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Paulo Markun: Boa noite. Ele administra a maior cidade do país, palco do pior acidente aéreo da aviação brasileira [referindo-se ao acidente de 17 de julho de 2007 com um avião da TAM, Táxi Aéreo Marília, fundada em 1961, no aeroporto de Congonhas onde 199 pessoas morreram]. São Paulo, com tantos problemas no chão, agora também tem grandes desafios no ar. O principal aeroporto da cidade precisa ser desafogado e os milhares de passageiros que circulam por ali precisam se sentir seguros cada vez que saem ou chegam à cidade de avião. A questão não é exatamente responsabilidade da prefeitura, mas suas implicações já levaram a administração municipal a pedir restrições na operação do aeroporto de Congonhas. Para falar deste e de outros assuntos da metrópole, o Roda Viva entrevista esta noite o engenheiro e economista Gilberto Kassab, prefeito da cidade de São Paulo. O Roda Viva começa num instante.
[intervalo]
Paulo Markun: Gilberto Kassab está há quase um ano e quatro meses na prefeitura de São Paulo. Até recentemente, era praticamente desconhecido da maioria dos paulistanos, mas a mais nova pesquisa Datafolha mostra que nos últimos quatro meses, ele dobrou sua popularidade. Agora, 30% dos paulistanos consideram sua administração boa ou ótima. O prefeito, que assumiu o cargo sem muita expectativa, trabalha agora para ser lembrado como um bom prefeito, uma lembrança que ele provavelmente vai querer recordar nas eleições de 2008.
[Comentarista]:
Paulo Markun: Para entrevistar o prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab, nós convidamos Alexandre Machado, apresentador do programa Opinião Nacional, que estréia no próximo dia 2 de agosto; Carlos Marchi, repórter e analista de política do jornal O Estado de S. Paulo; Tereza Cruvinel, colunista do jornal O Globo, Alecsandra Zapparoli, editora executiva da revista Veja São Paulo; Fábio Santos, diretor editorial do jornal Destaque; George Alonso, editor executivo do jornal Diário de S. Paulo; Renata Lo Prete, editora do Painel, do jornal Folha de S. Paulo. Também temos a participação do cartunista Paulo Caruso, registrando em seus desenhos os momentos e os fragrantes do programa. Boa noite, prefeito.
Gilberto Kassab: Boa noite, Markun, boa noite, companheiros deste programa Roda Viva.
Paulo Markun: Eu queria saber, na opinião do senhor, o que é preciso fazer com o aeroporto de Congonhas?
Gilberto Kassab: Markun, todos sabem o que é preciso fazer. Há muitos anos todos nós sabemos, brasileiros, que o aeroporto de Congonhas está saturado e, ano após ano, avolumam-se os números de vôos, o número de passageiros aumenta assustadoramente. Se analisarmos os últimos três anos, nós tivemos quase 50% de aumento no número de passageiros, de 12 milhões para 18 milhões de passageiros ano. Isso é inadmissível. Portanto, esse acidente, ele mais uma vez demonstra a importância que tem a nação brasileira de ficar atenta, vigilante para que, mais uma vez, nós não tenhamos única e exclusivamente a apresentação de uma carta de intenções e sim de um plano de obras, um plano de realizações a ser iniciado imediatamente para que possamos superar este difícil momento da aviação brasileira.
Paulo Markun: Ainda que a prefeitura não tenha responsabilidade pela construção, ela não deveria ter já se antecipado a isso e reclamado esta providência anteriormente?
Gilberto Kassab: Isso é uma questão histórica da cidade de São Paulo e não apenas da prefeitura. E, infelizmente, ano após ano, tudo tem sido deixado de lado. Ainda agora há pouco, nós tivemos a oportunidade de observar, quando encaminhamos, o governo do estado e a prefeitura de São Paulo, o governador José Serra e nós, um conjunto de propostas para o governo federal. No dia seguinte, o governo federal se manifesta, endossa todas as propostas da cidade e do estado. Vamos ver se não vai ficar mais uma vez no plano de intenções. Todos sabem o que é preciso fazer: redução drástica do número de vôos, Markun, no aeroporto de Congonhas, a criação de uma pista, de uma área de escape, no aeroporto, para o pouso. Não tem sentido um aeroporto com esse movimento não ter uma área com esse fim, a ampliação do aeroporto de Guarulhos, este aeroporto tem projeto de ampliação, a ampliação de Viracopos [localizado na cidade de Campinas] não basta apenas falarmos: “Vamos fazer um novo aeroporto”. Até podemos fazer, mas é uma solução de médio e de longo prazo, de 8 a 10 anos. E agora, e amanhã, e na semana que vem? E no mês que vem?
Renata Lo Prete: Prefeito.
Gilberto Kassab: Pois não, Renata.
Renata Lo Prete: Como vai?
Gilberto Kassab: Bem , e você?
Renata Lo Prete: Dada à gravidade do que aconteceu, o senhor esperava ter recebido um telefonema ou uma mensagem do presidente Lula nas horas seguintes ao desastre em Congonhas?
Gilberto Kassab: Olha, Renata a responsabilidade do governo federal ela é muito clara, é inequívoca e evidente que quem escolhe os colaboradores, as pessoas para dirigir as áreas que tem essa responsabilidade, é o presidente da República. O presidente, ele preferiu se posicionar depois de alguns dias, se posicionou de uma maneira oficial, apresentando algumas propostas, não fez nenhuma comunicação com o prefeito. Porém, eu acredito que não seja esse o ponto a ser abordado, eu acho que o governo falhou, sim, em especial pela ausência de propostas concretas para melhorar a segurança da aviação brasileira. Falhou pelas manifestações infelizes dos colaboradores do governo federal porque, num momento tão grave da nação brasileira, essas manifestações, elas foram interpretadas até como uma falta de respeito para com a nação brasileira. Portanto, a questão da comunicação em si do presidente da República, eu não acredito nem que seja algo tão grave, porque as autoridades do governo federal que representavam o presidente tiveram uma interlocução conosco, mas muito graves foram as manifestações dos seus colaboradores.
Carlos Marchi: Prefeito, o senhor não acha que essa questão aérea... recentemente, a Infraero [Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária] fez reformas em muitos aeroportos, e até andou se gabando disso, não sei se fez as reformas certas, mas o senhor não acha meio estranho que o governo federal determine que tipo de reforma fazer, em que aeroporto? Ao que eu saiba, pelo menos, não entra nem em contato com o governo estadual, com a prefeitura, ou seja, o governo decide sozinho o que fazer. Essas providências não deveriam ter sido tomadas em conjunto sempre com o governo estadual e, no caso das grandes cidades, com as prefeituras também?
Gilberto Kassab: Acho estranho. É fundamental a integração do governo do estado, do governo municipal nessas decisões que afetam também a vida da cidade, do estado. Acho muito estranha a priorização na execução das obras. Jamais poderíamos começar as obras pelo fim. O início deveria ser as pistas.
Carlos Marchi: O senhor diz o conforto em detrimento da segurança?
Gilberto Kassab: Exatamente. Foi priorizado o cosmético em relação à infra-estrutura, em relação à segurança. Porque o fundamental é a pista.
Fábio Santos: Prefeito, o Ministério Público tentou interditar pousos em Congonhas, até conseguiu algumas liminares limitando o tamanho de aviões que poderiam pousar em Congonhas no início do ano e no ano passado. A prefeitura não poderia ter entrado na Justiça, junto com o Ministério Público, não poderia ter participado dessa pressão para que Congonhas tivessem uma solução mais definitiva, não poderia ter agido um pouco mais, a prefeitura?
Gilberto Kassab: A prefeitura tem agido, e eu digo mais para você, Fábio, a cidade de São Paulo, nos últimos 15 anos, tem se manifestado com muito rigor em relação ao aeroporto de Congonhas, em relação à sua segurança, em relação às diretrizes de operação, em relação à convivência com a aeronáutica, que tem também o dever de aprovar as realizações comerciais, residenciais, as edificações da região. Portanto, o que falta é harmonia nas ações. O que falta... O Ministério Público, ele ingressou na Justiça e não conseguiu a suspensão das operações, portanto a questão pode ser judicial, mas ela deve ser, antes de mais nada, uma conscientização do governo federal em relação à mudança na sua postura, quanto a aviação brasileira.
Fábio Santos: À prefeitura não caberia vigiar o entorno do aeroporto?
Gilberto Kassab: Caberia não, cabe.
George Alonso: Eu gostaria de saber... Assim, tem um prédio que foi recentemente construído na cabeceira da pista, um posto de gasolina onde houve o choque, como isso passa em branco, como que pode, em 3 anos, construir um prédio na cabeceira da pista?
Gilberto Kassab: O prédio, George é da responsabilidade da aeronáutica. Todas as questões em relação à altura precisam ser aprovadas pela aeronáutica. Aliás, muito me espanta alguns edifícios que parecem que não estão de acordo com as diretrizes da aviação civil em relação à altura. Eu tive a oportunidade, no dia de ontem, acho que todos vocês, de assistir a manifestação de alguns pilotos dizendo que um edifício nas imediações do aeroporto de Congonhas deixava a pista 100 metros mais curta para pousos e decolagens. Me espantou muito, mas...
George Alonso: E a prefeitura não tem como interferir nisso?
Gilberto Kassab: Já interveio, ainda hoje eu pedi que o secretário de Habitação, Orlando Almeida, o secretário André Matarazzo [secretário municipal de Coordenação das Subprefeituras da cidade de São Paulo], que já tinha feito uma ação junto com o sub-prefeito da vila Mariana [Fábio Lepique], que me trouxesse um estudo em relação a esse prédio, em relação à aprovação de parte da aeronáutica, para que a prefeitura possa, aí nesse caso, sim, se possível, até em conjunto com o Ministério Público, entrar com uma ação de demolição do prédio, caso fique claro que esse prédio, ele diminui em 100 metros a extensão operacional da pista.
Tereza Cruvinel: Prefeito, nessa cultura aí brasileira de porta arrombada, cadeado nela, só tomar providências depois do pior ter acontecido e sem minimizar as falhas, todas as falhas e negligência da autoridade aeroportuária federal, não está parecendo, também que a prefeitura só está agindo depois da porta arrombada? Porque, no Ministério Público, o senhor respondeu que não participou daquela tentativa de interditar Congonhas. E as medidas para deixar que só a aeronáutica decida sobre a construção, ao redor, sobre gabarito não é abdicar de tarefas de políticas urbanas muito próprias da própria prefeitura?
Gilberto Kassab: Não, de maneira alguma, até porque esse prédio, segundo a prefeitura...
Tereza Cruvinel: [interrompendo] Quais foram, realmente, as medidas que a prefeitura tomou, em tempo hábil, para colaborar, mesmo que a obrigação não seja precípua dela, mas que ela tenha feito para tentar melhorar a situação?
Gilberto Kassab: Eu vou lhe dar um exemplo, esse edifício citado na matéria de televisão...
Tereza Cruvinel: [interrompendo] É um hotel alto.
Gilberto Kassab: Sim, ele não tem autorização de parte da prefeitura, tanto é que ele não está em funcionamento.
Tereza Cruvinel: Então, está errado, a prefeitura tem que opinar, não?
Gilberto Kassab: Tem que opinar. Opina e não demos autorização. Se você...
Paulo Markun: [interrompendo] É uma construção clandestina?
Gilberto Kassab: Ela não é clandestina, ela não tem alvará de funcionamento, então, portanto, ela está vazia. Por quê? Porque sempre, desde o início, a prefeitura, quando falo prefeitura... Há vários anos atrás, eu nem era prefeito, fazendo justiça aqui à cidade de São Paulo, a sua posição em relação ao aeroporto, desde o primeiro momento, a cidade estranhou a altura desse prédio autorizado pela aeronáutica.
Alexandre Machado: Prefeito, em relação à eventualidade da construção de um novo aeroporto, como é que a prefeitura pretende se posicionar para que ela possa influenciar, participar da decisão da localização desse aeroporto?
Gilberto Kassab: Em primeiro lugar, nós não podemos abrir mão da prioridade de redução, já, drástica, do número de vôos do aeroporto de Congonhas; Em segundo lugar, ainda ao aeroporto de Congonhas, da construção de uma área de escape para os vôos que sobrarem...
Alexandre Machado: [interrompendo] Como o senhor disse agora há pouco.
Gilberto Kassab: Exatamente. Alexandre, a ampliação do...
Paulo Markun: [interrompendo] Só pra entender, prefeito, quando o senhor fala área de escape, uma pista que é construída em cima de um talude, de um lado tem um barranco, do outro lado tem outro barranco, como é que constrói ali?
Gilberto Kassab: De um lado não é barranco, de um lado são residências. Bem abaixo da superfície do aeroporto uma solução [sendo interrompido]... na área do Jabaquara que precisa ser apresentada uma solução de engenharia para ver qual é a alternativa para a construção da área de escape dos dois lados. Você aumenta a extensão e faz a área de escape [todos falam ao mesmo tempo] Existe uma idéia que há anos a cidade de São Paulo leva ao governo federal e não foi encampada. Nos últimos 3 anos em função dessa...
Renata Lo Prete: [interrompendo] Desapropriar essa faixa residencial no Jabaquara, é isso?
Gilberto Kassab: Desapropriar não, Renata, de criar uma área de escape. Pode, eventualmente, ser uma desapropriação, mas eventualmente, conforme a solução de engenharia não precisa ser uma desapropriação. Esta idéia se consolidou nos últimos três anos em função do absurdo aumento do número de vôos, do número de passageiros. De 12 milhões para 18 milhões ano.
Alexandre Machado: Perfeito, mas além da ampliação de Guarulhos, além de uma reforma em Viracopos, há possibilidade da construção de um novo aeroporto?
Gilberto Kassab: Eu acho que deve ser iniciado o projeto de identificar uma área para a construção desse novo aeroporto. Muito possivelmente não será uma área dentro da cidade de São Paulo, portanto, a prefeitura pode participar, em função da maior cidade do país, mas é uma decisão metropolitana muito importante. [É] fundamental a participação do governo do estado, do governo federal e das cidades da região metropolitana, a principal cidade, evidentemente, São Paulo.
Alecsandra Zapparoli: Prefeito, num dia como hoje, o senhor sentia que está chovendo bastante, o senhor se sentiria seguro em pegar um vôo hoje e descer em Congonhas?
Gilberto Kassab: Eu confio na engenharia brasileira, eu sou um paulistano, um brasileiro, que acredita que, com soluções de segurança, com maior zelo por parte das nossas autoridades responsáveis pela aviação, nós tenhamos um aeroporto seguro.
George Alonso: Quantas residências e imóveis clandestinos têm em torno do aeroporto de Congonhas? O senhor saberia?
Gilberto Kassab: Clandestinos?
George Alonso: Como esse prédio, em 3 anos foi feito...
Tereza Cruvinel: [interrompendo] Irregulares.
Gilberto Kassab: Ele não é clandestino.
Tereza Cruvinel: Irregulares.
George Alonso: Clandestino nesse sentido, ele não tem documentação para funcionar, não tem alvará.
Gilberto Kassab: Se depender de mim, nenhum, até porque ainda ontem foi apontado mais uma vez pelos meios de comunicação esse prédio. E o ponto, a novidade, desse prédio foi o depoimento de pilotos, que afirmam que eles têm a redução de 100 metros na sua operação de pousos e decolagem [gesticulando], por conta desse prédio. Essa é a novidade, são depoimentos de pilotos que utilizam o aeroporto de Congonhas que dizem: “Por conta desse edifício a pista está reduzida em 100 metros”.
Carlos Marchi: Prefeito, deixa eu entender melhor uma coisa. Desculpa, eu não entendo muito de postura municipal. O senhor está dizendo que as pessoas podem construir na área próxima ao aeroporto um edifício do tamanho que quiserem e a prefeitura só vai dar o alvará, no final é isso?
Gilberto Kassab: Não, a prefeitura...
Carlos Marchi: [interrompendo] Não apresenta um projeto antes?
Gilberto Kassab: Não, tem o projeto, Carlos. O projeto, ele é aprovado pela prefeitura, ele tem limitações de altura muito rigorosas, mas além da aprovação na prefeitura, por conta de ser uma área de abrangência em função da presença do aeroporto, o entorno do aeroporto, precisam, todos os projetos serem aprovados pela aeronáutica.
Carlos Marchi: Isso é feito isoladamente? A aeronáutica aprova de um lado e a prefeitura de outro?
Gilberto Kassab: Nesse caso específico, a prefeitura estranhou, ela não tinha aprovado. Segundo critérios da aeronáutica, a aeronáutica aprovou, então é um prédio que está sem alvará de funcionamento.
Fábio Santos: Prefeito, o próprio estacionamento do aeroporto, que eu saiba, ainda não recebeu alvará de funcionamento da prefeitura. Esse episódio da construção, da reforma do estacionamento sem alvará da prefeitura, a prefeitura não poderia ter utilizado isso, inclusive, para apontar politicamente mesmo, junto à imprensa, que se estava fazendo uma reforma, como o senhor disse, começando pelo final?
Gilberto Kassab: São coisas distintas, o aeroporto e o estacionamento. Esse estacionamento tinha uma demanda da cidade de São Paulo em relação à questão ambiental, ações envolvidas pelo movimento Defenda São Paulo [Organização Não Governamental que faz parte do Movimento Nossa São Paulo, cujo objetivo é buscar junto à autoridades, governo e instituições não governamentais, melhorias para a cidade]. Essas questões foram resolvidas judicialmente, existem compensações que foram ou serão realizadas pela Infraero, essas compensações foram apresentadas, foram endossadas, foram aprovadas por parte da Infraero e, portanto, o estacionamento poderia, sim, ser construído.
Tereza Cruvinel: Prefeito, esvaziar ou descomprimir Congonhas é uma coisa que foi criada, sobretudo, pela ganância das companhias aéreas, porque é um lugar que se fatura mais, né, fazer conexões, transformaram Congonhas no centro de operações, conexões e escalas delas, pela negligência federal que não impediu que isso acontecesse, e até por pressão dos passageiros. Quem vem à São Paulo quer descer em Congonhas, é mais perto, ganha se tempo etc. Os passageiros preferem Congonhas, as companhias trabalham para localizar vôos em Congonhas, as autoridades federais permitiram e chegamos a esse ponto. Então, agora vamos descomprimir, então tá, o Viracopos e Guarulhos. O que a prefeitura fará para, digamos, com a colaboração que a prefeitura dará aos usuários, que são pessoas que vêm à cidade ou moram na cidade de São Paulo, para melhorar a utilização desses dois aeroportos que são rejeitados porque são distantes? Eu lhe dou exemplo de transportes, não há uma solução de transportes... qualquer grande cidade do mundo com o porte de São Paulo, ela tem uma solução de transportes melhor. E Guarulhos não tem. No Rio de Janeiro, há um sistema de transportes de um ônibus com ar-condicionado, esse ônibus padrão mais elevado, um ônibus próprio que custa cinco reais e vai até São Conrado, na Barra da Tijuca, é a mesma distância, vai de Galeão até a Barra da Tijuca por 5 reais. Em São Paulo, isso custa 30 reais, numa cidade onde, no aeroporto, o táxi custa 100 reais, que é muito mais caro do que no Rio de Janeiro, pela mesma distância. Eu acho que transporte é uma coisa que a prefeitura vai ter que ver, não sei se o senhor já tem alguma solução em vista para Viracopos e Guarulhos.
Gilberto Kassab: O que é mais grave, nessa sua exposição, Tereza, é a contestação sua e a suposição de grande parte dos brasileiros, que prevalece em Congonhas o interesse das empresas e não o interesse dos brasileiros. É isso que a cidade e o país exigem que seja mudado, precisa, definitivamente, ficar claro qual é o limite da capacidade operacional do aeroporto de Congonhas. Em relação...
Tereza Cruvinel: [interrompendo] As pessoas têm que ter facilidades, senão elas não vão querer ir para Guarulhos.
Gilberto Kassab: Mas não vão voar, então, porque tem que chegar a hora do basta. Congonhas tem que deixar claro qual é o seu limite e, a partir daí, não há mais vôos, ponto, é uma questão só de deixar claro esse limite. Em relação à infra-estrutura, porque no fundo transporte é infra-estrutura, infra-estrutura de acesso, evidente que melhorou muito o acesso ao aeroporto de Guarulhos, todos sabem. Hoje, você tem rodovias, tem vias expressas que saem - a [rodovia] Trabalhadores - e chegam à Guarulhos, tem a previsão de construção de um trem, um trem com linha expressa para sair de São Paulo integrando o metrô ao aeroporto de Guarulhos. Isso tem sido feito, ao longo do tempo, e você tem toda razão, com uma lentidão que não se justifica.
Paulo Markun: Prefeito vamos fazer um rápido intervalo, O Roda Viva, que esta noite tem na platéia, Andrea Matarazzo, secretário nacional da Coordenação das Sub-prefeituras, Guilherme Afif Domingos, e Walter Feldman, secretário de Esporte e Lazer. A gente volta já, já.
[intervalo]
Paulo Markun: Voltamos com o Roda Viva, que entrevista hoje o engenheiro e economista, Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo. Há um ano e alguns meses no comando da administração municipal, logo no início, Kassab, anunciou e colocou em prática uma iniciativa que causou muita polêmica na cidade.
[Comentarista]:
Paulo Markun: Prefeito, o diretor-executivo do sindicato das empresas de publicidade exterior de São Paulo [Sepex], Daniel Stein, tem uma pergunta para o senhor sobre o retorno da publicidade na cidade. Vamos acompanhar.
Daniel Stein [em pergunta gravada]: Eu gostaria de perguntar ao senhor prefeito se a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana, CPPU, será reativada, e se o Sepex será convidado a fazer parte da comissão como sempre fez no passado. É um foro importante de discussão e o Sepex está sempre disposto a colaborar em qualquer iniciativa que visa à melhoria da passagem urbana de São Paulo e, além disso, é nosso interesse em saber se a segunda fase da Lei 14223 será implantada, na qual haveria um retorno na publicidade exterior, ainda que de forma limitada. Então, senhor prefeito, quando ocorrerá esse retorno? De que maneira se dará esse retorno?
Gilberto Kassab: O Cidade Limpa está num contexto maior de plano de governo, que é ação de governo voltada para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Passaram os anos onde a prefeitura concentrava quase todas as suas ações em investimentos de infra-estrutura. Hoje, a prefeitura procura direcionar as suas ações para o combate a poluição, para a melhoria das condições do meio ambiente. Respondendo à pergunta do nosso dirigente do Sepex, a CPPU ela foi instalada agora, ela ainda não teve nenhuma reunião, ela pode, a qualquer momento, ter alterada a sua composição, não é o nosso objetivo neste momento, se o tempo mostrar que é importante essa alteração, será feita. Em relação à segunda fase do Cidade Limpa, eu posso afirmar que nós estamos próximos de terminar a primeira fase, basta circular pela cidade para identificarmos a mudança no visual da cidade de São Paulo, e, quando falamos em visual, falamos de uma mudança de visual para melhor, aquela poluição agressiva, clandestina. A cidade de São Paulo, abraçou a lei, a cidade, junto com a prefeitura, enfrentou o desafio de eliminar a poluição visual e hoje nós podemos dizer que a cidade ganhou, a cidade venceu esta cruzada contra a poluição visual e está na fase de combater também a poluição do ar, com medidas importantes.
Paulo Markun: Pelo que eu entendi da sua resposta, prefeito, essa publicidade externa não vai voltar tão cedo?
Gilberto Kassab: Não. Eu acredito até, Markun, que isso não faz parte da segunda parte do projeto. Eu publicamente tenho defendido que haverá o momento onde nós possamos pensar em admitir exceções de publicidade, por exemplo, em algumas peças imobiliárias urbanas, abrigo de ônibus, relógios, por exemplo, em algumas regiões da cidade, como Nova Iorque tem a Time Square, por que não fazer em São Paulo? Mas não é um compromisso, não é algo que está embutido no projeto, é uma idéia que eu acho de quem acredita no projeto, de quem acredita que precisa, realmente, num segundo momento, ter uma convivência com essas exceções, mas o que mais importa neste momento é expandir essa cruzada contra a poluição, o projeto Cidade Limpa, para os outros modelos de poluição: do ar, da água e sonora.
Fábio Santos: Prefeito, o Cidade Limpa de fato retirou a publicidade da cidade e, em alguns lugares, a paisagem urbana de fato melhorou, mas também expôs a deterioração de inúmeros prédios, principalmente na região central e algumas ruas na região central. Apareceu a forma como esses prédios, muitos eles históricos, eram maltratados. O que está previsto para que a exposição agora passe a ser também não só do que é feio, mas da recuperação desses prédios?
Gilberto Kassab: Este é um ponto positivo da lei, Fábio, até porque hoje nós conhecemos a cidade como ela é, nós conhecemos o que ela tem de bonito, de feio, de velho, o que ela tem de novo, o que precisa ser reformado, o que não precisa ser reformado. A prefeitura vai fazer a sua parte, em relação à recuperação e reforma de fachadas, nós vamos estar isentando os proprietários dos imóveis do valor do IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano] e beneficiando, em especial, os proprietários mais simples, aqueles imóveis de menor valor.
Fábio Santos: Os comerciantes reclamam que não estão sendo muito bem orientados a esse respeito, quer dizer, a gente vê, caminhando pelo centro, um prédio faz a sua reforma de um jeito, o outro faz de outro e aquele patrimônio histórico está...
Gilberto Kassab: [interrompendo] As subprefeituras, todas elas têm praças de atendimento, com equipes especializadas para a orientação da lei. Milhares de pessoas consultam a prefeitura diariamente e, é evidente, uma cidade de milhões de pessoas, talvez tenha uma ou outra pessoa que não descobriu a maneira adequada de se orientar. Mas estamos abertos para orientar da melhor maneira possível. A cidade hoje vive um momento muito feliz, porque a cidade passou a acreditar nela mesma. Na medida em que nós vencemos essas importantes cruzadas a favor do projeto Cidade Limpa, a cidade passou a acreditar que é importante vencer outras batalhas, e venceremos, ela está recuperando a sua auto-estima.
Carlos Marchi: Um mérito que se pode atribuir à sua gestão, mais a do Serra, foi que o senhor asfaltou ruas em São Paulo. São Paulo tinha ruas completamente esburacadas e asfaltou um número considerável de ruas. Hoje, eu, como motorista, sinceramente me sinto confortável de andar na cidade muito mais do que antes. Ouvi dizer, não morava em São Paulo na época, que parece que São Paulo passou 10, 12 anos sem asfaltar ruas, sem pintar faixas nas ruas, coisas assim. Nem por isso o senhor tem avançado tanto em sua popularidade, melhorou muito nos últimos tempos, em relação ao que era, mas era muito ruim. O senhor acha que a população de São Paulo não tem reconhecido méritos como esse, ou como esse projeto Cidade Limpa, que são ótimos projetos, bem executados pela prefeitura? Parece que a população não reconheceu, cabalmente no senhor, esses projetos a ponto de lhe dar uma popularidade que esses projetos mereciam, quer dizer, a boa execução deles merecia. Como é que se explica isso?
Gilberto Kassab: Em relação à manutenção da cidade, ao recapeamento, eu vou lhe dar números que são impressionantes. Na nossa gestão, iniciada pelo nosso querido governador José Serra, nós já recapeamos mais de 80% do que as últimas quatro gestões juntas, quase 600 quilômetros lineares, é algo inexplicável, quase, e os recursos aparecem. Eu cito, por exemplo, a área da educação, que são os números mais impressionantes. Você tem, na educação, 31% da verba que precisa ser investida, verba orçamentária. Portanto, não há prefeito que assuma uma cidade e diga: “Eu encontrei um buraco na educação”, a educação não tem déficit, o prefeito tem que usar a verba que o orçamento obriga que use. Pois bem, nós fizemos, nessa gestão, ao logo desses dois anos e meio de mandato, a construção de 54 escolas que nos deu a possibilidade de acabar com as "escolas de lata" [escolas que funcionavam em espécie de contêineres]. Escolas estas que existiam há 10 anos na cidade de São Paulo. Nós demos um aumento para os professores em forma de gratificação, infelizmente, que queremos a qualquer momento transformar em aumento, que atingiu 54% para os professores e agentes de apoio que trabalham em sala de aula, o maior aumento da história da educação na cidade de São Paulo [pontuando com os dedos]. Nós estamos construindo agora mais 70 escolas e 23 CEUs [Centros Educacionais Unificados - são complexos que incluem, além da escola em si, creche, playground, teatro, cinema, biblioteca, quadras esportivas, etc] que, quando construídos, vão nos permitir acabar com o terceiro turno na rede pública municipal de ensino. O terceiro turno, não sei se você sabe o que é Carlos, é aquele turno, não é o da noite não. É aquele que começa às 11h da manhã e termina às 15h. A criança entra às 11, na hora que está saindo a turma das 7, e sai as 15h, quando está entrando a turma das 15h e ainda tem que almoçar, portanto, ela não estuda. Quando concluirmos essas obras, vamos acabar com o terceiro turno. Isso é investir na cidade, em qualidade de vida. Estamos falando de um milhão e 100 mil crianças, um milhão e 100 mil crianças significa, se somarmos seus pais e mães, três milhões de pessoas que dependem diretamente da prefeitura para educar os seus filhos.
Carlos Marchi: Por que a população ainda não reconheceu no senhor esses projetos?
Gilberto Kassab: Carlos, sinceramente o meu objetivo é fazer uma boa gestão, ser um bom prefeito. Se, ao final desses 4 anos, a cidade de São Paulo observar e concluir que o programa de governo apresentado pelo José Serra, tendo eu a honra de ser o seu vice-prefeito, foi executado e portanto teve uma gestão que se comportou de uma maneira séria, correta, com a cidade de São Paulo, essa é a minha maior preocupação, o meu maior objetivo.
Renata Lo Prete: Prefeito, a reportagem que nós vimos a pouco sobre o Cidade Limpa, mencionou a questão da inspeção veicular, que é uma questão de interesse de milhões de paulistanos, assim como de usuários de carro em todo o país. A sua administração tem dito que pretende devolver o dinheiro da inspeção veicular e aventou algumas maneiras de fazer isso, mas ainda não se manifestou com clareza sobre isso. Então, a minha pergunta é: a sua gestão vai devolver o dinheiro da inspeção veicular em quanto tempo e de que forma, prefeito?
Gilberto Kassab: Nós vamos devolver o dinheiro. A proposta, o projeto de devolução, estará anexo ao projeto de orçamento quando encaminharmos para a Câmara Municipal no orçamento do ano que vem. É evidente que esse é um dos projetos mais importantes da cidade, Renata, a poluição do ar em São Paulo, ela tem nos veículos, sejam eles automóveis, ônibus ou caminhões, quase 70% dessa poluição, portanto a inspeção veicular está chegando tarde, era para ter sido implantada há mais de de 10 anos. Esperamos, a partir do ano que vem, que nós possamos melhorar, de uma maneira muito significativa, o ar da cidade de São Paulo com esse efeito. O dinheiro será devolvido, sim.
Alexandre Machado: Prefeito, assim como na aviação, na questão de Congonhas a responsabilidade não é restrita da prefeitura, também as questões relativas à segurança, são diretamente da responsabilidade da prefeitura. No entanto, fazem parte do cotidiano de todos nós, paulistanos. Recentemente, um grupo de empresários lançou um programa que é calcado no que se fez nos últimos anos em Bogotá, no sentido de recuperar a cidade de São Paulo. Lá em Bogotá, essa recuperação se deu pela criação dos espaços públicos nas periferias, de dotação de uma série de equipamentos urbanos para que houvesse a chance da sociabilização desses bairros que, geralmente, são muito pouco estruturados. Qual é a preocupação da prefeitura em relação a isso e como deve participar de projetos como esses?
Gilberto Kassab: Esse grupo é o grupo de pessoas que têm espírito público. A prefeitura tem trabalhado em conjunto com ele, apesar da sua constituição ser bastante recente, ele já se incorporou no dia-a-dia da cidade. Tivemos aí, nos últimos três meses, a participação em conjunto em dois eventos e é evidente que as iniciativas, as propostas que vêm desse grupo são, em especial, vinculadas a transporte público, criação de áreas pública adequadas, parques e áreas de lazer, e melhoria no nosso sistema público de saúde e educação.
George Alonso: As pesquisas parecem adotar uma tendência, até discordo um pouco do Carlos, em relação à popularidade do senhor, é um movimento muito brusco, dobrar em quatro meses. O senhor pretende ser candidato à reeleição?
Gilberto Kassab: Eu posso ser George, como posso não ser. No momento certo, no ano que vem [2008], as direções dos partidos que compõem a aliança em São Paulo vão sentar para definir o caminho. Todos sabem, existe uma aliança na cidade de São Paulo entre os Democratas e o PSDB [Partido da Social Democracia Brasileira], que elegeu o Serra prefeito, Kassab vice-prefeito, a mesma aliança que elegeu o Serra governador, o Alberto Goldman, vice-governador e quase elegeu Guilherme Affif Domingos senador e a mesma aliança, a nível federal, que faz uma oposição séria, responsável e construtiva ao governo federal. No momento certo, esta aliança vai se sentar à mesa, eu defendo a manutenção da aliança.
Fábio Santos: [interrompendo] O senhor quer ser candidato?
Gilberto Kassab: Posso ser, posso não ser.
Fábio Santos: Não, não, a pergunta não é se o senhor pode ou não pode, o senhor deseja?
Gilberto Kassab: Existe uma vontade maior minha, de que é manter a aliança.
Fábio Santos: Pessoalmente, o senhor, como prefeito, está ocupando a cadeira hoje, está sendo reconhecido por pelo menos 30% da população que diz que a sua administração é boa ou ótima, um terço acha que não. O senhor se sente recompensado por esse trabalho, deseja continuá-lo?
Gilberto Kassab: Eu me sinto muito feliz sendo prefeito de São Paulo, tendo a oportunidade de, junto com a excelente equipe de secretários, administrar a minha cidade, a cidade de São Paulo. Acredito que os resultados que apresentamos, eles são bastante expressivos, mudanças grandes aconteceram na área da saúde, da educação, da infra-estrutura, da melhoraria da qualidade de vida da cidade, do combate à poluição.
Fábio Santos: O senhor não acha que isso lhe dá direito a ser candidato?
Gilberto Kassab: A questão não é direito, a vontade pessoal não deve prevalecer em uma decisão como esta.
George Alonso: O senhor tem sido muito fiel ao governador Serra. O senhor espera, eventualmente, se o senhor decidir ser candidato, receber o apoio dele, já que ele tem diferenças com o Alckmin [Geraldo Alckmin, político do PSDB, foi vereador, prefeito e deputado federal. Assumiu o governo de São Paulo em 2001 com a morte de Mário Covas. No ano seguinte, foi eleito governador e em 30 de março de 2006 e foi candidato derrotado à Presidência da República, vaga que também estava sendo disputada por José Serra dentro do partido] desde a candidatura para presidente.
Gilberto Kassab: George, não existe a hipótese de eu ser candidato a .... Não existe, em política, em especial em cargos majoritários, a vontade pessoal, prevalece o interesse coletivo, o interesse da cidade.
Paulo Markun: O que é que separa os democratas dos tucanos [afiliados do PSDB], já que a aliança é, parece ser, tão boa e o senhor indica aí "tocar de ouvido", digamos assim, com o governador de São Paulo?
Gilberto Kassab: A aliança é muito sólida, a aliança em São Paulo tem um líder, que é o governador José Serra, que é a pessoa que foi eleita prefeito na cidade de São Paulo pela aliança, é a pessoa que foi eleita governador e, portanto...
Paulo Markun: [interrompendo] O que separa um partido do outro?
Gilberto Kassab: Pequenas diferenças de diretrizes de trabalho, de programas partidários que são superados no momento em que se constitui uma aliança. Cada um tem a sua identidade, senão seria o mesmo partido. Porém, nessas questões caminham juntos, pensam juntos [sendo interrompido]. Ambos os partidos têm a condição, hoje, de ser oposição ao governo federal, juntos fazem oposição, em alguns momentos votam diferentemente. Isso não significa que vão deixar de fazer oposição. Da mesma maneira aqui em São Paulo, na cidade, no estado, ambos os partidos tendo a responsabilidade de dirigir a maior cidade do país e o maior estado do país.
Renata Lo Prete: O senhor vê a possibilidade de, eventualmente, esse campo ter dois candidatos, o senhor e o ex-governador Geraldo Alckmin, pelo PSDB? Existe essa possibilidade?
Gilberto Kassab: Não, eu estarei no mesmo palanque que o governador José Serra.
Tereza Cruvinel: A minha pergunta era exatamente esta e vou colocar de outra maneira. Então, se o Geraldo Alckmin se viabilizar como candidato do PSDB, o senhor não será candidato à reeleição?
Gilberto Kassab: A eleição não está na pauta, Tereza. Eu estou sendo muito sincero. A minha única preocupação é administrar a cidade de São Paulo, ser um bom prefeito, executar as propostas que foram apresentadas em campanhas. Existe um momento de governar e um momento de definir as questões eleitorais, esse momento é o ano que vem.
George Alonso: Mas o senhor aumentou a publicidade, agora, os gastos de publicidades...
Gilberto Kassab: Não aumentei nem diminui. Se você pegar, nos últimos anos, o volume de publicidade, você vai ver que continua o mesmo. As publicidades são necessárias, seja a prefeitura, o governo estadual, federal, as campanhas publicitárias são importantes, no conceito pedagógico, operacional, na orientação, portanto, e elas não têm nenhuma característica eleitoral.
Tereza Cruvinel: O senhor está dizendo que não é o momento do senhor se preparar para ser candidato, no entanto, o obstáculo à sua candidatura, que é o ex-governador Geraldo Alckmin, ele está em franca articulação. O senhor se sente tolhido pelo cargo, se sente embaraçado, constrangido? Não teme perder tempo e depois ser tarde?
Gilberto Kassab: Eu não estou preocupado com as eleições, eu estou preocupado em ser prefeito de São Paulo.
Paulo Markun: Prefeito, a gente mostrou aí na reportagem de abertura do programa, um episódio sobre o qual o senhor já se manifestou fora daqui, mas não no Roda Viva, então eu pergunto, o que aconteceu naquele episódio do posto de saúde?
Gilberto Kassab: Eu estava inaugurando uma AMA, uma AMA é uma Unidade de Atendimento Médico Ambulatorial, é uma iniciativa que deu certo nessa gestão, começou com o nosso governador José Serra e hoje temos quase 60 Amas. Esperamos, o mais rápido possível, ultrapassar o número de 100 Amas. E, naquela inauguração, havia uma manifestação de um cidadão e quando eu percebi, eu me deparei com essa manifestação, era uma manifestação política, o grupo Folha de S. Paulo, através de uma jornalista do jornal Agora, gravou essa manifestação e ele fazia acusações em relação à conduta da prefeitura, que estaria a serviço de empresas multinacionais. Eu fiquei indignado pelo local que ele fazia a manifestação, mas eu errei, eu perdi o controle em relação a essa manifestação, pedi desculpas, virei a página e continuei trabalhando.
Paulo Markun: Vamos fazer mais um rápido intervalo, e voltamos já com o Roda Viva, também acompanhado na platéia por Clóvis Carvalho, secretário municipal de Governo; Orlando de Almeida Filho, secretário municipal de Habitação; Caio Carvalho, presidente da SPTURIS, e Alfredo Cotassi, secretário de Relações Internacionais. A gente volta já, já.
[intervalo]
Paulo Markun: O Roda Viva entrevista hoje o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Entre várias medidas que tem anunciado, em relação à poluição ambiental, o prefeito tornou obrigatório o uso de energia solar para o aquecimento de água em novas construções.
[Comentarista]:
Paulo Markun: Prefeito, numa cidade que tem tanta favela, tanto "gato" de energia elétrica, faz sentido fazer uma lei desse tipo?
Gilberto Kassab: Faz sentido. Energia é um dos mais graves problemas do mundo atual, energia e água. Evidente que uma cidade como São Paulo, com 11 milhões de habitantes, na medida em que você estabelece pelo menos um nicho de construções que a partir de agora vão ser obrigadas, em novos projetos, a estar com capitação de energia solar inseridas no projeto, na construção, é um avanço para a cidade de São Paulo. São Paulo avançou muito na questão ambiental, na questão de energia. Eu diria que um dos casos mais específicos, mais importantes, é o aproveitamento do gás metano que sai dos nossos aterros Bandeirantes e São João. Cada um dos dois aterros tem uma conversão de energia que é suficiente ou equivalente para abastecer, em energia elétrica, uma cidade de aproximadamente 600 mil habitantes. Portanto, esse projeto, mais a utilização do gás metano, que vem dos nossos dois aterros e diversas outras iniciativas da nossa cidade de São Paulo nessa gestão, nos dão oportunidade de afirmar que avançamos e vamos continuar avançando na questão ambiental.
Paulo Markun: E as favelas?
Gilberto Kassab: Favela é um dos graves problemas de qualquer grande centro urbano, qualquer região metropolitana. Na cidade de São Paulo não é diferente. Nós temos em São Paulo, Markun, aproximadamente 800 mil famílias que moram em condições inadequadas, isso significa aproximadamente 3 milhões e 200 mil pessoas. Para resolvermos os problemas dessas 800 mil famílias, nós precisaríamos de 34 bilhões de reais, praticamente dois orçamentos do município. É evidente, portanto, que temos que construir uma solução de curto, de médio e de longo prazo, urbanizando favelas, fazendo construções habitacionais simples, de fácil acesso às famílias humildes, integração de ações do governo federal com o governo do estado. Hoje existe essa integração na questão da habitação.
Tereza Cruvinel: O senhor recebeu dinheiro do PAC [Plano de Aceleração do Crescimento: conjunto de regras, para vários setores de produção no Brasil, criado em 2007 pelo governo federal, com o objetivo de acelerar o crescimento econômico em 5% ao ano até 2010] para essa área de urbanização de favelas? Aquela rubrica do PAC só para saneamento e habitação?
Gilberto Kassab: A cidade de São Paulo recebeu, nós temos um PAC habitação, um projeto para a cidade de São Paulo, de aproximadamente um bilhão e 200 mil reais, 500 milhões de reais vindo do orçamento da prefeitura, 400 milhões vindo do orçamento do governo do estado, e o restante do governo federal.
Tereza Cruvinel: Diante da necessidade, o que isso significa? É muito pouco, né?
Gilberto Kassab: Bastante.
Tereza Cruvinel: Como está a execução disso? A gente viu, recentemente, que este ano a execução orçamentária, a liberação desses recursos do PAC está atrasadíssima. No que lhe diz respeito, a prefeitura, como está essa liberação?
Gilberto Kassab: Está atrasado naquelas cidades onde não há projetos. A cidade de São Paulo já tem projetos. Nós esperamos, o mais rápido possível, adotar soluções, soluções que podem já captar esse recursos. Esperamos, sim, em especial nas regiões dos mananciais, sob a coordenação do governo do estado que tem, desde o primeiro dia, o governador José Serra, deixado claro a sua prioridade na melhoraria das condições do nossos mananciais, isto é: combate à poluição da água. Nós vamos avançar no PAC habitação nessas regiões em primeiro lugar, onde há projetos já prontos. Portanto, eu acredito que a liberação de recursos será bastante rápida.
Paulo Markun: Prefeito, como é que o senhor encara o personagem que é uma das lideranças políticas, ou foi uma das lideranças políticas mais importante do seu partido, Antônio Carlos Magalhães? [(1927-2007), um dos políticos mais influentes da história recente do país, ACM foi deputado federal em 1958, 1962 e 1966, pela Bahia, seu estado natal. Foi eleito prefeito de Salvador em 1967. Em 1970, foi indicado para o governo da Bahia e mais uma vez de 1979 a 1983. Foi ministro das Comunicações e novamente governador da Bahia em 1990. Foi eleito senador em 1994, mas em 2001, por conta de acusações de envolvimento na violação do painel de votação do Senado, renunciou ao mandato. Em 2002, voltou à casa pelo voto popular. Ligado à ditadura militar, amoldou-se aos novos tempos, continuando influente no cenário político nacional até sua morte]
Gilberto Kassab: O PFL [Partido da Frente Liberal], Markun, virou Democratas. O PFL era o PFL do Antônio Carlos Magalhães, do Jorge Bornhausen [senador], do Marco Maciel [foi vice-presidente do Brasil de 1995 a 2002]. O Democratas é o Democratas de uma nova geração, do Rodrigo Maia, do Aleluia [José Carlos Aleluia, do DEM da Bahia], do Kassab, portanto é um partido que se renovou, se renovou com inteligência, vive hoje uma transição, os seus líderes ainda convivem com a nova geração. Portanto, eu vejo o Antônio Carlos Magalhães como um dirigente partidário importante no PFL, hoje Democratas, uma pessoa que lutou pelo seu estado. Se eu fosse defini-lo em uma palavra, eu diria que foi um grande lutador.
Renata Lo Prete: Prefeito, o senhor, falando ainda do Antônio Carlos Magalhães, muitas pessoas comentaram que, com a morte dele, é muito possível que as forças divergentes na Bahia passem a se desentender e a se entender de uma maneira menos passional com as características que a figura dele congregava. Como a gente estava aqui a pouco, falando de uma aliança possível para a cidade de São Paulo no ano de 2008, eu lhe pergunto: O senhor vê a possibilidade do PSDB e os Democratas estarem juntos em Salvador no ano que vem, em torno de uma figura, por exemplo, como a do ex-prefeito [Antonio] Imbassahy [do PFL, ligado à ACM, foi prefeito duas vezes] que já foi um quadro no PFL?
Gilberto Kassab: Eu tomo muito cuidado nas minhas avaliações para não parecer uma interferência no assunto local regional, mas acredito. Acredito até porque as gerações não transferem os seus conflitos. Como eu disse agora há pouco, o Antônio Carlos Magalhães, o Jorge Bornhausen, o Marcos Maciel fizeram, e ainda fazem, com uma intensidade política partidária, vivendo um outro clima, uma outra geração, outros problemas, outros conflitos, portanto eu vejo com muita naturalidade acontecer essa aliança, ou não. Eu acredito que possa acontecer.
Carlos Marchi: O hoje Democratas, antes PFL, era um partido essencialmente nordestino. Quando a gente passou para a redemocratização, era um partido que se sustentava fundamentalmente na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão. Ele está se modernizando no sentido de que está se tornando um partido urbano, um partido do Sudeste, ou seja, está formando grandes lideranças, dirige as duas maiores cidades do país no momento. Quais são as peculiaridades que marcam mais fundamentalmente esse novo PFL, Democratas, hoje, que características ele deixou de ter e passou a ter agora?
Gilberto Kassab: Um estudo recente das Nações Unidas, apresentado há três semanas atrás, inclusive na sede da prefeitura de São Paulo, mostrou que cada vez mais a população vai viver nos grandes centros urbanos, nas grandes cidades. Portanto, qualquer grande partido no Brasil, em qualquer país, ele vai ter uma ação mais concentrada nas grandes cidades porque numa democracia vale o voto e o voto está concentrado nas grandes cidades, é natural, isso acontece com os Democratas, como aconteceu com o PSDB, com o PT, eles têm, nessas grandes cidades, os grandes centros de formação dos seus quadros, os grandes centros de decisão das suas políticas públicas.
Fábio Santos: Prefeito, o Democratas, antes PFL, nunca teve uma presença muito forte em São Paulo, pela primeira vez está ocupando um cargo executivo, com o senhor. Não passa pelo projeto do partido uma consolidação maior do partido aqui em São Paulo? A gente viu o presidente do partido hoje, o deputado Rodrigo Maia, defendendo, na Folha de S. Paulo, o lançamento da sua candidatura, quer dizer do ponto de vista do partido não é necessário que o Democratas tenha aqui uma candidatura importante em 2008?
Tereza Cruvinel: Deixa eu completar um pouquinho isso aí, a pergunta dele. O Rodrigo Maia, presidente dos Democratas, chega a dizer que a sua candidatura é irreversível, isso significa que ela será posta com ou sem aliança com o PSDB. Há pouco, o senhor disse o contrário, o senhor praticamente sugeriu que não haverá candidatura se não for em aliança.
Gilberto Kassab: Eu diria que a expressão que o Fábio usou aqui foi necessidade. Eu diria que, diria não, digo que é natural qualquer dirigente partidário afirmar que a prioridade do partido é ter quadro próprio nas eleições majoritárias [sendo interrompido], acho que é prioridade do Democratas, do PSDB, do PT [Partido dos Trabalhadores], do PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro], porém posso lhe afirmar que, qualquer que seja a decisão do partido aqui em São Paulo, no ano que vem, nós teremos o respeito da direção nacional. Eu conheço o meu partido, conheço os seus dirigentes, conheço a visão que eles têm da minha conduta em São Paulo, sei da minha responsabilidade de dirigir o partido em São Paulo e posso reafirmar aqui o que eu disse no bloco anterior em relação à manutenção da aliança aqui em São Paulo e tenho certeza que eu terei o respeito do meu partido.
Alexandre Machado: Em relação à pergunta do Marchi, quais as diferenças, eu não entendi muito claramente por que, fora a mudança de uma geração, que traz evidentemente algumas visões próprias e uma dinâmica própria, o que mudou de PFL para Democratas, além do título?
Gilberto Kassab: Além da mudança da geração, mudaram os conceitos programáticos. O Democratas hoje tem uma visão muito mais voltada, em relação às suas ações, para o lado social, para o lado do liberalismo do que o PFL. O PFL viveu um outro momento da história brasileira, o PFL viveu um momento onde os grandes partidos eram um número menor de agremiações e, portanto, a abrangência dos seus programas era muito maior. Hoje o Democratas, e também o PSDB, o PT, eles têm uma conduta programática muito mais focada, muito mais definida e, portanto, são diferenças que ficam mais nítidas em relação ao quadro anterior.
Fábio Santos: O senhor pode dar um exemplo?
Alexandre Machado: Na sua gestão, prefeito, é muito difícil de estabelecer qual é a diferença efetiva entre o que seja a postura do seu partido, Democratas, e o PSDB. Afinal, o senhor é cercado por algumas personalidades, são personalidades importantes.
Gilberto Kassab: Aliás, muito bem cercado.
Alexandre Machado: Muito bem cercado, estamos aqui com o secretário de governo, Clóvis Carvalho, temos aqui, o secretário Andrea Matarazzo . São pessoas...
Gilberto Kassab: [interrompendo] Walter Feldmann.
Alexandre Machado: Walter Feldman.
Gilberto Kassab: O Caio Carvalho...
Renata Lo Prete: O senhor é quase tucano, prefeito.
Alexandre Machado: Não dá para entender muito bem qual é a diferença entre o senhor ser do Democratas ou ser do PSDB.
Gilberto Kassab: Sim, até porque eu fico muito contente que não vejam essa diferença, isso mostra que eu estou governando, fazendo um governo da aliança, e eu quero que seja entendida a minha gestão dessa maneira.
Paulo Markun: O senhor é, obviamente, uma pessoa que mede muito bem as palavras, o senhor está demonstrando isso aqui há quase uma hora, eu queria perguntar qual é a avaliação que o senhor faz do governo Lula.
Gilberto Kassab: É uma avaliação, neste momento, ruim. É uma avaliação de quem entende que esse governo não está sabendo priorizar as suas ações nas devidas áreas. Eu dou o exemplo da aviação, é evidente que a conduta, a postura, deles são equivocadas. Foi preterida a questão da segurança, tratada como "cosmético", construíram-se os terminais, construiram-se aeroportos novos, mas a pista, que é importante, áreas de escape, não foram executadas.
Fábio Santos: Controladores de vôo.
Gilberto Kassab: Controladores de vôo, investimento em tecnologia.
Paulo Markun: Fora da área aeronáutica, como é que o senhor avalia?
Gilberto Kassab: É muito difícil, no primeiro ano do governo, você fazer críticas, afinal de contas, o presidente Lula foi eleito pela maioria dos brasileiros. Eu tenho muita consciência disso, eu tenho consciência que o primeiro ano é para fiscalizar, o primeiro ano é para que possamos nos preparar para...
Paulo Markun: [interrompendo] Nós estamos no quinto ano.
Gilberto Kassab: Sim, mas ele foi eleito pela vontade dos brasileiros, e eu tenho divergências, senão eu teria apoiado o presidente Lula. Eu apoiei outro candidato, meu partido apoiou outro candidato, fiz parte de outra aliança, portanto não acredito que o presidente Lula tenha sido um bom presidente no seu primeiro mandato. Não resolveu os problemas de saúde nem avançou nos problemas de saúde. Se você pegar aqui na cidade de São Paulo, por exemplo, desde o início, com o nosso governador José Serra, avançamos muito na educação, avançamos muito na saúde, resolvemos tudo? Lógico que não, mas avançamos. O presidente Lula, eu não vi avanços significativos em nenhuma área. O Fome Zero [programa criado, em 2003, pelo governo federal para garantir a segurança alimentar e nutricional de famílias carentes brasileiras], que era a sua grande bandeira, virou o quê? O programa de atendimento às famílias? Começou com o Fernando Henrique [referindo-se ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos fundadores do PSDB e que foi presidente da República de 1995 a 2002]. Apenas foi dada a condição desse governo de trazer todos os programas num cartão só e virou o mesmo programa de uma maneira a ser vendido diferentemente.
Paulo Markun: O senhor acha que a questão da economia é porque nós estamos "viajando num céu de brigadeiro" [com boas condições]?
Gilberto Kassab: Tenho certeza.
Paulo Markun: Não é mérito do governo?
Gilberto Kassab: Tenho certeza absoluta. Se o presidente Fernando Henrique tivesse, no seu governo, essas condições da economia, o país teria tido um desenvolvimento muito mais acentuado. As adversidades pelas quais passaram a economia brasileira no governo Fernando Henrique Cardoso foram muito mais acentuadas, muito mais importantes e tiveram uma repercussão muito significativa, muito importante aqui no nosso país.
Paulo Markun: Bom, o arquiteto Ricardo Coruana tem uma pergunta para o senhor sobre a questão que a gente apresentou no início do bloco, do uso dos painéis solares nas novas construções civis, vamos acompanhar.
Ricardo Coruana [em entrevista gravada]: Senhor prefeito Kassab, a recente normalização dos painéis solares, do uso dos painéis solares na construção civil, nas novas construções, de certo modo, inaugura uma preocupação municipal com a questão da energia. Prefeituras da Europa estão preocupadíssimas com a gigantesca quantidade de energia que é necessária para fabricação dos materiais de construção e a conseqüente emissão de carbono na atmosfera. Hoje eles condicionam a aprovação de projetos ao uso de materiais de baixo impacto ou de menor impacto ambiental. O que o senhor pode nos dizer sobre as iniciativas que a prefeitura pode tomar dentro da sua gestão nesse sentido?
Gilberto Kassab: Recentemente eu estive em Nova Iorque, acompanhado o nosso competente secretário do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge e o secretário das Relações Internacionais, Alfredo Cotait [Neto], e a nossa idéia é nos associarmos a importantes programas, inclusive da Fundação Clinton, que procuram estimular a construção de novas unidades habitacionais, comerciais, utilizando-se materiais que possam traduzir essa preocupação em relação ao meio ambiente. Portanto, a observação do nosso urbanista é muito correta, muito pertinente em relação a qualquer grande cidade, e o caminho da humanidade daqui para frente é ter as suas ações voltadas à preservação do meio ambiente e utilizando-se de programas que possam direcionar e favorecer essas diretrizes.
Paulo Markun: Muitas vezes, a cidade de São Paulo enfrenta uma batalha praticamente permanente contra os camelôs, os ambulantes. O Largo 13 de Maio, na zona sul de São Paulo, era tomado por ambulantes, foi limpo nos últimos tempos, mas lá surgem novamente aqueles, não sabia a expressão, eu li num jornal nesse final de semana, em uma revista, eu acho, na Veja, a história dos "pára-quedas", aqueles que colocam os produtos em cima de uma lona e saem correndo, a mesma coisa acontece no centro da cidade. Volta e meia, em uma rua ou em mais de uma rua são eliminados os ambulantes dali e eles retornam. Tem solução para isso numa cidade tão desigual quanto a nossa?
Gilberto Kassab: Precisa haver, Markun, o ambulante de hoje, ele tem um perfil um pouco diferente do ambulante de 10, 15 anos atrás. Parte dele porque parte do ambulante de hoje, ele trabalha com carga roubada, ele trabalha com produtos fruto de pirataria, ele não tem autorização da prefeitura. Existem aqueles que estão autorizados. O que nós fazemos hoje é justamente... E dando oportunidade de que eles trabalhem, mesmo aqueles que não estão legalizados, no próprio centro, mas estamos tendo uma atuação muito enérgica. O nosso objetivo é liberar a calçada para os pedestres, preservando aqueles que têm o seu direito de estar trabalhando, vendendo as suas mercadorias, o verdadeiro ambulante nessas regiões.
Carlos Marchi: Prefeito, evidentemente que essa questão não deveria ser dirigida ao senhor, mas eu acho que não deveria passar o programa sem que ela fosse tocada. A questão da segurança. A gente teve, relativamente há pouco tempo, as rebeliões do PCC [Primeiro Comando da Capital, organização criminosa criada em 1993 que realizou vários ataques a militares e civis na cidade e no estado de São Paulo], é claro que essa é uma questão que afeta o governo do estado, mas o senhor, até pela proximidade com o governador José Serra, talvez pudesse disser alguma coisa. Como é que está a situação hoje?
Gilberto Kassab: É o que eu estava dizendo agora há pouco em relação ao Bolsa Família, do governo federal. O governo federal, ele tem poucas ações a serem apresentadas, poucos avanços. Se você fizer uma observação dos últimos cinco anos do governo federal, você vai observar que muito pouca coisa avançou. Em relação ao governo do estado de São Paulo, a cidade de São Paulo, você vai ver notáveis avanços, inclusive em relação à segurança. O Markun estava citando agora o caso dos ambulantes, que é um caso de segurança, porque nós estamos falando da questão do ambulante que trabalha com cargas roubadas, o ambulante que trabalha com produtos fruto de pirataria, essa é uma ação conjunta da prefeitura com a Secretaria da Coordenação da Sub-prefeitura, ocupada pelo nosso competente secretário, Andrea Matarazzo, com as nossas polícias do estado de São Paulo, a Polícia Militar, e a Polícia Civil. Portanto, o governador tem avançado muito na questão da segurança. É uma responsabilidade dele, também é uma responsabilidade do governo federal. A prefeitura procura se integrar às suas ações, mas avançou, resolveu? Evidente que não. Mas na cidade de São Paulo, melhorou muito. Citando aí o caso do Markun, o Largo 13 de Maio, nós tivemos uma diminuição de 32% do número de furtos de ocorrência policiais depois que houve a operação em relação aos camelôs.
Fábio Santos: Prefeito, uma outra área onde há interconexão entre problemas urbanos e a questão da segurança do PCC é a área de transportes. Sabe-se que há uma presença importante do PCC principalmente na operação das cooperativas das vans que servem as áreas mais periféricas da cidade. No entanto, a gente não vê o trabalho de repressão duro sobre essas vans e sobre as cooperativas. O que o senhor tem a dizer a respeito.
Gilberto Kassab: Não, melhorou muito, a operação nos sistemas de transportes. A nossa frota foi renovada. Nós, pela primeira vez nas últimas décadas, teremos, até o final do ano que vem, a nossa frota totalmente renovada. Não haverá na cidade de São Paulo nenhum veículo com idade acima de 10 anos.
Fábio Santos: Mesmo nas cooperativas?
Gilberto Kassab: Mesmos nas cooperativas. Nós estaremos... Até porque se estiverem, serão canceladas. Nós estaremos, em breve, com toda a nossa frota, seja de cooperativa, seja de concessionárias, monitoradas com chips eletrônicos, com isso nós poderemos checar a operação, itinerário, velocidade, parada em terminais, parada em pontos de ônibus, avançamos muito. Em relação à questão de PCC, é uma questão de polícia, é uma questão de política de transporte. A prefeitura tem agido com muita transparência, fornecendo informações, sempre solicitadas, à polícia para que tenhamos cada vez mais um transporte público seguro.
Paulo Markun: Prefeito, nós vamos fazer mais um rápido intervalo na entrevista desta noite, lembrando que ela é acompanhada na nossa platéia por Sérgio Rondino, assessor de imprensa da prefeitura de São Paulo; Gilberto Natalini, vereador de São Paulo, Netinho, vereador da cidade de São Paulo e líder do governo na Câmara Municipal e Leão Serva, coordenador de imprensa da prefeitura de São Paulo. A gente volta já já.
[intervalo]
Paulo Markun: Voltamos com o Roda Viva, que entrevista hoje o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Nas várias questões em debate, não só em São Paulo como em outras grandes metrópoles, está a crescente presença dos automóveis nas ruas da cidade. Nos congestionamentos, fica evidente hoje o conflito que existe entre o transporte coletivo o transporte individual.
[Comentarista]:
Paulo Markun: Prefeito, nessas cidades que foram mencionadas na reportagem, tem uma malha de metrô extensa, que nós não temos. Tem transporte coletivo, até mesmo de ônibus, mais efetivo. Algumas cidades da Europa, inclusive, mantêm o bonde, que nós destruímos. Ao mesmo tempo, São Paulo, o Brasil, tem vendido automóvel como nunca. O senhor não acha que o rodízio vai ter que ser aumentado ao invés de diminuído?
Gilberto Kassab: O rodízio, Markun, mostra que a cidade de São Paulo, ela privilegia o transporte público ao transporte individual. Porém, nós precisamos entender que cinco milhões e meio de pessoas ainda utilizam o transporte individual. E a cada dia há mais 500 veículos na cidade de São Paulo. Você lembrou bem a questão do metrô. Há 30 anos atrás, o plano diretor de transporte para a cidade de São Paulo previa, para os dias de hoje, há 30 anos atrás, uma rede de metrô com 160 quilômetros. Nós estamos com 60. Previa uma rede de 160. Estamos 100 quilômetros atrasados.
Paulo Markun: E não vamos recuperar esse atraso?
Gilberto Kassab: Olha, o governador José Serra tem dado uma prioridade total ao transporte público. Ele vai integrar à nossa rede de metrô aproximadamente 180 quilômetros de trens da nossa rede da CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos]. Isso é uma medida que deveria ter sido adotada já há alguns anos. Eu acredito que, em três anos, ele consiga fazer esses investimentos. Tem a folha de organizações internacionais, o governo federal, que será um grande avanço para o transporte público, para a cidade de São Paulo. Aqui, no município, a prefeitura irá construir mais corredores de ônibus e recuperar os nossos corredores em termos de manutenção, que não têm tido uma manutenção adequada. A frota foi renovada. A renovação da frota é importante, ela dá serenidade no transporte público. Mas é um problema grave da cidade. Eu diria que hoje o maior problema da cidade é o transporte. Do cidadão, é saúde e educação.
Alexandre Machado: Quanto tempo que demora para surgir o pedágio urbano em São Paulo?
Gilberto Kassab: Não será nesta gestão, a cidade hoje não precisa do pedágio urbano. Eu não diria que algum dia algum prefeito irá implantá-lo. Até porque a tecnologia irá facilitar a implantação do pedágio urbano, mas hoje nem se pensa em pedágio na cidade.
Fábio Santos: O senhor tem o projeto de instalação de chips no carro que permitiria o pedágio. O senhor mesmo apontou, a cidade não suporta mais o número volume de carros que entra todos os anos na cidade, quer dizer, não está na hora de ser radical, como o senhor foi radical na lei Cidade Limpa?
Gilberto Kassab: Não, ao contrário. A cidade de São Paulo não comporta novos impostos. Esta gestão diminuiu a carga tributária, acabamos com a taxa de lixo, acabamos com a taxa de iluminação pública nas ruas que não tem iluminação pública, ela não comporta e não precisa do pedágio urbano. Precisamos utilizar melhor os nossos recursos. O chip eletrônico é para dar mais segurança à cidade, para que possamos criar barreiras em alguns pontos da cidade de São Paulo, identificar veículos roubados, identificar veículos que não pagam IPVA [Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores]. Porque não é justo, Fábio, que você pague IPVA e o seu vizinho não pague. A cidade precisa de impostos, ela resolve os seus problemas na saúde, na educação, na habitação, com os impostos do IPVA, do ISS [Imposto Sobre Serviço], IPTU, portanto essa é a razão da implantação do chip eletrônico.
Alecsandra Zapparoli: Prefeito, nem na ampliação do rodízio o senhor pensa?
Gilberto Kassab: Não. Não é necessário.
Carlos Marchi: Prefeito, o senhor falou nos carros que não pagam IPVA, me corrija se eu estiver errado, mas no começo do governo Serra, em uma conversa com o secretário Mauro Ricardo [secretário de Finanças do município de São Paulo], ele me disse, e eu escrevi isso, ninguém contestou, que no estado de São Paulo um terço dos veículos não pagam IPVA, um terço. Não é um belo rodízio se você começar a apreender este um terço de carros que não pagam IPVA?
Gilberto Kassab: Bom, em primeiro lugar, na cidade de São Paulo não é esse percentual. Talvez no estado, talvez no interior, seja maior.
Carlos Marchi: Sim, que seja um quinto.
Gilberto Kassab: Na cidade de São Paulo, aproximadamente um quinto.
Carlos Marchi: O senhor acha justo?
Gilberto Kassab: Eu acho justo, até porque os carros mais simples não pagam IPVA. Você sabe disso, depois de 10 anos. É anti-social? Não é anti-social nada, é justo cobrar de quem não está pagando e é justo reter os veículos de quem não está pagando.
Carlos Marchi: Mas porque o senhor não retém?
Gilberto Kassab: Sim, mas a implantação desses chips é para isso.
Carlos Marchi: Vai começar por aí?
Gilberto Kassab: Sim, é evidente. É revoltante você pagar o seu IPVA e o seu vizinho não pagar.
Renata Lo Prete: Prefeito, ao longo do programa, o senhor deve ter citado 10 ou uma dúzia de vezes o governador José Serra, sempre de maneira muito elogiosa. Eu queria perguntar o seguinte: É correto concluir que o seu projeto político está inexoravelmente ligado ao projeto do governador José Serra?
Gilberto Kassab: É correto sim, Renata. Eu acabei, na prefeitura de São Paulo, tendo uma relação muito próxima e muito vinculada ao governador José Serra, eu sou prefeito de São Paulo hoje nas circunstâncias que todos conhecem, em função dele ter sido eleito prefeito de São Paulo. Eu tenho muita convicção de que o meu projeto está atrelado ao projeto do governador José Serra, como o meu partido ele tem um projeto de continuidade, junto, numa aliança com o PSDB. Eu não tenho dúvida em afirmar isso, afirmo em todos os momentos. Eu acredito muito no governador José Serra, acredito que ele está preparado inclusive para ser presidente da República e acredito que o meu partido terá uma participação muito importante nesse projeto.
Paulo Markun: Parte da entrada, digamos, da dificuldade que o senhor teve na entrada da sua gestão, não foi devido justamente ao fato do prefeito José Serra ter saído prematuramente do cargo para ser governador?
Gilberto Kassab: O tempo mostrou que ele não saiu prematuramente. Até porque a cidade o apoiou majoritariamente, ele foi eleito, e o tempo mostrou que os seus planos, que foram apresentados em campanha, continuam sendo executados. Portanto, o tempo mostrou que ele acertou na decisão, a cidade ganhou com isso. Temos um governador de São Paulo, que conhece a cidade, um homem público com uma biografia que poucos têm no país hoje, portanto eu já me inclui entre aqueles que apoiaram a sua decisão e, continuo, hoje, me incluindo, agora com o tempo já passado e ele assumindo a condição de governador de São Paulo, eu posso lhe afirmar que os paulistanos, os paulistas, eles têm a convicção de que ele acertou na sua decisão. Ganhou a cidade, ganhou o estado, ganhou o país.
George Alonso: O senhor, muito próximo à Serra, o Serra propôs, no início do governo dele, aumentou essa possibilidade de destruir o "minhocão" [apelido de viaduto do centro da cidade de São Paulo], que é uma obra que há muito tempo fala-se que é um lixo arquitetônico, um lixo muito útil. O senhor desistiu desses estudos, o que aconteceu?
Gilberto Kassab: Não, eu acredito que, um dia, o "minhocão" será destruído. Infelizmente, não será na minha gestão por falta de condições financeiras, até porque essa demolição implicaria na construção de alternativas importantes, que tem o seu custo.
Tereza Cruvinel: Ao longo da entrevista, o senhor destacou, mais de uma vez, um compromisso com a despoluição além da visual, a ambiental, da água e mananciais e o projeto da transformação do lixo em gás metano. Até já vi, em reportagem, é um projeto realmente pioneiro no Brasil. São Paulo é o estado e, sobretudo, a região metropolitana da capital, é o maior emissor do Brasil. Há alguma disposição da prefeitura para fazer algum tipo de compromisso voluntário com redução, a exemplo do que tem feito algumas outras grandes metrópoles no mundo, dentro no contexto do Protocolo de Kyoto? [protocolo que tem como objetivo de firmar acordos e discussões internacionais para estabelecer metas de redução de gases-estufa na atmosfera, principalmente por parte dos países industrializados, além de criar formas de desenvolvimento que tenham menos impacto negativo para o meio ambiente. O protocolo foi definido em 1997 na cidade de Kyoto, no Japão]
Gilberto Kassab: Bom, o Protocolo de Kyoto é a grande bíblia da humanidade, hoje, em relação à melhoria das condições do meio ambiente, é o grande incentivo que existe. A cidade de São Paulo e a prefeitura, quando você elencou essas novas ações, no fundo você pode sintetizar tudo num programa de governo voltado à melhoria da qualidade de vida das pessoas. E essas ações, esses programas, que procuram estimular o cidadão a participar desses projetos, ou as empresas, é evidente que são o nosso objetivo e todas as iniciativas que puderem acontecer, acontecerão.
Tereza Cruvinel: Mas sem metas?
Gilberto Kassab: Sem metas, os aterros... são dois aterros: o aterro São João e o aterro Bandeirantes, eles são feitos em parceria, em consórcio com um grupo empresarial. Este consórcio fez o investimento realizado, ele vende energia, e também, esse consórcio, teve participação em 50% dos créditos de carbono que a cidade de São Paulo teria direito. Portanto, essas parcerias cada vez mais serão o caminho para que a gente possa atingir esse objetivo de melhorar a qualidade de vida.
Tereza Cruvinel: No futuro é ter metas, quando as negociações globais virem metas, haverá meta também.
Gilberto Kassab: Qualquer projeto depende de metas.
Alecsandra Zapparoli: Prefeito, recentemente, numa entrevista no mês passado, o senhor deu nota 10 a sua gestão. Eu queria lhe fazer duas perguntas: o senhor não acha que exagerou um pouco na nota diante de tantos problemas que a cidade enfrenta? E eu queria saber também, uma curiosidade: qual o melhor prefeito que São Paulo já teve na sua opinião?
Gilberto Kassab: O melhor prefeito, José Serra, nota 10. Eu acredito que é um estado de espírito, foi num contexto, de uma pergunta de avaliação da gestão, a nota 10, pelo entusiasmo, a nota 10 pelos resultados. Não é nota 10 por estar a equipe resolvendo todos os problemas, nenhum prefeito irá resolver todos os problemas, mas eu ratifico aqui, eu dou nota 10, tenho muito orgulho da minha equipe, muito orgulho dos resultados de trabalho dessa equipe, tenho certeza absoluta, muita confiança na avaliação da cidade de São Paulo, nesta gestão.
Paulo Markun: O senhor não acompanhou o prefeito Prestes Maia [Francisco Prestes Maia, prefeito de São Paulo de 1938 a 1945 e novamente de 1961 a 1964. É reconhecido por ser um governante que conseguiu equilibrar as finanças da cidade. Realizou, também, várias obras públicas no município], não é da sua época?
Gilberto Kassab: Não.
Paulo Markun: Agora, a outra questão é a seguinte, prefeito, o que tira o senhor do sério?
Gilberto Kassab: Pôxa [risos].
Paulo Markun: Porque todo mundo tem alguma coisa que tira.
Gilberto Kassab: O cidadão lá na AMA tirou.
Paulo Markun: Ok, mas há outras questões, há situações em que por exemplo...
Gilberto Kassab: [interrompendo] Evidente, eu não diria do sério, porque as pessoas que têm temperamento controlado, outras não tem, eu sou uma pessoa controlada, uma pessoa calma, mas vamos falar na condição de prefeito, o que me deixa aflito, incomodado, sabe aqui o Clóvis Carvalho aqui presente, são, por exemplo, às vezes, a lentidão nas ações da saúde e educação. Saúde e educação envolvem milhares de procedimentos, de ações, de estabelecimentos. Então, eu diria que tirar do sério não é o termo adequado, mas é que incomoda mais nos dias de hoje, na condição de prefeito de São Paulo.
Paulo Markun: Prefeito, eu queria agradecer a sua entrevista, agradecer aos nossos entrevistadores, você que está em casa acompanhando o Roda Viva, e lembrar que o programa estará de volta na segunda-feira que vem, às dez e quarenta da noite. Uma ótima semana e até lá.