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Memória Roda Viva

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Nizan Guanaes

7/7/1997

Ganhador de prêmios no Festival de Publicidade de Cannes, na França, o publicitário baiano fala sobre o sucesso de sua empresa e as tendências da propaganda no Brasil e no mundo

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[programa ao  vivo com a participação do telespectador]

Matinas Suzuki: Boa noite. O Brasil voltou a brilhar este ano, no Festival de Publicidade de Cannes na França ganhando 17 Leões, o prêmio mais cobiçado do meio publicitário em todo o mundo. A agência DM9 foi a mais premiada com dois Leões de Ouro e dois de prata. Além disso, ela associou-se à maior agência americana, a DDB, criando a DM9/DDB. No centro do Roda Viva, está o publicitário Nizan Guanaes, um dos sócios e fundadores da DM9/DDB. Nizan.

 [Comentarista] Nizan Mansur de Carvalho Guanaes Gomes, 38 anos de idade, encontrou na publicidade um espaço certo para a sua criatividade. Trabalhou nas melhores agências do Brasil. Até o grande salto em 86, quando passou de empregado a patrão como sócio diretor da empresa DM9. De lá para cá criou slogans e imagens que marcaram a propaganda e garantiram a ele a conquista de contas de grandes empresas e inúmeros prêmios dentro e fora do Brasil. O sucesso de Nizan também se estendeu ao marketing político. Em 94 ajudou a levar à presidência da República o então candidato, Fernando Henrique Cardoso. Com um faturamento previsto para este ano de 250 milhões de dólares, a DM9 está entre as seis maiores agências do país. Seguindo a tendência do mercado brasileiro, há um mês se associou à maior agência americana, a DDB. Adepto do candomblé e hipocondríaco confesso, Nizan Guanaes afirma ser uma pessoa simples, mas sucesso e a polêmica acompanham sua carreira. Com o anúncio que entraria para a política, que queria ser prefeito de Salvador, a publicidade já foi chamada por ele de coisa banal e que não necessita de originalidade ou criatividade, apenas eficiência.

Matinas Suzuki: Bem, para entrevistar o Nizan Guanaes esta noite, nós convidamos o Pyr Marcondes, editor da revista da Criação da editora Meio e Mensagem, o Edney Narchi, diretor-executivo do Conar, Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária, Célia de Gouvêa Franco, repórter da Folha de S.Paulo, Sônia Racy, colunista do jornal O Estado de S. Paulo, o publicitário Sérgio Amado, presidente da agência Standard Ogilvy & Mather,  Maria Cristina Poli aqui do programa Vitrine da Rede Cultura e Orlando Marques, diretor de publicidade da Editora Abril. Roda Viva é transmitido em rede nacional para todos os estados brasileiros e para o Distrito Federal. Você pode participar desse programa enviando suas perguntas pelo telefone, se preferir por fax, ou pela Internet o nosso endereço é rodaviva@tvcultura.com.br  Boa noite, Nizan Guanaes.

Nizan Guanaes: Boa noite.

Matinas Suzuki: Nizan, eu vou fazer uma pergunta chatinha, começar com uma pergunta chatinha... Esses prêmios que se ganham em Cannes, os Leões e essa coisa toda, são prêmios evidentemente muito importantes para as agências. Queria que você dissesse duas coisas: por que são realmente importantes para as agências, e aí entra a parte cricri da minha pergunta: o que o anunciante ganha com esses prêmios?

Nizan Guanaes: Bom, o anunciante não ganha nada, até porque esses prêmios são prêmios para a indústria publicitária. Eles podem funcionar como um dos indicadores. Eu conheço algumas agências que são extremamente eficientes, são grandes agências e não são necessariamente as mais premiadas. Como qualquer indústria, a publicidade tem seus prêmios, o cinema tem o Oscar, a música tem o Grammy, tem o MTV Worlds, o automobilismo tem a Fórmula 1, prêmio de carro do ano. Então, todas as indústrias têm seus prêmios. O que eu acho que acontece, às vezes, é um exagero muito grande que fica parecendo que a indústria publicitária ao invés dela ter o objetivo de criar anúncios memoráveis, construir marcas e vender, fica parecendo que ela está destinada a fazer trabalho para premiações. Agora, isso não é absolutamente a verdade, a grande maioria das agências está focada em eficiência, está focada em resultados; o que se tem é muita badalação em torno disso. Mas eu tenho certeza que cada vez mais, principalmente num mercado extremamente disputado, essa coisa de prêmio vai funcionar como um penduricalho e não como uma coisa essencial do nosso negócio.

Maria Cristina Poli: Agora, Nizan, já que estamos falando de premiação, uma propaganda premiada, ela necessariamente é eficiente para vender os produtos?

Nizan Guanaes: Não, eu, inclusive, digo isso e, muitas vezes sou criticado, mas eu acho que nem sempre a criatividade é a saída para a eficiência. Muitas vezes é preciso esquecer da criatividade e usar, muitas vezes, o que já foi feito. Eu sempre digo aos meus criadores novos que se a natureza quisesse ser original o tempo todo, nós seríamos horríveis. Essa raça é construída porque a natureza reproduz o nariz sempre no mesmo lugar, boca, olhos, com algumas pequenas diferenças. Então, acho que essa história, esse compromisso exacerbado da criação com a originalidade é uma coisa infantil. Muitas vezes, é melhor copiar e reproduzir o que já foi feito.

Maria Cristina Poli: Vocês ganham mais anunciantes, então?

Nizan Guanaes: Não. Já copiei soluções, claro, por isso que existe um lugar comum. Comercial adocicado com músicas. Já fiz 427 vezes e vou, tem hora que um bom jingle não será substituído por nada. Olha aqui, o Roberto Carlos não seria o maior vendedor deste país se ele quisesse ser original o tempo todo.

Pyr Marcondes: Mas, Nizan, seu discurso mudou?

Nizan Guanaes: Não, eu sempre falei isso.

Pyr Marcondes: Você, mais jovem, criador profissional, você defendia com mais ênfase a importância dos prêmios.

Nizan Guanaes: Não, não, neca de pitibiriba, não, senhor. [risos] Eu sempre disse a mesma coisa, que tem horas que você tem que ser criativo, agora, que nem sempre você tem que ser criativo. Se você tem algo assim que lhe diferencia, por exemplo, se você descobriu a cura da aids, o título não é: Aleluia! O título é: eu tenho a cura da aids. Ela é uma coisa fundamental por si mesma, portanto, ela não precisa de penduricalhos, essa sempre foi a minha opinião, desde a escola. Eu não estou renegando a criatividade, eu estou dizendo o seguinte, se a criatividade é usada para atrapalhar, em vez de ser uma ponte de comunicação, ela é um ruído, então ela não é útil. Não é útil.

Sonia Racy: E como é que você separa uma coisa da outra, vocês têm pesquisas, como vocês auferem a efetividade da campanha que vocês criam?

Nizan Guanaes: Ah, tem muitas, tem desde recall [termo usado em marketing que equivale a uma pesquisa realizada com o público e que leva em conta a lembrança, a memorização de um comercial sob diferentes enfoques], desde share [market share é um termo usado em publicidade que mede a fatia de mercado ou quota de mercado que uma determinada empresa ou marca ocupa. É quantificada em porcentagem], desde brainware [diz respeito aos conhecimentos científico e tecnológico, habilidades técnicas, talento, criatividade, valores, atitudes, cultura geral, educação formal, formação e aperfeiçoamento de cada profissional ou de uma equipe], de top of mind [prêmio oferecido normalmente por empresas de comunicação baseados em pesquisas para saber a marca/empresa mais lembradas, pelos consumidores ou profissionais que atuam nas diferentes categorias de produtos e serviços], quer dizer, quando você lembra... Você tem que ver o que um determinado anunciante busca.

Sonia Racy: Você acabou de contar oito palavras americanas para o telespectador, o que é exatamente isso?

Nizan Guanaes: Lamentavelmente, não tem nenhuma em Orubá, [risos] só se for tratar aqui sobre acarajé agora, quando eu for falar de macumba, eu falo, odé comorodé, odé arerê, mas também...

Sônia Racy: Também tem que traduzir né?

Nizan Guanaes: É claro, mas em publicidade, as coisas vêm mesmo do...

Sônia Racy: Como vocês auferem a efetividade?

Nizan Guanaes: Se o comercial é memorável, se vende ou se ele está construindo uma marca na cabeça do consumidor.

Sônia Racy: Isso é coisa fácil do cliente detectar, é fácil?

Nizan Guanaes: Em vários níveis é. O seu comercial tem que estar criando relacionamento entre sua marca e o consumidor. Isso é construir uma marca.

Sônia Racy: Como o cliente sabe se está vendendo mais por causa do anúncio que você criou, fez para ele, ou se a economia está mais aquecida?

Nizan Guanaes: Nunca é uma coisa isolada, nunca é uma coisa isolada, assim, é uma coisa como o seguinte: um médico não sobrevive sem exames, um anunciante também. Ele tem que estar muito bem dotado de informação. A publicidade não é uma coisa isolada, ela é uma coisa que faz parte do composto mercadológico. Então você tem a publicidade, mas também tem o canal de distribuição, você tem preço, tem toda uma série de coisas que vão ser importantes. Então, acho que a propaganda, ela pode ajudar e ela pode atrapalhar. Mas ela é nunca sozinha, isolada, nem no mérito e nem na tragédia.

Maria Cristina Poli: Tem exemplo disso, que você está falando, campanha super boa que acabou atrapalhando a distribuição do produto?

Nizan Guanaes: Não, eu dou um exemplo...

Sônia Racy: Ou uma campanha ótima num momento ruim da economia brasileira?

Nizan Guanaes: Eu dou um exemplo, existem outros, a Pepsi no Brasil. A Pepsi tem uma das melhores campanhas do mundo, é o que há de mais talentoso, mais extraordinário, de mais premiada e pertinente. Só que a Pepsi tem um problema de distribuição. Está certo? Ela tem um problema de distribuição, eu tenho certeza que os próprios dirigentes da Pepsi devem reconhecer o trabalho extraordinário que a BDDO faz a nível mundial e a nível local também. Mas você não pode analisar aquilo como fato isolado. Quer dizer...

Pyr Marcondes: Num artigo de hoje, para a Folha de S.Paulo, você faz algumas citações de publicitários que não reconhecem na campanha dos mamíferos [campanha do leite Parmalat que mostra crianças vestidas de vários filhotes de animais], uma campanha criativa. Você cita, citando os publicitários, o seguinte: que os publicitários diriam que ela é fofinha, boba e açucarada, mas que não é criativa.

Nizan Guanaes: Isso mesmo.

Pyr Marcondes: Você faz todo um raciocínio em cima disso. Você concorda com eles ou não concorda com eles nesse contexto?

Nizan Guanaes: Sabe o que acontece? Eu acho o seguinte, acho que propaganda tem que falar com as pessoas, tem que falar com o povão, tem que falar com a dona de casa. Eu sempre disse que eu queria ser Janete Clair. Então, você não pode só fazer músicas de prestígio numa agência, você tem que fazer, sobretudo, no seu repertório musical você tem que ter a música que vai ficar consagrada e que vai tocar no rádio. Então, Parmalat é para tocar no rádio, é para tocar as pessoas. Se ela vai ser esnobada porque é doce, ela é que nem Love story [filme americano de amor, dramático e choroso, sucesso de público na década de 1970], que nem as músicas do Roberto [Carlos], elas nunca vão ganhar prêmios e nem ser reconhecidas, mas são as coisas que o povo canta.

[...]: Campanha da Parmalat é uma campanha que tem feito caixa registradora no país?

Nizan Guanaes: O cliente cresceu 30% em vendas, ganhou lideranças em áreas que ela não tinha e cresceu, como eu diria nessa própria matéria, estava presente em 15% dos lares, hoje está presente em 90% dos lares.

Sérgio Amato: Eu vi a campanha também em Porto Rico, vocês estão exportando?

Nizan Guanaes: Estamos exportando ela.  E o que é mais interessante é o seguinte, a Parmalat tem uma verba seis vezes menor que a Nestlé que é nosso concorrente, a verba da Parmalat é em torno de treze, 14 milhões e a verba da Nestlé é 70. E a Parmalat está há um ano liderando as pesquisas de recall de Meio & Mensagem do Data Folha, isso aí chama-se eficiência no trabalho publicitário.

Edney Narchi: Nizan, você falou há pouco tempo a respeito de suas orientações para os novos criativos, que trabalham com você. Além da responsabilidade com os clientes, eficiência, quais são as responsabilidades que você transmite para os novos criativos em relação à ética, daquilo, do produto final que sai da DM9 que vai ser levado ao público.

Nizan Guanaes: Bom, eu acho o seguinte, acho que todo o negócio que você tem, tem que participar da sua comunidade, do seu país, está certo? Ele tem que servir para alguma coisa. Não querendo concorrer com educação. Eu não tenho a mesma visão que o Oliviero Toscani [ver entrevista com Toscani no Roda Viva] tem sobre publicidade, eu não tenho. Agora, eu acho...

Edney Narchi: Felizmente.

Nizan Guanaes: Agora, eu acho que a publicidade tem compromisso sim, ela tem limites sim, tem limites em usar coisas do Brasil, tem limites, tem coisas que são absolutamente sagradas e acho que não devemos ultrapassar aquele limite. Sabe? Existem coisas que a gente tem que ter cuidado com certos cinismos que, às vezes, são recorrentes na publicidade. Então, é preciso ter cuidado porque a gente está entrando muito profundamente nas casas das pessoas. A gente tem que tomar muito cuidado com o que a gente fala com elas.

Maria Cristina Poli: Você falou Janete Clair, Roberto Carlos, agora, estava citando... Quais as referências, Nizan, para o trabalho, você tem parâmetros que você usa de ética, inspiração, quais são suas referências?

Nizan Guanaes: Olha, tem uma pessoa que eu gosto pessoalmente e que a vida me deu privilégio de ser meu amigo que é o Caetano [Veloso]. Acho que o Caetano tem duas coisas maravilhosas, primeiro: que ele é uma pessoa antenada com o mundo, mas profundamente admirador do Brasil. E a outra é que ele é super solidário com os movimentos sociais, com as coisas, com a agenda do país. Então, eu acho que ele é uma pessoa que eu tenho como referência. Eu gosto de olhar, e estar perto... Eu sempre digo que sou um ogã do Caetano... [risos] Eu fico por volta o que eu puder.

Sônia Racy: Por falar em Brasil, eu queria que você explicasse por que o Brasil, considerado um país de Terceiro Mundo ou país em desenvolvimento, tem uma propaganda de Primeiro Mundo. Propaganda brasileira é reconhecida internacionalmente, mundialmente, ganhadora de prêmios e etc. Como você justifica essa discrepância, vamos dizer?

Nizan Guanaes: Eu acho o Brasil um país extremamente criativo, isso aparece em muitas coisas, no futebol, na literatura, um país que tem Machado de Assis, quer dizer, esta expressão de criatividade é variada. Não é? 

Sônia Racy: Também na produção dos filmes, é refinada, alta tecnologia...

Nizan Guanaes: Eu acho, o Brasil tem televisão boa, isso já ajuda né. Nossa televisão é de qualidade. Então, o que se produzia na programação acabou, de certa forma, reforçando o padrão de qualidade do intervalo. Agora, acho o Brasil extremamente criativo, eu acredito profundamente no Brasil. Estou plenamente convencido o que Brasil é a "bola da vez".

Sônia Racy: Como a globalização está afetando, vamos dizer, a publicidade brasileira, as agências brasileiras?

Nizan Guanaes: De jeito nenhum, as agências brasileiras vão se juntar com agências internacionais, acabei de me juntar com DDB [grupo pertencente à Omnicom, da qual faz parte a OMD, e estende a sua área de atuação a 97 países com 206 escritórios. No Brasil a DDB associou-se à DM9 desde 1997. A nova DM9/DDB torna-se, em 1998, a primeira agência fora do eixo EUA-Inglaterra a se sagrar Agência do Ano em Cannes].

Célia de Gouveia Franco: Você se juntou por causa de dinheiro? Porque eles fizeram uma oferta tão tentadora, no ponto de vista financeiro, que você resolveu...

Nizan Guanaes: Não, olha eu não vou dizer....

Edney Narchi: Você se juntaria com outro tipo de agência que não fosse DDB?

Nizan Guanaes: Não, exatamente. A pergunta é excelente e me ajuda nesse sentido. Hoje, na Meio & Mensagem que saiu hoje, a DM9 é apontada, o crescimento da DM9 é destacado pela revista, nós crescemos 46%, saindo do oitavo lugar para quarto lugar em 96. Então, agência com essa performance não tem o porquê por razões financeiras se juntar com ninguém. O que acontece é o seguinte, há muito tempo eu venho esperando um parceiro ideal porque eu achava que era fundamental ter um parceiro nesse panorama globalizado. Acontece que, antes, você tinha uma boa oferta, ou você tinha boas ofertas de dinheiro e ofertas ruins de parceria, ou ofertas boas de parceria e ofertas ruins como negócio. Finalmente, nós encontramos um grupo internacional que é, primeiro, um grupo internacional extremamente forte, segundo maior grupo do mundo, logo depois da WPP [grupo de comunicação dirigido pelo inglês Martin Sorrell, a Wire Plastic Products deixou para trás a indústria de cestas de supermercados para se dedicar somente à comunicação e transformar-se num império na área da propaganda], na qual o Sérgio faz parte. É um grupo de altíssima qualidade, pertence ao grupo Omnicom [Omnicom Media Group é umas das 3 divisões – a de serviços na área de mídia – do grupo Omnicom Inc., entidade líder mundial nas áreas de publicidade, marketing e comunicação] que tem, a meu ver, as três melhores agências do mundo: BBDO, DDB e DVWA. Então, é um grupo que tem tudo a ver. DDB foi fundada pelo Bill Bernbach [(1911-1982) publicitário norte-americano que ficou conhecido por fazer a campanha do fusca – nos Estados Unidos - com bom humor ele mudou o jeito de fazer propaganda na América] que para mim é o publicitário mais importante do mundo junto com o David Ogilvy [(1911-1999) publicitário inglês considerado o pai da propaganda moderna], então, ele é um homem que influenciou todas as grandes agências do mundo. Este homem...

Sônia Racy: [Interrompendo] O que um parceiro estrangeiro traz para uma agência nacional? O que ele traz?

Nizan Guanaes: Tecnologia, informação, acesso rápido à pesquisa mundial, sobre as grandes tendências, e tem o seguinte...

Sérgio Amado: [Interrompendo] Traz clientes também né?

Nizan Guanaes: Clientes. Mas acho que o mais importante... Olha, este país é a "bola da vez". Não vamos ver isso agora, mas dentro de cinco, seis, dez anos, as marcas brasileiras vão precisar da gente pela América Latina, pela África, pelos Estados Unidos. E aí vai ser fundamental ter parceiros internacionais.

Sérgio Amado: Corre uma informação em Nova Iorque, em alguns outros países, que você vai, em 98, assumir a presidência de criação mundial de DDB, é verdade ou mentira?

Nizan Guanaes: Não, velho! Isso é conversa fiada! Mas eu adoro o Brasil, adoro morar aqui.

Sérgio Amado: Mas fica bem, não fica?

Nizan Guanaes: Não, fica bonito, fica fofo, mas... Eu adoro o Brasil.

Célia de Gouvêa Franco: Nizan, o fato de você ter feito associação com uma agência estrangeira, significa que você não vai mais poder fazer campanhas políticas, porque normalmente as agências estrangeiras, principalmente as americanas, não permitem isso.

Nizan Guanaes: Não, a DM9 não vai poder fazer campanhas políticas. Eu quero fazer e farei.

Sérgio Amado: Como você vai fazer?

Célia de Gouvêa Franco: Se o Fernando Henrique te convidar para fazer campanha para reeleição, você vai sair da DM9?

Nizan Guanaes: Vou me ausentar por dois, três meses, e vou fazer com muito prazer, muita alegria. Se ele não me convidar, eu vou entrar num diretório tucano e vou para rua ficar buzinando.

Pyr Marcondes: Ou seja, Nizan, vale a pena, quer dizer, o cerceamento que você está tendo pelo grupo internacional com o qual você se ligou em troca do negócio que você fez, vale a pena?

Nizan Guanaes: Não é cerceamento nenhum, eles simplesmente me pediram, não tinha nada de mais, eles não me obrigaram. Olha não tem problema nenhum, eu me licencio e vou fazer aquilo que eu acredito. Eu não sou apaixonado por fazer campanhas políticas...

Matinas Suzuki: Já que nós estamos falando de campanha política, o que tem de verdade nessa recorrente notícia, que vira e mexe reaparece, que você tem pretensões de se candidatar a prefeito de Salvador, governador da Bahia?

Nizan Guanaes: Isso é..., isso foi uma bobagem que eu falei, são aquelas coisas que a gente fala... [risos] Depois paga pelo resto da vida.

Pyr Marcondes: Você falou e o Duda registrou? [Duda Mendonça, também publicitário baiano tão famoso quanto Nizan]

Nizan Guanaes: É verdade.

Sérgio Amado: Duda Mendonça vai fazer a campanha dele? [risos]

Nizan Guanaes: É verdade, seria extraordinário! Mas é verdade isso, eu falei para isso na revista Playboy, mas a gente fala as coisas, depois amadurece e muda de opinião.

Sônia Racy: Há quantos anos atrás você disse isso?

Edney Narchi: Foi em 92.

Nizan Guanaes: Essa pergunta, é quando eu amadureci? [risos] O que acontece é que eu disse essa bobagem, sei lá, quanto tempo? 92, e estou pagando por ela há muito...

Edney Narchi: Mas, por que pagando?

Nizan Guanaes: Porque as pessoas ficam enchendo a paciência, tudo elas acham... Se você faz qualquer coisa na Bahia, o sujeito já acha que aquilo já é em função de uma futura campanha, quer dizer, acaba com qualquer originalidade, você está entendendo? Não pode fazer nada...

Sérgio Amado: Para você investir em novos eleitores, é isso?

Matinas Suzuki: Uma vez me expressando com você, a propósito, que estamos falando de Bahia, eu senti pela primeira vez, Nizan, certa..., uma não alegria, vamos dizer assim, de você falando da Bahia. E você me dizia que embora... Na verdade, você tinha oportunidades de trabalho no Brasil inteiro, em vários lugares do mundo, e que tinha muito pouco na Bahia, isso é verdade?

Nizan Guanaes: É, isso aí é, "santo de casa não faz milagre". Eu acho que só uma única vez um empresário baiano me chamou para fazer publicidade. Santo de casa..., "ninguém é profeta em sua própria terra".

Sônia Racy: Quem foi este...

Nizan Guanaes: Uma empresa baiana de construção chamada Suarez, e eles fazem prédios e tal, me chamaram, e foram muito simpáticos e tal, mas foi a primeira e última vez. Nunca fui chamado para nada.

Maria Cristina Poli: Você pensa em sair do dia-a-dia da publicidade e fazer outra coisa: televisão? Só cuidar de política?

Nizan Guanaes: Não, só cuidar de política não. Eu, às vezes... penso em fazer televisão, mas eu gosto muito de publicidade. Eu não tenho aquela natureza do publicitário que foi escrever anúncio porque não sabia fazer contos, ou porque está preparando um roteiro, entende? Eu não vejo publicidade como uma coisa menor, ela não é um, assim... um purgatório que eu estou pagando para chegar... Eu gosto de vender, eu gosto de imaginar...

Maria Cristina Poli: Mas o que em televisão você imaginou?

Nizan Guanaes: Eu sou árabe, nós estamos no comércio há muitos e muitos anos.

Maria Cristina Poli: Mas o que em televisão, você imagina fazer?

Nizan Guanaes: Eu gostaria de fazer programação, mas o fato é que hoje, me sinto ainda muito..., tenho muita coisa para fazer ainda em publicidade, coisa que eu gosto.

Sônia Racy: Queria que você pegasse esse seu talento árabe aqui e fizesse um resumo do que é para você, o produto Brasil? Descreva o produto Brasil. Como você venderia o Brasil lá fora?

Nizan Guanaes: Nós somos a próxima grande potência, eu acho isso. O Brasil tem que parar de ser modesto consigo mesmo, que a natureza não foi. É possível!

Sônia Racy: Você acha que o Brasil é modesto?

Nizan Guanaes: Acho que o Brasil é caipira, o Brasil é caipira. O Brasil...

Maria Cristina Poli: [interrompedo] Dentro da pergunta da Sônia, você mexeria na imagem da Dona Ruth [Cardoso], Fernando Henrique? [ver entrevistas com Ruth Cardoso e Fernando Henrique Cardoso no Roda Viva]

Nizan Guanaes: Não, as pessoas não têm que mexer.

Sônia Racy: Quero saber como ele venderia o Brasil lá fora.

Nizan Guanaes: O Brasil, por exemplo, é um país que..., a verba da Embratur não dá para espalhar nem boato, [risos] o que tem a verba da Embratur, quatro, cinco milhões, sabe, o Brasil é um país que não tem uma campanha lá fora. O Brasil vive um momento fantástico, e não está conduzindo este momento. Por que o Brasil...

Sônia Racy: [interrompendo] Viajando lá fora, você nota que Argentina se vende muito bem? O Chile se vende muito bem.

Nizan Guanaes: Muito mais.

Sônia Racy: Como é que você venderia o Brasil?

Nizan Guanaes: Posso dizer um negócio? Brasil tem oportunidade de ouro agora, de ouro, que são os 500 anos do Brasil. Nós ficamos chorando porque perdemos as Olimpíadas. Mas no ano 2000, é Olimpíadas que já ganhamos. O século vai virar e o Brasil vai fazer 500 anos. Nós temos que pegar esses 500 anos, a iniciativa privada e o governo; não é só o governo não. A iniciativa privada, sujeito que vende camiseta tem que dizer: puxa, o Brasil vai fazer 500 anos, tenho que fazer um lote de camisetas.

Sônia Racy: E o governo de Portugal também...

Nizan Guanaes: Não, tudo.

Pyr Marcondes: O que a DM9 já está fazendo nesse sentido?

Nizan Guanaes: Olha, eu estou... eu e a Bia Aidar temos conversado com pessoal, com Fernando de Barros da Properity da Bahia, com várias pessoas no sentido de nos movimentarmos para criarmos um calendário, tem que ter uma marca, porque não chamam o Oscar Niemeyer [ver entrevista com Niemeyer no Roda Viva] para criar marca dos 500 anos do Brasil?

Pyr Marcondes: Mas quem é o cliente?

Nizan Guanaes: Não é cliente, é oportunidade. Quer dizer, o governo vai ter que pensar de uma forma institucional dele. Mas a mídia vai ter que pensar, a indústria vai ter que pensar. E nós não somos assim. Se deixar, o Brasil não vai comemorar. O Brasil não comemorou 200 anos, gente!

Sônia Racy: A que você atribuiu esta falha? Ali existe uma falha.

Nizan Guanaes: Nós somos católicos, o problema é que somos católicos, nós achamos de vender uma coisa menor, nós temos essa coisa de angústia de ganhar dinheiro, sabe? Nós temos essa coisa triste, está certo? Uma das poucas coisas positivas desse negócio aí, desse arroubo de crentes [crescimento do protestantismo] no Brasil, é ver se no bojo disso, que vem um monte de coisas que são discutíveis, mas, se no bojo disso vêm coisas calvinistas de dizer, não, vamos resolver um pouco as coisas aqui!.

Sônia Racy: O México e a Argentina também são países católicos.

Nizan Guanaes: Mas, eles tiveram os ingleses lá, nós não somos um país..., nós achamos que vender é uma coisa menor, nós achamos que aproveitar oportunidades é uma coisa menor; e não é.

Sônia Racy: Acha que está mudando ou não?

Nizan Guanaes: Vai mudar.

Sônia Racy: Por quê?

Nizan Guanaes: Vai mudar porque o Brasil está se abrindo para o mundo. Éramos uma grande Albânia tropical.

Matinas Suzuki: Nizan, Luiz Carlos Rodrigues de São José do Rio Preto, aqui do interior do estado de São Paulo, pergunta o que você pensa a respeito dos efeitos nocivos do trabalho da publicidade de induzir pessoas ao consumismo, muitas vezes até exagerado e etc e tal? E a Juliana Aquarone aqui de Ibitinga, também estado de São Paulo, estudante de comunicação, pergunta se não há uma exploração do trabalho infantil na publicidade? Qual sua opinião sobre a utilização desse trabalho como apelo de consumo?

Nizan Guanaes: Olha, eu não consegui ainda convencer anões a tomarem papel de crianças. No mundo inteiro as crianças trabalham, não acho que há exploração nenhuma. Primeiro, que as crianças são recrutadas. Elas vão de livre e espontânea vontade. São tratadas super bem, são pagas bem; não tem nada demais. As crianças são super bem tratadas. Outro dia, tentou-se criar uma bobagem disso, dizendo que as crianças eram maltratadas em filmagens, de jeito nenhum. Elas têm o maior cuidado, são tratadas a pão-de-ló! Agora, quanto ao consumismo, isso é coisa que realmente... agora não cabe o papel disso [à publicidade], o papel de criar valores à sociedade, cabe à educação, isso é a minha divergência com Oliviero Toscani, ele acha que a publicidade tem que ter o papel da educação e da arte, não é! A publicidade não tem esse papel.

Célia de Gouvêa Franco: O problema da publicidade é vender, é isso?

Nizan Guanaes: Mas é claro. É vender e criar marcas e obedecer ao bom gosto, à ética, decência. Agora, o papel da publicidade é vender.

Célia de Gouvêa Franco: Você que tem sempre falado da sua preocupação social, você se envolveu em vários projetos sociais, é um homem que gosta de discutir política, você mostra todo seu entusiasmo pela política. Você realmente não se preocupa quando está criando uma campanha de um produto cujo preço vai estar acima do poder aquisitivo da maioria da população, isso não te afeta?  Não te preocupa?

Nizan Guanaes: De jeito nenhum, quer dizer, não quando eu estou criando. A desigualdade me afeta e me aflige. Agora, não é a propaganda que vai resolver o problema da desigualdade.

Célia de Gouvêa Franco: Você faz caridade?

Nizan Guanaes: Olha, eu me envolvo muito nessa área, por exemplo, a DM9 tem um projeto que está caminhando lentamente, de nós assumirmos a escola do nosso bairro. Está indo pari passu porque o primeiro semestre eu estava realmente muito voltado para nossa junção, mas, nós vamos assumir a escola do bairro. Nós temos nos envolvido, não em caridade, mas em muitas atividades, seja, no Masp [Museu de Arte de São Paulo], Teatro Municipal, seja fazendo todo o tipo de campanha social que a gente é convidado, seja se envolvendo nos movimentos sociais do Brasil. Então, eu não acredito, eu não gosto muito de caridade, essa coisa melosa, essa coisa de você ficar dando ali um paliativo. Mas eu acho que é fundamental para qualquer empresa, qualquer nível, se envolver com as coisas do Brasil.

Maria Cristina Poli: Quer dizer, a solidariedade, é isso que você está dizendo?

Nizan Guanaes: Sendo solidário.

Sérgio Amado: Nizan, nós estamos vivendo um momento especial no Brasil com a queda do Decreto Lei 4680 [regulamenta o direito à informação, assegurado pela Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, sem prejuízo do cumprimento das demais normas aplicáveis] e a entrada em vigor agora, dentro de mais ou menos dez dias, da auto-regulamentação. Acho que é essa a grande oportunidade para você explicar um pouco isso para o Brasil, ver sua opinião, sua posição sobre isso.

Nizan Guanaes: Olha, eu acho que isso foi um passo muito importante, quer dizer, acho que não tinha porque o nosso mercado estar tutelado por uma lei, não fazia sentido isso, quer dizer, eu acho que ele é maduro o suficiente para se auto-regulamentar como faz com o Conar [Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, organização não-governamental que visa impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou a empresas]. O Conar é exemplo perfeito disso. Nós não precisamos da Justiça, nós não precisamos de ninguém para nos dizer quando algo atenta contra o bom gosto ou é indecente, ou... sabe, o Conar retira aquilo imediatamente. Então, acho que atividade que tem tido essa maturidade, pode perfeitamente...

Sônia Racy: O governo federal acertou na medida, ele acertou nessa...

Nizan Guanaes: Acertou.

Sônia Racy: Na fórmula.

Nizan Guanaes: E os publicitários comandados por Flávio Corrêa acertaram no momento em que se reuniram em torno dessa tabela de auto-regulamentação que eu acho que vai funcionar muito bem.

Sônia Racy: Você vai exigir uma regulamentação na área de publicidade?

Nizan Guanaes: Essa regulamentação, essa reestruturação já vinha havendo porque ninguém obedecia mais, ou era...

Célia de Gouvêa Franco: [interrompendo] A não ser o governo que continuou não pagando?

Nizan Guanaes: Ninguém obedecia, exatamente, ninguém obedecia mais. Então, eu acho que é uma conquista importante, acho que auto-regulamentação está sendo conduzida de uma forma muito madura.

Sônia Racy: Mas, o lucro das agências vai diminuir?

Nizan Guanaes: Isso está acontecendo no país inteiro.

Sônia Racy: Isso vai exigir uma reestruturação?

Nizan Guanaes: Isso já vinha havendo, quer dizer, já vinha caminhando, quer dizer, eram raríssimos os clientes que trabalhavam dentro da faixa dos 20%, embora eu digo o seguinte...

Sônia Racy: Vocês não têm medo de um dumping [exportação de uma mercadoria para outro país por um preço muito abaixo, entendendo-se como tal um preço inferior ao custo de produção do bem ou então inferior àquele praticado internamente no país exportador. É considerada uma prática desleal de comércio internacional]?

Pyr Marcondes: Ou quebradeira de pequenas e médias empresas?

Nizan Guanaes: Aí, temos que ser responsáveis, porque uma coisa é você ser como nos Estados Unidos e Inglaterra em que as pessoas trabalham em torno de 15%, 16%. A outra é fazer como Argentina, é um quebra-quebra e você tem um mercado super frágil, quem é de mídia sabe, é difícil fazer negócio na Argentina, isso fragiliza o país. Então, eu acho que é muito importante que a gente conduza isso bem. Agora, a publicidade brasileira tem qualidade para isso. Eu acho que a indústria será uma parceira da publicidade, porque ela não vai crescer, e ela não vai conseguir enfrentar as marcas que estão vindo aí, se ela não tiver boas agências de publicidade.

Orlando Marques: Nizan, você não acha que neste período, a Sonia inclusive tinha feito uma pergunta antes, acho que combina um pouco com essa situação. O período que a gente teve essa proteção, essa lei, ela fez com o que mercado crescesse, quer dizer, nós tivemos uma qualidade de propaganda de primeiríssimo mundo quando nós estávamos mergulhados no terceiro, possivelmente porque tínhamos uma lei que detonava esse negócio um pouco mais protegido e um pouco mais forte. Na medida em que caiu a lei, não quer dizer que necessariamente você perca qualidade, mas ela ficou desprotegida, não?

Nizan Guanaes: Esta lei já caiu há muito tempo. Há muito tempo ela já caiu.

Célia de Gouvêa Franco: No caso específico seu, da sua agência, a grande maioria dos seus clientes já não pagavam o que a lei determinava que pagassem?

Nizan Guanaes: Olha, eu vou te dizer, eu diria que 50% sim e 50% não. Agora, nós vamos todos ter que nos formatarmos a essa nova realidade.

Célia de Gouvêa Franco: De mercado...

Nizan Guanaes: Por isso que a DM9 é uma agência extremamente enxuta, eu sempre digo que a única gordura que DM9 tem, sou eu.

Orlando Marques: Que de vez em quando se enxuga também.

Nizan Guanaes: Eu tenho, as agências que estão próximas a mim, em faturamento que tem, sei lá, 300, 400 funcionários. A DM9 é uma agência extremamente enxuta. Eu acho que todo mundo vai ter que olhar. Agora, não acho que vai ter uma transformação muito grande na propaganda brasileira não. O que vai ter é mais preocupação, mais pertinência.

Orlando Marques: Agora, eu só queria perguntar o seguinte, ao empresário da propaganda, ao dirigente, você criador. Mas você também é dirigente de uma indústria, já tem essa consciência há bastante tempo, essa é a impressão que pelo menos eu tenho, não há uma mudança da noite para o dia. Ela vem caminhando para isso?

Nizan Guanaes: Não, não, acho que o mercado publicitário já vem se preparando lentamente para isso. Não conheço um publicitário que não tem nos últimos dois anos se preparado para isso. E não conheço também, eu acho que as modificações, as negociações já vieram acontecendo...

Sônia Racy: A criação da DM9, em 99, é reflexo disso?

Nizan Guanaes: Não, a DM9, é buscar esse mercado extraordinário. Hoje eu vi na agência e anunciantes que saiu no Meio & Mensagem, que a maioria dos dez maiores clientes brasileiros, acho que quatro ou cinco são de varejo. Então, essa é uma área extraordinária. E é uma área muito mal entendida que as pessoas prestam muito pouca atenção, e quem vai atender essa área pessoalmente, sou eu. Porque eu adoro varejo, eu comecei com varejo.

Sônia Racy:  É o [Ricardo] Mansur [empresário paulista, filho de libaneses, ficou conhecido por assumir e tentar salvar duas lojas do varejo, Mesbla e Mappin, deficitárias. No entanto não conseguiu, as lojas foram à falência em 1999 e os bens de Mansur leiloados para saldar dívidas dos credores]. [risos]

Matinas Suzuki: Mas do ponto de vista dos novos tempos aí de publicidade no Brasil, o ponto de vista das agências, vai haver alguma mudança no sentido de que elas vão ter sempre que diversificar as atividades? Por exemplo, hoje para você comunicar uma marca, você tem uma série de coisas, tem comunicação institucional, você tem a venda, muitas vezes, você tem promoção, que você tem que fazer, essa coisa toda. E algumas agências, tanto no Brasil como fora do Brasil, pensam que isso é o caminho das agências de publicidade, quer dizer, só agências, só tradicional, de publicidade, essa coisa toda, só faz anúncios.. Ela estaria, enfim, período datado. Que visão você tem disso? É questão controversa dentro do meio, mas que visão você tem disso?

Nizan Guanaes: Não acho que vai acontecer. Embora uma das razões para essa associação, é que essa é uma forma de ter todos esses serviços sem ter que implantá-los, porque quando você pertence a um grande grupo já tem esse serviço, já tem esse serviço. Então, a DDB tem desde empresas de site, de varejo, de impressão de catálogo, de marketing institucional. Então, eu tenho tudo isso muito rapidamente ao alcance de nossa mão. Agora, eu acho que, no meu caso, o talento da DM9 é para cuidar de publicidade. O que não significa que a gente ignore a promoção, que a gente não ignore o marketing direto, tudo isso é fundamental. O que nós fazemos, nós trabalhamos com fornecedores, ao invés de querermos... queremos administrar tudo ou ficarmos perdendo tempo com nosso... Nós focamos em publicidade no que nós vamos fazer e gerenciamos a comunicação.

Sérgio Amado: Isso quer dizer que o mercado caminha para ser controlado pelos grandes agências, grandes grupos multinacionais?

Nizan Guanaes: Eu acho, acho que sempre vai sobrar a última casa da rua. Tem grandes agências, independente..., eu não acredito, essa história de tendência de que tudo vai ser... Olha, a melhor coisa sobre tendência é o seguinte: nós passamos os últimos 20 anos fazendo filme de ficção científica, dizendo que nós seríamos invadidos por Marte, e fomos nós que invadimos Marte.  [risos] Entendeu? Nós vivemos 30, 40 anos dizendo que quando chegássemos ao ano 2000, comeríamos pílulas. E nós queremos comer tomate sem agrotóxicos. Então não é exatamente como a gente pensa que o futuro é. Graças a Deus.

Pyr Marcondes: E quando você monta uma DM9 ponto 99, não corre o risco dos clientes entenderem que você está montando uma estrutura um pouco mais baratinha para atender, de menor qualidade?

Nizan Guanaes: Não, não...

Pyr Marcondes: Não existe um risco do cliente entender isso?

Nizan Guanaes: Não, não é mais baratinha, ela é uma estrutura voltada para outro tipo de pessoa. Para atender imobiliário, varejão, ao supermercado, à rede de drogarias.

Maria Cristina Poli: Isso significa público C e D, especialmente, ou não?

Nizan Guanaes: Não, é uma outra forma. Varejo imobiliário é primo de publicidade. Não é exatamente publicidade. Por quê? Porque ela não precisa tanto de criatividade, mas mais da criatividade estratégica. Ninguém compra uma geladeira porque o título é bonito né.

Célia de Gouvêa Franco: É preço?

Nizan Guanaes: É preço, é a forma como você situa o varejo né, e nós pretendemos ter um trabalho mais abrangente, cuidando da parte visual das lojas, da programação das lojas, quer dizer, de todo... O varejo brasileiro, do ponto de vista de visual, de envolvimento, ele é muito chato. Você vê, o Brasil não tem uma loja de brinquedos encantadora, são todas sem a menor poesia. Você entra nos Estados Unidos, na FAO Schwartz [loja de brinquedos de Nova York, famosa por ter um piano muito grande que se toca com os pés, o mesmo que apareceu no filme Quero ser grande, estrelado por Tom Hanks], você é sugado para comprar, as pessoas criam envolvimento para que você compre. No Brasil não, somos extremamente objetivos, e não é possível, você tem que criar um pouco de fantasia, de envolvimento.

Orlando Marques: Nizan, você não acha que a pobreza do varejo nosso tem muito a ver com esses anos aí de correr atrás dos preços hoje para botar na loja amanhã, e vender depois de amanhã e fazer caixa na segunda-feira? Quer dizer, acho que é uma série de coisas.

Nizan Guanaes: Mas já passamos por isso, e as pessoas precisam..., é preciso agora, nós que vamos entrar num país...

Orlando Marques: [interrompendo] Normalidade para fazer uma campanha decente de varejo, porque você não precisa mais correr atrás do preço de hoje para amanhã. Acho que é isso?

Nizan Guanaes: Exatamente, e é preciso criar encantamento, envolvimento em tudo, na marca Brasil. Como você pode ter um país desses, rapaz? Como é que o café da Colômbia é vendido e o nosso não? Nós precisamos achar [a fórmula] para o país vender.

Célia de Gouvêa Franco: Nizan, como você vê publicidade na internet? Você acha que hoje se ganha dinheiro?

Matinas Suzuki: Esta é uma pergunta que também feita pelo Felipe Pugliese Júnior, aqui do Campo Belo em São Paulo, e do Wagner Mello, estudante aqui de São Paulo.


Nizan Guanaes: Internet é fundamental. Agora, é preciso entender a internet como a [atriz] Malu Mader aos treze anos, você não vai ignorá-la! Agora, ela ainda não é a Malu Mader na sua plenitude, internet não é. Tem muita conversa fiada. Você não pode..., e DM9 tem o PJ, que é um sujeito especializado em internet que trabalha 24 horas, se você olhar o nosso site, nosso site tem 400 acessos por dia, ele é um site extremamente dinâmico, e a gente presta muito atenção a isso.

Maria Cristina Poli: Nizan, como você vê o futuro da publicidade quando as TVs a cabo estiverem..., que você tiver jeito de medir a audiência delas, a internet também? Como você vê? Porque, até falando de tendência, a gente percebe cada vez mais, a gente assiste o que quer, isso deve aumentar. Como que você vê, o que vai sobrar para a publicidade?

Nizan Guanaes: O trabalho publicitário mais bonito do mundo é o trabalho da Nike. Porque a Nike construiu, e constrói de uma forma muito bonita, o relacionamento entre as pessoas e a marca. De tal forma que hoje, ela já se dá ao luxo de ter apenas a logomarca. Então, é bonito você ver esse trabalho de construção. Que não é um trabalho desesperado, porque o anunciante brasileiro é como o gordo, ele quer resolver tudo o que não resolveu em quatro anos em uma semana. Você não estabelece um vínculo profundo. A Nike não, ela vem construindo isso, mas com uma coerência, ou seja, a Nike por exemplo... a sede da Nike não é uma sede normal, é um campus, com uma grande pista de cooper em volta e com o ginásio de esporte no meio. Então, o que você vê é o seguinte, é uma empresa que está envolvida com a corrida, com o atletismo, com estar em forma, visceralmente. Eu acredito que é isso, quer dizer, o futuro são as marcas que são absolutamente coerentes na embalagem, na sua relação com o público, com a comunidade.

Maria Cristina Poli: É muito institucional, é isso?

Nizan Guanaes: É tudo, tudo faz sentido, porque certas vezes, as marcas parecem dubladas, a boca vai... Lembra dublagem de televisão, que a boca vai para um lado, e... [risos] o som para outro. Então, às vezes, os produtos são assim. Eles são modernos na televisão, mas agindo com sociedade, eles não são. Não, então, o que é? Você vê que a Nike, ela se preocupa tanto, que quando ela começou a ter críticas à utilização de trabalho escravo na China, ela contratou simplesmente para ser o homem que lida, das relações da Nike com a comunidade dos Estados Unidos, o ex-embaixador dos Estados Unidos nas Nações Unidas... Quer dizer...

Maria Cristina Poli: O que você está dizendo é que tudo isso o que a gente vê hoje, essa publicidade que é para esvaziar prateleira, vai ser carruagem daqui a um tempo?

Nizan Guanaes: Eu acho que ela vai ser transformar, ela não pode ser só isso, é um relacionamento em que um produto tem, ele ouve a sociedade, não é, e fala com ela, se preocupa com ela, e está ligada a ela.

Sônia Racy: Isso, você acha que existe possibilidade de todos os produtos desenvolverem esse tipo de relacionamento, esse tipo de...

Nizan Guanaes: Não, claro que não, claro que não, graças a Deus que não, a gente espera que os outros não façam isso. Evidentemente os mais modernos,  a Nike já faz isso, outros produtos no mundo, a Lee faz isso muito bem.

Sônia Racy: Tudo bem, mas um produto menor, de uma agência menor, mais focado num mercado pequeno?

Nizan Guanaes: Mas cada um vai fazer uma ação, Sônia, compatível com seu tamanho.

Sônia Racy: Você quer dizer que o produto tem que estar integrado, tem que estar inteiro?

Nizan Guanaes: Exatamente. Ele tem que fazer sentido.

Sônia Racy: Mostrar todas as fases numa unidade.

Nizan Guanaes: Eu vou dar um exemplo bobo, quando você entra na DM9, na recepção da DM9, nós colocamos ao invés de uma recepcionista normal, são gêmeas, por quê? Porque o sujeito tem que entrar ali, e aquele momento lúdico, ele recebe uma mensagem assim: "você está aqui num lugar de idéias". Isso que eu quero dizer. O que eu quero dizer é o seguinte, qualquer que seja a embalagem..., se você ligar amanhã para DM9, você vai ouvir a música do Batman, por quê? Porque eu quero que o sujeito entenda que nós estamos sempre ligados com as coisas. Então, cada um vai ter que fazer sua correlação, do tamanho do seu negócio e da sua idéia.

Célia de Gouvêa Franco: Você acha que o empresário brasileiro, o dirigente de uma empresa familiar está consciente disso? Está preparado para fazer?

Nizan Guanaes: Muitos não estão, e serão dilacerados pelo mundo moderno, outros serão. Tem muito empresário brasileiro antenado. E as agências do Brasil têm altíssima qualidade para chamar atenção disso.

Matinas Suzuki: O José Humberto Marsal de Garapava, aqui no estado de São Paulo, o Gabriel Borges, de Belo Horizonte, Marcelo Martins, da Moóca, Fábio Nóbrega, de Pirassununga, de São Paulo, todos eles querem saber a respeito da formação universitária, se você acha que é realmente importante, se não é importante? Se deve se estudar publicidade na universidade ou não?

Nizan Guanaes: Eu acho que deve, eu acho que deve, porque toda vez que a gente diz não, a gente encoraja um vagabundo a não fazer. Agora, não é determinante no sentido de que os grandes, como Washington Olivetto [publicitário brasileiro – veja a entrevista dele aqui no Roda Viva], um dos grandes publicitários deste país; acho que não é formado, Marcelo Serpa, idem, Fábio Fernandes, idem, Eduardo Fisher, idem. Então, que eu saiba, pelo menos né? Então, eu acho que não é condição sine qua non [termo em latim para “sem o qual não pode ser”, é a condição indispensável para que algo aconteça], agora, acho que é bom sempre ter um curso universitário. Agora, o que eu sempre falo é que o publicitário, o ideal seria que tivesse antes a formação de administrador, para que ele tenha uma visão clara sobre o negócio. Então, se fosse um familiar, um amigo muito próximo filiado, dizia: faça administração e depois faça um curso menor de dois anos, três anos na Escola Superior de Propaganda e Marketing ou coisa similar que tenha na sua área.

Sônia Racy: Você apanhou muito quando saiu da área de criação para montar sua própria agência e administrar, vamos dizer, passar justamente pela fase de administração?

Nizan Guanaes: Apanhei muito.

Sônia Racy: Do negócio...

Nizan Guanaes: Muito, muito! Primeiro.

Sônia Racy: Seu conselho revela um pouquinho...

Nizan Guanaes: Não, eu sou formado em administração.

Sérgio Amado: E ainda apanha né?

Nizan Guanaes: Apanhei. [risos] E ainda apanho porque esse é um mercado competitivo. Eu sou uma pessoa que vim de fora, embora São Paulo acolha de maneira fenomenal, eu amo São Paulo, mas é um mercado competitivo. Então você não consegue fazer e, de uma hora para outra, a sua ótica tem que mudar um pouco.

Sônia Racy: Mas você começou na criação, e começou na criação e foi crescendo, e finalmente montou sua própria agência?

Nizan Guanaes: Isso.

Sônia Racy: Então, é muito diferente você criar e administrar um negócio...

Nizan Guanaes: Exatamente.

Sônia Racy: Uma coisa que não tem nada a ver com a outra.

Nizan Guanaes: Exatamente.

Sônia Racy: É nessa passagem...

Nizan Guanaes: É por isso que eu digo que o livro que mais me ajudou em publicidade chama-se Gerente eficaz, de Peter Drucker [economista e filósofo (1909-2005) é considerado o pai da gestão moderna, esse livro sobre fala sobre administração e negócios].  Porque eu acho que a grande coisa que um diretor de criação e presidente de uma agência tem que ter é gestão de tempo. Se você não tiver gestão de tempo, não souber gerenciar seu tempo, dedicar às pessoas, eu não chego cedo como aquele ex-presidente da IBM que atendia as pessoas de pé. Mas eu perco muito pouco tempo, pelo menos durante... eu como baiano, adoro conversa fiada, sábado e domingo. Na agência eu gosto de objetividade, eu gosto de falar, às vezes até eu sou indelicado, porque eu gosto de objetividade.

Matinas Suzuki: Nizan, o que tem de verdade na história de que..., você estava falando de São Paulo, que é uma cidade que na realidade, você teria voltado para Bahia, ou que você ficou um ano fora das agências, essa coisa toda, porque você teria ouvido uma frase racista, alguma coisa desse tipo, é verdadeira essa história?

Nizan Guanaes: Veja bem, eu trabalhava na W/GGK [sigla de uma empresa de comunicação multinacional suíça que se associou a Washington Olivetto de onde provem o “W”, que mais tarde se transformou na famosa W Brasil] e não conheço um patrão melhor que o Washington Olivetto. Como concorrente, ele é duro, e como patrão, extraordinário. Não tenho do que me queixar. Agora, eu trabalhava numa construção e o prédio vinha crescendo, eu via o sujeito ali no andaime, e eu ia acompanhando, e eu dizia: “este sujeito vai morrer! Esse negócio vai cair!” E as coisas iam indo. Até que um dia em que eu chego de manhã, o corpo do sujeito no chão. E eu fui reclamar enraivecido, e eu disse alguns desaforos para o cara, e na hora do desaforo, ele nem pensou nisso, mas na verdade ele me disse: “não vai fazer a menor diferença um baiano a mais ou um baiano menos morto”. Eu fiquei muito irado com aquilo, e decidi que era tempo de tomar meu próprio caminho, fazer minha própria empresa, e procurar ajudar, e é isso que eu tenho tentado fazer, se fui bem-sucedido ou não...

Maria Cristina Poli: Você sofreu algum tipo de preconceito por ser baiano?

Nizan Guanaes: Não, não é bem assim, porque não há uma cidade tão acolhedora e mais legal para o imigrante que São Paulo. Agora, sem sombra de dúvidas, isso é etnocêntrico. Os nova-iorquinos nos tratarão assim. Porque cada centro mais evoluído vai tratar o outro, eu tenho certeza...

Sérgio Amado: Como os baianos tratam você diferente.

Nizan Guanaes: Exatamente. Como sujeito de Salvador trata o cara que vem do interior.

Maria Cristina Poli: Para você tem um sabor diferente fazer sucesso em São Paulo, ter dado certo aqui?

Nizan Guanaes: Não. É bom fazer sucesso em qualquer lugar. Eu não tenho aquela mágoa, eu não sou uma pessoa magoada, eu acho que o que eu tenho vontade é de retribuir, de fazer coisas por esses caras que caem do andaime o tempo todo. Eu, todo final de ano levo os funcionários da DM9 para um passeio. Porque as pessoas sempre dizem que as empresas são famílias, mas se é desse jeito que tratam as famílias é chato, né? Então eu sempre levo, todo ano eu levo. E sempre levo para a Bahia, sempre a gente puxa brasa pra minha sardinha. E vão todos, do boy ao diretor mais graduado da empresa, vão. E uma vez, na travessia da balsa para Itaparica, eu vi um boy dizer, ligava para casa: “mãe, pela primeira vez eu vi o mar”. Eu acho que as empresas têm que fazer isso. Elas têm que mostrar cada um o mar que o sujeito quer ver. Um é o mar propriamente dito, outro é o mar da educação, outro é o mar da língua, outro é o mar de uma nova carreira. Quer dizer, mas não é possível, você umbilicalmente voltado não vendo seu país, não é possível isso.

Pyr Marcondes: Que sentido teve essa sua volta para a Bahia, não ficou claro, depois do episódio?

Nizan Guanaes: Eu queria construir minha própria empresa.

Pyr Marcondes: Ajudar os baianos, nesse sentido, tinha esse sentido?

Nizan Guanaes: Não, ajudar o Brasil. Aquele cara, ele é por acaso baiano, mas ele poderia ser paraibano, amazonense, era uma coisa mais ampla. Eu queria e quero e gosto de ser empresário, eu gosto de gerar emprego.

Sérgio Amado: Você levou pouco tempo nessa volta, dois, três anos?

Nizan Guanaes: Não, porque o mercado na Bahia, você sabe Sérgio, você que tem tido uma performance extraordinária em São Paulo, o mercado da Bahia, do ponto de vista publicitário, ele é difícil. Eu me senti como um trator num sítio, entende? Eu acho maravilhoso ver o que a DM9 tem feito pela propaganda do Brasil. Eu acho maravilhoso ver que o [jornal] New York Times dá meia página da nossa junção com a DDB. O que mais que a gente pode fazer? A DM9, este ano em Cannes, foi a terceira agência mais premiada. Tudo bem, prêmio é porcaria, tudo ótimo, mas aquilo ali...

Sérgio Amado: [interrompendo] É mais difícil ter que explicar quem é você [risos].

Nizan Guanaes: É bom indicador, entende? Vamos criar empresas? Vamos. Vamos tocar o país? Vamos. Eu acho que é importante fazer isso. Eu só poderia fazer isso dentro da minha própria empresa.

Edney Narchi: Nizan, você mencionou, vários minutos atrás, várias liderança no setor publicitário, coincidentemente todas, mais ou menos, pouco mais, pouco menos, da sua geração. Meia hora atrás você renunciava expressamente a uma liderança política, cidade de Salvador. Você e sua geração de líderes publicitários, por que estão renunciando às lideranças das instituições representativas do negócio de propaganda? Você, Washington, Eduardo, Fábio...

Nizan Guanaes: Isso é verdade, essa mea culpa precisa ser feita. Isso o Orlando sabe, e o Sérgio Amado sabe, que nós estamos dando uma meia volta nessa questão e estamos procurando assumir nosso papel. A verdade é que o Brasil vivia uma época terrível. Existe um monte de gente tentando fazer um esforço brutal para dizer que não estamos numa nova era, e estamos. O Brasil mudou completamente, da água para o vinho, aliás, o Brasil é uma [atriz] Luana Piovani, que tem que se convencer que é gostosa. [risos] Tudo mudou, o país vive um momento de euforia, vive um momento de mudança mesmo, e sempre aquelas aves de agouro aí, puxando para baixo. Agora, eu acho que é muito importante que a gente desempenhe o papel, não só na publicidade não, mas com a própria agenda do país. Eu vou procurar lá, se for vitorioso na Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], eu espero que ele seja, porque eu acho que a propaganda tem acertar na Fiesp. Somos a indústria de marcas. Nós temos que estar lá para ajudar construir a marca deste país, para renovar o pensamento dentro da Fiesp. Então, a propaganda tem que estar, sim, discutindo a agenda do país. Não é possível que o país está falando em reforma e a publicidade em prêmios ou auto-regulamentação só. Tem que falar em reforma também, tem que ter um papel político. Eu não quero ser político, mas quero ajudar a política e quero dar o braço àquelas pessoas que eu acredito que podem transformar o Brasil.

Maria Cristina Poli: Como você vê a questão dos negros na mídia? Você acha que isso está mudando? Nos Estados Unidos os negros são super importantes né, dentro da mídia, e como poder econômico e tudo. Aqui no Brasil, a gente já tem publicações de sucesso, a gente está vendo diferente? Está vendo o negro como ótimo consumidor, pelo menos em potencial, como é isso?

Nizan Guanaes: Acho que a economia vai fazer isso, esse crescimento né? Eu acho que a sofisticação do Brasil com as entidades de classes, com sociedade se organizando de forma maior, vai fazer isso, não só com negros, mas com as mulheres, homossexuais. Outro dia me ofereci ao Grupo Gay de São Paulo para ser a agência do Grupo Gay de São Paulo, eles não tinham um pensamento coordenado. E então não são só publicitários que estão desarticulados não, os gays também. Os gays também! Sabe? É preciso estar ao lado daquelas pessoas que são indefesas, e olha, não sou gay! Sabe? Mas é fundamental lutar pelas pessoas, pelo grupo negro, pelos gays, pelas mulheres. O que as mulheres já apanharam dos homens no Brasil, isso é um fato.

Célia de Gouvêa Franco: Você acha que tem que ter poucos negros na propaganda brasileira, porque os anunciantes têm preconceito quanto à presença deles, ou por que a sociedade brasileira ainda não dá espaço suficiente para os negros?

Maria Cristina Poli: Ou acham que não são bons consumidores?

Nizan Guanaes: Não, eu acho que a sociedade brasileira ainda é profundamente desigual, e eles estão pouco presentes na publicidade como estão pouco presentes na política. Como estão pouco presentes numa série de coisas, é injusto e vai mudar. É injusto e vai mudar.

Célia de Gouvêa Franco: Está mudando?

Nizan Guanaes: Está mudando. Acho que nós estamos caminhando com as mulheres... Olha, hoje, você fazer uma piada de mau gosto com mulher, dá um problema sério, é uma consumição danada, você é ofendido em todos os níveis, internet, Conar... Quer dizer, as pessoas têm que pensar um pouco, é importante isso.

Pyr Marcondes: Na prática, como vai se dar isso? Colocar criança negra, loirinha, estilo Benetton [empresa italiana de moda que leva o sobrenome da família que a fundou em 1965], que também é uma forma politicamente correta de colocar as coisas. Mas ainda falsa, porque não expressa a realidade social?

Maria Cristina Poli: Criar empatia né.

Pyr Marcondes: Como é que você vê...

Nizan Guanaes: Acho que é estágio de conquista. Você já tem no mundo uma estética negra muito forte, eu acho que Naomi Campbell [top model inglesa, negra, famosa pela sua beleza] já fez mais pelo movimento negro que qualquer outra coisa. Quer dizer, o cara começa a ver, não há nada mais eloqüente que a beleza, isso aqui é lindo, não tem jeito.

Matinas Suzuki: Nizan, tocando nesse ponto, hoje em dia, a publicidade sofre uma, enfim, espécie de pressão muito grande dos chamados grupos organizados, e toda a, por exemplo,  questão do politicamente correto, essa coisa toda. Piadas, por exemplo, com relação a etnias, ou em relação a grupos como homossexuais, por exemplo, gays que reivindicam, por exemplo, agora há uma campanha no ar que levantou essa campanha novamente. Qual é sua opinião e sua posição? Como é que você vê esse tipo de...

Nizan Guanaes: É lógico que tem coisas que são de muitos avanços, e são fundamentais. Agora, tem outras coisas que são pura chatice. Eu acho que esse negócio aí contra a campanha da raiva é chatice, aquilo é coisa leve, não tem nada demais, não tem nada demais, quer dizer, humor no Brasil vai fazendo isso o tempo todo, não tem nada demais... Como tudo, todo processo de revolução de mudança tem os excessos, é aquela história do menininho nos Estados Unidos de três ou quatro anos... que foi processado por assédio sexual na escola. Isso é uma maluquice! Eu acho que existem coisas que vão sendo exageradas, mas acho que são necessárias para que haja uma consciência de que você não pode ficar brincando com o homossexual, que você não pode ficar menosprezando as mulheres, você não pode ficar menosprezando etnias... É importante. Eu acho que é melhor agüentar o exagero do que agüentar o preconceito.

Maria Cristina Poli: Nizan, a impressão que eu tenho é que, nesses últimos tempos, você se recolheu, você parou de aparecer tanto na mídia, impressão que eu tenho, não sei se é verdade. Você cuidou disso? Você achou que realmente estava na hora de você dar um freio, anunciantes não estavam gostando? Enfim, o que aconteceu?

Nizan Guanaes: Não...

Sérgio Amado: Só concluir, deixa eu ajudar um pouco nessa pergunta. Você acha que o casamento e o nascimento do filho te tornou mais tolerante. Os amigos estão comentando que você está muito mais feliz do que no passado, não está tão impaciente como no passado?

Nizan Guanaes: Não, isso é acupuntura... Não é verdade! Acho o seguinte, é claro...

Maria Cristina Poli: Exposição demais faz bem?

Nizan Guanaes: Não, não é nada disso. É um estágio. No início da DM9 era fundamental dar visibilidade à agência. Agora, você pode olhar, que eu sempre tive cuidado, eu..., você nunca vai ver um perfil meu na [revista que expõe a vida privada de famosos] Caras. E adoro a revista Caras, acho que é um dos momentos mais prazerosos! Mas ali deve estar o artista, ali deve estar outro tipo de gente, acho não que sou eu. Eu busco a matéria na [revista] Exame, eu busco a matéria na [revista] Carta Capital, eu busco matéria em outras áreas. No início, você claro, você quer dar visibilidade. Você vai fazer o quê? Você quer dar visibilidade a sua empresa e, depois, você chega num determinado patamar, que aí a empresa deve aparecer, você aparece falando de negócios, mas jamais vai me ver deitado na minha cama, fazendo pose na minha banheira, porque não faço...

Maria Cristina Poli: Qual o tamanho do seu ego, Nizan?

Nizan Guanaes: Acho que igual ao seu. Ele não é inflável e nem desinflável... Eu tenho medo de gente que não tem vaidade. Agora, eu desafio colunistas, ou jornalistas que diga assim: “Nizan vive ligando para mim para passar nota”.

Maria Cristina Poli: O que a gente percebe, muitos publicitários, virou até piada isso, que eles começam a ficar tão famosos, que eles começam a acreditar tanto na originalidade deles, que fica uma coisa insuportável. Você também tem esses problemas.

Nizan Guanaes: É igual dizer que toda loira é burra, que toda enfermeira é merenda de médico, são estereótipos que se fazem. Eu conheço um monte de publicitário, como é que se diz, super humilde, na boa, sabe? Quem é que vai dizer que o Júlio Ribeiro é um sujeito de ego grande? Não acho. Sabe, não acho. Agora, se convencionou, e se faz... Todo perfil de publicitário começa com a mesma frase: “no caldeirão das vaidades, no mercado de egos inflados!” Gente, eu já sei... Vamos pular esse parágrafo, que eles começam. É como bom baiano, você é baiano e gordo, as pessoas começam a lhe tratar como Dorival Caymmi. Sabe, ou é bom baiano, e não é verdade. Você não pode estereotipar, você vai dizer que Daniel Dantas é um sujeito praieiro e calmo? Ele aparece hidrelétrica de Itaipu. Então esses estereótipos, eles acabam... Eu adoro outras coisas... Está certo?

Maria Cristina Poli: O quê, por exemplo?

Nizan Guanaes: Não sei nada de jazz, Mont Blanc, de frescura... Sabe o que eu gosto de fazer? Eu gosto de discutir política, adoro conversar com jornalistas, ficar discutindo coisas, se vai passar ou não passar... A Sônia sabe disso, quer dizer, eu adoro. Meus amigos, eu ando para cima e para baixo com Andrea Matarazzo porque a conversa dele é uma delícia, conversa sobre política. Os meus amigos mais amigos, mais próximos, Roberto Bratke, nada a ver com publicidade, nada a ver com publicidade, são pessoas de outras atividades, entende? Eu acho que existe estereótipo que, como muitos publicitários, é injusto. Agora, tem... O Sérgio Amado, ele foge de toda essa história dos estereótipos dos publicitários.

Célia de Gouvêa Franco: Acabou-se criando uma mística de que o publicitário vive uma vida cercada de glamour e festas, super vaidoso, que você acha que corresponde, que atraiu, que está atraindo uma quantidade enorme de estudantes, e de gente interessada em ser publicitária por causa dessa vida, você acha que não é exatamente assim?

Nizan Guanaes: Olha, eu faço músicas religiosas há cerca de quinze anos, nunca vi uma matéria sobre minhas músicas religiosas, nunca vi uma matéria sobre os movimentos de igreja que eu participo. Está certo? Então, as pessoas vão sempre numa determinada, num determinado diapasão. E só tratam sobre aquele assunto.

Célia de Gouvêa Franco: Que movimento de igreja você participa?

Nizan Guanaes: Elas não tratam sobre outra coisa, elas não tratam sobre outros valores.

Sônia Racy: Por favor, fazendo aí um gancho, queria que você contasse um pouquinho sobre sua relação com o candomblé, como é que isso nasceu? Como você encara isso? Você é supersticioso?

Nizan Guanaes: Ah, eu sou. Sou baiano, sou católico apostólico baiano! Candomblé só não é reverenciado porque os japoneses não descobriram ainda! Está certo? Como ele é um culto de origem de uma cultura dominada, não é, ele não é reverenciado por nós, ele é visto como o quê? Ele é visto como uma coisa menor, como uma coisa de gente desequilibrada. Não é? Como uma coisa de gente folclórica. Quando ele é um culto lindo, você vai ver muitas semelhanças entre o candomblé, judaísmo, e o budismo, porque é um culto.

Sônia Racy: Isso é coisa que você conhece desde pequeno? Ou uma coisa que você conheceu mais velho? Qual é a relação?

Nizan Guanaes: Eu vou te dizer uma coisa que você não vai acreditar. Eu entrei no candomblé via Washington Olivetto.

Edney Narchi: Não acredito...

Nizan Guanaes: Juro, Olivetto me apresentou à mãe Cleusa do Gantois [o mais famoso terreiro de candomblé da Bahia] para ajudar a consertar o telhado do Gantois, aí eu entrei no candomblé há cerca de 17 anos atrás, minha família... Minha família toda é marxista agnóstica, não tem nada a ver...

Matinas Suzuki: Nizan seria interessante você... Seu pai que era um...

Nizan Guanaes: Médico.

Matinas Suzuki: Médico e homem de esquerda. Como é que foi a convivência com seu pai, não que foi tão grande de sua parte, mas como é... Enfim, o que seu pai e essa coisa dele fica para você, e há alguma contradição entre o mundo dele e o seu mundo, mundo da publicidade, como você, na sua cabeça...

Nizan Guanaes: A contradição é absoluta, nem tanto meu pai, mas minha mãe. Ela nunca gosta que eu fale isso, mas eu sempre falo. É uma mulher de esquerda, desde que eu nasci, minha casa parecia um aparelho [local de encontro de grupos políticos clandestinos de resistência à ditadura militar] né, era Cuba hoje, Rússia amanhã; meu avô era um tipógrafo que pertencia à gráfica da Bahia e era do Partidão [refere-se ao Partido Comunista Brasileiro], sempre foi um "hóspede" de Getúlio [Vargas], quer dizer, toda vez que havia uma série de prisões, lá ia o velho...

Edney Narchi: E abastecia a casa de todos os folhetos proibidos que se publicava.

Nizan Guanaes: Absoluto! Então, minha vida inteira é ligada aos movimentos de esquerda, tanto que eu discordo da esquerda, eu não tenho nenhuma, eu acho que ela é ultrapassada, velha. Mas eu tenho muita simpatia, tanto que fiz uma campanha, cheguei a fazer uma campanha para o PT,  não aceita, os 15 anos... Não sei se 15 anos ou 20 anos. E que eu propunha ao Partido dos Trabalhadores que ele fizesse uma campanha que era assim: “Nike para todos!” “Coca-Cola para todos!” “Parmalat para todos!”, “Lewis para todos”. “Nintendo para todos!” Que era justamente por quê? [risos]. Porque justamente o discurso...

Edney Narchi: Junção de grandes marcas.

Nizan Guanaes: Não, não é isso, parece muitas vezes que o discurso do PT, a proposta de PT é o quê? Um pouco de feijão, arroz... É um horizonte pequeno para cada um. Então, isso aí advém não tanto de acreditar no PT, porque acho que a agenda dele é antiquada, mas de ter uma certa simpatia com a esquerda.

Pyr Marcondes: Então você não é votante do PT?

Nizan Guanaes: Não sou, sou tucano.

Matinas Suzuki: Falando em política...Décio Rocha..

Nizan Guanaes: Sou tucano afirmativo, mas sou tucano.

Matinas Suzuki: Décio Rocha, que é um publicitário de Tremembé, pergunta justamente isso: “Se o Lula fosse um produto que você tivesse que divulgar na próxima eleição , o que você faria?”

Nizan Guanaes: Graças a Deus que Lula não é um produto, ele é uma pessoa. E ele tem que estar alardeado com pessoas que acreditam nele. Eu até admiro muito ele, só que as minhas convicções são..., as minhas convicções estão do lado oposto.

Matinas Suzuki: Nesse ponto, você acha que um publicitário, as convicções políticas dele interferem no trabalho?

Nizan Guanaes: Ah, totalmente, eu já disse muitas vezes que não. Mas depois que você vai fazendo determinadas coisas, é muito importante você ter empatia com o candidato. Se você não tiver... Não vai.

Sérgio Amado: Nizan, não vale citar o presidente Fernando Henrique Cardoso, de político neste país, você admira alguém? Quem você admira?

Nizan Guanaes: Vários, admiro vários, inclusive de lados opostos.

Célia de Gouvêa Franco: Por exemplo?

Nizan Guanaes: Eu admiro muito o Jaime Lerner, o Antônio Brito, eu admiro o Antônio Carlos Magalhães, eu admiro o Luiz Eduardo [Magalhães (1955-1998), político, filho e herdeiro político de Antônio Carlos, morreu com 43 anos vítima de um ataque cardíaco], eu admiro o Serjão [Sérgio Motta (1940-19980), engenheiro e político foi ministro das Comunicações do governo FHC]...

Célia de Gouvêa Franco: Para qual político você não trabalharia, mesmo que te oferecessem uma fortuna?

Nizan Guanaes: Ah, tem muitos.  Eu não quero ser injusto citando um especificamente. [risos] Tem muitos, tem muitos neste país. Muitos, muitos.

Célia de Gouvêa Franco: Você já está trabalhando nas idéias do que você vai oferecer para o presidente Fernando Henrique Cardoso?

Nizan Guanaes: Não, não, porque não me convidou ainda.

Célia de Gouvêa Franco: No caso dele te convidar?

Nizan Guanaes: Eu estou...

Célia de Gouvêa Franco: Mas está se oferecendo, faz bem de fazer...

Nizan Guanaes: Não, eu não estou me oferecendo, não, mas eu sou declaradamente entusiasta dele, aliás, como grande parte da população, como mostra, inclusive na última semana, a pesquisa da Folha [de S.Paulo] que mostra que ele está liderando em todos os segmentos.

Matinas Suzuki: Mas tem gente que acha que o Real é muito mais produto de marketing do que qualquer outra coisa. O Edson Botelho de São Paulo diz que o Plano Real foi um grande golpe publicitário, que está à beira da falência? O Sérgio Fernandes de Pompéia, aposentado, diz o seguinte: "como você se sente sendo um publicitário que propaga um produto como o Real tendo como símbolo a mão espalmada e o produto não corresponde ao símbolo?"

Nizan Guanaes: Eu respeito, mas não concordo, eu acho que o Real é um sucesso, inclusive um sucesso do produto em si, porque em termos de comunicação o governo não está com nada. Fernando Henrique tem boa popularidade, boa aprovação, porque ele é, a meu ver...

Célia de Gouvêa Franco: [interrompendo] Apesar, apesar...

Nizan Guanaes: ... ele é ao meu ver o maior presidente deste século que o país teve, mas a despeito...

Edney Narchi: A despeito da má comunicação...

Nizan Guanaes: Feita por um homem sério, ministro Sérgio Amaral [porta-voz do presidente Fernando Henrique Cardoso], homem sério, homem decente que está a fim, mas ele está inadaptado como eu não estaria adaptado no Itamarati, o famoso “cada macaco no seu galho”.

Sérgio Amado: O que você acha que falta na comunicação?

Nizan Guanaes: Falta uma compreensão de que a publicidade não é para cuidar, primeiro, não estou dizendo isso, eu respeito o ministro, mas essa coisa de dizer que Fernando Henrique é produto de marketing... Fernando Henrique é produto de uma coerência muito grande. Eu já era apaixonado por Fernando Henrique Cardoso antes de conhecer, vim para São Paulo e ficava babando, a as meninas todas também, o homem charmoso, interessante, ele é um homem bacana.

Pyr Marcondes: Só para ficar mais claro, Nizan...

Nizan Guanaes: Só um segundo..., agora, eu acho que o que falta na comunicação, primeiro é mais vontade mesmo de se fazer comunicação. Porque o objetivo da comunicação não é cuidar da popularidade do governo. É dizer ao país para onde nós estamos caminhando. Olha, eu acho que para mim o maior comunicador de todos os tempos foi Moisés, eu fico pensando naquele homem andando 40 anos pelo deserto, e ele era gago, eu fico dizendo: será que ele dizia para fazer com que as pessoas continuassem caminhando. Eu acho que um governo, principalmente um governo que está promovendo tanta transformação, ele tem que dizer para o povo, para que lado ele está indo. O Brasil é um gordo no spa. Eu sou gordo, fiquei no spa dois meses. Você está no spa, todos os seus índices estão melhorando, você está melhorando pra burro, só que você está triste. Você está numa churrascaria, todos os índices estão piorando, você está alegre. [risos]. Então, o Brasil tem que ter..., o governo tem que entender que comunicação é fundamental para dizer a esse gordo chamado Brasil: "rapaz, você está ficando um gato, vamos lá, um pouco mais de alface, um pouco mais de arroz, pega o grão de arroz põe na boca". Não tem jeito! Faz uma mudança! Três anos na vida de um país é pouquíssimo. [risos]

Sônia Racy: Você acha que isso faz parte do que você disse no começo do programa, uma vergonha de vender alguma coisa, de...

Nizan Guanaes: Quanto mais sérias as pessoas, os políticos, menos atenção eles dão para a comunicação. Quanto mais sério! Então, você vê um sujeito que é um embaixador, Sérgio Amaral, um homem sério, decente. De alguma forma ele deve achar publicidade uma coisa menor.

Sônia Racy: Você acha que é o caso do Covas...

Nizan Guanaes: Quanto mais sério... O Mário Covas, é de uma injustiça que é impressionante, o Mário Covas é de uma injustiça com ele mesmo, porque escuta, o Mário Covas pegou um estado [São Paulo] acamado, né? Botou esse estado nas costas e lá vai ele. Eu posso dizer isso, não tenho conta do governo Covas, nem entrei... Não tenho nada disso. Agora, ele é um homem que faz um governo enorme, e nesse tempo todo não se preocupou, desculpe, comunicar isso. Agora, ele colocou um grande sujeito lá, chamado Sérgio Reis [publicitário que esteve à frente, por mais de 20 anos, do marketing do Banco Bamerindus. Já foi vice-presidente corporativo do Grupo Abril, secretário de comunicação institucional da Presidência da República, secretário de Estado de Comunicação de São Paulo, diretor de marketing do Grupo Positivo e conselheiro associado da Escola Superior de Propaganda e Marketing].

Orlando Marques: Não tem um pouco a ver isso com aquilo...

Nizan Guanaes: Quanto mais sério o sujeito, menos se preocupa com essa área...

Sônia Racy: Por que isso, qual a relação dessa?

Orlando Marques: Não tem um pouco a ver essa mania aí meio católica de ignorar, de não dar valor?

Nizan Guanaes: Aquele que não deve se esperar reconhecimento, se você faz o bem ele virá por si mesmo.

Orlando Marques: Mas eu falava com jornalista e, nos Estados Unidos, você pega o telefone e fala que é de um jornal ou revista ou publicação brasileira, você fala com o presidente de qualquer banco americano, porque ele dá importância e dá valor a um negócio chamado mídia, porque ele acha que precisa vender e publicar o produto dele.

Nizan Guanaes: Mas tudo nisso é depreciativo. Você pega o jornal, você é tratado como marqueteiro, né, os marqueteiros! Tanto que na campanha do Fernando Henrique, eu para não ter chateação, toda vez dizia para o jornalista: “Minha filha, eu não tenho conteúdo, sou publicitário, você procure uma pessoa que vai, que tenha conteúdo para lhe explicar isso”. Por quê? Porque o sujeito acha que você só sabe falar de hambúrguer, de gravata, não é? Então, e de que aquela visão mercadológica é uma coisa menor, e não é. Acho que este país pode dar um grande salto se ele entender, acho que publicitário não é para fazer popularidade de ninguém, publicidade é para contar para uma nação para que lado ela está indo. Olha, acho que o governo errou quando não vendeu as reformas no início.

Sônia Racy: Ou pelo menos convencer a nação a pressionar pelas reformas?

Nizan Guanaes: Logo no início, depois se elegeu o Fernando Henrique Cardoso. Agora, vamos eleger as reformas, que era muito importante. Então o governo errou naquele momento.

Sônia Racy: Nizan, a população não sabe, na maioria, muitos não sabem o que são as reformas constitucionais e a importância que elas têm.

Nizan Guanaes: Exatamente. Então, como é que você... É preciso democratizar a informação e a publicidade faz isso. Esse papel é dela.

Pyr Marcondes: Você não acha, por exemplo, só para esclarecer melhor, você disse que há um impediente acordo de cavalheiros que não permite que DM9 faça campanha política, mas que você vai participar, não ficou claro como... Quer dizer, você vai participar como pessoa...

Nizan Guanaes: Eu vou me licenciar da DM9, eu pessoa física.

Pyr Marcondes: Você pessoa física vai contribuir para a campanha do Fernando Henrique?

Nizan Guanaes: Exatamente.

Sérgio Amado: Nizan, você não acha que, por exemplo, quando o governo privatiza uma parte da telefonia de São Paulo, um grande sucesso, uma repercussão internacional extraordinária, perde uma grande oportunidade de explicar à população o que é privatização?

Nizan Guanaes: Eu acho. Não, em momentos... Olha, se você, sabe, a publicidade do governo, você faz com um pedaço de tesoura, só recortar os jornais.

Maria Cristina Poli: Isso que eu ia perguntar, até que ponto os jornalistas...

Nizan Guanaes: Se cortar o jornal e pôr na televisão, você mostra, porque os fatos estão ali.

Orlando Marques: Nizan, você fez a campanha da mão, não passou de um teaser  [técnica usada em publicidade para provocar o interesse do público em um novo produto/ marca ou campanha, cuja intenção é estabelecer um suspense, "escondendo" a marca ou anunciante, a ser revelado num próximo momento da campanha], e depois não se vendeu o que se vai fazer com essa...

Nizan Guanaes: Mas estão sendo feitos, porque olha, está sendo feito muita coisa em cima disso... A única pessoa que faz passe de mágica era a Samanta, aquela feiticeira que mexia o nariz [refere-se ao seriado da década de 1960, A feiticeira (Bewitched), estrelado pela atriz Elizabeth Montgomery], isso também é falta de comunicação, de explicar ao povo que estamos andando, estamos andando e muito. Acontece o seguinte, é que não se faz... Olha, mais do que este país já se transformou nos últimos três anos, é impossível. Acontece que o quê? Eu acho que muitas vezes o agouro é mais competente, sabe, em criar um anticlímax.

Maria Cristina Poli: Que também encontra espaço para isso, não é?

Nizan Guanaes: Encontra espaço na ignorância, por exemplo, o Proer [Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional – polêmico programa do governo que auxiliou bancos e financeiras que estavam indo à falência] é uma coisa necessária, só que ele foi mal explicado, ele foi completamente mal explicado, então, aquilo...

Maria Cristina Poli: Na medida em não que se ocupa...

Nizan Guanaes: Aquilo que era uma medida necessária, foi tratado como o quê? Como hoje é um ponto em que o governo, talvez tenha que ficar se explicando na campanha. E nós também no Brasil, o brasileiro, muitas vezes, os formadores de opinião do Brasil adoram um câncer, não é? Não gostam do sucesso. Não é? Adoram o que dá errado, a má notícia.

Orlando Marques: A má notícia costuma chamar mais atenção.

Nizan Guanaes: Quer dizer, há no Brasil um certo culto.

Maria Cristina Poli: Atração pelo sinistro?

Nizan Guanaes: É.

Sônia Racy: Você acha que isso é só do Brasil ou do ser humano?

Nizan Guanaes: Não sei...

Sônia Racy: O quê vende mais, uma manchete onde cai um avião ou uma manchete onde se construiu um avião que cabe mais pessoas?

Nizan Guanaes: Olha, posso te falar uma coisa, se você for a Nova Iorque, Londres, você vai ver um monte de livros falando sobre sucesso de pessoas que enriqueceram, e que prosperaram...

Sônia Racy: Ah, aqui também.

Nizan Guanaes: Mas quantos aqui?

Sônia Racy: Não sei, nunca contei.

Nizan Guanaes: Mas se a gente for numa livraria você vai ver que, você vai encontrar muito mais...

Sônia Racy: Você fala de livro de auto-ajuda, é isso?

Maria Cristina Poli: Biografia de sucesso.

Nizan Guanaes: Não, não, o Brasil não é chegado a uma biografia de sucesso. É óbvio, você vê, agora nesse episódio do Rolim, o que o sujeito é levado de um lado para outro, é uma coisa impressionante.

Maria Cristina Poli: Essa seria uma campanha complicada de fazer, neste momento?

Nizan Guanaes: Não acho não.

Maria Cristina Poli: Não?

Nizan Guanaes: Não acho não. Acho que ele está sendo vítima, coitado, de uma fatalidade. Esse homem é sério, é decente. Tudo bem, é mais fácil falar isso do que das pessoas que morreram. Eu entendo, tem esse componente aí. Agora, também de uma hora pra outra esse homem não virou, não virou um... Sabe? Um inimigo...

Maria Cristina Poli: Você está defendendo o presidente da TAM, é isso?

Nizan Guanaes: Não, não estou defendendo, eu estou fazendo algum tipo de justiça, quer dizer, eu acho que nem antes do episódio, ele era tudo aquilo, está certo? Agora, também pegar e lançá-lo ao pelourinho de uma hora para outra, em 24 horas, eu também não acho que isso... Há uma certa gana, sabe? Outro dia, eu vi num jantar, pessoas desancando o Rolin de um jeito que não é possível, não é compatível com o que temos acompanhado, está certo? Eu só acho isso, quer dizer, não tem nada a ver, que se dane a conta publicitária dele, não estou aqui para puxar o saco do Rolin. Eu só acho que há um traço nosso, do Brasil dessa coisa de um..., de um certo não cultivo ao sucesso, ao que está dando certo. Acho que o Brasil agora está dando certo. Não significa que eu esteja cego. Há coisas que não estão... Nós todos sabemos, nós temos problemas, mas nós não demos um salto de qualidade? Não só a nível federal não, o Mário Covas não é um salto de qualidade? O Jaime Lerner não é um salto de qualidade? Paulo Souto [senador e ex-governador da Bahia entre 1995 e 1998 quando era vice de ACM e entre 2003 e 2007], na Bahia, não é um salto de qualidade? O Antônio Brito [jornalista que foi ministro da Previdência Social no governo de Itamar Franco e também foi governador do estado do Rio Grande do Sul] não é um salto? É um salto de qualidade. Agora, você não vê, isso não é dito.

Célia de Gouvêa Franco: Quer dizer, além do Brasil estar precisando melhorar, fazer uma campanha publicitária para fora do país, para mudar sua imagem nos outros países, está precisando de uma campanha publicitária para dentro também, junto à população?

Nizan Guanaes: Eu acho. Se você disser num lugar que nós somos a próxima grande potência, é muito mais inteligente ser do contra. No Brasil, se você falar em otimismo, você parece um retardado e não é isso. Eu não ficava otimista porque não havia momentos de ser otimista. Agora, o fato é que a gente começa a ver, assim... Nunca se imigrou, nos anos recentes, tanto. É manchete da Folha [de S.Paulo] de domingo, e isso é um indicador. As montadoras chegando, né, a queda em 40% da mortalidade infantil. Sei lá...

Pyr Marcondes: Você não acha que fica um pouco difícil comunicar um projeto do Proer num país que tem os índices de fome que a gente tem, os índices de sem-terra que a gente tem, etc, não te parece um pouco competitivo?

Nizan Guanaes: Se não fosse implantado o sistema, aliás, quem melhor explicou isso foi a TV Bandeirantes, que fez um trabalho sensacional. Luiz Nassif foi na Venezuela e explicou isso muito bem. Essa é a tarefa da comunicação. Eu odeio negócio de: “Estamos entregando 20 mil casas populares”, acho isso o fim. Agora, a tarefa da comunicação, é dizer: olha, o governo está fazendo isso, por causa disso, disso. E os caras vão criticar porque estão fazendo, mas deve fazer, porque tem que se explicar para que lado que ele vai. Proer é o negócio mais mal explicado do mundo, do mundo. E parece que foi assim, era uma coisa... Era um dinheiro que já existia, foi mal explicado isso.

Orlando Marques: Nizan, queria falar um pouco de futuro. Meio & mensagem de hoje, está dizendo que o mercado nestes cinco meses cresceu coisa de 13 ponto qualquer coisa por cento. Como você olha os próximos sete meses? Você acha que este ano cresce algo parecido, cresce mais, cresce menos, como você, dirigente do mercado, dirigente de uma empresa de comunicação vê essa performance do mercado este ano?

Nizan Guanaes: Olha, quem entende muito disso na agência é o Afonso Serra que é uma pessoa sem a qual eu não poderia ter feito... Sem ele, sem o Guga, aliás, a DM9 é engraçado, é uma empresa familiar porque foram se transformando em sócios, foram se transformando em meus irmãos ao longo de tanto convívio. Então, o Tomás, mas sobretudo, o Guga e o Afonso que começaram a DM9 comigo, o Afonso é que entende disso. Agora, o que eu acho é o seguinte: o Brasil tem até o ano 2000 um momento de ouro. Porque tem grandes eventos, um atrás do outro.

Orlando Marques: Você vê crescimento até o ano 2000? Pode não ver o curto prazo, visão de longo prazo é de crescimento?

Nizan Guanaes: Nós temos a Copa do Mundo que nós vamos ganhar, com Ronaldinho número nove. [risos]

Orlando Marques: Com número nove?

Nizan Guanaes: Número nove, Ronaldinho. Nós temos depois a virada do século e os 500 anos do Brasil. Se nossa indústria não souber criar esse momento e aproveitar isso para a gente se vender para o mundo... Agora, se vender para o mundo sim. Três tenores nas missões em Ouro Preto cantando música popular! Claro, esse negócio, esse troço tem que ser voltado para fora. Temos que fazer uma Copa Mundial aqui, uma mini-copa dos 500 anos do Brasil. Nós temos que trazer todos os grandes cantores negros americanos, fundir com os nossos cantores negros, e fazermos um grande show da "Mama África". Não é? Nós temos que pegar e fazer grandes projetos, nós temos que fazer uma grande regata, idéia do Afonso Serra, que eu acho brilhante, vamos invadir Portugal. Nós temos que fazer coisas que mexam com o país. Nós temos que fazer uma grande feira da indústria brasileira em Nova Iorque. Levando toda a indústria brasileira. Quer dizer, nós temos que aproveitar este momento para vender o Brasil lá fora. E não ficar fazendo uma coisa aqui, paroquial, uma coisa.

Maria Cristina Poli: Você já teve conversas com algumas pessoas?

Nizan Guanaes: Não, eu estou espalhando isso para tudo quanto é lugar, eu prego até em elevador, para ver se alguém rouba, se faz mais, porque senão vai ficar a coisa timidazinha. Olha, pior coisa, agora, é essa história do Brasil lá fora, coisa do [grupo] Tchan, cabrocha, mulata. Eu acho isso o fim!

Matinas Suzuki: Nizan, por falar nisso, o Luiz Ganem que é lá da sua terra...

Nizan Guanaes: Acho o fim. E viva o samba! Nada contra o samba.

Sônia Racy: Quem você levaria para a Expo 98 em Portugal ano que vem, para essa exposição mundial?

Nizan Guanaes: O Marcelo Suzuki. [risos]

Sônia Racy: O Matinas?

Nizan Guanaes: O Matinas Suzuki, o Caetano Veloso, Regina Rodrigues, Oscar Niemeyer, Editora Abril, a Globo, quer dizer, nossa capacidade de ser África e Europa ao mesmo tempo. Por que, que a gente vai ficar eternamente? Eu fiz uma festa profundamente brasileira ano passado na França, com Bobby Short [cantor e pianista norte-americano, com estilo sofisticado e defensor do cancioneiro americano. Se apresentou várias vezes no Brasil. Morreu em 2003 com 80 anos], cantando, Tom Jobim, acho uma beleza, por que temos que ficar sempre com bumbum e um monte de mulata dançando? Viva o samba, mas ele pode ser feito de outra forma.

Matinas Suzuki: Nizan, em nome da família Suzuki, eu agradeço, mas o Luiz Ganem, da sua terra, lá de Salvador, que é produtor musical, diz o seguinte, como você... Você tinha tocado no negócio do samba lá fora e tal, como você vê o marketing do carnaval da Bahia, você acha que está funcionando?

Nizan Guanaes: Péssimo! Vão me matar! [risos] Mas eu não posso ficar o tempo todo... Eu acho um equívoco que está sendo feito. Só que é difícil você convencer um sujeito que está ganhando dinheiro, que vai ter um problema lá na frente. É o seguinte, eu acho... Quantos de vocês aqui têm ido passar o carnaval na Bahia? O que acontece é o seguinte, o carnaval na Bahia está ficando uma coisa sem abrangência, é aquela coisa fechada. Aqueles blocos de carnaval que começam..., passam o ano inteiro cantando aquelas músicas: ioiôio..., ioié... Minha vida... Tem uma letra que é: Selassie era um rei que gostava de reggae! [referência ao rei da Etiópia, Haile Selassie, incorporado como um deus pelo movimento negro rastafari, surgido na Jamaica] Não é possível! [risos] Eu amo a Bahia, a Bahia é uma terra extraordinária, é um celeiro infindável. Agora, eu acho que essa coisa de que é só carnaval, você chega lá, é festa do beijo, do cheiro, do [grupo musical] Eva, não tem outras facetas. Eu acho isso ruim. Não é? Porque a Bahia tem, a Bahia é terra dos museus. A Bahia foi uma cidade holandesa durante um ano, é terra da poesia, da literatura. Eu acho que é essa abrangência. Além do mais, o carnaval baiano é maravilhoso, é gostoso. Eu vou todo ano. Mas, eu acho que ele tinha que ter uma..., ele tinha que ter, por exemplo, era preciso dar mais ênfase, menos ênfase aos trios e mais ênfases aos blocos afros, não é? Eles são ricos, é preciso dar mais atenção a eles. É bem verdade, que justiça seja feita, até é o trabalho de uma pessoa chamada Eliane Dumê, no ano passado o carnaval já foi muito melhor! Muito melhor. Agora, ficar nessa história o tempo todo, aquele trio elétrico e aqueles blocos de carnaval, daquela forma repetitiva, eu acho que é ruim para o carnaval da Bahia.

Matinas Suzuki: Nizan, estamos indo para o finalzinho do programa, estou com algumas perguntas que eu gostaria que você pudesse responder rapidamente para gente poder falar de uma parte dela está bem! O Nagib Matarra Filho, que é de Santos, manda e-mail dizendo: "quais as alternativas viáveis do ponto..." Espera aí que saiu do ar. "Quais seriam as alternativas viáveis do ponto de vista econômico para que micro e pequenas empresas possam ter acesso a grandes mídias?" Ele é gerente de produção.

Nizan Guanaes: Não terão! Ou pelo menos... a curto prazo não terão. Porque não tem acesso, em lugar nenhum do mundo. Claro que depois com um mundo, com mídia extremamente segmentada, a pequena empresa vai conseguir falar com aquele seu target [o mesmo que alvo, meta, target audience é público-alvo, target market é mercado-alvo, target price é o preço-alvo, por exemplo], mas com a massa, sempre vai ter que pagar o preço da grande audiência.

Matinas Suzuki: O Célio Leme, aqui do alto da Lapa, publicitário, pergunta: "como é que você vê hoje, no momento, a mídia impressa no Brasil? Quais serão as tendências para virada do milênio?"

Nizan Guanaes: Excelente qualidade. E eu acho que cada vez mais, ela aparece com novos títulos voltados para nichos, acho que um dos motivos que a gente tem uma boa qualidade de propaganda em mídia impressa, é pela excelência que a mídia impressa existe no Brasil.

Matinas Suzuki: Cláudio Neres, de Campo Grande, publicitário, pergunta: "por que as agências não investem em rádio?"

Nizan Guanaes: Isso é verdade, isso é um misto de... o problema do rádio é que ele é muito pulverizado, então, ele é barato no varejo mas complicado no atacado. Muitas vezes, para a gente administrar. Mas é, sem sombra de dúvida, é verdade mesmo, a própria DM9... o trabalho dela em rádio é muito aquém do que ela produz em geral para outras mídias.

Matinas Suzuki: O Leonardo Paiva de Santo Amaro, estudante: "você faria uma campanha para os sem-terra?"

Nizan Guanaes: Não, porque não acredito no movimento. Eu acho que ele é justo como causa, mas como condução do que ele quer, não acredito nele.

Matinas Suzuki: O Fábio Roberto Munsão Pureza, que é de Salvador também, diz: "dentro da propaganda, o departamento de criação deve ser considerado o mais importante?"

Nizan Guanaes: Não, é a mesma coisa que você eleger o cérebro como o órgão mais importante, quando você pode morrer do fígado, do rim, do coração, de tantos outros. Acho que ele é um, é um órgão importante, criação é uma parte importante, mas sem o bom andamento de todas as outras coisas, você não tem excelência criativa, nem excelência como agência de publicidade.

Matinas Suzuki: O Hélio Ribeiro, de Guaratinguetá, advogado: “qual sua opinião sobre a drástica e inflexível proibição de propaganda de cigarros”?

Nizan Guanaes: Olha, isso aí é uma tendência mundial. Eu acho que os Estados Unidos está exagerando, é a lei seca do cigarro, eu acredito que as pessoas têm que ter o seu livre-arbítrio. Agora, também as outras correntes da sociedade também tem que se manifestar. Tem que ser conduzida com ponderação, porque a lei seca dos Estados Unidos, gerou depois um problema de álcool nos Estados Unidos.

Matinas Suzuki: A Vilma, que é de Limeira e promotora de eventos, vou resumir: “por que é tão difícil, na sua visão de publicitário, conseguir apoio cultural mesmo para projetos aprovados em leis de incentivos?”

Nizan Guanaes: Porque falta dinheiro, falta dinheiro, quer dizer, eu acredito que já está se investindo muito mais, mas... Na medida em que a economia for crescendo, se soltando, isso vai crescer mais ainda. Agora, o problema... Esta semana mesmo, uma senhora chamada Aracy Amaral, estava criticando porque estava se colocando banners na frente do Masp. Mas você tem que dar retorno ao patrocinador, pode haver um exagero aqui, ou ali, e tal, mas é preciso, ao contrário, incentivar os patrocinadores a ir para área cultural. Depois eles vão se acostumando, a logomarca vai diminuindo, mas ao invés de ficar tirando essas pessoas para fora do cenário cultural, tem que atrair.

Matinas Suzuki: Nizan, estamos chegando ao final, recebi aqui vários fax, telefonemas e e-mails de pessoa ste parabenizando, não vai dar tempo de ler tudo, inclusive de Salvador, teve alguém aqui que mandou, não acho aqui agora, para citar o nome, peço desculpas, mas diz que você deveria se candidatar a prefeito, sim, e usar o seguinte slogan: "basta de intermediário, Nizan Guanaes para prefeito de Salvador". [risos]

Nizan Guanaes: Isso aí é um inimigo.

Matinas Suzuki: Vou te fazer a última pergunta, que é Ilária Stoque, aqui do Jardim São Paulo: se a DM9 vai ser a primeira agência em Marte? [risos]

Nizan Guanaes: Olha, eu acho que... A gente precisa de agência de propagandas em outros lugares [risos]. Eu acho que as agências... Eu espero que DM9 seja a primeira agência de publicidade, agora para ajudar uma série de causas. Eu quero me colocar publicamente, eu acho que uma agência de publicidade deve ajudar a comunidade. Então, se você tem um trabalho social que precisa de ajuda, se você tem uma causa, uma luta, que precisa do empenho ou que precisa da ajuda de publicitário, a DM9 quer ser sua parceira nisso. Porque isso daí supre todo aquele lado que queria ser político que se decidiu pela iniciativa privada. Então, eu quero, desde já, colocar à disposição para todas as entidades que, às vezes, precisam do apoio de comunicação, e que não têm. A DM9 quer trabalhar voluntariamente por elas porque isso é uma forma de fazer com que a gente tenha algum sentido aqui neste planeta que, ao contrário de Marte, é habitado e carente.

Matinas Suzuki: Ok, Nizan, muito obrigado pela sua participação hoje, aqui no Roda Viva. Queria agradecer também a nossa bancada de entrevistadores, agradecer a sua atenção e sua participação neste programa e lembrar que o Roda Viva volta na próxima segunda-feira às dez e meia da noite. Até lá, uma boa semana para todos, e uma boa noite para você.

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