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Memória Roda Viva

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Paulo Roberto Falcão

22/10/1990

Meio-campista de grande sucesso, ganhou o apelido de Rei de Roma em sua passagem pela Itália. Nesta entrevista, fala como técnico de uma Seleção Brasileira em busca de renovação

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[Programa ao vivo]

Rodolfo Konder: Boa noite. Estamos começando mais um Roda Viva [...] O convidado desta noite é o técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Paulo Roberto Falcão [...] Para entrevistar Paulo Roberto Falcão estão conosco: Juca Kfouri, diretor editorial do grupo de revistas masculinas da Editora Abril; Ruy Carlos Ostermann, cronista esportivo do jornal Zero Hora e comentarista da Rádio Gaúcha RBS e TV, de Porto Alegre; Oldemário Touguinhó, repórter especial do Jornal do Brasil, sucursal do Rio de Janeiro; Antônio Carlos Ferreira, comentarista do Bom Dia, São Paulo, da TV Globo; Cynthia Greiner, editora executiva da revista Nova; Roberto Avallone, diretor de esporte da TV Gazeta; Roberto Drummond, escritor e cronista do Jornal Hoje, em Belo Horizonte; e Osmar Santos, diretor de esporte da Rádio e TV Record.

[Comentarista Rodolfo Konder]: Paulo Roberto Falcão nasceu em Chapecó, Santa Catarina. Tem 37 anos, aos dez já jogava em times infantis [entre esses] Juventus, Expressinho São Luiz e Fragata. Um ano depois, entra na escolinha do Internacional, passa para o juvenil e consegue o vice-campeonato brasileiro. Em 1973, já faz parte do time principal do clube que ganha o Campeonato Brasileiro. Logo vem o bicampeonato Gaúcho e o bicampeonato Brasileiro. Em 1980, deixa o Brasil, vai para a Itália jogar na Roma, o time italiano se torna campeã e Falcão o “Rei de Roma”. Em 1984, cria uma grife e entra no mercado da moda, participa de duas copas: 1982 e 1986. Em 1985, rompe com a Roma e passa a apresentar um programa de entrevistas na TV italiana. Na Copa de 1990, mostra a Itália para os brasileiros através da TV Manchete. Sempre gravando teipe de jogos e assistindo aos melhores times do mundo, Paulo Roberto Falcão assumiu em julho passado a direção da Seleção Brasileira propondo novas mudanças e um novo futebol. Boa noite, Falcão.

Paulo Roberto Falcão: Boa noite, tudo bem?

Rodolfo Konder: Esse novo futebol é mais ou menos o quê? Em linhas gerais, como você definiria o novo futebol que você está propondo?

Paulo Roberto Falcão: Eu acho que o grande problema que nós vivemos não é o novo futebol, é uma nova mentalidade que tem que ser criada na cabeça do brasileiro e, obviamente, na cabeça do jogador brasileiro mais em nível externo do que propriamente dentro de campo. Acho que a nossa preocupação maior é deixar bem claro, que... E aí, acho, que o grande problema quando você vai assistir ao jogo, você vai assistir à realidade do nosso futebol e não assistir ao jogo na expectativa de ver um futebol que, infelizmente, nós não jogamos mais. Então, eu acho que esse é o grande problema. A gente vai para o estádio na expectativa de observar um futebol que nós víamos há alguns anos e que não vemos hoje. E eu acho que tem que mudar essa mentalidade. Isso é fundamental para o sucesso da Seleção Brasileira e do futebol brasileiro. 

Rodolfo Konder: Juca Kfouri.

Juca Kfouri: Falcão, você tem se caracterizado por não ser só um técnico que convoca e treina a Seleção, até por que treinar é difícil. Você tem posto o dedo nas feridas do futebol brasileiro, você está propondo a chamada privatização dos clubes. Você, que durante anos disputou campeonatos estaduais no Rio Grande do Sul e os campeonatos brasileiros, foi campeão nos dois e depois foi para a Itália, só disputou o Campeonato Nacional, você diria que uma das maneiras de solucionar o problema do calendário do futebol brasileiro é que essa estrutura se defina por uma coisa ou por outra: ou ter o campeonato nacional, como na Itália, ou vamos ter campeonatos estaduais. É impossível compatibilizar os dois?

Paulo Roberto Falcão: Olha, Juca, eu acho que, antes de mais nada, a gente tem que procurar casar o calendário brasileiro com o calendário europeu, acho que isso é fundamental. Existem fatores políticos que fazem com que, às vezes, os campeonatos regionais aconteçam. Eu acho que ele pode ser realizado. [Mas] eu acho que o fundamental é ter tempo suficiente para deixar o jogador trabalhar. Isto é, começar uma temporada em que você possa dar ao [jogador] - e dando a ele você estará dando aos treinadores, aos preparadores físicos, ao médico, à própria imprensa - o seguinte: um período para começar a entrar na condição física. Tem um período para o treinador começar a colocar a parte tática dentro do grupo. E aí você [poderá] entrar no campeonato regional, depois no campeonato nacional, [isso] não é o problema. O que não pode acontecer, na minha opinião, é que você tem, às vezes, clube no Brasil que disputa quatro competições ao mesmo tempo. Isso não existe nem na Europa. Na Europa, um clube pode participar do quê? Vamos falar da Itália, da Copa Itália, na Espanha seria a Copa do Rei, em que você, um mês antes de começar o campeonato nacional, você faz uma eliminatória. No período que eu estava em Roma seriam 48 times. Aí saiam automaticamente oito grupos de seis, desses oitos grupos, saem dois, ficando 16 no total. [Então] encerra a Copa Itália para começar o Campeonato Italiano, e de repente, em uma quarta-feira lá na frente, tem outro jogo eliminatório da Copa Itália. Aí você começa a fazer por eliminatórias. Quando ficam os últimos oito, às vezes os últimos quatro, é que se define o título da Copa Itália, depois do Campeonato Italiano. Então, não existe aquele desgaste: [jogos de] quarta e domingo, quarta e domingo. Alguns times que são os melhores times do futebol italiano do mundo [competem] na Copa dos Campeões, Copa Uefa [Uefa é o nome da federação européia] e tal, mas um time que ganha o Campeonato Italiano disputa apenas o campeonato nacional e disputa também a Copa dos Campeões. Então, no máximo ele faz três competições, quando ele não sai na primeira rodada durante a Copa Itália, até porque, às vezes, acham que é melhor sair para enfrentar duas competições. No Brasil não. Aqui você tem um risco de ter times fazendo quatro competições. Então, esse é o grande problema.

Juca Kfouri: Mas, se você tivesse que pôr na balança: os seus três títulos nacionais pesam mais ou menos do que os oito títulos estaduais que você tem?

Paulo Roberto Falcão: Eu acho que em nível de projeção, sem dúvida, o campeonato nacional. Mas o campeonato regional dentro do estado, às vezes, tem muito mais valor que o nacional, é só uma questão de ver o que pode ser feito para que se possa ter... Não tenha dúvida que o pessoal do Rio Grande do Sul valoriza muito o Campeonato Gaúcho, o pessoal de Belo Horizonte valoriza muito o campeonato de Belo Horizonte [Campeonato Mineiro]. Quer dizer, eu acho que o importante é você dar tempo ao jogador de treinar, dar tempo ao preparador físico de colocar o jogador em condição, tempo ao treinador de trabalhar, e você [terá] condição, aí sim, de fazer um trabalho longo. Do jeito que está eu acho impossível, porque não trabalha o jogador, não trabalha o médico, não trabalha a imprensa. Então, eu acho que é tudo contra hoje. Eu acho que tem que ser feita alguma coisa, rapidamente, para que a gente possa ter condições de melhorar um pouquinho o nível técnico do nosso futebol, porque só jogando todo dia você não melhora nos campos.

Rodolfo Konder: Oldemário.

Oldemário Touguinhó: Primeiro, satisfação de estar aqui [porque] essa é a verdadeira Seleção, não a do Falcão. Falcão, eu justamente queria perguntar a você o seguinte: você não acha... Para mim, por exemplo, o presidente da CBF [Ricardo Teixeira] não entende nada de futebol, ele nunca teve vivência no futebol. O presidente da CBF trabalha com dinheiro, ele tinha uma empresa que negociava com dinheiro, investimentos e tal. Então, a vivência com o futebol que ele tem é só com o João Havelange, quando ele o convoca ou o chama, aí ele vai passear com o João Havelange. Então, o conhecimento dele é zero no futebol. [Ele é] boa pessoa, me dou até bem com ele, mas isso não pode se acrescentar de que ele entenda de futebol, quem entende de futebol é o técnico de futebol. Você não acha que, [partindo] desse princípio, você já não está se submetendo muito aos caprichos do presidente que não sabe nada disso e chegou, e fez algumas exigências, como por exemplo, “Não vamos convocar estrangeiros; não vamos convocar os jogadores que estão aqui; não vamos convocar o jogador que faz pipi na cama; não vamos convocar o jogador que dorme até mais tarde”; aquela série de coisas que aconteceram na Copa do Mundo, da qual você não tem nada com isso, mas, para mim, o treinador de futebol não tem compromisso com ninguém. Então, não é porque todo mundo reclamou que tinha o Neto [meio-campista com fama de indisciplinado. Se destacou no Corinthians], e ele, nos dois últimos jogos do Corinthians – eu acompanhando o comentário até do [...] – fez três e quatro, e agora vai se convocar o Neto. Acho que tem que convocar o Neto porque [ele] joga bem, pela sua consciência de que [ele] joga bem. Então, eu estou preocupado um pouco com esse tipo de coisa.  Eu acho que o presidente não entende nada, como não entende o Salgado [Jorge Salgado. Presidente do Vasco em 1990], que é diretor de futebol, isso eu digo para eles, não é novidade nenhuma. Quem me conhece do Rio sabe que eu digo para o Salgado, digo para ele e digo para o Américo [Américo Faria, administrador, exerceu diversas funções diretivas na CBF], que é diretor também, que é o que cuida, é o burocrata da CBF, que também, o conhecimento dele... Ele chegou lá feito um burocrata, só dão papel para ele escrever e, para mim, no futebol não é dar papel para escrever, é para executar alguma coisa. E ele, na Copa do Mundo, não executou nada, assim como Salgado e como Ricardo [Teixeira]. Bem, esse é um princípio. Então, você, que chega como a nossa esperança, com o [seu] conhecimento [de] futebol...Você e um realizador no futebol. Eu, felizmente, tenho a satisfação de ter acompanhado bastante a sua carreira e você me conhece, sabe do meu comportamento, só que eu não quero saber se o cara é do Rio, de São Paulo de Nova Iorque, eu vivo do futebol. Para mim, quanto melhor o  jogador [for], quanto melhor for a Seleção, será melhor para mim.

Rodolfo Konder: Oldemário, vamos à pergunta, por favor.

Oldemário Touguinhó: Então, você não acha que o presidente, fazendo essas exigências para você – não convoca aqui, não convoca ali – isso, de fato, não é um começo ruim para uma pessoa como você, que teria que ter a liberdade de escolher quem você [quiser], se é do estrangeiro, se não é do estrangeiro? Você não acha que isso está diminuindo um pouco as suas chances de poder ter, pelo menos, um melhor estímulo nesse início de trabalho?

Paulo Roberto Falcão: Olha, Oldemário, primeiro, eu não tenho nenhuma intenção de me sujeitar a ninguém, porque senão eu teria que fazer uma convocação muito mais política, você sabe disso, você me conhece tanto quanto eu [lhe] conheço, isso nos dá a intimidade de dizer apenas o seguinte: você me conhecendo, então, eu acho que essa colocação, você não poderia [fazer] para mim, porque eu, realmente, não me sujeito a nada. Sou um cara independente na minha vida profissional; independente economicamente. Mas faço isso porque eu acho que eu posso dar alguma coisa para o futebol brasileiro. Então, o Ricardo [Teixeira] nunca me colocou nenhuma imposição. A única coisa que foi falada, quando eu assumi, foi o seguinte: vamos valorizar o futebol brasileiro, vamos ver o que nós temos de talento até porque, você não pode convocar uma Seleção Brasileira... Por exemplo, você vai jogar contra o Chile no Brasil, você não pode trazer jogadores que estão na Europa porque os clubes não vão dar a liberação pelo aspecto geográfico. Você tem que fazer viagem e tal, então, não vão liberar, então, a nossa preocupação é a seguinte...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Um minutinho só. Mas, nesse caso, nós jogamos com a Espanha, podia liberar para a Espanha. E vamos jogar agora dia 31...

Paulo Roberto Falcão: Sim, mas aí você tem que fazer duas seleções; você faz uma seleção para jogar contra a Espanha e uma Seleção Brasileira para jogar contra o Chile. Com isso, você acarreta dois problemas sérios: primeiro, você tira a motivação completa do jogador brasileiro aqui, e nós vamos precisar desses jogadores para a Copa América, somando aos que nós temos lá fora. Quer dizer, eu sei bem os jogadores que poderão ser aproveitados na Copa América e não jogam mais no Brasil. Agora, se coloque no lugar de um jogador, você é jogador brasileiro, você é chamado para jogar na Seleção quando o jogo é aqui no Brasil ou aqui pertinho, mas quando tiver que ir para a Europa, você não vai. Quer dizer, você perde a motivação. Então, a preocupação não é essa, a preocupação...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Espera só um minutinho só. Você, da primeira convocação, convocou um jogador, na segunda, tu já deixou sete de fora, sete [jogadores] já ficaram chateados porque não foram convocados. Então, esse negócio: vir ou não vir para a Seleção, não muda bem aí, não é?

Paulo Roberto Falcão: Não, mas isso é muito claro. Quer dizer, isso é muito objetivo. Eu estou em uma fase de conhecer o futebol brasileiro, isso não significa que eles não voltarão. Agora, dentro desse argumento, nós teremos que convocar 18 e manter sempre os 18, então? Não é isso. Nós queremos ver o que o futebol brasileiro tem. Agora, que existe uma preocupação de formar a melhor Seleção Brasileira na hora da competição, que existe a preocupação minha de formar uma Seleção na competição oficial, que é a Copa América, a primeira que nós temos que convocar os melhores jogadores do Brasil, independente de onde estiver, independente. Agora, nós não podemos partir do seguinte princípio: fazer uma Seleção para jogar aqui no Brasil e uma Seleção para jogar na Europa, você vai criar um problema muito sério na cabeça dos jogadores que estão aqui porque a gente sabe que quem vai acabar jogando a Copa América são os jogadores daqui que se destacarem, somando aos melhores jogadores de Europa. E nós sabemos quem são e eu conheço todos.

Rodolfo Konder: Cyntia.

Cyntia Greiner: Deixando um pouquinho o futebol de lado, eu queria saber como é o Falcão na intimidade: quem são seus amigos, quem é sua namorada, o que você gosta de fazer nas suas horas livres?

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Veja bem, eu, ultimamente, a minha hora livre é só Seleção Brasileira, por quê? Porque eu tinha e continuo tendo a minha grife, em que tinha uma participação muito mais ativa. Eu cuidava junto com meu irmão da parte comercial, parte de representante, eu pesquisava. Quer dizer, quando eu assumi a Seleção Brasileira, eu deixei isso tudo de lado. Quer dizer, a única aprovação que eu dei e faço questão é, eu uso um termo, de “bater martelo” em cima do mostruário da coleção, o que vai sair, o que não vai sair. Mas eu tenho um pessoal que trabalha, montei uma equipe para me dar tempo de me dedicar à Seleção. A única situação minha hoje, em relação há grife, é essa: aprovação da coleção, o resto é só Seleção Brasileira. Estou me dedicando completamente à Seleção Brasileira.

Oldemário Touguinhó: Tua Seleção não é da grife, é dos jogadores?

Paulo Roberto Falcão: É dos jogadores, e se eles puderem estar bonitos dentro do campo, bem vestidos, de repente até...

Cyntia Greiner: [interrompendo] Falando nisso, em bem vestido...

Paulo Roberto Falcão: É bom para o nosso futebol.

Cyntia Greiner: Você parece que tinha... Você não, desculpe. Mas tinha-se aberto uma espécie de concurso para quem quisesse propor novos uniformes para a Seleção. E, realmente, a Seleção na Copa fez um papel feio, não é? Eu queria que você explicasse que importância tem esse uniforme bonito e bem apresentado para uma Seleção de futebol?

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu acho que isso foi muito deturpado, quando se falou sobre isso. A idéia da CBF... e isso eu fiquei sabendo no dia 24 ou 25 de julho, mais ou menos, quando o doutor Ricardo me convidou para ser treinador da Seleção Brasileira, e eu pedi um tempo para pensar e já me colocaram que a idéia da CBF era tentar modernizar um pouquinho o fardamento da Seleção Brasileira. Mas nós vivemos em um país muito machista, quando você fala em modificar alguma coisa muitas pessoas acham: “porque vai mudar e tal”. Então, eu acho que não se pretende – fundamentalmente daquilo que o Ricardo [Teixeira] me falou dos homens que estão cuidando dessa parte de marketing da CBF – modificar completamente o fardamento de Seleção Brasileira, porque eu acho as cores do Brasil as mais bonitas do mundo. Agora, quando se fala em modernizar, não se fala em mudar, se fala apenas em procurar dar uma certa modernidade àquilo que nós vimos na Copa do Mundo. Isso não ganha o jogo, mas também não perde, quer dizer, se é uma coisa que se tem que ser feita, que se faça, não sou contra. Para mim, eu quero que os jogadores joguem bem, se puder jogar com o uniforme moderno, a gente pode fazer. O futebol brasileiro é muito difícil de se modificar isso, o goleiro foi o único que conseguiu. Nós tivemos o exemplo do próprio Raul, no Cruzeiro que pode colocar uma camisa amarela. [Raul Plassman foi goleiro do Cruzeiro e do Flamengo nas décadas de 1970 e 1980. Ficou conhecido por usar uma camisa amarela como uniforme em sua estréia no Cruzeiro. Até então, os uniformes dos goleiros eram pretos. Depois de se aposentar, tornou-se comentarista esportivo].

Cyntia Greiner: Sim.

Paulo Roberto Falcão: Nós temos o exemplo de outros goleiros, o próprio Leão [Emerson Leão, goleiro reserva na Copa de 70, atuou nos anos 70 e 80, principamente pelo Palmeiras], enquanto [goleiro] no Palmeiras, procurou modificar um pouquinho isso. De modo que a CBF está apenas tentando seguir aquilo que as outras seleções na Europa estão fazendo já há bastante tempo.

Rodolfo Konder: Roberto Drummond.

Roberto Drummond: Falcão, duas perguntas em uma. Parece que o problema mais sério do nosso futebol é a crise de identidade que começou na segunda vez do Telê [Telê Santana] e que encontrou a hora mais dramática com Lazaroni [Sebastião Lazaroni, técnico da Seleção Brasileira durante a Copa de 1990. Foi bastante criticado em seu trabalho e tachado de defensivista. O Brasil foi desclassificado nas oitavas de final pela Argentina] agora, então, eu [lhe] perguntaria: o que você fará para recobrar isso? As pessoas vão para o analista, vão para o divã de um analista de Bagé [referência ao personagem da Luís Fernando Veríssimo, um psicanalísta gaúcho], ou não? Você que não é de Bagé, mas já morou no Rio Grande do Sul, foi craque lá, como você resolverá isso? Nós não tínhamos líberos, nós tínhamos ponta um pouco mais a direita, mas tínhamos e agora mudou tudo...

Paulo Roberto Falcão: Roberto, o grande problema é esse que eu falei no início. Eu acho que o que tem que se mudar é o modo que a gente vai para o campo de futebol. Quer dizer, nós temos aí – eu coloquei isso e o Oldemário estava junto na ultima reunião na CBF – que o nosso país hoje foi o nono em termos de média de gol no mundo, no ano de 1990. Dentro daquilo que nós sempre pregamos no futebol ofensivo, isso é muito preocupante. Isso demonstra que não temos talento como nós tínhamos antigamente, nós temos bons jogadores, alguns excelentes jogadores, mas não temos aquela enormidade, aquela facilidade daqueles jogadores. Quer dizer, então, eu acho que o aspecto da gente, torcedor, quando vai para o estádio, e da imprensa, quando vai para o estádio cobrir o evento, tem que estar bem claro o seguinte: tem que olhar o que está acontecendo hoje, qual a realidade do nosso futebol. Não podemos entrar no campo esperando ver aquilo que nós vimos a dez, 15 anos atrás, sei lá. Não. Mas a gente está indo para o campo esperando que determinados jogadores, ou porque usam a [camisa] dez ou porque usam a [camisa] cinco ou porque usam a [camisa] oito, fazer aquilo que o [camisa] dez antigamente fazia ou o cinco ou o oito. Não. A realidade do nosso futebol é essa. E em cima disso que a gente tem que trabalhar, não em cima do sonho da gente de querer ver alguma coisa. Esse que é o grande problema.

Roberto Drummond: Mas você quer voltar às raízes brasileiras, você que foi “Rei de Roma”, você quer um negócio europeu? [Qual] é a sua de Falcão?

Roberto Drummond: [interrompendo] Emendando, só uma coisa... Com o que você falou, eu sou um entusiasta da sua presença na Seleção Brasileira, mas ficou receoso aqui, agora, quando você respondeu ao Touguinhó. É que parece que esses jogadores podem, para usar uma expressão da hora, acabarem fritos, esses novos, na hora em que você chamar os outros que estão lá fora?

Paulo Roberto Falcão: Eu acho que... Veja bem, nós temos aí... Primeiro, porque eu não acredito que algum grande jogador novo possa ser fritado se ele for, realmente, um grande jogador. Nós temos vários exemplos para serem citados. Você falou no líbero, o líbero da Seleção Brasileira que jogou na Copa de 1990, ele estreou no Internacional com 17 anos em uma defesa que a gente tomava muitos gols. O treinador, na época Zé Duarte [(1935-2004) técnico da Ponte Preta, do Guarani, em Campinas, e da Seleção Feminina Brasileira nos anos 1990] buscou o líbero na categoria juvenil, colocou na seleção e ele foi o melhor jogador do Campeonato. E temos outros exemplos que me fogem agora, o próprio Edu começou com 16 anos, o Neto começou lá no Guarani com 16 anos. Então, eu acho que o grande jogador não tem esse problema. Agora, você não tem outro jeito. Quer dizer, se eu colocasse uma equipe um pouquinho mais madura, se eu conseguisse reunir uma Seleção que muitos imediatístas do futebol querem, por exemplo, com jogadores de 28 ou 29 anos, isso não me garantiria a vitória do jogo. Quer dizer, eu não tenho nenhum receio de afirmar que esses jogadores de 28, 29 anos não dariam nem para mim e nem para a imprensa a tranqüilidade de uma vitória garantida. Isso é teórico, futebol não tem nada de teoria, futebol é prática. Então, eu não tenho essa garantia. Agora, eu tenho a garantia de que eu posso colocar jogadores jovens e chegar a uma competição oficial com eles um pouquinho mais trabalhado. E tem um outro problema sério: a Seleção Brasileira não tem que ser escola de futebol, a escola é no clube, só que tem jogadores que chegam à Seleção e poucos sabem os fundamentos. Quer dizer, isso é uma coisa muito séria, tem que aprender no clube. Na Seleção, teoricamente, tem que chegar pronto, e nós não temos isso hoje no futebol brasileiro, só que ninguém comenta, porque sabe, é difícil você... Como eu estou convivendo com a seleção 24 horas por dia, viajando e vendo os jogadores, por isso eu tenho a independência de convocar, porque eu estou vendo, mas, às vezes, outras pessoas não estão vendo e se julgam no direito de criticar sem ver, não é? Inclusive, às vezes, nem conhecem o nome do jogador, aonde joga. Quer dizer, isso é um absurdo, não é? Isso é um absurdo. Mas esse é o meu trabalho e eu estou com um objetivo muito firme: eu estou hoje na Seleção Brasileira não para ser julgado, porque nós temos que andar cem metros, e eu andei dez centímetros. Tem que julgar aquele que passou pela Seleção Brasileira. Eles vão ter que me julgar quando o Falcão passar, aí vão julgar o trabalho do Falcão. Agora, julgar hoje? Primeiro eu acho que é uma covardia, não comigo, mas com os jogadores que estão sendo aproveitados, essa gurizada que está tentando fazer um trabalho. Agora, na hora da competição oficial e eu [estou falando da] primeira Copa América, embora a minha valorização é muito mais a Olimpíada do que a Copa América, vão ser convocados os melhores jogadores, independente da idade.

Roberto Drummond: Mas e esses?

Paulo Roberto Falcão: Quem conseguir mostrar o futebol e não ser fritado vai estar no grupo.

[Risos]

Roberto Drummond: Então, podem ser fritados?

Paulo Roberto Falcão: Mas podem ser... Eu posso ser fritado.

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Isso faz parte, não é?

[Risos]

Rodolfo Konder: Osmar Santos.

Osmar Santos: Tanta gente está sendo fritada, não é?

Paulo Roberto Falcão: Nossa senhora!

Osmar Santos: O Touguinhó acabou citando o nome do jogador, que eu acho, talvez, seja o mais polêmico, no momento, desses que você tem convocado, e até parece que você deu uma entrevista à Folha falando dele.  Eu queria que você expressasse realmente o que você sente. Você foi de uma geração de craques e você pode falar... Aliás, se tivesse ganhado em 1982, acho que dava para falar que era a melhor Seleção desde a de 1970. Como não ganhou, fica difícil, ninguém nem aceita. Mas eu acho que era até melhor, tinha mais craques. O Neto é craque ou não é?

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu acho que o Neto... O Neto foi titular com 16 anos, eu falei Guarani, não sei se eu errei, mas é eu acho que foi o Guarani quando ele começou...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Foi o Guarani.

Paulo Roberto Falcão: E ele sempre foi [chamado] de problemático pelos treinadores, pela própria imprensa e, às vezes, até pelas próprias atitudes. Agora, na realidade, ele tem tudo para ser um craque. Não é craque até por culpa dele ou por culpa das pessoas que o orientam.

Osmar Santos: Como assim, então?

Paulo Roberto Falcão: Fundamentalmente ele é um jogador que hoje, no Corinthians, e eu tenho conversado muito isso com ele, ele tem se limitado a ficar em uma faixa de campo acreditando que, de repente, ele vai bater uma falta, vai bater um escanteio... coisa que tem que ser, na realidade, uma coisa a mais que o jogador tem que ter. Agora, no momento em que ele tiver um condicionamento físico melhor, e ele sabe disso, o próprio preparador físico, o [Flávio] Trevisan, do Corinthians sabe, tentou conversar com o time, parecem que conversaram, quer dizer, existe uma preocupação. Agora, o Neto em boas condições físicas, eu disse para ele muito claro – tudo o que eu estou falando para vocês aqui eu falei para ele, e por isso que eu estou colocando em público. Eu disse: “olha Neto, eu quero você fazendo movimentação, se não tiver nem uma falta e nem um escanteio, eu quero você se movimentando, independente de que você vai bater de falta, de pênalti e tal, eu quero que você faça movimentação como fazem aqueles jogadores que jogam atrás dos dois pontas de lança”. Eu até citei como o próprio Zico [Arthur Antunes Coimbra, ex-jogador de futebol considerado um dos maiores meio-campos do mundo. Ajudou o Flamengo a conquistar a Taça Libertadores da América e fez parte das Seleções Brasileiras de 1982 e 1986] fazia a movimentação; como era a movimentação que nós tínhamos em alguns jogos, o próprio Sócrates [meia direita. Jogou na Seleção Brasileira e foi um dos maiores ídolos do Corinthians], no Corinthians, ou até o próprio Jair [atuava no meio-campo e no ataque. Se destacou no Internacional, nos anos 1970 e no Peñarol, do Uruguai, nos anos 1980. Ganhou o apelido de Príncipe], no Internacional, o [Michel] Platini, na França. Quer dizer, não só em cima da bola parada, mas entrar no jogo: sair para jogar, recebe, toca, volta. Quer dizer, isso ele não tem feito e ele sabe disso, então, eu acho que o que falta para ele é justamente se movimentar, ter condições para se movimentar e criar, ser o elo de ligação entre o meio de campo e o ataque. Mas com movimentação, não esperando pela cobrança de uma falta ou pela cobrança de um escanteio.

Osmar Santos: Então, ele pode ser um craque?

Paulo Roberto Falcão: Eu acho que ele tem condições, desde que bem preparado, e que se cobre dele determinadas coisas que ele pode dar.

Rodolfo Konder: Roberto Avallone

Roberto Avallone: Essa pergunta, se o Neto é craque ou não é craque, puxa uma outra pergunta e uma reflexão. O Falcão é técnico ou não é técnico? E a história ensina que nem todo grande jogador foi, necessariamente, um grande técnico. Por exemplo, o Leônidas [da Silva], Diamante Negro, artilheiro da Copa de 1938, não foi um grande técnico; Jair Rosa Pinto [(1921-2005) meia, atuou principalmente nas décadas de 40 e 50, notabilizando-se no Vasco e Palmeiras] não foi, mestre Zizinho não foi [Tomás Soares da Silva, mais conhecido como Zizinho (1921- 2002) grande atacante da Seleção Brasileira nos anos 1940 e 1950. Ídolo de Pelé, também jogou no Flamengo e São Paulo] e Pelé, o maior de todos, também nem se aventurou a ser técnico. Porém, na minha opinião, eu acho que o Falcão tem tudo para ser um grande técnico, por quê? Porque entre as virtudes do grande Falcão jogador... para que se possa entender o Falcão futuro técnico, tem que se levar em consideração o Falcão jogador. Entre as virtudes dele, a principal virtude era ser uomo squadra que era o homem que arrumava o time do Roma, certo? Então, era um jogador tático, se era um jogador tático, ele pode transmitir essa tática aos seus comandados. Era também o Falcão, para quem não o conheceu, um jogador de técnica refinada e era também tão valente que uma vez no Morumbi ousou dividir uma bola com o Mococa [Gilmar Justino Dias, volante do Palmeiras],  você lembra desse lance? O Mococa era um crioulo de 1,80 m, com uma coxa desse tamanho, até houve um título “Falcão no Mococa”, o Falcão dividiu a bola com o Mococa e...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Eu não lembro dessa, porque se eu lembrar, parece que foi a única que eu dividi.

[Risos]

Roberto Avallone: Então, se você reunir, no Falcão jogador, a valentia de dividir a bola com o Mococa, se você adicionar isso à técnica refinada que ele tinha e a qualidade do uomo squadra é possível, é bem possível que ele venha a ser um grande técnico. Eu estou dizendo isso porque o Falcão até hoje não foi técnico. Falcão, então, três perguntas em uma, só para ganhar de três a dois do Roberto Drummond, primeira.

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Não sei se eu vou lembrar, vamos devagar.

Roberto Avallone: Vamos devagar. Primeira, você encontra a facilidade de transmitir aos jogadores, principalmente aos jogadores de hoje que não tem nem fundamento, você transmite a esses jogadores de hoje aquilo que você fazia no Roma, aquelas cenas de uomo squadra, é possível isso?

Paulo Roberto Falcão: Bem, eu acho que é possível se você tiver tempo. Agora, eu acho que esse é um trabalho de clube, Roberto, é um trabalho de clube. Quer dizer, o jogador tem que chegar na Seleção e eu chegar para ele e dizer: “olha, entra pela direita, corta, mete com o pé esquerdo no segundo pau, que alguém vai entrar de cabeça, se não entrar eu vou cobrar dele”. Só que isso tem que ser feito no clube. Quer dizer, eu posso fazer essa esquematização tática em cima da característica do jogador, mas eu não posso ensinar para ele coisas que têm que ser ensinadas no clube, isso não dá, nenhum treinar de Seleção Brasileira tem tempo para fazer isso, nem em três meses de trabalho antes de Copa do Mundo. De modo que isso é um trabalho de clube, não do treinador da Seleção Brasileira.

Roberto Avallone: Segunda pergunta: é possível ser valente, é possível dividir a bola com o Mococa hoje em tempos de recessão econômica, em que todo mundo está sonhando em jogar futebol lá fora?

Paulo Roberto Falcão: Esse é um problema sério, não só em relação ao jogador. Nós temos aí vários problemas econômicos, problemas de instabilidade justamente econômica, problemas que a gente está acreditando no Brasil, mas tem sempre a nossa preocupação de ver como vai ficar isso. Quer dizer, o Plano [Refere-se ao plano econômico lançado em 1990 pelo presidente Fernando Collor de Mello para conter a inflação] que foi lançado, nós temos toda essa preocupação, só que a gente esquece que o futebol está dentro disso também, então, a gente acha que o futebol parece... A gente vê as pessoas que formam a opinião pública colocarem como se o futebol não fizesse parte de tudo isso que está no Brasil, futebol está à parte. Não. E futebol é coisa presente. As dificuldades que se tem na vida, você têm também no futebol; problema de construção em campos, que antes você podia fazer; vários jogadores garotos que começam e não podem trabalhar em uma escolinha no infantil, porque os clubes justamente não podem pagar e o garoto vai trabalhar fora para ajudar em casa. Já estamos perdendo, quem sabe, um grande jogador. Então, nós temos vários problemas. Parece que a gente não... O futebol, a gente deixa de lado, como se não fizesse parte dos problemas que o Brasil vive. Não, o futebol é parte integrante e como tal tem que ser julgado e tem que ser entendido.

Roberto Avallone: Quer dizer, é difícil ser valente. E agora, aproveitando a deixa do Roberto Drummond, é a seguinte: é possível, Falcão, encontrar um uomo squadra? Quer dizer, um homem que dirige o time dentro dessa mediocridade do nosso futebol de hoje, vamos dizer, com apenas marcação e não a construção de jogadas, que é o que prevalece? É possível ter um Falcão, um uomo squadra dentre tantos jogadores medíocres que nós temos?

Paulo Roberto Falcão: Eu acho que nós temos aí bons jogadores, jogadores que podem ser preparados para serem excelentes. E eu acho que o aspecto que você tem que organizar, o aspecto do homem que vai chegar ao campo e vai mexer, eu acho que isso, você não ensina: ou o jogador sabe ou não sabe. Você pode criar [no jogador] um amadurecimento, que ele vai amadurecer e depois vai conseguir ver o futebol. Eu acho que esse uomo squadra no Brasil não é muito bem entendido, porque jogadores importantíssimos do nosso passado...

Roberto Avallone: [interrompendo] O Gérson [Conhecido como “canhotinha de ouro”, campeão na Copa do Mundo de 1970, conhecido por seus longos e precisos lançamentos. Tinha o apelido de “papagaio” entre os colegas, por ser muito falante.] foi mais o menos isso no tempo dele.

Paulo Roberto Falcão: É, eu vou citar exemplos, o próprio Dudu [volante] do Palmeiras, o próprio Clodoaldo [volante. Teve destaque no Santos] na Seleção Brasileira, que corria praticamente pelo meio de campo, onde ele marcava e dava chance das outras pessoas de se organizarem. E você citou o Gérson, que foi exemplo disso. Quer dizer, eu acho que tem jogadores que foram muito pouco valorizados no nosso futebol: o Dudu, Clodoaldo e aí a gente poderia dar uma série de nomes. Agora, é muito difícil você fazer esse jogador, ou você tem ou você não tem. Então, eu acho que o talento está difícil. É muito mais difícil [haver] esse homem que pode fazer com que os jogadores dêem o máximo do seu talento em beneficio do coletivo. Então, eu acho que é um trabalho longo, não é fácil, mas que tem que ser feita alguma coisa. Eu prefiro começar hoje, pois tem tempo até uma Copa América. Aí, na Copa América, vamos convocar o melhor do Brasil, independente de idade, porque é uma competição oficial e o Brasil precisa ganhar. E, em relação ao Falcão treinador, me cobre no final, só que tem que dar tempo, aí vamos ver se o Falcão pode ser ou não um bom treinador.

Rodolfo Konder: Ferreira.

Antônio Carlos Ferreira: Falcão, todos já falaram aqui que você foi um dos maiores talentos que o futebol brasileiro já viu, e eu tive a felicidade de ver você jogar, inclusive, na Taça São Paulo [competição de juniores], aqui, há muito tempo.

Osmar Santos: [interrompendo] Muito tempo.

Paulo Roberto Falcão: Eu tinha cabelo até.

Antônio Carlos Ferreira: É verdade.

Osmar Santos: Muito tempo.

Paulo Roberto Falcão: Esse programa me cria um problema sério, porque tem câmera de em cima, e tal.

[Risos]

Antônio Carlos Ferreira: E o Avallone lembrou que lembrou que o fato de você ter sido um craque não lhe garante ser um bom técnico. E eu dou uma olhada nos jogadores atuais convocados por você, Márcio Santos, Cafu, Velloso, Moacir, Donizete, são jogadores que eu acredito que só viram Falcão jogar, talvez, pela televisão. Então, você é um ídolo para eles. Eu tenho a impressão até que quando chegam perto de você, antes de pedir a orientação, eles pedem um autógrafo, porque quem viu ou ouviu dizer em Falcão era uma coisa maravilhosa. Então, o que eu estou vendo é o seguinte: você convoca a Seleção na quarta-feira, se encontra domingo no aeroporto e joga na outra...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Até porque não tem tempo de ficar em um hotel fora, porque tem que acordar cedo...

Antônio Carlos Ferreira: Exatamente. Se encontra e joga na outra quarta-feira. Enquanto isso, o professor Falcão, como os técnicos são chamados agora, o professor Falcão coordena, toca essa garotada e não há problema nenhum. Daqui para frente, chegando até a Copa do Mundo de 1994, nada nos garante que você não levará Branco, Careca, Júlio César, jogadores que foram seus companheiros na Copa de 1986, jogadores que conversam em pé de igualdade com você. Eu [lhe] pergunto o seguinte: é uma tática? Isso está preparado, você hoje, como treinador que começa sua primeira experiência na Seleção Brasileira, sabe que isso não é muito comum, isso está preparado? Porque, quando você vier encontrar as “cobras criadas”: Careca, Julio César, Muller... que eu não sei se voltam hoje já foi declarado que o Alemão não volta mais, pelo menos falou o presidente de CBF, não sei se você pensa assim. Mas como vai fazer, quando você tiver que encontrar essas “cobras criadas” e terá que dizer para esses meninos: “Olha, eu testei quarenta, mas de vocês eu só vou levar quatro, fico com os outros”. Como você vai administrar isso?

Paulo Roberto Falcão: Isso está muito claro, nós estamos dando a chance para eles. O pior é você não dar chance, aí eles tem toda razão. Mas não, eles estão jogando, eles vão ter condições de mostrar e a gente está observando. Então, eles vão ter condições de mostrar no campo - de repente, eu posso errar, certamente eu vou errar, cometer alguma injustiça porque é inevitável - mas eu vou procurar convocar os jogadores que melhorem se adaptem a um processo de Seleção Brasileira. Agora, eu acho que o único caminho que você tem é trabalhar esses garotos que você falou, para chegar depois, em uma competição oficial, [quando] você reunir jogadores que se destacam, como jogadores que estão na Europa e que eu entender que possam fazer parte, sob o ponto técnico, da Seleção Brasileira... Quer dizer, você falou em nomes que eu já trabalhei. Trabalhei com o Careca, com o Muller, do São Paulo, já joguei na Seleção com o Branco, só para pegar os nomes que você falou. Quer dizer, então, eu não tenho nenhuma preocupação em relação a isso. Quer dizer, na Seleção vão jogar os melhores jogadores, na minha opinião.

Antônio Carlos Ferreira: Falcão, esse jogadores que estão no exterior. Você deve saber quais são aqueles que você pode contar em 1994. Conhece o talento, são jogadores que você já jogou junto e talvez tenha guardado e possa dizer assim: “Bom, o Julio César, vou contar com ele e ponto final”. Mas, se a CBF vetar, assim como já vetou o Alemão, como você vai trabalhar em cima disso?

Paulo Roberto Falcão: Olha, o Ricardo, o doutor Ricardo, não me colocou nenhum veto em cima de nenhum jogador, nós conversamos e até, na última vez, ele não tinha me colocado nenhum veto.

Antônio Carlos Ferreira: Posso lhe dizer que, quando estava vindo para cá, eu ouvi a leitura de um documento que o Alemão, me parece, está definitivamente vetado.

Paulo Roberto Falcão: É se isso...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Não, o documento está até aqui, mas o documento não veta, a principio, o Alemão, ele diz que vai processar o Alemão contra crime de difamação, mas dessa conversa – vim dessa entrevista com ele agora – mas nessa conversa, ele deixou bem claro e disse: “Olha, eu não tenho falado oficialmente. Agora, pós oficialmente, para mim, eu não quero mais o Alemão na Seleção”. Agora esse, “para mim, eu não quero mais o Alemão na Seleção” ele, mesmo não dizendo oficialmente, [mas] já falou várias vezes em off, e para mim não tem off, você sabe disso, mas já falou várias vezes que não gostaria do Careca e nem do Muller pelo comportamento durante a Copa do Mundo, de fazer exigências e tal. Ele acha que isso não vai somar mais nada ao futebol brasileiro.

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Bom, em relação...

Oldemário Touguinhó: Eu até falei com ele. Eu até falei com ele o seguinte...

Rodolfo Konder: [interrompendo] Ainda temos o Ruy para terminar a rodada.

Oldemário Touguinhó: Eu até falei com ele o seguinte: eu achava que ele devia dizer isso oficialmente também. Porque o Taffarel, o Mazinho, o Evair e o João Paulo não têm nada a ver com isso, podiam muito bem estar ajudando o Falcão nesses jogos na Europa.

Antônio Carlos Ferreira: [interrompendo] Falcão, só encerrando...

Paulo Roberto Falcão: Não, só para responder.

Antônio Carlos Ferreira: Quer dizer, haverá poder de veto, então?

Paulo Roberto Falcão: Não, isso não. O doutor Ricardo não me colocou veto em cima de nenhum jogador, até porque eu não aceitaria. Eu acho que quem tem que decidir é o treinador. Agora, eu não sei o que realmente acontece. Eu não sei que tipo de problema houve entre esses jogadores e o futebol brasileiro e, por conseqüencia, entre a CBF. Agora, se me colocarem isso, e certamente ele vai me argumentar [então será] em cima disso que nós vamos trabalhar. Agora, a gente tem tantos problemas hoje aqui no futebol brasileiro para estar pensando em cima de um problema que não sei nem se vai acontecer para a Copa América. Agora veto, ele nunca me colocou, nunca me falou de nomes, nunca nós tivemos esse tipo de preocupação, porque a preocupação é hoje formar uma base. E, na Copa América, se me colocar [veto], certamente ele vai argumentar e aí nós vamos resolver isso. Agora, uma coisa bem objetiva. Quer dizer, ele nunca me deu opinião sobre o futebol. Quer dizer, quem escala realmente sou eu e acho que não pode ser diferente. O mínimo do treinador é escalar a Seleção Brasileira. Isso não significa que você não troca idéias com as pessoas de sua confiança. Agora a decisão final... até porque, no bem e no mal, a culpa é minha, sou eu que tenho de decidir.

Rodolfo Konder: Ruy.

Ruy Carlos Ostermann: Falcão, eu quero fazer uma pergunta que enlaça, assim, algumas questões internas. O técnico da Seleção Brasileira é o primeiro técnico do Brasil, portanto é a pessoa mais autorizada a falar do futebol brasileiro, os demais são técnicos de clubes ou até estão desempregados. Então, há uma pergunta que eu quero lhe fazer adiante, ou seja, qual o estágio atual do futebol brasileiro? Porque a passagem do Lazaroni, muito criticado pela imprensa e finalmente muito criticado também pelo torcedor em faces aos resultados foi, na verdade, uma tentativa de renovação de esquemas estratégicos e táticos da Seleção Brasileira, cuja mesmice eu mesmo já [estava] um pouco cansado, eu gostaria de ver uma inovação tática no futebol brasileiro e não a vejo. O Lazaroni teve a coragem, e foi mal sucedido talvez nas escolhas dos elementos, mas teve a coragem de tentar uma inovação na cara de todo mundo, o que deixou muita gente perplexa, até mudou alguns conceitos, mas a coisa não prosperou, até porque o resultado negativo afundou por inteiro a experiência. Então, esse é um problema: qual o estágio atual tático, técnico, estratégico do futebol brasileiro? Está atrasado o futebol brasileiro ou não? Agora, eu faço essa pergunta ao primeiro técnico do Brasil. E aí, eu considero, assim, uma decisão - eu lhe conheço, Paulo, há muito tempo - de ordem pessoal, grave e importante, porque você assume a condição de primeiro técnico do Brasil sendo, pela primeira vez técnico, de futebol. Isso é uma loucura? Isso é um carisma que você certamente há de impor às circunstâncias. Você está como que vitimado pelo fato de que, necessariamente, vai salvar o futebol brasileiro. O que levou Paulo Roberto Falcão a aceitar a incumbência que muitos descartariam como imprópria... No momento, deixamos para mais tarde... o que lhe fez tão corajoso para aceitar tal convite? E aí a pergunta embutida, como primeiro técnico do Brasil, o futebol brasileiro está atrasado, não está?

Paulo Roberto Falcão: Olha Ruy, eu me sinto muito à vontade de responder isso, porque eu, antes de ser o treinador da Seleção Brasileira, eu já falava há seis anos que nós precisaríamos modernizar o nosso futebol. Achava que nós tínhamos alguns problemas sérios e crônicos, [entre esses] o mais grave, [era] a lentidão. Então... Mas nós ainda damos muito valor àquele jogador que, no campo, dá um domínio de bola, põe a bola no calcanhar, olha para um lado e aí mete uma bola de “trivela” e o cara faz o gol, a gente da muito valor [para] isso. Eu acho que tem que ser dado o valor, mas porque não dar um pouquinho de velocidade a esse jogador? Quer dizer, o futebol vai ganhar com isso. Então, eu acho que o nosso futebol, não digo hoje, estou voltando a repetir aquilo que eu já dizia há seis anos: nós estamos muito lentos, nós estamos muito atrasados, em termos táticos. A lentidão do futebol brasileiro, talvez, também seja pelos campos que nós [temos], que são horríveis, não [dão] condição [para] o jogador fazer um trabalho de primeira. Agora, eu acho que mesmo assim isso poderia acelerar um pouco. Então, em termos táticos, eu, realmente, tenho acompanhado os jogos e acho que a dificuldade dos treinadores também de dar uma organização tática é essa: dificuldades nos campos; de trabalhar, [pois] tem jogo quarta, domingo, então, você não consegue [se] organizar; de repente, o treinador [muda]. Nós temos exemplo do próprio Telê [Santana], que saiu do Palmeiras e em dez dias assumiu o São Paulo e já [estão] cobrando resultado do Telê. Então, é um problema muito sério e não é um problema dos treinadores, não é um problema dos jogadores, é um problema também de mentalizar as pessoas que formam a opinião pública disso. Agora, eu aceitei, Ruy, pelo seguinte: primeiro, porque eu acho que eu tenho condições de fazer um bom trabalho, primeiro; segundo, porque eu acho que, quando você faz uma pesquisa e as pessoas começam a [votar] e criar quase uma unanimidade, eu não poderia virar as costas para isso. Eu, que tinha uma vida tranqüila, independente, tudo comandado por mim, eu podia fazer aquilo que eu entendesse durante o meu dia-a-dia, de modo que é um risco muito grande, é um risco muito grande porque existe um imediatismo, existe um bairrismo violento, não é? Jogadores que, por exemplo, estão no Rio de Janeiro, hoje, são aclamados, querem [que participem] da Seleção Brasileira, coisa que, quando [iam] jogar em São Paulo, não queriam; e vice-versa, jogadores que estão em São Paulo, e aí querem... Então isso é um problema muito sério, só que eu não posso me preocupar com isso. A minha preocupação é reunir os melhores na Seleção Brasileira sabendo que [existem] críticos que são contra, não contra o Falcão, mas são contra porque são a favor de alguém que talvez quisessem que estivesse no comando do futebol. E eu respeito isso, desde que seja feita sempre uma crítica em relação ao trabalho e não um ataque pessoal, porque aí a gente tem outro tipo de atitude.

Rodolfo Konder: Falcão, nós estamos já com dezenas de perguntas aqui dos telespectadores, então vamos bater uma bolazinha com os telespectadores? As três primeiras perguntas têm mais o menos o mesmo sentido: Nelson Feitosa de São Bernardo do Campo, São Paulo; Fernando Bertolino de Pirituba, São Paulo e Márcio Martins de Santo Amaro, as perguntas deles são as seguintes: “Não seria interessante transferir a sede da CBF do Rio de Janeiro para Brasília, para evitar bairrismos?” O Fernando pergunta se você acha que, na Seleção, tem muita gente que não faz nada e ganha muito. E o Márcio pergunta se você não acha que mudando a sede da CBF do Rio e sem as interferências dos cartolas a Seleção teria um destino melhor.

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu acho que isso é um problema mais administrativo. A mudança da sede não é um problema meu. Eu acho que o importante é que as pessoas tenham bem firme o que é melhor para o futebol brasileiro e procurar trabalhar em cima disso. Eu não tenho preocupação se é no Rio, se é em São Paulo ou se é em Brasília, eu tenho a minha casa familiar em Porto Alegre, meu escritório em São Paulo e tenho... Minhas férias, eu sempre passei no Rio de Janeiro, quando eu jogava...

Rodolfo Konder: [interrompendo] E não tem medo de avião?

Paulo Roberto Falcão: Não, pois senão, eu não podia trabalhar do jeito que eu trabalho.

[Risos]

Juca Kfouri: É [como] mais ou menos a questão do ovo e da galinha: os estádios brasileiros estão vazios porque faltam craques ou faltam craques porque os estádios estão vazios?

Rodolfo Konder: Falcão, você vai responder ao Juca Kfouri depois, porque eu tenho aqui muitas perguntas dos telespectadores...

[Risos]

Rodolfo Konder: E eu tenho que fazer, primeiro, algumas perguntas deles, depois eu passo a palavra para o Juca. Arquimedes Santos, de Mauá, São Paulo, pergunta: “Por que você não propõe a volta da lei que proibia a venda de jogadores para o exterior?”

Paulo Roberto Falcão: Posso responder rapidinho essa?

Rodolfo Konder: Pode.

Paulo Roberto Falcão: Porque esse é um problema que você não pode proibir, não é? De trabalhar aonde lhe de mais condições, quer dizer, isso é um problema que você não pode evitar isso.

Rodolfo Konder: Perfeito. Carlos Alberto Matias Costa, de Vila Formosa. Qual o time brasileiro que você não jogou, mas gostaria de ter jogado?

Paulo Roberto Falcão: Eu joguei no time que eu torcia. Quer dizer, me criei vendo o Internacional perder em uma fase ruim, então, fiquei muito... Era muito torcedor do Internacional e acabei me profissionalizando no Internacional, de modo que eu acho que não tem nada melhor do que você ser profissional do time que você torceu quando garoto.

Rodolfo Konder: Rita de Cássia, de São Caetano, São Paulo pergunta: “Como foi, para você, fazer o [programa] A Itália de Falcão, na TV Manchete?”

Paulo Roberto Falcão: Foi ótimo, maravilhoso, porque a idéia partiu do seguinte: vamos falar de alguma coisa que não seja futebol, porque nós tínhamos certeza que de janeiro a julho se falaria só de futebol, então vamos dar às pessoas que gostam de futebol, mas também tem interesse de saber como é o país da Copa do Mundo..., de modo que o programa foi um sucesso. Graças, naturalmente, ao trabalho do [diretor e dramaturgo] Nilton Travesso, dirigindo, nós todos conhecemos a capacidade dele, e também dos textos do [...].

Rodolfo Konder: Luciano Mesquita, dos Jardins, São Paulo, pergunta se você não acha que o futebol italiano taticamente é um mau exemplo para o futebol brasileiro e [pergunta se] a tática da seleção francesa não seria mais indicada.

Paulo Roberto Falcão: Veja bem, a tática indicada para a Seleção Brasileira, eu acho, é a tática [dos jogadores]. Quem dirá isso são as características dos nossos jogadores. Eu acho que você pode trazer alguma coisa da Europa, desde que você coloque alguma coisa que possa ser executada pelo jogador brasileiro, mas nós temos algumas características que você não pode tirar do jogador. Agora, eu acho que, fundamentalmente, você pode trazer alguma coisa da Europa para ajudar no nosso trabalho.

Rodolfo Konder: Marco Antônio, de Belo Horizonte, ligou para perguntar se você concorda que a imprensa influencia na convocação dos jogadores para a Seleção.

Paulo Roberto Falcão: Olha, acho que não...

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Pelo menos comigo isso não aconteceu ainda. Agora, que existe uma pressão violenta, existe, mas não influencia não.

Rodolfo Konder: Jaime Mouro, da Vila Mariana, pergunta se você não acha que está faltando a construção de estádios mais modernos no Brasil.

Paulo Roberto Falcão: Eu acho. Inclusive, nos [atuais] estádios que nós temos, nós temos estádio com uma capacidade que dificilmente você consegue preencher. Eu acho que nós temos exemplo em Porto Alegre, nós temos dois grandes estádios, que são o Beira-Rio e o Olímpico, do Internacional e do Grêmio, que você não consegue colocar mais de 35 ou quarenta mil pessoas quando tem um grande jogo. Então, eu acho que acaba sendo, hoje, dentro da realidade do nosso futebol, uma despesa grande. Para quem trabalha um pouquinho e conhece o que é fluxo de caixa, eu acho exorbitante você ter um estádio para cem mil lugares quando você coloca, no máximo, quarenta mil pessoas.

Rodolfo Konder: João da Costa do centro, São Paulo, pergunta: “Se o Maradona fosse brasileiro, você o convocaria para a Seleção?”

Paulo Roberto Falcão: O que você acha?

[Risos]

Rodolfo Konder: Muito bem, nós vamos ao Juca Kfouri e depois vamos ter um pequeno intervalo. Avallone, depois do intervalo eu passo a palavra.

Juca Kfouri: Então, o Olímpico e o Beira Rio, estão vazios porque não tem craque ou é o inverso?

Paulo Roberto Falcão: Juca, eu acho que, primeiro porque falta, realmente, muito talento no nosso futebol, mas o fator econômico também é fundamental. Nós temos aí exemplos que, às vezes, você chega numa final... E eu assisti, por exemplo, alguns jogos de final, alguns jogos importantes e pelo menos naquele jogo que você poderia assistir, porque está simbolizando uma final e você não consegue encher o estádio, de modo que são os dois: a parte dos problemas econômicos e também a falta de grandes jogadores.

Juca Kfouri: Então, me diz uma coisa, o jogador é profissional, o médico é profissional, o preparador físico é profissional, o técnico é profissional, o dirigente não. Isso está certo?

Paulo Roberto Falcão: É.

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Só um minutinho, o dirigente não. O dirigente do nosso futebol vai ao clube para [roubá-lo]*** e para vender jogador e ganhar comissão...

[Risos]

Oldemário Touguinhó: O presidente, o dirigente de futebol hoje é o cara que mais ganha dinheiro no futebol. Eu cito vários exemplos: o ex-presidente do Fluminense hoje vende jogador, Manuel Schwartz, o diretor de futebol do Flamengo...

Rodolfo Konder: [interrompendo] Eurico Miranda [presidente do Vasco entre 2001 e 2008]?

Oldemário Touguinhó: Leo Rabello [empresário], comprador e vendedor de jogador de futebol. Então, eles entram no clube hoje para vender jogador...

Rodolfo Konder: [interrompendo] Eurico Miranda...

Oldemário Touguinhó: Eu estou dizendo os que eu sei, se eu não me engano, eu só digo aqueles que eu posso comprovar...

[Risos]

Rodolfo Konder: [interrompendo] Oldemário nós vamos fazer um intervalo agora...

Oldemário Touguinhó: Esses eu posso comprovar.

Rodolfo Konder: Temos que fazer um intervalo...

[Risos]

Rodolfo Konder: Depois, na volta, aí devolvemos a palavra ao Juca Kfouri, vamos ao nosso intervalo, por favor.

Paulo Roberto Falcão: Ah, respondendo só um minutinho... o fato é privatização...

Rodolfo Konder: [interrompendo] É que já está na hora do intervalo.

Paulo Roberto Falcão: A gente volta depois, está certo.

Rodolfo Konder: Depois do intervalo a gente responde.

[Risos]

[Intervalo]

Rodolfo Konder: Voltamos aos estúdios da TV Cultura, com o programa Roda Viva. Apresentando hoje uma entrevista com o técnico da Seleção Brasileira, Paulo Roberto Falcão [...] Juca Kfouri, por favor, depois Roberto Avallone.

Juca Kfouri: É, só voltando, quer dizer, são todos profissionais, menos os dirigentes, que segundo o Oldemário alguns até...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] A grande maioria.

[Risos]

Juca Kfouri: A grande maioria até ganha de maneira escusa. Está certo isso? Quer dizer, não os que ganham de maneira escusa, é evidente que está errado, agora faz sentido essa estrutura?

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu falo isso também há uns cinco ou seis anos. Por que não se tenta, pelo menos, dar possibilidade de uma privatização? Claro que você tem que rever a legislação, claro que você tem que ter que mudar uma série de coisas, você tem que fazer o clube ter fins lucrativos, coisa que você não pode hoje. De modo que isso, eu acho que seria a grande saída. Mas isso é uma opinião que eu teria mesmo não sendo treinador da Seleção Brasileira, porque eu tenho que estar preocupado com o futebol brasileiro, porque o reflexo do futebol é a Seleção do nosso país. De modo que eu acho privatização, quem sabe, uma saída para isso.

Rodolfo Konder: Roberto Avallone.

Roberto Avallone: Falcão, o assunto desse momento, acho, é o veto. Mas se você disser veto, parece um termo forte e que poderia até significar uma falta de autoridade sua, se você aceitasse o veto. Agora, uma reflexão, se você trocasse a palavra veto por “currículo do jogador” já não seria tão forte. Então, eu pergunto: será que o Alemão teria currículo suficientemente bom para escapar desse veto, entre aspas? E lembro a história do nosso futebol mais uma vez, vamos lembrar um pouquinho do passado para chegar ao presente: qual foi a primeira grande conquista do nosso futebol? Foi em 1952, quando o Brasil afastou Zizinho, Jair Rosa Pinto [[Zizinho (1921-2001) meia direita do Flamengo, São Paulo, entre outros; ele e Jair Rosa Pinto fizeram parte da Seleção Brasileira de 1950, no Brasil, que perdeu a decisão da Copa do Mundo para o Uruguai em pleno Maracanã.] e Zezé Moreira [(1917 - 1998) treinador de vários clubes de futebol, entre eles Botafogo, Fluminense, São Paulo  e Corinthians. Também foi técnico da Seleção Brasileira entre 1952 e 1955]. E convocou um crioulinho chamado Didi [Didi, apelidado de Príncipe Etíope por Nelson Rodrigues, jogou pelo Botafogo e Fluminense. Venceu as copas de 1958 e 1962 pelo Brasil], um ponta direita fantástico chamado Julinho [Botelho (1929 - 2003) ponta direita. Destacou-se na Portuguesa, Palmeiras e Fiorentina. Jogou pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1954] e ganhou o Pan-Americano no Chile em 1952. Qual foi a magnífica primeira conquista do Brasil? Foi em 1958, aproveitando as lições de uma mal sucedida excursão na Europa, quando o técnico era o Flávio Costa [(1906-1999) treinou vários times importantes, entre esses Flamengo e Vasco. Também foi técnico da Seleção Brasileira de 1950], e o mal sucedido Campeonato Sul-americano, quando o técnico era Oswaldo Brandão [(1916-1989) fez sua carreira como técnico do Palmeiras nos anos 1950, mas também treinou o Corinthians e São Paulo nos anos 1960], e foi criado um plano, por coincidência, por jornalistas: Paulo Planet Buarque, Álvaro Paes Leme, Ari Silva e outro jornalista que eu não lembro o nome. Você hoje tem assessorado...

Antônio Carlos Ferreira: [interrompendo] Flávio Iazzetti.

Roberto Avallone: Flávio Iazzetti.

Oldemário Touguinhó: Eu não sei, porque não era do meu tempo.

[Risos]

Roberto Avallone: Não, mas olha, Oldemário...

Oldemário Touguinhó: Eu era muito garotinho naquela época.

Roberto Avallone: Mas você deveria pelo menos ler, para que fosse do seu tempo.

Oldemário Touguinhó: Não, mas não... De certo agora...

Roberto Avallone: Isso na minha opinião. Agora, eu estou entrevistando o Falcão. Falcão, então, se você tomar...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Eu não sabia, eu pensei que estivesse falando sozinho.

Roberto Avallone: Não, parece que não...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Você falou para mim que estava entrevistando o Falcão.

Roberto Avallone: Parece que não, parece que não...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Pensei que tivesse falando sozinho.

Roberto Avallone: Então, Falcão, se você levar como exemplo, foi formado por jornalistas, você tem um grande jornalista assessorando você, que é o Vital Battaglia e você pode ampliar esse plano. Agora, você não trocaria veto por currículo? Por que ser obrigado também a convocar jogadores que não deram certo na Seleção Brasileira?

Paulo Roberto Falcão: Eu convoco jogadores que, na minha opinião, podem fazer parte de uma Seleção Brasileira e só, muito simples e muito objetivo. Quer dizer, eu vou convocar jogadores que podem, na minha opinião, fazer parte de uma Seleção Brasileira. Estou preocupado com o talento do jogador. Eu acho que há alguns jogadores que podem ser problemas para um treinador durante a semana, e nós estamos cheios de exemplos porque a gente trabalhou em clube, vocês acompanham o futebol, sabem disso também. Mas o que me interessa é que na hora dos jogos ele resolva os problemas, de modo que a minha preocupação é uma coisa muito tranqüila, vão ser convocados os melhores jogadores do momento para competição oficial, muito simples, objetivo.

Osmar Santos: Eu queria saber, Falcão... Faz de conta que você tivesse que convocar agora para a Copa América, quem da Europa você convocaria hoje?

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Olha, quando me colocaram a possibilidade, o pessoal da imprensa, meus amigos. Mas porque é que você não convoca... E leva quatro ou cinco jogadores..

Osmar Santos: Experientes?

Paulo Roberto Falcão:  Não, leva [quatro ou cinco jogadores] que estão lá na Copa Pelé [Mini-mundial de futebol disputado entre 1987 e 1995 em vários países, com jogadores profissionais acima de 35 anos, chamados masters ou seniors. A edição de 1991 foi organizada pela TV Bandeirantes e o país sede foi Estados Unidos] e o resto daqui. Eu disse não fundamentalmente por um aspecto: eu não posso desmotivar os jogadores que eu não levarei daqui, porque eu teria quatro vagas preenchidas pelos jogadores europeus e eu não posso tirar a motivação...

Osmar Santos: Desses jogadores que estão aqui.

Paulo Roberto Falcão: Desses jogadores, desse pessoal que está trabalhando aqui, por quê? Porque eu acho... Eu sei, eu acompanho o que os jogadores da Europa estão fazendo, no momento que eu convoco, vamos supor, sete jogadores daqui.

Osmar Santos: [interrompendo] Não, mas quem você convocaria? Quem você pode convocar? Desses que estão lá [na Europa], quem você acha que jogaria no seu time agora, se tivesse tudo livre, o Ricardo [Teixeira] não [faz] veto, a Copa América é agora, você terá que convocar e os jogadores [serão] liberados.

Paulo Roberto Falcão: Veja bem, se eu for [lhe] responder isso, eu vou criar o mesmo problema que eu [teria] no jogo para a Copa...

Osmar Santos: Não, quem você gostaria, pode até nem precisar convocar?

Paulo Roberto Falcão: Porque é uma coisa muito objetiva. Eu, mais ou menos, tenho uma idéia de jogadores, mas eu não vou [lhe] dizer, porque eu desmotivaria...

Osmar Santos: Nenhum?  Nenhum jogador você não traria de lá?

Paulo Roberto Falcão: Nenhum, porque aí eu desmotivaria...

Osmar Santos: Não, olha, esse negócio do Pelé, eu só queria dizer que eu não acho justo isso, eu expresso o meu pensamento, eu não sei se você pensa assim ou está influenciado pelo Ricardo Teixeira, acho que essa é uma festa do Pelé de cinquenta anos, um acontecimento que você não vai medir time, se tem...

Paulo Roberto Falcão: Não, mas deixa eu lhe colocar uma coisa aqui...

Osmar Santos: [interrompendo] Não, vai lá, deixa o Pelé convidar quem ele quer convidar, vamos fazer essa festa, essa brincadeira, que eu acho que ele merece.

Paulo Roberto Falcão: Mas aí é que está uma colocação errada do início, porque o Zico, o Platini, fizeram despedidas, eu fui na despedida de alguns desses jogadores.

Osmar Santos: [interrompendo] Os jogadores convidaram quem gostam.

Paulo Roberto Falcão: Mas não era a seleção do Brasil e não era a seleção da França, eram os convidados do Platini e os convidados do Zico, quer dizer, é outra história, se fosse colocar diferentemente até poderia aceitar...

Osmar Santos: [interrompendo] Mas o Pelé merecia uma exceção...

Oldemário Touguinhó: Mas a Seleção Brasileira foi no jogo de despedida do Zico, foi a Seleção Brasileira que foi para lá, não foram os amigos do Zico, foi cara que ele nem conhecia...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Exatamente, aí foi mais...

Osmar Santos: Eu acho que aí foi em homenagem ao Pelé, em respeito aos cinquenta anos do Pelé.

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Só que tem um enfoque diferente...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Inclusive, o Pelé foi à CBF e pediu, na CBF, alguns jogadores, o Salgado é a favor de convocar os jogadores, mas o Ricardo Teixeira não.

Paulo Roberto Falcão: Voltando ao jogo do Zico. Era a despedida do Zico da Seleção Brasileira, não é a despedida do Pelé, entendeu? Então, é um aspecto muito diferente. Eu falei, na época, o seguinte: eu não tenho nenhum problema se o Pelé quiser convocar os amigos dele para fazer o jogo e me chamar para trabalhar como treinador, eu não terei nenhum problema, só que você...

Osmar Santos: [interrompendo] Não põem a camisa da Seleção?

Paulo Roberto Falcão: Exatamente, seria uma coisa que é diferente. Quer dizer, eu não sei como isso seria resolvido agora...

Osmar Santos: [interrompendo] Mas você vai botar o Pelé com a camisa da Seleção?

Paulo Roberto Falcão: Eu vou dar a dez para ele...

[Risos]

Osmar Santos: Mas é a mesma coisa. Você vai pegar um cara que não é mais da Seleção.

Paulo Roberto Falcão: Mas o aspecto...

Juca Kfouri: [interrompendo] É o aspecto que interessa, só, Falcão.

Osmar Santos: [interrompendo] Não, eu acho coerente Falcão, eu acho que tem que ser uma festa para ele, vamos botar os melhores lá.

Paulo Roberto Falcão: Mas aí é que está o problema...

[sobreposição de vozes]

Antônio Carlos Ferreira: Você, Falcão, foi um dos jogadores mais hábeis que todo mundo já viu, além de ser elegante, um craque. E hoje você está demonstrando aqui que é um debatedor muito hábil, você está fugindo com muita habilidade disso tudo, o que o Osmar pensou...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Eu não posso, eu não posso escalar.

[Sobreposição de vozes acaloradas]

Paulo Roberto Falcão: Eu vou te dar um exemplo do porque eu não vou escalar. Terminou o jogo Botafogo e Cruzeiro, em Belo Horizonte, que eu assisti, e não sei se foi o primeiro jogo ou o segundo que eu assisti, eu não me lembro. Mas me perguntarem [sobre] um determinado jogador e eu “não, esse eu já conheço e tal”. No outro dia, os jornais estampados: “Falcão”...

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Então, não dá, sabe?, não tem um...

Osmar Santos: Eu sei que é complicado, mas...

[Sobreposição de vozes]

Antônio Carlos Ferreira: [interrompendo] Deixa eu retomar. Falcão, então...

[Sobreposição de vozes]

Osmar Santos: [interrompendo] Mas não é para você dizer quem está convocado para a Seleção.

[Sobreposição de vozes]

Antônio Carlos Ferreira: Agora deixa retomar. O que eu quero dizer é o seguinte.

Ruy Carlos Ostermann: Essa é a típica resposta que satisfaz todos os jogadores, não é?

[Sobreposição de vozes]

Rodolfo Konder: Eu queria só avisar a vocês todos o seguinte: não dá para dois falarem ao mesmo tempo porque o som, para o telespectador, confunde.

Antônio Carlos Ferreira: Então, tudo bem, vamos lá. Falcão, então, o que eu quero dizer é o seguinte: em função da sua habilidade, você está saindo com muita tranqüilidade das situações mais críticas aqui e você é um homem de sucesso, um homem que escreveu para quarenta jornais na Itália...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Mas eu acho que eu não estou fugindo de nenhuma pergunta.

Antônio Carlos Ferreira: Não, não está fugindo, você está saindo com muita habilidade.

Osmar Santos: [interrompendo] A minha você não respondeu...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Se eu fugir, vocês voltam e eu respondo de novo.

Antônio Carlos Ferreira: Você está saindo com habilidade, você escreveu para quarenta jornais, foi comentarista de televisão na Copa do Mundo e agora há pouco você disse que até pode ser fritado na Seleção Brasileira; se você for fritado, evidentemente você tem que continuar no seu caminho, com sua grife, comentando etc.. E eu me lembro que, em 1987, você foi convidado para fazer parte de um partido político em Porto Alegre, poderia até ter sido candidato a prefeito, se você lembrar disso, você conta para a gente se é verdade. Está no seu projeto de vida, antes ou depois da fritura, entrar para a política?

[Risos]

Osmar Santos: Pois já fritaram você, está vendo.

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Olha, primeiro, eu acho que eu não vou ser fritado porque eu tenho competência e capacidade para fazer um bom trabalho; segundo, em relação ao convite que eu tive [para entrar na política], eu tive o primeiro convite para entrar na vida pública [com] 22 anos. Eu morava em Canoas e fui convidado, na época, pela Arena e pelo MDB. Então, ali eu já tive um problema, que foi o seguinte: por que os dois partidos me convidaram? Porque, seguramente, eu poderia levar algum voto, então, eu vi que não tinha muito uma ideologia na época. E agora tive outros convites também para ser prefeito, isso foi apenas um convite de um político de Porto Alegre que colocou essa possibilidade; [foi] o nosso Kenny Braga [jornalista], que o Ruy conhece. Aí eu disse não. Eu acho que não tinha capacidade para isso. E agora eu tive o convite, aí sim, do presidente Collor [Fernando Collor de Mello], que me chamou até Brasília uma semana antes de assumir me convidando para ser deputado federal pelo estado do Rio Grande do Sul. Falei para ele que ia pensar, mas que achava que, pela atividade que tinha - na época eu tinha um contrato com a televisão italiana - não ficaria bem para um deputado federal ausentar-se uma semana no mês, isso seria muito criticado. De modo que eu rejeitei e acabei, três meses depois, aceitando o convite de trabalhar na Seleção Brasileira.

Antônio Carlos Ferreira: Mas ainda faz parte do seu projeto de vida, futuramente, ser político?

Paulo Roberto Falcão: Não, talvez até continuar como treinador, quem sabe, não está nada afastado.

Ruy Carlos Ostermann: O João Saldanha dizia uma coisa muito interessante [(1917- 1990) jornalista e técnico de futebol. Foi responsável pela classificação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo em 1970]. Ele dizia: “Quando você não tem um grande goleiro e você tem um conjunto de goleiros assemelhados, você põe a mão no saco tire um e diz: esse é paredão. E toda a imprensa vai concordar”. Você está nesse estágio na Seleção Brasileira?

Juca Kfouri: Deixa eu só aproveitar o Ostermann, porque aí você responde as duas.

[Risos]

Juca Kfouri: E já responde pelo menos um nome para o Osmar, que você não pode negar.

Osmar Santos: [interrompendo] Ah, isso ele já respondeu, o Taffarel é o único que ele convoca.

Juca Kfouri: A gente estava na Itália. O Taffarel continua sendo, na sua opinião, o melhor goleiro brasileiro?

Paulo Roberto Falcão: O Taffarel continua sendo um dos melhores goleiros do mundo.

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Mazinho também?

Juca Kfouri: Um dos melhores goleiros do mundo?

Paulo Roberto Falcão: É, isso eu falei inclusive...

Juca Kfouri: Na revista Veja.

Ruy Carlos Ostermann: [interrompendo] Não, não provoca regionalismos. Deixa o Taffarel de lado, ele joga no Parma.

Oldemário Touguinhó: É, ele joga na Itália.

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Tem um bom presunto.

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: A minha preocupação em relação ao goleiro, e faz parte de qualquer função dentro do campo, eu vou procurar escolher os melhores com muito objetivo. E eu posso até errar, certamente vou errar, muita gente não vai concordar com as minhas decisões, mas também eu acho que, na vida, você não tem que ter só amigos, se tiver só amigos é preocupante, você tem que ter inimigo também.

Osmar Santos: Com relação a goleiro, então, vazou uma notícia ontem, que eu não sei se é verdade, eu queria a sua confirmação...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Vai entrar pelo outro lado?

[risos]

Osmar Santos: Até agora só respondeu o Taffarel, o Juca [Kfouri] já apertou e não saiu mais.

Paulo Roberto Falcão: Não, eu respondi, eu respondi.

Osmar Santos: A esperança agora é o Touguinhó te apertar um pouco mais, quem sabe. Mas com relação ao goleiro, o próximo jogo da Seleção, que vai ser contra o Chile aqui no Brasil; não, perdão, o jogo do Pelé, o Ronaldo [goleiro do Corinthians] já é o titular, você disse a ele.

Paulo Roberto Falcão: Não.

Osmar Santos: E o Sérgio [Sérgio Guedes, então goleiro do Santos] vai ser convocado, ou não?

Paulo Roberto Falcão: Não, eu não coloquei para o Ronaldo isso, como eu tinha colocado para o Sérgio.

Osmar Santos: Não?

Paulo Roberto Falcão: Apenas na primeira convocação chegaram os dois em excelente estado, tanto o [Wagner] Velloso [na época goleiro do Palmeiras] como o Sérgio, e conversando com eles eu coloquei: "olha, vai jogar o Velloso pelo trabalho inicial". E depois eu coloquei para o Sérgio que no próximo jogo ele jogaria. Agora, isso eu falei para o primeiro trabalho, isso não quer dizer que no próximo jogo tem que jogar esse ou aquele goleiro só porque foi convocado...

Osmar Santos: [interrompendo] Ah, não está definido isso?

Paulo Roberto Falcão: Não está definido isso, foi apenas o início de um trabalho...

Osmar Santos: [interrompendo] Então pode até voltar o Sérgio a ser titular, ou não?

Paulo Roberto Falcão: É. Nós temos um problema sério, Osmar, que é o calendário. Nós temos dia 31 o jogo do Pelé, nós temos jogos pelo Campeonato Brasileiro.

Osmar Santos: [interrompendo] Super Copa.

Paulo Roberto Falcão: Pela Super Copa, temos jogo dia sete e temos jogo dia oito. Quer dizer, é um problema muito sério para ser...

Ruy Carlos Ostermann: [interrompendo] Você vai levar isso em conta e não vai convocar jogadores que estejam, naquele momento, prestando serviço ao clube em competições desse gênero?

Paulo Roberto Falcão: A minha idéia é convocar os jogadores...

Ruy Carlos Ostermann: [interrompendo] Então, o Sérgio não dá para jogar com o Chile dia oito, não é?

Paulo Roberto Falcão: É, aí eu não sei. Eu vou convocar e depois passa a ser um problema da CBF com os clubes.

Ruy Carlos Ostermann: Ah, então, você transfere...

Roberto Avallone: [interrompendo] Pelo jeito o Falcão gostou muito do Sérgio, que, aliás, evitou a derrota lá no Chile, não é Falcão?

Paulo Roberto Falcão: Não. Eu acho que os dois, como chegou o Velloso e o Sérgio, os dois chegaram num excelente momento...

[Sobreposição de vozes]

Paulo Roberto Falcão: Exatamente você acompanhou, não é? Foram muito bem, inclusive a própria imprensa concordou que eram realmente os dois melhores jogadores do Brasil. Agora, o Velloso, tinha uma expetativa muito grande em relação a ele também...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Como tinha a expectativa em cima do Neto...

Oldemário Touguinhó: Falcão, o fator é o seguinte: eu queria duas coisas aqui. Uma, você fala que existe a falta de talento e o grande comentário nosso é o de que nós, infelizmente, naquela época, cobríamos vários jogadores de alto nível. Hoje, a gente vai à Seleção e a grande estrela da Seleção acaba sendo o treinador, porque os outros jogadores só dá dez, 15 linhas de cada um deles [refere-se a pequenas matérias de 15 linhas].

Paulo Roberto Falcão: Mas eu não tenho nada contra a isso...

[risos]

Oldemário Touguinhó: Então, acontece o seguinte: eu, conversando com o Pelé anteontem, e nós estávamos falando justamente sobre isso, assistindo o jogo da Seleção Brasileira aqui, em São Paulo, na casa dele, e aí falou desse negócio da dificuldade de jogador. E ele tinha uma opinião sobre isso, eu queria ver nessas perguntas, que você me respondesse.

Paulo Roberto Falcão: Você falou o Pelé?

Oldemário Touguinhó: Pelé, é.  Ele dizia que, quando ele era garoto, jogou no meio da rua, jogou pelada, fez aquilo tudo. E hoje o jogador vai jogar no clube com sete, oito, nove anos. Então, chega o técnico, faz a armação, arma esquema, dá sistema para [o menino] jogar. Ele diz também que não tem que deixar a criança jogar já nas categorias infantis, aquele mirim, aquilo tudo, ele acha que isso devia de ser proibido. Você só poderia deixar a criança [disputar] depois que tivesse jogado à vontade: driblasse, fizesse o que quisesse com a bola. E, talvez, com seus 12 anos, aí sim o treinador poderia começar a dar essa formação de jogador. Mas antes é importante deixar o jogador, na sua infância, criar o seu estilo, desenvolver a arte do drible. Talvez o Garrincha, se fosse jogar hoje, não ia dar dois dribles porque o cara ia proibir ele de driblar. O que é que você acha disso?

Paulo Roberto Falcão: Eu concordo, eu acho que, pelo menos no início, tem que deixar o jogador... até para ver quem sabe jogar e quem não sabe, não é?

Oldemário Touguinhó: Então, porque o jogador começou a se burocratizar...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Mas eu acho, Touguinhó, que um aspecto também importante é que hoje muitos treinadores, a gente sabe isso, muitos treinadores hoje também dependem de resultado para permanecer nas categorias inferiores. E eu acho isso um erro. Eu acho que as categorias de um time de futebol têm que preparar para o profissional, só; se conseguir títulos, é importante. Agora, tem muito treinador que, quando não consegue o título, a própria direção coloca para a rua.

Oldemário Touguinhó: Agora, outra coisa aqui, você disse que vai começar a fazer a verdadeira Seleção Brasileira a partir do ano que vem, com a Copa América, a Copa América deve ser junho, julho.

Paulo Roberto Falcão: Julho, nesse período.

Oldemário Touguinhó: Você pretende convocar esses jogadores a partir da Copa América ou durante o ano? Por exemplo, o Brasil começa jogando em fevereiro, parece que com a Argentina. Quer dizer que vai ter que preparar [o time] para fevereiro ou março. Não seria, talvez, uma chance de você, já nessa partida, colocar um ou dois ou três para começar a se entrosar contigo quando você tiver que chamá-los para jogar na Copa América?

Paulo Roberto Falcão: Não. A idéia... E é isso que eu passei para a CBF, para o doutor Ricardo [Teixeira], a idéia é colocar a partir de março amistosos na Europa utilizando já esses jogadores, preparando-os para a Copa América.

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Perfeito, amistosos na Europa com eles, perfeito.

Paulo Roberto Falcão: Agora, eu não sei. Aí vai ter que jogar só na Europa, porque você não pode fazer duas seleções.

Oldemário Touguinhó: Perfeito, perfeito.

Roberto Drummond: Duas perguntas em uma. Primeiro.

[risos]

Roberto Drummond: Eu acho que é o mais rápido. É verdade que o Moacir e o Cafú são os únicos que escaparam da fritura? Agora, a outra é o seguinte: eu acho que nós da crônica - me permitam uma autocrítica - e todo o futebol brasileiro hoje, nós estamos sofrendo uma crise de identidade que eu gostaria de lembrar. Eu fiz uma entrevista muito didática com o Rinus Michels [técnico da Holanda em 1974], em Amsterdã, que é o mágico, o mago do futebol, o feiticeiro inventor do carrossel ["carrossel holandês"] e perguntei a ele: "se o senhor fosse o técnico da Seleção Brasileira, o senhor adotaria o carrossel?" E ele e me respondeu: “De forma alguma. O jogador brasileiro não precisa disso. Os holandeses precisam [disso], os franceses precisam, os italianos precisam, mas vocês, brasileiros, não precisam”. Então, essas duas perguntas para você?

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu acho que... Eu respeito o Rinus Michels pela [sua] história, pelo que fez, ele voltou à Seleção da Holanda e consegui ganhar o campeonato europeu com a seleção da Holanda em 1988, se não me engano, teve um excelente...

Roberto Drummond: [interrompendo] Ele volta, agora.

Paulo Roberto Falcão: Deve estar voltando agora. Veja bem como o futebol é estranho. Ele voltou, foi trabalhar em um time alemão, trabalhou cinco ou seis jogos, perdeu e foi colocado para fora desse clube. Quer dizer, nem sempre você consegue. Agora, eu acho que, fundamentalmente, você tem que jogar diante das características que você tem. Agora, ele está fora, ele não tem acompanhado o futebol brasileiro. Ele não sabe dessa busca que nós estamos fazendo hoje, de modo que eu acho que, quando ele disse que o futebol holandês, que o futebol italiano precisam fazer determinada esquematização tática, é [como] aquilo que nós pretendemos fazer no futebol brasileiro, só que não temos necessidade de fazer o carrossel. Eu quero apenas olhar e ver a característica dos jogadores brasileiros, eu vou ter uma base em termos de números para, aí sim, em cima dessa base, tirar a espinha dorsal e em cima das características do jogador, montar um esquema tático.

[Sobreposição de vozes]

Paulo Roberto Falcão: Eu, normalmente, não falo em cima dos jogadores. Ele citou o Neto, mas eu acho que nós estamos buscando jogadores, o Moacir e o Cafú são jogadores que tem idade, inclusive, para a Seleção Olímpica. Quem sabe, de repente, no ano que vem, com essa Seleção de novos jogando. Quem sabe o treinador da Seleção Brasileira não esteja buscando a base da Seleção Olímpica e não só da profissional...

Oldemário Touguinhó: Falcão, só dando...

Juca Kfouri: [interrompendo] Falando de grandes técnicos.

Oldemário Touguinhó: Só um minutinho. Dando esses dois nomes aí, eu queria acrescentar o nome de um jogador que eu vejo jogando desde o Mundial de Júnior, que é o Assis [Com passagens por diversos clubes -Grêmio, Fluminense, Corinthians, Vasco – do Brasil e do exterior, é irmão de Ronaldinho Gaúcho], que é um jogador de meio de campo com uma movimentação... Para mim, é uma das grandes revelações do nosso futebol, o Assis que é um meia. Eu estive com ele no Mundial de Júniores lá na Arábia Saudita e agora está confirmando: ele está jogando no time do Grêmio.

Rodolfo Konder: Juca Kfouri e Roberto Avallone.

Juca Kfouri: Falando em grandes técnicos, de todos os grandes técnicos que você trabalhou, destaca um modelo para você.

Paulo Roberto Falcão: Modelo em nível tático?

Juca Kfouri: Não sei.

Paulo Roberto Falcão: Acho que todos eles têm...

Juca Kfouri: Um técnico em que você se espelha, que você gostaria de ser.

Rodolfo Konder: Um dos telespectadores, aliás, pergunta se você tem o Beckenbauer [Franz Beckenbauer. Técnico e ex-jogador alemão] como modelo?

Oldemário Touguinhó: De roupa...

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu, na realidade, tenho treinadores que eu aprendi, convivi e eu tenho admiração. Eu trabalhei com Ênio Andrade, trabalhei com Rubens Minelli, trabalhei com o Telê, enfim, tenho admiração por outros treinadores.

Roberto Drummond: Cilinho.

Paulo Roberto Falcão: Tenho admiração pelo Didi, trabalhei com o Cilinho, aprendi alguma coisa com o Cilinho.

[risos]

Juca Kfouri: [interrompendo] Falcão, mas mineiro aqui é o Roberto Drummond, pelo amor de Deus, eu pedi um.

Paulo Roberto Falcão: Mas, não. Eu vou te dizer: eu acho que você não pode apontar um...

[...]: Liedholm [Nils Liedholm (1922-2007) futebolista sueco. Técnico do Roma por doze temporadas]

Paulo Roberto Falcão: Você citou um nome de maior respeito.

Roberto Avallone: Foi ele que te chamou de uomo squadra.

Paulo Roberto Falcão: Mas não por isso. Ele me deu condições de trabalhar em uma cidade que eu não conhecia, que eu tinha que me adaptar. Com ele, aprendi aspectos importantes de conduta, aspectos importantes de como você... O italiano usa “desdramatizar” situações; não deixar uma situação que parece dramática... você trabalha ela muito bem, de modo que eu aprendi com muitos treinadores, seria injustiça eu citar um treinador. Eu acho que o Dino Sani, que me lançou, foi um homem importantíssimo, foi quem me fez bater de pé esquerdo, cabecear, que eu tinha dificuldade. Depois veio o Ênio Andrade, de modo que seria muito injusto eu só apontar um treinador.

Osmar Santos: Você trabalhou com o João Avelino [(1929-2006) técnico do Corinthinas, entre outros] então, você citaria o nosso querido João Avelino?

Roberto Avallone: Eu só queria aproveitar a informalidade desse programa para concordar com o Drummond. Eu achei brilhante a explicação do Drummond na entrevista do Michels, que não faria um carrossel aqui no Brasil. E lembrando também que o Michels tinha um uomo squadra, que era o  Cruyff [Johan Cruyff, jogador da Holanda], sem o Cruyff não teria carrossel holandês.

Paulo Roberto Falcão: Tinha o Krol [Ruud Krol, zagueiro da seleção holandesa de 1974].

Roberto Avallone: Não, mas o Cruyff para comandar, que era o Falcão holandês. Eu queria também reverenciar o Oldemário Touguinhó, ele me lembrou um jogador muito importante, que é o Assis. Falcão, eu achei que você driblou muito aí. Assis, meia esquerda, canhoto, lança bem, dribla, chuta. Por que não o Assis, por que não com convicção o Assis?

[Risos]

Roberto Avallone: Por que, Falcão?

Roberto Drummond: Ele joga no Grêmio.

[Risos]

Ruy Carlos Ostermann: Eu acho que precisa dizer duas coisas aqui: primeiro, o Assis não joga de meia esquerda...

[Risos]

Ruy Carlos Ostermann: Não, isso é importante.

Paulo Roberto Falcão: Você está jogando na ponta esquerda...

Ruy Carlos Ostermann: [interrompendo] Nós vamos esclarecer ou não? Ele não joga de meia esquerda, ele é quarto jogador do meio campo e joga no lado esquerdo, aliás, as experiências com ele na meia esquerda ou foram em equipes de juniores ou, então, em momentos de emergência do Grêmio. O melhor momento desse jogador no Grêmio, atualmente, e talvez vocês não tenham visto pela televisão, é no lugar do Paulo Egídio [ponta esquerda, teve seu melhor momento no Grẽmio no final dos anos 80], esta é sua função.

Osmar Santos: Como ponta.

Roberto Avallone: Como falso ponta esquerda...

Ruy Carlos Ostermann: Ele não marca, ele não volta para a marcação, ele não tem poder de sacrifício, ele tem o problema do Neto...

Osmar Santos: Então, está dizendo, não convoca mais.

Ruy Carlos Ostermann: Não, [não é] não convoca, não.

Osmar Santos: Não convoca mais.

Ruy Carlos Ostermann: Se convoca o Neto, pode convocar o Assis

[Risos]

Rodolfo Konder: Falcão.

[Risos]

Ruy Carlos Ostermann: Osmar, não pode ser privilégio de São Paulo e do Rio de Janeiro ter jogadores que não marcam, não é?

Rodolfo Konder: Vamos devolver a palavra ao Falcão.

Osmar Santos: O Assis já está riscado da Seleção.

Rodolfo Konder: Vamos devolver... Só um minutinho, nós vamos devolver a palavra ao Falcão, porque as pessoas inclusive estão esperando o programa para ouvir o Falcão. Mas eu vou fazer algumas perguntas dos telespectadores.

Osmar Santos: [interrompendo] Mas eu, eu poupei o Falcão de...

Rodolfo Konder: Tem muita gente interessada, depois eu passo para o Ferreira.

Osmar Santos: Então, mas eu acho que cometi um erro, eu acabei interrompendo o Ostermann quando ia falar bem do Assis...

Rodolfo Konder: Mas tudo bem. Vamos dar aos telespectadores um espaço; José Álvaro do Sumaré, São Paulo

Osmar Santos: O Falcão gostou, até sorriu. O Assis é do Grêmio. Não é por isso, Falcão, que gostou? Sorriu quando meteram o pau no Assis, não é?

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Eu já levei três do Grêmio.

Rodolfo Konder: José Álvaro de Sumaré, São Paulo, pergunta se há discriminação racial no futebol. Na Itália, por exemplo, ele diz que não havia jogadores negros...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Não, não, o Júnior [Atuava como lateral e meio campista. Destacou-se no Flamengo nas anos 1970 e 1980. Defendeu o time italiano Torino entre 1984 e 1987 e depois o Pescara entre 1987 e 1989] foi um grande sucesso lá, o Toninho Cerezo [Atuava como volante. Jogou no Roma e depois no Sampdoria] foi um grande sucesso...

Rodolfo Konder: Você acha que não há discriminação?

Paulo Roberto Falcão: Não, a Itália recebe muito bem [os jogadores]. Quer dizer, não existe isso, realmente não existe isso.

Rodolfo Konder: Maria Angela Conteiras, de Moema, São Paulo, pergunta se você vai batalhar para que a próxima Copa seja no Brasil.

Paulo Roberto Falcão: Isso não depende de mim, mas eu acho que nós temos outros problemas mais sérios para resolver do que pensar em uma Copa do Mundo.

Rodolfo Konder: Cristina Filardes, do Tatuapé, São Paulo, pergunta se você vai colnvocar algum fisioterapeuta para a Seleção Brasileira.

Paulo Roberto Falcão: Veja bem, isso aí já é a parte médica da seleção.

Rodolfo Konder: Antônio Fernando de Campinas, São Paulo, pergunta se na Copa de 1982, a razão do Brasil perder foi ter subestimado a Itália.

Paulo Roberto Falcão: Não, eu acho que foi uma fatalidade. Nós tínhamos, realmente, a melhor seleção da Copa, mas enfrentamos, em um momento, a Itália jogando futebol, marcando o futebol brasileiro, saindo para jogar, tendo um dia extraordinário. Eu acho que, até aquele momento, o Brasil era o melhor futebol e merecia ganhar a Copa e ir embora. [Mas] a Itália, naquele jogo, a partir daquele jogo, foi a melhor seleção.

Rodolfo Konder: Nelson Ferreira, de Santana, São Paulo, pergunta se você não acha que nós estamos precisando, urgentemente, da volta dos campeonatos das seleções interestaduais e se isso não facilitaria a formação da Seleção Brasileira.

Paulo Roberto Falcão: Eu acho que você teria alguma coisa mais concentrada para ver, mas não sei quando você poderia colocar [esse campeonato] nesse calendário incrível que nós temos mais ainda jogos de seleções.

Rodolfo Konder: Júnior - aí temos aí algumas perguntas também de uma natureza mais pessoal - Júnior, de Campo Limpo, São Paulo pergunta quanto você está ganhando para ser técnico da Seleção.

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Eu [lhe] garanto que ganhava muito mais na minha grife, não tenho dúvida nenhuma.

Rodolfo Konder: Ciro Moraes, da Lapa, São Paulo, pergunta se você pratica algum tipo de esporte, além do futebol?

Paulo Roberto Falcão: Eu tenho a ousadia de jogar tênis, mas não jogo bem, não. Dizem que para ser treinador da Seleção tem que jogar tênis, não é?

Rodolfo Konder: E Carmem Sanches, da Pompéia, São Paulo, pergunta se é verdade que você teve um namoro com a Raquel Welch [atriz].

Paulo Roberto Falcão: “Pô”, [como] o italiano diria, magari.

Rodolfo Konder: O que é?

Paulo Roberto Falcão: Magari quer dizer, tomara.

[Risos]

Rodolfo Konder: Ferreira, por favor.

Antônio Carlos Ferreira: Falcão, o torcedor brasileiro classifica alguns jogadores como jogador de clube e jogador de Seleção. Eu me lembro do Gilmar dos Santos Neves, que jogava no Corinthians e depois no Santos. Ele podia estar na reserva ou de férias que a Seleção telefonava para ele: "Gilmar, vêm para cá que é com você mesmo". E por outro lado, com o Ademir da Guia, um dos maiores craques do futebol brasileiro no Palmeiras, não deram chance na Seleção... Quer dizer, poucas vezes, a não ser lá na Inglaterra, contra a Polônia, até deu um problema todo...

Osmar Santos: [interrompendo] O Zagalo até deu uma força para ele.

Antônio Carlos Ferreira: O Zagalo deu uma bela força para ele, não é verdade? Então, o torcedor já classificava: o fulano é da Seleção e o fulano é do clube. Nas suas observações, não só nesses jogadores que você convocou e que fez esses primeiros jogos, mas olhando o cenário do futebol brasileiro, você já tem... Taffarel, por exemplo, será que o Taffarel é jogador de Seleção, ele vem e ponto final? E desses que você está vendo, quem é aquele que você já percebeu que é de clube? Acho que alguns deles já mostraram isso nesses dois jogos.

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu acho que, quando o jogador sabe jogar futebol, ele sabe jogar futebol, independente de onde esteja. O que acontece é o seguinte: às vezes, o jogador, no seu clube, tem um habitat que ele não tem na Seleção Brasileira. Ele, no seu clube, tem certas situações que, realmente, não tem na Seleção Brasileira. Ele tem um ambiente dele. Tem algumas facilidades que, às vezes, na Seleção, não tem. Até porque, no seu clube, ele é o principal jogador ou um dos principais jogadores e na Seleção ele não é um dos principais, vai ter que demonstrar que é um dos principais jogadores. Então, eu acho que o trabalho do treinador e da comissão técnica é fazer com que o jogador tenha o mesmo ambiente no clube e na Seleção Brasileira, aí não vai existir esse problema do jogador ser de clube ou ser de Seleção.

Antônio Carlos Ferreira: E desses novos que você convocou, você já localizou algum que é jogador de Seleção? Você já tem três ou quatro ali e eles são de Seleção, o assunto está resolvido ou...?

Paulo Roberto Falcão: Não, eu não acredito nesse papo. Veja bem, eu acredito no trabalho da comissão técnica de fazer o jogador. Se, por acaso, ele não estiver rendendo o que ele poderia render na Seleção...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] O estado emocional também influencia muito nisso, não é o Falcão?

Paulo Roberto Falcão: É tudo...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] O Gérson, por exemplo, foi para a Copa de 1966 e não fez absolutamente nada...

Paulo Roberto Falcão: [interrompendo] Não tinha como não abalar, era uma baderna aquilo.

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Mas de qualquer jeito...

Ruy Carlos Ostermann: O Falcão frisou um aspecto fundamental, ali não havia ambiente para jogar. A tal ponto que, no último jogo, nós fizemos sete transformações no time.

Oldemário Touguinhó: Mas, de qualquer jeito, individualmente ele podia apresentar alguma coisa e não apresentou absolutamente nada. O aspecto individual do cara podia fazer, e não fez nada. Agora, no entanto, depois, o Gérson se consagrou.

Roberto Drummond: O Tostão [Jogava como meia ou centro-avante. Destacou-se no Cruzeiro na década de 1960 e venceu a Copa do Mundo de 1970].

Oldemário Touguinhó: O Tostão também. Então, é o que eu estou dizendo: o estado emocional e, talvez, a participação do grupo influencia. Isso, talvez, tenha influenciado o jogador a praticar aquilo tudo que ele costuma praticar no campo e, quando vai para a Seleção, se ele encontrar aquele mesmo clima, às vezes, pode ajudar, não é?

Paulo Roberto Falcão: Então, esse é um trabalho da comissão, o de tentar fazer com que ele se sinta em casa, em outras palavras.

Rodolfo Konder: [interrompendo] Vamos, vamos deixar a Cyntia falar um pouquinho...

[Risos]

Rodolfo Konder: Porque ela está intimidada. Cyntia, por favor.

Cyntia Greiner: Eu queria perguntar uma coisa, você tem uma grife, você lançou um perfume e eu ouvi dizer que você estaria abrindo um restaurante na Itália?

Paulo Roberto Falcão: Não, isso não.

Cyntia Greiner: Não?

Paulo Roberto Falcão: Não. O Eduardo, o dono do The Place conversou comigo há mais de um ano sobre essa questão, depois parou a conversa, então, hoje não existe a menor...

Cyntia Greiner: [interrompendo] Então essa proposta está anulada?

Paulo Roberto Falcão: Hoje não, há uns oito meses essa proposta está completamente afastada.

Cyntia Greiner: Eu queria saber o seguinte: qual é a sua atuação, ou era, porque você falou para mim que agora o seu negocio é só Seleção, nesses outros seguimentos? Qual a sua atuação na grife, no perfume? Você só administra, como funciona?

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] No perfume, ele cheira.

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: É, tem cheiro bom. O perfume, ele foi um trabalho que nós começamos há dois anos. Há dois anos, nós fizemos esse trabalho e tivemos a possibilidade de chegar, agora, no lançamento. O perfume estava pronto em novembro, [mas] o ano teve a eleição, teve o segundo turno, em seguida a gente esperou para ver o que é que aconteceria no novo governo. Aconteceu o Plano [Plano Collor] e a gente segurou um pouco, e acabamos lançando agora que o mercado estabilizou um pouco. Então, a minha participação na grife hoje é apenas única e exclusivamente de definir aquilo que as pessoas estão trabalhando. A minha equipe, que eu tive que montar para me dedicar exclusivamente à Seleção Brasileira, eu defino com esse grupo o que eu acho que tem que fazer parte da coleção. Porque a coleção tem que ter, fundamentalmente, aquilo que eu acho, para manter uma homogeneidade dentro daquilo que eu fiz desde 1984. Então, a minha participação na grife hoje é apenas a participação do mostruário, da coleção. Comercialização, isso tudo fica com o meu irmão. A equipe que busca novidades, o que é que está se utilizando em termos de tecido, em termos de marketing, hoje, esse aspecto fica relevado a um grupo que eu coloquei para trabalhar para eu ter condições de fazer só participação no futebol.

Cyntia Greiner: E a grife vai indo super bem, então, aqui no Brasil?

Paulo Roberto Falcão: Graças a Deus.

Cyntia Greiner: Porque você disse que a sua renda era a maior...

Paulo Roberto Falcão: Graças a Deus está indo bem.

Juca Kfouri: Você aceita fazer o texto do ensaio fotográfico para a [revista] Playboy, da Karmita [Medeiros. Foi capa da playboy de Fevereiro de 1991]?

Paulo Roberto Falcão: Não.

[Risos]

Juca Kfouri: Não, por quê?

Paulo Roberto Falcão: Porque eu acho que um texto, eu não sei fazer texto, em primeiro lugar, em segundo lugar...

Osmar Santos: [interrompendo] Fazer texto para a namorada é uma coisa complicada.

Cyntia Greiner: Eu acho que o Juca está querendo perguntar sobre o seu relacionamento com a Karmita, está todo mundo aqui doido para saber desse namoro.

[Risos]

Paulo Roberto Falcão: Veja bem, eu tenho a maior admiração...

Osmar Santos: [interrompendo] O Juca Kfouri queria saber.

[Risos]

Cyntia Greiner : Você também, não é Osmar?

Osmar Santos: Se você é namorado ou não é da Karmita Medeiros...

[Risos]

Oldemário Touguinhó: É porque é o seguinte, a CBF não tem veto, pelo menos foi o que eu soube, o Ricardo não veta nada...

Juca Kfouri: [interrompendo] Felizmente.

Oldemário Touguinhó: Você pode namorar à vontade.

Juca Kfouri: Felizmente, a minha melhor testemunha é o telespectador da TV Cultura, do Roda Viva, que me ouviu perguntando se você aceita fazer, para a revista Playboy, o texto de um ensaio fotográfico da Karmita Medeiros que assinou hoje com a revista.

Paulo Roberto Falcão: Olha, você está dando uma notícia em primeira mão aí

Juca Kfouri: [interrompendo] Exatamente. Mas o Osmar não me deixa falar.

Oldemário Touguinhó: E um convite, não é?

[Risos]

Oldemário Touguinhó: E está fazendo um convite também.

Juca Kfouri: Desde a coisa da careca, eu estava até chateado.

Rodolfo Konder: É para o lado pessoal?

Juca Kfouri: É, para o lado pessoal.

[Risos]

Cyntia Greiner: Então, o Falcão podia responder essa.

Juca Kfouri: Você pode não escrever, mas você daria um depoimento?

Rodolfo Konder: Falcão, você aceita ou não?

Paulo Roberto Falcão: Eu só faria o texto se eu soubesse escrever, como eu não sei, não posso fazer.

Rodolfo Konder: [interrompendo] Falcão, tem alguns telespectadores aqui: Rangel Benides, de Mogi das Cruzes de São Paulo; Sueli Pascholato, do Tatuapé; e Jonas Costa, de Mauá; eles perguntam se você já viu o César Sampaio [meio campista. Começou a carreira no Santos, em 1986 e teve grande sucesos no Palmeiras dos anos 90] jogar e o que você pretende. Se você pretende convocá-lo.

Paulo Roberto Falcão: Já, já vi. Eu já vi todos os jogadores brasileiros em atuação. O único time que eu não vi ao vivo foi o Vitória, que eu pretendo ver na quarta-feira, quando jogar com o São Paulo, no Morumbi. De modo que eu estou observando todos os jogadores e acho que o meu trabalho é esse. Quer dizer, eu não posso convocar a Seleção Brasileira sem observar os jogadores. Esse jogador está sendo observado, como todos os outros profissionais do país.

Rodolfo Konder: Roberto Avallone.

Roberto Avallone: Nessa esteira de estado emocional, duas perguntas em uma só, imitando o Drummond, o poeta Drummond, primeiro. Seguinte: você teve a curiosidade de ver a foto do Zagalo antes de e depois de ser técnico da Seleção Brasileira? Ele tinha um topetinho antes de ser técnico, depois ficou completamente careca...

[Risos]

Roberto Avallone: Nem tanto quanto o Osmar aqui, ó.

[Risos]

Oldemário Touguinhó: Ele não tem esse problema.

Paulo Roberto Falcão: Esse problema eu não tenho.

[Risos]

Roberto Avallone: Você viu o Telê Santana, antes e depois? O Telê, inclusive, era um homem bem humorado antes da Seleção, agora ele está amargo. O Cláudio Coutinho, que era tido como um galã, você viu antes e depois? Você não teme que isso aconteça com você?

Paulo Roberto Falcão: Não, mas eu acho que é um fato inevitável isso. Se acontecer, não [serei] o primeiro nem o último. Eu acho que, realmente, nós vamos ter muito atritos nessa caminhada. Quer dizer, eu vou ter atritos com a imprensa, a imprensa vai ter comigo, isso aí é um fato inevitável, nós só temos que saber administrar isso juntos.

Roberto Avallone: E a segunda pergunta, vou fazer isso com todo o respeito é o seguinte, eu...

Roberto Drummond: Vem chumbo.

Roberto Avallone: Na minha opinião, o melhor entrevistador da televisão brasileira hoje é o Jô Soares, do SBT. E eu acompanhei, até com certo espanto, no Jô Soares, uma entrevista quase desequilibrada de um ex-juiz de futebol, aliás, de muitos erros, de nome Armando Marques, você acompanhou essa entrevista?

Paulo Roberto Falcão: Não, não vi.

Roberto Avallone: Mas alguém comentou com você?

Paulo Roberto Falcão: Me falaram alguma coisa, mas eu gostaria de ver a fita.

Roberto Avallone: Sei, porque me pareceu que ele se referiu, de maneira muito deselegante, a você...

Paulo Roberto Falcão: Eu não vi, eu gostaria de ver essa fita para analisar realmente isso. Saber o que foi dito na entrevista, exatamente.

Juca Kfouri: Agora, você podia contar, Falcão, o que houve entre você e o Armando Marques no jogo Inglaterra versus Itália decidindo o terceiro lugar na Copa da Itália. Porque aí se torna bem claro o porquê o Armando Marques fez referências, assim, maldosas. O que houve durante o jogo, aquele dois gols duvidosos: conta! O telespectador gosta de saber essas coisas.

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu acho que seria muito deselegante eu falar de uma pessoa que não está presente, como eu acho deselegante as pessoas falarem quando eu não estou presente. Eu não vou comentar esse aspecto porque eu, realmente, quero, eu estou curioso, você me deixou curioso para ver essa fita...

Roberto Avallone: Talvez eu tenha entendido mal porque ele falava tão rápido e como era juiz... Porque o Armando Marques personificou o respeito em campo...

Paulo Roberto Falcão: Então, eu acho não vale a pena a gente... A pessoa não está presente, fica difícil.

Osmar Santos: Juca, então explica rapidinho aí o que aconteceu.

Juca Kfouri: Não, mas isso é simples, durante o jogo Itália e Inglaterra, disputando o terceiro lugar, houve lá um lance duvidoso, estava o narrador narrando e o Armando virou-se para o Falcão e perguntou o que tinha havido, e o Falcão respondeu para ele, e ele entrou na do Falcão, dizendo: "É, estava impedido" . Depois, no lance seguinte, houve um outro lance duvidoso e o Armando disse: "Estava impedido" e o Falcão fez que não.

Osmar Santos: Isso comentando o jogo?

Juca Kfouri: Isso, fez que não.

Osmar Santos: Foi na Rede Manchete...

Juca Kfouri: E aí o Armando insistiu que estava impedido e comentou que estava impedido. Então, quando veio para o Falcão, estava passando o replay do lance, a repetição do lance, e o Falcão disse: "Olha, o Armando que me desculpe, mas o telespectador está vendo, não houve impedimento". E o Armando, desde então, não perdoa mais o Falcão. É só isso o que aconteceu.

Rodolfo Konder: Falcão, o João Saad, de São Caetano, São Paulo pergunta: "Como você acha que o povo brasileiro, em geral, reagiu a sua indicação como técnico da Seleção?" 

Paulo Roberto Falcão: Eu acho que muito bem, até pelo aspecto da votação, que foi feita por algumas emissoras. Eu tenho tido o maior apoio na rua. As pessoas estão acompanhando, porque torcedor é inteligente, vai ao campo, sabe a dificuldade que se tem; sabe dos calendários porque ele tem que ir no campo, ele tem que, de repente, pagar para assistir o jogo, sabe o quanto é difícil hoje assistir aos jogos e sabe, consequentemente, o quanto é difícil você ir ao campo e sair satisfeito com aquilo que vê.

Rodolfo Konder: Lázaro dos Santos, da Lapa, São Paulo, pergunta: "Se não fosse na Itália, em que outro país você gostaria de ter jogado futebol?"

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu acho que eu tive a sorte de ir para um país que, sem dúvida, investiu muito no futebol. Mas a Itália me recebeu maravilhosamente bem, então, fica difícil falar de outro país, mas eu acho que o futebol espanhol também é um futebol de guerra, de luta, de competição. E eu acho que o futebol tem que ter só competição.

Rodolfo Konder: Avallone, por favor.

Roberto Avallone: Bem, eu nem tinha pedido a palavra, mas vou emendar.

[Risos]

Roberto Avallone: Falcão, só para sair um pouquinho do futebol, você, que fez um brilhante programa de variedades pela Manchete. Como é o mundo da imprensa brasileira em relação à imprensa italiana? Quer dizer, como é a vida de um italiano em relação a nossa? Porque dizem que o paulista é amargo, o carioca é alegre - o Oldemário não é tanto assim não, o Oldemário é pauleira. Mas como é o mundo passional da Itália, faça um paralelo entre ser profissional na Itália e aqui no Brasil.

Paulo Roberto Falcão: Olha, eu acho que existe uma preocupação que é de bem informar, mas existe bons profissionais no Brasil e existe maus profissionais no Brasil, existe maus profissionais na Itália e existem bons profissionais. Eu acho que, de modo geral, não existe uma diferença fundamental. A única diferença é que lá não se trabalha com rádio, então é um...

Rodolfo Konder: [interrompendo] Essa é uma grande diferença, não é?

Paulo Roberto Falcão: É violenta, porque você não tem um momento passional, você evita muitos problemas, acho que talvez a diferença fundamental seja essa.

Rodolfo Konder: Ferreira, última pergunta que nós temos dois minutos para encerrar o programam, esse programa vai para vários estados, então, estamos chegando ao fim, por favor, Ferreira.

Antônio Carlos Ferreira: Falcão, como você vai tratar o problema disciplina na Seleção Brasileira? E eu te pergunto o seguinte: você convoca a Seleção nessa quarta-feira, no domingo, os jogadores jogam...

Oldemário Touguinhó: [interrompendo] Dá o nome dos 18!

[Risos]

Antônio Carlos Ferreira: Se o jogador for expulso no jogo de domingo em uma situação crítica, de extrema indisciplina dentro do campo, ele está convocado, você convocou na quarta-feira e ele foi expulso no domingo, quebrou "o pau", fez a maior bagunça. Ele continua convocado, ele vai jogar?

Paulo Roberto Falcão: Vai, vai jogar. Acho que não dá para comparar, não dá para colocar esse tipo de problema porque eu acho que, às vezes, se o jogador é expulso... Talvez até [por estar em] um momento infeliz da vida dele, emcocional... Agora, o aspecto que você tocou é muito importante e é bom que se diga: nós estamos vivendo hoje um calendário com dificuldades grandes. Nós temos aí vários times jogando dia 31 de outubro. Nós temos algumas outras equipes pela Super Copa jogando dia sete, oito, que é exatamente um dia antes e no mesmo dia do jogo: Brasil e Chile, em Belém, Pará. Nós tivemos que convocar contra o Chile e os jogadores [tiveram que] se apresentar no aeroporto, digo no hotel do aeroporto, porque seria difícil se apresentar em um outro hotel porque o jogador teria que levantar muito cedo. De modo que tudo isso é um problema sério que nós enfrentamos. A Seleção não treina. Quer dizer, eu recebo jogador na Seleção como eles [vieram] dos clubes. Se o jogador chegar domingo à noite machucado e não puder se apresentar, você tem que convocar outro jogador. Ainda há o problema de passaporte para a viagem. Então, são muitos problemas que tem que ser levantados para o ano que vem. E a preocupação, no ano que vem, é que se possa, sempre preservando os clubes, mas que se possa dar à Seleção o respeito que ela merece, isto é, preservar a Seleção quando ela tem que jogar. Porque a Seleção Brasileira, eu me lembro, a gente deixa um pouquinho de lado os clubes, e eu acho que têm que ser preservados. Mas a Seleção Brasileira reunida tem prioridade e tem que jogar naquele dia, só a Seleção Brasileira.

Rodolfo Konder: Paulo Roberto Falcão.

Juca Kfouri: Falcão, você já foi mais feliz do que agora?

Rodolfo Konder: Paulo Roberto Falcão, um momentinho, por favor, que chegamos ao final e eu estou sendo advertido aqui, que o nosso tempo se esgota.

Juca Kfouri: Tá, desculpe...

Rodolfo Konder: E nós transmitimos em cadeia o técnico da Seleção Brasileira, muito obrigado em nome da TV Cultura, pela sua elegante presença aqui no Roda Viva. Muito obrigado aos jornalistas que nos ajudaram a fazer a entrevista, aos convidados da produção, a Bernardete, a Cristina e a Iara, que nos atenderam aqui o telefone tão gentilmente e esperamos contar novamente com o privilégio da atenção dos telespectadores no próximo Roda Viva, na próxima segunda-feira, às nove e meia da noite. Muito obrigado a todos pela atenção e boa noite.

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