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Memória Roda Viva

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Emerson Fittipaldi

1/1/1995

Bicampeão na Fórmula 1 e o mais velho piloto da Fórmula Indy, Fittipaldi esbanja bom humor e simpatia ao falar de sua história no automobilismo mundial

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Matinas Suzuki: Boa noite. O primeiro de maio no Brasil, além de ser justamente o dia consagrado ao trabalho, passou a ser também o dia dedicado à memória de Ayrton Senna. E ninguém mais poderia representar tão bem este dia do que o vitorioso batalhador das pistas Emerson Fittipaldi, o nosso grande campeão, que está no centro do circuito oval do Roda Viva, neste primeiro de maio. Emerson venceu a última corrida da Fórmula Indy em Nazareth e se prepara para pisar fundo nas mitológicas 500 milhas de Indianápolis.

[Comentarista]: O piloto Emerson Fittipaldi vem colecionando recordes ao longo dos trinta anos da carreira dele, mas os melhores estão nas pontas da sua vida de esportista. O primeiro é do mais jovem campeão mundial de Fórmula 1, aos 25 anos, em 1972. O recorde atual é de ser o mais velho piloto da Fórmula Indy. Emerson tem 48 anos de idade. Não há como escapar do lugar comum, Emerson corre hoje com o mesmo entusiasmo dos primeiros dias. Bicampeão na Fórmula 1, bicampeão em Indianápolis, dono de sólidos negócios na agroindústria e no ramo de vestuário, Fittipaldi parece ser sempre o primeiro, mesmo quando a carreira dele esteve no pelotão intermediário. Foi isso que aconteceu nos tempos do Copersucar, a frustrada e longa tentativa de produzir um Fórmula 1 inteiramente nacional. Depois de um tempo recolhido nas corridas de super kart, Fittipaldi voltou em grande estilo para a pole position das pistas. Em 1989 ele faturou o campeonato de Fórmula Indy e tornou-se o primeiro estrangeiro a ganhar o título, em 73 anos. Nesta temporada Fittipaldi, volta a ser um dos favoritos e pode sonhar com mais um recorde: ser o primeiro estrangeiro bicampeão da Fórmula Indy.

Matinas Suzuki: Para entrevistar hoje o Emerson Fittipaldi nós convidamos o jornalista Lito Cavalcanti que é correspondente da revista Autosport inglesa e comentarista da SporTV; o repórter do jornal O Globo, Milton Alves; Antonio Hermann, que é vice-presidente executivo do Banco Itamaraty e também piloto e que acabou de ganhar junto com o irmão de Emerson Fittipaldi, o Wilson Fittipaldi, as Mil Milhas de Interlagos; a colunista da Folha de S. Paulo, Barbara Gancia; Celso Miranda, que é repórter da Rede Cultura; o narrador da Jovem Pan e da Fórmula Indy pelo SBT, Téo José; e Mauricio Cardoso, sub-editor da revista Veja. O Roda Viva é transmitido em rede nacional por outras trinta emissoras. Infelizmente hoje você não poderá participar enviando as suas perguntas, porque este programa foi gravado. Boa noite, Emerson Fittipaldi.

Emerson Fittipaldi: Boa noite.

Matinas Suzuki: Hoje, primeiro de maio, um ano sem Ayrton Senna. O que o Ayrton representava para você?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que, primeiro um campeão excepcional, um talento excepcional e um grande amigo. A gente tinha uma admiração mútua, a gente vivia numa distância grande porque ele estava na Fórmula 1 e eu estava na Indy nos últimos anos, mas sempre quando tínhamos contato, quando passávamos uns dias juntos, existia uma amizade, uma conversa muito boa sobre automobilismo, sobre a vida. 

Matinas Suzuki: Você durante a sua carreira de... você foi o primeiro ídolo, você é o precursor desse caminho, você podia imaginar que alguém pudesse ser um ídolo, uma pessoa no Brasil  tão importante, saído da Fórmula 1, como foi o Ayrton Senna?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que o Ayrton, pela carreira dele, e pelo estilo dele e pelo talento que nasceu com ele, realmente foi um piloto espetacular. E na época que o Ayrton começou a Fórmula 1, aonde a gente, o brasileiro já estava tão ligado com a Fórmula 1, tão ligado com o automobilismo. E seguindo o Nelson Piquet, quer dizer, se eu voltar, aí eu voltaria até na época do Chico Landi [(1907-1989), piloto brasileiro de automobilismo, e primeiro piloto sul-americano a correr nas pistas européias, quando o esporte era praticado apenas por nobres e milionários]. O automobilismo no Brasil estava conhecido, mas era conhecido por um grupo praticamente pequeno e isso foi aumentando cada ano que passou, aí chegou a época dos anos 70, o José Carlos Pacce [o autódromo de Interlagos recebeu o nome do piloto, morto em 1977 em um acidente de carro] o Wilson [Fittipaldi] e eu indo para a Europa, então foi um build up que foi acontecendo, e o Ayrton realmente assumiu uma posição não só no Brasil, mas no mundo todo, é incrível.

Matinas Suzuki: Barbara Gancia, você queria fazer uma pergunta.

Barbara Gancia: É, tenho uma pergunta, bastante emocionada inclusive. Eu estou sabendo que você, quando... teve um dia que o Ayrton foi almoçar na tua casa em Miami, e que depois do almoço você se recolheu com ele em uma sala, e de repente alguns dos seus familiares começaram a ouvir um burburinho tal, abriram a porta e você estava lá com ele lendo trechos da Bíblia, certo? Quer dizer, estavam os dois lá, tem um negócio que me deixou, eu imagino, que, por exemplo, seu eu fosse convidar um colega meu jornalista para almoçar, dificilmente eu iria ler trechos da Bíblia com ele depois do almoço. Então eu queria saber, que você comentasse isso, como é que é essa coisa de espiritualidade, se foi ele que te deu esse toque, “vamos, quero te mostrar uma coisa”?

Emerson Fittipaldi: Bárbara, não foi bem assim. A gente estava conversando de religião, conversando de Deus, mas não foi, não foi dessa maneira não.

Bárbara Gancia: Como é que foi?

Emerson Fittipaldi: Foi uma conversa acho que... uma coisa muito particular e que fica... sobre Deus, acreditar, ter fé, e é isso que foi a conversa.

Bárbara Gancia: Você se lembra desse momento, quer dizer, você lembra ainda disso, você, depois de tudo que aconteceu, lembra que eu te encontrei no enterro do Ayrton, você estava extremamente emocionado e, sei lá, essas coisas passaram pela tua cabeça, essas reuniões, o que vocês conversavam nessas horas, sobre Deus, sobre...?

Emerson Fittipaldi: Olha teve, tem situações, Bárbara, na vida, que você divide com um amigo, com uma pessoa, coisas que eu acho que você não, publicamente não vai falar, mais eu tive momentos muito especiais com o Ayrton, principalmente falando sobre automobilismo, sobre acreditar em Deus e coisas [que] mentalmente, espiritualmente podem te ajudar na vida. Então isso foi mais ou menos a nossa conversa que, algumas vezes...

Bárbara Gancia: É uma conversa estritamente entre pilotos, é uma coisa de vocês aí que... é difícil porque este tipo de coisa não é que vocês faziam isso público, digamos assim, não é que era uma...  

Emerson Fittipaldi: Era mais assim, tipo, cada piloto psicologicamente, mentalmente, tem um tipo de preparação mental e espiritual. Eu, por exemplo, rezo à noite, rezo de manhã quando acordo, acredito em Deus, então são coisas que você mantém aquela rotina ou praticamente um ritual. E esse tipo de coisa que eu trocava idéia com o Ayrton, então eu acho que é uma coisa muito minha e dele que fica nossa, pessoal.

Matinas Suzuki: Vamos ouvir a pergunta do Milton Alves do Globo. Milton, me desculpe, eu errei seu nome na apresentação. Por favor.

Milton Alves: Logo depois que o Ayrton morreu, Emerson, você falou justamente sobre esse detalhe, dessas conversas que vocês tinham sobre concentração, você revelou alguma coisa sobre isso. Você pode dizer alguma coisa a mais sobre o que vocês conversaram sobre esses momentos de concentração que vocês... Você passou alguma coisa para ele que você fazia antes da corrida? Ele passou alguma coisa? Como é que foi essa troca de informações?  

Emerson Fittipaldi: Olha, Milton, foi troca de idéias, realmente preparação assim psicológica para uma volta de classificação, como que o piloto tem que estar preparado para uma corrida, para o campeonato. E eu acredito muito que a gente tem muita energia mental quando você está bem preparado. E esse tipo de coisa eu fazia, falei para o Ayrton, eu tive um professor nos Estados Unidos me ensinando e é uma coisa que ajuda muito qualquer esportista, em qualquer esporte. Esse tipo de coisa que a gente conversou.

Antonio Hermann: Como é que é essa preparação? [risos]É bom aprender isso.

Emerson Fittipaldi: Falando de uma maneira bem simples, eu acho que muita gente já conhece isso, começou há uns quinze anos, vinte anos atrás, a equipe russa nas olimpíadas começou a usar essa técnica, de mentalização, de visualização. Vamos dizer, o que você vai fazer na competição, qual o seu objetivo, como que você quer atingir aquele objetivo e isso aí foi desenvolvido nos últimos quinze anos por técnicos de esporte... 

Antonio Hermann: O [Ivan] Lendl [(1960-), ex-tenista profissional tcheco naturalizado estadunidense em 1992, foi um dos mais vitoriosos jogadores dos anos 80 e início da década de 90ço-), zação, de visualização, carro]] fazia isso muito, nos jogos de tênis, via, via, via, repetia os jogos para ver...

Emerson Fittipaldi: Eu acho que sempre ajuda porque eu acredito que o subconsciente recebe a informação e quando aquela imagem acontece, você já está fluindo de uma maneira automática, você não está de surpresa, eu acho que isso é importante.

Milton Alves: O que acontece quando você pega um Hiro Matsushita [(1961-), piloto japonês, apelidado por Fittipaldi de “King Hiro”, tinha o costume de não ceder a posição para os companheiros de sua equipe] pela frente?

Emerson Fittipaldi: Complicou. A gincana, a gincana móvel.

Matinas Suzuki: Emerson, uma prova de Fórmula Indy, ela exige mais concentração do que uma prova de Fórmula 1? Eu vi você dizendo que o desgaste, principalmente num circuito oval, é muito grande, de concentração. Exige mais do que numa prova de Fórmula 1, por exemplo?     

Emerson Fittipaldi: Se for no circuito oval, psicologicamente, mentalmente é muito desgastante. Porque você está o tempo todo naquela tensão, naquela velocidade. E principalmente é uma coisa que até é difícil de explicar, mas tentando trabalhar numa antecipação de tudo que vai acontecer e que é o mais complicado no oval. Porque você tem que estar sentindo ou preparado a sentir uma coisa que pode ser que o carro vai fazer, antes de fazer. É quase uma antecipação intuitiva, e no caso da Indy, para gente ter uma idéia, na velocidade que chega no fim da reta, tipo Indianápolis, Michigan, a cada segundo a gente anda a distância de um campo de futebol. Se fosse em linha reta, não é complicado, mas é praticamente a essa velocidade que a gente entra na um e na dois. Então mentalmente você tem que estar trabalhando num canal de antecipação muito para frente.

Matinas Suzuki: Mas o desgaste é maior, você acha que é maior?

Emerson Fittipaldi: É extremamente maior no oval. No misto é muito parecido com Fórmula 1.

Matinas Suzuki: E na sua coluna da Folha você falava sobre o circuito de Nazareth [autódromo de pista do tipo oval, localizada no estado americano da Pensilvânia] que você já começa a pegar os retardatários logo no início da prova, que é um complicador a mais, não é isso? Com relação à Fórmula 1.

Emerson Fittipaldi: Aí complica muito. Eu acho que a característica principal de dificuldade do circuito oval é exatamente o tráfego, porque os líderes depois de seis, sete voltas já começam a passar os retardatários e cria ali uma... Para a gente ter uma idéia, eu sozinho em Nazareth, virei vinte ponto dois, vinte ponto três, vinte segundos e três décimos. A hora que eu estava em tráfego, eu virava a vinte e dois e meio, vinte e três, quando era o tráfego ruim. Quer dizer, em uma volta eu perdia três segundos, que é mais do que dez por cento de uma volta, que é muito. É a mesma coisa que num circuito misto você perder dez segundos em uma volta, doze segundos. 

Mauricio Cardoso: Emerson, a impressão que se dá para um leigo é que no circuito oval, que a gente tem quatro retas e quatro curvas, a coisa é muito mecânica. Como é isso na realidade?

Emerson Fittipaldi: É, para tentar descrever, é difícil descrever. Mas o oval curto são 19 segundos a volta, nós estamos virando abaixo de vinte segundos; a reta, por exemplo, Nazareth demora 3 segundos, a reta principal.

Mauricio Cardoso: Não dá nem para pensar?

Emerson Fittipaldi: Não dá nem para pensar. Depois a curva no fim da reta demora mais uns cinco ou seis segundos, aí você entra na reta dos boxes, que praticamente na reta que tem um quebra, então você está o tempo todo trabalhando no volante, o tempo todo fazendo curva, com exceção da pequena reta em Nazareth. No caso de Indianápolis, a reta é longa, dá para descansar um pouco. Mas é muita curva sem ter tempo para respirar.

Mauricio Cardoso: O movimento sai automaticamente como, quer dizer, não dá para pensar o que você vai fazer?

Emerson Fittipaldi: Sai e você tem, aquilo que eu estava falando, tem que fluir de você a reação na hora, o que o seu corpo está sentindo, o que o seu cérebro está reagindo e para frente, é aquela antecipação o que você vai fazer, estratégia de corrida, então a coisa que tem que ser automática.

Téo José: Você disse, Emerson, que quando fica concentrado no circuito oval, fica conversando com você mesmo dentro do carro, como é que é? O que você fala para você mesmo nesse tipo de concentração? [alguém comenta: “Deve falar um monte de palavrão”. Risos] 

Emerson Fittipaldi: Olha Téo, eu acho que tem situações no oval que você tem que se cobrar, então eu falo: concentração, concentração! Eu tenho um sistema de respiração no abdome também para pegar energia e sentir de novo tudo, uma sensibilidade na pele. Então esse tipo de coisa você tem que estar muito alerta, você não pode descansar. E para mim já aconteceu tanto Indianápolis, outros circuitos ovais, quando amarela, você relaxa, aquela adrenalina abaixa, aí dá a verde de novo, você não está muito atento, você já está fora da sintonia, do ritmo da corrida, então você tem que chegar lá de novo. Isso que é complicado.

Antonio Hermann: Emerson, você foi um dos primeiros, dos primeiros pilotos aqui no Brasil a se preocupar com a preparação física. Eu me lembro que quando eu comecei a correr de kart, o Affonso Giaffone era o meu chefe de equipe. Ele sempre dava o exemplo: “O Emerson nunca bebeu, nunca foi dormir tarde”. [risos] E a gente era garotinho e depois você levou isso a uma preparação profissional. Qual é o percentual que você atribui da preparação física hoje na rapidez de um piloto?  

Emerson Fittipaldi: Bom, primeiro eu queria dar parabéns pelas Mil Milhas [de Interlagos], né, com o Wilson.

Antonio Hermann: Ah, obrigado, parabéns para o Wilson.

Emerson Fittipaldi: Até quem me deu a notícia foi o Christian [Fittipaldi, sobrinho de Emerson Fittipaldi, filho de Wilson Fittipaldi].

Antonio Hermann: É, ele estava lá, ele falou no telefone conosco.

Emerson Fittipaldi: Foi no fim de semana de Long Beach [Grande Prêmio de Long Beach, no estado americano da Califórnia].

Antonio Hermann: É, foi, obrigado.

Emerson Fittipaldi: Aí eu falei, agora temos que fazer alguma coisa aqui. No fim não deu certo, mas a gente estava lá em Long Beach. [risos] Mas eu acho que como qualquer esporte, o automobilismo cada vez mais, está mais exigente em termos de preparação física. No nível Indy, no nível Fórmula 1, eu acho que é muito, até na sua categoria também, esporte protótipo é, você tem que estar bem. Primeiro, problema de segurança, porque a hora que você está fisicamente cansado, mentalmente começa afetar e você começa a perder reflexo, coordenação e eu acho que isso aí, num caso de Indy, Fórmula 1, fisicamente é muito desgastante no circuito misto. Quanto melhor a preparação física da pessoa, menos chance de errar, e mais chance de ter performance no fim da corrida, que eu acho que é importante, na última meia hora de corrida, estar também no cem por cento de performance.

Celso Miranda: E o que você faz, Emerson? E o que você faz para manter essa sua preparação física? Como é que é a sua rotina de preparação? A gente agora vai para as 500 Milhas, é um tempo que você se dedica mais a essa preparação. Como é que você faz essa preparação?

Emerson Fittipaldi: Olha, é uma coisa que começou há uns anos atrás, só correndo a pé. Aí eu acho que foi proporcional a minha idade: mais idade, mais ginástica [risos] para agüentar as feras que estão aí. E hoje em dia eu faço, praticamente todo dia, eu corro a pé, faço peso com treinador e eu também estou fazendo karatê que eu acho que é bom para coordenação motora, reflexo. [Hermann comenta algo sobre Matsushita e todos riem] Mas é uma preparação muito intensa e que além de ser bom para a minha profissão é meu hobby também.

Matinas Suzuki: Emerson, você bebe, não?

Emerson Fittipaldi: Ah, de vez em quando, lógico.

Matinas Suzuki: Fuma?

Emerson Fittipaldi: Não.

Matinas Suzuki: Como é que uma pessoa que não fuma, pilota um carro da Malboro [marca de cigarro da Philip Morris]? Como é que é esse...?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que a Malboro que está, que eu estou sendo patrocinado pela Malboro, inclusive é recorde, há 21 anos, quer dizer, acho que também não tem muitos atletas no mundo que tem um patrocínio de 21 anos. E, realmente, a Philip Morris Internacional [uma das maiores empresas de tabaco no mundo, sediada em Lausanne, Suíça] e a Malboro investe muito dinheiro em diferentes esportes e o automobilismo é um deles. E eu acho que a..., vamos dizer que o expouser, que é a promoção que a Malboro conseguiu no mundo todo através da Fórmula 1 e através da Indy agora é simplesmente fantástica. E para nós do automobilismo, eu considero a Malboro como patrocinadora número 1.

Lito Cavalcanti: Você, quando estava falando agora sobre preparação física, você citou quanto mais idade, mais ginástica para poder encarar essas feras. Sem dúvida fera não falta aí ao longo da tua vida. Qual foi a maior fera? Ou qual é a maior fera? Aquele cara que quando você chega no paddock [é a edificação encontrada nos circuitos de automobilismo para abrigar o pessoal das equipes, veículos, oficiais de prova e convidados], você olha, “ih, hoje vai ser duro”. Quem foi o mais difícil? Ou quem é o mais difícil de toda a sua carreira? Do kart até aqui, desde o Cambacau [Manoel ou Maneco Combacau, foi o vencedor da histórica primeira corrida de kart realizada no Brasil, realizada no Jardim Marajoara (bairro da zona sul de São Paulo) em 1960] até o Al Unser Junior?

Emerson Fittipaldi: Olha, Lito, eu acho que teve situações na minha carreira que eu encarei muitas feras, em categorias diferentes e épocas diferentes. Mas falando assim do pessoal que corria de kart aqui, o Maneco, o Carol Figueiredo [piloto brasileiro de kart dos anos 60] no começo da carreira, do [Roy Salvadori?], Tite Catapani, quer dizer, sempre existiu, eu acho que em qualquer categoria que eu participei, aquelas feras que você entra na pista e fala: “opa, como é que ele está, deixa eu ver como ele entra naquela curva”. E você também está vendo o que ele está fazendo, não é só encarar, eu acho que é muito importante isso. E na Fórmula 1, vindo mais para o lado da Fórmula 1, eu acho que teve o Jack Stewart [piloto escocês] foi o primeiro que eu encarei da turma brava, o Nick Lauda [piloto austríaco, tricampeão mundial de Fórmula 1], o Clay Regazzoni [(1939-2006), piloto suíço], o meu companheiro de equipe, o Ronnie Peterson [piloto de Fórmula 1 da década de 70, apelidado de “o sueco voador”], que já havia desde a época de Fórmula 2, a gente tinha uma concorrência muito grande. [alguém pergunta: “Na três”?] Não, Fórmula 3 eu não corri com o Ronnie não, ele já estava na dois, eu ainda estava na três. 

Barbara Gancia: Por falar em Nick Lauda, eu estive almoçando com ele antes do Grande Prêmio do Brasil e ele fez críticas à Fórmula Indy, ele tinha acabado de voltar de lá, inclusive eu te vi na televisão junto com ele, e ele disse assim que: “Ah, que essa coisa de Formula Indy parece piquenique de 4 de julho, o Emerson leva a filha, leva o cachorro, leva todo mundo...” Ele diz, inclusive, que hoje em dia, piloto de automóvel tem que ter só um bom consultor financeiro. E a família, essa coisa de levar pai, mãe, dar palpite, “olha, você não tem que fazer assim, você tem que fazer assado”, que isso não é bom. O que você diria para o Nick Lauda, para essas críticas dele?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que primeiro eu gosto de fazer piquenique, todo mundo gosta. [risos] Eu estive com o Nick, inclusive em Miami, ele foi super simpático dentro do nosso box, eu até brinquei para ele, falei, chamei o Roger e falei: “Ó, Roger, pega o carro reserva aí - o Téo estava lá -  pega o carro reserva e dá para o Nick, você não quer correr Nick”? Eu acho o seguinte, Barbara, que dentro da diferença do mundo da Fórmula 1, do ambiente da Fórmula 1 e da Indy, eu acho que a Indy ganha tão mais do que a 1 porque realmente é um ambiente muito mais amistoso com um esporte muito competitivo do mesmo jeito. Então, para mim, é uma satisfação grande poder levar a Tereza, levar meus filhos num grande prêmio e assistir, estarem lá participando aquele fim de semana comigo, com a minha profissão. E existe lá o lugar para a mulher, para os filhos, para os amigos, inclusive na Indy, e que eu acho que essa parte, vamos dizer, o lado humano do esporte, o relacionamento, porque realmente se a gente pensa “o que nós vamos fazendo”, o esporte, o esporte tem que ser uma fraternização...  

Barbara Gancia: Mas eu acho que a Indy é mais show business, é mais entertainment do que um esporte, ou não?

Emerson Fittipaldi: Não, eu acho que de jeito nenhum...

Matinas Suzuki: [interrompendo Fittipaldi] Emerson, o Nelson Piquet fez essa diferença,  se não me engano, numa entrevista ao Jô Soares dizendo que ele achava que Fórmula 1 ainda era um esporte, que  Fórmula Indy era um espetáculo, acho que é um pouco disso que a Barbara está...

Barbara Gancia: Eu não tenho nada contra, inclusive...

Emerson Fittipaldi: Eu acho que se você pegar, por exemplo, o grid de Long Beach, que um segundo tinha quinze carros e comparar com Fórmula 1, eu acho que ali não tem muito piquenique não, não dá nem tempo para pegar o ovo cozido. [risos]

Lito Cavalcanti: Me diz uma coisa, a Fórmula Indy está passando por um processo de internacionalização, você foi um dos iniciadores, estão vindo pilotos da Europa, pilotos com a cultura da Fórmula 1, de um ambiente muito mais competitivo onde, não sei, parece que o bolo de dinheiro subiu à cabeça do pessoal, aquelas coisas que você mesmo se lamentava nos seus últimos anos de Fórmula 1, a degradação do ambiente, do relacionamento, a amizade já era uma coisa fora de cogitação. Está chegando gente com essa mentalidade na Fórmula Indy, isso não te preocupa?  

Emerson Fittipaldi: Eu acho o seguinte, Lito, dentro, inclusive voltando um pouco para o que a Barbara falou, o comentário do Nick e do Nelson, uma coisa que eu aprendi nos Estados Unidos que é muito diferente de nós, latinos, e até um pouco da mentalidade européia, eu acho que eu vou tentar responder desta maneira. O americano é muito mais open, muito mais aberto, muito mais direto e fala a coisa no sentido muito mais verdadeiro do que ele quer fazer, de como ele está se comportando, então você sente que existe um ambiente verdadeiro, um ambiente não de falsidade, não de, aquele negócio, virei as costas vão por um, né?, a faca. E eu acho que essa desconfiança, eu não sei se é um problema cultural, europeu e latino americano, a desconfiança que nós temos em relação ao concorrente nosso, dentro da mentalidade americana, isso não existe. Existe sim a competição muito dura na hora que começar a corrida, mas fora de competição, o ambiente é muito mais aberto, não existe essa...

Lito Cavalcanti: E nem está começando a existir?

Emerson Fittipaldi: Eu acho... por exemplo, houve no Grande Prêmio de Long Beach e também na corrida anterior, em Fênix, no oval, um comportamento dos pilotos que vieram de outras categorias, como você falou - vão dizer que não - ultrapassaram da ética de pilotagem que a gente tem que se controlar no oval, principalmente. E no sábado à noite em Nazareth durante o driver' s meeting, a reunião dos pilotos, eu falei para eles, [“Você deu uma chamada na turma, né?”, diz Barbara Gancia; “Ele deu um puxão de orelha na turma, né?”, comenta outro entrevistador; risos] para colocar a eles mais no... o que é hoje em dia a Indy, o comportamento que você tem que ter, porque realmente não é só eles cometerem um erro, mas é num erro desse me levar junto, e o carro, você sabe o carro roda para fora, bateu, levanta o nariz, decola, bate num muro e a coisa pode ficar feia.

Milton Alves: Emerson, em Indianápolis, aproveitando a proximidade do pole day, que você vai participar, e da própria corrida, as seqüelas que o piloto sofre são muitas. Você chegou a comentar, desfigurar o rosto devido à força centrífuga, conta para gente como, o que se passa lá dentro durante três horas, que pode chegar até quatro horas de corrida, conta o que um piloto sente lá dentro?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que Indianápolis é um evento muito especial porque durante as três semanas que antecedem a corrida existe aquela, o desgaste emocional, o desgaste físico, o desgaste mental, todo dia das onze às seis da tarde andar na mesma pista com as mesmas quatro curvas, e isso aí vai crescendo até o dia da corrida. Então eu acho que a largada das 500 milhas é uma tensão muito maior para cada piloto de qualquer outra corrida que existe, porque aquilo é o resultado de três semanas de trabalho até a hora da largada. Então a tensão é muito grande, são trinta e três carros que largam em Indianápolis. Eu já tive situações que eu larguei atrás no grid em Indianápolis, um dia que eu tive que trocar, um ano que eu tive de trocar o carro reserva com o carro principal, e tinham me falado que Indianápolis quando você larga muito atrás, não tem oxigênio, falei: “Como não tem oxigênio? O ar está lá do mesmo jeito”. Falou: “Não, você vai ver, não tem oxigênio”. Até isso eu passei em Indianápolis, eu larguei, eu acho que foi na penúltima fila um ano, última ou penúltima fila, não estou lembrando, e quando deu a largada eu fui chegando na curva um e aquele cheiro do álcool dos carros era tão forte, e a turbulência tão grande que me faltou ar. Então durante duas voltas eu fiquei com o olho lacrimejando por causa do álcool e eu não conseguia respirar direito, quer dizer, até nisso Indianápolis é especial. E durante a corrida, depois de três, quatro voltas a coisa, vamos dizer, a poeira assenta, se acomoda, aí ela passa a ser como qualquer outra prova. E eu, psicologicamente, penso a minha maneira que eu encaro Indianápolis é que tecnicamente, a hora que deu a bandeira verde, é como qualquer outra corrida, então você tem que esquecer as três semanas. A hora que largou é a mesma coisa que você tivesse correndo em Michigan,  Nazareth, em Long Beach ou em Jacarepaguá o ano que vem.

Matinas Suzuki: Você confirma o Grande Prêmio em Jacarepaguá?

Emerson Fittipaldi: Confirmar não dá para confirmar, mas acho que está muito bem encaminhado. Os americanos já aceitaram a idéia, estão gostando da idéia de virem para cá e eu acho que dá para sair.

Celso Miranda: Emerson, essa preparação toda que cerca as 500 milhas de Indianápolis, o tempo, a tensão, a mídia toda cobrindo, é mais importante para o piloto, para a equipe patrocinadora vencer Indianápolis ou vencer o campeonato?

Emerson Fittipaldi: Ah, mas sem dúvida é Indianápolis.

Matinas Suzuki: É mais importante que o campeonato?

Emerson Fittipaldi: Nos Estados Unidos, sim. O nosso patrocinador, Malboro, é lógico que ele preferiria muito mais ganhar Indianápolis do que o campeonato.

Milton Alves: Até pelo prêmio, né?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que o prêmio, o prêmio também. Mas o campeonato hoje em dia é um milhão de dólares.

Matinas Suzuki: Emerson, nós veremos a sua foto, o brasileiro verá sua foto outra vez  no final deste mês com aquele um milhão de dólares esparramados lá no carro, veremos essa foto ou não veremos?

Emerson Fittipaldi: Olha, eu acho que na minha preparação psicológica, eu gostaria de ver essa foto. [risos] Mas na realidade, hoje em dia, em Indianápolis, por exemplo, têm quinze, no mínimo quatorze, quinze pilotos com chance de vitória em Indianápolis. No campeonato eu diria menos, seis, sete, mas para Indianápolis, quatorze, quinze pilotos. Então eu acho que as estatísticas podem me ajudar porque eu estou perto ali, eu estou entre os favoritos, mas tem, com certeza, quinze pilotos com chance.

Matinas Suzuki: Quem são, [quem] você acha as pessoas mais difíceis para você bater, quem são os pilotos, ou as equipes que você acha que têm as maiores chances este ano?

Emerson Fittipaldi: Indianápolis? Eu acho que começando com a nova geração que tem o Jacques Villeneuve, chegou em segundo o ano passado, ele eu acho que tem grande chance de vitória, andou muito bem em Nazareth e andou relativamente bem em Phoenix... porque existe uma,  até isso é quase uma tradição. Phoenix é a projeção mais ou menos [de] como vai, como os carros vão andar em Indianápolis, porque seria o último oval antes de Indianápolis, apesar de ser um oval curto. Então, por Phoenix a gente teve uma idéia dos carros que vão andar bem. E eu acho que o Jacques Villeneuve é um deles, você pega da geração nova que está lá, o Robby Gordon está andando muito bem, companheiro de equipe do Christian, o próprio Christian tem chance, se ele se adaptar bem a Indianápolis, de novo eu não sei como que ele vai se adaptar àquele tipo de circuito que é quatro cruzes, diferentes de Nazareth e de Phoenix. Mas eu acho que tenha cinco ou seis pilotos dos novos, o Gil de Ferran [piloto brasileiro bi-campeão da Fórmula Indy] que vai estar andando forte, muito forte, o próprio Jimmy Vasser, o [Bryan] Herta, que é o novo piloto do Chip Ganassi [equipe da Fórmula Indy] que está em pole position em Phoenix, que foi uma surpresa para todo mundo, foi campeão da Indy light, também tem chance de vitória lá, e os mais experientes veteranos. Aí você pega o [Daniel] Danny Sullivan, o Bobby Rahal o Raul [Boesel, piloto brasileiro de automobilismo], o Mauricio [Gugelmin] vai estar andando bem em Indianápolis este ano, eu acho que a lista já está chegando, o Michael Andretti, o Paul Tracy, eu já tenho? Passou mais de quinze? [comentários paralelos] É lógico que também, como eu, o Al Unser Junior da minha equipe tem grande chance de vitória. Passou, eu acho, que de quinze pilotos já.

Téo José: Falando em Al Unser você disse que neste ano você está muito mais preocupado com os testes. Quando o Roger pensa e fala “olha tem um teste”, você fala “estou lá”. No ano passado a gente sentiu que o Al Unser e o Paul Tracy, eles testaram mais do que você. E a gente viu em muitas corridas você largando na frente e o Al Unser te passava durante a prova. Você acha que esse foi um diferencial do ano passado? O Al Unser conhecia melhor o carro [?] e neste ano as coisas estão se invertendo?

Emerson Fittipaldi: Eu acho, Téo, que até uma determinada posição, sim, eu estou hoje em dia muito mais dedicado ao teste, o Roger está pedindo para eu testar mais o carro do que o Junior. E acontece uma situação inversa, quando você ganha um campeonato como ele ganhou, o desgaste durante inverno é muito maior, você tem promoção aqui e lá, não pára de viajar. Então, eu já começo a temporada com muito menos pressão do que ele. Isso me ajuda muito.

Barbara Gancia: Foi um exercício de humildade você ter perdido a corrida de Indianápolis o ano passado? Ter perdido a concentração, batido, foi um negócio que te deixou mais humilde, mais... baixou a bola um pouco ou não?

Emerson Fittipaldi: Eu acho, Barbara, que aquilo o que aconteceu naquela volta, faltando dezoito voltas para acabar a corrida, foi uma pressão tão grande que Indianápolis dá, que eu estava sob pressão, porque como eu peguei aquele plástico, eu tive que parar antes, fiquei defasado no pit stop e teria um pit stop a mais do que o Junior pela parada que eu dei com o saco de plástico no radiador de água. Então, durante as últimas quarenta voltas, apesar de estar liderando, a minha preocupação era passar uma volta no Junior, porque infelizmente foi feita aquela limitação de velocidade no pit e que criou, praticamente, da entrada do box à saída do box, um stop and go, dá uma volta, quem tiver na pista, então eu ia perder uma volta. Então eu estava psicologicamente muito pressionado. Passei o Al [Unser] Junior, aí peguei tráfego, ele me passou de novo. Quando eu passei a primeira vez, falei “ganhei a corrida. Agora terminei.” Entro no box, aí ele me passou de novo, quando ele me passou de novo, me preocupou muito, então psicologicamente estava muito pressionado. Aí entrei naquela curva muito rápido para sair grudado no vácuo dele, que é difícil, porque eu queria passar e dar mais duas ou três voltas e já ia entrar no box. Eu queria entrar na frente dele. E realmente o carro saiu de traseira e eu bati no muro. Mas mostra, para mim mostrou o seguinte: não adianta você estar muito tenso e pressionado, que vai errar, então a minha falha, alí, foi a pressão psicológica. Foi tão grande, foi uma coisa quase impossível chegar a tanto, uma reação meio, mais agressiva do que eu deveria ter naquela hora na corrida. Então se acontecer uma situação, eu aprendi, é lógico que a gente aprende, se acontecer a mesma situação, a próxima vez, se eu não conseguir passar aquela hora eu vou dar mais uma volta ou duas, eu vou ser mais tranqüilo. Espero, né?, que é difícil a gente conseguir. [“E mais tranqüilo que você é difícil”, comenta Barbara Gancia] Eu vou prometer para mim mesmo, mas vai ser difícil.

Lito Cavalcanti: Emerson, você agora tem alí como adversário, quer dizer, adversário em termos, mas adversário, o Christian, teu sobrinho. E antes de ser adversário, seja o que for, ele é o teu sobrinho, você é o tio Emerson. É lógico que ele vai chegar e...

Emerson Fittipaldi: Ele está proibido de me chamar de tio. [risos]

Lito Cavalcanti: Mas de qualquer maneira, ele busca um aconselhamento com você. O Christian é um piloto super experiente, foi campeão de tudo, Fórmula 3, Fórmula 3000, não andou melhor na Fórmula 1 por limitação mecânica, é um piloto que sabe tudo, mas ele tem perguntas para fazer para você. Que tipo de perguntas, que tipo de conselho, qual é a dúvida dele? É acerto de carro, é atitude mental, o que ele pergunta a você? O que você passa para ele?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que são situações. O Christian, por exemplo, perguntou de oval que para ele é surpresa, é novidade...

Lino Cavalcanti: Perguntou o quê?

Emerson Fittipaldi: Conversei com ele assim, não é que ele pergunta, a gente vai conversando. A minha grande preocupação, não só com o Christian, mas com os outros pilotos novos, com a turminha que está lá, é transmitir os riscos do oval para eles, eu acho que isso é importante. E cada um deles, o Christian, o Gil, o André que já tem uma experiência de oval que está indo muito bem também, eles têm o seu estilo de pilotagem que ninguém vai ensinar. É exatamente como você falou, eles já criaram o estilo, em outras categorias, então eu nem posso dar um conselho, porque cada um tem um estilo de pilotagem. O meu único conselho é segurança e situações de vácuo que eles nunca passaram em qualquer categoria, que eu tenho que transmitir, mas mesmo eu estou aprendendo cada coisa, situações novas.

Matinas Suzuki: Agora, Emerson isso que eu queria perguntar, você está podendo passar essas experiências para eles, como você chegou lá sozinho etc e tal, como é que você aprendeu a pilotar no oval? Quem te ensinou, quem te ajudou, quem foi teu professor nesse?

Emerson Fittipaldi: Olha, é uma coisa inclusive que até hoje eu falo para muita gente, o primeiro oval que eu fui andar foi Michigan [International] Speedway, que tem inclinação oval muito rápida e tal. E estava o Mario Andretti e o Bobby Unser que é o tio do Al Unser Junior. Aí eu fui para os dois e falei: “Como é que é aqui, me ensina”. E aí é aquela mentalidade americana aberta, eu estava perguntando uma coisa de segurança, eu não estava perguntando como é que eu vou acertar o carro. E dali eles me levaram num carro de rua no oval e falaram: “Emerson, a saída da dois tem essa ondulação, não chega muito perto do muro, se estiver atrás do vácuo do outro, cuidado na cruzada de curva, se vier com a roda dianteira saindo de frente e aí você sai da traseira do carro que está na sua frente, pega o ar limpo, você vai receber a pressão aerodinâmica no nariz e vai virar”. Esse tipo de coisa me ensinaram na hora, tranqüilo, e que eu acho que é a mentalidade é diferente da Fórmula 1 e de  qualquer outra categoria que eu corri. Existe um... eu acho que pelo alto risco do oval, que realmente, que pelo, vamos dizer, pelo comportamento dentro do circuito oval que tem que ser, que tem que manter aquela ética, senão bate e bate feio. O respeito entre os pilotos é muito maior e a ajuda é muito maior.

Antonio Hermann: Emerson, voltando um pouco ao passado, é verdade que antigamente na Fórmula 1, isso se atribui um pouco até ao [Jochen] Rindt [piloto austríaco], então se perguntar: “Então, como é que você faz aquela curva”? E ele falava: “Não, eu faço um flat, em quinta, pé no fundo”. E era impossível, normalmente ele deveria fazer em terceira. E o nego ia lá tentar fazer, ficava lá estampado no guard rail [mureta de proteção que geralmente aparece nas margens de pistas de automobilismo]. Existia isso mesmo, é verdadeiro?

Emerson Fittipaldi: Aconteceu uma situação minha com o Jochen Rindt. A primeira vez que eu fui guiar a Fórmula 1 ele era o piloto número 1 da Lotus, ganhando o mundial. E eu fui andar no carro antigo, velho, da Lotus, da Lotus49, Silverstone. Aí eu dei umas voltas, parei e o Colin [Chapman] falou: “Como é que está o carro”? Eu falei: “Oh, sai de frente”. Aí o Jochen olhou para mim e falou: “Está saindo de frente porque você não está acelerando”. [risos] O Jochen era muito agressivo, esse tipo de coisa realmente falava e acontecia...

Antonio Hermann: Mas era na gozação, quer dizer, não era?

Emerson Fittipaldi: Era, mas uma gozação verdadeira, ele falou "acelera mais, entra mais rápido em curva que não vai sair tanto de frente”.

Antonio Hermann: Não tinha intenção de fazer que você batesse mesmo.

Emerson Fittipaldi: Não, absolutamente, [queria] me ajudar. Inclusive, eu tenho uma foto, hoje muito especial para mim, que [é] uma foto que tem uma memória muito boa, o Jochen Rindt, o primeiro teste meu da Fórmula 1, ele que deu o meu lap time, o tempo de volta, ele saiu no muro do box,  ia lá e dava para mim. Eu tenho uma foto ele me dando e eu passando. É uma coisa que eu vou lembrar para o resto da vida.    

Lito Cavalcanti: Emerson, você foi bicampeão mundial de Fórmula 1, campeão da Fórmula Indy, duas vitórias nas 500 milhas de Indianápolis, quando a gente conversa com você vejo grandes nomes, que são todos presentes na sua carreira: Rindt, Stewart e por aí vai. Como é que você se situa entre os grandes pilotos do mundo? Como é que você se vê comparativamente?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que isso é trabalho de vocês, como jornalistas. [risos]

Lito Cavalcanti: Você está escorregando aqui o tempo todo. Você não me falou quem foi o adversário mais duro e agora essa. 

Emerson Fittipaldi: Eu acho o seguinte, Lito, inclusive voltando à época, vamos dizer, do automobilismo romântico, que era a época do [Juan Manuel] Fangio [piloto argentino], do Chico Landi, dos anos 50, dos anos 60. Eu acho que em cada época tiveram campeões, e que se você conseguisse uma máquina do tempo, [para] colocar, vamos dizer, vamos colocar todo mundo com 25 anos de idade, vamos dar um carro igual para todos esses e vamos fazer um grande prêmio do século. Todos os campeões com 25 anos de idade, com o mesmo carro, com o mesmo acerto, seria uma corrida fantástica.

Lito Cavalcanti: E qual é o papel que você acha que você desempenharia nessa corrida? Em que e posição você largaria nesse grid? Em que posição você chegaria?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que seria a corrida mais difícil da história do automobilismo.  [risos]

Lito Cavalcanti: Mais difícil do que arrancar respostas de você não é.

Mauricio Cardoso: Emerson, já que você não quer falar de você, [Nelson] Piquet ou [Ayrton] Senna?

Emerson Fittipaldi: De novo, dois estilos diferentes. Eu acho que o Ayrton com uma técnica fantástica, um talento; o Nelson com técnica, com arrojo maior, mas eu vejo em termos de dedicação ao esporte, concentração, até cobrança dele próprio, o piloto tem que cobrar dele, eu vi o Ayrton fazendo mais isso. O Ayrton se cobrava muito, criava muita pressão em cima dele, o Nelson já muito mais relaxado e menos cobrança.

Mauricio Cardoso: Parece que o Nelson tinha mais prazer na coisa do que o Ayrton.

Emerson Fittipaldi: Eu acho de uma maneira sim, é exatamente isso, o Nelson ia mais na diversão, como prazer, exatamente.

Matinas Suzuki: O Nelson talvez tenha sido o último dos românticos aí dessa geração romântica que trabalhou com o automobilismo muito mais como prazer do que como trabalho e tal, que foi o perfil que você começou a mudar no Brasil, talvez seja essa a diferença entre os dois.

Emerson Fittipaldi: Eu acho que sem dúvida nenhuma. O Nelson é um brincalhão, eu lembro de situações em Indianápolis, inclusive, quando ele teve o acidente, no hospital ele brincando com os médicos, com as enfermeiras, querendo uma confusão dentro do hospital, então mostra o perfil, a atitude de vida dele.

Barbara Gancia: Emerson, no ano passado o [Michael] Schumacher [piloto alemão] por pouco não tirou o teu título de campeão mundial mais jovem de todos os tempos. Você teve algum momento ali no campeonato de Fórmula 1 que você rezou para ele ganhar mais para frente ou, porque ele ganhou só algumas semanas ou alguns dias depois de [você], e esse é um título que ninguém te tirou até hoje, então você fez alguma rezinha?

Emerson Fittipaldi: Você sabe, Barbara, que eu pensei muito na última corrida e eu sou muito amigo do Damon Hill [piloto britânico] - é lógico que por ele ser filho do Graham Hill, e as poucas vezes que eu estive na Europa nos últimos anos, encontrei com ele, pessoalmente, falei com o Damon Hill. E eu fiquei muito amigo da Beth Hill, que é a mãe dele, então eu tenho uma ligação muito grande com o Damon Hill. Eu estava primeiro torcendo para ele ganhar o campeonato, com a Williams. E eu tinha certeza, porque alguém - eu não sei se foi na Índia - o jornalista falou [que] se o Michael ganhar o campeonato, o Schumacher ganhar, você vai ficar o segundo mais jovem. E foi gozado que eu tive, logo na semana que ele ganhou o campeonato fui para Alemanha e fui fazer um programa de televisão, para a televisão alemã e falei para Teresa: “Perdi, o Schumacher é mais jovem do que eu, ganhou”. [“E não é”, diz Barbara Gancia] Não, e não era, e quando chegou o apresentador do programa de televisão, perguntou do campeonato do Schumacher, o que eu achava, é lógico que na Alemanha ele está virando um super ídolo, o pessoal da Mercedes Benz que eu estava lá no fim de semana com eles, todo mundo falando do Schumacher, é o primeiro campeão mundial alemão no automobilismo. E aí o entrevistador falou: “Emerson, você sabia que por algumas semanas o Schumacher não passou o seu recorde?"

Barbara Gancia: Aí você abraçou o entrevistador. [risos]

Emerson Fittipaldi: Aí comecei a dar risada, a Teresa estava no programa até. Falei: “Que legal, notícia boa”.

Antonio Hermann: Você achou certo a atitude dele para ganhar o campeonato na Austrália?

Emerson Fittipaldi: Eu achei [que] ali o que aconteceu... eu não falei com ele, com o Schumacher, mas eu falei com o Damon Hill e o Damon Hill falou o seguinte: que quando ele viu o Schumacher voltando para a pista, ele não sabia que o Schumacher tinha quebrado o carro, então o Damon Hill também foi em cima para. Ele falou: “É a única oportunidade que eu vou ter para passar o Schumacher”. Ali foi um,  eu acho que foi um, má sorte para o  Damon Hill de ele ter reagido desta maneira, ele devia ter tirado o pé, porque ele não viu a hora que o Schumacher bateu, ele viu o Schumacher voltando para a pista. Aí neste segundo que faltou, ele ia tirar o pé  ia passar, não ia acontecer nada.

Matinas Suzuki: Emerson, você hoje é um vitorioso nos Estados Unidos e está se tornando um ídolo também dentro dos Estados Unidos. A cultura esportiva americana é muito auto-centrada, os esportes que tem nos Estados Unidos não tem em nenhum outro lugar do mundo, como o futebol americano, a própria NBA tem regras e características próprias e a Fórmula Indy é um pouco a expressão disso. Como é que foi, como é para você ter entrado nesse mundo fechado? Como é que você conseguiu isso?

Emerson Fittipaldi: Primeiro, voltando a falar um pouco da mentalidade americana. Eu acho que o americano tem um approach diferente do nosso também, e qualquer profissional, atleta no esporte que for, tênis, futebol, soccer como eles chamam nos Estados Unidos, se ele é top e é um super profissional, existe um respeito grande. Então, quando eu cheguei nos Estados Unidos me receberam muito bem, me receberam tão bem que até criaram o apelido meu, Emo agora, todo mundo me chama de Emo lá, isso mostra o carinho que o americano tem. E é lógico que numa situação, por exemplo, 500 milhas de Indianápolis, o ano passado, entre o Emerson Fittipaldi, o Emo brasileiro ganhar e o Al Unser Junior que estava em segundo, meu companheiro de equipe ganhar, é lógico que eles vão preferir muito mais o Al Unser Junior. Mas em situações do começo, no esporte foram totalmente abertos, eu acho que o americano mantém aquela essência do esporte intacta, para eles a competição é importante. Não interessa se é um chinês que está competindo, um africano, um brasileiro, desde que eles dêem performance.

Matinas Suzuki: Agora, Emerson quando você foi para os Estados Unidos, você estava num período decisivo da sua vida, quer dizer, você tinha deixado de correr na Fórmula 1, segundo palavras suas da época, desiludido com a Fórmula 1, ficou um tempo sem correr e foi para o Estados Unidos para construir uma nova vida. Hoje você é novamente um vitorioso. Como foi esse período? Como foi a construção desse período? Como foi o período, quer dizer, que você ficou longe das pistas? E como foi essa reconstrução para o homem Emerson Fittipaldi enfrentar esse desafio?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que foram fases. A minha fase de desgaste da Fórmula 1, que foram os últimos anos, como o Lito falou... Antes que eu já estava assim psicologicamente já não motivado e eu resolvi abandonar. E aí quando eu cheguei no Brasil, falaram vamos fazer o Super Kart, que apareceu, no começo a imagem, aquele Super Kart, vamos dizer, foi o buster [estopim], foi o começo da minha segunda fase como piloto profissional. E que começou a me dar motivação de novo para “vamos voltar para o esporte, para o automobilismo”. E quando eu cheguei nos Estados Unidos, eu não tinha intenção de assumir uma posição, “vou participar do campeonato da Indy”, eu não estava nem pensando em ir para Indianápolis. Eu ia guiar o Grande Prêmio de Miami, o protótipo e, na minha cabeça, eu falei para Teresa, que estava comigo, eu falei: “Eu vou para o Estados Unidos fazer o Grande Prêmio de Miami, possivelmente fazer Daytona, 24 horas de Le Mans  e três ou quatro corridas clássicas por ano, continuo morando no Brasil, isso é o que eu quero do futuro do automobilismo para mim”. Cheguei em Miami, andei bem, me dei bem lá com o protótipo, estava motivado de novo para guiar, com aquela vontade de ganhar a corrida que é importante e aí um cubano americano chamado Pepe Romero me telefonou para o hotel e falou: “Emerson, você quer correr em Indianápolis”? Segunda-feira depois da corrida de Miami. Indianápolis? Me deu até um choque, né? Aí eu falei: “Vem para cá”. Aí ele foi me encontrar no hotel e em meia hora de conversa nós acertamos. Mas foi uma coisa que não foi programada. Aí fui para Indianápolis [e] fiquei, eu fui para Miami para ficar sete dias nos Estados Unidos. Estou há onze anos.

Antonio Hermann: Emerson, você já andou de tudo, todas as categorias, todas as corridas, porque você nunca fez as 24 horas de Le Mans?

Emerson Fittipaldi: Eu quase fiz há uns anos atrás, eu gostaria de fazer.

Antonio Hermann: Estou precisando de parceiro.

Emerson Fittipaldi: Vamos lá, inclusive falei com o Wilson, com o Christian, seria bárbaro a gente fazer uma equipe de brasileiros e correr em Le Mans e tentar ganhar Le Mans, eu acho fantástico.

Antonio Hermann: Quem sabe este ano a gente tenha uma novidade lá com a família Fittipaldi em Le Mans.

Emerson Fittipaldi: Eu gostaria de participar em Le Mans, sim.

Antonio Hermann: Então está convidado o ano que vem, este ano você não vai poder, mas o ano que vem você está convidado a correr conosco lá na Porsche.

Emerson Fittipaldi: Muito obrigado pelo convite e vou pensar sério.

Milton Alves: Le Mans completaria até a chamada tríplice coroa, como o Lito já falou,  você foi campeão da Fórmula 1, ganhou duas vezes Indianápolis. Passa pela sua cabeça realizar esse, completar a coroa?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que não as três vitórias, eu nunca pensei, mas correr em Le Mans sim, como prova, como evento que é um dos mais clássicos e importantes do mundo, gostaria.

Milton Alves: Se vai correr e vai correr para quê? [risos]

Emerson Fittipaldi: Não, não, mas não pensando “ganhei Fórmula 1, ganhei Indy, agora vou ganhar Le Mans”. Pensando em ir para Le Mans para participar e lógico tentar ganhar Le Mans, mas não completando os três, isso eu nunca tinha pensado.

Celso Miranda: Emerson, você chegou a testar um carro de Fórmula Indy de 74 e depois voltou nesse convite do Romero e acabou topando, acabou correndo. Desse tempo aí, mudou muito? Porque nesse contato telefônico, o Indianápolis, é uma prova clássica, te atraiu, lógico, mas você foi para lá pensando naquela tua experiência de 74? Como é que foi esse chegar no carro, era tudo diferente, como é que foi?

Emerson Fittipaldi: Foi exatamente dez anos depois do primeiro teste de Indianápolis, em 74. Inclusive eu guiei o carro que ganhou a corrida aquele ano, do Johnny Rutherford, da McLaren. Eu me senti bem com a velocidade e com as curvas. É um estilo que a pista... e o meu estilo de pilotar se adaptou bem à pista, mas eu não tinha confiança nenhuma no chassi, isso em 1970. Entre os anos 70 até 76, 77, era o chassi de alumínio, não tinha fibra de carbono, não tinha aquela colméia, aquela estrutura em volta do piloto. Eu senti o carro muito frágil, no caso de um acidente, então eu não quis fazer. Em 1974, já era o carro de fibra de carbono, muito mais forte o cockpit. E eu acho também que tudo na vida tem um time, você estar num lugar certo, na hora certa, encontrar a pessoa certa, aí as coisas acontecem. E era o momento para mim para Indianápolis, não só pelo que aconteceu no Grande Prêmio de Miami, a minha possibilidade de voltar à competição, mas numa equipe de segundo e terceiro nível que não ia me colocar numa posição de cobrança de resultado, porque todo mundo sabia que aquela equipe não era equipe de ponta, então seria uma maneira, praticamente, de experimentar Indianápolis sem um compromisso de vitória, ou de estar entre os três, quatro primeiros, aquela cobrança de resultado. Então para mim psicologicamente foi muito bom essa experiência.

Celso Miranda: E a corrida como é que... você se sentiu seguro nessa, na condição do carro, tal?

Emerson Fittipaldi: Eu tive problema de classificação, o carro chegou, era um ... [?] novo que estava vindo da Inglaterra, para você ter uma idéia. Chegou só na sexta-feira antes da classificação e eu praticamente andei uma hora, sexta-feira à tarde, e fui classificar no dia seguinte pela primeira vez. Eu lembro, acho que eu classifiquei em vigésimo primeiro, por aí, vigésimo segundo, mas estava muito tenso, porque eu tive muito pouco tempo com o carro para aprender certo Indianápolis. Agora, quando deu a largada, Indianápolis saiu, eu me senti bem na corrida, até a hora que eu quebrei, mas eu estava me sentindo bem durante a corrida. 

Matinas Suzuki: Emerson, você poderia explicar para o nosso telespectador qual é a diferença entre um carro de Fórmula 1 e um carro de Fórmula Indy, porque eu acho que isso é um pouco confuso para nós leigos, eu também sou leigo no assunto.

Emerson Fittipaldi: É difícil em poucas palavras explicar. O regulamento da Fórmula 1 é um regulamento muito mais aberto, então as equipes têm a possibilidade de inventar a suspensão diferente, dimensão do carro, não existe um controle, uma restrição grande nas dimensões do chassi, da aerodinâmica, como existe na Indy. Então, os Fórmula 1, apesar de ser quase iguais na televisão, que a gente olha, entre um Benetton, uma McLaren, um Williams, existe uma diferença muito grande. E os Indy, pela característica do regulamento, é praticamente um package, um pacote que você tem que fazer dentro do regulamento. Então por mais que a Pacific [equipe] tente desenvolver o carro em túnel de vento, melhorar o nosso carro, você pega um Pacific, uma Lola e um Reinart, são praticamente idênticos os três carros, com algumas modificações. Então isso que é a diferença de um Fórmula 1. Agora, entre os dois carros, de olhar, são parecidos, só que o Indy, também pelo regulamento é bem mais pesado e a Fórmula 1 é muito mais leve. E de novo voltando à parte de segurança, eu me sinto muito mais seguro dentro, hoje, de um Indy, do que se eu fosse ganhar um Fórmula 1, pela proteção do cockpit, do chassi em volta do piloto.

Matinas Suzuki: Pelo que eu entendo que você está dizendo, então, a competição entre pilotos, o talento do piloto, e a capacidade de ele dirigir até o fim na Indy é muito maior do que na Fórmula 1? Porque os carros são mais próximos ou são mais semelhantes.

Emerson Fittipaldi: São muito parecidos, a performance deles são quase idênticas, e eu acho que a gente vê um talento... Eu sempre dou exemplo do Jacques Villeneuve, porque eu tinha muita admiração pelo pai, pelo Gilles Villeneuve, que foi uma grande estrela da Fórmula 1. E o Jacques Villeneuve, que tem 22 anos de idade, mostrou na Indy o talento que ele tem logo de cara, com uma equipe formada no passado, uma equipe de porte médio, não era uma equipe de ponta e que de repente estava lá com a gente, largava, estava do meu lado, na minha frente, atrás, tentando passar. Isso mostra a chance que a Indy dá para o piloto novo mostrar talento e que na Fórmula 1, desde que você sente num carro muito bom, numa equipe de ponta, você vai mostrar o talento. E o caso do Christian, do Rubinho [Barrichello], quando começaram na Fórmula 1, não tinham essa chance de mostrar. O Rubinho esse ano vai ter um potencial maior, com um carro melhor e o Christian está contente na Indy porque na Indy ele já mostra o talento dele, como foi Long Beach, ele estava andando em segundo no fim da corrida.

Barbara Gancia: Inclusive já passou o tio e o tio passou ele.

Emerson Fittipaldi: Essa eu não gostei [risos] de ele passar o tio.

Barbara Gancia: Como é que foi o negócio?

Emerson Fittipaldi: Tem que lembrar que tem que ter respeito pela idade.

Bárbara Gancia: Mas como é que foi você se sentiu, como, de repente, de teu sobrinho te passar, daí ir lá e passar ele de uma maneira gloriosa, como é que? [vários comentários paralelos] Deve ter sido muito engraçado. Depois, inclusive, ele dirige mais parecido com o Wilson, mais parecido com você, como é que é? O que você achou, você morreu de orgulho ou não?

Emerson Fittipaldi: A primeira vez que eu tive um contato direto com o Christian durante a competição foi em Phoenix. Eu lembro que eu fiquei emocionado chegando perto do carro dele, vendo o capacete amarelo, falei: “Nossa, eu estou correndo contra o Christian em Phoenix no oval”. Então é uma coisa que me deixou muito emocionado de eu sentir aquele contato na pista lado a lado, ele passando, ele me deixando passar em Phoenix, andando bem, se equilibrando muito bem, porque aquilo lá a gente vai se equilibrando, no oval, né? Em Long Beach, a hora que deu um bolo, o retardatário, o Christian chegou e já mostrou a agressividade dele, me passou numa freada que eu não esperava. Aí eu falei: “O que é isso aí, Christian?”, [risos] pensei comigo. Ele já tinha me passado, aí foi difícil passar ele de novo.

Bárbara Gancia: Mas você passou bonito também.

Emerson Fittipaldi: Passei, mas foi difícil. [risos]

Milton Alves: Passou pela cabeça “carreguei esse moleque no colo”?

Emerson Fittipaldi: Ah, passa. Passou porque realmente é uma ligação muito grande. Existe a parte emotiva, que é errado estar pensando na corrida, eu tento que me desligar, mas eu acho que mais duas ou três corridas a gente fica frio, tanto o Christian quanto eu.

Matinas Suzuki: Não tem tanto brasileiro na Fórmula Indy que eles estão batendo um no outro lá? [risos] Inclusive você dando umas...

Emerson Fittipaldi: Eu acho que a participação de sete brasileiros na Indy, para nós brasileiros, é uma coisa muito especial. Eu não sei quando isso vai acontecer isso de novo, pode ser que nunca mais na história da Indy aconteça realmente ter sete brasileiros na Indy. E, dos sete, todos eles andando rápido. O Marco Greco, que está melhorando, este ano está numa equipe melhor, vai ter chance de andar melhor, mas todos eles com chance até de vitória de corrida, então isso...

Maurício Cardoso: Mas os resultados até agora não foram um pouco, digamos, decepcionantes?

Emerson Fittipaldi: Os resultados?

Mauricio Cardoso: Dos brasileiros na Indy até agora?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que ao contrário. Se você vê as classificações deles, o resultado durante a corrida, aconteceram coisas imprevistas, furou o pneu, bateu, virou, mas em termos de competição estão lá, competitividade.

Lito Cavalcanti: Essa história do imprevisto, “bateu”, não bateu um pouco demais não? [risos]   

Emerson Fittipaldi: Eu acho que dentro da agressividade deles, numa categoria nova, eu acho que a gente entende, a poeira vai assentando...

Lito Cavalcanti: Ainda é uma influência da cultura européia, influência da Fórmula 1, de disputa mais acirrada, que não tem esse cuidado ético que você falou?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que é. Um pouco ainda da onde eles vêm, o estilo que eles vêm.

Lito Cavalcanti: Uma fase de adaptação?

Emerson Fittipaldi: Adaptação.

Matinas Suzuki: Não é uma ansiedade de brasileiro também, um pouco de querer ganhar tudo muito rápido, essa coisa toda?

Emerson Fittipaldi: Não, isso não, eu acho que todos eles já dentro, com a experiência que eles têm de carreira, mas na minha opinião, mais do que ansiedade, na maioria do caso dos brasileiros, aquela chance de ele mostrar o talento numa categoria nova com um carro que ele pode mostrar isso. Então cria uma motivação muito grande. Essa motivação, eu diria mais motivação do que ansiedade pra mostrar o talento. Você sabe que a gente quando corre, você tem a chance de vitória e o carro bom, você dá 110% de você, aquele a mais, que é para ganhar a corrida. E isso parece uma ansiedade mas não é. Eu acho que é motivação exagerada.

Milton Alves: Você correu com os dois: o Jacques Villeneuve, que é o pai do Gilles, ou melhor, vice-versa, o Gilles que é o pai do Jacques. Quem é mais piloto, Emerson?

Emerson Fittipaldi: O Jacques tem o estilo do pai de uma maneira agressiva, até espetacular muitas vezes, mas o Jacques usa muito mais a cabeça. Eu conversei até no fim de semana com o Mario Andretti, a gente fez a comparação e o Jacques tem uma cabeça muito mais tranqüila e o Gilles era inconstante, o Gilles era mais estilo do Paul Tracy.

Téo Jose: Emerson, vamos desligar um pouquinho os motores. Eu te disse uma vez que você me surpreende muito fora das pistas pela sua energia como pai, fazendo coisas que, às vezes, a gente não acredita. Por exemplo, na Austrália você levou o Jayson, seu filho, e foi surfar. Em Miami, outro dia, foi nadar com os golfinhos com o Jayson; a Joana foi lá andar com os jacarés no pântano. Como é que é o Emerson pai? A Juliana falou que esse tipo seu, essa energia toda que você passa até motiva mais ela. Às vezes, ela está para baixo, “pô, mais meu pai não pára”. É difícil conciliar isso com esse calendário da Indy que realmente é super apertado, conciliar com seus compromissos profissionais e patrocinadores, esse tipo de coisa? É muito complicado ser esse pai tão ativo assim?

Emerson Fittipaldi: Téo, a experiência que eu tive na Fórmula 1, no meu primeiro casamento, eu acho que o esporte prejudicou muito o casamento. Vamos dizer, a minha posição na Fórmula 1, com o empenho que eu tinha, com o trabalho que eu tinha, a família praticamente passou a ter o segundo plano na minha vida e isso foi uma experiência muito ruim para mim, porque na hora eu não percebia. Os anos foram passando, o casamento foi se desgastando, eu não tinha convívio com os meus filhos e de repente eu me arrependi. E no caso da Indy, eu acho que a grande vantagem, aquilo que o Nick falou, o piquenique, eu tenho muita sorte de poder estar num esporte como a Indy, que é muito competitiva e, ao mesmo tempo, ter a minha família perto. Então me dá motivação de continuar no esporte, me dá motivação de competir, sabendo que aqueles momentos que eu posso passar com a família, que eu vou ter os momentos, eu vou ver o meu filho Luca que está com três anos e meio, quatro, crescendo, a minha filha Joana que está com oito acompanhando o crescimento deles, que eu perdi muito com a Juliana e com o Jayson quando eu estava na Fórmula 1. Então, essa chance que você tem de conviver com a família na Indy, eu curto muito, psicologicamente me afetou muito a minha carreira na Fórmula 1.

Antonio Hermann: Ainda no setor familiar, nos Estados Unidos, o pessoal te chama de Emo, aqui os amigos te chamam de “Rato”, e como é que é essa história do apelido de Marjo...

 Emerson Fittipaldi: O Marjo é quando eu tinha três anos de idade, isso minha mãe que me contou eu não lembro, perguntavam...

Antonio Hermann: Essa pergunta foi encomendada, viu?

Emerson Fittipaldi: Perguntavam qual era o seu nome, eu não conseguia falar Emerson e eu inventei Marjo. “Qual o seu nome?”, “Marjo”, não sei da onde veio e ficou. Então foi um nome que saiu sem querer quando eu não consegui falar Emerson.

Lito Cavalcanti: Emerson, deixa eu perguntar aqui, é uma pergunta comparativa. Você, no bom sentido, é obcecado pela forma física, sempre foi, isso foi uma das suas marcas registradas, estratégia de corrida, planejamento, um fitness muito, muito grande. O campeão do ano passado, teu companheiro de equipe é o oposto de você. Um cervejeiro incorrigível. O Al Unser Junior fuma dentro do cockpit, o juiz apita, na hora de jogar ele apaga o cigarrinho dele, deixa o copo de cerveja, quer dizer, em termos de forma física não existe. E é um piloto de resultados espetaculares. Como é que se explica isso?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que dentro da... o Al Unser Junior tem 33 anos, eu acho que ele até pode abusar agora...

Lito Cavalcanti: Mas vai pagar por isso mais tarde? Está cada vez mais gordo.

Emerson Fittipaldi: Eu acho que é um investimento a longo prazo.

Lito Cavalcanti: Porque a barriguinha dele está grande.

Emerson Fittipaldi: Tomara que fique muito grande. [risos] Ele até brinca comigo, o Al Unser Junior, a Shelley, a mulher dele, eu tenho uma ligação muito grande com o casal, e o Al Unser Junior já tem uma mentalidade dos pilotos antigos, do pai dele, do Al Unser pai, do tio Bobby Unser. Ele tenta fazer alguma coisa de preparação física, mas faz muito pouco. E eu vejo ele no fim de corrida, às vezes, e ele num desgaste muito grande, inclusive o jeito que ele sai do carro você vê.

Bárbara Gancia: O Damon Hill, você tinha me dito, acho que o ano passado, que o George Harrison [(1943-2001) Músico, ex-beatle e freqüentador assíduo dos boxes da Fórmula 1, sua grande paixão depois da música] queria que, de qualquer jeito, você apresentasse o Gary Smith que é teu preparador físico para o Damon Hill. Você acabou apresentando? Ele está fazendo o programa, comendo aquela alfafa, alpiste, aquelas coisas que você come, [risos] aquela comida natural que você come?

Emerson Fittipaldi: O Damon Hill está, eu não sei se ele está no nível em que eu estou, mas ele...

Barbara Gancia: Mas ele está fazendo todo esse condicionamento que você está fazendo?

Emerson Fittipaldi: Está e ele também... a mesma pessoa que me ensinou um pouco a preparação psicológica, ele veio até perguntar, porque eu tinha feito acordo, eu falei: “Não vai ensinar ninguém da Indy, né?, [risos] exclusividade”. E aí ele falou: “Posso trabalhar com o Damon”? Eu falei: “Pode, não tem problema”. Inclusive o George pediu e ele está trabalhando com o Damon também, mas eu acho que ajuda.

Antonio Hermann: Emerson, o Mario Andretti, que foi o piloto que teve maior longevidade, que ganhou tudo também, ele fazia uma preparação física intensa?

Emerson Fittipaldi: Não, o Mario treinava muito e corria muito, de carro o tempo todo ele estava treinando, nas categorias diferentes, então ele achava que aquela preparação física para ele no treino, guiando o carro, já era o suficiente.  Mas se você pegasse os últimos três anos da carreira do Mario, isso que eu sempre falava, para mim até foi um alerta com a idade que eu estou, o Mario, nos últimos três anos da carreira dele, classificava relativamente bem, algumas vezes inclusive segunda fila, primeira fila, terceira fila, dava a largada e começava a ficar para trás. Nitidamente dava para ver que faltava ali energia e gás para agüentar.

Matinas Suzuki: Emerson, com 48 você acha que dá para acelerar até quando?

Emerson Fittipaldi: Não sei, eu acho que até o dia que eu tiver motivação para continuar...

Matinas Suzuki: Quer dizer, esse recorde vai ser seu?

Emerson Fittipaldi: Não, não sei, se estiver bem, mas eu não quero, por exemplo, chegar na fase do Mario. Eu acho que o dia que eu não tiver boa motivação para guiar, eu vou parar.

Lito Cavalcanti: A tua limitação não vai ser física? Você acredita que não vai ser física, vai ser uma questão psicológica: “cansei, não quero mais, não tenho mais motivação”, mas fisicamente não?

Emerson Fittipaldi: Fisicamente eu acho que estou me mantendo bem, estou conseguindo, vai ser falta de motivação, se tiver um dia eu paro.

Mauricio Cardoso: Emerson, você já ganhou tudo que tinha que ganhar e continua andando forte na frente. O que leva uma pessoa, que você supõe
ajuizada, a desafiar o perigo dessa maneira?

Emerson Fittipaldi: Todos nós somos loucos. Eu acho que a dimensão de loucura que cada um tem é maior ou menor, a loucura entre parênteses. Eu acho que aquela vontade de competir, a sensação que a gente sente, a emoção e a motivação e o amor pelo esporte é mais importante. Então você tendo isso, você tem a garra para ganhar a corrida, e eu acho que isso é que leva a gente a competir na idade que eu estou...

Barbara Gancia: E ajuizado porque você não andou com ele em carro de rua, [risos] porque ajuizado é...

Lito Cavalcanti: Tudo bem, estamos falando só de corrida, só de corrida. Corrida é só a parte aparente que o público vê. Descreve para gente o cotidiano dos testes, o relacionamento com o patrocinador, com a equipe e como é isso para você? O que isso te  custa?

Téo Jose: Pegando uma carona, aí. Como é que você consegue ser um empresário de sucesso nesse cotidiano todo?

Lito Cavalcanti: A gente sabe que não [é] chega em Indianápolis, chega na hora da corrida e larga. É um mês inteiro e todas as outras corridas, quer dizer, acabou o campeonato de 94, começa a preparar o de 95 na segunda-feira. Como é que é isso?

Emerson Fittipaldi: Voltando um pouco às conversas que eu tive com o Ayrton há uns anos atrás, o Ayrton passou um tempo lá em Miami, ele me viu, a gente conversou de negócios e tudo. Até o Ayrton falou, fez um comentário que para mim [que] foi bom na época, ele falou: “Emerson, você está fazendo muita coisa e eu acho que você não está concentrando a sua energia no esporte do jeito que você deveria concentrar”. É que, às vezes, você faz as coisas e você não se olha.  Você vai se envolvendo aqui, lá, tal, patrocinador, e eu acho que para mim esse comentário do Ayrton foi muito bom. Eu dei uma parada e há uns três ou quatro anos para cá eu comecei a tentar diminuir os meus empenhos, as minhas obrigações.

Lito Cavalcanti: Apesar de o volume de negócios ter crescido?

Emerson Fittipaldi: Apesar do volume de negócios. E tentar organizar mais a vida. Então hoje eu tenho como prioridade a família, o esporte em segundo lugar, lógico, e os negócios em terceiro lugar. Então eu acho que isso me deu equilíbrio para conseguir fazer bem, o que é difícil.

Matinas Suzuki: Emerson, você, pegando o lado empresarial, você morando nos Estados Unidos, nós estamos aqui com o Hermann que é banqueiro também, é bom negócio investir no Brasil? Você parece que investe no Brasil tudo. Você acha que o Brasil tem perspectiva a longo prazo, que o negócio é investir aqui mesmo ou você está cuidando de ter uns negocinhos fora também para...?

Emerson Fittipaldi: Eu vejo o Brasil com muito otimismo, agora vai ser um Brasil difícil pela parte econômica, financeira mais alguns meses, mais alguns anos, mas eu acho que o Brasil tem um potencial muito grande. Inclusive um dos motivos que eu atrasei hoje para vir para cá, eu estava com o diretor presidente da Hugo Boss [marca famosa de perfume, moda e acessórios] mundial, aqui em São Paulo. E nós, inclusive, estamos mandando um comunicado hoje para a imprensa, nós vamos investir mais no mercado brasileiro, vamos aumentar mais a participação da Hugo Boss. Eles realmente, eu convenci eles que o Brasil tem um potencial grande e eles fizeram uma pesquisa de mercado, se convenceram disso, que é importante para nós, o estrangeiro acreditar, não só nós, num país que pode crescer e que vai dar oportunidades para muitos negócios diferentes. Então a sua resposta, a sua pergunta, eu estou respondendo uma coisa que, hoje até, nós decidimos e vamos mandar um comunicado à imprensa. Um investimento muito maior da Hugo Boss AG, que é Hugo Boss alemã, que é Hugo Boss mundial, no mercado brasileiro junto comigo e crescer no mercado brasileiro. Então, porque a gente acredita. E fora do Brasil, eu acho que, é lógico que a  gente tem investimentos, eu tenho participação em alguns negócios, mas eu vejo o Brasil com muito otimismo pra frente.

Téo José: Emerson, você encerrando a carreira, de alguma forma pretende ficar ligado ao automobilismo?

Emerson Fittipaldi: Eu ainda não pensei, Téo, como eu vou ficar, porque não chegou este momento de pensar, mas para mim eu gostaria de, sem dúvida nenhuma, ficar ligado à Philip Morris e com a Marlboro, que eu já estou há 21 anos, quer dizer, não tem jeito de desligar, o problema é o contrário. Com o Roger Penske, porque o Roger tem uma organização simplesmente fantástica, ele está crescendo muito em atividades diferentes e quer crescer muito no automobilismo. Então eu tenho certeza que eu, futuramente, sendo parte da organização do Roger em atividades diferentes. Dando um exemplo, por exemplo,  ano passado,  em Nova Iorque, eu estava jantando com o Roger, com o diretor presidente da Mercedes Benz, com o Helmut Werner, e o Al Unser Junior, aí o Roger olhou para mim, de repente assim, olhou para mim e falou: “Emerson, se eu fizer uma equipe de Fórmula 1 junto com a Mercedes, você guia”? Aí eu olhei para o Al Unser, ele me pegou desprevenido, eu quase caí da cadeira. [risos] E aí mostrou a cabeça do Roger até onde vai. Aí eu falei: “Roger, se você fizer, eu guio”. Mas, quer dizer, aquela pergunta, você imagina a cabeça do Roger o que é rápida, onde está pensando, as coisas que ele quer fazer para o futuro.

Téo José: Quem é melhor: o Roger Penske ou Colin Chapman, da Lotus?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que em termos de acerto de carro, aquela parte técnica, troca a mola, põe a barra, mais asa, o Colin simplesmente foi um gênio do automobilismo. Eu aprendi, eu tive muita sorte de ter os meus quatro primeiros anos de Fórmula 1 com Colin Chapman. Ele realmente tinha aquela coisa que até a gente não sabe explicar o que a pessoa tem, mas é um místico, uma intuição para acertar um carro e uma maneira de interpretar tecnicamente um Fórmula 1 como nunca, nunca eu senti nenhum engenheiro no mundo, com todo mundo que eu trabalhei, totalmente diferente do Roger Penske. A cabeça do Roger Penske é o amor que ele tem pelo automobilismo. O hobby dele é carro de competição, mas ele tem uma cabeça, uma mega cabeça para negócio. Para você ter uma idéia, hoje o Roger tem mais ou menos dezoito mil funcionários na organização dele. Imagina o tamanho da organização, do grupo Penske hoje no mundo todo. Então, são dois perfis totalmente diferentes de pessoas. O Roger, muito amor pelo automobilismo, mas não entende tecnicamente muito de cada detalhe do carro, apesar de ter sido um piloto muito bom, ele entende mais de pilotagem, e o Colin Chapman é um gênio de automóvel.

Lito Cavalcanti: Emerson, só uma coisinha, só uma perguntinha. E essa conversa aí depois desse restaurante, foi em frente?

Emerson Fittipaldi: Não, a gente tinha tomado muita cerveja. [risos]

Celso Miranda: Emerson, aqui no Brasil, como você percebeu, a gente está falando dos resultados dos brasileiros na Fórmula Indy, há uma cobrança muito grande. Você passou isso, você sofreu isso na época do Copersucar, a cobrança é muito forte. Hoje, a gente está na Fórmula 1 sem o Ayrton Senna e com o Rubinho lá, e o Rubinho tem 22 anos. Você acha que a cobrança que está sendo feita, que de uma certa forma é uma cobrança de mídia e até da torcida, pode atrapalhar o Rubinho não só nesse ano, mas interferir no futuro da carreira dele?

Emerson Fittipaldi: Eu acho primeiro que o espaço que ficou com a tragédia do Ayrton é praticamente insubstituível para o brasileiro, então isso não, não vai ter um substituto. [“É mais fácil você voltar para a Fórmula 1”, diz um entrevistador. Fittipaldi responde: “Imagina...”] Eu acho que aquele lugar que o Ayrton ocupou para nós brasileiros, para o mundo do automobilismo, nunca ninguém vai tirar. Então, por melhor que seja o piloto brasileiro que esteja na Fórmula 1 e que tente, quer dizer, satisfazer os fãs do automobilismo, a imprensa..., não vai chegar lá, é muito difícil. Agora o que eu vejo o potencial, porque cada piloto tem uma característica, um tipo, um estilo, que eu vejo potencial do Rubinho é muito grande, mas ele está num ano muito difícil porque de repente não está o Ayrton, está ele lá, a pressão criada é muito grande em cima dele, mas o potencial do Rubinho, sem dúvida, é muito grande. A gente tem que ter paciência até ele estar com o carro bom e uma equipe boa, ele vai mostrar o talento dele.

Celso Miranda: Mas essa cobrança você acha que pode prejudicá-lo?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que o Rubinho nasceu no automobilismo, ele sabe que a realidade é essa, a hora que ele tiver um carro bom e uma equipe boa, ele vai mostrar o talento. E é muito difícil ele receber essa pressão nossa, de todos nós brasileiros, a pressão nossa em cima dele.  A imprensa,  Rubinho, todo mundo... Você liga a televisão, apesar que eu acho que agora a Fórmula 1 vai estar numa fase nova, nos próximos três anos vai melhorar, vai crescer, e com isso o Rubinho vai estar numa posição melhor. Mas a nossa frustração como brasileiro, ligar a televisão e o Rubinho não está ganhando e o Ayrton não está lá, é muito difícil. Mas tem uma compensação, por exemplo, para nós brasileiros, essa fase ruim, existe a equipe que o Carlos Gancia montou, o irmão da Barbara, com o Diniz, com o Roberto Moreno [refere-se à equipe Forti, que correu na F1 nos anos de 1995 e 1996, quando decretou falência], que está numa fase inicial que é muito difícil, mas que está chegando na Fórmula 1 no momento certo pra chegar, pra crescer. Eles vão crescer, essa equipe vai crescer, vai acertar. [Barbara Gancia diz: “Deus te ouça!” risos] No primeiro resultado, terminaram a corrida os dois carros, terminaram bem, então eu acho que vai ter um interesse maior no futuro nessa equipe brasileira que o Carlos montou que eu acho bárbara. 

Barbara Gancia: Sobre isso eu queria te perguntar o seguinte... [Celso Miranda a interrompe]

Celso Miranda: Só para completar, só para completar um pouco, Barbara. Uma vez, Emerson, você falou numa entrevista para gente que o maior professor não era aquele que ensinava, mas aquele que inspirava. Certamente você inspirou o Ayrton Senna para ele ir para as pistas e fazer o que ele fez. De alguma forma...

Emerson Fittipaldi: E depois o Ayrton me inspirou.

Celso Miranda: Exatamente, é isso que eu queria saber, ele te inspirou muito, como é?

Emerson Fittipaldi: Mas muitas situações. Teve, eu lembro, até falei para o Ayrton, eu liguei para ele, o Grande Prêmio da Inglaterra em Donington, eu acho que foi há dois anos. A largada no molhado que ele veio passando todo mundo por fora e com o carro pior do que as Williams e já liderou na primeira volta. Eu liguei para o Ayrton e falei: “Ayrton, você nunca mais vai conseguir fazer outra volta daquela na sua vida”. Eu acho que para todos nós brasileiros, o Ayrton tinha situações incríveis. Aquela foi uma delas que eu assisti que eu lembro. É lógico que dá uma inspiração, vou tentar fazer igual, será que eu consigo? É esse que é o problema.

Antonio Hermann: Você nunca andou contra o Ayrton, né, na mesma pista?

Emerson Fittipaldi: Na mesma pista, nunca andei.

Barbara Gancia: Nem de Super Kart?

Antonio Hermann: Eu guiei kart contra ele, não era mole, uma fera.

Matinas Suzuki: Agora Emerson, nós falamos de vários pilotos e não falamos do José Carlos Pacce. Você podia falar um pouco sobre o Pacce, que infelizmente teve uma carreira mais curta do que se esperava dele?

Emerson Fittipaldi: O Moco, como era o apelido dele, inclusive tinha uma ligação muito grande comigo e com o Wilson, porque a gente cresceu juntos, na Turma das Perdizes [referência a bairro de São Paulo], aqui pertinho. Junto com o Ricardo Amaral, Henrique Amaral, era a Turma das Perdizes e outros amigos nossos. E desde aquela época quando criou interesse em automobilismo e kart, a gente levou o Moco para corrida e ele de repente mostrou um talento natural que ele tinha, que nasceu nele. E isso ele mostrou em todos os anos de carreira que ele teve, [para] o Moco era muito natural pilotar um carro de competição. Eu acho que isso aí foi o grande, vamos dizer, a grande qualidade que ele tinha como piloto, era um piloto que nasceu para o automobilismo e aconteceu a tragédia com ele. Foi uma pena porque ele era como o americano chama world champion material, quer dizer, um potencial campeão mundial, sem dúvida nenhuma. 

Milton Alves: O Copersucar atrapalhou a sua carreira, Emerson?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que durante aquela fase foi muito difícil e atrapalhou minha carreira profissional como piloto, é lógico, na Fórmula 1, mas ao mesmo tempo me deu muita experiência de vida, na frente. Eu sempre falo que, às vezes, com as experiências difíceis e erradas que você faz na vida, você aprende, eu aprendi muita coisa.

Matinas Suzuki: Agora, foi um erro de time, foi um erro de projeto, foi um erro, hoje avaliando, qual o principal erro do projeto?

Antonio Hermann: Só uma carona, Matinas, é verdade que no primeiro treino no Rio quando você parou no box, você falou “estamos fritos”. Em São Paulo "é, estamos fritos”, que as costas, as suas costas mexiam dentro do carro?

Emerson Fittipaldi: Isso foi no carro desenhado pelo Ralph Bellamy e que seria a grande nossa esperança, que foi um investimento de quase dois anos de trabalho...

Antonio Hermann: Você contratou o sujeito para ele fazer um Lotus, né, “me faça um Lotus”.

Emerson Fittipaldi: Na fase que ele saiu da Lotus e ele quis melhorar uma Lotus e realmente o carro...

Barbara Gancia: Quais os desacertos que a Copersucar fez que você aconselharia a Forti Corse a não fazer? [risos]

Emerson Fittipaldi: Eu acho que o Carlos já sabe de tudo que aconteceu com a Copersucar, não precisa aconselhar porque a gente é amigo desde criança e acompanha a vida.

Barbara Gancia: Vocês têm conversado sobre esse negócio?

Emerson Fittipaldi: Eu conversei com ele a semana passada...

Barbara Gancia: Porque para mim ele não conta nada, ele acha que eu publico, então ele não conta nada.

Emerson Fittipaldi: Durante quase uma hora. Ele estava em Montecarlo eu conversei com o Carlos quase uma hora a semana passada. Eu falei: “Carlos, como é que está indo”? E ele falou uma coisa que é verdade, que realmente a preocupação deles agora esse ano já, é terminar a corrida, ter o carro que seja reliable [confiável] que termine a corrida, e conseguir gente, cada vez mais gente melhor, melhorando o carro para chegar no nível de competição, que ele vai chegar, se ele for subindo cada degrau da equipe, desde que ele tenha um apoio financeiro bom, é muito importante para você ter a disponibilidade material para chegar lá. Eu acho que, voltando à pergunta inicial, o que eu faria na Copersucar diferente, o Wilson junto  comigo. Eu acho que eu seguiria mais um projeto convencional de carro, do que tentar alguma coisa novidade nova, enquanto se tem, por exemplo, uma equipe nova como o Carlos, vai mais pelo convencional, pelo café com leite, para terminar a corrida do que inventar moda no começo de uma equipe nova...

Matinas Suzuki: Café com leite sem açúcar de preferência. Por falar nisso...

Emerson Fittipaldi: Eu acho que a Copersucar nos deu um apoio fantástico, acreditou no projeto brasileiro. Vai ver nós estávamos muito antecipados no tempo em fazer aquilo, mas até hoje eu tenho um carinho muito grande pela Copersucar,  pelo pessoal que nos apoiou, acreditou e que no fim dos últimos dois anos da equipe, muito pouca gente sabe disso, quem está envolvido no automobilismo acompanha. Nós tínhamos feras na equipe. Eu tinha o Keke Rosberg  como o  segundo piloto, que saiu e foi campeão mundial, saiu da nossa equipe, nós levamos ele para a Fórmula 1. Peter Warr, que foi um dos chefes de equipes mais conhecidos no mundo da Fórmula 1, que foi meu chefe de equipe na Lotus, e o Harvey Postlewaite que também era um grande projetista. E nosso último carro, no último ano da equipe, foi uma pena porque o carro ficou pronto na Inglaterra, nós não tínhamos [...] de dinheiro para fazer teste e o carro ficou pronto em agosto. Eu dei umas vinte voltas em [...], perto, inclusive, da fábrica Lotus, pusemos o carro no caminhão, fomos para o Grande Prêmio da Alemanha, eu e o Keke, classificamos quinto e sexto no grid. Se um carro, a primeira vez que vai para um grande prêmio classificar quinto e sexto tem que ter um potencial grande, mas ali acabou o dinheiro. Foi uma pena que a gente estava quase dando aquela virada que o Frank Williams deu na equipe.

Matinas Suzuki: Agora, Emerson, falando em dinheiro, você continua com a laranja, sendo um produtor da laranja. Qual o outro, quais são, qual é o seu, o perfil dos seus negócios, quer dizer, o seu portfólio de negócios, em que você está hoje?

Emerson Fittipaldi: Na laranja, como agricultor, produtor de laranja, e é um projeto que eu já estou trabalhando nisso desde já há 22 anos, 23. Hoje eu adoro, muita gente acha que a laranja é uma coisa estática, mas tem muita dinâmica, é uma coisa absorvente, cada vez vai gostando mais. Eu adoro essa parte da minha profissão fora de competição como produtor de laranja. É difícil quando dá geada, dá aquela, ligo para o Antonio Carlos, dos  Estados Unidos, "como é que está a temperatura aí de madrugada?"...

Matinas Suzuki: Mas quando dá geada na Flórida você gosta. Quando a geada é na Flórida você acha bom.

Emerson Fittipaldi: Aí é todo mundo dando risada no Brasil. Mas eu acho que é um negócio que, inclusive, tudo que eu tenho na vida foi ligado ao automobilismo. Eu entrei na laranja pelo Tite Catapani, que foi meu companheiro de kart, e já segunda, terceira geração de laranjeiro. E a Hugo Boss também é o grande negócio, inclusive eu estou anunciando hoje o nosso novo investimento no Brasil, e que a gente acredita no mercado brasileiro, acredita no Hugo Boss, também como um potencial muito grande, eu acho que o público brasileiro já está seletivo para conhecer uma roupa boa e poder comprar no Brasil uma roupa que ele compraria em Nova Iorque. Existe uma exigência do homem brasileiro hoje para a moda que não existia há uns anos atrás, então eu acho um ótimo negócio no Brasil. E nos Estados Unidos, eu tenho uma sociedade com o Roger, numa concessionária, tenho uma participação no Planet Hollywood [rede de restaurantes], também nos Estados Unidos, tenho a linha Fittipaldi...

Barbara Gancia: Você vai ter quer começar a fazer halteres, né?

Matinas Suzuki: Por falar no Planet Hollywood, você também ficou amigo de grandes estrelas do cinema e da música etc e tal.  A sua ligação com o George Harrison, por exemplo, é bem conhecida. Como é que você, quem são seus amigos nessa área?, como é que você conheceu, o George Harrison, por exemplo, como você conheceu, como foi o primeiro encontro?

Emerson Fittipaldi: Eu acho que, durante a minha carreira, eu tive a grande oportunidade, eu acho que é uma, é um bônus do esporte, você conhecer personalidades diferentes, situações diferentes. E eu fiquei muito amigo do George, a gente se gosta muito, amigos há mais de vinte anos, mas eu tive oportunidade de conhecer muita gente conhecida pelo mundo. Mas o único que eu fiquei assim, de personalidade, amigo, é o George, que até hoje a gente se fala.

Matinas Suzuki: Mas como é que foi o primeiro encontro? Ele gosta de corrida de carros? Como é que... ou você que foi aos shows do George Harrison? Como é que foi essa aproximação? 

Emerson Fittipaldi: Acho que todo mundo é fã dos Beatles, mas foi, vamos dizer, o amor do George pelo automobilismo que fez o nosso encontro. Foi durante o Grande Prêmio da Inglaterra, acho que em 74. Ele apareceu lá no box, veio conversar comigo, tal, porque ele me contou, em Liverpool, antes de eles serem os Beatles, tinha o Grande Prêmio da Inglaterra, num circuito chamado Entry, que era  um aeroporto modificado. Na época que o Fangio corria com as Mercedes Benz, o George tinha uns doze anos de idade, e o pai dele levou ele [para] assistir a corrida e ele ficou louco pelo automobilismo. E a partir daí...

Barbara Gancia: Até ele compôs uma música chamada Faster.

Emerson Fittipaldi: É, e a partir daí ele virou um piloto frustrado porque ele sempre quis correr, de repente ele teve... [alguém comenta algo sobre os Beatles e todos riem]

Matinas Suzuki: Já que não deu certo como piloto, ele resolveu fazer uma banda. E agora existe um outro nome ligado ao automobilismo, um nome mitológico também, que é o Paul Newman [ator e diretor de cinema norte-americano] . Como é que é a presença do Paul Newman na Indy, ele ainda vai? Ele ainda corre? Ele continua participando?

[A paixão de Paul Newman pelo automobilismo e pela velocidade são famosas. Apesar de daltônico, entre os anos 70 aos 90 Newman se destacou como piloto amador, correndo em carros esporte nos Estados Unidos e na Europa, onde chegou a conseguir um segundo lugar na categoria esporte nas 24 Horas de Le Mans, com um Porsche 935. Nos anos 80, se envolveu com a Fórmula Indy e se tornou sócio-proprietário da equipe Newman-Haas Racing. Aos 70 anos, foi o mais velho piloto a vencer uma corrida de prestígio, ao fazer parte do time de pilotos do carro que venceu as 24 Horas de Daytona, de 1995.]

Emerson Fittipaldi: O Paul Newman, você deve ter conhecido ele participando...

Antonio Hermann: Eu corri com ele em Daytona, nas 24 horas este ano, que ele ganhou a categoria...

Emerson Fittipaldi: E chegou em terceiro na geral...

Antonio Hermann: No dia que ele fez 70 anos. Ele fez 70 no sábado.

Emerson Fittipaldi: Ele é simplesmente, acho uma pessoa fantástica, porque ele completou 70 anos no dia de Daytona, correu as 24 horas, me falaram que à noite...

Antonio Hermann: Andou rapidíssimo à noite, dois turnos...

Emerson Fittipaldi: Fez dois turnos em seguida, com 70 anos...

Lito Cavalcanti: Ele pegou os dois piores turnos, ele pegou o sol caindo que é a hora pior ainda...

Antonio Hermann: Que é aquela hora que você não enxerga, que você sai do bank e ... E ele não estava andando com nenhum bobo, né? Acho que era o Marti e acho que o [Scott] Pruett [piloto norte-americano] estava com ele no carro, andando rápido, muito rápido.  

Emerson Fittipaldi: E ele assim como pessoa é... ele procura no automobilismo, ele é dono da equipe, Newman-Haas, por isso que tem o nome, o Mario [Andretti], o Michael [?] topou o [Paul] Tracy e o Mario [Andretti], e o Nigel [Mansel] guiou pra ele também. Ele tenta ser no automobilismo o dono da equipe, ele não quer ser o artista, ele não dá autógrafo na pista, apesar de ser super simpático, é uma pessoa muito comunicativa, ele é um gentleman. Eu vejo o Paul Newman como um dos últimos, aqueles gentleman ingleses que a gente imagina, aquela pessoa super comportada, bem educada, certinho. É uma alegria conversar com o Paul Newman, ter ele perto da gente e conviver um pouco com o Paul Newman, uma estrela dessa e ao mesmo tempo, ele virar um piloto e rápido, com 70 anos de idade. É uma coisa incrível e que também muita gente pergunta, e que eu aprendi com os americanos, o Paul Newman é uma pessoa que eu aprendi, que, às vezes, a idade da pessoa, física, não é a limitação pelo que você queira fazer na vida. A idade da pessoa, física, você não pode se afetar psicologicamente com aquilo, desde que você esteja bem espiritualmente e fisicamente, aquela idade, o número, os 70 anos do Paul Newman, se ele pensasse “estou com 70 anos”, "como é que eu posso ir para as 24 horas de Daytona e guiar?", ele não iria. Mas ele pensou com ele “estou bem, adoro automobilismo e vou guiar em Daytona e vou andar bem”. E andou bem. Eu acho que isso é um exemplo para nós.

Matinas Suzuki: Emerson, infelizmente o nosso tempo está acabando, mas eu gostaria que você mostrasse para nós este anel que você está usando. Parece que você tem dois desse anel, é verdade?

Emerson Fittipaldi: Eu gostaria de ter mais, mas... 

Matinas Suzuki: Você vai ganhar. Daria apara você explicar o que é esse anel e dizer para gente se você vai ter o terceiro este ano?

Emerson Fittipaldi: Olha, isso aqui é uma tradição americana. Como também em outros esportes, o americano sempre dá um anel como prêmio, como reconhecimento de uma vitória de um campeonato, de uma competição. Em Indianápolis é uma tradição muito grande, é o anel da vitória de Indianápolis e que, vamos dizer, para o americano isso é uma tradição, o esportista, o atleta usar o anel de vitória. É como o troféu. Eu tenho um carinho muito especial.

Matinas Suzuki: Então, fazendo votos que o Emerson conquiste o seu terceiro anel, nós vamos encerrando esse Roda Viva. Eu queria agradecer muito à presença do Emerson e à presença dos nossos entrevistadores.

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