulo Markun: Boa noite.  Foram duas batalhas: uma na Justiça, outra dentro do próprio partido. O PMDB viveu neste final de semana uma grande confusão em torno da escolha prévia de seu pré-candidato à presidência da República.  No final, barrada pela Justiça, a prévia virou consulta informal, e o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho venceu, apesar do concorrente Germano Rigotto ter recebido quase o dobro dos votos. Garotinho foi favorecido pelo critério antecipadamente combinado da média ponderada que dá peso diferente aos votos nos estados. Rigotto, governador licenciado do Rio Grande do Sul, tentou questionar, mas voltou atrás e reconheceu a vitória de Anthony Garotinho, convidado desta noite do Roda Viva, na qualidade de pré-candidato do PMDB à presidência da República. O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer, reconheceu hoje que a consulta informal de ontem não deve ter validade legal, tudo ainda depende da convenção nacional do partido, em junho. Mas a vitória de Anthony Garotinho como pré-candidato é um resultado político, tanto para os oposicionistas do PMDB quanto para ele próprio que se coloca na corrida presidencial pela segunda vez em sua vida política.

[Comentarista]: Anthony Garotinho nasceu no dia 18 de abril de 1960, em Campos, no norte do estado do Rio. Em 75 entrou para o Movimento Estudantil onde deu seus primeiros passos na política sob influência do Partidão, o antigo PCB. Garotinho participou da fundação do Partido dos Trabalhadores [PT] da cidade de Campos. Em 86, foi o candidato mais votado para a Assembléia Legislativa do estado, pelo PDT de Leonel Brizola. Dois anos depois, venceu a disputa para prefeitura de Campos. Em 96, foi novamente eleito prefeito da cidade já no primeiro turno, com mais de 70% dos votos válidos. Em 1998, Garotinho venceu a disputa pelo governo do Rio com mais de 3 milhões de votos. Quatro anos depois concorreu à presidência pelo PSB. Anthony Garotinho recebeu mais de 15 milhões de votos, terminando em 3º lugar. Agora, pelo PMDB, tenta a presidência depois de derrotar Germano Rigotto na consulta realizada pelo partido. Garotinho também trabalhou em rádios como locutor e narrador de corridas de cavalo e partidas de futebol. Casado com a atual governadora do Rio, Rosinha Mateus, teve nove filhos, cinco deles, adotados.

Paulo Markun: Para entrevistar o pré-candidato do PMDB, Anthony Garotinho, nós convidamos Ricardo Boechat, apresentador do Jornal da Band. Carlos Marchi, repórter e analista de política do jornal Estado de S. Paulo. Tereza Cruvinel, colunista de política do jornal O Globo. Denise Rothenburg, colunista de política do jornal Correio Brasiliense. Plínio Fraga, coordenador da sucursal da Folha de S. Paulo no Rio de Janeiro. E Alexandre Machado, editor de política da TV Cultura. O Roda Viva é transmitido em rede nacional de TV para todo Brasil. Boa noite, governador.

Anthony Garotinho: Boa noite, Paulo, é um prazer muito grande estar aqui no Roda Viva com você e com todos os telespectadores.

Paulo Markun: Prazer é meu. Eu começo, governador, com perguntas dos telespectadores, que já fizeram antes mesmo do programa iniciar, porque é possível isso também, e todas a respeito das prévias. Eu vou relacioná-las porque são bastante próximas. Cléo Oliveira, de Tocantins, diz o seguinte: “como é que o senhor considera a sua condição no partido já que, apesar da vitória na consulta, Rigotto foi muito mais votado, isso não pode ser considerado falta de apoio das bases”?  Aline Ventura, da Bahia pergunta: “o que o senhor achou do José Sarney [ex-presidente, senador federal em 2006] e Renan Calheiros [presidente do Senado Federal, de 2005 a 2007] que boicotaram as prévias”?  Daniel Larroque, de Mato Grosso, “qual o motivo que levará a maioria dos peemedebistas que votou em Rigotto a apoiar Garotinho para presidente”?  E, finalmente, Leonardo Freitas, de Santa Catarina, “que critério absurdo foi esse”, segundo ele, “onde quem recebeu mais votos perdeu e quem recebeu menos ganhou”?

Anthony Garotinho:
Em primeiro lugar, Paulo, e a todos os telespectadores que formularam essa pergunta, é preciso reconhecer que eu e governador Germano Rigotto fizemos uma campanha limpa, em nenhum momento o governador Rigotto teve qualquer palavra que comprometesse o respeito ao seu adversário e eu também, e isso ajudou muito a motivar o PMDB no Brasil inteiro.  Partido ficou muito entusiasmado, e toda nossa disputa se deu no plano das idéias, sem ataques pessoais, sem nenhum tipo de agressão.  Isso foi bom para vida interna do PMDB.  Devo reconhecer aqui que eu disputei com um concorrente que foi leal. A primeira pergunta, quanto ao critério, veja, o critério da proporcionalidade é que provocou um equilíbrio entre os candidatos, porque, vejamos só: o Rio Grande do Sul tem 490 municípios, o Rio de Janeiro tem 92. Se fôssemos adotar o critério do voto direto, cada delegado e cada suplente de cada cidade, mais os vereadores com direito a voto, o Rio Grande do Sul tinha três mil delegados na convenção, Rio de Janeiro tinha mil. Só para você ter uma idéia dessa desproporcionalidade, caso não fosse adotado o critério do peso por estado, os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e São Paulo, juntos tinham dez mil votos, Rio tinha mil. Embora o Rio tenha 10 milhões de eleitores, 14 milhões de habitantes. Então foi criado um critério pelo qual fazia-se uma média ponderada entre o número de eleitores do estado e o número de votos que o partido obteve na eleição à Câmara Federal e ao Senado.  E no caso específico do Distrito Federal, foram computados os votos, como não tem eleição municipal, foram computados os votos do governador Joaquim Roriz. Foi um critério discutido, aprovado por todos, aprovado, inclusive, pelos que estavam representando o governador Germano Rigotto. Pelo critério do voto direto, era impossível qualquer candidato vencer.


Paulo Markun: Mas isso, que senhor explicou, mas isso não elimina a questão que foi colocada aqui, o que levará a maioria dos peemedebistas, feita pelo Daniel Larroque, que apoiaram Rigotto, apoiar Garotinho? 


Anthony Garotinho: Não tenho dúvida de que a própria declaração do governador Germano Rigotto hoje, a própria conversa que eu tive antes de vir para cá com o senador Pedro Simon, que disse: “Amanhã nós vamos reunir o PMDB, e a primeira sessão do Brasil a declarar o apoio a você será o Rio Grande do Sul”.  Nós fizemos uma campanha muito juntos, para você ter uma idéia na sexta-feira à noite, eu e Rigotto jantamos juntos, no mesmo restaurante, na mesma mesa, sob o patrocínio do presidente do partido Michel Temer. Todos nós defendíamos a mesma tese: o PMDB precisa ter um candidato próprio, com um novo programa para o país, um programa que pregue o desenvolvimento, que pregue a redução da taxa de juros, e leve o Brasil a um novo período de crescimento, que o país não vê já há algum tempo. Então, eu não creio que haja ressentimentos, se fosse uma campanha onde tivesse cotovelada, deslealdade, ficaria ressentimento, não há ressentimento nenhum entre Garotinho e Rigotto.  Nem entre os partidários de Garotinho, nem entre os partidários de Rigotto, todos são partidários da mesma idéia, a idéia de que o partido necessita ter uma candidatura própria.


Carlos Marchi:
Governador, o senhor é candidato para ganhar ou é candidato para atrapalhar? 


Anthony Garotinho: Olha, eu não vou ser candidato para atrapalhar, eu sou candidato para ganhar, e acho que tenho todas as condições de ganhar. Eu parto de um princípio da eleição passada, porque eu não posso partir do princípio do que vai acontecer no futuro.  O futuro é uma hipótese, mas o passado é uma realidade. Da eleição passada eu disputei ponto a ponto a ida para o segundo turno com Lula e com José Serra. José Serra tinha dez minutos de televisão, eu tinha um minuto, quase dois minutos, não chegava a dois minutos. José Serra tinha como apoiador, em São Paulo, como candidato a governador, Geraldo Alckmin.  Eu tinha como candidato em São Paulo, todo respeito que ele merece, e até se dispôs a candidatar, o sargento Pitoli.  E em Minas Gerais, o José Serra tinha como apoiador da sua candidatura, e foi eleito governador, Aécio Neves, eu tinha professora Margarida.

Carlos Marchi: O senhor agora vai arranjar candidatos melhor nos estados?

Anthony Garotinho: Só [para] concluir.  No Rio Grande do Sul o Serra tinha o apoio do Rigotto, a aliança era PMDB-PSDB, meu candidato chamava-se Calebe.  Em Santa Catarina, o Serra tinha apoio do Esperidião Amin, meu candidato chamava-se Antônio Belo.  No Paraná, ele tinha o apoio do Jaime Lerner, Roberto Richa, eu tinha do Seu Severino, eu podia citar todos os outros. Então veja, não tinha palanques, eu não tinha tempo de televisão, eu tive 15 milhões de votos e Serra teve 19. A nossa diferença foi pouco mais de 4%.  Então, eu creio que com tempo de televisão, hoje o PMDB tem candidatos fortes, competitivos. No Rio Grande do Sul, o próprio Germano Rigotto que é o favorito nas pesquisas. No Paraná, Roberto Requião. Em Santa Catarina, Luís Henrique. Em São Paulo, Orestes Quércia. No Rio, Sérgio Cabral. No Espírito Santo, Paulo Hartung. Em Goiás, Maguito Vilela. Na Paraíba, José Maranhão. No Piauí, Mão Santa. Só para concluir Tereza, só um minutinho.

Paulo Markun: O senhor pode concluir, só queria... se o senhor pudesse sintetizar, eu agradeço.

Anthony Garotinho: Eu vou sintetizar. Me desculpe, mas eu queria dar uma resposta mais completa ao Carlos.  Então eu creio que com maior tempo de televisão, um partido mais estruturado, e certamente com a experiência dos erros que eu cometi na campanha passada, eu devo fazer uma campanha melhor do que foi a passada.

Denise Rothenburg: Agora, muitos do que o senhor falou aí já abandonaram outros candidatos do PMDB para apoiar Fernando Henrique Cardoso, para apoiar até mesmo Fernando Collor, em outras oportunidades eles não ficaram com candidatos do PMDB, o que lhe garante que agora eles vão ficar? 

Tereza Cruvinel: Deixa eu complementar com a pergunta da Denise, esses cabos eleitorais, esses caciques do PMDB que o senhor acabou de citar que serão seus aliados realmente, são pessoas com muita influência regional, mas nós sabemos que essa situação de hoje que permitiu a realização da consulta que não foi prévia e que lhe deu a vitória, essa situação pode se alterar em breve quando o Supremo Tribunal Federal esclarecer definitivamente que haverá verticalização. E, nesse momento, boa parte desses caciques do PMDB que o senhor enumerou vão estar mais interessados na disputa do mando local, em ficar fora da eleição presidencial para ter liberdade de se coligar do que encarregar um candidato com todo o potencial que senhor tem, por mais promissor que o senhor seja como candidato. O senhor não receia isso, que ganhou agora, mas não levará na convenção? 

Anthony Garotinho: Tereza, Denise, veja, nós temos que ser práticos. Se a candidatura decolar, ninguém abandona, se a candidatura não decolar, é natural o espírito de sobrevivência dessas pessoas todas.  Afinal de contas, são políticos que querem buscar o seu espaço político.  Agora, eu creio que eu saí de um patamar, DataFolha 12%, Ibope 14%, eu acho que eu tenho os votos que eu tive na eleição passada para começar, em torno de 15 milhões de votos, se você for levar para voto válido, os dois vão dar em torno de 15, 16%, eu tive 18.  Então, eu creio que ninguém vai abandonar um candidato que começa com 18%.  Ninguém vai abandonar.  Então, isso é fato na política, isso é experiência, e a vida que vai te mostrando.  Você quer candidato mais representativo da história do PMDB, da imagem do PMDB, aquele que na hora de fazer saudação dizia: “saudação militante peemedebista” que Ulysses Guimarães?  E, conforme foi dito pela própria Denise, a realidade, uma candidatura com dificuldades eleitorais naquele momento, foi abandonado [na campanha de 1989, Ulysses Guimarães, líder histórico do PMDB, obteve baixíssimo apoio popular e teria sido "abandonado" pelo PMDB].

Tereza Cruvinel: Então o senhor tem até junho para crescer bastante, não é? 

Anthony Garotinho: Nem tão bastante.

Tereza Cruvinel: O senhor precisa crescer a curto prazo?

Anthony Garotinho: Nem tanto, nem tão rápido assim.

Tereza Cruvinel: Vai sair em junho?

Paulo Markun: O senhor está altamente otimista?

Anthony Garotinho: Eu tenho 12%, 14, 15, se crescer cinco pontos eu vou para 20%.  O atual governador de São Paulo, pessoa que tenho grande respeito, carinho por ele, com toda visibilidade que teve nos últimos dias, grande visibilidade, até pela disputa que se travou dentro do PSDB, com José Serra [em 2006, houve indefinição do PSDB entre José Serra e Geraldo Alckmin sobre quem seria o candidato à presidência. Alckmin acabou escolhido e Serra candidatou-se a gornador], teve uma visibilidade enorme, ele tem 23%.  Então, eu acho que a gente não deve viver com ansiedade, ansiedade é inimiga do político.  Político tem que ter calma.

Tereza Cruvinel: Só que tem os prazos eleitorais.

Anthony Garotinho: Mas a gente tem que ter calma, paciência, e entender, e se der para o candidato crescer no tempo certo, ele crescerá. Se o candidato falar, se o candidato falar a realidade ao povo brasileiro, que está hoje no coração da maioria do povo brasileiro, que é o desejo de mudança, devia substituir essa política econômica aqui, levou o país a esta situação de dificuldade, bem. Agora, se ele também não conseguir transmitir isso à população, aí a responsabilidade é minha, eu não posso botar culpa no eleitor.

Alexandre Machado: Governador, como o senhor recebeu a declaração do ex-presidente Sarney, que declarou que entre os motivos para que o PMDB não devesse apresentar candidatura é de que o PMDB não tinha nenhum candidato competitivo? 

Anthony Garotinho: Bom, opinião dele. Respeito a opinião, o ex-presidente Sarney é uma pessoa com quem eu tenho experiências, mas é uma figura respeitável, né?, República brasileira, então, respeito, mas é opinião dele.  Não é a maioria do PMDB, a maioria do PMDB pensa diferente. Eu até sugeri, sabe, Alexandre, num determinado momento, que os governistas assumissem uma posição, isso foi publicado nos jornais.  E qual era a posição?  Eles não defendem apoio a Lula ir até a prévia, então deveria ter três opções na prévia. A primeira opção: Germano Rigotto. Segunda opção, Garotinho. Terceira opção, apoiar Lula. Por que não fizeram isso?  Eles iam perceber que eles estão descolados do sentimento da base do partido. 

Plínio Fraga: Governador, questão importante nesta campanha...

Anthony Garotinho: Só um minutinho. A pesquisa interna feita por eles próprios aponta que 95% dos peemedebistas desejam candidatura própria, não tinha passagem essa tese de apoio ao governo.

Plínio Fraga: Tema importante nesta campanha vai ser “caixa dois”. O senhor viajou pelo Brasil inteiro agora na pré-campanha até com jato particular, conheceu diversos estados. Não seria o caso do senhor já começar essa campanha prestando conta [de] quem pagou sua viagem, quem pagou seu jatinho, quanto o senhor gastou? E emendando essa pergunta: o senhor está disposto, durante a campanha eleitoral, a colocar seus gastos publicamente abertos na Internet para que o eleitor possa acompanhar com o senhor, para ver que não vai ter “caixa dois”, quem são seus financiadores de campanha, quem vai pagar sua campanha a presidente? 

Anthony Garotinho: Hoje respondendo uma pergunta dessa na coletiva que eu dei, eu apresentei o responsável pela minha pré-campanha.

Plínio Fraga: O senhor não sabe quanto gastou? 

Anthony Garotinho: Sei perfeitamente. O [Carlos Alberto] Muniz que é o secretário geral do PMDB do Rio de Janeiro, foi aberta uma conta, as pessoas, pelo estatuto do partido, fizeram a doação legal.

Plínio Fraga: Quanto o senhor gastou?

Anthony Garotinho: Espera aí, um minutinho. Fizeram a doação legal, fizeram todos os pagamentos pela conta, não tem negócio de pagar depois, foi tudo pago em cheque, e ele está atendendo a um pedido repórter da Folha de S. Paulo, amanhã vai estar fornecendo os documentos necessários.

Plínio Fraga: Mas o senhor não sabe quanto gastou?

Anthony Garotinho: Não sei.

Plínio Fraga: É questão do Lula, né?  O senhor não fala a questão do Delúbio, não viu o PT enriquecer, o senhor não sabe?

Anthony Garotinho: Não, não, é diferente. Tem um tesoureiro do partido na campanha, eu sei que não foi, de avião nós gastamos em torno de 400 mil reais. Agora eu lhe pergunto, vamos jogar aberto...

Ricardo Boechat: São doações, governador?

Anthony Garotinho: Tudo doação, legal, comprovada, com recibo.

Ricardo Boechat: No âmbito do estado do Rio de Janeiro, 400 mil reais?

Anthony Garotinho: Não, de avião.

Ricardo Boechat: 400 mil reais, só de avião? 

Anthony Garotinho: Só de avião.

Denise Rothenburg: E esse dinheiro pagou também as passagens dos fiscais que foram enviados para os estados? 

Anthony Garotinho: Tudo, não, aí não está nesse valor, isso é outro valor, estou dizendo de avião, isso é outra coisa.

Denise Rothenburg: Por que o senhor mandou uma série de fiscais para todos os estados. E as passagens foram pagas...

Plínio Fraga: O showmício de ontem tinha cantores, dez ou quarenta mil pessoas, conforme avaliação, ônibus, tinha cantores, espetáculo, o senhor tudo...? 

Anthony Garotinho: Todo evento de ontem foi custeado pelo PMDB do Rio de Janeiro.

Plínio Fraga: Quanto custou?

Anthony Garotinho: Pergunte aos organizadores, Plínio.

Plínio Fraga: Mas é a mesma questão do presidente, o senhor não acha?, quando o Lula fala, “não sabia quanto o Delúbio usava, quanto Delúbio gastava, onde ele arrecadava”, estou perguntando e fazendo uma proposta para o senhor, o senhor não quer colocar seus gastos de campanha aberto?

Anthony Garotinho: Quero, vou colocar.

Plínio Fraga: Isso é um compromisso que senhor está assumindo aqui publicamente?

Anthony Garotinho: Publicamente, não tenho nenhum receio de colocar.

Denise Rothenburg: Mesmo que a lei não obrigue?

Plínio Fraga: A partir de quando e mesmo que a lei não obrigue?

Anthony Garotinho: Mesmo que a lei não obrigue.

Plínio Fraga: O senhor está se comprometendo a fazer isso?

Anthony Garotinho: Publicamente.

Plínio Fraga: A partir de quando?

Anthony Garotinho: Acatando a sua sugestão, vou chegar agora no Rio de Janeiro e pedir que o Muniz coloque na Internet a relação de quanto foi arrecadado e tudo o que foi gasto. Agora você veja o seguinte, eu estou viajando, estou viajando o tempo inteiro, eu vou saber quanto foi gasto, posso dar um número aqui e você amanhã levantar quando publicado: “você disse que era 300 mil e foi 500 mil, você disse que foi 600 mil é 700 mil”. Eu me comprometo com você que semana... que semana que vem está na Internet, estou assumindo publicamente, pode cobrar de mim.

Paulo Markun: Tem uma pergunta da cientista política Célia Melhem.

Célia Melhem: Senhor governador, considerando que o PMDB chegou aparentemente bastante dividido a sua escolha, uma parte do partido com tendência governista, não interessado em lançar candidatura própria, e uma outra parte apoiou num outro candidato, esta outra parte também é expressiva. O senhor não teme que ocorra ao longo da campanha o mesmo que aconteceu com o doutor Ulysses, que foi o fundador do partido e que acabou cristianizado, abandonado pela máquina partidária, teve uma votação totalmente inexpressiva para presidente, o senhor não teme que lhe ocorra o mesmo?  E se isso ocorrer, qual é o seu plano B com que o senhor conta para se eleger?

Anthony Garotinho: Olha Célia, não tenho plano B, estou seguro de que nós vamos partir do patamar de votos da eleição passada, 15 milhões de votos, eu já disse, a candidatura vai crescer e eu não serei abandonado.

[Em 13 de maio de 2006, a convenção extraordinária do PMDB decidiu que o partido não teria candidato próprio ao Palácio do Planalto nas eleições de outubro. Os governistas - defensores de uma aliança informal com o PT em torno do presidente Lula - conseguiram uma vitória apertada. Foram 351 votos contra a candidatura, 303 a favor, 1 nulo e 2 em branco, de um total de 657 votos. Nesse mesmo dia, a Segunda Turma Civil de Brasília concedeu uma liminar suspendendo os efeitos da convenção extraordinária, em resposta a uma ação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ligado ao ex-governador Anthony Garotinho. Este, ao ver-se sem o apoio do PMDB para disputar a Presidência da República, começou a colocar em prática um plano para tentar viabilizar a candidatura própria, cogitando o possível apoio à candidatura do senador Pedro Simon (RS), já que o ex-presidente Itamar Franco desistira da disputa à Presidência. Dessa forma, Garotinho poderia impor uma derrota ao grupo governista do partido mesmo que para isso ele tivesse que desistir da disputa. O ex-governador ainda acusou os governistas  de terem atuado para desmoralizá-lo e assim impedir que seu nome se viabilizasse como candidato.] 

[intervalo]

Paulo Markun: Tirando o presidente Lula que ainda não foi anunciado oficialmente, mas é o candidato do PT, Anthony Garotinho é o segundo nome definido nesta fase de pré-candidaturas, embora ainda dependa da confirmação do partido em junho. O primeiro pré-candidato formalizado foi o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, que, aliás, declarou isso pela primeira vez publicamente aqui no Roda Viva. Mas, no cenário da pré-campanha ainda existem outros políticos se colocando como candidatos a pré-candidatos.  

[Comentarista]: Heloísa Helena é candidata natural do PSOL à presidência, mas não descarta disputar o Senado novamente ou o governo alagoano. A senadora por Alagoas é formada em enfermagem, e é professora licenciada, sem rendimentos, do Centro de Saúde da universidade federal do estado. Se elegeu pelo PT, mas desde junho de 2004 é do recém fundado PSOL. Cristovam Buarque é outro petista que deixou o partido, mas pelo PDT. O senador nega a intenção de voltar a disputar o governo do Distrito Federal, mas não esconde o desejo de tentar o Palácio do Planalto. Engenheiro mecânico com doutorado em economia, Cristovam foi ministro de Educação do governo Lula. Também pelo PDT, o líder do partido no Senado, Jefferson Peres, também já demonstrou o desejo de entrar na briga pela presidência. Amazonense, é formado em direito. Peres entrou para a vida política tarde, foi eleito vereador pela primeira vez aos 56 anos, em 1988. O PPS pretende lançar o deputado federal por Pernambuco, Roberto Freire, para disputar a presidência. O líder do Partido Popular Socialista participou pela primeira vez em uma eleição em 1972, quando concorreu à prefeitura de Olinda, pelo antigo MDB. Advogado por formação, Freire se elegeu senador em 95 e deputado federal outras cinco vezes. César Maia, prefeito do Rio de Janeiro, é o candidato do PFL à presidência da República. Jorge Bornhausen, presidente do partido, confirma que se Maia quiser, será candidato, mas o PFL também pode fazer um acordo com o PSDB, agora de Geraldo Alckmin. César Maia foi deputado constituinte em 86 e se elegeu prefeito do Rio três vezes, sendo o político que mais vezes governou a cidade.

Paulo Markun: Governador, fora o presidente Lula que obviamente tem um programa, claro, continuar o governo Lula, todos os outros pré-candidatos batem na mesma tecla, pelo menos é a impressão que a gente tem: desenvolvimento, redução da taxa de juros, aumento do emprego, enfim, mudança do paradigma do Brasil. O que distingue o senhor dos outros pré-candidatos que falam algo parecido? 

Anthony Garotinho: Olha, eu acho o seguinte. O PSDB, em que pese todo respeito, admiração que eu tenho pelo governador Alckmin, uma pessoa que merece de todas as pessoas um carinho muito grande, pela sua educação, pelo seu comportamento ético, mas PSDB já foi governo. Então, o que diferencia minha candidatura da candidatura do PSDB é que eu posso dizer que eu vou fazer um programa alternativo, porque eu não estive no governo.

Carlos Marchi: Mas o PMDB já esteve.

Anthony Garotinho: Não, o PMDB não, o PMDB...

Carlos Marchi: Sarney é PMDB.

Anthony Garotinho: PMDB, dos grandes partidos brasileiros, ele foi o único que ainda não teve oportunidade de ganhar uma eleição e colocar em prática um novo programa.  Eu também quero me referir ao programa que foi construído sob a coordenação do professor Carlos Lessa [economista, foi presidente do BNDES durante o governo Lula], com a participação do César Benjamim, com a participação do professor Darc Costa [vice-presidente do BNDES na gestão de Carlos Lessa] e que tem um conceito, qual é o conceito?  Nós queremos fazer uma nação ou um mercado?  Nós queremos construir uma nação.  E uma nação tem que ser alicerçada em cima de princípios, em cima de uma visão do país.  A visão que nós temos do Brasil, é que esses dois períodos, o período de alta inflação e o período de alta taxa de juros foram períodos que deixaram o país muito debilitado na sua auto-estima. Levaram uma concentração de renda brutal, levaram o país a uma falta de perspectiva muito grande. Então, nós combinamos assim uma série de políticas públicas, e na nossa visão, essas políticas públicas, a partir da mudança da política macro econômica, vão resultar num longo período de prosperidade e crescimento. Você há de convir, Paulo Markun e você que nos assiste, que o Brasil, no ano passado, ter crescido, em toda América Latina, apenas mais que o Haiti, é muito triste para todos nós. Você há de convir Paulo, e todos os telespectadores que nós temos ainda hoje um país que 92 milhões de brasileiros ganham até um salário mínimo, até um salário mínimo.  E desses 92 milhões, 30 milhões ganham cem reais. Você tem a taxa de desemprego que o país tem, a taxa de desemprego que já é medida errada, a medição de emprego é daqueles que procuraram emprego na última semana, já é altíssima. Então, eu creio que o PSDB e o PT tiveram sua oportunidade. O que diferencia a minha candidatura das demais candidaturas é que eu posso dizer: “me dêem oportunidade para aplicar o meu programa porque os outros dois já tiveram”.

Paulo Markun: Boechat.

Ricardo Boechat: Os discursos de quem está fora do poder, disputando o poder, são muito parecidos, quer dizer, pedir a oportunidade de colocar em prática um programa que se assemelha muito no discurso, no geral, aos programas que todo mundo sugeriu quando estava fora do governo – redução de taxas, aumento do emprego, melhoraria de economia, enfim, redenção social etc. e tal – me parece um apelo meio repetitivo. Eu queria saber o seguinte: o senhor, objetivamente, na campanha, depois de um ano aí de clima de ventilador na política brasileira, o senhor pretende focar os seus ataques em qual adversário prioritariamente?

Anthony Garotinho: Eu não vou fazer nenhum tipo de ataque, eu até tenho dito que eu vou ser um telespectador privilegiado dessa campanha. Eu me vejo no debate, de um lado candidato do PT, outro lado candidato do PSDB, e um vai dizer ao outro: “Olha, você comprou voto para reeleição”. E outro vai dizer: “Você comprou para o mensalão”. E eu vou dizer: “Os dois têm razão”.  Eu vou assistir. 

Ricardo Boechat: O senhor é inatacável? 

Anthony Garotinho: Não, não sou inatacável, mas vou assistir a briga deles.

Plínio Fraga: [vários falam ao mesmo tempo] O senhor foi acusado de comprar votos em Campos, por exemplo. O senhor foi acusado de comprar votos em Campos, [“Fui absolvido”, responde Garotinho] tem processo na justiça, quase foi cassado...

Anthony Garotinho: Veja, Plínio, acusar é muito fácil. Veja, o processo foi tão mal instruído contra mim que disseram que eu estava lá no local. Depois, quando foi se ver, eu estava no fórum, numa reunião dos presidentes do partido. Eu soube do que estava acontecendo, me dirigi e não ficou provado absolutamente nada. Então isso aí não me ataca. Acusar uma pessoa, o sujeito pode dizer assim: “Plínio Fraga é uma pessoa assim, assado”. O cara pode dizer, pode pensar a seu respeito. Agora, é o seguinte, a gente não pode, sabe Plínio, eu tenho sido vítima, às vezes, de muita incompreensão, eu entendo até essa incompreensão, a gente não pode levar as questões assim, da forma... Aqui na entrada antes de começar o programa, falei: “Plínio, domingo você escreveu um artigo na Folha que não correspondia à verdade”. Ele disse: “Qual?” Eu disse para você: “Você colocou lá que eu implantei nas escolas um estudo do criacionismo”. Plínio, deixa eu te explicar como que é isso.  Eu era governador, um deputado chamado Carlos Dias do PFL, ligado à Igreja Católica, apresentou esse projeto.  O projeto foi aprovado por unanimidade, vem para minha mão, pressão imensa da Igreja Católica, que era quem queria o projeto, para aprovar o projeto.  Se eu veto....

Plínio Fraga: Escrevi o que senhor é a favor do criacionismo, e o senhor é. Não falei do projeto, só para corrigir o senhor. O senhor falou que é a favor do criacionismo, contra a teoria evolutiva de Darwin, só isso que eu escrevi. Só pra esclarecer.

Anthony Garotinho: Calma, não precisa ficar nervoso. Só estamos conversando...

Plínio Fraga: Não estou nervoso. Só queria esclarecer, colocar as coisas do modo correto.

Anthony Garotinho: Aí o projeto chega na minha mão, falei pronto, vão me acusar de que eu estou vetando um projeto por um deputado ligado à Igreja Católica, e eu que sou presbiteriano, vão dizer: “vetou por questões religiosas”. Sancionei o projeto. E fiz o quê?  Criei um conselho enorme que envolvia representante de dom Eugênio Sales, representante dos evangélicos, pentecostais, não pentecostais, criei um conselho enorme, e aquilo foi demorando, demorando, acabei não implantando. Rosinha ganha eleição. E aí vieram tudo em cima, todo mundo novamente: “tem que fazer, tem que fazer, tem que implantar, tem que implantar”.  Rosinha disse: “Vocês me mandem o documento da forma como vocês querem”. E ela cumpriu. Agora, a matéria não é obrigatória, a matéria é optativa, ninguém perde de ano se não for à aula. Então, veja bem, querer dizer: “Não, Garotinho misturou com a sua”... A lei nem é minha, embora eu diga a você, no tempo em que eu estudei...

Denise Rothenburg: Governador, governador...

Anthony Garotinho: Só um minutinho. No tempo em que eu estudei tinha aula de religião no colégio. Eu não acho que fez mal a mim.

Tereza Cruvinel: A adoção dessa matéria exclui da aula de biologia o ensino do evolucionismo?

Anthony Garotinho: Não, absolutamente, absolutamente.  Como é que vai tirar estudo?

Plínio Fraga: Mas o senhor acredita mais nisso do que em Darwin, isso que eu escrevi, só isso.

Denise Rothenburg: Agora, governador, falando em acusações, governador... [Denise tenta fazer uma pergunta, mas é interrompida]

Anthony Garotinho: Plínio, uma coisa não tem nada a ver com outra.  [vários falam ao mesmo tempo]

Denise Rothenburg: Teve gravações que o senhor proibiu de publicar que seus advogados entraram na...

Carlos Marchi: Na escola se dá as duas versões, no Rio de Janeiro? Uma evolucionista e uma criacionista, o menino que escolhe? 

Anthony Garotinho: Não, aula de religião... Não vejo nenhum mal em ter aula de religião, qual o problema?  Agora, se na aula de religião...

Carlos Marchi: Mas quando a aula de religião nega a ciência, o que está cientificamente [provado]... é um pouco complicado.

Tereza Cruvinel: Se [na] aula se ensina outra coisa, quer dizer, em quem ele vai acreditar? 

Carlos Marchi: Menino fica embananado.

Anthony Garotinho: Quero dizer o seguinte, cada um deve ter a liberdade para ouvir todas as teorias.  Ouçam todos.

Carlos Marchi: Isso não é teoria, isso é uma opção religiosa.

Anthony Garotinho: Sim.

Carlos Marchi: Que, aliás, a ciência...

Denise Rothenburg: As gravações que O Globo uma vez ia publicar e que seus advogados – eu  não lembro direito da história – até queria que o senhor rememorasse aqui.

Anthony Garotinho: Denise, essas gravações foram ao ar de forma ilegal, inclusive depois no programa de PT. PT que colocou aquilo no horário eleitoral no Rio de Janeiro, uma revista de circulação nacional publicou as gravações, não tinha nada demais.

Plínio Fraga: Mas o senhor foi à Justiça duas vezes para tentar barrar.

Denise Rothenburg: Mas então o senhor foi à Justiça por quê, se não tinha nada de mais?

Anthony Garotinho: Eu fui por quê? Porque elas haviam sido feitas de forma ilegal.  Eu não posso permitir, como agora a gente está vendo, a Caixa Econômica pegar e divulgar um sigilo bancário de um caseiro, se eu como cidadão, aquela época governador do estado, não me rebelar contra uma gravação feita de forma clandestina, ora, nós vivemos num país que tem leis.

Ricardo Boechat: O senhor acha que esse tipo de instrumento não vai acontecer na campanha não, governador?

Anthony Garotinho: Espero que não. Não vou usar nada disso contra ninguém.

Tereza Cruvinel: Governador, esse era o ponto que eu queria chegar...

Anthony Garotinho: Não uso, não é minha prática, não concordo com isso, eu acho que política deve ter limites.

Ricardo Boechat: O senhor acha honestamente, governador, que vai fazer campanha para presidente da República sentado entre dois adversários com índices maiores que o seus, ficar dizendo aqui A, e aqui B, e passar por isso como se fosse um...

Tereza Cruvinel: O senhor está achando que vai poder fazer o papel de “o bonzinho”, que não xinga ninguém numa campanha que vai ser uma carnificina, porque essa campanha...

Anthony Garotinho: Não vou atacar ninguém, isso é uma opção minha...

Ricardo Boechat: O senhor é um político combativo, sempre foi, brigou, xingou, [?] é normal? 

Tereza Cruvinel: O senhor acha que vai ser possível isso numa campanha que está se prometendo o que promete?  [Denise Rothenburg fala ao mesmo tempo que Tereza Cruvinel]

Anthony Garotinho: Tereza, o povo está cansado de baixaria em campanha, ninguém agüenta mais isso.

Tereza Cruvinel: O senhor é que vai ser “o paz e amor”, então. O senhor quer ser o “Garotinho paz e amor”? 

Anthony Garotinho: Eu vou apresentar os meus projetos para o país. Acho o que povo está interessado em saber o seguinte: tem jeito de aumentar meu poder de compra?  Tem jeito de ter uma escola melhor, tem jeito de sobrar mais dinheiro no meu bolso?  Agora, porque fulano fez isso, porque fulano fez aquilo, pelo amor de Deus!

Paulo Markun: Proposta de projeto, governador. Pergunta de Cardoso, do Rio de Janeiro, ele só dá o sobrenome, ele pergunta o seguinte: o senhor acha certo a polícia invadir o morro e trocar tiros com os traficantes pondo em perigo a vida de muitas pessoas? Acho que ele se refere obviamente a essa ação que envolveu a polícia e o exército.

Anthony Garotinho: Quero dizer o seguinte: nós precisamos ter parâmetros para todas as coisas. E então, veja: 99,9% da população que mora nessas comunidades, é uma população honesta, vítima, infelizmente de um processo de urbanização que se deu de forma errada em todo o país.  E no Rio de Janeiro é mais visível, porque o Rio de Janeiro é aquela cidade maravilhosa que tem a montanha, tem o morro e tem o mar. Você, por exemplo, tem os mesmos problemas na periferia de Brasília, mas está lá longe na cidade satélite. No Rio de Janeiro tem a Rocinha e São Conrado, lado a lado; você tem Ladeira dos Tabajaras e Copacabana. Agora, isso aconteceu ao longo de 30, 40, 50 anos, como querer que o governador ou governadora resolva isso em três, quatro, cinco anos?

Paulo Markun: Mas o senhor não está se propondo o resolver os problemas do Brasil em três, quatro, cinco anos?  Aliás, em quatro, né?

Anthony Garotinho: É diferente...

[?]: Quiçá oito...

Tereza Cruvinel: [interrompendo Garotinho] Governador, me dá licença. Desculpa, eu acabei de fazer a pergunta, mas  [“Espera um pouquinho, Tereza”, diz Garotinho] essa aí eu preciso fazer porque...

Anthony Garotinho: Nós devemos tratar todas as coisas com seriedade. Veja, processo de urbanização no Brasil, equivocado, que expulsou do campo milhares de pessoas porque elas não tinham onde trabalhar, porque as condições de vida no campo eram muito ruins, porque não foi feito um processo de reforma agrária dentro da lei, um processo organizado, que tivesse no Brasil, vamos dizer assim, uma vida melhor na área rural do Brasil, nada disso que a gente está assistindo hoje estaria acontecendo. Agora, você achar que algum político brasileiro tem condições de resolver isso em curto prazo, não tem. Então, para concluir sua pergunta, agora, é possível em três anos aumentar taxa de crescimento do país?  É.  É possível em quatro anos colocar o dólar numa posição equilibrada que não mate os exportadores brasileiros?  Olha, nesta campanha, eu fui no Centro Oeste brasileiro, eu vi o sujeito que planta soja chorar, eu vi aqui em Limeira no interior de São Paulo o sujeito que produz laranja dizer assim: “Garotinho o que eu faço com minha caixa de laranja?” Então nós não podemos misturar coisas que são...

Paulo Markun: [interrompendo Garotinho] Só para o senhor não perder a pergunta do Cardoso. O senhor acha correto a polícia invadir o morro, e ação do Exército, por exemplo? [vários falam ao mesmo tempo]

Anthony Garotinho: Não acho correto.

Paulo Markun: E a ação do Exército, por exemplo? O senhor acha incorreto? 

Tereza Cruvinel: Preciso falar, rapidinho aqui. Governador, por favor...

Paulo Markun: Só um pouquinho, Tereza.

Anthony Garotinho: Não acho correto. Agora, eu te pergunto: os bandidos se escondem no morro, escondem, a polícia faz o quê, sobe ou não sobe?  Acho que tem que subir. 

Paulo Markun: Acho que o senhor respondeu à pergunta.

Anthony Garotinho: Tem que subir. Não vai subir?  [“Então me dá um aparte, aqui, por favor”, diz Tereza Cruvinel] Vai criar uma área privilegiada onde a polícia não entra?  Isso não deu certo no passado. 

Ricardo Boechat: Considerando a população que está ali, o caveirão, nós somos do Rio de Janeiro [“Boechat, tá certo... Não deve atirar. Agora, eu te pergunto, Boechat, eu te pergunto”, Garotinho fala ao mesmo tempo que Boechat] e sabemos que o que se comete de barbaridade ali, nessas incursões... Há uma forma de subir e outras.

Anthony Garotinho: Se coloca no lugar do policial. Eu fui secretário de Segurança. Quando eu assumi a Secretaria de Segurança eu disse: “Olha, eu não sou policial”. Vocês me conhecem, eu fui governador, investi muito na tecnologia da polícia. A polícia do Rio não tinha laboratório de DNA, não tinha laboratório de balística, não tinha câmeras, você sabe, você é do Rio de Janeiro. Nós implantamos câmeras em todos os batalhões, Copacabana hoje é toda monitorada por câmera. Muito bem, então o que eu disse aos policiais: “O limite de vocês é a lei”. “Como é que é isso, Garotinho?” “A lei.  Dentro da lei vocês façam o que for necessário para combater o crime.  E saibam que dentro da lei vocês terão todo meu apoio, se excederem da lei, vocês vão ter”...

Plínio Fraga: E o senhor como presidente vai colocar o exército na rua?

Tereza Cruvinel: Governador, eu estou querendo fazer uma pergunta sobre o exército, por favor...

Anthony Garotinho: Não vamos fazer demagogia não.

Tereza Cruvinel: Dentro do que o senhor está falando...

Anthony Garotinho: Deixa eu responder essa pergunta, esse assunto é muito importante. Não dá para tratar um assunto tão sério que mexe com a vida das pessoas com demagogia.

Plínio Fraga: Mas a sua mulher, a governadora, defendeu a presença do exército na rua, agora no Rio. [no dia 28 de abril de 2004, a governadora Rosinha Matheus foi a Brasília pedir ao presidente Lula o envio das Forças Armadas para ajudar no combate à violência no Rio.]

Tereza Cruvinel: Governador, uma grande parte da população do Rio de Janeiro deseja o exército envolvido, se é correto ou não, uma grande parte da população do Rio de Janeiro deseja o exército.

Anthony Garotinho: Tereza, eu tenho compromisso com a verdade, não tenho compromisso só porque a pessoa quer, eu vou fazer.  Dá licença!

Tereza Cruvinel: Por que a governadora Rosinha recusou todas as propostas, todas as tentativas do governo federal de ações conjuntas contra o narcotráfico...

Anthony Garotinho: Não, não é verdade...

Tereza Cruvinel: Sim, várias vezes a governadora recusou...

Anthony Garotinho: Não é verdade, Tereza, não é verdade.

Tereza Cruvinel: ...a oferta do exército em atuar em sintonia com a força de segurança estadual, todas as tentativas de composição...

Anthony Garotinho: Tereza, quer ver como não é verdade, vou te dar um dado concreto, como não é verdade.  Quando era secretário, o atual secretário, não era outro não, era este mesmo, Luis Fernando [Luis Fernando Correa, Secretário Nacional de Segurança Pública por quase quatro anos, até setembro de 2007. Tornou-se, então, diretor-geral da Polícia Federal], secretário nacional de Segurança, eu era secretário de Segurança. Então...

Tereza Cruvinel: É, teve uma tentativa que já foi com o senhor.

Anthony Garotinho: Comigo?

Tereza CruvinelR: O senhor ainda era secretário.

Anthony Garotinho: O que eu fiz?  Eu nominei as favelas, as favelas, e o quantitativo de homens que eu queria por favela.  Por quê?  O que eu não queria? 

Tereza Cruvinel: Mas o senhor queria o comando da operação.

Anthony Garotinho: Não, queria um comando conjunto. O que eu não queria? Eu não queria que a população fosse enganada. Porque em outras operações do Rio de Janeiro, em outros governos, outros tempos, o que acontecia, Tereza? Botava um canhão, no meio da avenida havia um tanque, botavam três ou quatro camaradas com arma na Zona Sul, e mexiam com a sensação de segurança, mas não fazia nada.  Eu disse: “Quero tantos homens para o [morro do] Dendê, tantos homens para a [favela da] Rocinha, tantos homens para o Vidigal [bairro da cidade do Rio de Janeiro], tantos homens para o Complexo do Alemão”. Quando eu falei em Complexo do Alemão, sabe por que eu fiz isso, Tereza? Eu fiz porque eu sabia que uma ação dessa só podia ser feita dentro dos limites da lei, [um entrevistador fala ao mesmo tempo que Garotinho] e dentro dos limites da lei... Só um pouquinho... [falando com o entrevistador que tentava interrompê-lo]  E dentro dos limites da lei...

Tereza Cruvinel: Porque é importante saber, Marchi, se ele for presidente,  o que ele vai fazer pela área de segurança.

Anthony Garotinho: Aí, sim... Então deixa eu falar.

Carlos Marchi: Mas não em detalhes do morro do Rio.

Tereza Cruvinel: Menos popular o Complexo do Alemão, vamos falar de uma forma mais geral, quero saber se ele usará ou não as Forças Armadas, por exemplo, no enfrentamento do grande problema de segurança do Brasil no Rio de Janeiro.

Anthony Garotinho: Tereza, vamos tratar esse assunto com seriedade. Era o presidente Fernando Henrique Cardoso...

Tereza Cruvinel: Nós estamos tentando tratar com seriedade, governador.

Anthony Garotinho: Era o presidente Fernando Henrique Cardoso... Era o ministro Gregori [José Gregori, advogado. Foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique de 2000 a 2001]. Muito bem. Eu fiz um plano nacional de segurança com 44 propostas, tenho a foto publicada no Jornal do Brasil, tenho a foto publicada no Globo, tenho a foto publicada na Folha. Entreguei ao presidente. O plano continha: plano número um, criação de uma guarda nacional de fronteiras. Todos os países que conseguiram resolver minimamente o problema do narcotráfico e o problema do tráfico de armas tem guardas nacionais de fronteiras. Não é papel do Exército, não é papel da Polícia Federal.  Ponto número dois, reforma do Código Penal e do Código de Processo Penal. Ambos: um atravanca o processo e outro é fraco demais nos crimes praticados, os chamados crimes hediondos. Três, devolver aos estados o controle sobre a vigilância privada. Para você ter uma idéia, tanto em São Paulo quanto no Rio, em todos os estados brasileiros, o efetivo de vigilantes privados é o dobro da soma da polícia civil com a polícia militar.

Carlos Marchi: Governador, quero falar do projeto de campanha.

Anthony Garotinho: Hã?

Carlos Marchi: Eu quero te perguntar sobre projeto de campanha.

Anthony Garotinho: Deixa eu falar sobre segurança que eu acho que é um assunto de extrema importância.

Tereza Cruvinel: Qual é sua plataforma de presidente para a questão de segurança? 

Anthony Garotinho: Deixa eu terminar. Porque em 80% dos crimes que são desvendados de roubos a empresas e a condomínios, quando você faz a checagem, você chega à conclusão que foi passado por um ex-vigilante, ou ele faz parte daquele grupo que descobriu e passou a mecânica de funcionamento do condomínio ou da empresa.  Então, quem controla isso é a Polícia Federal, vou te dar o número do Rio: para controlar 100 mil vigilantes privados do Rio, a Polícia Federal tem sete homens. A construção de presídios federais, enfim, um conjunto de medidas, nenhuma delas foi adotada. Quando o Lula ganhou, eu tinha apoiado o Lula no segundo turno, eu peguei o mesmo projeto e entreguei. Olha, Tereza, eu não quero aqui discutir um assunto que merece tanta atenção, de uma forma, sabe, levando para o campo emocional, para fazer aqui uma demagogia. Eu conheço boa parte das polícias do mundo, era minha obrigação conhecer, estudar, ver como funciona, o que podia ser aprimorado, ver o que poderia ser aperfeiçoado. Então, estou falando com conhecimento de causa, não sou um irresponsável, apenas porque eu acho que devia botar o exército, não vamos resolver assim. Não vamos resolver assim. O exército só foi para rua agora, e aí, lamentável ter que dizer isso, porque roubaram as armas deles. Eles não foram por nenhuma causa da sociedade, isso é triste. 

Paulo Markun: Mas voltemos ao PMDB. O partido é historicamente marcado por disputas internas e teve maus resultados nas poucas vezes em que entrou na corrida presidencial. 

[vídeo comentado]: O PMDB é grande e os números comprovam, mas o tamanho do partido também provoca polêmicas internas. Atualmente com 9 governadores, 22 senadores, 82 deputados federais, e no comando de 1057 prefeituras, o PMDB disputa com o próprio PMDB se vai concorrer à presidência ou se não terá candidato próprio na eleição de outubro.  Durante o regime militar, ainda como MDB o partido se tornou refúgio de políticos que se recusavam a aceitar o golpe de 64 e ganhou o status de única oposição no país. Com o fim do bipartidarismo muitas lideranças de prestígios permaneceram no PMDB, mas com divergências. Agora com a escolha de Anthony Garotinho na consulta informal deste domingo, o dividido PMDB se prepara para o que pode ser a sua terceira disputa eleitoral à presidência com candidato próprio. O partido tentou chegar ao poder em 1989 com Ulysses Guimarães, na eleição seguinte com Orestes Quércia. Nas duas vezes em que disputou a presidência o PMDB não foi bem nas urnas, o partido não conseguiu transformar em votos para chapa majoritária o apoio das bases. Em 89, Ulysses recebeu pouco mais de 3 milhões de votos e ficou em 7º lugar, longe dos primeiros Collor e Lula, que foram para o segundo turno, e atrás de Leonel Brizola, Mário Covas, Paulo Maluf e Guilherme Afif Domingos. Com Orestes Quércia o partido foi ainda pior, quatro anos depois o candidato do PMDB recebeu menos votos que Ulysses Guimarães e terminou atrás de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Enéas Carneiro. Agora, com  Garotinho, o PMDB luta para vencer as resistências dentro do partido e batalha para chegar ao poder pela primeira vez. 

Paulo Markun: Governador, o senhor acha que os ministros do PMDB devem entregar o cargo  ou sair do partido? 

Anthony Garotinho: Olha, Paulo, por mim eles não tinham nem assumido, essa era minha posição, eu defendi isso dentro do partido. Agora, eles foram à revelia da direção partidária, que é uma coisa que me chama muito atenção, e me entristece do governo Lula, é a forma pouco republicana com que o governo age.  Por exemplo, se ele queria uma aliança com PMDB, quem ele deveria procurar?  Presidente do partido.  Para isso é que existem a direções partidárias. Não, ele fez o processo de cooptação de algumas lideranças do partido, tentando esvaziar o partido.  Então, não creio que os ministros vão sair.  Estou expressando aqui a minha opinião.

Paulo Markun: Mas eles não deveriam sair do partido, o partido não deveria decidir expulsá-los? 

Anthony Garotinho: Eu acho, mas como o partido está dividido, eu creio que isso é muito difícil. E mais, eu ainda insistindo um pouco nessa forma pouco republicana do PT, eu não posso deixar de registrar aqui a minha indignação com dois episódios: um relativo a esse caso do caseiro, que é grave. Como é que foi parar numa revista o sigilo fiscal de um homem tão humilde, sigilo bancário de um homem tão humilde? Como que foi isso? Isso é um negócio complicado. E daqui a pouco, a Caixa Econômica Federal não é mais a Caixa Econômica do povo brasileiro, é a Caixa do PT. 

Carlos Marchi: O senhor tem conta na Caixa Econômica e no Banco do Brasil? 

Anthony Garotinho: Não. Então, veja, o caso da Polícia Federal. Paulo, veja bem...

Paulo Markun: O senhor mencionou que eram dois episódios, o segundo era Polícia Federal?

Anthony Garotinho: Polícia Federal. Veja bem, qualquer cidadão neste país que disser assim: “Bom, há suspeita de caixa 2 contra ele”, como houve aqui no caso da Daslu, o que fez a Polícia Federal?  Foi na Daslu, prendeu, examinou, então, bom. Há um cidadão neste país, que diante das câmeras de televisão do Brasil inteiro, ele disse: “Eu fiz caixa 2 mesmo, e todo mundo faz. Eu fiz assim, assim, assim”. Quem é este homem? Delúbio Soares. O que aconteceu com Delúbio Soares?  Ele está preso? Não. Delúbio Soares está desfrutando da nova modalidade de lei que existe no Brasil, a lei para os amigos do presidente. 

Denise Rothenburg: Mas aí não é problema do governo, é um problema do judiciário.

Anthony Garotinho: Não, é problema de quem investiga. [“Mas quem julga é o judiciário”, responde Denise] Espera um pouquinho, espera um pouquinho, você acha certo o Sílvio Pereira, secretário geral do PT, ter dito e confessado praticamente que uma licitação grande, milionária, na Petrobras foi fraudada, e ele ganhou um Land Rover, pouca coisa. O carrinho que custa aí cento e tantos mil reais, e não acontece nada? Mas que história é essa?  Quer dizer que a lei vale para a dona da Daslu... não conheço a dona da Daslu, não sei quem é, nunca tive lá. Agora não pode ter uma lei para um cidadão comum e uma lei para amigos do presidente, isso não está certo.  Agora, quem está dizendo aqui não é um inimigo do Lula, eu votei no Lula, votei no Lula em 89, segundo turno contra o Collor.

Paulo Markun: O senhor foi fundador de PT até, né?

Anthony Garotinho: É, mas naquela época eu era PDT, votei nele a pedido do Brizola. Votei nele... No único estado que ele venceu na eleição em 98, no Rio de Janeiro, e no segundo turno, votei nele contra o Serra, então não foi nenhum tipo de...

Denise Rothenburg: No segundo turno agora em 2006 o senhor vai votar em quem se o senhor estiver fora?

Anthony Garotinho: Em ninguém, porque eu vou para o segundo turno.

Denise Rothenburg: Mas se o senhor estiver fora, nessa hipótese?

Anthony Garotinho: Denise, quero dizer para você o seguinte: eu estou tratando aqui de um assunto tão grave, tão sério, que é a decepção com a transformação do aparelho do Estado no aparelho do PT. Eu quero dizer para você, com toda sinceridade, olha, eu tenho a maior divergência...

Denise Rothenburg: Se o senhor não ganhar? 

Anthony Garotinho: Deixa eu lhe dizer, eu tenho a maior divergência do ponto de vista da doutrina econômica com o PSDB. Total. Mas eu quero lhe dizer, eu fui governador junto com Fernando Henrique, há uma diferença muito grande entre o comportamento do Fernando Henrique e do Lula. Fernando Henrique jamais foi ao Rio de Janeiro sem me ligar e dizer, “governador, estou chegando a tal hora na base do Galeão”, lá eu estava para esperá-lo.  O Fernando Henrique jamais...

Denise Rothenburg: E o presidente Lula não liga para governadora para dizer que...? 

Anthony Garotinho: Não liga para ninguém, não deve ser só para governadora. Eu que apoiei o Lula no segundo turno da eleição, sabe qual foi o resultado no Rio? Seis milhões de votos para o Lula e um para o Serra. Sabe quantas vezes eu estive com o presidente Lula durante o governo dele? Uma vez durante o velório de Leonel Brizola no Palácio do Guanabara.

Carlos Marchi: Então ele respondeu a sua pergunta Denise, ele está dizendo que no segundo turno não votará no Lula de jeito nenhum.

Anthony Garotinho: Não estou dizendo que eu vou votar em ninguém, ou que eu vou deixar de votar em ninguém, estou dizendo o seguinte: existem comportamentos de pessoas que sabem separar a questão política, institucional, republicana da questão eleitoral. A eleição acabou, o governador está eleito, muito bem, o presidente está eleito, são de partidos diferentes, eles têm que conviver.

[?]: Vamos falar de programa de campanha, governador? Vamos falar um pouquinho de programa de campanha?

Alexandre Machado: Queria fazer uma pergunta sobre o eventual apoio do presidente Lula ao senador Marcelo Crivela que é dado como uma coisa bastante possível. Eu gostaria de saber se o senhor acredita nessa possibilidade, e se acredita que haja dentro do âmbito das igrejas evangélicas uma divisão e que haverá essa...?

Anthony Garotinho: Olha, eu não sei, eu não tenho essa ligação com a Igreja Universal, ela faz uma oposição sistemática a mim, eu sou presbiteriano, não sou membro da Igreja Universal, portanto eu não sei.  Dizem que vai apoiar, não tenho nenhuma informação a respeito disso, também não quero me meter nos acordos do PT.  Eu acho engraçado o PT... Eu ouvi outro dia um comentário que a reunião do PT deliberou tirar uma nota que a escolha do PMDB foi antidemocrática.  E botaram isso no papel, eles interferiram na escolha do outro, eles estão interferindo dentro do PMDB, o PMDB não tem candidato, estão usando os ministros para boicotar, usando tudo o que é possível para impedir a candidatura, eles se metem na vida dos outros.

Ricardo Boechat: Mas os outros estão metidos no governo [outros falam ao mesmo tempo]. O senhor tem uma parte do seu partido dentro do governo. Aliás, de todos os governos. Eu fico me perguntando se o PMDB, o que foi mais interessante para PMDB como partido: se foi pegar duas fatias de cada pizza a cada governo que se renovava ou ele disputar 100% da pizza sem comer nada.

Anthony Garotinho: Boechat, essas pessoas foram para o governo à revelia. Agora, a decisão partidária decidiu que não deviam ir, como é que você pode impedir que um sujeito vá para o governo?, não tem como impedir.

Denise Rothenburg: Que caso concreto o senhor podia relacionar de interferência na prévia, um caso concreto? [Boechat fala ao mesmo tempo que Denise]

Anthony Garotinho: Sarney era PMDB [respondendo aos comentários de Boechat].

Ricardo Boechat: Tinha PMDB no Sarney, tinha PMDB no Fernando Henrique.

Plínio Fraga: Governador, queria mudar para economia o assunto. O senhor falou do programa alternativo econômico e o senhor já recuou em duas frases que eu me lembro que o senhor dizia no começo da campanha e agora o senhor evita dizer.

Anthony Garotinho: Qual? 

Plínio Fraga: A primeira o senhor dizia que era favor da taxação do sistema financeiro.

Anthony Garotinho: Sou a favor.

Plínio Fraga: E segundo o senhor dizia que...

Anthony Garotinho: Quem disse que eu não sou a favor?

Plínio Fraga: Deixa eu terminar. O senhor dizia que além das taxações do sistema financeiro, o senhor dizia que, agora me esqueci, tem outra coisa que não me lembro... [Tereza lembra-o] Obrigado, Tereza. Mas no programa do Lessa, renegociar a dívida interna. No programa alternativo do Lessa não tem nem uma coisa e nem outra, o senhor já recuou nesses dois pontos?

Anthony Garotinho: Você mesmo disse, programa do Lessa.

Plínio Fraga: Que o senhor encomendou e o senhor vai encampar, né?

Anthony Garotinho: Eu encomendei não, o PMDB encomendou. Quem encomendou o programa Lessa foi a direção nacional do PMDB.  Eu quero dizer para você que eu concordo com muita coisa que está ali, eu concordo praticamente com todas as questões colocadas ali, agora, o candidato...

Plínio Fraga: Mas o senhor vai dar um calote na dívida, o senhor vai taxar o sistema financeiro? São duas perguntas.

Anthony Garotinho: Quem falou em calote de dívida?

Plínio Fraga: O senhor disse renegociação, é uma forma de dizer calote.

Anthony Garotinho: Então você vai a uma loja que você está devendo e faz um acordo com a loja, olha eu vou pagar assim, assim, e a loja aceita. Isso é calote?

Plínio Fraga: Se a loja não aceitar eu tenho que pagar. E se a loja não aceitar, o senhor vai dar o calote?

Anthony Garotinho: Não, claro que não. Mas ninguém falou em calote. [Tereza fala ao mesmo tempo] Eu não sei da onde você entende que a palavra, eu vou abrir o dicionário Plínio para ver se a palavra renegociar é sinônimo de calote, eu acho que não é, a minha impressão é que não é.

Tereza Cruvinel: O senhor disse que não ia participar da carnificina eleitoral, e se nós deixássemos o senhor ia ficar aqui um bom tempo falando dos delitos do PT. Falou do Delúbio, falou do Silvio Pereira, o senhor falou da impunidade, mas não vamos fugir do assunto não. É importante ter idéias para discutir na campanha, né?, porque a gente prevê que ela vá ficar só na troca de acusações, e o eleitorado diz: “Bom, o que os senhores estão me propondo mesmo?”  Vamos retomar a discussão da política econômica, retomando a pergunta do Fraga.  O senhor tem essa sua posição em relação à dívida é uma coisa muito nebulosa. [“É muito clara”, afirma Garotinho] Então, que tipo de renegociação, é? A la Argentina, por exemplo? O senhor espera fazer alguma coisa como fez o presidente [Nestor] Kirchner? 

Anthony Garotinho: Não.

Tereza Cruvinel: Como que é, o que o senhor pretende? É importante isso para o Brasil, para nossos credores, para o mercado, é importante saber.

Anthony Garotinho: Eu vou explicar. O Brasil tem hoje uma taxa de juros extremamente alta, e essa taxa de juros extremamente alta faz com que a dívida brasileira cresça numa velocidade que nós não temos condições de pagar. Então, nós estamos caminhando para quê? Nós estamos caminhando para uma situação insustentável. Hoje, de tudo o que o governo arrecada, 40% vai para pagar juros da dívida, 40%.  Depois, diz assim: “tem que cortar despesa do Estado.” 40% de todas as despesas do Estado é pagamento de juros. Então, veja, na medida em que você diminuiu a taxa de juros, e aumenta a taxa de crescimento do país, você vai para um ponto de equilíbrio.  Eu não estou falando em renegociação forçada, isso vai ocorrer naturalmente. Nós estamos combinando aqui três coisas, veja: reduz juros, diminui a carga tributária, e aumenta crédito.  Na medida em que você diminuiu juros, aumenta carga tributária, diminui a carga tributária [corrigindo-se] e aumenta crédito, o país cresce, o país gera, como eu falei, mais emprego, o país gera mais salário.

Denise Rothenburg: Para fazer tudo isso quem o senhor vai chamar para ser ministro da Economia quando o senhor for eleito?

Anthony Garotinho: Um dia de cada vez. Vamos ter um pouco de paciência.  Então, veja, eu às vezes, fico pensando, mas você diz: “Mas Garotinho”, o jornalista, “isso não é possível”. Então você me dê um argumento [mostrando] que não é possível. “Não é possível, se baixar os juros vai subir a inflação”. Está bom, vou fazer uma pergunta: quanto é a taxa de juros no Chile? “Chile é diferente”. Então quanto tem a taxa de juros na Alemanha? “Alemanha é diferente”. Então, quanto é a taxa de juros na zona do euro toda? “Zona do euro é diferente”. Quanto é taxa de juros dos Estados Unidos?  “É diferente”.  Então, a história de que não pode fazer me lembra o seguinte: aquela parada de 7 de setembro, e está todo mundo marchando na mesma direção, tem um [ao] sujeito contrário, só ele que está certo, então dá impressão do seguinte, todo mundo está errado, o ministro da Alemanha, o ministro do Chile, o ministro da Argentina, o ministro da Dinamarca, da Suécia, da Espanha, de Portugal.  Só o [Antonio] Palocci é que está certo? 

Paulo Markun: Governador.

Anthony Garotinho: O mundo todo está errado?  O mundo todo está errado, só Palocci está certo?  Olha, se o Palocci é esse gênio, vamos propor para ele logo...

Tereza Cruvinel: As condições do Brasil é que são diferentes, né, governador?

Anthony Garotinho: Diferente do mundo todo. Olha, vamos parar com essa hipocrisia. Claro que dá para descer a taxa de juros, agora não vai descer a taxa de juros com Henrique Meirelles no Banco Central [presidente do Banco Central durante o governo Lula], não vai. O Henrique Meirelles representa um setor que tem uma visão acadêmica errada, isso é um erro intelectual. Eu não digo que essas pessoas estão fazendo isso por desonestidade, não creio, mas é uma visão equivocada do processo.  Agora, eu pergunto, há outro caminho?  Claro que há, porque todo mundo está fazendo outro caminho, a Índia está fazendo, a China está fazendo.

Paulo Markun: Governador.

Anthony Garotinho: Só um minutinho.

Paulo Markun: Eu só queria pedir porque nós temos um intervalo para chamar.

Anthony Garotinho: É só para dizer para Tereza e para o Plínio o seguinte: a Índia e a China, eles têm condições melhores que o Brasil? Mas eles estão crescendo. Eles escolheram outro caminho, será que eles também estão errados e o Palocci é que está certo?  O povo que julgue.

Paulo Markun: Pergunta de Fabrício, de Salvador, na Bahia, e engreno junto a pergunta de Paulo Tony, de São Paulo. O Fabrício quer saber se o senhor acha que o governo Lula teve avanços em relação ao governo FHC. E o Paulo quer saber qual é será sua estratégia para derrotar o Lula? 

Anthony Garotinho: Olha, eu acho que política econômica dos dois é igual.  Não há dúvida que o Lula fez um pouco mais de investimento na área social, mas a pauta de planejamento do governo do Lula é uma coisa impressionante.  Há poucos dias eu li uma notícia que o presidente foi inaugurar uma “operação tapa buraco”. Eu confesso que eu já tinha visto presidente inaugurar tudo, mas dizer que um presidente da República pega um avião e vai inaugurar uma “operação tapa buraco”!  Francamente.  O Lula agora começou a inaugurar o futuro, ele vai lá, bota uma placa: “Aqui será construída a futura universidade não sei da onde”. Aquilo pega, é projetado no Jornal Nacional e vai para o Brasil inteiro. Mas não inaugurou nada, inaugurou a placa, inaugurou a intenção. É uma modalidade nova, inaugurar intenção.

Paulo Markun: Mas no Rio de Janeiro não há justamente uma discussão que envolve o governo do senhor...

Anthony Garotinho: Deixa eu só concluir.

Paulo Markun: ...em relação a, do senhor não, da sua esposa, em relação às tais 10 mil obras?

Anthony Garotinho: Ah, existe sim. Inclusive O Globo hoje publicou duas obras que não teriam sido feitas pelo nosso governo, que são obras da prefeitura, o que eu posso fazer? O jornal errou.

Paulo Markun: Mas está sendo investigado isso?

Anthony Garotinho: Não está sendo nada investigado.

Paulo Markun: Não? 

Anthony Garotinho: Nada investigado.

Paulo Markun: Ministério Público não está indo verificar?

Anthony Garotinho: Ministério Público disse que por causa da matéria vai levantar se as 10 obras existiram ou não. Perfeitamente, nós estamos todos de acordo. O que não pode - [você] vai ler nos jornais amanhã, nota oficial do governo - é colocar uma nota, uma foto de uma obra da prefeitura de Mesquita atribuída ao estado.  Aí não dá. Não dá.  Questiona o seguinte, olha, esta obra aqui não foi feita, está ótimo. Não são 10 mil, são 9 mil, 999. Vem cá, dessas 9 mil 999 tem o metrô da Siqueira Campos, tem a obra do emissário de Ipanema, feita no meu governo, quer dizer, obras englobam um período de gestão.

Paulo Markun: Se eu não estou enganado, e posso estar, obviamente, a gente sempre pode se enganar, o Ministério Público não questiona também justamente o estilo da propaganda, que não seria de esclarecer ou de conscientizar a sociedade, mas sim de ser pura propaganda eleitoral?

Anthony Garotinho: Eleitoral? Você anunciar e divulgar a obra?  Então, eu aqui no intervalo vi uma obra do metrô, aqui de São Paulo, aquilo é uma obra eleitoral?

Paulo Markun: Se o Ministério Público assim o considerar.

Anthony Garotinho: Aí é uma questão subjetiva, não podemos partir para o subjetivismo. Ou as coisas são iguais para todo mundo ou não podem ser iguais para um e não ser o mesmo critério para outro.  Por exemplo, outro dia estava ouvindo uma cientista política falar, achei muito interessante, faz parte desse sistema assim de incompreensões que existe em relação a mim: “Não, Garotinho é populista, porque criou o restaurante popular”. Bom, restaurante de comida a um real.  Então, Geraldo Alckmin é populista porque criou o Bom Prato?

Carlos Marchi: Governador, vamos falar de campanha, vamos falar de programa de campanha.

Anthony Garotinho: Essa questão do tratamento é muito importante: ou os dois são populistas ou os dois não são populistas. Porque um faz restaurante popular é populista, o outro faz o Bom Prato não é populista?  Lula criou o Bolsa Família, Lula não é populista, mas Garotinho criou antes do Lula o cheque cidadão que dá 100 reais a cem mil famílias pobres para que elas mantenham o filho na escola e a carteira de vacinação em dia. O Garotinho é populista de dar o cheque de 100 reais, aí o Lula dá o Bolsa Família não é populista?  Ou Garotinho é populista, Alckmin é populista, e o Lula é populista, todo mundo é populista, ou ninguém é populista. Porque não dá para você chamar um que faz a mesma coisa do outro e não dizer que o outro também é.

Carlos Marchi: Governador, o senhor pode não ser populista, agora estou preocupado com uma definição que eu queria que o senhor desse para gente, na linha daquela que o Plínio e a Tereza lhe cobraram antes. Quando o senhor falou do seu programa econômico que está sendo feito pelo Carlos Lessa da Costa...

Anthony Garotinho: César Benjamim.

Carlos Marchi: Isso, César Benjamin. O senhor me deixou uma pequena dúvida, então eu queria que o senhor esclarecesse para gente, para o eleitor brasileiro naturalmente, qual o tamanho da sua estima pela Lei de Responsabilidade Fiscal?

Anthony Garotinho: Olha, Lei de Responsabilidade Fiscal, ela é importante para o país, foi um grande avanço.

Carlos Marchi: O senhor, como presidente, a respeitaria em todos os sentidos?

Anthony Garotinho: Perfeitamente, mas você tem que adequar algumas questões à Lei de Responsabilidade Fiscal. Não é adequar a lei não, algumas questões. Por exemplo, 13% da receita líquida real para pagamento de encargos da dívida, está colocada sobre a cabeça dos governadores e prefeitos, não agüentam. Então, eles vão descumprir a lei, porque chega num momento que o governador e o prefeito têm que ver o seguinte: ou eu cumpro a lei e aí tenho que cortar merenda escolar, eu tenho que cortar o dinheiro do hospital...

Carlos Marchi: O senhor pode cortar o excesso de funcionários, por exemplo.

Anthony Garotinho: Mas como? Você quer ver uma coisa? O Rio de Janeiro tem um aposentado para cada ativo, e a média do país, alguns estados tem mais, Rio Grande do Sul tem um pouco mais, São Paulo tem essa média também, um ativo para cada um inativo, o que eu faço?  Então o policial se aposenta, eu vou dizer assim: “Não vou botar mais polícia não, porque estou infringindo a Lei de Responsabilidade Fiscal”. Aí vem o cidadão e diz assim: “Bom, mas nós queremos mais segurança”. Ele tem toda razão quando ele pede mais segurança. Mas qual é a situação que fica o administrador público?  Ele dá segurança e contrata mais um policial, ele dá saúde que o povo precisa e contrata mais um médico ou ele cumpre a Lei de Responsabilidade Fiscal

Carlos Marchi: O que o senhor propõe então, que se mude o percentual? 

Anthony Garotinho: Não, eu proponho que deste percentual de 13% da receita líquida real comprometido para pagamento da dívida sejam excluídas aquelas despesas vinculadas do estado. Por quê? Se você incide sobre a receita global da forma como é hoje, incide sobre a educação, sobre a saúde, que já tem percentuais definidos constitucionalmente... no Rio de Janeiro, por exemplo, você  tem que gastar 25% com a educação.

Denise Rothenburg: Ou seja, tira esses assuntos do comprometimento.

Anthony Garotinho: Exatamente, esses assuntos, pelo menos esses três, saúde, segurança e educação têm que ser excluídos desse cálculo. Coloque 13% do restante da receita do estado, senão você quebra o estado.

Tereza Cruvinel: E o limite de gasto com pessoal, o senhor respeitaria ou proporia mudar também? 

Anthony Garotinho: Rio está dentro de lei, acho que Brasil tem que andar dentro de lei.

Alexandre Machado: Governador, o presidente do Tribunal Superior, ministro Edison Vidigal, após conceder liminar suspendendo a prévia do PMDB, foi ao Maranhão. E, segundo se informa, ele foi fazer lançamento de sua campanha ao governo do Maranhão. Ele pretende sair da presidência do STJ [Tribunal Superior de Justiça] e voltar à política. E o presidente do Supremo Tribunal [Supremo Tribunal Federal], ministro Nelson Jobim, já anunciou que deverá se aposentar e vai se filiar novamente ao seu partido, ao PMDB. 

Anthony Garotinho: Não, ele não disse ainda qual é o partido, ele disse que vai se filiar a um partido.

Alexandre Machado: Já disse, PMDB de Santa Maria, inclusive. Eu pergunto ao senhor seus comentários sobre isso, já que estamos num momento tão delicado da vida política brasileira.

Anthony Garotinho: Acho que todos os dois têm direito, o cidadão quer sair da função em que está para se candidatar, tem todo o direito, agora, eu estou de acordo com o novo presidente do STJ que vai assumir. Aos magistrados cabe menos mídia e menos política. 

Denise Rothenburg: Que erro o senhor cometeu na campanha que o senhor não vai repetir na de 2002? 

Anthony Garotinho: Eu acho que na campanha passada, até por inexperiência, né?, eu já fiz muitas campanhas, duas vezes prefeito, disputei duas eleições de governador, ganhei uma, perdi a outra, já fui deputado, fiz duas campanhas de prefeito, vitoriosas, mas uma campanha presidencial não tinha feito.  Então, uma campanha presidencial, ela requer alianças muito mais amplas, e eu fui um candidato solitário na eleição passada, solitário, era praticamente um homem sozinho. Essa é a primeira, não dá para ser um homem sozinho numa campanha presidencial, tem que ter uma retaguarda, tem que ter uma equipe grande, eu não tinha equipe.  Isso foi um erro que eu cometi.  Outro erro que eu cometi é que eu achei que com aquele tempo de televisão eu tinha condição de enfrentar todas as adversidades, uma campanha sem recurso como foi minha outra campanha. Eu não tive, cheguei perto. Segundo, eu creio que o tempo amadurece as pessoas, né?, o tempo ensina as pessoas, eu na campanha passada tinha uma posição muito agressiva, isso não é bom para o candidato.

Ricardo Boechat: Governador, estou encantado com esse seu discurso apaixonado pelos adversários, o senhor está quase me convencendo a votar neles, porque realmente o senhor não vai atacar ninguém, mas tudo bem. Vai ser uma mudança significativa no seu estilo, porque eu acompanho a política do estado do Rio de Janeiro há muito tempo, e sempre o vi muito, muito..., não é? Mudou o homem.

Tereza Cruvinel: Virou “paz e amor”, é o “Garotinho paz e amor”.

Anthony Garotinho: Queria fazer uma ressalva nisso que você está falando.

Ricardo Boechat: Não, não entra na provocação.

Anthony Garotinho: Não, é uma ressalva só. Não confunda a crítica pontual ao fato, como eu fiz aqui, da crítica pessoal. 

Ricardo Boechat: Não, não estou confundindo, estou achando que o couro vai comer mesmo governador.

Anthony Garotinho: Não vou deixar de criticar o “mensalão”, é um fato que o país todo tomou conhecimento, agora eu não vim com ataque pessoal.

Tereza Cruvinel: O senhor acha que é verdadeira aquela lista de cinqüenta e dois peemedebistas que também receberam o “mensalão”?

Anthony Garotinho: Você viu a lista, Tereza?

Tereza Cruvinel: Não vi.

Anthony Garotinho: Eu também não vi, então eu não posso comentar o que eu não vi, se você me disser quem está na lista eu posso dizer. Agora eu não vi essa lista, você viu?

Tereza Cruvinel: Mas ela existe.

Anthony Garotinho: Existe? Você viu? Se você não viu, eu não vi, como eu posso dizer se eu acredito no que eu não vi?

Paulo Markun: Governador, nosso tempo acabou, tenho uma última pergunta que eu queria que o senhor respondesse rapidamente, porque realmente o tempo se esgotou. Não deve ser fácil ser candidato nesta eleição depois de tanta desilusão dos brasileiros. Qual que o senhor acha que tem que ser o instrumento para convencer o eleitorado? 

Anthony Garotinho: Falar a verdade, olhar nos olhos das pessoas, não procurar enganar e nem prometer aquilo que não pode fazer, porque a grande desesperança, a grande desilusão dos eleitores com Lula é porque o Lula prometeu aquilo que não podia fazer. 

Paulo Markun: Governador, muito obrigado pela sua entrevista. Boa sorte na sua campanha que ainda tem bastante estrada pela frente. Agradeço aos nossos entrevistadores e você que está em casa, e voltaremos na próxima segunda-feira com mais um Roda Viva. Uma ótima semana e até segunda.


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