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[Programa ao vivo]
Paulo Markun: Boa noite. Ele comanda a maior multinacional brasileira, um gigante estatal que já foi monopólio, que agora tem o desafio de transformar na maior companhia de petróleo da América Latina e em uma das principais empresas de energia no mundo. O Roda Viva entrevista esta noite Henry Philippe Reichstul, o presidente da Petrobras. Francês naturalizado, esse economista já participou da administração de grandes empresas estatais. No ano passado assumiu a presidência da Petrobras para virar a companhia de ponta cabeça. No começo deste ano, enfrentou o maior desastre ecológico já provocado pela empresa em seus quase cinqüenta anos, que foi o vazamento de óleo na Baía de Guanabara. O acidente levou a Petrobras a rever a política de proteção ambiental, e Reichstul agora conduz a mega empresa de 36 mil funcionários de modo a transformá-la de empresa de petróleo em empresa de energia, de empresa doméstica em empresa internacional, de corporação pesada e quase monopolista a uma firma ágil e preocupada com o lucro como todas as companhias. Para entrevistar o presidente da Petrobras nós convidamos a jornalista Célia de Gouveia Franco, editora de Brasil do jornal Valor; Chico Santos, repórter de Economia da Folha de S. Paulo; Carlos Alberto Sardenberg, comentarista do programa Opinião Nacional da TV Cultura; Sônia Racy, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e da Rádio Eldorado; o vereador do Partido Verde, no Rio de Janeiro, Alfredo Sirkis, vice-presidente da ONG Onda Azul, e a editora executiva da revista Exame, Nely Caixeta.
Paulo Markun: Boa noite, presidente.
Henry Philippe Reichstul: Boa noite.
Henry Philippe Reichstul: Já, um ano e dois meses.
Henry Philippe Reichstul: Olha, eu acho que é o conjunto dessas várias coisas. Eu acho que o setor de petróleo, quer dizer, a economia brasileira, o país, está vivendo um período de transição importante, e no setor de petróleo a Petrobras está vivendo essa transição. Então, a transformação da empresa que viveu durante mais de quarenta anos numa estrutura de monopólio, que a protegia de uma certa forma, mas com o tempo passou a atrapalhá-la também... E transformar essa empresa em uma empresa que seja bem sucedida num mercado competitivo vai implicar em mexer na estrutura da empresa, na cultura da empresa; vai mexer nos procedimentos, nas práticas de negócios. Enfim, vai mexer em tudo da empresa.
Henry Philippe Reichstul: Eu acho que com certeza. Eu acho que não há uma necessidade histórica de um país como o nosso ter uma Petrobras. Ela foi construída com muito trabalho, sangue, suor e tecnologia dos brasileiros. Então, eu acho que ela é uma empresa que conseguiu ter uma liderança na área de águas profundas, que foi em função da própria realidade brasileira, pois nós achamos pouco petróleo em terra, e nós tivemos que ir para o mar que é um processo muito mais custoso, mais difícil tecnologicamente falando. E a Petrobras conseguiu ter uma liderança clara nessa tecnologia de águas profundas que é reconhecida por todas as grandes empresas do mundo. A Petrobras conseguiu ter sucessivos aumentos de produção de petróleo, hoje nós estamos produzindo dois terços do consumo nacional, enfim, ela claramente é um motivo de orgulho para todos nós. Agora ela...
Sônia Racy: Presidente...
Henry Philippe Reichstul: Só um minutinho. Por outro lado, ela precisa ser transformada para ficar melhor ainda, para ter um sucesso empresarial num mercado competitivo. E ela tem todas as condições, eu acho, para ela ser bem sucedida.
Henry Philippe Reichstul: Isso foi uma decisão de governo, da sociedade brasileira de promover uma abertura, uma globalização, uma maior inserção do Brasil na economia internacional. E essa maior inserção se dá no nível micro abrindo os vários mercados. Então foi uma decisão tomada em 1997, depois de um longo debate, que acabou com o monopólio da Petrobras. Ela passou então a ter as mesmas condições de atuação - não totalmente iguais ainda, porque ainda falta liberar ainda importação de gasolina e diesel - mas em princípio ela está caminhando para um regime de plena concorrência. Então essa decisão veio de um debate que aconteceu e está trazendo para o país uma série de benefícios também, porque o fato de você ter outros investidores procurando petróleo, gás, atuando no mercado de energia, eu acho que é bom para o país. E para a Petrobras não é ruim. Eu acho que ela tem todas as condições de competir com sucesso e ser vencedora, mesmo com concorrentes. Nós, este ano, por exemplo, já assinamos mais de 35 parcerias joint ventures [modelo estratégico de parceria empresarial para alcançar objetivos comuns, em que há união legal entre duas empresas sem que haja necessariamente subordinação societária], com mais de trinta empresas, e nós estamos ampliando o leque de investimento e, para o país, a probabilidade de encontrar mais petróleo, aumentar a produção, aumenta.
Henry Philippe Reichstul: Pois não.
Henry Philippe Reichstul: Eu acho que é possível somar, tanto é que esse é o exercício que a gente está praticando. A companhia tem um Conselho de Administração, que tem o governo, com dois ministros. O presidente do conselho é o ministro [Rodolpho] Tourinho [ex-ministro das Minas e Energia], tem o Pedro Parente que é o ministro da Casa Civil, que também é membro do conselho, tem quatro a cinco membros do setor privado que estão atuando. E, obviamente, ela não é privada, não vai ser privatizada, mas o objetivo que nós temos é transformá-la em uma corporação transnacional, em uma grande corporação.
Henry Philippe Reichstul: Não, também para dentro, eu acho que obviamente ela vai estar procurando...
Henry Philippe Reichstul: Mas ela vai ter restrições, ela tem restrições de atuação. Você tem organismos que, no caso da guerra da cerveja [referência à polêmica fusão, em 1999, entre as maiores fabricantes de cerveja no Brasil, Brahma e Antarctica, criando a Ambev (Companhia de Bebidas das Américas)], houve uma atuação clara de vários organismos dentro do governo para regulamentar isso, definir parâmetros. E a Petrobras vai atender a esses parâmetros como qualquer outra empresa que está atuando no Brasil, brasileira ou estrangeira atuando no Brasil.
Henry Philippe Reichstul: Porque nós não temos interesse em pólos petroquímicos, nós saímos dos pólos petroquímicos.
Henry Philippe Reichstul: Não, porque nós temos na verdade... Aí é uma outra discussão, que é a petroquímica. Nós estamos defendendo uma petroquímica do entorno, quer dizer, uma petroquímica que está integrada no nosso sistema de produção de refino, ou está integrada à nossa oferta de matéria prima, que foi o pólo do Rio. Mas claramente, que foi um pólo que nos interessa, ele está colocado ao lado da Refinaria Duque de Caxias, que vai ser construída e que vai usar todo gás natural, uma boa parte do gás natural da Bacia de Campos e dos líquidos de gás natural. Então essa petroquímica nos interessa, ela é mais rentável, aumenta a nossa cadeia de valor. Agora, a petroquímica de pólo é um outro business, poderia vir a interessar, mas no caso não nos interessa...
Henry Philippe Reichstul: Olha, eu não acho que haja essa contradição, acho que as empresas privadas não são contra o consumidor. Quer dizer, elas não necessariamente estão em oposição ao consumidor.
Carlos Alberto Sardenberg: Philippe, deixa eu colocar a questão de outro modo, que é o seguinte. O presidente Fernando Henrique se queixou domingo, ontem, naquele fórum de Davos [referência ao Fórum Econômico Mundial, que acontece anualmente na cidade suíça de Davos, com a participação de empresários, políticos e artistas de renome internacional, para discutir problemas mundiais] sobre as restrições que pesam sobre as estatais, em virtude dos conceitos que se tem de contas públicas. Ele se queixou, por exemplo, que as estatais não podem investir, porque aqui não entra na conta da despesa, não pode tomar financiamento porque aumenta o endividamento do setor público, isso tem acordos com FMI, metas que você tem que cumprir etc. Isso também atrapalha a Petrobras, não é isso? Recentemente a Petrobras teve que fazer um corte nos seus investimentos por decisão do governo não foi?
Carlos Alberto Sardenberg: Então, o que o fato de ser estatal atrapalha na atividade da Petrobras hoje?
Carlos Alberto Sardenberg: É um truque para fugir do...
Carlos Alberto Sardenberg: Agora veja...
Henry Philippe Reichstul: Então, nesse caso, essa restrição que era tradicionalmente uma restrição que as estatais viveram, no caso específico da Petrobras nós não estamos sentindo isso. Portanto, nós hoje não temos nenhuma restrição de investimento, de volume de investimento. Este ano nós estamos pretendendo investir direta e indiretamente, através das parcerias também, mas a nossa parte no total disso dá em torno de seis bilhões de dólares. Em 1999, nós conseguimos montar estruturas para investir em torno de sete bilhões de reais, foram quatro bilhões e meio de dólares, mais ou menos.
Henry Philippe Reichstul: Não, existem algumas restrições, sem dúvida, existem procedimentos de uma empresa pública... Se bem que a Petrobras tem, dentro da Lei do Petróleo, uma certa liberdade de contratação de serviços, de obras; ela tem um estatuto que lhe dá mais flexibilidade que o resto das estatais.
Henry Philippe Reichstul: Não, porque é a verdade. [risos]
Henry Philippe Reichstul: Parece um gancho que você está me dando. Essa semana, nós começamos a publicar o anúncio das inscrições - vão de 8 a 12 de maio - nós estamos contratando 700 e poucas vagas de profissionais de todos os tipos de categoria, que passa por jornalistas, geólogo, geofísico, MBAs, engenheiros, administradores, contadores... Nós vamos estar repondo, nós estamos abrindo 700 e poucas vagas.
Henry Philippe Reichstul: É um concurso público que está sendo anunciado esta semana, já hoje começou a ter informações na mídia, é só entrar no site da Petrobras. É a UnB [Universidade de Brasília] que está promovendo esse concurso e nós esperamos que até o final deste semestre, até o final de junho, que a gente tenha... Não, no final de junho nós não vamos conseguir; mas, enfim, nos próximos 90 dias nós vamos colocar essas pessoas para...
Nely Caixeta: O senhor tem recursos?
Célia de Gouveia Franco: Mas o senhor tem recurso para contratar?
Henry Philippe Reichstul: Não, não posso.
Henri Philippe Reichstul: Posso contratar diretores, posso contratar diretores, eu tenho algumas...
Henry Philippe Reichstul: Eu tenho restrições.
Henry Philippe Reichstul: Sem dúvida, nós temos então... Vamos organizar. A questão é se pode contratar ou não. As estatais, em geral, têm restrições. No caso, a Petrobras, na medida em que ela está reduzindo o seu quadro de pessoal, ela tem condições de contratar e está contratando. A segunda questão é: temos condições de contratar? A Petrobras, a maior empresa do Brasil, funciona à semelhança das grandes empresas também privadas, organizações bancárias, que eu posso citar como o Bradesco, o Citibank ou grandes multinacionais. Que tradicionalmente recrutam onde? Na faculdade. O sujeito se forma e vai, faz programa de trainee, treinamento etc. Dificilmente essas grandes organizações vão contratar, a preço de ouro, profissionais de outras organizações. Elas já têm por tradição... elas são fornecedoras de mão-de-obra para terceiros, muito mais do que elas pegam mão-de-obra de outras organizações.
Henry Philippe Reichstul: E a Petrobras tem essa característica. Então ela é diferente, tem problemas, tem problemas de salário - nós já discutimos problema de salário algumas vezes - não há dúvidas que há problemas. Mas o que eu estou dizendo é que também há semelhanças a grandes organizações. Então, eu não acho que seja um impeditivo grave que faça com que a Petrobras não consiga crescer, não consiga se posicionar em relação ao mercado.
Henry Philippe Reichstul: Houve um aproveitamento desse concurso anterior, foi um concurso muito pequeno. A Petrobras não faz um grande concurso há dez anos, nove anos praticamente. Então, nós vamos aproveitar... A nossa idéia é a gente passar a ter concurso todo ano, os talentos não vêm a cada dez anos, a cada década, não é? Todo ano as universidades estão produzindo uma série de talentos e nós queremos competir por esses talentos todos os anos, quem sabe em uma escala menor, mas para oxigenar a companhia. E nós achamos que temos condições de contratar essas pessoas. Agora, a questão de salários ainda se coloca na questão de um... Se você está no mercado concorrencial novas empresas estão chegando, isso pode trazer uma perda...
Nely Caixeta: Shell.
Henry Philippe Reichstul: Olha, a gente fez uma pesquisa. O Conselho, que estava muito preocupado com essa questão pediu que contratasse uma pesquisa, nós contratamos uma grande empresa de RH multinacional até, e ela chegou à conclusão que - eu tenho até vergonha [risos], mas eu vou estar falando em benefício próprio. Mas provavelmente eu ganho 17% do que eu deveria ganhar no pacote anual.
Henry Philippe Reichstul: Eu acho que, na verdade, são pessoas que estão há vinte, trinta anos dando o sangue na empresa. Então a questão salarial, obviamente, não é só a questão salarial, tem outros valores que fazem parte da cultura da Petrobras. A Petrobras tem uma cultura de trabalho impressionante, ela gosta do trabalho. Está no Rio de Janeiro, um prédio formigando, e todo mundo gosta, todo mundo gosta de desafio na Petrobras; é incrível a capacidade que ela tem de reagir, de fazer as coisas. Eu acho que existem outros valores em relação a isso. Agora, certamente a questão salarial tem que ser tratada e ela está sendo tratada. Nós estamos discutindo isso com o governo, com o Conselho da Administração da companhia.
Henry Philippe Reichstul: Do Conselho onde está presente o governo.
Henry Philippe Reichstul: Não, a Petrobras não tem mais...
Henry Philippe Reichstul: Não existe, não existe essa limitação.
Henry Philippe Reichstul: Eu não tenho conhecimento dessa informação.
Henry Philippe Reichstul: É, não tenho não.
Henry Philippe Reichstul: Eu não tenho conhecimento, nem sei se a Ipiranga está à venda. A última coisa que eu li é que a Ipiranga está em reestruturação. Agora tem muita coluna aqui, tem muita fofoca aqui e ali, mas...
Chico Santos: Ela contratou o banco para colocar a negociação no mercado.
Sônia Racy: Mas qual seria a importância?
Henry Philippe Reichstul: Bom, nós, nesse trabalho de planejamento estratégico, nos trancamos durante quatro, cinco meses, ficamos passando fins de semana em hotéis... e no grupo um, que são cinqüenta ou sessenta pessoas-chave da companhia, nós fomos bombardeados por informações de consultores, contratamos quatro consultorias internacionais que nos trouxeram informações, definições de outras companhias. E também usando toda a história, a massa crítica da Petrobras que, obviamente, em vários momentos se colocou essa questão, o Brasil se colocou essa questão na área do álcool, na outra crise do petróleo, mas ficou claro para nós que uma empresa de petróleo não tem futuro só como empresa de petróleo. O gás natural, obviamente, é um grande facilitador nessa transição, nessa tradução, de uma empresa de energia; o gás natural está crescendo no mundo inteiro a taxas três ou quatro vezes mais altas do que o consumo de produtos de derivados de petróleo. Só para vocês terem uma idéia, nos Estados Unidos, hoje, se consome um volume equivalente de gás natural e de petróleo. Enquanto hoje, aqui, nós consumimos... é irrisório o que a gente consome em termos de gás natural. Mas, independentemente disso, independente das reservas, do volume total de reservas de hidrocarbonos que pode ter de petróleo no mundo, nós também percebemos que vai haver restrições, já existem e há restrições crescente em relação à questão ambiental. É o efeito que o uso desse combustível traz para a camada de ozônio, para o bem-estar da população no mundo como um todo. A partir daí deve-se pensar: “nós não dependemos só do petróleo, nós somos uma empresa de energia”. Qual vai ser o energético do futuro? Eu não sei, pode ser um carro que seja a hidrogênio, então nós podemos produzir hidrogênio, distribuir hidrogênio também. E aí nos reposicionamos como empresa de energia. Eu estou pegando o hidrogênio que é uma coisa ainda muito mais longínqua.
Henry Philippe Reichstul: Mas, por exemplo, a natural e a energia termoelétrica é uma coisa que está imediata. Nós estamos, como todos sabem, nos lançando em um programa de incentivo ao gás natural no Brasil, e em um programa também de incentivo à construção de termoelétricas a gás natural. Isso vem a atender uma crise que existe no setor energético, e que pode ser rapidamente atendida com a construção de térmicas a gás. E para nós, que fizemos já grandes investimentos na área de gás natural, também nos interessa muito esse setor.
Henry Philippe Reichstul: Num posto da Petrobras.
Henry Philippe Reichstul: Que na partida, você sai...
Nely Caixeta: Em vez de vender gasolina vender energia elétrica?
Sônia Racy: Porque lá sobra gás, não é, presidente?
Alfredo Sirkis: A energia eólica, energia solar...
Paulo Markun: Presidente, nós vamos fazer um rápido intervalo e o Roda Viva volta daqui a instantes, entrevistando o presidente da Petrobras, até lá.
[intervalo]
Henry Philippe Reichstul: Bom, são duas perguntas bastante diferentes. Quanto à primeira, nós assumimos integralmente a responsabilidade pelo acidente e nós montamos várias comissões de reparações. O acidente atrapalhou a vida dos pescadores, de pessoas que viviam do turismo, principalmente de [Ilha de] Paquetá [bairro da Baía de Guanabara], comerciantes, vendedores ambulantes, as balsas; afetou, então, a atividade econômica dessas pessoas. Em relação aos pescadores, nós os indenizamos até a retomada da pesca, que já ocorreu; no caso dos ambulantes também; no caso dos comerciantes ainda existem negociações com as sub-sedes da Associação Comercial do Rio, nos vários locais, e nós estamos negociando isso. Nós queremos fazer o reparo o mais rápido possível e o mais justo possível dentro de uns critérios que...
Henry Philippe Reichstul: É o seguinte. A água da Baía de Guanabara está, de acordo com todas as universidades, os órgãos ambientais consultados - e aqui está um vereador verde que pode até confirmar ou não as informações que eu recebi - mas a água voltou à normalidade ruim anterior, vamos dizer, porque a Baía de Guanabara, como todos sabem, não é aquele primor de pureza. Então, os efeitos do derramamento na água da Baía acabaram, nós já limpamos todas as praias, limpamos todas as pedras; nós chegamos a ter 2,5 mil pessoas limpando o fundo da Baía. Então tudo isso já foi limpo, tem gente até que diz que as praias estão mais limpas do que estavam antes.
Henry Philippe Reichstul: Agora, houve uma parte dos manguezais de uma reserva, que é a que fica no fundo da baía, que chama reserva de Guapimirim, que foi afetada. Essa reserva foi afetada em torno de 0,5% da área total da reserva e nesse caso, esse processo de recuperação dessa área de manguezais vai demorar de três a cinco anos, tem gente que fala até dez anos. Então, isso vai representar um trabalho que vai ter que ser feito, que está sendo feito, de replantio, de montar uma fazenda de manguezais para poder replantar o manguezal. E existe um dano que vai demorar a ser recuperado nessa área propriamente dita. Ainda sobra um pouquinho de óleo, algumas placas perto de algumas praias de Paquetá, que ficam... São manchas de óleo que estão misturadas com areia e, dependendo da maré, elas afloram. É um óleo que chegou até a praia e depois misturou com areia e recuou, fica a quatro ou cinco metros da praia. Mas nós temos ainda gente tentando identificar algum problema que tenha e [para que] continue a limpar.
Henry Philippe Reichstul: A questão da segunda pergunta era se havia uma...
Sônia Racy: Se o acidente foi provocado?
Henry Philippe Reichstul: Nós não temos nenhum indício de boicote, sabotagem nem nada. Houve de fato uma campanha muito forte em relação ao acidente. Eu acho que aí...
Henry Philippe Reichstul: Não necessariamente contra a Petrobras, mas contra uma agressão ao meio ambiente, claramente.
Henry Philippe Reichstul: Olha, isso não aconteceu, mas poderia ter acontecido dependendo da forma de reação da companhia. Eu acho que todos nós, como cidadãos, estamos preocupados com a questão ambiental. Você não pode tomar banho do mar, você tem que abrir o jornal para saber em que praia pode ir. Enfim, volta e meia, no seu cotidiano, você é agredido, o meio ambiente é agredido e você sofre conseqüências. Então, na hora em que fica claro que houve um acidente, e esse acidente pode ser claramente responsabilizado - tem uma empresa que até assumiu o acidente -, toda essa sua angústia ambiental é canalizada para isso. E nós sentimos isso na carne, houve uma reação muito forte da sociedade através dos meios de comunicação. Agora, o que nós percebemos - eu pelo menos percebi - é o seguinte: uma empresa de energia ou de petróleo tem que ver com a vida de todo cidadão de uma sociedade no Brasil, ou em qualquer outro país – ainda mais dada à importância da Petrobras aqui. Então ela tem que atender aos anseios dessa sociedade onde ela está muito intimamente inserida, e a consciência ambiental do Brasil está mudando, claramente mudou.
Henry Philippe Reichstul: Bom, a empresa está em uma grande transformação, obviamente a área ambiental é uma área que está sofrendo uma transformação muito grande também. Só para fazer um gancho com a pergunta que eu estava fazendo, eu acho que essa questão da consciência ambiental ela vai avançando, quem sabe por acidente, por patamares que nem o direito feminino que vai... Tem acidentes, você tem eventos. Eu acho que esse desastre é uma marca claramente dentro da história da própria companhia também. Se a gente tem um projeto de se transformar em uma transnacional, que está fazendo parcerias com as maiores empresas do mundo, que está atuando fora do Brasil e tem uma imagem a ser mostrada, nós precisamos ter uma excelência ambiental. Além do que [pode] alimentar o orgulho de todos os brasileiros saber que a empresa Petrobras tem essa excelência ambiental, chegou nela. A Petrobras tinha e tem excelência ambiental. Ela não é generalizada, ela tem unidades que são um primor. Eu vejo, por exemplo, na Bacia de Campos, que tem 32 plataformas, você sobrevoa aquilo lá - a gente está manuseando um milhão ali, novecentos mil barris/dia, dia e noite - e você não vê uma gota de óleo no mar, de fato não tem. Sobrevoa ali 32 plataformas, você não vê. [Em] Urucu a gente conseguiu, no meio da Amazônia, ter o ISO 9.000, ISO 14.000, enfim, certificados sobre os quais as pessoas diziam “Não vai nunca conseguir nesse ambiente, no meio da Amazônia conseguir esse certificado”. Agora, isso eram atitudes que não representavam uma política corporativa da empresa. Eu acho que a grande mudança com esse acidente é isto: virou uma preocupação da corporação.
Paulo Markun: É o senhor que cuida pessoalmente, avocou a si o...
Henry Philippe Reichstul: Eu evoquei a mim, até a estruturação completa da área e terminar esse processo de transição. E quem sabe daqui a dois ou três anos ela vá para uma área de serviços. Mas hoje ela está diretamente sob a minha responsabilidade. Nós estamos trabalhando paralelamente ao grupo que estava limpando a baía, chefiando essas 2,5 mil pessoas, paralelamente ao grupo que estava trabalhando na questão dos reparos, das reparações, dos pescadores, dos comerciantes, enfim, dos danos causados pelo derramamento. Nós montamos um grupo com mais de sessenta técnicos, que montou uma radiografia da questão ambiental da Petrobras e que, a partir desse trabalho, que durou mais de noventa dias, não, setenta dias, montou um plano de revisão da política ambiental, um plano de investimento e de custeio também, que nós pretendemos lançar segunda-feira que vem, dia 15, com um volume de recursos gigantescos, que nós vamos, nos próximos quatro anos, gastar para trazer a Petrobras no estado da arte.
Henry Philippe Reichstul: A cifra é muito, muito elevada.
Célia de Gouveia Franco: Quanto que o acidente custou para a Petrobras?
Paulo Markun: Como é que ela não conseguiu perceber?
Sônia Racy: E a Comissão de Sindicância, presidente, não foi instalada uma comissão para apurar a responsabilidade?
Sônia Racy: Quais foram as responsabilidades apuradas? Quem foi punido? E quais as antecedências do acidente, por que o acidente aconteceu?
Sônia Racy: Não foi sabotagem? Como a pergunta ali do leitor?
Sônia Racy: Então, nessa comissão, que responsabilidades foram apuradas?
Sônia Racy: Existem três possibilidades?
Sônia Racy: A culpa é do concreto?
Sônia Racy: A culpa é do concreto? Do tubo? De quem? O que aconteceu?
Sônia Racy: Mas alguém construiu esse tubo mal, foi mal construído?
Carlos Alberto Sardenberg: Philippe, então você não sabe!
Carlos Alberto Sardenberg: Pode ser o terreno, pode ser o projeto...
Henry Philippe Reichstul: Infelizmente, eles são uma combinação de várias coisas. Então pode ter havido, quer dizer, tem um problema de projeto, que não concebeu uma variação tão grande da movimentação de terra. Eu estou falando de uma coisa que eu não sou... eu sou economista, e tenho um ano de empresa, mas enfim, vamos lá.
Henry Philippe Reichstul: Mas a questão v... Esse foi um acidente, por quê? Porque houve uma série de coincidência que deram errado e fez com que o tubo estourasse, muito bem. O segundo problema foi que o operador não percebeu a tempo isso. Ele estava no processo de treinamento desse novo sistema e ele não acreditou com clareza de que havia o vazamento. Como esse sistema não estava totalmente operacional, então o operador é culpado? Ele deveria ter percebido o vazamento. Então, ele foi punido, foi suspenso. Agora, nós ficamos também em uma questão: “vamos mandar embora o operador por causa disso”? Eu estou preferindo manter o operador, inclusive ele saiu da função dele, e vai explicar o que aconteceu com ele para os outros operadores no Brasil inteiro, para que isso sirva de um alerta, sirva de experiência dentro da companhia de que acidentes podem acontecer. Infelizmente, aconteceu o acidente. A gente movimenta uma quantidade enorme de produtos diariamente, mais de um milhão de litros diariamente no Brasil inteiro, são 22 mil quilômetros de tubos, conexões, e esse acidente ocorreu. Eu acho que o outro acidente ocorreu três anos atrás. Enfim, é um acidente, não é uma coisa que foi alguém lá e quebrou.
Alfredo Sirkis: Agora, em relação aos dutos, atualmente, vão ser colocados sensores em todos os dutos da Petrobras?
Alfredo Sirkis: Antes de passar para outro assunto, apenas um reparo sobre os pescadores, senão vai escapar. O fato de a situação ter se normalizado e dos peixes terem voltado não significa que o problema dos pescadores esteja totalmente resolvido. Porque há uma questão de percepção na sociedade em geral que torna muito mais difícil nesse momento para eles colocarem o seu peixe no mercado.
Sônia Racy: Vender o seu peixe.
Henry Philippe Reichstul: Então quando se fala na questão da indenização é importante levar em conta esse aspecto. Embora, na verdade, os peixes não tenham sido afetados pelo desastre - os peixes simplesmente fugiram - foram afetados os caranguejos e as aves, os mergulhões, mas os peixes não. Agora, a situação está normalizada, realmente voltaram os peixes, a maior parte daquela área já está despoluída. Mas existe uma percepção muito forte no mercado consumidor de que peixe vindo daquelas colônias de pescador não serve. Então, isso não deixa de ser uma seqüela do acidente, não tem dúvida. Nós conhecemos esse problema e estamos montando um trabalho, uma campanha de consumo de peixes da Baía da Guanabara. Estamos analisando uma sugestão - como nas plataformas nós somos grandes consumidores de refeições - de fazer, quem sabe, com que as empresas que nos fornecem, comprem o peixe, que está ótimo, está perfeito. O pessoal que trabalhou na limpeza da baía foi lá, comeu o peixe, ele não tem odor, não tem cheiro, não tem gosto, não tem nada, ele está ótimo.
Henry Philippe Reichstul: De óleo, ele tem tudo...
Henry Philippe Reichstul: Vamos lá! Eu também! [risos]
Henry Philippe Reichstul: Está havendo uma grande transformação claramente que, para ser permanente, precisa ser estrutural. E aí o que nós estamos mudando? Nós fizemos nosso planejamento estratégico e definimos que nós queremos ser uma regional player [uma empresa importante na região] no mundo do petróleo, queremos ser uma grande corporação transnacional de sucesso em um mercado competitivo. E aí nós fomos para a nossa organização. Será que nós temos a organização e os meios para atingir essas metas, nos nossos planejamentos estratégicos? Nós chegamos à conclusão que nós não temos, que nós precisamos adquirir esses meios, transformar a companhia, mudar a organização, para que a gente tenha sucesso, condições de sucesso. Então nós recentemente também mergulhamos de novo na nossa estrutura, analisamos estruturas de grandes companhias de petróleo, de energia, técnicas mais modernas de organização, como é que funciona. E chegamos à que conclusão? A Petrobras é uma empresa que tem ainda uma estrutura pesada, mas que está em transformação.
Henry Philippe Reichstul: Ela é muito vertical, ela é um totem, ela precisa ser mais horizontal, precisa ter um processo de agilidade de decisões maior. Além do quê, nós identificamos que as “atividades meio” tinham um número de órgãos muito maior que as “atividades fins”, então nessa reestruturação...
Henry Philippe Reichstul: Sim.
Chico Santos: O que é que quer dizer isso?
Henry Philippe Reichstul: Nós tínhamos seis diretorias: uma diretoria de engenharia, uma corporativa, uma de participações, uma financeira, uma de abastecimento - que eram três e eu juntei em uma só - e uma de exploração e produção, o upstream. Então essas duas áreas são as diretorias que tratavam diretamente do petróleo: uma da produção de petróleo e gás e a outra de refino e distribuição. As outras quatro diretorias eram de apoio.
Henry Philippe Reichstul: Não, isso mudou tudo, isso mudou...
Henry Philippe Reichstul: Não, pode ter sido no passado, isso já foi a primeira reforma, a gente desceu do vigésimo quarto, nós estamos sentando os diretores juntos no mesmo andar, muito próximos um do outro. Isso tudo foi feito já na primeira reforma, nós estamos fazendo uma reforma muito mais estrutural. Essa questão que não é menor - essa primeira - porque ela é muito emblemática, ela foi feita. Eu acho que nos primeiros três meses nós resolvemos sentar... não todos juntos numa sala, porque não é mercado financeiro, é diferente. Mas estamos todos muito próximos, temos reuniões diárias, enfim, uma dinâmica, compartilhamos serviços etc. Mas isso já foi feito, isso é importante, mas não é nem de longe o suficiente. Nós tínhamos então seis diretorias, o que nós fizemos? Nessa reestruturação nós passamos a ter só duas diretorias de apoio, duas diretorias meio e quatro diretorias de negócios. Então, nós criamos uma diretoria de serviços e uma financeira e quatro de negócios. Uma de exploração e produção - que é a produção de petróleo e gás - a outra continua de abastecimento, de downstream - que é refino e distribuição; uma diretoria nova que é de gás e energia, é justamente para atender a esta transformação do nosso business, do nosso negócio; e uma diretoria internacional, que é para dar suporte a toda atuação nova internacional da Petrobras. Então, agora, das seis diretorias, nós temos duas de apoio e quatro de negócios propriamente dito, essa é uma reforma estrutural importante. Uma segunda questão é passar a ter a responsabilização dentro da companhia, por resultados. Então, montar centros, unidade de negócios, nós estamos criando uma área que a gente chama de avaliação e desempenho, que vai estar calculando o que cada área de negócio, nessas diretorias, está contribuindo para o resultado da companhia.
Henry Philippe Reichstul: Ela precisa ter resultado, porque essa é a condição para a empresa crescer também. Quer dizer, você precisa estar defendendo o valor - que a gente chama - dos acionistas, mas por quê? Porque são instrumentos também de financiar os seus investimentos, de poder crescer e enfrentar a concorrência. Então, além disso, as unidades de negócio vão ter resultados, e as pessoas vão ser avaliadas por esses resultados. Eu acho que isso vai incutir uma nova forma de encarar o trabalho, de reorientar a companhia e vai dar mais flexibilidade, mais instrumentos para a companhia concorrer com grandes empresas estrangeiras, que já têm esses sistemas adotados de longa data.
[intervalo]
Henry Philippe Reichstul: É importante o consumidor entender, o telespectador entender que a Petrobras não fixa preços de gasolina, quem fixa isso é o governo. Nós vendemos os produtos da refinaria - tanto a gasolina, como o óleo diesel, hoje - a preço internacional. Apesar de o mercado não estar totalmente liberado a Petrobras, nessa fase transitória, vende o litro de gasolina exatamente ao preço internacional, baseado em Roterdã, Golfo do México, mais o custo do transporte desse litro de gasolina, como se nós estivéssemos vendendo isso no mercado internacional...
Henry Philippe Reichstul: É, também. Então, essa diferença entre os quarenta e poucos centavos que a Petrobras recebe na refinaria, e o preço de bomba, é definida por custo de distribuição das várias distribuidoras envolvidas. A Petrobras tem uma distribuidora também, mas ela tem do mercado automotivo, um quarto do mercado automotivo apenas, e também pela estrutura fiscal que é montada tanto do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços], PIS [Programa de Integração Social], Cofins [Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, contribuição federal, de natureza tributária] e PPE [Parcela de Preço Específica]. Então, na verdade, isso não diz respeito...
Henry Philippe Reichstul: É um imposto que é cobrado sobre a venda de derivados, cobrado da Petrobras na refinaria pelo governo federal. Então, a Petrobras não influi sobre o preço de bomba, ela tem esse preço internacional, e só.
Henry Philippe Reichstul: Quarenta e poucos centavos hoje.
Henry Philippe Reichstul: De reais, o litro.
Henry Philippe Reichstul: É isso que a gente recebe.
Carlos Alberto Sardenberg: [ignora a pergunta de Sônia Racy] E dentro desses quarenta centavos está esse imposto?
Carlos Alberto Sardenberg: O que é? É o custo do petróleo...
Paulo Markun: O refino.
Carlos Alberto Sardenberg: Está certo, quer dizer, aquele imposto não está nisso?
Carlos Alberto Sardenberg: Em cima disso vem imposto, Cofins e tal?
Sônia Racy: Mas, presidente, quando o petróleo cai lá fora, esse preço não cai aqui dentro?
Sônia Racy: Então, vamos dizer, esse custo de...
Henry Philippe Reichstul: Então, o resto é uma questão de... Pois é, é uma questão fiscal que envolve...
Henry Philippe Reichstul: Mas é que é uma questão muito importante...
Henry Philippe Reichstul: Sim, mas desde o fim do monopólio, e nesse período de transformação da Petrobras nessa empresa, ela é uma empresa como outra qualquer dentro do país em relação a essa questão.
Sônia Racy: Como “como outra qualquer” se ela não fixa seus preços de venda de refino?
Sônia Racy: Se não é essa a função, se é o governo que fixa, presidente?
Sônia Racy: O consumidor que está nos assistindo quer saber o seguinte, presidente...
Sônia Racy: Por exemplo, o petróleo sobe lá fora, os preços da gasolina sobem aqui dentro; o petróleo cai lá fora, os preços da gasolina nunca caíram aqui dentro! É só isso.
Paulo Markun: Mas, então, quem é responsável?
Henry Philippe Reichstul: É o governo, é o governo federal.
Paulo Markun: É isso que eu queria entender.
Sônia Racy: Então, o governo fica com essa diferença que deveria ser repassada ao consumidor?
Sônia Racy: O que acontece na Europa e nos Estados Unidos? Quando cai o petróleo, cai para o consumidor nos Estados Unidos, por exemplo?
Sônia Racy: Mas esse imposto é fixo, então quando o petróleo sobe ou desce ele tem que subir ou descer?
Sônia Racy: Que é o caso brasileiro, presidente?
Alfredo Sirkis: A Alemanha reduziu uma série de impostos e aumentou o imposto exatamente sobre os derivados de petróleo. Eu acho que toda a Europa pratica uma certa lógica do ponto de vista... [Reichstul fala ao mesmo tempo que Sirkis]
Paulo Markun: É da Agência Nacional de Petróleo?
Sônia Racy: É Receita Federal também, presidente?
Chico Santos: Doutor Philippe, é verdade que, nesse momento, o preço da gasolina, inclusive, está um pouco primido, o governo está... A Petrobras está bancando um subsídio de 100 milhões por mês, nessa tal de PPE, nesse imposto variável?
Chico Santos: A conta petróleo não está aumentando novamente de valor? Quer dizer, o governo não está devendo mais à Petrobras, novamente crescendo a dívida do governo com a Petrobras, por conta da conta petróleo.
Chico Santos: Mas está subsidiando momentaneamente, está financiando, digamos assim, em outras palavras, está financiando?
Nely Caixeta: Que seria em agosto e agora foi transferido para o próximo ano e quiçá o ano seguinte.
Sônia Racy: Presidente, o que dá para perceber é o seguinte: a Petrobras e o governo brasileiro fazem uma enorme ginástica para que a empresa funcione como uma empresa produtiva ou organizada, como se fosse uma empresa privada, em vez de privatizá-la, por exemplo. Qual a sua opinião sobre uma futura privatização, talvez, da Petrobras?
Henry Philippe Reichstul: Eu não estou fazendo nenhuma ginástica, inclusive pessoalmente. [risos]
Henry Philippe Reichstul: Só terminar um pouco a questão, e aí a gente entra nessa.
Henry Philippe Reichstul: Não, não, por quê?
Sônia Racy: Não, ele perguntou se o senhor era favorável à privatização? O senhor fez assim [balança a cabeça positivamente] [risos] ...
Sônia Racy: Se ela fosse privada como é que seria?
Carlos Alberto Sardenberg: Não, mas se ela fosse privada, seria tabelado do jeito que é.
Carlos Alberto Sardenberg: Seria tabelado.
Carlos Alberto Sardenberg: O Ministério da Fazenda tabela, se não fosse estatal...
Carlos Alberto Sardenberg: Sim, mas é um burocrata lá da Fazenda que faz a conta e diz “a Petrobras vai cobrar tanto”, não é isso?
Carlos Alberto Sardenberg: Sim, se fosse em um mercado livre você ia vender a sua gasolina no mercado pelo preço que quisesse.
Sônia Racy: Isso não é uma ginástica, presidente?
Henry Philippe Reichstul: Tá certo! Nesse sentido eu concordo, mas é uma ginástica que eu acho que é útil, que é preparar o sistema para conviver no mercado totalmente aberto. Quando o mercado se abrir você vai poder ter alguém importando gasolina. Qual é o preço de referência? É uma commodity não é? Então vai ser provavelmente preço de Roterdã, mais ou menos, aí depende da eficiência da logística do sujeito. Isso é uma questão, então que seja uma certa ginástica, muito bem! Quanto à questão da privatização, o governo não vai privatizar a Petrobras, já colocou isso claramente.
Henry Philippe Reichstul: Sim, tem uma lei que não permite privatizar a Petrobras, eu acho que não é esse o momento de privatizar a Petrobras, mas nem sei se existe um momento de privatizar.
Henry Philippe Reichstul: Pois não.
Henry Philippe Reichstul: 34%
Henry Philippe Reichstul: Eu não tenho certeza, eu sei que tem gente que pensa assim. Primeiro, só para lhe dar uma informação. Nessa revisão organizacional, depois do nosso planejamento estratégico, chegamos à conclusão muito clara de que uma empresa de energia precisa ter sinergia nas várias áreas de negócio, e nós estamos trazendo essas subsidiárias para dentro da companhia, ao contrário. Então, esse movimento está refluindo fortemente, principalmente na área da Braspetro [Petrobras Internacional S.A, empresa de economia mista, subsidiária da Petrobras], na área da Petroquisa [Petrobras Química, subsidiária do setor petroquímico da Petrobrás] e na área da Gaspetro. Nós estamos mudando, trazendo as empresas para as unidades de negócios dentro da companhia, num movimento totalmente oposto ao que foi mencionado. Caracterizando que nós precisamos ter essa sinergia, precisamos trazer essas empresas para dentro da companhia, para ela ter mais condições de crescer com eficiência e com lucro. Então, não há essa intenção. A própria venda das ações acima do controle não muda em nada a administração da companhia hoje. A companhia tendo 51% ou tendo 84%, não muda a gestão, não mudam os objetivos, não mudam os investimentos da companhia. E se o acionista majoritário entende que é um bom momento de vender, como eu acho que é, porque houve uma valorização bastante significativa da companhia... Só para vocês terem uma idéia, em dezembro de 1998, janeiro de 1999, a companhia valia em bolsa 12 bilhões de reais. A companhia estava valendo, no final do mês passado, começo deste ano, deste mês, estão falando em torno de 45 bilhões de reais.
Henry Philippe Reichstul: O faturamento é diferente do lucro, obviamente. O lucro distribuído em 1999 para os vários acionistas representou para o governo um dividendo de 180, 200 milhões de reais. O governo pensa o seguinte: se a participação que excede o controle pode ser vendida em torno de 8 bilhões de reais, ele pode ter uma economia de juros muito maior do que o dividendo que ele está recebendo, sem afetar a orientação, o direcionamento da companhia. [vários falam ao mesmo tempo, e Reichstul continua falando] Então eu acho que faz sentido, quer dizer, não afeta nossa gestão em nada, não é uma privatização; 51% ou 84%, do ponto de vista da gestão, da orientação da companhia, é a mesma coisa, e portanto eu acho que é um movimento que é bom.
Chico Santos: Qual o sentido estratégico do Estado ser dono de uma empresa de petróleo?
Paulo Markun: Por que o senhor é contra presidente?
Henry Philippe Reichstul: Eu acho que é por causa do momento político que a gente está vivendo no Brasil, eu acho que é um pouco...
Henry Philippe Reichstul: Eu acho que passa pelo momento político que a gente está vivendo. Essa própria introdução que foi feita aqui, em relação à Petrobras ser um orgulho de todos brasileiros, de pertencer aos brasileiros, é que eu acho que seria um ônus político muito grande ao governo privatizar essa companhia neste momento que a gente está vivendo agora. Eu acho que não existe uma maturidade hoje, no sentido de uma clareza de que ela precisa ser privatizada. Eu não sinto isso no sentimento político existente hoje que isso possa ser uma coisa boa.
Henry Philippe Reichstul: É uma coisa um pouco difusa como um pouco a política é. [risos]
Henry Philippe Reichstul: Não, eu não acho que seja ineficiente, não, espera aí...
Henry Philippe Reichstul: É provável... Não, impostos não, porque a quantia de impostos é enorme. Sobre o Fundo de Pensão dos funcionários, hoje o máximo de cobertura que um funcionário da Petrobras recebe da Petros [Fundação Petrobras de Seguridade Social, plano de previdência para os funcionários], se ele entrou na Petrobras depois da década de 1980, é equivalente a três vezes o teto do INSS, são 3,6 mil reais.
Henry Philippe Reichstul: Pois é, mas essa é a prática hoje, é a prática hoje.
Sônia Racy: Ao Fundo de Pensão?
Carlos Alberto Sardenberg: Porque um argumento da privatização, como os textos do senador Roberto Campos [(1917 – 2001), economista, diplomata e político brasileiro. Foi ministro do Planejamento. Conhecido por sua defesa do liberalismo econômico], por exemplo, o argumento básico é o seguinte: é que a empresa não pertence ao país e não pertence ao governo, mas é uma empresa que pertence aos seus funcionários.
Paulo Markun: Falando nisso, essa venda dos 34% de ações, já está decidido que será uma venda pulverizada e já está definida também a questão do Fundo de Garantia [FGTS, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço] que estava sendo discutida a possibilidade de utilizar? Isso já está sacramentado?
Paulo Markun: Vão ser usados, embora eles fiquem retidos, não é verdade? Porque se o sujeito vender as ações, aquele dinheiro volta para o Fundo de Garantia.
Paulo Markun: Quer dizer, tudo isso levaria à possilidade de que muitas pessoas comprem ações da Petrobras.
Carlos Alberto Sardenberg: Quanto custa a ação hoje?
Carlos Alberto Sardenberg: E as pessoas vão poder comprar que lote, qual é o lote mínimo?
Alfredo Sirkis: Olha só, eu queria voltar aqui ao tópico anterior, que era a discussão a respeito da privatização.
Alfredo Sirkis: Bom, sem dúvida nenhuma a história da Petrobras é completamente diferente daquelas outras empresas que foram privatizadas. Nenhuma dessas empresas surgiu no bojo de uma grande mobilização popular, como foi aquela que deu a origem à Petrobras. Então, eu acho que você tem toda razão de colocar claramente que ainda que houvesse essa intenção por parte do governo, não existem as menores condições políticas, esse país certamente entraria em convulsão se houvesse agora uma tentativa de privatizar a Petrobras.
Carlos Alberto Sardenberg: É porque o argumento, o que a Nely colocou... quer dizer, todo o argumento que vale para todas as outras privatizações vale também para a Petrobras.
Henry Philippe Reichstul: A Petrobras é diferente.
Carlos Alberto Sardenberg: É, mas é diferente.
Paulo Markun: Bem, eu queria então colocar uma última questão aqui para o presidente que é uma questão específica, mas parece importante. Enviada por Cláudio Zata, de Belo Horizonte, que menciona a Medida Provisória de 1981 que determinou que a partir de julho agora a Petrobras recolha no ato de faturamento o PIS-Cofins das distribuidoras, acabando com a indústria de liminares que faz com que muitas empresas possam vender gasolina sem estar pagando imposto, fazendo uma concorrência desleal e, ao mesmo tempo, prejudicando a população brasileira que devia se beneficiar desses impostos. Diz ele que na semana passada o poder judiciário concedeu uma medida de exceção, fazendo com que a Petrobras não mais recolha esses impostos para as mesmas, e que isso vai causar uma verdadeira convulsão no mercado de distribuidores. Qual é a opinião da Petrobras em relação a essa decisão judicial? E o que você pretende fazer?
Paulo Markun: Contra a cobrança pela Petrobras?
Paulo Markun: Nesse mercado específico de distribuição, para finalizar, vocês pretendem aumentar a participação da Petrobras, que ainda não é compatível com o que ela tem na refinaria e no outro setor?
Paulo Markun: Presidente Reichstul, muito obrigado pela sua entrevista, obrigado aos nossos entrevistadores e a você que está em casa.