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Memória Roda Viva

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Geraldo Alckmin

22/10/2002

Em programa especial que antecedeu as eleições de 2002, o então governador de São Paulo e candidato à reeleição fala sobre suas propostas e debate seu governo

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[Programa ao vivo permitindo a participação do telespectador]

Paulo Markun: Boa noite. O Roda Viva faz hoje, excepcionalmente, a partir das dez da noite, o segundo programa da série especial que organizamos para entrevistar os candidatos que disputam a sucessão estadual de São Paulo. José Genoino [político brasileiro e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, o PT],  esteve ontem aqui, na data prevista pelo sorteio realizado na redação da TV Cultura, com a presença da assessoria dos dois concorrentes. A entrevista de Genoino ficou para segunda-feira, e a do governador Geraldo Alckmin, para hoje, terça feira, 22 de outubro. E é exatamente o governador Geraldo Alckmin que está aqui, como candidato à reeleição ao governo do estado de São Paulo, pelo PSDB [Partido da Social Democracia Brasileira].

[Comentarista]: Paulista de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, o médico Geraldo Alckmin tenta a reeleição ao governo de São Paulo aos 27 anos de carreira política. Foi vereador e prefeito de Pindamonhangaba, deputado estadual duas vezes, deputado federal, presidente do PSDB e vice-governador de São Paulo, eleito na chapa de Mário Covas, em 1994 e depois em 1998. Assumiu o cargo de governador com a morte de Covas em março do ano passado [2001]. E agora busca a reeleição na coligação do PSDB - PFL [então Partido da Frente Liberal, que em março de 2007 foi reestruturado e passou a denominar-se Democratas (DEM)] e PSD [Partido Social Democrático, extinto poucos anos depois]. Com seu candidato a vice, Cláudio Lembo, presidente do PFL paulista, Geraldo Alckmin entrou na campanha, polarizando com o candidato Paulo Maluf, do PPB [Partido Progressista Brasileiro]. No início, os dois se alternavam entre o primeiro e o segundo lugar nas pesquisas. Depois, Maluf foi perdendo pontos e Alckmin cresceu, assegurando a vitória no primeiro turno. Obteve 38,28% dos votos válidos. Na retomada da campanha para o segundo turno, Geraldo Alckmin deu início à busca de novos apoios políticos em torno da sua candidatura. A coligação PSDB, PFL e PSD, formada para o primeiro turno, já recebeu apoio de integrantes de sete partidos: PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro], PV [Partido Verde], PTB [Partido Trabalhista Brasileiro], PPS [Partido Popular Socialista], PDT [Partido Democrático Trabalhista], PRP [Partido Republicano Progressista] e PSB [Partido Socialista Brasileiro]. É a corrida em busca dos votos que foram dados aos candidatos que não entraram no segundo turno. Parte desses votos já pode estar assegurada com o apoio que o governo recebeu hoje de 100 líderes da Igreja Assembléia de Deus, em São Paulo. Os pastores que se uniram a Geraldo Alckmin representam 12 mil templos em todo o estado, onde a Assembléia de Deus congrega aproximadamente cinco milhões de fiéis.

Paulo Markun: Para entrevistar o governador Geraldo Alckmin está aqui a mesma bancada que participou ontem no programa com o candidato do PT, José Genoino. Helena Chagas, chefe de redação da sucursal de Brasília do jornal O Globo; Fernando Canzian, secretário de redação do jornal Folha de S.Paulo; Eleno Mendonça, editor-chefe do jornal O Estado de S. Paulo; Gilberto Nascimento, colunista do jornal Diário de São Paulo; Celso Fonseca, editor da revista Istoé São Paulo e Alessandro Duarte, subeditor da revista Veja São Paulo. O Roda Viva especial de hoje, embora trate das eleições em São Paulo, está sendo transmitido para dez estados brasileiros, tendo em vista o caráter nacional que se reveste essa eleição em São Paulo. Você pode participar do nosso programa pelo telefone (11) 2526525. Nosso fax é (11) 3874-3454 e o endereço do programa na internet é rodaviva@tvcultura.com.br. Boa noite, governador.

Geraldo Alckmin: Muito boa noite, Paulo Markun.

Paulo Markun: Eu vou começar com a mesma pergunta de ontem para o candidato José Genoino. Ontem, o candidato derrotado Paulo Maluf, que teve um número expressivo de votos, declarou seu apoio a José Genoino e disse que recomendava a seus eleitores que votassem no candidato do PT. Como o senhor encara essa afirmação?

Geraldo Alckmin: Ora, esse é um direito que o candidato tem de votar, de apoiar, não tenho nenhum comentário específico. Acho que não há grande alteração porque o eleitor é muito livre, especialmente no segundo turno. E acho que esses votos, naturalmente, não só do Maluf mas de outros candidatos que disputaram o segundo turno, vêm migrando para nossa candidatura. Tanto é que ela foi a que mais cresceu nesse segundo turno. Eu confio muito no julgamento popular, acho que o povo é um bom juiz. Nós estamos fazendo um bom trabalho nesse um ano e meio, um período curto. Demos seqüência ao programa do governador Mário Covas, cumprimos religiosamente esse programa, agregamos novos projetos porque a tarefa de governar é dinâmica. Tenho muita confiança de que o povo vai nos dar a oportunidade de fazer um mandato com marca própria. Quatro anos, eleito pelo povo, para trabalhar bastante por São Paulo.

Helena Chagas: Governador, se as pesquisas de hoje se confirmarem o senhor será eleito no domingo, governador de São Paulo e o Lula [Luiz Inácio Lula da Silva], presidente da República. Nesse caso, o senhor será um governador de oposição e, como um dos principais caciques do PSDB, para onde o senhor vai levar esse partido no governo Lula? O PSDB será oposição ao Lula?

Geraldo Alckmin: Primeiro, nós vamos lutar até o último minuto. Eu aprendi com o Mário Covas que, frente a adversidades, só há três caminhos: combater, lutar e vencer. Nós vamos trabalhar firmemente para o nosso candidato, José Serra, como presidente da República. E no caso aqui de São Paulo, para minha candidatura. Mas, independente do resultado, federal ou estadual, eu defendo a tese de que não deve haver terceiro turno. Ou seja, o Brasil tem na cultura política algo ruim, que é nunca parar a disputa eleitoral. Uma eleição acaba e já começa a especulação para 2004, já começa nova briga política.

Helena Chagas: E o seu nome já vai aparecer como candidato à Presidência em 2006, provavelmente.

Geraldo Alckmin: Aí nem pensar. Eu sou contra o chamado terceiro turno. Aliás, nesta eleição, fui muito contra antecipar o processo sucessório. Quando em 2001 já estava todo mundo discutindo candidatura, eu era radicalmente contra. Antecipar o processo sucessório encurta o governo, dificulta a governabilidade e atrapalha a população. Eu acho que encerrado o processo eleitoral no domingo, qualquer que seja o resultado, é trabalhar pelo país e trabalhar pelo estado. Há questões que precisam ser feitas, independente de quem ganhar a eleição. Não há matriz ideológica, são questões de necessidade para o país crescer, gerar emprego, renda. E ninguém tem maioria no Congresso, se o Serra ganhar a eleição, ele não tem maioria. Se o Lula ganhar eleição, também não. E as reformas demandam três quintos dos votos, sendo duas votações na Câmara e duas no Senado. Se não houver um esforço para ajudar, vamos ter muita dificuldade para frente.

Eleno Mendonça: Governador, o seu adversário Genoino diz que o senhor esconde o Serra, o candidato do seu partido, e tenta evitar colar o seu nome, a sua figura ao Serra. Recentemente a gente viu o senhor fazendo campanha de rua com o governador. Mas, de fato, a presença de Genoino com Lula sempre foi muito mais freqüente nas campanhas. Eu queria saber o seguinte: hoje, por exemplo, houve um comício do Serra em Pernambuco com 100 mil pessoas colocadas por Jarbas Vasconcelos [então governador de Pernambuco pelo PMDB e um dos políticos que apoiaram a candidatura de José Serra em 2002. Chegou a ser cotado para a vice-presidência, mas recusou]. Talvez não sejam providências tardias para a recuperação e desempenho do candidato José Serra para a Presidência?

Geraldo Alckmin: Olha, até agora as pesquisas retratam intenção de voto. Eleição mesmo é domingo, então por enquanto é intenção de voto, a eleição ainda não está definida.

Eleno Mendonça: Mas tirar 30 pontos em cinco dias?

Geraldo Alckmin: Não é fácil, mas não é impossível. Em relação ao Serra, desde o primeiro turno aqui em São Paulo - eu tenho só São Paulo para fazer campanha e ele tem 27 estados - ele estando em São Paulo, estamos sempre juntos. No outro sábado, estivemos em Aparecida, no dia da padroeira do Brasil. No domingo, estivemos em um comício.

Eleno Mendonça: Sim, mas isso o senhor fala recentemente.

Geraldo Alckmin:  Não, no primeiro turno inteiro, há dois dias atrás fizemos um comício com cinquenta mil pessoas em Osasco. Estamos permanentemente juntos. O que eu não acho adequado é essa história de "escolha um e leve dois". Não, existem duas eleições, o eleitor sabe que são duas eleições distintas, ambas importantes, a de presidente da República e a de governador do estado.

Fernado Canzian: Governador...

Geraldo Alckmin:  E eu não quero ser eleito na garupa de ninguém. Eu acho que São Paulo é muito grande, precisa ter singularidade, características próprias. E alguém que tenha luz própria.

Eleno Mendonça: O senhor está dizendo que o desempenho do Genoino se deu no vácuo do desempenho do Lula?

Geraldo Alckmin:  É evidente. Se você tirar o Lula, acaba a candidatura. Então, eu acho que São Paulo é muito grande para você se eleger na garupa de alguém. O que quero é uma discussão, mas temos uma eleição presidencial e uma estadual. Ambas são importantes.

Fernado Canzian: Governador, a candidatura Serra usou um expediente na semana passada, que foi mostrar [no horário eleitoral] a atriz global Regina Duarte dizendo que teria medo de um eventual governo Lula. Eu perguntaria ao senhor duas coisas. Primeiro, o senhor tem medo de um governo Lula? E segundo, qual será o relacionamento que o senhor terá com o PT, caso vença a eleição? O candidato Genoino, só para colocar em contexto, diz que o senhor não tem estatura para ser governador de São Paulo, que só chegou ao posto por que era vice do ex-governador Mário Covas.

Geraldo Alckmin:  Eu não tenho medo de nenhum candidato eleito pelo voto popular. Eu acho que todo democrata respeita o resultado da urnas. Também não vejo nenhuma ofensa naquilo que a atriz Regina Duarte colocou. Ela acredita no Serra, acredita no nosso partido, não foi ofensiva, não vejo razão para este patrulhamento que foi feito em torno da manifestação legítima da atriz. Em relação a essa história de estatura, se há alguém que se preparou para ser governador, passo a passo, sou eu .Com 23 anos de idade, fui prefeito de minha cidade natal por seis anos, lutando contra a ditadura. Criamos a frente de resistência Laerte Mendes naquele tempo. Éramos 130 prefeitos, restamos 33 e por isto criamos essa frente. Nunca ocupei um cargo público a não ser pelo voto popular. Fui vereador aos 19 anos, presidente da Câmara dos Vereadores, tenho experiência executiva, que é coisa muito diferente do legislativo. Fui deputado três vezes, e me honro muito de ter sido vice-governador de Mário Covas. É um privilégio ser um co-piloto de um comandante como ele, o que eu aprendi me ajuda a fazer um bom governo.

Gilberto Nascimento: Retomando a pergunta da Helena, caso se confirme o cenário até o momento, como o PSDB vai se portar perante o governo Lula? Como será essa oposição?

Geraldo Alckmin:  Gilberto, nós não podemos ficar fazendo prospecção de uma eleição que só vai ocorrer no domingo.

Gilberto Nascimento:  Eu estou perguntando caso se confirme o que está sendo apontado.

Geraldo Alckmin: Não, o meu candidato é o Serra. Vamos trabalhar com empenho, dedicação, com enorme esforço, até o último momento. Isto é da regra democrática, o processo eleitoral está em curso. O que eu disse a Helena é que, independente do resultado - vamos imaginar que o resultado fosse adverso - eu não sou adepto ao terceiro turno e a continuar a briga. Encerrou o processo eleitoral, acabou a disputa. Há questões que são de senso comum, de interesse do país e do estado, assim como há partidos que não agem assim...

[sobreposição de vozes]

Geraldo Alckmin:  Há partidos que, se não for de sua iniciativa, não apoiam. O PSDB é mais plural, como a sociedade. E naquilo que é de interesse do país, deve ajudar.

Helena Chagas: Isso quer dizer que aqui em São Paulo o senhor também traria o PT para a conversa?

Eleno Mendonça: O senhor se engajaria em um pacto social do PT, que é uma das idéias que o Lula tem defendido?

Geraldo Alckmin: Eu tenho dito algo que vale aqui para São Paulo. Eu não quero fazer um governo de uma cor só, de um partido só. Quero fazer um governo sob a bandeira de São Paulo, unir, agregar, somar esforços, até porque os tempos não vão ser fáceis. Não vamos nos iludir: vai ter turbulência, vai ter dificuldade, se nós não nos ajudarmos no sentido de ajudar o país... Olha, a necessidade de ação maior é em nível federal, pois São Paulo não tem grandes reformas constitucionais. Já o governo federal tem reformas importantes, como a reforma fiscal, reforma da previdência, reforma política.

Celso Fonseca: O senhor fala em marca própria. Eu queria que o senhor ressaltasse alguns traços desse estilo Alckmin de governar. Quer dizer, o senhor ficou muito atrelado a essa herança do Covas. Como vai ser o estilo Alckmin agora? E o que essa marca seria diferente da marca do Mário Covas?

Geraldo Alckmin: Ok, quais as prioridades do meu governo? São quatro. Primeiro, um governo empreendedor,  que trabalhe pelo desenvolvimento, emprego e renda. Começo ajudando o governo federal a implantar as reformas necessárias para o país crescer mais depressa, pois São Paulo pode fazer muito. Já começamos a fazer. [Em relação] às micro e pequenas empresas, estamos ampliando o chamado Simples Paulista [denominação popular recebida pela Lei nº 10.086, de 19/11/1998, que instituiu o regime tributário simplificado da microempresa e da empresa de pequeno porte em São Paulo] para ampliar a geração de empregos. Nós contribuímos com 1,6 bilhão por ano para a exportação, com a chamada Lei Kandir, além da regionalização do Porto de Santos, duplicação da [rodovia dos] Imigrantes, levar o Rodoanel [Rodoanel Mário Covas, rodovia que contorna a região metropolitana de São Paulo. Com cerca de 170 km, interliga os grandes corredores de acesso à metrópole como Régis Bittencourt, Raposo Tavares, Castello Branco, Anhangüera, Bandeirantes, Fernão Dias, Dutra, Ayrton Senna, Anchieta e Imigrantes]  até o grande canal de importação e exportação, ampliação dos aeroportos para a exportação, [criação] do "Poupa-Tempo da Exportação" [refere-se ao Celex (Centro de Logística e Exportação), criado posteriormente, em 2004. No Celex, está a Central de Atendimento ao Exportador. Os prestadores de serviços e demais órgãos instalados no local auxiliam empresários em questões como procedimentos operacionais, entre outros] para tirar os gargalos da burocracia. Quanto ao turismo, já encaminhei à Assembléia [Legislativa do Estado de São Paulo] [um projeto de] agência de fomento.  Fazer um governo educador, grande esforço nas Fatecs [Faculdades de Tecnologia], na história de São Paulo eram nove, em um ano e meio nós instalamos mais cinco. O ensino universitário abriu nos últimos 12 anos da autonomia universitária, em média, duzentas vagas por ano. Nós abrimos, no ano passado, 1.085 e vamos chegar em três mil vagas em dois anos, levando campi das universidades para regiões mais carentes do estado, como Vale do Ribeira, Portal do Paranapanema, Alta Paulista e região sudoeste. Então, é um esforço empreendedor, educador, com padrão do serviço público. O governo Mário Covas tem o paradigma novo na administração pública, o Poupa-Tempo, que consiste em administração pública eficiente, rápida, que atende bem às pessoas e une serviços informatizados. Nós vamos levar esse padrão para a segurança, saúde e educação. Hoje, foi inaugurado em São Paulo, no 93º Distrito do Jaguaré, a 5ª Delegacia de Polícia, seguindo o padrão Poupa-Tempo.

Paulo Markun: Voltando à pergunta do Alessandro, o que isso se distingue do que Mário Covas fazia?

Geraldo Alckmin: Eu não estou estabelecendo nenhum parâmetro, mas sim prioridades. Primeiro, o governo Mário Covas fez um enorme esforço de ajuste fiscal. Foi exemplar porque mostrou para o Brasil que você pode acertar as contas públicas, sair do déficit público de mais de 20% para déficit público zero, sem mandar a conta para o contribuinte. E, pelo contrário, reduzindo impostos. São Paulo só vive do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços], 88% da arrecadação. E só reduziu a alíquota do ICMS. Ou seja, a casa está arrumada, está em ordem. Agora é pisar no acelerador, é um outro momento. Você teve um momento de recuperação da capacidade de investimento do estado, nós vamos viver o momento de pisar no acelerador,  de desenvolvimento, emprego, renda. Eu pretendo investir, em quatro anos, 25 bilhões de reais, sem endividar o estado, entre empresas, administração direta, autarquias.

Eleno Mendonça: Governador, vários governadores estão sendo eleitos neste momento e, obviamente, muitos estão querendo atrair empresas e investimentos para os seus estados. É a famosa guerra fiscal, com vários incentivos para atração. Como  o senhor vai fazer isso? E eu queria aproveitar e voltar à primeira pergunta do [Paulo] Markun, sobre o Paulo Maluf. O senhor acredita que a decisão do Paulo Maluf pode chegar a influenciar até mesmo negativamente a campanha do Genoino?

Geraldo Alckmin: Eu acho que cabe ao eleitor julgar as contradições.

Eleno Mendonça: O senhor não se sentiria desconfortável com esse apoio?

Geraldo Alckmin: Eu sempre disse duas coisas desde o início. Eu procuro sempre ser coerente e ter cuidado com as palavras. Quero voto de todos os eleitores do Maluf, não só deles, de todos. Claro, segundo turno é para isso, pois ninguém obteve maioria absoluta, [e] escolhe-se os dois mais votados para um novo escrutínio. Segundo, a conversa deve ser partidária, o presidente do meu partido conversa com o presidente dos outros partidos. Em relação à guerra fiscal, é diferente. Guerra fiscal é quando o estado devolve ao dono da empresa, que foi para lá, o dinheiro do imposto pago por meio de financiamento subsidiado. O contribuinte pagou o imposto e o valor é devolvido para o dono da empresa. Isso desorganiza o mercado, em um país de carga tributária alta.

Eleno Mendonça: Mas isso aconteceu a rodo.

Geraldo Alckmin: Pois é, mas está errado. O que nós fazemos? Política fiscal seletiva. A microempresa não vai pagar imposto, alíquota zero. O faturamento do ano era de 120 mil, aumentamos para 150 mil [o limite para isenção do imposto]. E quem ganha com isso é o contribuinte, pois a carga tributária é reduzida e há renúncia fiscal para quem precisa, que é o pequeno.  Cesta básica de alimentos. Reduzimos de 12% para 07%. Reduzimos de 12% para 07% e demos crédito presumido de 07%. 35 mil empregos. O setor do álcool, o ICMS da gasolina 25%, o ICMS do álcool 25%. Qual que gera emprego? O álcool. Precisamos estimular a frota verde, baixamos para 12%. [parece referir-se a alíquots do ICMS]. Isso gera empregos, energia renovável, energia limpa, sempre para atender um setor, reduzir carga tributária e beneficiar o contribuinte. Esse é o caminho correto.

Helena Chagas: Virá uma reforma tributária por aí, ela é inevitável, qualquer que seja o presidente. São Paulo sempre foi um obstáculo à reforma tributária que o governo federal e os outros estados gostariam de fazer. Como  o senhor vai se posicionar nessa discussão, que já deve começar talvez semana que vem, no Congresso? São Paulo continuará criando dificuldades?

Geraldo Alckmin:  Não, quando foi discutida a reforma tributária, o relator era o Mussa Demes [(1939-2008) na época, deputado federal e presidente da Comissão da Reforma Tributária] e praticamente chegou-se a um acordo.

Helena Chagas: A unificação da legislação do ICMS. O senhor está a favor desta proposta?

Geraldo Alckmin: Perfeitamente. Aliás, nós já estamos contribuindo, porque quando se fez a isenção  do ICMS para a exportação, com a Lei Kandir, isso afetou o estado, porque o ICMS é um tributo estadual e, minoritariamente, do município. Então, nós já demos a nossa contribuição, 1,6 bilhão por ano na atividade exportadora, além da retirada do ICMS para novos investimentos...

Helena Chagas: Então São Paulo não perde com o projeto que está lá nesse momento?

Geraldo Alckmin:  Não, o projeto da reforma tributária deve ser discutido com o Mussa Demes, se chegou a um entendimento no sentido de se estabelecer uma graduação da sua aplicação e compensações. Mário Covas o defendia.

Fernando Canzian: Governador, ontem a gente assistiu a uma cena completamente inusitada aqui em São Paulo, que foi um carro encontrado pela polícia em uma estrada paulista com trinta quilos de explosivos. A polícia fez a apreensão do explosivo e a ação foi atribuída ao PCC [Primeiro Comando da Capital], que floresceu durante o governo do Mário Covas; quer dizer, tomamos conhecimento geral do PCC quando houve a megarrebelião nos presídios em 2001. A que o senhor atribui o florescimento desse movimento em São Paulo, que era algo que só conhecíamos no Rio de Janeiro, no caso do Comando Vermelho [facção criminosa] nas favelas etc.?

Geraldo Alckmin: Fernando, em todo lugar há organização, agregação de presos. Isso você tem em todo lugar, varia a sigla. Quando assumi o governo, Nagashi Furukawa [juiz corregedor e então secretário estadual de Administração Penitenciária, responsável por todos os presídios do estado, inclusive o Carandiru] me procurou e disse: "No Carandiru, na Casa de Detenção..." - hoje desativada - "...presos, organizações criminosas corrompem funcionários, comandam o crime aqui fora, matam quem não é da sua facção. E nós precisamos retirar os líderes do PCC da Casa de Detenção. Só que vai haver uma reação brutal". Isso acontece no Brasil inteiro, ninguém tem coragem de "por o dedo na ferida". Eu falei: "Secretário, um governo sério faz o que tem que fazer e arca com as consequências. Pode tirá-los imediatamente". Na quinta-feira, dez estavam transferidos e um foi para o Rio Grande do Sul. No domingo, houve a megarrebelião de 29 penitenciárias simultaneamente. Eles queriam trazer de volta os líderes para a detenção do Carandiru, fechar a penitenciária de segurança máxima, Casa de Custódia de Taubaté, e tentar escapar. Não voltou nenhum preso, pelo contrário, nós tiramos mais trezentos líderes, não desativamos Taubaté, fizemos a penitenciária mais segura do país, que é a  Presidente Bernardes [Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernandes, construído em 2002], onde estão os lideres do PCC, incomunicáveis e em regime disciplinar diferenciado. É a primeira do país com bloqueador de celular. Agora, essa é uma luta permanente, é vencer uma batalha todos os dias. O PCC, aqui em São Paulo, foi enfrentado e está extremamente enfraquecido.

Fernando Canzian: Governador, o governo do estado não agiu tardiamente nesse caso? Porque a megarrebelião, como o senhor disse, envolveu mais de vinte presídios, o que demonstra o tamanho da organização. E o PCC continua ativo! Já houve bomba no Fórum da Barra Funda, no centro da cidade. Quer dizer, essa ação de ontem foi interceptada pela polícia, mas  ainda é uma organização ativa em São Paulo.

Geraldo Alckmin: Nós estamos vencendo, Fernando, uma batalha todo dia. E a polícia está se antecipando. O Departamento de Inteligência da Polícia tem o segundo servidor de computadores do estado, só perde para a Prodesp [Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo]. Temos um equipamento, autorizado pela Justiça, que faz trezentas escutas telefônicas simultâneas. E essa ação da polícia, com inteligência e tecnologia, permite prender os criminosos, tocar na cadeia, em penitenciárias de segurança máxima, e agir antes. Foi exatamente o que aconteceu.

Gilberto Nascimento: Governador, o Carandiru está sendo desativado mas o senhor está construindo presídios também para 1,5 mil presos, mais ou menos. Isso, de uma certa maneira, não pode repetir, na medida em que o sistema não é mudado, o mesmo problema que houve no Carandiru? Isso porque o antigo presídio de Tiradentes [o presídio Tiradentes, batizado como "Casa de Correção" e, posteriormente, "Casa de Detenção de São Paulo". Tornou-se emblemático, por abrigar, no período ditatorial, o maior contingente de presos políticos do Brasil, pertencentes a diversas organizações clandestinas que resistiram ao regime. Foi demolido em 1972] foi desativado por causa da mesma razão, do excesso de lotação, assim como o Carandiru. Se não mudar o sistema o problema não vai se repetir?

Geraldo Alckmin: Gilberto, nós não desativamos o Carandiru porque continuam a Penitenciária do Estado, a Penitenciária Feminina e o Centro de Observação Criminológica. Nós desativamos a Casa de Detenção, você tem razão, por questão de segurança, já que havia quase oito mil presos. As penitenciárias novas têm, no máximo, 768 vagas. E outra característica: nas penitenciárias, os presos trabalham, hoje 50% deles estão trabalhando. A penitenciária de segurança máxima de Presidente Bernardes possui 160 vagas porque é cela individual.

Gilberto Nascimento: Nenhuma com 1,5 mil vagas?

Geraldo Alckmin: Não, com 1,5 mil não existe. O que você pode ter são duas penitenciárias independentes, com 768 vagas cada uma.

Paulo Markun: Nós vamos fazer um pequeno intervalo e a gente volta já.

[intervalo]

Paulo Markun: Estamos de volta com o Roda Viva especial, entrevistando o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin. Governador, várias perguntas dos telespectadores sobre diversos temas, e eu começo pela questão do aumento salarial para o funcionalismo público. Pergunta de Gérson Lima, de São José dos Campos; de Antônio Lima, de Osasco; de Melissa Zupiard, que é funcionária pública. Terezinha Martins Pucim, de Sorocaba, é professora aposentada e quer saber especificamente sobre os professores aposentados.

Geraldo Alckmin:  Essa é uma questão importante para eu esclarecer a todos que mandaram as perguntas, porque eu ouço dizerem por aí que nesses sete anos não houve reajustes. Não é verdade. Quando o governador Mário Covas assumiu a folha de salários era em torno de quatrocentos milhões. Hoje, é mais de 1,3 bilhão por mês. A folha mais do que triplicou nesse período. Nós tivemos gratificações, planos de cargos e salários, reajustes. Mas o que interessa é para o ano que vem. O orçamento deste ano para pessoal é de 24 bilhões e,  para o ano que vem, 25,7 bilhões. E, se eu for governador, se Deus quiser, vamos analisar com a Comissão de Política Salarial e procurar, assim, recuperar os salários das várias categorias, como professores e aposentados. Esse ano nós demos 5% de reajuste, que ainda não é o ideal, mas é extensivo a todos os aposentados e pensionistas. Outra boa noticia é que, a partir de 1º de janeiro, mais de 150 mil pensionistas, homens e mulheres, do Ipesp [Instituto de Previdência do Estado de São Paulo], que ganhavam 75% do valor do benefício, passam a ganhar 100% - porque quem entrava na Justiça, estava ganhando. Então você tinha uma parte ganhando 100% do valor da pensão e outra parte 75% . E a que ganhava 75% era exatamente os que não tinham informação, não contratavam advogados - então acertamos com o Ministério Público. Os funcionários também perguntam sobre precatório [requisição formal de pagamento de determinada quantia, superior a sessenta salários mínimos por beneficário, devida pelo governo em razão de condenação judicial]. Nós estamos pagando e terminando, este mês, de pagar [os valores] de 1997 às autarquias: Hospital das Clínicas, Daesp [Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo], Ipesp e a administração direta. Aí entramos em 1998. E precatório de pequeno valor, até oito mil reais, todos estão em dia. Se a Assembléia votar ainda este mês nosso projeto de lei o precatório de pequeno valor sobe para 12 mil reais. Aliás, daqui para frente nem haverá mais precatório de pequeno valor. Nós vamos pagar em noventa dias.

Celso Fonseca: Governador, o senhor falou do sistema penitenciário. Só para concluir, vai chegar o dia em que o Carandiru será um parque ou um centro cultural? Isso demora?

Geraldo Alckmin: Na primeira fase, a Casa de Detenção [Carandiru] já está desativada. Lá nós teremos três parques. Uma das obras, que já esta começando, é um parque esportivo com dez quadras para basquete, vôlei, futebol de salão, pista de skate, atletismo, cooper, vestiários, enfim, toda a parte esportiva. Depois, no meio, um parque contemplativo, porque temos cinco hectares e meio de Mata Atlântica. E a terceira parte, perto do metrô, é a Casa de Detenção, da qual só vamos derrubar três pavilhões e manter todos os outros, voltados para a educação para o trabalho [com iniciativas como] informática, Fatec, qualificação profissional, requalificação, oficinas culturais. O Parque da Juventude e os outros, estamos em licitação.

Eleno Mendonça: Governador, o senhor é muito criticado pelo episódio do sequestro do Sílvio Santos. Todos os especialistas em segurança não recomendam que uma pessoa no cargo do senhor vá a uma situação de risco como foi aquela. Eu queria saber se o senhor se arrepende disso. O Genoino, a respeito desse tipo de comportamento, o acusa de fazer ações espetaculosas em relação à área de segurança. Falou esses dias sobre o caso daquele carro que estava com os explosivos, acusando o senhor de concentrar as grandes ações de polícia, como colocar viaturas novas em áreas bastante vistosas da cidade e se esquecer um pouco da periferia. Ontem, por exemplo, ele citou o fato de que algumas lojas de Itaim Paulista e Campo Limpo [bairros paulistanos] nem entregam móveis para as pessoas que compram porque têm medo de bandidos.

Geraldo Alckmin: Ok, são três questões. Eu acho que foi uma colocação muito infeliz falar sobre as "ações espetaculosas". Ele queria o quê,  esperar a bomba explodir o prédio da Bovespa [Bolsa de Valores de São Paulo] com dezenas de mortes [refere-se ao suposto atentado ao prédio da Bovespa, planejado pelo PCC em outubro de 2001]? A polícia fez a sua obrigação: investigação, escuta telefônica autorizada pela Justiça. Prendeu criminosos, inclusive do PCC, evitou uma tragédia, interceptou, desarmou a bomba. Foram meses e meses de trabalho sem vazamento. Acho que ele precisa não só criticar mas reconhecer o esforço da polícia. Segundo, é exatamente na periferia que nós estamos trabalhando. A cidade de São Paulo tinha 93 distritos policiais, sendo 79 com companhias da Polícia Militar. Faltavam 14, que nós criamos e instalamos, todas, na periferia. Como conseguimos fazer isso? Porque contratamos seis mil soldados temporários para poder liberar a Polícia Militar, que estava na atividade de apoio. Pudemos trazer para a rua mais seis mil policiais. Finalmente [sobre o caso] Sílvio Santos, eu não pretendia fazer absolutamente nada. Estava indo para Jundiaí no dia que houve o sequestro do empresário, mas tomei conhecimento, fiquei acompanhando pelo telefone. Quando o secretário de Segurança Pública relatou o pedido da vítima para que eu fosse até lá resolver, eu voltei à São Paulo e fiquei aguardando. Esperei das 10 horas às 13 horas e, como não se resolvia - eu aprendi, como médico, que nós erramos menos quando agimos do que quando nos omitimos - eu preferi errar pela ação do que pela omissão. Foi minha obrigação e não me arrependo.

Gilberto Nascimento: Governador, o senhor tem dito nos debates que não há toque de recolher aqui em São Paulo, mas já foram registrados casos no Cangaíba, em uma favela, recentemente em Osasco, em São Bernardo e outras regiões. Em São Bernardo, há uma área onde algumas organizações desenvolvem trabalho social e as pessoas têm que negociar para poder trabalhar, para entrar na área. Em muitas escolas da periferia, professor e diretor têm que fazer acordo com traficantes da região para não haver problema. Como você resolve isso? Porque daqui a pouco estaremos numa situação parecida com o Rio de Janeiro...

Geraldo Alckmin: Gilberto, não, bem diferente. Primeiro, aqui não tem essa história de que "está tudo dominado". Diga um bairro em que a polícia não entra, não há um território em que a polícia não entre...

Gilberto Nascimento: [interrompendo] Existem áreas em que a questão tem que ser negociada.

Geraldo Alckmin:  Nesse caso do Cangaíba, eu estava no carro. Foi uma guerra de traficantes onde um matou o outro. No carro, eu ouvi o anúncio de que, em homenagem ao traficante, não poderiam abrir a área. Aí liguei para o secretário da Segurança e [chegou] a Rota [modalidade de policiamento do 1º Batalhão de Policiamento de Choque  "Tobias de Aguiar", é uma tropa reserva do Comando Geral da Polícia Militar do estado], que ocupou tudo em minutos. Não houve nenhum toque de recolher. Aliás, eu fui lá pessoalmente, na favela "Caixa d’Água". Esse caso de Osasco, em poucos minutos a polícia estava lá  e foram seis presos. Minha mulher esteve esta semana lá, andando na rua tranqüilamente. Imediatamente a polícia agiu. Bandido tentando fazer crime, isso tem mesmo, por isso que eu digo que essa área não tem mágica. Você não vai resolver em 24 horas. É batalha todos os dias e a polícia está vencendo essas batalhas.

Paulo Markun: O senhor acha que a sensação de insegurança da população da Grande São Paulo não corresponde à realidade?

Geraldo Alckmin: Eu acho que ela é correta, não estou dizendo que está tudo ótimo. Mas, acho que a população também sente que a polícia está mais na rua, que eu mexi na segurança, que a polícia está se esforçando. A população sente que estamos  ganhando a guerra.

Celso Fonseca: O senhor é pai, preocupado com os seus três filhos por causa dessa...

Geraldo Alckmin: Claro, claro que sou. Esse problema na segurança é no mundo inteiro. Os índices de criminalidade cresceram em toda a década de 1990 e, de dois anos para cá, em São Paulo, parou de crescer e começou a cair. Está bom? Não, não está bom porque ainda está alto. Aliás, Celso, é a polícia que mais prende no país. Nós estamos chegando a 108 mil presos, 40% da população carcerária brasileira está aqui em São Paulo. Agora, precisamos cuidar da outra área, que são as causas da violência. Por isso instalei a Secretaria da Juventude, para criar políticas públicas com jovens, Fatecs, ensino técnico.

Fernando Canzian: Mas não é uma coincidência investimentos na área de segurança em virtude dos discursos de radicalização dos candidatos em relação a isso? Por exemplo, entrega de viaturas. Este ano o governo do estado está entregando 2.104 viaturas. No ano passado foram entregues 386. Em 2000, quando o senhor era candidato a prefeito em São Paulo, foram entregues 4.428 viaturas, contra 371 em 1999. Nas entregas deste ano, o senhor participou em 70% nas cerimônias de entrega. Quer dizer, não há uso de uma aflição que a sociedade tem em um ano eleitoral? São números expressivos....

Geraldo Alckmin: Fernando, primeiro, nós renovamos 30% da frota a cada dois anos. Mas há coisas que você faz antes da eleição e faz depois. Não é [em] razão da eleição. Vou lhe dar um exemplo: cada penitenciária que você faz você tira o policial da rua para fazer a guarda de muralha. Está fazendo mais penitenciária, está tirando mais policiais da rua. O que eu fiz? Abri concurso público e contratamos quatro mil agentes especiais de vigilância e escolta. Já foram nomeados e estão em treinamento. Vão assumir os postos no dia 4 de novembro, ou seja, já passou a eleição. Nós vamos ter quatro mil policiais militares a mais no policiamento ostensivo e preventivo. Não há [relação] com o processo eleitoral, eu acho até que os grandes avanços, os frutos desse esforço todo, nós vamos colhê-los daqui para frente, quando já acabou a eleição.

Alessandro Duarte: Governador, apesar desses esforços um índice de criminalidade não tem caído, que é o de sequestros. O que mais pode-se fazer para diminuí-lo?

Geraldo Alckmin:  Alessandro, é o seguinte, no ano passado, em 2001, [os seqüestros] foram aumentando. O pico chegou no fim do ano. Então, quando se compara com 2002, o de 2001 foi menor se compararmos o primeiro semestre. Mas, se você pegar a curva de 2002, ela está em queda absoluta. Em janeiro foram 48 casos, caindo para 38, 34, 32, 28, 26, 24 e cada vez mais. Aliás, nós prendemos 292 seqüestradores em cadeia de segurança máxima, fora oito que foram mortos no embate contra a polícia. Todos os índices estão em queda no estado de São Paulo. Está bom? Não, não está bom. Precisa melhorar muito, mas que estão caindo, estão.

Gilberto Nascimento: Os dados do último trimestre ainda não foram divulgados, não é isso?

Geraldo Alckmin:  A lei determina...

Gilberto Nascimento: Até o dia 30, não é? Por que não foi divulgado ou não será?

Geraldo Alckmin: Porque nós cumprimos a lei, a lei diz que o  trimestre de janeiro, fevereiro e março...

Gilberto Nascimento: [interrompendo] Não seria importante para a população poder avaliar?

Geraldo Alckmin: Mas é a lei. A lei diz que é 30 dias após o trimestre. Até para você não cometer nenhum erro, catalogar esses dados, checar, conferir. Então, no dia 30 de outubro serão publicados; aliás, pode até publicar hoje, os índices são melhores. Todos os índices de São Paulo estão em queda. Homicídio está em queda, roubo de carro está em queda, furto de carro está em queda, seqüestro está em queda.

Gilberto Nascimento:  O senhor falou que não tem lugar [onde] a polícia não entra. Mas eu fiz uma reportagem em um lugar até mais tranqüilo, pelo menos aparentemente - Jundiaí -, sobre tráfico de drogas. Havia uma denúncia - e nós comprovamos conversando com dezenas de pessoas, inclusive usuários - que há traficantes na cidade que têm até plano de carreira. Eles colocam as crianças para trabalhar no tráfico e têm bonificação de acordo com a promoção, como seria também em outros estados, o Rio de Janeiro. Alguns ganham até vale-transporte, vale-refeição etc. Uma pessoa que estava denunciando isso nos levou a dezenas de pontos, de locais onde se vendia drogas. Se muitas pessoas sabem, por que a polícia não consegue saber? Eu cheguei a ficar no alto de um prédio tentando verificar uma denúncia de que policiais, muitas vezes, recebem ou levam propinas para manter a situação do jeito que está, fazendo de conta que não veem. Como se combate isso?

Geraldo Alckmin:  São duas questões. Primeiro, juntamente com o Denarc [Departamento de Investigações sobre Narcóticos], há 30 dias, completamos mais de uma tonelada de cocaína apreendida. Isso é quase o que foi conseguido captar no Brasil.  Segundo, criamos o programa Segurança Escolar. Temos setecentas viaturas de ronda escolar com policiais preparados, armados.  Em um dia da semana passada foram presos 64 traficantes, em 24 horas de ação da polícia. Então, há um esforço gigantesco na questão de combate à droga e proteção às escolas. Quanto a policial corrupto, nós temos 130 mil policiais, gente séria trabalhando e até dando a vida para proteger a sociedade. A exceção é rua e cadeia. Nós aprovamos duas leis, com o "via rápida". Uma delas modifica a Lei Orgânica da Polícia Civil, e a outra muda o regime disciplinar da Polícia Militar. Este ano já demitimos mais de 500 policiais. Apurou, comprovou, rua.

Paulo Markun: Eu tenho aqui várias perguntas dos telespectadores e, infelizmente, não posso fazer todas. Como a gente faz habitualmente no Roda Viva elas serão encaminhadas para o senhor. Elas são relacionadas à questão da educação. Maria Aparecida, de São Bernardo do Campo; Marco Antônio, engenheiro agrônomo; Pontes Monteiro, aqui da capital; Márcia Godói, da capital, todos abordam a questão da educação. Mas eu  vou fazer a pergunta específica de um rapaz que se chama Rafael, que é de Santo André, e ele diz : "Estudo em uma escola pública estadual, estou no terceiro ano do ensino médio e, há cerca de três semanas, não tenho mais de dois dias de aula seguidos. Alguns dos conteúdos apresentados são ultrapassados e não acompanham o ritmo da tecnologia, como por exemplo em disciplinas exatas como matemática e física. O que o senhor pretende fazer para melhorar essa situação e proporcionar aos moradores de São Paulo uma educação que possa capacitá-los a lutar por uma vaga em universidades como a USP [Universidade de São Paulo] e outras universidades públicas?". Lembro que boa parte das perguntas a que me referi trata da questão do número excessivo de alunos nas classes e da chamada progressão continuada, muitas vezes encarada apenas como aprovação automática.

Geraldo Alckmin:  Primeiro, em relação à qualidade da escola pública, o grande esforço que nós vamos fazer, e é minha prioridade absoluta, é capacitação de professor. Nós já estamos oferecendo curso de pedagogia por conta do governo, para os professores efetivos do estado o governo oferece, nos antecipando à Lei de Diretrizes e Bases da Educação [LDB]. Incluí no meu programa de governo a bolsa-mestrado, para que eles possam melhorar a qualidade da escola pública. Estamos fazendo a maior compra do país, com cem mil computadores para os professores terem em casa. Inclusive o governo paga a metade e financia a outra metade pela Nossa Caixa. Os alunos do ensino fundamental, que tinham quatro horas/aula por dia, têm cinco horas/aula hoje. As escolas têm coordenador pedagógico, têm laboratório de informática. O que diz o Conselho Estadual de Educação? 1ª à 4ª série com, no máximo, 35 alunos; 5ª à 8ª com [turmas de] no máximo, 40 alunos; e ensino médio  com até 45 alunos. A nossa média, de 1ª à 4ª série, é de 32 alunos por sala. É a média, claro que há umas com menos. Há salas com mais de 35? Sim, mas nós vamos acabar com isso. E a progressão continuada, primeiro, ela está na lei federal, que é a LDB. Eu vejo críticas do meu opositor, mas quem implantou a progressão continuada em São Paulo foi o PT, durante o governo da Luiza Erundina [prefeita de São Paulo de 1989 a 1993], com o  educador Paulo Freire. E não está errado, o que precisa é aprimorar o sistema. Como era antes da progressão continuada? Era repetência para o aluno sair da escola. A evasão escolar era de quase 10%. Se o aluno falta...[sendo interrompido]

[sobreposição de vozes]

Geraldo Alckmin: Só para completar, se o aluno falta, é reprovado todo o ano.  Agora, se ele não falta..., a escola é feita para ensinar, é inclusiva, para ele se recuperar.

Paulo Markun: Mas o senhor reconhece que há problemas, porque a reclamação é constante.

Eleno Mendonça: Eu queria aproveitar o que o Paulo falou. O PSDB está há oito anos no governo e não é de hoje essa reclamação em relação ao ensino. A falta de repetência e reprovação, mães a muito tempo reclamam, vão às escolas para algo que eu pensei que eu nunca visse, que é pedir pra reprovar o filho.

Geraldo Alckmin: Mas é evidente. A crítica é pela direita, é jogar sobre a criança toda a responsabilidade.

Eleno Mendonça:  Sim, mas já foram feitos testes em crianças da 5º série que não sabem ler e escrever.

Geraldo Alckmin:  Mas é uma exceção.

Eleno Mendonça: O senhor veio com um projeto todo daqui para frente, mas eu quero saber por que não foi feito antes.

[sobreposição de vozes]

Alessandro Duarte: Os professores não mostram o quadro real da periferia.

Geraldo Alckmin: Vamos por partes. Primeiro, a progressão continuada foi implantada em 1998. Segundo, o aluno que falta é reprovado todo o ano. O aluno que não falta, a escola é feita para ensinar e não para reprovar. Então, se ele tem dificuldade...É como filho de rico, que quando tem dificuldade a escola lhe dá reforço. O pai contrata uma professora particular.  Já o filho do pobre reprovaria...

Alessandro Duarte: Para você não desestimular a pessoa a sair da escola, e melhorar, inclusive, os índices dos governantes, [a progressão continuada] é muito importante. Antigamente o nível de evasão era 30%, índice péssimo para qualquer governante, assim como a repetência era 40%, também péssima para qualquer governante. Agora, se a decisão é fazer progressão continuada, algo ótimo para que a criança aprenda, eu acredito que o modelo de treinamento de professores, de salas de aula, apresenta alguma coisa que não está certa.

Geraldo Alckmin:  Eu vou mexer na educação, mas não para voltar ao modelo antigo. Nós vamos aperfeiçoar um bom modelo, que existe na Inglaterra, nos países europeus, nos estados de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Como se pode aperfeiçoar? Capacitação do professor. O secretário Gabriel Chalita [secretário estadual de Educação entre 2002 e 2006], que está aí há seis meses, reuniu todo mundo e ninguém pediu para acabar a progressão continuada ou para voltar o modelo antigo. A evasão escolar, que era quase 10%, caiu para menos de 5%. O aluno era reprovado, abandonava a escola, ficava na rua com má companhia. E vai cair mais ainda, pois ninguém pode ficar fora da escola. E outra, nós vamos fazer avaliação, exame todo ano. Hoje como é feito o Saresp [Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo]? De 1ª à 4ª série, [avaliação] na 4ª série,  é o primeiro ciclo. De 5ª à 8ª série, [prova na] 8ª  série, que é o segundo ciclo. Nós vamos fazer exame todo ano. 

Gilberto Nascimento: Governador, não há um educador sério que seja contra a progressão continuada, desde que ela seja aplicada corretamente. Agora, o que eu não consigo entender é porque se fazia avaliação com um aluno completamente analfabeto. Ele não aprendia, ele passava por aquela avaliação no período de férias e saia dali completamente analfabeto. O problema é que casos assim são detectados em muitas escolas da periferia, mas não são mostrados. O professor diz que, se mostrar, ele será penalizado, então é escondido. Eu consegui ver com o compromisso de não dar nome de nenhuma escola e nome de nenhum professor. E vi isso em várias regiões diferentes, por isso não acredito que seja exceção.

Geraldo Alckmin: Gilberto, esses casos excepcionais de um aluno que tem dificuldade de alfabetização também existiam antes. Agora, nós temos 6,1 milhões de alunos. Eles são avaliados pelo Saresp [Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo], que mostram a cada ano um aumento de pontuação em português, matemática, nas áreas básicas. Então, a que conclusão a gente chega? É a de que o modelo é correto, o que nós precisamos é aperfeiçoar por meio da capacitação de professores, exame, avaliação, Saresp todo ano.

Fernando Canzian: Governador, [sobre] pedágios. Durante a campanha eleitoral, Paulo Maluf insistia de que deveria haver uma redução do valor do pedágio. Citava especificamente a rodovia Castelo Branco. O governo de São Paulo reduziu o valor do pedágio e assumiu com a concessionária o compromisso de recompensá-la financeiramente, caso houvesse diminuição na arrecadação daquele pedágio. Eu pergunto para o senhor se isso não é uma espécie de estatização branca de uma coisa que já está privatizada, numa concessão de vinte anos. E o que o senhor pretende fazer para reduzir o valor dos pedágios, o número de pedágios nas estradas, que é uma reclamação constante dos paulistas.

Paulo Markun: Governador, eu vou fazer algo que não costumo fazer, por imposição técnica. O senhor vai responder logo depois do intervalo.

Geraldo Alckmin: Perfeito.

[intervalo]

Paulo Markun: Vamos iniciar este 3º bloco do Roda Viva especial, entrevistando o candidato do PSDB ao segundo turno das eleições de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin. E nós vamos retomar com a pergunta do Fernando Canzian, que era sobre a questão dos pedágios, sobre uma espécie de estatização branca no caso da [rodovia] Castelo Branco. Eu gostaria de lembrar que a questão do pedágio é também a pergunta de Marcelo Brumati, de Catanduva; Aguinaldo, de Mogi Mirim; Ediel Ribeiro da Silva, técnico eletrônico; Mateus Rossi, Wellington Leandro, entre outros telespectadores.

Geraldo Alckmin: Ok. Primeiro, não é privatização porque você não está vendendo um artigo do Estado, um patrimônio do Estado. É uma concessão por um prazo determinado, no caso vinte anos. Daqui a 14 anos, retorna tudo ao patrimônio do povo de São Paulo, mas com estrada duplicada, triplicada, prolongada com todos os investimentos feitos. Segundo, o governo jamais teria recursos para ampliar a infra-estrutura do estado se não fosse o dinheiro do pedágio. Nós estamos fazendo a segunda pista da [rodovia dos] Imigrantes, que vai ficar pronta em dezembro, e não tem um centavo de dinheiro público. Se fosse esperar o governo ter dinheiro para fazer isso ia levar vinte anos. Segundo, o governo está fazendo 21 hospitais, 15 novos, seis ampliações, exatamente por que não precisa gastar dinheiro nas estradas. Porque elas estão sendo mantidas com as concessões. A infra-estrutura de São Paulo ampliada, serviço público de melhor qualidade, conceito de rodovia viva, assistência médica, guincho, ambulância, armamento para a polícia, carro novo, sistema de fibra ótica, enfim, todos os serviços prestados ao usuário, está tudo incluído no preço do pedágio. O número de mortos nas estradas caiu 31%. O governo recebe uma parte do pedágio, é o chamado ônus da concessão. O que nós fizemos na marginal da Castelo Branco? É o único caso onde o pedágio é teto. É dali para baixo. E ela estava sendo subutilizada. O governo fez um estudo afirmando que se nós reduzirmos o valor, vai aumentar o tráfego na marginal da Castelo Branco e você vai manter a receita. E o governo pôde abrir mão do ônus da concessão, porque ele poderia até fazer uma concessão não onerosa, o dinheiro não é para a concessionária, é para diminuir o valor do pedágio. E uma coisa inteligente, que nós vamos estudar nas outras concessões, é o tag, que é o pedágio eletrônico. Para você colocar o tag no seu carro, hoje, tem uma taxa de R$ 5,00. Nós estamos trabalhando para eliminar essa taxa, ninguém mais vai pagar nada para ter pedágio sem parar e descontos proporcionais à utilização. Na marginal da Castelo, quem usa pouco tem 2% de desconto, quem usa muito tem 50% de desconto. No mês passado, o desconto médio foi de 20%. Então é uma medida para beneficiar o usuário.

Paulo Markun: Governador, então o senhor credita os pedágios e a política de concessão das rodovias entre os sucessos do seu governo. O senhor não acha que é um problema?

Geraldo Alckmin:  É evidente que a concessão é coisa correta.

Gilberto Nascimento:  Mas, o senhor não acha que é um exagero, governador? Todo mundo reclama...

Geraldo Alckmin: Calma, nós vamos chegar lá!

[...]: E que isso tem um efeito na economia.

Geraldo Alckmin: É uma coisa correta. Você faz uma concessão, não é privatização. E estrada não é de graça, ou o contribuinte, a "Dona Maria" que não tem carro, que mora lá na periferia, vai pagar através do ICMS quando compra uma roupa, um alimento, um caderno; ou quem usa paga. Quem usa mais paga mais, quem usa menos paga menos. O modelo está correto, as rodovias são as melhores do país, você está ampliando a infra-estrutura do estado, melhorando o serviço público, reduzindo mortes. Agora, o programa de vinte anos é "imexível"? Não, ele pode ser corrigido e o Geraldo Alckmin vai corrigir. Já comecei pela marginal da Castelo Branco. Já demos o primeiro passo.

Gilberto Nascimento:  [interrompendo] O senhor concorda então que quem paga está pagando bastante?

Eleno Mendonça: Eu queria pegar uma carona e perguntar se isso não afugenta investimentos de empresas, por exemplo, que dependam de transporte de matéria-prima ou produtos?

Geraldo Alckmin: Eleno, eu vou lhe dar um dado de um trabalho feito pela Federação dos Transportadores de Carga de Minas Gerais. As estradas esburacadas de lá custam 100 milhões por mês, 1,2 bilhão de reais anuais. Nós vamos corrigir alguns casos, estamos criando um fundo onde vamos colocar recursos de publicidade, que hoje não existe, só para reduzir pedágio, vamos colocar recursos de multa só para reduzir pedágio. E há casos de rodovia de pista simples, onde o que você gasta para manter o pedágio é 40% do arrecadado. Então, não há razão para manter mais esse pedágio, nós vamos acabar. Só que para não ficar como coisa de véspera de eleição eu nem toco nestas questões. Mas é uma área que vamos mexer.

Celso Fonseca: A redução do número de pedágios está em pauta? Ela pode fazer parte dessa correção?

Geraldo Alckmin: Você tem dois modelos. Você pode ter menos praças, mas quem passar por aquela praça vai pagar um valor mais alto. Então, o que se discute é a chamada tarifa quilométrica. Não tem importância ter mais praças de pedágio desde que o valor seja menor.

Gilberto Nascimento: Governador, segundo a oposição o aumento na tarifa dos pedágios dos últimos tempos teria sido, para veículos comerciais, de 157,6% e, para os de passeio, 28,8%.

Geraldo Alckmin: Gilberto, o reajuste é uma vez por ano [com o] IGP-M [Índice Geral de Preços de Mercado]. O último reajuste, em julho, foi de 8,8%.

Gilberto Nascimento: Não procedem esses dados da oposição?

Geraldo Alckmin:  Eu estou lhe dando os índices. O reajuste é feito todo ano no mês de julho e o índice é o IGP-M. O último reajuste foi de 8,8%. Interessante, porque no Rio Grande do Sul também tem pedágio e se dizia "o Britto [Antônio Britto Júnior, governador do Rio Grande do Sul entre 1995 e 1998] é o pedágio. O PT é a solução".  O PT entrou e não diminuiu, dobrou o número de pedágios - porque só tinha na ida, passou a ter na ida e na volta. E lá não há investimento, é só tapa-buraco. Aqui em São Paulo nós estamos fazendo a [rodovia dos] Imigrantes sem um centavo do dinheiro público. Exclusivamente por meio do sistema de concessão.

Fernando Canzian: Governador, um dos principais problemas de qualquer família é ter onde morar. Inclusive, aqui no estado de São Paulo há um problema ambiental que é a ocupação de áreas de mananciais, áreas irregulares. Eu perguntaria ao senhor o seguinte: na campanha de 1998 foi prometido pelo então governador Mário Covas, que era candidato à reeleição, que seriam construídas 250 mil moradias populares no segundo mandato. Foram entregues, no entanto, até este ano, cerca de 40 mil; ou seja, um quinto do que foi prometido. Qual é o problema nessa área? O que aconteceu aí?

Geraldo Alckmin: Não, é que dois programas que o governo utilizava lá atrás, em 1998, o mutirão e chamamento empresarial, foram modificados. O Tribunal de Contas exigiu que, no caso do mutirão, aquele, quando faz o prédio, aquela parte estrutural, tem que ter concorrência pública. E isso acabou atrasando até definir essas questões com o Tribunal. Mas nós deveremos chegar até o fim do ano perto de 58 mil casas entregues, com chaves na mão das famílias, quase 60 mil em construção e mais de 50 mil, 60 mil em licitação. Fizemos, pela primeira vez, um entendimento com a prefeitura de São Paulo, disponibilizamos 100 milhões de reais para a prefeita Marta Suplicy.  Nós damos o dinheiro a ela, uma parte ela constrói em terreno da Cohab [Companhia Metropolitana de Habitação] e a outra parte, ela nos dá o terreno e nós construímos pelo CDHU [Companhia de Desenvolvimento Urbano e Habitacional do Estado de São Paulo]. Também vamos fazer no próximo mandato a urbanização de favelas, não só fazer prédios, mas urbanizar o que já existe. Estou lançando um programa chamado Prolar. Se você andar aqui em São Paulo, você vê a quantidade de casas inacabadas, pois falta reboco, falta pintura, falta um "puxadinho", falta um quarto. Quantas casas têm laje mas não têm telhados? Então, nós vamos financiar através do Banco do Povo [iniciativa do governo que oferece microcrédito para empreendedores que não conseguem ter acesso aos mecanismos tradicionais de financiamento disponíveis no mercado, possibilitando alternativas de ocupação e geração de renda], que já está em quase trezentos municípios , até cinco mil reais para a própria pessoa terminar sua casa.

Fernando Canzian: Agora, isso não causa outro tipo de problema? Porque muitas dessas moradias são irregulares até dentro do projeto do governo, quer dizer, o governo entregou milhares de casas e quase 60% desses casos não têm ainda a posse das moradias porque existe o problema de papelada. O senhor coloca o problema onde a pessoa pode eventualmente estar irregular...

Geraldo Alckmin: Fernando, mas eu não estou dizendo em área irregular.  A maioria das pessoas não terminou sua casa porque não tem dinheiro. Onde não for regular, por exemplo a favela, nós vamos urbanizar. Você vai fazer programas não só para fazer prédios. E [faremos] um grande programa para a erradicação de cortiços. O cortiço é a pior chaga, pior do que a submoradia, em termos de insalubridade. Nós assinamos um contrato com o BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] no valor de 65 milhões de dólares para erradicar cortiços de São Paulo, Campinas e Santos, o que vai revitalizar o centro dessas cidades. Nós vamos fazer os prédios, retirar os cortiços e dar moradia digna para as pessoas. Aliás, o programa já começou e quem passar ali no Tamanduateí, na Avenida do Estado [região central do município de São Paulo], verá um prédio bem colorido perto do Mercadão, o Mercado Municipal de São Paulo. Já é o primeiro prédio desse programa de erradicação de cortiços.

Paulo Markun: Pergunta de Gil Vicente Oliveira: por que o trecho oeste do Rodoanel ficou cerca de 70% mais caro do que o previsto na licitação? E Fábio Cosme, que é músico em São Paulo, pergunta se o Rodoanel é apenas um trabalho de campanha política ou se vai prosseguir.

Celso Fonseca: Posso só acrescentar uma pergunta? O Tribunal de Contas da União, no relatório preliminar [das obras do Rodoanel], detectou indícios de irregularidades na licitação. Eu queria saber se isso te preocupa.

Geraldo Alckmin:  Olha, em relação ao Rodoanel, não tem nada a ver com eleição, imagina! Aliás, amanhã será inaugurado o Viaduto Antártica [zona oeste de São Paulo], cuja reforma levou três anos. Ele pegou fogo no tempo do [Celso] Pitta [prefeito de São Paulo entre 1997 e 2000]. Nós gastamos quatro anos para fazer a maior obra rodoviária do país, que é o Rodoanel, é um tempo mais do que razoável. O Rodoanel interliga cinco das dez autoestradas que chegam na capital.

Celso Fonseca: Levou pelo menos trinta anos para sair do papel, não é?

Geraldo Alckmin: Exatamente. Quando a Dersa [Desenvolvimento Rodoviário S.A.] colocou-o em licitação, o orçamento era 600 milhões de reais com todos os aditivos. A obra já está entregue. Foi puxada a fita inteirinha, asa oeste com 32 quilômetros, que custa 585 milhões de reais, ou seja, abaixo do valor previsto. O preço do Rodoanel é 11,5 milhões o quilômetro, da  [rodovia dos] Bandeirantes é 12, 5 milhões, da [rodovia] Ayrton Senna é 17 milhões, da [rodovia] Carvalho Pinto 24 milhões, avenida Águas Espraiadas [atual Avenida Jornalista Roberto Marinho], 54 milhões o quilômetro. [O Rodoanel] é a obra mais barata do país. Infelizmente, a obra foi licitada com o projeto básico [conjunto de elementos que caracterizam a obra em licitação, elaborado a partir de estudos técnicos que garantem a viabilidade técnica, o impacto ambiental do empreendimento e a avaliação do custo da obra, métodos e cronograma de execução] e não com o projeto executivo [engloba a execução completa da obra, inclusive com os padrões da Associação Brasileira de Normas Técnicas]. E, na hora de executar, você tem um volume maior de obra. O projeto foi feito lá atrás, no começo da década de 1990, e a obra começou em 1999. Você também tem o lixão gigantesco que foi formado ao longo dessa década. Quanto às milhares de pessoas [do local], não deixamos ninguém desamparado, criamos a Cooperativa Habitacional Rodoanel para dar moradia à população dessa área urbana de São Paulo. E vamos continuar, minha proposta para o próximo mandato é a asa sul do Rodoanel para chegar até a Imigrantes, Anchieta, o grande corredor de importação e exportação e até [a região do] ABC [região industrial na Grande São Paulo que compreende cidades como Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul]. Aliás, São Paulo é uma das cidades mais motorizadas do mundo, com cinco milhões de veículos para cada 10 milhões de pessoas. A cada duas pessoas, um carro. O Rodoanel é o único caminho para tirar o tráfego pesado da cidade. Também vamos investir em transporte de alta capacidade e qualidade, que são metrô e trem. Expandir o metrô e recuperar 270 km de ferrovia que nós já começamos a recuperar.

Paulo Markun: Pablo Hamílton, que é da Grande São Paulo, diz que pouco se falou nessa campanha sobre a cultura, de um modo geral. Que projeto o senhor tem para a cultura no próximo governo?

Geraldo Alckmin:  O governador Mário Covas se destacou nesta área da cultura. Primeiro com a Sala São Paulo [é sede da Orquestra Sinfônica de São Paulo, localizada no Complexo Cultural Júlio Prestes], antiga Estação Júlio Prestes, que é a melhor sala de concertos da América. A recuperação do prédio do DOPS [o prédio do Departamento de Ordem Política e Social foi reformado para abrigar o Memorial da Resistência, que homenageia as vítimas e resgata o período em que lá funcionou, de 1935 a 1984, a polícia política das ditaduras getulista e militar], enfim, o centro de São Paulo está sendo revitalizado por meio da cultura. Temos programas sociais premiados como o projeto Guri, trabalhando com musicalidade, com o jovem. E eu apresentei pela primeira vez no BID um financiamento para área social. O presidente [Enrique V. Iglesias, na época] ficou entusiasmadíssimo por ser para a cultura. Nós vamos levar a essas áreas mais violentas, especialmente periferia das grandes cidades, projetos culturais, oficinas, teatro, música, dança, cultura e esporte. Estamos encaminhados para assinar o contrato só para essa área cultural, esportiva, enfrentando a violência, com lazer e entretenimento para as áreas mais carentes de São Paulo. E a Assembléia aprovou outra linha de financiamento, que é a loteria para a cultura, para financiar o teatro e o cinema. Nós temos bons projetos aqui, como o teatro a um real, que é sucesso absoluto, teatro para o interior do estado.

Celso Fonseca: O senhor falou da Sala São Paulo. Petende transferir a sede do governo para o centro da cidade, a fim de ajudar esse processo de revitalização?

Geraldo Alckmin: Celso, o que nós vamos fazer de imediato é levar para o centro as Secretarias de Estado. Eu não as levei ainda por que a multa contratual é muito alta, mas todos os contratos terminam no fim do ano. A Secretaria da Habitação e o CDHU estão [na região dos] Jardins, na avenida Nove de Julho, pagando um aluguel caro. Todos vão para o centro da cidade, onde o aluguel é muito mais barato e, com isso, nós ajudamos a revitalizar. A Secretaria de Transporte Metropolitano, que está na Avenida Paulista, também vai para o centro. Algumas já foram, como a Secretaria de Segurança Pública. Quanto ao governo do estado, a sede do governo, vamos avaliar melhor porque nos prédios que foram colocados não cabe nenhuma parte do governo e vai "levar um dinheirão". O governo está instalado, para que gastar dinheiro em atividade-meio? As Secretarias, é para fazer economia já que o aluguel é muito mais barato. Então, é preciso analisar sempre o custo menor.

Eleno Mendonça: Governador, o senhor recentemente criticou a elevação da taxa de juros por parte do governo Fernando Henrique, disse que era um momento inadequado e que não havia necessidade de elevar os juros naquele momento. O senhor continua pensando assim? Acredita que o aumento da taxa de juros, de certa maneira, contribuiu para enfraquecer uma possível retomada do candidato José Serra?

Geraldo Alckmin:  Não, eu acho que nunca devemos analisar sob o ponto de vista eleitoral. Eu venho, desde o ano passado, dizendo: "da mesma forma que o governo, em situações que sua moeda está sofrendo  especulação e você deve rapidamente procurar defendê-la e elevar a taxa de juros, também deve reduzi-la. Não é possível você manter taxa de juros alta por tanto tempo, acaba levando a uma retração da área econômica". Isso eu falei pessoalmente ao presidente da República. Acho que nós tivemos um aumento que possibilitava a redução da taxa de juros. Nesse momento, para evitar a volta da inflação, a primeira reação do mercado não foi boa, não atingiu o objetivo. No segundo momento, até que trouxe alguma tranqüilidade. Mas falei, no início, do grande esforço exportador: para se ter mais superávit na balança comercial, menos dependência externa, menos fragilidade e poder reduzir as taxas de juros.

Helena Chagas:  Governador, o senhor é um dos mais antigos aliados do presidente Fernando Henrique, é fundador do PSDB junto com ele, acompanhou todo...

Geraldo Alckmin: Oitava assinatura [refere-se ao documento de fundação do partido].

Helena Chagas:  Exatamente. E agora, o presidente Fernando Henrique, depois de oito anos -  mesmo tempo que o PSDB está governando São Paulo - está ameaçado de deixar a Presidência sem fazer um sucessor, com uma popularidade relativamente baixa para o primeiro presidente reeleito. O que o senhor acha? Esgotou-se o projeto de poder, o modelo de economia empregado pelos tucanos? O que aconteceu?

Geraldo Alckmin: Nossa proposta continua. O Aécio Neves acabou de vencer em Minas Gerais no primeiro turno.

Helena Chagas:  Mas, em nível federal, parece que o povo não está mais satisfeito com o partido...

Geraldo Alckmin: Aqui em São Paulo nós estamos indo bem e eu estou animado. Eu não vou decepcionar o povo, acho que vou fazer um grande governo. Em nível federal, o presidente da República é um estadista, cumpriu um papel importante. A popularidade é variável, hoje está mais baixa, amanhã está mais alta, depende do momento. Mas o presidente tem credibilidade e está dando um exemplo democrático, cumprindo o período de transição com um comportamento de magistrado. Esse fato é importante.

Fernando Canzian: Governador, mas o que explica, na sua opinião, o que o Maluf chegou a chamar de "ventania petista", que inclusive colocou o José Genoino no seu calcanhar nesta eleição? A que o senhor atribui isso, é um esgotamento de modelo, cansaram da política econômica, dos tucanos? O que aconteceu?

Geraldo Alckmin: Eu acho que o PSDB tem uma contribuição enorme para o país, tem bons quadros, boas propostas. É que em eleição, você ganha e você perde. Isso é próprio do regime democrático.

Eleno Mendonça: Governador, o senhor não acha que o presidente demorou a se engajar na campanha do Serra, da mesma maneira que o Serra demorou para defender o Fernando Henrique?

Helena Chagas: O senhor não acha que o Serra teve uma atitude ambígua na campanha, jamais se assumiu? O senhor fez sua campanha inteira, é governador, defendeu seu governo. O Serra pouco defendeu o governo Fernando Henrique, não acha?

Geraldo Alckmin: Não, o Serra nunca fugiu de defender o governo ou de dizer "tenho responsabilidade no governo". Até porque foi ministro do Planejamento e ministro da Saúde. Ele procurou usar uma estratégia dizendo: "Não está se discutindo aqui o passado, mas o futuro, quem tem a melhor proposta, dar outros avanços. E eu tenho condição de garantir as conquistas, como a estabilidade de preço, e avançar muito mais no crescimento do emprego".

Helena Chagas:  O senhor, por exemplo, está defendendo o seu governo e o passado, e está em primeiro lugar.

Geraldo Alckmin:  Eu não sei, essa foi a estratégia que ele utilizou. Agora, é evidente que o governo tem que se defender, é uma questão de coerência. Não é só acerto, tem que reconhecer que também há erros. Toda obra humana tem erros.

Helena Chagas: Qual foi o principal erro do governo Fernando Henrique Cardoso, na sua opinião?

Geraldo Alckmin:  Eu vou citar um, que posso falar em público, porque já disse ao presidente. Eu acho que houve demora na questão da flexibilização do câmbio, o que acabou criando problemas. Esse foi um momento, diga-se de passagem, que o José Serra sempre defendeu que nós tivéssemos um câmbio livre antecipado e isso poderia ter tido um melhor resultado em termos de crescimento da economia. Agora, vamos analisar também que estamos em um momento mundial onde o ciclo econômico é mais devagar. A Europa está com a economia quase parada. Os Estados Unidos saíram daquele momento de euforia de crescimento enorme para uma economia deprimida. É um ciclo econômico mundial de retração de atividade econômica.

Helena Chagas: Até por isso, será possível aos novos governadores cumprir tudo o que estão prometendo e manter as contas públicas, o superávit, não renegociar dívidas estaduais? Como o senhor vê?

Geraldo Alckmin:  Por isso que eu digo que precisamos ser coerentes. Se vier turbulência pela frente o viaduto, o túnel, vão esperar um pouco. Eu vou investir para valer na área social como saúde, educação, educação para o trabalho, todas as políticas de geração de emprego e segurança. Governar é escolher. Não é cobertor curto? Então você tem que escolher a prioridade.

Gilberto Nascimento: Governador, eu tenho uma curiosidade. Li uma entrevista do senhor no Estadão [jornal O Estado de S. Paulo], na qual o senhor falou que seu livro de cabeceira é Caminho [1999], do Josemaria Escrivá. O senhor tem alguma afinidade com Escrivá? Ele era líder da Opus Dei, uma organização católica conservadora.

Geraldo Alckmin: Eu sou católico apostólico romano. Meu pai foi seminarista, era franciscano da Ordem Terceira de São Francisco. Então, aprendi desde pequeno essa questão religiosa. Eu até brincava com ele porque quando eu era criança, eu queria ir só à missa do padre Zé Maria, porque era mais curta. E ele brincava comigo: "Meu filho, não é a missa que é longa, é a fé que está curta". Então eu sempre fui, gosto de ler a Bíblia, estudar, leio os pensamentos em Caminho, do Monsenhor Escrivá. Eu não vejo razão alguma para haver preconceito.

Gilberto Nascimento: Governador, o que o senhor acha da Opus Dei?

Geraldo Alckmin: É uma organização religiosa respeitada. Aliás, o Monsenhor Escrivá foi santificado pelo Papa João Paulo II [Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana de 16 de Outubro de 1978 a 02 de abril de 2005, data da sua morte]. 

Fernando Canzian: Governador, uma das máximas franciscanas é “é dando que se recebe”. Eu perguntaria se o senhor teria algum tipo de concessão para o PT em São Paulo, caso o senhor venha a ser eleito, e o Lula [a] presidente, para compor um acordo mais geral com o novo presidente.

Geraldo Alckmin: Fernando Canzian, acho que devemos ter humildade, cautela com eleição, a gente não deve antecipar resultado eleitoral. Vamos trabalhar pelo nosso candidato, que é o Serra, trabalhar para chegar à eleição. Mas eu quero destacar um fato que me chama a atenção, mostrando que nós estamos em uma nova política, em um patamar mais elevado. Recebi apoio do PTB, do PPS, do PV, de toda a bancada do PDT, do PSB de São Paulo, mesmo contrariando a decisão nacional, do PRP, da bancada estadual e federal do PMDB, de quase todos os partidos. Já estamos com dois terços da futura Assembléia Legislativa de São Paulo, o que é muito bom para a governabilidade. Nós vivemos em um outro momento da política. Isso é bom, é positivo para a vida do país.

Celso Fonseca:  O senhor acha que melhorou?

Geraldo Alckmin: Eu não tenho dúvida. Eu era deputado estadual e o [André Franco] Montoro [(1916-1999) político e um dos fundadores do PSDB. Foi eleito governador de São Paulo em 1982, na primeira eleição direta para o cargo desde 1965] era governador e fez uma homenagem ao jurista [Heráclito Fontoura] Sobral Pinto. Uma jornalista perguntou ao Dr. Sobral, naquela época: "O senhor acha que o povo sabe votar?". E ele disse: "Olha, não se aprende a nadar sem entrar na água. É um exercício democrático que vai se aprimorando. Errou, corrige na próxima. Eu confio no julgamento popular, o povo erra muito menos do que as nossa elites".

Celso Fonseca: Uma marca da administração Covas e Alckmin, mais do governador Mário Covas, foram diversas privatizações. E dois telespectadores perguntam sobre eventuais privatizações. Wanderlei Tortolano, aqui de São Paulo, que é funcionário da Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo] pergunta se, como o senhor foi presidente da Comissão de Privatização do estado, pretende privatizar a Sabesp. Paulo Biriba, bancário, pergunta se o senhor vai privatizar a Nossa Caixa?

Geraldo Alckmin: Primeiro, a nossa proposta para a Nossa Caixa é muito clara. É banco público, banco estatal, o controle é do estado. O que nós estamos fazendo é criar subsidiárias integrais para o banco ter competitividade. Hoje nós queremos que a  Nossa Caixa  cresça, que possa competir, seja um banco forte para cumprir uma função social, também importante. Então, como você vai conseguir agilidade com a Lei 8.666, que é a Lei de Licitações? Então, subsidiária integral para capitalização, cartão de crédito, seguro, haverá criação de subsidiárias integrais, sempre subordinadas à Nossa Caixa. Segundo, Sabesp é estatal, área de saneamento básico. Vamos manter a Sabesp estatal com dois terços das ações do estado, como dizem a legislação e a Constituição de São Paulo. E a Sabesp está crescendo, só não cresce mais porque a gente segura um pouco, já que muitos municípios querem que ela tenha a concessão nas suas áreas de água e esgoto.

Paulo Markun: Emerson Camargo, que é químico, da Universidade Federal de São Carlos, no interior do estado, afirma que a Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] está virtualmente quebrada. Importantes projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos no estado estão sendo prejudicados por causa da difícil situação financeira da principal agência de fomento de ciência e tecnologia no país. Portanto, ele perguntou como o senhor deixou a situação chegar a esse ponto e quais as propostas para evitar que ela quebre novamente.

Geraldo Alckmin: Primeiro, eu quero contestar veementemente o que foi colocado. São Paulo é um dos poucos estados do Brasil onde 1% do ICMS é só para a Fapesp. Isso é cumprido religiosamente há vinte anos. E eu cumpro com absoluto rigor. Nós investimos meio bilhão por ano em pesquisa em São Paulo. O Brasil está entre os poucos países do mundo que estuda o genoma humano do câncer, a seqüência do DNA das células cancerosas, para você ter conhecimento de tratamento e de prevenção. Eu posso até confirmar, mas a Fapesp tem 400 milhões de reais depositados.

Paulo Markun: Governador, nosso tempo está se esgotando, mas foi divulgada agora à noite uma pesquisa do Ibope mostrando que o senhor subiu de 50% para 51% dos votos, e o candidato José Genoino permaneceu com os mesmos 41% da última pesquisa. Brancos e nulos são 3% e indecisos, 5%. São percentuais relativos ao total de votos. No cálculo de votos válidos, a sua posição seria de 55% para 56% e Genoino, de 45% para 44%. Essa pesquisa ouviu duas mil pessoas em 94 cidades e tem margem de erro calculado em 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. Ela é mais ou menos parecida com outras pesquisas que foram divulgadas nos últimos dias e que indicam o senhor na frente do candidato do PT. Eu sei que o senhor disse mais de uma vez que pesquisa é fotografia do momento, que o importante é a pesquisa de domingo etc. Mas, a poucos dias da eleição, o senhor acha que algo pode mudar esse cenário eleitoral?

Geraldo Alckmin: Pode, por isso nós trabalhamos sem parar. Aqui não tem salto alto. Eu sempre digo para os meus companheiros: "pé no chão, sandália havaiana, humildade e trabalho até o dia da eleição".

Eleno Mendonça: E em relação ao Serra?

Geraldo Alckmin: Mesma coisa. Trabalho, trabalho, trabalho. O Mário Covas disse: "Lealdade não é um traço no Ibope, mas um traço de caráter". Então vamos trabalhar, não interessa se ele tem 20%, 30% [de intenções de voto], porque nós acreditamos que é um bom candidato. Eu não tenho dúvida de que o Serra é um homem preparado para alta responsabilidade. O problema não é só ganhar a eleição, depois tem que governar. E acho que ele é um homem preparado para fazer um bom governo. Nós vamos trabalhar até o dia da eleição. É claro que a pesquisa anima, acho que a nossa proposta está sendo bem recebida pela população. Não falamos mal de ninguém, não fazemos política no sentido de depreciar o competidor, falamos do futuro e sem enganar as pessoas. Eu quero poder olhar nos olhos das pessoas antes e depois da eleição.

Paulo Markun: Governador Geraldo Alckmin, muito obrigado por sua entrevista, boa sorte nesta reta final de campanha. Obrigado aos nossos colegas e a você que está em casa. Nós voltamos na próxima segunda-feira, às dez e meia da noite, com mais um programa Roda Viva. Uma boa semana, uma ótima eleição, acompanhe a cobertura aqui pela Rede Cultura, que passará todos os números, informações, debates, no domingo, na eleição e segunda-feira, no Roda Viva.

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