;

Memória Roda Viva

Listar por: Entrevistas | Temas | Data

Jayme Sirotsky

13/5/1996

Prestes a assumir a presidência da Associação Mundial de Jornais, o jornalista, grande defensor da liberdade de expressão, fala das responsabilidades dos meios de comunicação e da evolução da mídia no Brasil

Baixe o player Flash para assistir esse vídeo.

     
     

Matinas Suzuki: No centro do Roda Viva está o gaúcho Jayme Sirotsky. Natural de Passo Fundo, aos 62 anos Sirotsky assume o cargo de presidente da Associação Mundial de Jornais [AMJ] no próximo dia 22, em Washington, no encerramento do 49º Congresso Mundial de Jornais. Com sede em Paris, a associação reúne cinqüenta associações de editores de 48 países, representando 15 mil jornais, 14 agências de notícias e sete organizações de jornais regionais de todo o mundo. Jayme Sirotsky é também presidente do conselho de administração do grupo RBS [Rede Brasil Sul] que publica o jornal Zero Hora, entre outros. Com sede em Porto Alegre, a RBS atinge principalmente os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, mas se prepara para lançar nacionalmente em setembro o Rural Sat, o primeiro canal vinte e quatro horas dedicado à agricultura. Para entrevistar esta noite o Jayme Sirotsky, nós convidamos: o jornalista Alberto Dines, fundador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo [Labjor] da Unicamp; o editor chefe do Jornal do Brasil, Marcelo Pontes; Eleonora de Lucena, secretária de redação da Folha de S.Paulo; Neide Duarte, repórter especial do TJ Brasil, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Américo Antunes, e Marco Antonio de Resende, diretor de redação da revista Vip e Exame da Editora Abril. O Roda Viva é transmitido em rede nacional por 150 outras emissoras de 21 estados brasileiros e está completando 10 anos. Nós estamos fazendo uma série de programas com os principais grupos de comunicação do país. Boa noite, Jayme.

Jayme Sirotsky: Boa noite, Matinas. Pode não ser importante para os telespectadores ou para ti, mas um pequeno detalhe aqui: não são 62, mas 61 até outubro.

Matinas Suzuki: Perdão. Desculpe a nossa falha.

Jayme Sirotsky: São alguns meses significativos [risos].

Matinas Suzuki: Mas você, então, chegará ao 62 como presidente da Fiej. Você pode contar um pouco para o nosso telespectador o que é a Associação Mundial de Jornais, que atividades ela desenvolve e por que um brasileiro foi alçado à presidência desse organismo máximo das empresas jornalísticas do mundo?

Jayme Sirotsky: A Fiej nasceu no pós-guerra [Segunda Guerra Mundial], em 1948, na França, como tantas organizações que se estruturaram após aquele imenso problema sofrido pela humanidade. A sede em Paris chamou-se originariamente Fédération Internationale des Éditeurs de Journaux [Federação Internacional dos Editores de Jornais]; até hoje, estatutariamente, ela precisa ser bilíngüe... francês e inglês. Ela se estruturou voltada prioritariamente à idéia da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão, que estava muito evidenciada na Carta da ONU, na Declaração dos Direitos do Homem. E, depois, evidentemente, ela se voltou também para fortalecer a atividade jornalística como atividade empresarial e faz isso até hoje. Faz com extrema atenção e, também, através do seu Fórum Mundial de Editores, proporciona a troca de informações, o aprimoramento profissional de editores de jornais do mundo inteiro. Ela, ao longo desses anos, cresceu muito, consolidou-se em importância, é hoje interlocutora oficial de grandes organizações como a ONU, Unesco, os organismos da Europa. E tem, entre as suas atividades, algumas que são fascinantes dentro deste mundo que está sofrendo modificações tão expressivas, sobretudo nesses últimos anos. Uma delas, apenas para exemplificar... depois da queda do Muro de Berlim houve todo um processo de redisposição dos meios de comunicação nos Balcãs, no leste europeu e nos países da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas [URSS]. Ora, esses profissionais não sabiam como se comportar dentro de um ambiente com liberdade de expressão. Todos eles eram oriundos de Estados que dominavam a mídia. A Fiej – à qual a nossa Fenaj, presidida pelo Américo Antunes, é filiada – em associação com a International Federation of Journalists fizeram, desde então, constantes seminários, cursos, aperfeiçoamentos, adestramento de jornalistas com fundos providos pelo mercado europeu e que estão resultando na melhoria de capacitação profissional de centenas e centenas de jornalistas todos os anos. Essa é uma das muitas outras atividades desenvolvidas por essa entidade que, nessa sua maturidade, está hoje com presença de setenta e tantos países, como você mencionou, representando cerca de 15 mil jornais e associações de notícias.

Matinas Suzuki: Jayme, você já é vice-presidente?

Jayme Sirotsky: Eu sou vice-presidente, a minha militância nesses organismos é antiga. A Sociedade Interamericana de Imprensa, primeiro, e na Fiej, depois, é resultado de uma constatação de que nós, que já estamos entrados nos sessenta anos, ou aqueles que tiveram como nós oportunidade de viver momentos de falta de liberdade, da ausência de liberdade... E foi o que todos nós, jornalistas brasileiros, vivemos aqui num período bastante largo. Nessas ocasiões, quais eram as entidades que socorriam os jornalistas brasileiros, os jornais brasileiros? Eram estas: a Sociedade Interamericana de Imprensa, a Fiej, o World Press Freedom Committee. E foi então que percebi o quanto seria importante auxiliar na preservação dessas entidades, porque se tem como "favas contadas" a liberdade de expressão – eu acho que é um erro.

Matinas Suzuki: Como você avalia hoje a situação internacional na questão da liberdade de expressão? Estamos avançando? A situação é melhor do que dez anos atrás?

Jayme Sirotsky: Sem dúvida, é melhor. Em vários ambientes você encontra essa melhora, [por] exemplo: América Latina. Há muito tempo nós não tínhamos aqui regimes democráticos vigentes na quase totalidade dos países, a única exceção hoje é Cuba. Outro exemplo que acabei de mencionar, o leste europeu. Nesses últimos anos, nasceram centenas e centenas de novos meios de comunicação, jornais, revistas, muitas emissoras de rádio, canais de televisão nessas sociedades que estão modificando a estrutura e o processo de convivência dos meios de comunicação com a sociedade.

Matinas Suzuki: Marco Antonio.

Marco Antonio de Rezende: Sirotsky, por favor. Acho mais que oportuno que um brasileiro vá presidir, agora, a entidade que tem como bandeira a liberdade de imprensa sobretudo aqui no Brasil. Agora está se discutindo uma nova lei de imprensa. Está mais que provado que, quanto mais democrático um país, mais liberdade de imprensa ele tem e quanto mais liberdade de imprensa tem, mais desenvolvido costuma ser. Por que, na sua opinião, existe quase um "tique nervoso" da elite política brasileira de querer controlar a imprensa no Brasil?

Jayme Sirotsky: Nós, nessas entidades que mencionei, nós defendemos há muito tempo a idéia de que a melhor lei de imprensa é a que não existe. A Sociedade Interamericana de Imprensa [SIP], a [própria] Fiej têm esse princípio, essa posição. Mas [é] evidente que essa determinação varia de sociedade para sociedade. Em muitas sociedades amplas e abertamente democráticas existem leis de imprensa; algumas delas, inclusive, são documentos muito bons, que têm representado um bom elemento de convívio entre os meios de comunicação e a sociedade sem ferir a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. No caso brasileiro, nós temos uma tradição de leis específicas para o setor de imprensa até chegarmos à atual. Esta, sim, uma distorção. É uma lei que data de 1967 e que é fruto, por conseqüência, de um momento de exceção da nossa sociedade, que, aliás, não foram  [momentos] tão infreqüentes infelizmente. Mas foi uma lei que surgiu dentro do regime de exceção, momento em que não vivíamos democraticamente, em que vivíamos num regime militar. E essa lei [tem] falhas gritantes, não bastasse o fato de ser uma lei promulgada num regime de exceção, ela está defasada no tempo, quando houve modificações fundamentais nos sistemas de comunicação. Ela é uma lei que tem uma odiosa situação, que não permite a defesa da exceção da verdade, é uma situação terrível em que os donos do poder ficam ao abrigo de acusações que, ainda que possam ser provadas, não podem ser contra eles utilizadas. Ela não trabalha adequadamente com uma das situações delicadas nas relações dos meios com a sociedade, que é o direito de resposta. Ela é anacrônica do ponto de vista da punição que se dá aos jornalistas ou às pessoas processadas, uma pena privativa de liberdade: isso é uma tendência em desuso no mundo todo, na verdade, não apenas para jornalista, mas para muitas outras atividades. Sempre que o indivíduo que transgride não coloca em risco a sociedade, não se deve colocá-lo numa prisão, afastando-o da sociedade. E, finalmente, ela trabalha também mal alguns aspectos da punição, das multas, por isso a necessidade de eliminá-la, se possível, ou então modernizá-la.

Marco Antonio de Rezende: Mas como evitar que venha coisa pior ainda por aí?

Jayme Sirotsky: Com discussão e o bom senso. Se o nosso Congresso, através do Senado e da Câmara, entende que nós não podemos viver sem uma lei específica que regulamente a relação entre os meios de comunicação com a sociedade, que ela seja a mais singela, a mais tranqüila, a mais calma possível e que, na medida do possível, não seja uma lei perecível de prazo curto. Isso foi o que nós, na Associação Nacional de Jornais, defendemos e defendemos ardorosamente desde que o processo da nova legislação começou a ser discutido em 1989 por uma proposta do senador Josaphat Marinho [(1915-2002) senador pela Bahia entre 1963-1971 e 1991-1999. Participou da fundação do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) nos anos 1970. Exerceu o segundo mandato sob a legenda do PFL (Partido da Frente Liberal), período em que  foi relator-geral do novo Código Civil brasileiro e propôs uma emenda na lei de imprensa em 1991]. Essa lei foi discutida no Senado, relatada pelo senador Fogaça [(1947-) senador por quatro mandatos, 1987-1995 e 1995-2003. Em 2003 assumiu a prefeitura de Porto Alegre. Defendeu a adoção do parlamentarismo durante a Assembléia Constituinte em 1986. Foi um dos responsáveis pela elaboração do texto final da Constituição de 1988], do Rio Grande do Sul. Chegou-se a um instrumento melhor do que o da lei atual, consideravelmente melhor do que da lei atual, e esse projeto passou, então, como é o rito legal brasileiro, para apreciação da Câmara Federal.

Marcelo Pontes: O que a gente nota é que há um certo ressentimento do Congresso com as críticas, que o Congresso considera exageradas da imprensa, às atividades parlamentares e do próprio Congresso. Eu te pergunto o seguinte: o Congresso merece as pancadas que tem levado da imprensa? Segundo: a imprensa é injusta com o Congresso? Ou a imprensa não sabe cobrir o Congresso?

Jayme Sirotsky: Acho que não há respostas absolutas para as indagações que tu colocas. Primeiro: a imprensa erra não apenas com relação ao Congresso, mas com relação a uma porção de outras situações. O Congresso é o mais exposto dos poderes institucionais – isso é um “chavão”, se diz isso com extrema freqüência –, é o que está mais aberto à sociedade e, por conseqüência, é aquele que é criticado com mais intensidade. A imprensa não sabe cobrir o Congresso? É possível que nós tenhamos que aprimorar, que todos nós tenhamos que revisar a maneira como cobrimos o Congresso, como, de resto, em todas as nossas redações, revisa-se a todo instante a maneira como fazemos as nossas atividades. Então, por outro lado, o ponto em que tu mencionaste desse "estressamento" das relações entre o Congresso e a imprensa não é uma exclusividade da sociedade brasileira, acontece em várias sociedades. A função da imprensa é uma função muito difícil, ela é um contrapoder; ela deve, na verdade, colocar-se tanto quanto possível com uma visão crítica, claro que não apenas do poder legislativo, mas de todos os poderes institucionais, de todos os segmentos organizados da sociedade. E, em certos momentos, há uma situação mais delicada em que alguns congressistas se sentem mais atingidos e esse caso foi um desses episódios. Nós tivemos como elemento deflagrador desse último atrito entre os congressistas e os meios de comunicação, algumas críticas levantadas por vários meios de comunicação quanto à postura de alguns congressistas. As lideranças do Congresso, várias delas se sentiram desconfortáveis com essas críticas e propuseram uma discussão em regime de urgência urgentíssima do projeto de lei, que está na Câmara Federal. Essa urgência urgentíssima não convém a ninguém, nem aos congressistas nem à imprensa e muito menos à sociedade. Por isso é que, passados alguns momentos de maior pressão por decorrência desse estressamento das relações, voltou o bom senso, o ritmo prossegue, o projeto está nesse momento em andamento na Comissão de Constituição e Justiça [da Câmara], já como relator designado, deputado Vilmar Rocha [fundador e primeiro presidente do PFL (GO). Assumiu o cargo de relator do projeto de lei da imprensa em 1995]. Estou certo, o nome aqui?

[...]: Exatamente.

Jayme Sirotsky: Inclusive, já disse aos meios de comunicação que entendem que algumas das modificações introduzidas no projeto na comissão de comunicações devem ser reconsideradas, sendo que as duas mais expressivas são exatamente a volta à punição com pena privativa de liberdade aos jornalistas e uma reavaliação do sistema de multas que está estabelecido no projeto.

Marcelo Pontes: De qualquer forma é uma arma de barganha do Congresso. O Congresso tem essa lei sobre a mesa e pode, enfim, é uma tentativa de intimidar a imprensa, você vê dessa maneira?

Jayme Sirotsky: Acho que pode ser considerada, sim, espero que não seja. Acho que os nossos congressistas têm a grandeza de compreender que o maior ativo de uma sociedade democrática é uma imprensa tão livre quanto possível. Não existe a liberdade absoluta, nem para a imprensa e nem para qualquer outro segmento.

Matinas Suzuki: Américo, um minuto antes eu só queria dizer que o nosso telespectador Marcos Rosendo, do Butantã, está interessado nessa questão e enviou uma questão sobre o que você acha da proposta de lei que está no Congresso, parcialmente respondida e provavelmente a pergunta do Américo continua nessa direção.

Américo Antunes: Nessa direção, Jayme, eu queria colocar duas questões. A primeira delas é: quando você constata que há um avanço na liberdade de imprensa no mundo? Porém há indícios ainda muito negativos sobre essa questão. O Brasil, por exemplo, o ano passado foi o campeão em assassinatos de jornalistas na América Latina, com quatro jornalistas assassinados, todos os crimes ainda impunes. E tivemos também o caso mais gritante da Argélia, onde há uma perseguição brutal aos jornalistas. Sem contar os dados internacionais, são de 60 mortos, 60 jornalistas mortos em serviço no ano passado. Então, eu queria que você colocasse um pouco sob essa ótica, quer dizer, tem um avanço da liberdade de imprensa, mas as ameaças, as agressões, esses assassinatos continuam sendo recorrentes, inclusive em países democráticos. A segunda questão é sobre a lei de imprensa, quer dizer, me parece que há uma... Os dados que nós temos são de que se há, por exemplo, um problema no legislativo que está apreciando um sentimento, até de revanche no Congresso com relação à postura da imprensa sobre as questões, desde o impeachment do presidente Collor às condenações, das sete condenações do período 1992/93. Em geral, os jornalistas foram condenados por matérias sobre denúncias de nepotismo no judiciário, tribunais regionais de trabalho etc, ou seja, sete condenações por crimes de imprensa, inclusive, com pena de privação da liberdade entre 92/93, seis casos são de jornalistas que denunciaram o poder judiciário... Ou seja, a bola me parece que está um pouco na mão do judiciário, embora concorde que há um sentimento de revanche muito presente no Congresso e me parece que a Zero Hora tem uma experiência muito recorrente disso também. O Judiciário está na cola do Zero Hora lá em Porto Alegre.

Jayme Sirotsky: Vamos por partes. A primeira colocação que você fez, o fato de estarmos vivendo um melhor ambiente de liberdade de expressão não quer dizer que estejamos já no melhor dos mundos, muito pelo contrário: há uma mancha muito grande no mundo de sociedades que vivem ainda sem liberdade de expressão. Na verdade, mais do que a metade da população do mundo. Se você considerar a China, o Oriente, uma parte importante da África, isso já representa, do ponto de vista da numerologia, todo o Oriente Médio, com exceção de Israel e algumas luzes que começam a ser acendidas no Líbano. Em um ou dois daqueles Emirados Árabes vive-se ainda numa visão obscura do que seja e do que possa ser liberdade de expressão. Em conseqüência, há muito que fazer. Particularmente, quando a gente fala na posição do Brasil, nós nunca vivemos – aí é um ponto de vista meu –... nunca vivemos um regime tão limpo de liberdade de expressão. Não tenho lembranças, no meu período de vivência com essa atividade - e já vão lá longos anos, de termos tido um momento tão aberto de liberdade de expressão. O outro ponto a que você está se referindo... infelizmente, o problema do assassinato ou prisão de jornalistas é decorrente de outras situações inclusive. Nós vivemos momentos de sociedades que estão sendo sacudidas por situações muito difíceis. Por exemplo, o narcotráfico representou a morte de muitos jornalistas, sobretudo, na Colômbia, na Bolívia, no Panamá durante alguns anos. Agora, ainda recentemente, infelizmente aconteceram esses casos. Essa é uma estatística dolorosa que acontece em vários pontos do planeta por diversas razões. Nos regimes fundamentalistas islâmicos isso tem acontecido com freqüência. Agora mesmo, no Egito, houve recentemente uma ou duas mortes de jornalistas decorrentes de distúrbios provocados pelos fundamentalistas [fundamentalismo] que, no caso do Egito, estão procurando desestabilizar o sistema político daquele país. Aqui, no caso brasileiro, ainda que tivéssemos referido essa circunstância do poder legislativo, os três poderes institucionais têm sido, e deverão continuar a ser, criticados pelos meios de comunicação, analisados, avaliados, criticados quando necessário, denunciados quando for o caso. E a maneira como eles aceitam, recebem essas críticas é diferente, realmente. Aí, de fato, o Congresso, o poder legislativo é o que se familiarizou com mais adequação a aceitação da importância de existirem, tão abertas quanto possíveis, essas críticas. O poder executivo, em segundo lugar, e o judiciário é o menos permeável de todos até este momento.

Eleonora de Lucena: Eu queria perguntar um pouco sobre a imagem dos meios de comunicação, especificamente do grupo que o senhor dirige. Há uma crítica muito presente nos dias de hoje de que os meios de comunicação em geral aderiram, digamos, ao governo de uma forma muito forte, que praticam o jornalismo chapa branca [expressão com origem na cor da placa de carros oficiais e que, no meio jornalístico, é utilizada para designar as empresas de comunicação que dão apoio ao governo em forma de reportagens favoráveis]. Existe muito essa discussão e críticas são apresentadas às TVs, aos jornais. No caso da RBS, que é  praticamente a única grande empresa de comunicação nos dois estados do sul, imagino que essa crítica talvez seja mais forte, até pelo fato da posição que ela ocupa. Como o senhor vê, essa crítica do jornalismo está pouco [associada] aos governos. O senhor acha que a RBS é pouca crítica em relação aos governos em geral, especificamente aos governos dos dois estados do sul nos quais a sua empresa tem órgãos importantíssimos?

Jayme Sirotsky: Em alguns momentos acho, mas na maioria das vezes não. Nós exercitamos um jornalismo que procura ser adequado dentro dos conceitos de prática de jornalismo que nós definimos dentro da nossa casa e que estão em linha com o que se convenciona chamar de um jornalismo moderno. Um jornalismo independente, um jornalismo que apura, com adequação as informações e elogia quando convém, perdão, quando é importante que haja elogio e critica quando é necessário. Concordo que o governo, o executivo atual está tendo uma simpatia apreciável, de um modo geral, por parte dos meios de comunicação, talvez como decorrência da circunstância muito incomum de que, nesses dois anos, esse governo vem conseguindo manter um processo de estabilização da nossa moeda, que é talvez uma das conquistas mais apreciáveis que temos tidos nesses últimos tempos.

Eleonora de Lucena: Mas, ao mesmo tempo, esse governo, nos estados do sul... Os números mostram que a recessão ou o desaquecimento, se quer chamar assim, é muito forte nesses estados. Hoje mesmo o IBGE divulgou dados sobre a atividade industrial e a queda no primeiro trimestre no Rio Grande do Sul e foi de 17,9% – só para ter uma idéia, em São Paulo foi de 13% –, quer dizer, o Rio Grande Sul caiu bastante no seu índice de atividade industrial, Santa Catarina também teve uma queda expressiva. São estados que, nesse processo de ajuste servido pelo governo, têm sentido bastante do ponto de vista econômico. O senhor acha que os jornais e as TVs que o senhor dirige têm expressado isso? Ou é o preço do processo que está em curso?

Jayme Sirotsky: Não, não. Nós temos, muito freqüentemente, colocado esses pontos com a discussão adequada, oferecendo à sociedade oportunidade para que se pronuncie. No caso especifico dos nossos mercados, nós fomos atingidos de uma forma mais intensa, até porque as nossas economias têm uma dependência maior dos segmentos primários, que foram os que se ressentiram mais nesses últimos tempos. Mas esses temas são discutidos com amplitude, com abertura pelos nossos veículos, e, diga-se de passagem, ainda que tem uma posição importante nos estados do sul do país, tem inúmeros outros meios de comunicação que servem às nossas sociedades. São muitos jornais que circulam no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Eleonora de Lucena: Mas há uma predominância sensível da RBS.

Jayme Sirotsky: Uma presença muito importante, que nos orgulha muito, que através da construção, ao longo desses quase 40 anos, foi recebendo a aceitação da sociedade. E ofereceu e vem oferecendo a esses mercados um tipo de atividade jornalística com grupos de meios de comunicação que está pari passu com que está acontecendo na tecnologia, no procedimento individual, na ética profissional e, entre outras razões, tem sido medido muito positivamente. Agora mesmo, a semana passada, uma pesquisa que foi feita lá no sul sobre a memorização de nomes de conceito dentro da sociedade, mais uma vez a RBS aparece em elevadíssimo destaque junto com outros dois grupos de jornais, o grupo Gerdau e a Varig.

Alberto Dines: Jayme, espero permitir discordar. Nós somos amigos há 30 anos e discordamos outro tanto, portanto história antiga. Mas acho que a sua visão de liberdade de imprensa, sua qualificação, seu ranking de liberdade de imprensa é muito formal. Se não existe regulamentação, então há liberdade de imprensa, se existe uma atividade reguladora...

Jayme Sirotsky: Eu não disse isso!

Alberto Dines: Não, estou simplificando só para... Quer dizer, na medida em que há uma regulamentação, não é livre, se há uma regulamentação intensa, dependendo da circunstância do país, não é tão livre assim. A verdade é o seguinte: isso tem a ver com todo... com a Fiej, com a SIP, com a AMJ, tem a ver com...Como chama? O Conselho de Comunicação Social, recentemente saído da manga de camisa do presidente [do Senado] Sarney [presidente do Brasil entre 1985 e 1990, substituindo Tancredo Neves, o presidente escolhido pelo Colégio Eleitoral na época. Foi responsavél pelo Plano Cruzado, tentativa mal-sucedida de controle da inflação. Entre 1995 e 1997 e 2003 e 2005 foi presidente do Senado Federal]. Onde está a sociedade nisso? Quer dizer, vocês, donos de jornais, estão defendendo o vosso negócio. Os jornalistas estão defendendo os seus empregos, que são dados pelos donos de jornais. E a sociedade? Onde a sociedade vai entrar nos planos da Fiej, onde a sociedade entra nos planos da ANJ? A ANJ consulta, não em pesquisas quantitativas, que não são representativas de nada. Quero saber qual é o papel da sociedade na discussão verdadeira sobre a efetiva função cívica da imprensa em cada país?

Jayme Sirotsky: Primeiro, a afirmação. Não fiz afirmação da inexistência da lei, não, até fiz a ressalva de que há muitas sociedades em que existem as leis específicas e nelas funcionam muito bem, eu até menciono aqui um deles: apenas o Swedish Press Council da Suécia tem 70 ou 80 anos e regula muito bem uma das mais abertas sociedades do ponto de vista de liberdade de expressão. As sociedades onde isso não existe ou não existe a lei também funcionam bem. Nos Estados Unidos funciona bem, na Inglaterra funciona bem, ainda que sujeito a diferentes tipos de críticas. Onde entra a sociedade aqui, Alberto? A evolução dos meios de comunicação – e outro dia, neste mesmo programa, você não concordou com o entrevistado daquela data, que era, se eu não me engano, Roberto Civita [filho do jornalista Victor Civita, fundador da editora Abril. Fundador da revista Veja e presidente da editora Abril desde 1990] – a evolução dos meios de comunicação brasileira para mim é significativa e a impressão que tenho é que, de um modo geral, a sociedade também está entendendo assim.

Alberto Dines: Por que tantas discussões os nossos congressistas colocam sobre o papel da imprensa, a imprensa em questão, a ética dos jornais? Nunca houve uma enxurrada tão grande de discussões, isso em todo país, sobre o papel da imprensa. Alguma coisa está acontecendo ou estão inventando ou realmente é um sintoma de uma disfunção...

Jayme Sirotsky [interrompendo]: Perdão! Acho que isso é exatamente o que deve acontecer permanentemente. O errado era não termos antes essas discussões. Agora...

Alberto Dines: Mas isso está informalizado.

Jayme Sirotsky: Agora, tê-las representa um amadurecimento, no meu entendimento.

Alberto Dines: Mas por que isso não é formalizado, isso não é institucionalizado, por que o Conselho...?

Jayme Sirotsky: O que seria formalizar ou institucionalizar no seu entendimento?

Alberto Dines: Porque o Conselho de Comunicação... Como chama?

[...]: Conselho de Comunicação Social.

Alberto Dines: Social, que foi inventado, escolhido aleatoriamente, com cinco pessoas representando a sociedade civil...Que mandato eles têm da sociedade civil para falar no nome delas? Isso é um acordo entre duas grandes corporações patronais.

Jayme Sirotsky: Você não concorda com o Conselho de Comunicação Social como foi previsto na Constituição de 1988?

Alberto Dines: Ele é importantíssimo, desde que pudesse representar a sociedade; como está não está representando a sociedade

Jayme Sirotsky: A formação desse conselho foi prevista e discutida na Constituição de 88 e está sendo institucionalizada agora pela casa do Congresso.

Alberto Dines: Pelo Congresso, pelo presidente do Congresso.

Jayme Sirotsky: Que tem essa incumbência.

Américo Antunes: Na verdade, Jayme, se você me permite, a história do conselho é até mais complicada, porque está na Constituição de 88 e foi regulamentado por lei em 1991, pelo Congresso Nacional, sancionado pelo então presidente Collor. O Congresso tinha um prazo até março de 1992 para instalar esse conselho, quatro representantes da sociedade, cinco representantes da sociedade civil, quatro do bloco empresarial, quatro da área profissional. Nós fizemos uma articulação com a [Associação Brasileira de Imprensa] ABI, [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil] CNBB, uma grande articulação nacional. Apresentamos uma proposta de chapa. No entanto, até hoje esse conselho não foi instalado. Agora, o Sarney realmente tirou uma chapa do bolso do colete com alguns nomes.

Alberto Dines: A sociedade civil é uma coleção de siglas!

Jayme Sirotsky: Primeiro lugar, na verdade, essa coleção de siglas normalmente ou com freqüência é invocada como sendo a sociedade civil...

Alberto Dines: No passado; no presente, acho que não.

Jayme Sirotsky: Pois é, então que se reveja também isso. Veja, esse conjunto de representações, que o Américo está mencionando, foi fruto de discussões, no qual houve um envolvimento muito amplo de todos os setores que participam desse segmento.

Alberto Dines: Setores corporativos. Os que estão no negócio e os que estão no emprego.

Jayme Sirotsky: A chamada sociedade civil – eu acho uma vaga definição – também estava representada. Mas o que importa aqui, Alberto, é esclarecer que houve, em contraponto à sua posição, eu insisto, houve uma importante evolução nos meios de comunicação da nossa sociedade.

Matinas Suzuki: Se você me permitir, o Valdenir Ramos Campos, de Itanhaém, faz uma pergunta nessa direção: "Quanto à liberdade de expressão, o senhor considera que houve um progresso efetivo no jornalismo brasileiro e atualmente a nossa imprensa poderia se igualar à de um país desenvolvido, apesar de nossa sociedade, em nível econômico, ser bastante contraditória? Quer dizer, [há] desequilíbrios que talvez os países de "primeiro mundo" não tenham."

Jayme Sirotsky: Eu insisto que houve. Até vou dar alguns exemplos aqui. Vou invocar uma conversa que eu tive um par de semanas [atrás] com um professor do Institut de la Presse Française [refere-se ao Institut Français de Presse, da Universidade de Paris], o professor Claude Jean Bertrand [especializado em estudos sobre a mídia, comunicação e jornalismo. É autor de várias obras sobre o assunto, entre estas: A deontologia das mídias, O arsenal da democracia: sistema de responsabilização da mídia e outros],  que é um homem que se dedica analisar as legislações de imprensa, as relações da imprensa com a sociedade pelo mundo afora. Ele também se perfila entre os que acham que isso é um processo de evolução permanente, em que a auto-regulamentação deve ser a grande norma. E existem muitas formas de aprimorar a relação dos meios com a sociedade. Ele criou, inclusive, um nome, que ele chama de “MAS”, para media accountability systems [uma espécie de sistema cujo objetivo é auto regular a responsabilidades das mídias, usando para tanto códigos de conduta, investigação científica entre outros] – seria um sistema de responsabilização dos meios de comunicação. E são dezenas esses sistemas. Vamos ver aqui no Brasil o que acontecera nesses últimos dez ou 15 anos com esses sistemas. Nós tivemos uma importante modificação com relação à presença multifacetada de opiniões em quase todos os jornais e revistas brasileiras. As páginas de opinião foram ampliadas, ampliaram-se também as sessões de carta ao leitor, ampliaram-se as sessões de reclamações e de serviços, que os veículos estão prestando à sociedade. Criaram-se, em alguns meios de comunicação brasileiro, um ombudsman [originária da língua sueca, a palavra significa "representante". Geralmente, a função do ombudsman é receber críticas, sugestões, reclamações e respondê-las imparcialmente e em defesa da sociedade ou do cliente], que são elementos herdados de algumas sociedades européias. Os escandinavos foram o que iniciaram com essas idéias e são um elemento a mais dentro da accountability, de responsabilidade. Aprendemos a publicar com mais naturalidade os nossos próprios erros. As sessões de erros, as correções são hoje entendidas com menos soberba – e esta ainda existe, ainda existe muito fortemente no meio de comunicação.

[...]

Jayme Sirotsky: Eu vejo que, contrariamente ao seu ponto de vista, a maioria das alterações na estrutura de desenho dos jornais brasileiros foi acompanhada de modificações de conteúdo e que foram, nesse sentido, no sentido de mais equilíbrio, de mais qualidade, de aproximação com a sociedade. Podemos divergir, esse é o meu ponto de vista, você pode ter o seu, diferente. Nós temos tido aqui, nesses últimos tempos, alterações importantes, do ponto de vista da representação da sociedade nas redações. Veja que o fato de não termos ainda o nosso conselho de comunicação social... Nem todas as sociedades têm os press councils, eles são um dos argumentos, um dos tantos elementos que representam essa abertura para a sociedade. Mas houve uma inegável melhoria, não apenas dos jornais, das revistas, das emissoras de rádio, das emissoras de televisão, que estão preocupadas em melhorar a qualidade das suas atividades.

Alberto Dines: Só para encerrar, o senhor vai passar oito meses por ano fora do Brasil em vários períodos. Para ter uma idéia do Brasil você vai apenas ler os jornais brasileiros lá fora ou você vai ter que dar os seus telefonemas para saber o que está se passando no Brasil?

Jayme Sirotsky: Cada um de nós aprende a informar-se de diferentes maneiras. Além dos meios convencionais, nós temos hoje, todos nós estamos começando a acessar aos chamados novos meios, que podem te permitir, inclusive, uma multiplicidade de fontes muito, mas muito maior...

Alberto Dines: Maior do que os jornais?

Jayme Sirotsky: Do que aquela que temos hoje. Reservados aos jornais os seus campos de atividade, que inclusive, estarão se modificando nos próximos anos, isso é indiscutível, sem que se fixe aqui um limite de tempo haverá essas modificações adequando o jornal num novo momento das comunicações.

Matinas Suzuki: Neide, por favor.

Neide Duarte: Eu queria mudar um pouquinho de assunto, eu queria perguntar sobre televisão.

Jayme Sirotsky: Diga, Neide.

Neide Duarte: Eu queria saber o que o senhor acha dessa tendência de algumas TVs americanas de reduzir o número de pessoal que trabalha na rua. De repente, está só o repórter fazendo absolutamente tudo. A RBS já tem uma certa tendência nisso. Trabalha só o cinegrafista, que faz a função de motorista, de iluminador, de operador de áudio e o repórter. O senhor acha que esse é o futuro do telejornalismo? O senhor acha que aí não teria uma perda muito grande da qualidade?

Jayme Sirotsky: Não, acho que essa é uma tendência. O que não quer dizer uma redução de profissionais: quer dizer adequação às novas tecnologias, à capacidade e à possibilidade profissional. Ao invés de termos oito equipes de três pessoas, talvez nós tenhamos doze ou quinze jornalistas, ampliando bastante, inclusive, o volume de captação e as possibilidades de informação que vêm com essas novas tecnologias. Nós estamos experimentando isso de uma maneira mais particular num canal novo que a nossa empresa está operando, agora, há um ano. Chama-se TVCom [ou TV Comunidade, com sede em Porto Alegre. É um canal comunitário do Grupo RBS]; é uma experiência diferenciada em que nós propomos uma alta dose de localismo através de um canal em UHF que opera cobrindo a região metropolitana. Nunca os telespectadores do Rio Grande do Sul tiveram tal volume de informações como o que tem hoje oferecido pelos vários canais convencionais e mais agora com a TVCom. São mais de oito horas por dia de programas desenvolvidos lá no Rio Grande do Sul especificamente, atingindo os interesses da região metropolitana, melhorando muito a qualidade das discussões que nós oferecemos à sociedade.

Neide Duarte: Mas a qualidade do material feito não pode ser melhor!

Jayme Sirotsky: Por quê?

Neide Duarte: Porque não tem condições de uma pessoa fazer uma luz bem feita, fazer um áudio bem feito absolutamente sozinho e ainda estacionar o carro.

Américo Antunes: Eu queria só, inclusive, entrar com um aparte, concordando com a Neide e não concordando com o Alberto, que chamou a gente de muito corporativo, que jornalista e tal...

Alberto Dines: É minha opinião. [risos]

Américo Antunes: Depois a gente pode até conversar sobre isso. Mas os dados que nós temos, Jayme, [são de que] apesar de ter se ampliado o número de rádios no Brasil, ampliado o número de jornais, agora, as TVs a cabo, o número de jornalistas contratados nas empresas de rádios, televisão, jornal no Brasil continua o mesmo dos anos 1980. Nós temos 27 mil postos de trabalho. E esses 27 mil postos são os mesmos de 1981, quer dizer, não há praticamente... a nova tecnologia infelizmente não está possibilitando uma ampliação ou uma substituição da mão-de-obra para outras áreas de atuação. Isso pode comprometer, no final, a qualidade da informação.

Neide Duarte. Pois é. E esse profissional vai ter um salário substancialmente maior? Por exemplo, esse repórter cinematográfico, que vai acumular funções, ele teria um grande salário?

Jayme Sirotsky: Função, salário, Neide, é uma decorrência da capacidade de cada mercado. Posso te assegurar que, no nosso caso, nós estamos pagando de acordo com que o mercado nos oferece como retribuição. Houve uma considerável melhoria na remuneração média dos nossos companheiros na RBS nesses últimos anos e nós quase dobramos o valor médio dos salários dos nossos companheiros da RBS. Quanto à quantidade, Américo, não tenho essa estatística, eu não sei, vocês estão sempre muito atentos a isso. Mas é possível que hoje, com um menor número de jornalistas face ao instrumental que lhes é oferecido – nós todos conhecemos hoje as novas redações, o acesso ao banco de dados, a facilidade com que se pesquisa, com que se elabora, com que se trabalham as informações – possa estar cumprindo as mesmas necessidades que a sociedade determina. O que nós temos... Tem havido, sim, uma multiplicação de meios. Nós nunca tivemos tantas emissoras de rádio, nunca tivemos tantos jornais, nunca tivemos tantos canais de televisão. E estamos, agora, abrindo fortemente o mercado de trabalho, talvez não especificamente para categoria de jornalistas. Mas, para as atividades voltadas à televisão, com a entrada do Brasil no campo da televisão segmentada.

Matinas Suzuki: Pediria um favor,  para te interromper. Nós precisamos fazer um rápido intervalo e nós voltaremos daqui um minuto com o segundo tempo da entrevista com o Jayme Sirotsky, que será o novo presidente da Associação Mundial de Jornais. Até daqui a pouquinho a gente volta já, já.

[intervalo]

Matinas Suzuki: Nós voltamos com o Roda Viva, que entrevista esta noite o jornalista Jayme Sirotsky, presidente da Associação Mundial de Jornais, futuro presidente, e do Conselho de Administração da Rede Brasil Sul. Jayme, eu te interrompi um pouco bruscamente e você estava concluindo sua resposta sobre a questão do mercado de trabalho. Eu gostaria de engatar uma pergunta e depois você responde tudo. Para onde vai o jornalismo diante dessas novas mídias que estão aparecendo, já que você tocou no assunto? E, também, um dos temas do 49º Congresso Mundial de Jornais será:  visões do futuro.

Jayme Sirotsky: Voltando, primeiro, ao aspecto mercado de trabalho. Está havendo no mundo todo uma transformação das ocupações. Claro, ao lado disso, uma eliminação de um volume muito grande de posições de trabalho por tecnologias novas, por massificação de produção, que evidentemente são mais notáveis ainda em outras áreas de atividades do que na nossa, na área de comunicações. Mas, no caso específico do nosso mercado de trabalho, eu mencionava que se abre, agora, com o novo mercado das televisões segmentadas, das televisões por assinatura um grande campo de trabalho, não especificamente para jornalistas, mas também para jornalistas. Nós estamos... Por exemplo, apenas a RBS criou nesses últimos três anos quase 700 novos empregos em função da Net Sul, que é o conjunto de operações que nós temos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina para o setor de televisão por assinatura. Isso é uma amostra do que está representado em mercado nacional. Hoje, os canais específicos voltados a essa atividade já elaboram programações especiais. Vários dos canais já têm jornalistas contratados que estão trabalhando. A RBS – como foi dito, inclusive, por você na abertura – prepara-se este ano para mais um desses canais, o Rural Sat, e neste nós vamos desde logo empregar entre 80 e 100 profissionais, dos quais vários jornalistas.

Américo Antunes: Agora, Jayme, eu vou insistir nesse ponto, a maioria da programação vinculada pelas TVs a cabo no Brasil, grande parte ainda é enlatada, nós temos muito pouca coisa...

Jayme Sirotsky: É verdade, é assim no mundo todo, Américo. Mas a CNN, que foi uma pioneira num canal de televisão exclusivamente de notícias com o universo do jornal como seu mercado, já tem hoje outros vários canais que estão nesse mesmo caminho, tanto no mercado americano quanto no mercado europeu, alargando essas posições, inclusive, com a diversidade de fontes, que é aquilo que nós procuramos, a multiplicidade de fontes, que nós entendemos que é indispensável para que haja condição efetiva de informação aos cidadãos de qualquer sociedade...

Eleonora de Lucena: O senhor é favorável a...

Jayme Sirotsky [interrompendo]: Só para concluir, Eleonora. O fato de existirem muitos enlatados... Não há outra forma de conseguir viabilidade de um mercado que não pela massa que se multiplica em cada um desses canais. O que acontece, hoje, é que nós, ao invés de termos 12, 15 ou 18, vinte canais, já temos sociedades em que há 80, 90 diferentes programações. As programações das entidades brasileiras voltadas ao setor da Net, da TVA já têm entre quarenta e cinquenta canais; muitos deles são canais importados, mas em outros já existe uma boa colaboração de mão-de-obra brasileira.

Neide Duarte: Vocês vão produzir alguns programas?

Jayme Sirotsky: Vamos, o Rural Sat será um canal dedicado à assinatura e terá uma produção de 19 horas por dia.

Neide Duarte: Só produzido por vocês?

Jayme Sirotsky: Não, nós vamos comprar muita coisa também. Mas, entre essas 19 horas por dia, nós teremos nove horas de telejornalismo, telejornalismo voltado ao segmento da atividade primária.

Matinas Suzuki: Agora, você podia, então, desculpe, mas das suas andanças, do seu acompanhamento dos jornais no mundo inteiro, [dizer] o que vai acontecer com o jornal de papel?

Jayme Sirotsky: Olha, essa, Matinas, é a pergunta permanente de todos os encontros.

Matinas Suzuki: ...Por isso é que estou fazendo! [risos]

Jayme Sirotsky: Eu coloco assim: você veja que, alguns anos [atrás], um dos gurus das novas mídias, que esteve recentemente de novo aqui no Brasil, o professor Nicholas Negroponte [importante estudioso da vida digital e das mídias. Desligou-se, em 2005, do MediaLab-MIT depois de lançar o projeto de um laptop para fins educacionais cujo preço-alvo é 100 dólares, e criou a organização One Laptop Per Child (OLPC), com atuação inclusive no Brasil durante o governo Lula  - ver entrevista no Roda Viva com Negroponte], que é diretor da Media Lab, um dos mais conceituados institutos de investigação dos novos meios que existem no mundo, ligado ao MIT, [Massachusetts Institute of Technology], lá de Boston, dizia que estava selada a sorte dos jornais impressos, que em menos de dez anos eles iam desaparecer. Quando ele esteve aqui, poucos meses atrás, ele já tinha refeito esse seu prognóstico e já dizia – e insiste em dizer agora– que o desaparecimento do papel é coisa para os netos dos nossos netos. Na verdade, acho que não está no horizonte visual de uma geração qualquer modificação radical como o desaparecimento do meio impresso, que é jornal, é revista. Haverá uma óbvia adequação. Vou citar como exemplo uma organização nova diante do cyberspace que se chama New Century Network [NCN]. NCN é um organismo que foi montado e é financiado, foi capitalizado pelas principais organizações editoras de jornais do Estados Unidos: The Washington Post, The New York Times, Los Angeles Times etc. Há um ano, a NCN estava imaginando que teria que encontrar uma posição para que os seus sócios não perdessem as suas franquias como operadores de jornal. Hoje, um pouquinho menos de um ano passado dessa visão, ele já tem uma posição diferente. E agora, duas semanas atrás, por ocasião da convenção da Associação Americana de Jornais, eles se apresentaram à coletividade jornalística americana de maneira formal com uma nova mídia, mas não com idéia de que estávamos... “nós vamos substituir o jornal, nós vamos eliminar o jornal”, não. Nós somos uma nova mídia, nós somos uma nova alternativa que a tecnologia está colocando à disposição das sociedades. Essa enumeração é longa, mas de certa forma é recente. Nós temos os meios de comunicação de massa mais antigos, que datam de alguns séculos, predominantemente desde a invenção do tipo móvel, fixando-se nos meios impressos durante muito tempo, até o século XX, quando surgiram os meios eletrônicos, as rádios, as televisões. E, ao surgimento de cada uma delas, vinha a observação: “Bom, então agora vai desaparecer o jornal”. Quando surgiu a televisão: “Bom, então terminou o rádio”. Nada disso aconteceu, foram novas alternativas de informação que estão nos dando ,hoje, realmente, a condição de vivermos numa sociedade que está mais informada do que nunca ou que pode estar mais informada do que nunca.

Alberto Dines: Quantidade não é qualidade.

Jayme Sirotsky: Dentro da quantidade, Alberto, certamente se encontra também a qualidade.

Alberto Dines: Sem a mediação de um jornalista – por isso nós estamos falando de mídia – não adianta jogar na internet aquela massa de informações.

Jayme Sirotsky: Alberto, em nenhum momento, em nenhum momento se considerou a ausência dessa intermediação. Os meios de comunicação podem estar sendo modificados, mas o agente elaborador da informação, esse é o jornalista. Por isso, inclusive, todos nós devemos nos sentir tranquilos, e até excitados, quanto a essas novas possibilidades.

Eleonora de Lucena: Pensando um pouco no futuro, a idéia de futuro da mídia no Brasil, o senhor considera a hipótese de abertura do mercado de comunicação para a empresa de capital estrangeiro? O senhor é favorável a essa abertura?

Jayme Sirotsky: Sou, sou. Acho isso uma inevitabilidade, a sociedade tem se pronunciado de diferentes maneiras sobre isso, mas a tendência é nesse sentido.

Alberto Dines: A AMJ foi muito reticente numa série de matérias que a Folha fez em novembro passado, seguindo uma série de artigos que a revista Imprensa tinha feito antes, mas a AMJ, que já não era mais presidida por você, foi muito reticente com relação à alteração do artigo 222 da Constituição.

Américo Antunes: Porque isso, na verdade, na área de TVs a cabo, TVs por satélite, por exemplo, já está acontecendo: Grupo Abril está associado com grupos americanos e mexicanos, a Globo está associada com [Rupert] Murdoch [empresário australiano naturalizado norte-americano que é proprietário de um dos maiores conglomerados de empresas de comunicação do mundo]. Aliás, eu te faço uma pergunta: no dia 23 de abril, o Ministério das Comunicações, independente[mente] da aprovação da lei mínima, concedeu a exploração por 15 anos de canais de TV por satélite para Globo, para a Abril e de radiodifusão por satélite para a Bandeirantes. O que você acha dessa política do Ministério das Comunicações de fazer as concessões já para exploração de TV por satélite, sendo que a RBS é um grupo concorrente nesse processo, sem que houvesse a aprovação da lei mínima?

Jayme Sirotsky: Nós estamos sendo compelidos a tomar decisões com um pouco mais de velocidade e isso, inclusive, tem sido um dos problemas na nossa sociedade: a lentidão com que as decisões estão sendo tomadas com relação a assuntos que são avassaladoramente novos e impositivamente necessários que sejam decididos. Nesse caso específico, tanto uma quanto outra, as organizações colocaram como um dos seus argumentos de defesa o fato de que já estavam operando e estavam de fato..

Américo Antunes: Mas por satélite?

Jayme Sirotsky: Com satélite, sim, só que na banda C. Existem cerca de 3 milhões de parabólicas no mercado brasileiro, pelo menos é essa a informação que a gente tem, que recebem satélites na banda C e recebem por assinaturas de programações da Globo Sat ou da TVA. E isso parece que teria sido um dos elementos que acudiram a essa decisão. Agora, por outro lado, veja, acho...

Eleonora de Lucena [interrompendo]: Mas o certo não seria se fazer uma concorrência?

Jayme Sirotsky: Só para concluir...

[...]: Uma licitação, não é pagar por isso?

Jayme Sirotsky: Na base do conceito de licitação está a escassez, está a finitude das freqüências do espectro de rádiodifusão. A tecnologia está jogando para o espaço esse espectro. A digitalização, que está às nossas portas, vai multiplicar ainda por inúmeras vezes essa disponibilidade. Então, o que era antes um bem escasso que pertencia à sociedade, por conseqüência deveria ser direcionado de acordo com os melhores interesses da sociedade, deixou de ter o elemento escassez, ou está deixando de ter o elemento escassez. Então, aí eu acho que cabe uma nova discussão, porque se podermos ter mais ofertas de serviços que sejam suportáveis...

Américo Antunes: Pois é, mas a questão não é oferta de serviços, a questão é exploração desses serviços.

Américo Antunes: Quem explora? Quais os critérios? Quer dizer, o Congresso quebrou o monopólio das telecomunicações o ano passado. Estamos aguardando a discussão no Congresso de uma lei mínima de exploração dentro desse contexto de quebra do monopólio. Agora, essa polêmica entre o PSDB e o PFL sobre o tal órgão regulador, a sua autonomia financeira. E o Sérgio Mota [(1940-1998) um dos fundadores do PSDB. Foi ministro das Telecomunicações no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (período: 1994 -1998). Articulou o processo de privatização das empresas de telefonia fixa] independente[mente] disso, no dia 23 de abril, no Diário Oficial da União deu três concessões de exploração de TV por assinatura via satélite. Quer dizer, eu acho que tem algum elemento de ilegalidade, de imoralidade aí. Teria que ser questionado, independente[mente] disso que você está colocando, do ponto de vista filosófico, a digitalização vai comprimir os sinais...

Jayme Sirotsky: Esse é um dos argumentos. O outro, nesse caso específico, foi o fato de que, efetivamente, essas duas organizações já operavam esse sistema.

Eleonora de Lucena: O senhor apóia essa decisão?

Jayme Sirotsky: Perdão?

Eleonora de Lucena: O senhor apóia essa decisão do Ministério das Comunicações?

Jayme Sirotsky: Não, acho que essa decisão trará prejuízo à sociedade. Não vejo por que é que um sistema que viesse, digamos, a licitar traria muitas conveniências à sociedade. Se fossem apenas os aspectos financeiros... Você sabe, o custo dos elementos que compõem [essa] atividade são transferidos ao quanto se cobra do usuário final. Se houvesse um agregado de custo referente a um valor de licitação ou tributo, ele teria que ser cobrado do usuário final.

Alberto Dines: Jayme, eu queria voltar à pergunta do artigo 222 da Constituição [garantia que os meios de comunicação fossem controlados pelos cidadãos brasileiros, mas uma emenda constitucional em 2002 alterou seus dispositivos, permitindo a presença de até 30% de capital estrangeiro no quadro acionário das empresas jornalísticas e de radiodifusão], porque diz respeito à sobrevivência dos jornais. O meu negócio é papel e não estou preocupado com digitalização nem nada disso. O seguinte: quem vai tomar iniciativa de alterar o artigo 222 da Constituição? O governo não tem. Gostaria muito de desconcentrar a mídia, a aumentar a possibilidade de opiniões e dar até mais empregos para os jornalistas, mas o governo não vai fazer isso, porque vai confrontar a reserva de mercado daqueles que têm o direito publicado em jornais. O legislativo não quer fazer isso, porque pode ser atacado pela mídia. Quem vai tomar a iniciativa de propor a alteração nessa coisa retrógada que põe o Brasil na era primitiva? Porque é extremamente restritivo o artigo 222, ele é contra a liberdade de expressão, porque concentra na mão de poucos, sobretudo de poucas famílias, o direito de ter jornal.

Jayme Sirotsky: Primeiro, acho isso um elemento de importante discussão. Primeiro, porque não há uma posição homogênea em todas as sociedades a respeito disso. Você sabe que, mesmo em sociedades amplamente democráticas, ainda tem essa reserva de mercado em diferentes graus. Em algumas, permitindo participações até 49% e outras até menos e em outras a liberdade total. No caso específico do nosso mercado, do mercado brasileiro, acho que nós deveríamos olhar isso com atenção e ver de que forma isso poderá ser feito atendendo aos efetivos interesses da estrutura que já existe. E, quando  chamo de estrutura, não chamo apenas os jornais que estão aí e as poucas famílias – como o meu prezado amigo fala– que detêm esses jornais, mas a estrutura que está servindo à sociedade, não são tão poucas assim. Não esqueça, Alberto, que nós temos 1.700 jornais neste país, é claro que existem alguns que se destacam mais que os outros, mas isso é assim em qualquer sociedade.

Alberto Dines: Não sou contra empresa familiar, deixe-me só explicar. No caso do New York Times, é uma empresa familiar, está há 100 anos com o jornal, mas tem o seu capital aberto e colocado em bolsa, isso [é] que é importante.

Jayme Sirotsky: Isso seria amplamente desejável...

Alberto Dines: Por que ninguém toma essa iniciativa?

Jayme Sirotsky: Olha, não creio que seja por omissão apenas dos operadores de comunicação; isso é uma discussão que cabe a sociedade como um todo.

Alberto Dines: A sociedade não vai ao Conselho de Comunicação Social, ele não chega lá! [risos]

Jayme Sirotsky: Como não vai, Alberto? Você está fazendo colocações que são, no meu entendimento, um pouco distantes do que está realmente acontecendo conosco. A sua não-aceitação de evoluções nesse campo me parece até estranha.

Alberto Dines: Sou assim, não vejo melhoria.

Jayme Sirotsky: Na verdade, quanto a uma posição quase dogmática como essa tua, tenho a contrapor que sou partidário de um processo evolutivo que serve tanto para os meios de telecomunicações, como serve para os meios de comunicação de massa convencionais. A legislação que existe aí.. Nós estamos atrasados, isso é um fato mais do que conhecido. Nós temos hoje uma deficiência imensa de serviços de telecomunicação no nosso país e não há como, com a atual estrutura das nossas estatais, poder atendê-las. Isso, realmente, só com o aporte de recurso da iniciativa privada nacional e internacional é que nós poderemos começar a cobrir esse gueto violento. Como, de resto, na própria atividade do jornal papel que nos é tão caro a você e a mim. Veja, nós estamos falando de um mercado em que, nos últimos dois anos, houve um importante crescimento das circulações de jornais, até em contraponto a mercados mais maduros. Enquanto no mercado americano e no mercado europeu há oito, dez anos a circulação dos jornais é estável e até levemente declinante, no mercado latino-americano, no leste europeu e no Oriente ela é consideravelmente ascendente.

Eleonora de Lucena: Como se explica esse movimento?

Jayme Sirotsky: Observe: a Noruega consome 608 jornais por mil habitantes, ou seja, você tem em cada domicilio, certamente, mais que um exemplar de jornal todos os dias. O Brasil não chega a quarenta, Estados Unidos e o Japão estão aí entre 280, 320 exemplares, os escandinavos estão aí entre quinhentos e seiscentos. Outros mercados europeus estão entre... alguns em redor de quatrocentos, como Alemanha.

Américo Antunes: O Brasil é o terceiro país da América Latina com menor índice de leitura.

Jayme Sirotsky: É um índice de leitura muito baixo. Por que nós imaginamos que isso pode se modificar? Veja, com o regime economicamente estabilizado, com perspectivas de crescimento que nós podemos ambicionar para os próximos dez anos, diminuindo o índice de analfabetismo e aumentando um pouco a renda real do brasileiro, se nós dobrarmos, se nós dobrarmos a circulação dos jornais brasileiros isso representaria o dobro do que existe hoje, nós passaríamos para oitenta exemplares por mil habitantes. Ainda estaríamos num campo que permite uma extrema possibilidade de crescimento.

Eleonora de Lucena: Esse mercado de expansão... a RBS tem como objetivo chegar no mercado Rio - São Paulo e outros estados ou, digamos, a política da empresa é apenas se concentrar nos estados do sul?

Matinas Suzuki: Se vocês me permitem, o Alessandro Soares, de Campinas, faz a mesma pergunta: "É verdade que o grupo RBS tem interesse de entrar no mercado paulista através da compra de um jornal? É verdadeira a proposta de compra do Diário do Povo de Campinas, que pertence ao senhor Orestes Quércia [foi prefeito de Campinas, vice-governador do estado de São Paulo e governador a partir de 1986. Foi um dos fundadores e presidente do PMDB, partido pelo qual continua a participar da política nacional]?

[...]: Tenho a notícia de que existe uma negociação avançada para a compra do Diário Popular de São Paulo. É verdade?

Jayme Sirotsky: Não, o fato é que não houve negociação com o Diário do Povo, não houve negociação com Diário Popular, essa é uma colocação. Segunda colocação: nós queremos crescer, o planejamento estratégico do nosso grupo para esses próximos anos é muito ambicioso, mas nós estamos evidenciando cada vez mais que nós desenvolvemos uma vocação de operação regional neste país e que é hoje um dos ativos do nosso conjunto de operadores...

Eleonora de Lucena: Porque há uma divisão de mercado?

Jayme Sirotsky: Não.

Eleonora de Lucena: Por quê?

Jayme Sirotsky: Nós aprendemos a fazer isso com mais eficiência do que muitos dos nossos concorrentes. O que não quer dizer que nós pretendamos ficar indefinida e exclusivamente nesses mercados. Não temos, no horizonte do prazo muito curto, a idéia de expansão, por exemplo, no mercado de São Paulo, mas nós temos alternativas que nós estamos considerando...

Américo Antunes: Folha de Londrina?

Alberto Dines: Agora, a não-entrada em São Paulo...

Jayme Sirotsky: Não vou fixar o nome, Américo, mas faz mais sentido para nós nessa próxima etapa a operação do Paraná.

Américo Antunes: E Mercosul?

Jayme Sirotsky: Estamos atentos. Nós, inclusive, constituímos alguns anos [atrás] uma diretoria na qual colocamos um experiente companheiro nosso de Mercosul, que opera em Buenos Aires e esteve lá acompanhando os negócios da Argentina, Uruguai, do Paraguai, do Chile. Em boa parte pelas inibições naturais da legislação, que naqueles países é tão restritiva quanto a nossa, nós ficamos sem ações imediatas. Mas desenvolvemos, por outro lado, programações que são hoje muito interessantes e são elaboradas pelo nosso grupo. Por exemplo, nós temos um programa de televisão produzido pela RBS/TV voltado para o Conesul e está no ar [há] alguns anos. Nós montamos uma rede de emissoras de rádio do Conesul com a coordenação da nossa Rádio Gaúcha, que é uma rádio particularmente importante no sul e opera 24hs por dia de informação, de notícias, considerando esporte também como parte dessa informação, e com uma emissora de rádio em Asunción, outra em Montevidéu, Buenos Aires, Santiago, trocam com freqüência boletins nas programações, que são curiosamente transmitidos em espanhol no Brasil e em português nos países que recebem as informações da Rádio Gaúcha.

Alberto Dines: Jayme, pergunta de um dogmático. Fico muito feliz, [por]que sou descompromissado, não tenho compromisso, não estou preso a nenhuma corporação, portanto é um novo epíteto que tenho, o de ser dogmático. Mas, pergunta de um dogmático: por que os jornais brasileiros são tão iguais? É influência da ANJ, é influência de Navarra, da SIP? Um mexe no layout, outro mexe também e sempre com as mesmas pessoas; um põe os brindes, o outro põe os mesmo brindes; o outro faz o marketing, o outro faz o mesmo marketing; um lança a página de saúde, o outro lança a mesma página de saúde. Será que não há criatividade?

Jayme Sirotsky: Eu te pergunto: as fórmulas de crescimento elas têm sido testadas no mundo todo e aquelas com sucesso têm sido aproveitadas nos diferentes...

Alberto Dines: Porque a fórmula do El País... Você esteve, agora, num dos melhores jornais do mundo [refere-se ao diário espanhol], que comemorou seus 20 anos. Por que a fórmula do El País não é adotada no Brasil? [A fórmula] que aposta em qualidade, em conteúdo, em densidade, não está preocupado com layout com cores. Por que não se usa essa fórmula? Eles são ibéricos, mesma civilização que a nossa.

Jayme Sirotsky: Especificamente porque não se usa a fórmula... Bom, em primeiro lugar, muitas das coisas que faz o El País estão transferidas para os nossos jornais aqui, você acaba de mencionar uma, no lado de marketing, eles são extremante vigilantes e atentos no lado do mercado lógico, o El País foi um dos inventores dos fascículos.

Alberto Dines: Mas é outra coisa.

Jayme Sirotsky: Por quê?

Alberto Dines: O fascículo não torna o jornal descartável, eu sei porque durante sete anos li praticamente todo dia os jornais brasileiros e são descartáveis, porque as pessoas guardam o fascículo e por isso cresceram as tiragens.

Jayme Sirotsky: Considero isso...

Alberto Dines: Dogmático

Jayme Sirotsky: Não é dogmático. Essa opinião amarga que você tem da evolução e do atual estado dos jornais brasileiros.

Alberto Dines: Realista.

Jayme Sirotsky: Nós estaremos divergindo bastante a respeito disso. Eu, ao contrário de você, acho que nós evoluímos, estamos longe de ter a qualidade que todos nós jornalistas ambicionamos...

Alberto Dines: Que já tivemos...

Jayme Sirotsky: ...mas se comparados aí, perdão, acho que é visão saudosista. Agora eu te confesso que nós temos uma evolução, que está acontecendo uma modificação que incorpora novas tecnologias. Se nós temos a cor e a usamos adequadamente, acho que é porque aos leitores isso satisfaz. Mas isso não é o parâmetro do El País não utilizar a cor nas matérias editoriais, as utiliza na publicidade, nas revistas, em várias das suas publicações encartadas. Não tem muita significado. Você tem outras propostas que são, do ponto de vista de conteúdo, boas às sociedades onde estão inseridas. Será que o Le Monde [importante jornal francês] seria um jornal que teria condições de sobreviver nas condições de mercado do Brasil?

Alberto Dines: Mas o Libération [importante jornal francês] sim.

Jayme Sirotsky: Mas o Libération não tem nada a ver com o Le Monde...

Alberto Dines: Mas é um jornal de qualidade.

Jayme Sirotsky: Mas está muito mais próximo do que nós fazemos aqui.

Alberto Dines: Tudo bem.

Jayme Sirotsky: Eu não considero pasteurização. Acho que há uma tendência. E te confesso que nós não nos sentimos diminuídos por utilizarmos nem Navarra, nem o Pointer Institut...

Alberto Dines: É porque [um] é outro, estão sempre juntos.

Jayme Sirotsky: Não, não, nós temos utilizado separado, nem o Pointer Institut nem Navarra, como temos utilizados outras consultorias, como em outras ocasiões tivemos o prazer de recebê-lo para que você aportasse a sua experiência e a suas sugestões aos nossos companheiros. Como temos tido e temos procurado, intencionalmente, uma variedade muito grande de pessoas que nos visitam, como várias das boas empresas jornalísticas brasileiras, enviado como nunca gente nossa aos centros onde estão acontecendo as coisas. Na semana passada, na NAA, nós estávamos lá, como de resto estão muitos dos jornais brasileiros que – lamentavelmente, aí, nós estaremos realmente discordando muito – do teu ponto de vista estão pasteurizados e homogeneizados sem qualidade, [mas] no meu ponto de vista estão procurando um aprimoramento dentro daquilo que suporta o mercado em cada um atua.

Matinas Suzuki: Marcelo, por favor.

Marcelo Pontes: Jayme, você disse há pouco que os jornais avançaram muito em reconhecer seus erros, dando voz ao leitor e tal, e que diminuiu o orgulho dos jornais. Você não acha... Acho que não é tímido esse avanço. Agora você não acha que a televisão, que essa soberba hoje está mais presente na televisão? A televisão demora a reconhecer os seus erros, demora a dar o direito de resposta, ela tem dificuldade de fazer isso. O que você acha disso?

Jayme Sirotsky: Marcelo, quando fiz aquela observação,  quis registrar que houve um avanço, mas nem eu, e provavelmente bom número dos que estão aqui comigo e os que não estão, admite que nós chegamos a um ponto ótimo, sequer bom, mas houve modificações que são consideráveis e estão acontecendo. Eu, por exemplo, numa das modificações gráficas que nós fizemos e que não se restringiram apenas a designer, mas que também rearticularam a forma como estávamos apresentando as informações dentro de Zero Hora... Nós colocamos como um ponto adicional de aproximação da comunidade com os nossos companheiros, muito claramente, na abertura de cada uma das nossas editorias, o número do telefone, o número do fax e o nome do editor responsável por aquela seção. Estamos estimulando para que os leitores se comuniquem com esses nossos companheiros, transfiram essas críticas. Nós estamos acessando de todas as formas, por telefone, por fax, por internet, como muitos outros jornais brasileiros, como o Jornal do Brasil, que tem hoje uma boa homepage, usando os jargões da nova mídia que estão aí no espaço cibernético. Nós também estamos com Zero Hora, com Rádio Gaúcha, alguns dos nossos outros veículos, estimulando que, pelo correio eletrônico, haja uma intensificação maior dos usuários dos nossos meios com os operadores, com os responsáveis dos nossos meios, são pontos que estão avançando.

Marcelo Pontes: E a soberba?

Jayme Sirotsky: A televisão, eu concordo, tem sido menos refratária, mas houve também modificações significativas nesse último ano, alterações importantes no posicionamento de algumas das redes nacionais de televisão; agora, mais recentemente, o Evandro [Carlos de Andrade ter sido indicado] para a direção de telejornalismo da Rede Globo representou uma sensível modificação no posicionamento jornalístico da Rede Globo com relação aos brasileiros.

Marco Antonio de Rezende: Sirotsky, acho que você tem uma responsabilidade particular pelo simples fato de ser sucessor do seu irmão Maurício na condução do Grupo RBS. Mauricio, que foi praticamente o fundador do grupo, era muito enérgico, muito carismático e muito popular. Hoje, você preside o conselho de administração e tem um sobrinho, filho do Mauricio, Nelson, que é o principal executivo, primeiro ministro do grupo. Você acha que a RBS é um bom exemplo de como se compõem a associação e a administração dentro de um grupo familiar importante?

Jayme Sirotsky: Eu me considero pessoalmente muito gratificado e muito feliz pelo que nós conseguimos fazer no caso da RBS. Mauricio, como você disse, era um líder forte e carismático, que lamentavelmente morreu muito prematuramente. O Mauricio tinha 60 anos quando faleceu dez anos atrás. Mas, ainda que sejamos uma empresa familiar, há muito tempo nós vínhamos discutindo essas características, que são muito particulares, que são muito peculiares da empresa familiar, onde ao lado do aspecto corporativo tem a emoção do processo familiar. Essa discussão fez com que nós viéssemos paulatinamente nos preparando para isso. A morte do Mauricio, ainda que prematura, ainda que inesperada, não nos colheu de surpresa, nesse sentido. Tivemos serenidade suficiente para desenvolver a continuidade. A empresa nunca deixou de crescer, a morte do Mauricio fez com que eu imediatamente assumisse a presidência e passássemos a elaborar qual seria o novo momento da RBS, em que uma primeira geração estava chegando ao seu ponto de operações final e uma segunda geração já preparada estava em condições de assumir a total responsabilidade das operações. Cinco anos depois, nós comunicamos formalmente ao mercado a reestruturação da empresa, com a formação do conselho de administração, que passei a presidir, e com a presidência executiva sendo assumida por um representante da segunda geração, o Nelson, que vem desenvolvendo com estrema competência. Ele não está lá porque é filho do Mauricio, ele está lá porque é um executivo testado, com 25 anos de experiência na área de comunicação, começou bem cedo na empresa, passou por inúmeras atividades internas, teve oportunidade de contatos com os mais variados ambientes externos internacionais e nacionais e assumiu, com o respeito dos seus pares, essa nova função. Isso permitiu, inclusive, um arejamento da empresa. Nós cultuamos valores, nós temos missão clara, valores definidos, mas a cultura na nossa casa não é um bem permanente. Ela precisa se adequar aos novos tempos. As culturas que estavam estabelecidas nos primeiros dez, 15 ou vinte anos de existência da RBS já não são mais afinadas com as imposições dos tempos de hoje. Por isso nós nos sentimos muito orgulhosos da forma como estabelecemos essa transição, hoje já definida e que marca, sobretudo, Marco Antonio, uma profissionalização adicional. E o encaminhamento já formal, definido dentro do conselho de administração, de como se comportará a empresa com a terceira geração da família já está marcado, definido, as regras estão marcadas. A RBS hoje sabe como tratar no devido tempo, porque essa segunda geração está em pleno vigor da sua atividade, o momento quando alcançarmos a terceira geração e a sua necessidade de participar da atividade.

Matinas Suzuki: Jayme, eu gostaria de abrir aqui uma janela para o nosso telespectador, tem uma série de perguntas. Se você puder responder um pouco mais rapidamente eu agradeceria. Eduardo Mello, aqui de São Paulo, pergunta: "Na sua opinião, por que já não existe mais grandes reportagens na imprensa nos jornais como antigamente?"

Jayme Sirotsky: Eu lamento tanto quanto ele. Gostaria e acho que esse é um dos elementos. Estou certo de que o Alberto e eu concordamos...

Alberto Dines: Somos três saudosistas, eu, o telespectador...

Jayme Sirotsky: Acho que precisa ser reavivado o jornalismo.

Matinas Suzuki: O Valter de la Rocha, que é do Rio Grande do Sul, pergunta se você acha que é necessário o diploma para exercer a profissão. E ele diz que essa necessidade está acabando com a pequena imprensa no interior do Rio Grande do Sul.

Jayme Sirotsky: Absolutamente não, nós temos uma posição tranquila, mansa e pacífica na ANJ e na SIP sobre a não-obrigatoriedade do diploma para atividade jornalística.

Matinas Suzuki: O senhor podia explicar um pouco este ponto, por que é contra?

Jayme Sirotsky: Porque nós achamos que essa atividade...

Matinas Suzuki [interrompendo]: Essa questão é questão de interesse.

Jayme Sirotsky: Essa atividade não demanda uma formação completa no sentido da técnica jornalística. Uma boa formação humanística é absolutamente conveniente e, às vezes, mais conveniente e indispensável, mas não necessariamente num curso de comunicação. Nada impede que um engenheiro, um médico, um arquiteto, um sociólogo, uma professora sejam bons comunicadores, sejam bons jornalistas. E, para isso, não precisam ter um curso especifico de comunicação, que se transformou, além de uma posição cartorial, uma reserva de mercado, que a própria Constituição de 88, segundo entendimento da ANJ, derrogou e fez com que nascessem e se criassem, neste país, inúmeros cursos de comunicação com uma qualidade extremamente discutível.

Américo Antunes: Jayme, outra vez a gente entra nessas questões, aí, corporativas... a gente acaba, acho que essa é uma questão corporativa...

Matinas Suzuki: Rápido, por favor, porque nós estamos entrando no momento final.

Américo Antunes: Vou ser rapidíssimo. Só te faço uma pergunta. Pelos levantamentos que nós temos em 35 países, em 74% desses países a profissão de jornalista é regulamentada, ou seja, o acesso não é decidido apenas pelo empresário, mas através de habilitação não só em curso jornalístico, mas também em outro curso, ou através de ordens ou colégios de periodista. Eu queria que você colocasse um pouco se esse tipo de idéias... ou seja, o que se discute é que o acesso se estabeleça com regulamentos e que não fique exclusivamente a critério da empresa. Nosso entendimento, inclusive, da Constituição, é diferente do da ANJ. Eu queria que você abordasse [esse tema] por essa ótica, quer dizer, que tipo de formação requer um jornalista: nenhuma formação, ele não precisa ter formação nenhuma, nem técnica, nem humanística, nem ética, nem filosófica, sociológica?

Jayme Sirotsky: Desculpe, todas essas...

Américo Antunes: Pois é. Onde ele vai obtê-la?

Jayme Sirotsky: Obtê-la nos cursos de qualquer licenciatura.

Américo Antunes: Não precisa de nenhuma habilitação específica?

Jayme Sirotsky: Essa habilitação, o conhecimento, o domínio tecnológico da atividade, ele faz num período relativamente curto.

Américo Antunes: Então, não teria escola de jornalismo, é isso?

Jayme Sirotsky: Não, pode ter. Por que não!? Existem excelentes escolas de jornalismo, de comunicação. Nós somos contra a obrigatoriedade do diploma, nós somos contra a obrigatoriedade...

Américo Antunes: Em jornalismo?

Jayme Sirotsky: Do diploma do jornalismo e em várias outras atividades em que a técnica não seja indispensável. Nós somos contra as sindicalizações obrigatórias, nós somos contra isso. Absolutamente, não somos contra, pelo contrário, temos uma imensa afinidade com várias escolas de comunicação da nossa região, com as quais desenvolvemos programas em conjunto. Mas estamos entre as empresas que foram forçadas a fazer cursos adicionais de jornalismo aplicado e você conhece o curso de jornalismo aplicado da RBS para suprir deficiências em jovens que são jogados ao mercado despreparados.

Matinas Suzuki: Ainda pedindo rapidamente para você responde. O Arthur Bandone, lá de Porto Alegre, pergunta por que a RBS omite o bom trabalho da prefeitura de Porto Alegre e apoia abertamente a candidatura de Antônio Britto ao governo do estado [antes de assumir o governo do Rio Grande do Sul, foi deputado federal pelo PMDB e ministro da Previdência Social durante o governo Itamar Franco (1992-1994)] ?

Jayme Sirotsky: Essa primeira afirmativa é absolutamente descabida. Nós registramos com total naturalidade e tranquilidade todas as atividades das gestões da prefeitura de Porto Alegre, não só na atual gestão do PT [Partido dos Trabalhadores], do prefeito Tarso Genro [prefeito de Porto Alegre em dois mandatos: 1993-1997 e 2001-2003. Deixou a prefeitura para se tornar ministro da Educação no governo Lula], que, aliás, para nossa satisfação, é eventual colaborador do Zero Hora, onde coloca suas idéias, idéias de um homem esclarecido, como [as do] seu antecessor Olívio Dutra [prefeito de Porto Alegre pelo PT entre 1989-1993. Governador do Rio Grande do Sul entre 1999-2003. Assumiu o Ministério das Cidades em 2003 durante o governo Lula], que estavam lá colocadas. Talvez não com a intensidade que muitos dos petistas desejassem, mas fazemos isso com naturalidade e nunca demos apoio formal ao governador Antônio Britto. O governador Antônio Britto, circunstancialmente, é um jornalista que começou a sua atividade praticamente na RBS e isso faz com que tenhamos com ele uma relação muito agradável.

Matinas Suzuki: Heitor Filapon e o Pedro Cortesi, ambos do Rio Grande do Sul, perguntam se você não teria nascido, na verdade, em Herebango, que é município de Getúlio Vargas, ou em Passo Fundo como a gente disse aqui.

Jayme Sirotsky: Não, a minha família, os meus pais migraram para o Brasil no começo do século e realmente se localizaram numa colônia de judeus imigrados no interior do município de Erechim, em uma localidade chamada Herebango, onde nasceram os meus quatro irmãos, entre os quais o Mauricio. Mas eu já nasci numa cidade mais avançada, sou passofundense.

Matinas Suzuki: Como última pergunta: dá Grêmio ou Corinthians esta quarta-feira?

Jayme Sirotsky: Grêmio. Lamento, mas vai dar Grêmio.

Matinas Suzuki: Nós chegamos ao final de mais um Roda Viva. Gostaríamos de agradecer muito aqui a presença do Jayme Sirotsky pela sua participação no programa. Gostaríamos também de agradecer bastante a nossa bancada de entrevistadores, a sua atenção e lembrar que nesses 10 anos de Roda Viva  estamos fazendo uma série de entrevistas com representantes dos principais grupos de comunicação do país. E na próxima segunda-feira nós receberemos o diretor do Jornal da Tarde, Ruy Mesquita. Até lá, uma boa semana para todos e uma boa noite.

Sobre o projeto | Quem somos | Fale Conosco