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Memória Roda Viva

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Edmundo

2/2/1996

Consagrado no Palmeiras como "Animal", o jogador fala do ataque dos sonhos do Flamengo, de sua transição ao Corinthians e de seu temperamento e confusões

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Matinas Suzuki: Boa noite. Ele estreou oficialmente no sábado com a camisa oito do Corinthians. Tocando a bola no Roda Viva esta noite está Edmundo.

[Comentarista]: Gênio... e que gênio! Afirmativas com um merecido duplo sentido. As interpretações se materializam num gênio intempestivo e também na genialidade contida no prazer de encarar e driblar o adversário. Edmundo é hoje um dos jogadores de maior carisma do futebol brasileiro. Encarna, ao mesmo tempo, os papeis de herói e vilão. Virou símbolo de um futebol de garra, que mistura arte e molecagem. Mas estrelou alguns episódios em que a bola e a rede deixaram de ser importantes em cena. A coleção de incidentes, o jeito inquieto, malcriado, os gols e a vibração escancarada o tornaram dono absoluto da camisa de bad boy. Edmundo começou na [equipe] juvenil do Botafogo. Deixou a estrela solitária para ir jogar no time do maior ídolo, o Vasco, de Roberto Dinamite. Os dribles, o domínio de bola e os gols foram abrindo caminho. Saltou rápido do juvenil para o profissional. E, em 1992, ganhava o primeiro título regional do Campeonato Carioca desprestigiado e sem Maracanã. Mesmo sem os espetáculos do maior estádio do mundo, o talento de Edmundo foi reconhecido. Em 1993, fez as malas, mudou-se para São Paulo como uma das atrações da recém associação Palmeiras e Parmalat. Edmundo se tornou ídolo e ajudou a quebrar um jejum de 17 anos sem títulos do Palmeiras. Melhor que isso, integrou uma campanha vitoriosa, cinco títulos em três anos: os bicampeonatos Paulista e Brasileiro e um torneio Rio – São Paulo. Colaborou com mais de cinqüenta gols e atuações que lhe renderam três convocações para a Seleção Brasileira. A insolência é a destreza capaz de desequilibrar uma partida e ganhar o coração da torcida, Edmundo foi presenteado com mais um título: Animal. A fera chegou a ser confinada quatro dias depois de agredir um cinegrafista no Equador. A diplomacia funcionou lá, mas aqui o adeus de Edmundo ao Palmeiras [se deu] em meio às acusações de atrasos de pagamentos. E mais de seis milhões de dólares levaram Edmundo de volta ao Rio. Chegou ao Flamengo para formar o ataque dos sonhos com Sávio e Romário no ano do centenário do clube. O trinômio, ídolo, imagem e negócios iam bem, [mas] em campo a situação era outra: poucos gols, contusões e confusões, o Flamengo nada venceu. O sonho acabou por desabar na madrugada de dois de dezembro. Edmundo se envolveu em um acidente de trânsito que deixou três mortos. Foi acusado de dirigir em alta velocidade e vai responder inquérito por homicídio culposo. O desafio de vencer esse momento triste fez com que Edmundo trocasse mais uma vez o futebol carioca pelo paulista. A imensa torcida do Corinthians e toda a diretoria presentearam o jogador com carinho e confiança. Edmundo pediu para que o Animal fosse esquecido, entrou em campo na estréia contra o Coritiba não como um anjo, mas um gavião guerreiro. Marcou presença, um pouco pelo esforço, pela malandragem e por deixar uma forte esperança que o ataque alvinegro vai dar muito trabalho aos adversários. Na primeira partida pelo Campeonato Paulista quase marca o primeiro gol com a camisa do Corinthians. Se dessa vez o gênio intempestivo será controlado ninguém sabe, mas a torcida é para que abuse do talento e crie instantes inesquecíveis, geniais.

Matinas Suzuki: Para entrevistar o “cracaço” Edmundo, nós escalamos para esse Roda Viva de hoje à noite o jornalista italiano Oliviero Pluviano, correspondente da agência de noticias italianas Ansa; o músico e colunista esportivo Nando Reis; Barbara Gancia que é colunista da Folha de S.Paulo; Juca Kfouri, do Cartão Verde, aqui da rede Cultura e da Folha de S.Paulo; o ator Eri Johnson, aliás, a gente gostaria de agradecer à Rede Globo por ter liberado Eri para participar deste Roda Viva, muito obrigado pela sua presença Eri; o consultor de empresa e comentarista da rádio Eldorado Antoninho Marmo Trevisan; e Silvio Lancelotti comentarista esportivo da Rede Record. O Roda Viva é transmitido em rede nacional por 43 outras emissoras de 17 estados brasileiros [...] Eu vou pedir um pouquinho de paciência, porque mesmo antes do começo do programa já estavam chegando perguntas aqui para o Edmundo. Acho que vamos bater hoje o nosso recorde de participação. Boa noite, Edmundo.

Edmundo: Boa noite.

Matinas Suzuki: Muito obrigado pela sua presença. Eu acho que a nossa produtora aqui, Márcia, está te marcando há mais tempo que qualquer outro beque que você tenha enfrentado pela frente. Edmundo, a camisa oito cai bem? O número oito, você gosta dele?

Edmundo: Eu gosto. Número de camisa, eu nunca tive nenhuma preferência. Coincidentemente, eu marquei pela camisa sete. Fui para o Flamengo, gostaria também de ter mudado quando eu cheguei no Flamengo e lá foi feito uma votação e ganhou por 92% camisa sete. E aqui, o Marcelinho é o dono da camisa sete e gosta de jogar com ela, eu acho que não tinha nem como eu pensar em jogar com a camisa sete. E aí foram escolhidos outros dois números, caiu o número oito. Eu me simpatizo bem com o número oito.

Matinas Suzuki: Como foi a estréia, Edmundo? O que você achou? Foi bom voltar ao Campeonato Paulista? Você se sentiu bem, como foi?

Edmundo: Foi ótimo. Eu estou muito feliz, muito contente de estar de volta a São Paulo, principalmente no Corinthians, um time que eu não conhecia, via só como adversário, tinha aquela rixa entre Palmeiras e Corinthians. Mas eu estou muito satisfeito, muito feliz. E a minha estréia oficial, no sábado, a meu ver, foi maravilhosa. Eu ainda não [tenho] condições físicas, técnicas e táticas como os demais jogadores, então, eu tenho que entrar no ritmo deles, porque fiquei três meses sem fazer nada – comendo, bebendo e dormindo – enfim, isso prejudica um pouco o rendimento. Aí, eu conversei com o Eduardo [Amorim. Técnico do Corinthians entre 1995 e 1996. Conquistou dois títulos para o clube como treinador: Campeonato Paulista e Copa do Brasil de 1995]... na quinta-feira foi um jogo de festa, valia tudo, eu conversei com o Eduardo e com o Toninho que é o preparador físico, que eu ia jogar o máximo, correr até quando eu tivesse gás e depois [era] para eles me tirarem, me substituírem. Eu fiz isso no primeiro tempo, eu corri bastante, lutei, batalhei. Eu acho que foi excelente. [Mas] já no intervalo eu não reunia as mesmas condições de quando eu entrei. Estava sentindo uma contusão e até gostaria de ter saído, mas tivemos o mesmo problema com um outro jogador, o Róbson, e ele está em condições piores ainda do que eu, não fez a pré-temporada e estava acima do peso. Aí, optou por tirar o Róbson para que eu permanecesse no jogo, e aí o segundo tempo foi um pouco mais lento, eu estava um pouco cansado, mas foi excelente.

Matinas Suzuki: Agora, Edmundo, vendo ali o jogo... As três ou quatro primeiras bolas que você pegou, você sofreu faltas duras, teve dois cartões amarelos para jogadores do Botafogo de faltas em cima de você, essa coisa toda. Como é? Você entra em campo e já sabe que vai ser assim, que vai ter que levar? Como é o seu preparo para esse tipo de coisa? Porque deve ser muito desgastante. Primeiro: não conseguir dar seqüência para a jogada. Segundo: são entradas bastante duras, colocando em risco a sua integridade física, essa coisa toda.

Edmundo: A questão da integridade física, a gente está sujeito, mesmo nos treinos, a acontecer alguma coisa. Já levei entradas fortes demais e dessa vez que eu me machuquei – acho que foi a pior vez que eu me machuquei – foi uma jogada que o adversário não teve nem culpa, nem chegou... Quer dizer, para você se machucar, acontece em qualquer momento. Mas é um fator psicológico muito difícil porque as pessoas acham que vão te tirar do jogo, vão te desestabilizar. E nesse jogo em Ribeirão [Preto] foi a prova disso. No primeiro lance o cara estava me marcando homem a homem, levou cartão. Aí trocou o cara que ia me marcar, o outro tomou cartão. [Depois] veio me marcar um terceiro, que no final do jogo acabou tomando também um cartão amarelo. Quer dizer, é meio complicado... Na hora em que você pega na bola... Mas isso aí, eu até acostumei, porque quando era na época do Palmeiras, que eu estava sobrando dentro do campo...

Matinas Suzuki: Estava arrebentando...

Edmundo: Estava bem melhor do que hoje, técnica e fisicamente melhor do que hoje, era pior... Quer dizer, dava para administrar. É bom que uma hora vai cochilar e da para fazer uma jogada. É que agora está mais difícil. Agora, eu não tenho aquela moral com a torcida do Corinthians, ainda tenho que adquirir, mas acho que dá para suportar bem.

Barbara Gancia: Tem sim. Vamos falar um pouco de coisa de mulher. Porque vocês estão falando em jogo e não sei o quê, é tudo o que não interessa a todo mundo que gosta do Edmundo e que por acaso é do sexo feminino. É o seguinte: primeiro, só para começar, o Romário hoje faz anos. Hoje é o aniversário do Romário. Você ligou para ele?

Edmundo: Eu estive com ele no sábado. Estive com ele ontem, e já havia desejado um feliz aniversário para ele. Hoje [ele] está [fazendo] um churrasco num sítio lá em...

Barbara Gancia: [interrompendo] Vocês não cansam de comer churrasco, jogar futevôlei e tomar coco?

[risos]

Edmundo: Lá em Pedra de Guaratiba. E como eu tinha treino, não deu para ir. Justamente no horário que começava o churrasco eu tive que vir para cá. Eu não consegui falar com ele ainda, mas...

Barbara Gancia: [interrompendo] O que você vai dar de presente para ele?

Edmundo: Um “sinto”.

Barbara Gancia: Um cinto de segurança?

Edmundo: Não, um “sinto muito”.

[risos]

Edmundo: Sinto muito, mas não vou no seu churrasco. O Romário não precisa de mais nada, graças a Deus.

Barbara Gancia: Quanto a você ser aceito pela torcida do Corinthians, eu não sou corintiana, mas... [coloca o bloco de notas sobre o rosto]

Matinas Suzuki: Edmundo, o Sidney Romero, aqui da Mooca, de São Paulo, pergunta se você não acha que leva a imprensa muito a sério? A imprensa te persegue mesmo Edmundo?

[risos]

Edmundo: Olha, eu tenho certeza absoluta que me persegue e isso é uma coisa que chateia. Eu sou um ser humano como outro qualquer e gostaria de ser tratado como tal, [mas] infelizmente eu não sou. Mas na vida, a gente perde alguma coisa e ganha outras coisas... Quer dizer, em termos de valorização, até mesmo a imprensa ter pegado no meu pé foi ótimo para mim, me valorizou bastante, eu consegui ganhar outras coisas. Você perde de um lado e abre de outro. Mas eu já fui pior do que sou hoje. Eu, hoje, sou um pouco mais flexível, mais maleável. Ainda tenho na minha cabeça aquela visão de que ninguém tem nada a ver com a minha vida, essas coisas. Mas hoje, eu consigo me adaptar um pouco mais. Tanto que eu até fiz uma regra com esse tratamento da imprensa. Na hora em que eu estou lá dentro do Palmeiras – eu até falei com uma moça que está aqui hoje, que quis me entrevistar – eu falei: “quando eu estou lá dentro, eu fico a disposição. Se o treino acaba cinco, seis horas da tarde, eu fico até dez, onze, meia noite se for o caso, dando entrevista para todo mundo, falando sobre todos os assuntos. A partir do momento que eu saio dali, que eu vou para minha casa encontrar a minha família, aí é um pouco mais difícil”. Já não atendo telefone, essas coisas.

Juca Kfouri: Edmundo, sem nenhuma preocupação em defender a imprensa, ao contrário. Você não acha que quando a gente faz uma comparação, por exemplo, de personalidade entre você e o Túlio, dois jogadores mais ou menos da mesma idade, que conheceram o que é ser ídolo mais ou menos ao mesmo tempo. A diferença de tratamento está no fato do Túlio praticamente se limita a ser isso que você está dizendo. Quer dizer, um atleta que rende notícia pelo que ele faz em campo. E você, pelo seu temperamento, pela sua forma de vida, as coisas acontecem de maneira tal que você é notícia dentro e fora de campo?

Edmundo: Olha, Juca, eu acho que cada um tem a sua maneira de agir, a sua maneira de pensar. Eu vejo as entrevista do Túlio, cada um toma o seu caminho e acho que cada um deve fazer aquilo que é melhor para si. Mas eu, particularmente, não abro a minha casa para ninguém. Eu acho que eu tenho esse direito, a casa dele vive cheia. Eu nunca fui a casa dele, [mas] eu conheço a sala, o quarto, a varanda, a piscina, porque passa toda hora na televisão. Se isso é ser legal, eu não vou ser legal nunca. Porque eu acho que o mínimo de privacidade que eu possa ter, acho que eu vou ter com a minha família, com minha esposa, já que estou tão pouco tempo com eles. Estou sempre viajando, jogando, concentração... Eu acho que cada um tem uma maneira de ser, de agir e de pensar. Eu, se eu sorrir para você, se eu te der um abraço, um aperto de mão, você pode ter certeza que vai ser sincero, honesto. Vai vir do fundo do meu coração. Tem pessoas... Não estou dizendo o Túlio, não.

Juca Kfouri: [interrompendo] Sim, claro... Vida de marketing.

Edmundo: Não o conheço. Tive oportunidade de estar com ele durante um mês na Seleção Brasileira e para mim ele é uma pessoa maravilhosa, independente do jogador que é, que eu também admiro muito. Acho que poucos têm a facilidade que ele tem de fazer gols. Eu o admiro, gostaria que ele fosse sempre do meu lado, nunca contra. Não estou nem dizendo... Você citou o Túlio... Mas há uma série de jogadores com quem eu convivo e vejo sempre... Muitos que sorriem e dão abraços, quando chegam lá dentro do vestiário, para nós, que somos companheiros, falam mal [da imprensa]. Eu não gosto de ser assim, a pessoa que vai te tratar ali dentro, vai te tratar fora e em qualquer lugar. Eu acho que isso faz bem para mim. Eu já tenho tantos defeitos, alguns até colocados por vocês...

[Risos]

Edmundo: Eu acho que a minha personalidade, o meu jeito de ser, o meu caráter me faz feliz.

Matinas Suzuki: Edmundo, quais são os defeitos verdadeiros que você acha que você tem e o que você acha que a imprensa inventou?

Edmundo: Eu acho que o maior de todos é o meu gênio, eu tenho um gênio muito forte...

Eri Johnson: [interrompendo] Não fala todos não, senão nós vamos ficar aqui até amanhã...

[Risos]

Eri Johnson: Não começa com a sua honestidade, não!

Edmundo: Eu acho que o maior de todos é a minha honestidade. Eu sou muito honesto e muito sincero. Talvez isso seja um defeito que me atrapalha muito. Eu não consigo olhar para um cara, dar um abraço e dizer: “você é meu amigo, eu te adoro”, por exemplo. Então, quer dizer, às vezes você paga por isso. Você vai aprendendo, caindo aqui e ali. Mas no meu caso, eu fico mais triste [pois] as coisas que acontecem comigo, elas têm um peso muito maior do que se acontecessem com outra pessoa. Acho que isso deveria ser de uma maneira diferente...

Juca Kfouri: ...Edmundo, deixa tentar localizar uma questão. Quer dizer, é evidente que o acidente de carro que aconteceu com você foi uma coisa que todos nós podemos ser vítimas, óbvio. E que, eventualmente, tem havido algum exagero na exploração do seu acidente. Eu, particularmente, acho que você ser declarado culpado antes de ser julgado é um absurdo. Mas é um dado que as pessoas têm curiosidade e é natural que tenham e querem saber. Um atleta casado, pai de filho, o que fazia de madrugada com garotinhas às três horas da manhã?

Edmundo: É meio complicado. Você tem toda razão. Mas eu... Não é desculpa não, até porque não preciso disso. A minha esposa está assistindo e ela que é a pessoa mais interessada nisso já me entendeu. O problema que eu saí de casa para resolver um assunto, um problema de ordem profissional e resolvi. Fiquei muito alegre por isso e meu telefone tocou, eram alguns amigos, inclusive junto estava o Djalminha [Djalma Feitosa Dias. Ficou conhecido como meia atacante no Flamengo, Palmeiras e Guarani. Defendeu também a Seleção Brasileira.] – eu já estava voltando para casa – [e ele] “Passa aqui para a gente bater um papo, tomar um chope e essas coisas”. Aí eu fui até lá, encontrei com ele, com o Marcão, que é o Marqueson, um cara que convivo com lá na praia, a gente está sempre junto e cai ali naquela, digamos, empolgação. “Vamos para outro lugar? Vamos”. Fomos para outro lugar e nesse outro lugar encontrei centenas de pessoas conhecidas e aí juntou aquela turma. Eu sou jovem, apesar de ter uma cara mais velha, mas eu ainda sou bem jovem, tenho minha turma de amigos, um pessoal que freqüenta a praia lá no Rio de Janeiro. Então, “vamos para uma boate? Vamos”. Eu já ia levar uma bronca da Adriana [refere-se à esposa, Adriana Sorrentino]...

[...] Em casa...

[Risos]

Edmundo: Aí eu falei “vamos”, e na hora de ir... No Rio de Janeiro não é igual a São Paulo. São Paulo, graças a Deus, 90% da população tem carro. Lá não, 90% da população não têm emprego, então, não pode ter carro. E aí, na distribuição, vai com o carro do Edmundo. Por azar estava com a camionete, que cabe bastante gente, e acabei dando uma carona. Mas eu quero deixar bem claro aqui que as pessoas que estavam dentro do meu carro quando eu bati, eu não conheço. Eu só conheço o Marcão.

Juca Kfouri: Isso está muito claro.

Barbara Gancia: Edmundo, você acha que os jogadores do Corinthians vão te tratar... Eles vão de dar um desconto porque você está passando um problema, digamos, bastante atípico? Você está passando mais um apuro. Você acha que esse pessoal vai... Como eles te receberam? Estão te dando um apoio ou eles estão te tratando: “Esse é o Edmundo que teve problemas no Palmeiras. Ele e o Evair não se entenderam [Evair fez sucesso no Palmeiras a partir de 1993, em dupla de ataque com Edmundo, quando o clube venceu o Campeonato Paulista naquele ano.]. Ele não gosta de atleta de Cristo, Marcelinho [Marcelinho Carioca, então jogador do Corinthians, membro do grupo Atletas de Cristo - grupo evangélico que tem como objetivo apoiar os atletas de vários segmentos esportivos, não só futebol, criado no final dos anos 1970 por João Leite, jogador do Atlético Mineiro. ] etc”. Como está?

Edmundo: Não, não tenho nada contra os Atletas de Cristo não. Hoje, o Marcelinho talvez seja um dos caras com quem eu me relaciono melhor dentro do Corinthians. Quer dizer, com quem eu estou me dando melhor é com o Ronaldo [Goleiro do Corinthians dos anos 1990. Ficou conhecido pelo seu temperamento explosivo. É grande ídolo da torcida corintiana] Coincidência, a cabeça é parecida...

[Risos]

Edmundo: Olha, sem demagogia, não sou demagogo, eu falei abertamente as coisas que eu gostaria de falar quando eu estava no Palmeiras e acho que aquilo me fez bem. Eu estou muito satisfeito dentro do Corinthians, muito, muito, muito, muito, muito. Eu estou encontrando verdadeiros homens. Jogadores que, em termos de moral e de conquistas, já conquistaram bastante e me receberam assim [abrindo os braços] de coração aberto.

Barbara Gancia: Você está frágil?

Edmundo: Eu não sou uma pessoa frágil.

Barbara Gancia: Isso a gente sabe, senão, não seria um "animal", seria um...

Edmundo: Eu sou uma pessoa muito forte, eu acho que os homens, você tem que ver na hora forte, na hora difícil. E, graças a Deus, eu tenho me demonstrado muito forte. Mas os jogadores do Corinthians são sensacionais comigo, não só os jogadores mas a comissão técnica, a diretoria, especialmente o senhor Zezinho Mansur [José Mansur Farhat, vice-presidente do Corinthians] que foi o cara... Acho que comprou a briga sozinho, praticamente. Depois convenceu os outros a me trazer para o Corinthians. Eu fiquei muito feliz e muito grato por isso, a essas pessoas.

Matinas Suzuki: Silvio.

Silvio Lancelotti: Ainda nesse departamento de pós-acidente, como disse bem a Barbara, fato atípico. E o Juca disse que poderia acontecer com qualquer um. De todo modo, a partir do choque deve surgir o momento de reflexão e reavaliação. Sem falar de novo no acidente, mas se você pudesse voltar atrás no departamento estritamente futebolístico, você mudaria alguma coisa na sua conduta, no seu comportamento?

Edmundo: Mudaria e muito. Acho que o ser humano vive para aprender e aprende. Eu, infelizmente, aprendi muito com as pancadas. Eu tive muitos problemas na minha vida e a maioria deles, a maioria não, acho que quase 100% deles...

Sílvio Lancelotti: [interrompendo] Seis meses atrás você teria chutado a cabeça do goleiro do Curitiba? Porque eu senti e muita gente achou...Não, eu acho que você não chutou...

Edmundo: [Interrompendo] Eu não chutei e ele sabe disso.

Sílvio Lancelotti: Eu senti, no momento que você parou. Você [pensou]: “Vou parar aqui para não dizerem que eu fui em cima do goleiro”.

Edmundo: Sabe o que acontece, a minha vontade de ganhar dentro do campo talvez seja maior do que a de todos. Talvez faça tudo para vencer, posso ter esse problema. Mas a minha vontade, a minha [ânsia] por vitória é muito grande. Eu não sou um cara que [não] pensa em nada. Coisas materiais para mim são besteiras. Eu não tinha nada, hoje, graças a Deus, eu me visto bem, tenho um bom carro.

Sílvio Lancelotti: [interrompendo] Mas dá um exemplo, o que você faria hoje diferente em relação ao que aconteceu atrás?

Edmundo: Olha, acho que a melhor pancada é a que mais vale, a que mais serve de lição. Eu sempre fui muito dado, muito alegre, muito extrovertido, embora não pareça. A minha fisionomia dentro do campo, no meu trabalho, que é onde eu sou mais fotografado, onde as pessoas me vêem mais, eu passo uma seriedade muito grande. Mas fora do campo eu sou um cara... Nossa Senhora, brincalhão, extrovertido. Eu fui uma vez com uma calça branca para um aniversário de criança e voltei todo preto, rolando com as crianças para lá e para cá, [está gravado em uma] fita... Isso é uma coisa que me faz bem. Mas eu acho que, de tudo, a coisa que eu mais me arrependo é de não saber, de não me portar como o Edmundo que hoje eu sou, antes dos problemas.

Juca Kfouri: Edmundo, me conta uma coisa, você acha que se no começo da sua carreira, ao chegar no Botafogo, ao chegar no Vasco ainda menino, no departamento de base desses clubes, [se] houvesse um psicólogo seria bom para você?... Seria bom para o grupo?, você é a favor disso?

Edmundo: Olha, eu sou super a favor de psicólogo para todo mundo. No Flamengo tem um cara que, para mim, no futebol é um dos deuses, um cara que, além de ser fera naquilo que faz é um super amigo, um cara que eu gosto muito. Tenho muita admiração, eu [o] escuto sempre. Eu acho que você tem toda razão. Mas eu acho que não resolveria o problema. O problema dos jogadores de futebol é que ele é um pouco revoltado. E a revolta não sei se um psicólogo tiraria. Porque a gente é pisoteado... se você vê o que acontece com a gente na concentração de amador... Eu, quando jogava no Botafogo, sem falar mal do Botafogo, até porque eu quero deixar as portas bem abertas, que eu não sei o dia de amanhã...

[Risos]

Edmundo: ...Eu cansei de comer tutu de feijão. Tutu porque o feijão era de três, quatro dias antes. Tutu de feijão, arroz e um ovo, um só, sem mais nada. Aí, o mundo gira e rodou, deu voltas, e aquele mesmo cara que eu fui reclamar um dia que eu comia tutu de feijão, que eu não gosto, mas só para não comer arroz e ovo puro eu fui reclamar... Aquele mesmo puxava meu saco... não é que aconteceu não, aquele mesmo puxava o meu saco. Acho que puxava meu saco para mostrar que era meu amigo, para mostrar que estava do meu lado. Acho que a vida não é assim. Eu acho que você tem que dar o máximo de condição de trabalho para a pessoa. Então, o jogador de futebol é muito mal formado. Por quê? Por exemplo, quando eu jogava no júnior do Botafogo e do Vasco eu demorava três, quatro meses para receber um salário mínimo, que hoje é cem reais, não é? Um salário mínimo. Eu não tinha dinheiro para ir treinar. A minha passagem não dava esses cem reais que eu ganhava de três em três meses. Eu não tinha condições de receber. Então, eu passava debaixo da roleta, saltava por trás do ônibus, isso não é vergonha não. Eu fui ao cinema com a minha namorada quando eu tinha 19 anos, comecei a jogar no profissional com vinte. Fui no cinema com a minha namorada todo arrumadinho, a melhor roupa que eu tinha [no armário], tinha umas três peças. Ela passou na roleta e pagou a passagem dela, eu tive que passar por baixo da roleta porque senão não tinha dinheiro para entrar no cinema. Eu acho que isso aí me engrandece, me faz homem, me faz sentir forte...

Juca Kfouri: [interrompendo] Mas aí não é mais...

Edmundo: Mas eu acho que eu não posso hoje estar... Hoje não posso, não consigo mais me submeter ao que me submetia antes, a um dirigente querer falar uma besteira. Eu acho que a recíproca tem que ser verdadeira. Hoje, eu estou no mesmo estágio que ele, tanto ele depende de mim quanto eu dependo dele. Na época de júnior só eu dependia dele. E até voltando sobre isso, com todas essas dificuldades, estudar não dá, não tem condição nenhuma.

Juca Kfouri: Segurar a cabeça depois disso, Edmundo, virou ídolo, ganhou dinheiro, recebe pelo que faz, não acrescenta dificuldade? Quer dizer, como é segurar a cabeça, hoje, com todas as facilidades que um Edmundo pode ter num país como o Brasil?

Edmundo: É. Eu, graças a Deus, nunca tive nenhum problema nesse sentido, você pode ter absoluta certeza. Todos os problemas que eu tive não tive porque eu sou o Edmundo, porque querer ser melhor do que ninguém. Muito pelo contrário, as pessoas que convivem no meu dia a dia sabem disso, eu sou até humilde demais e acho até que, por essa humildade, as pessoas sempre passam o jogador de futebol... tem que ser humilde, tem que ser... E aconteceu esse incidente... Porque eu [tinha] todo direito de não abrir a porta do meu carro para ninguém: “não, não vai ninguém”. E eu não estaria com esse problema todo. Pessoas que hoje querem fazer de um acidente - uma coisa que acontece com qualquer um - um meio de vida... Isso aí é uma coisa que chateia. Eu nunca tive problema, eu sei administrar, nunca fui um cara esbanjador, até porque eu sei o suor que eu tive para poder ganhar. Mas atrapalha um pouco, é difícil você conviver com isso.... A mim não atrapalhou não, mas eu já vi algumas pessoas se perderem. Porque eu acho que você não se perde dentro do campo. O meu jeito de jogar... se você for ver, no Botafogo eu fui mandado embora do Botafogo. Quer dizer, fui mandado embora por indisciplina dentro do campo também, quer dizer, contribui. Eu fui mandado embora antes. O treinador me mandou embora porque achava que eu não tinha condições e o outro dirigente me fez voltar. E aí eu já tinha o Vasco engatilhado, fiz alguma coisa para sair. Mas eu acho que deveria ser sim, o jogador ser... ser preparado melhor.

Antoninho Marmo Trevisan: Edmundo, nesse aspecto, como consultor, eu fico tentado em perguntar o seguinte: hoje, o Edmundo é uma imagem, é uma empresa. Vale dinheiro e vale muito dinheiro, não é verdade? Eu queria saber de você o seguinte: a história registra, quando você analisa a vida de um Garrincha, a vida de um Pelé, a vida dos grandes jogadores... e você é hoje, seguramente, o maior jogador que o Brasil tem. Eu, como palmeirense, só tenho a lamentar que você não esta mais jogando no Palmeiras, onde tive momentos de tantas alegrias com o meu filho do meu lado assistindo você. Bom é fato que o Edmundo... Como o Edmundo, ele, para não acontecer o que aconteceu com o Garrincha, mesmo com o Pelé no início da carreira, que teve empresarialmente vários problemas com o chamado Pepe Gordo [José Ozores, primeiro empresário de Pelé] etc, muito bem. Parece que os jogadores brasileiros e até alguns ídolos brasileiros tratam com enorme desprezo – mesmo jornalistas, grandes jornalistas – a função empresarial. Eu queria saber o seguinte: hoje, o Edmundo tem uma noção exata que é uma empresa, um profissional. Ele não é o Edmundo coitadinho, o Edmundo perseguido, ele é uma máquina que recebe patrocínios. Essa máquina tem que ser administrada, essa imagem tem que ser cuidada porque ela vale muito. Então, eu lhe perguntaria, Edmundo, você tem noção disso? Você administra dessa maneira? Você tem uma máquina ajudando o Edmundo ou é esse Edmundo apenas sozinho e esse Edmundo aventura que também, na vida empresarial, dá os seus tropeços e dá a suas caneladas?

Edmundo: Não, na vida empresarial eu nunca dei nenhum tropeço e nem canelada, até porque eu não entrei nela. Eu acho que...

Antoninho Marmo Trevisan: [interrompendo] Você é uma empresa, você tem noção disso?

Edmundo: Eu tenho noção, eu tenho noção. Eu tenho uma pessoa que trabalha comigo, que trabalha comigo não, que hoje virou quase um irmão, um amigo que é o Pedrinho, um cara que eu tenho uma verdadeira adoração, se ele disse que sim, está dito.

Sílvio Lancelotti: Ex-jogador?

Edmundo: É. Ele é um cara muito inteligente, um cara que me ajuda muito, é meu amigo, me dá dura. Fala alto na hora que precisa falar. E está do meu lado a hora que precisa estar, ele é um cara sensacional.

Antoninho Marmo Trevisan: Ele administra a sua imagem?

Edmundo: Não. Ele me administra como jogador de futebol em termos de imagem, comercial, essas coisas que eventualmente eu venho a fazer. Por exemplo, você tem uma empresa e a sua empresa se interessa para vincular o seu produto à minha pessoa. Aí você vai me procurar, ou vai procurar o Pedrinho, e aí a gente vai chegar num consenso, chegar num acordo. É difícil hoje o jogador tomar os dois lados, porque a cobrança é muito grande. Então, eu não tomo os dois lados, eu tomo só o lado do futebol. Para mim o que interessa é o futebol. A minha vida está programada para viver do que eu ganho do futebol, até quando eu for jogador. O que vem de outras empresas, de marketing, essas coisas são juntadas àquilo que é extra, eu vou guardar para o futuro quando eu parar de jogar futebol. Eu vou abrir uma coisa para mim, porque eu não sei, acho que eu não vou conseguir ficar sem fazer nada para o resto da vida. Então, eu vou abrir um negócio meu. Eu acho que o cara, o dono da coisa tem que pegar e estar na frente. A gente não tem tempo para isso, uma hora está aqui, outra hora está lá, passa um mês fora... e a pior sensação do mundo é a de ser passado para trás.

Matinas Suzuki: Você é pão-duro, Edmundo?

[Risos]

Barbara Gancia: [interrompendo] A mãe dele fala que ele é... falava, ao menos.

Edmundo: Não. Eu não me considero um cara pão-duro, não me considero mesmo. Até porque moro bem, me visto bem, tenho um bom carro, minha geladeira vive lotada. Eu faço questão, eu até brigo com minha mulher, quer dizer, a minha mulher briga comigo, ela fala “vai estragar”, “não é melhor sobrar do que faltar”. As pessoas que freqüentam a minha casa sabem disso, mas não sou um cara que saio jogando dinheiro por aí. As pessoas aí fora... Eu tenho muitos amigos, até os meus melhores amigos são pessoas comuns, pessoas do dia-a-dia. Você chega num lugar [e dizem] “Paga isso, paga aquilo”, eu não pago. Pago de livre e espontânea vontade se for o caso...

[risos]

Barbara Gancia: Te pedem isso Edmundo? Pedem para você pagar a conta? Os caras...

Edmundo: Pedem, pedem, “Você é o que mais ganha, tem que pagar”, mais nesse sentido, assim.

Matinas Suzuki: Edmundo, você ajuda a sua família, dá coisas, compra?

Edmundo: A minha família toda ainda é um pouco dependente de mim. Mas eu acho que a vida deles melhorou e bastante, melhorou e muito. Por exemplo, tenho duas tias que moravam de aluguel em casinhas simples; aí eu dei a casinha para elas, quase que a mesma casa que elas moravam, mais ou menos no mesmo padrão. Saíram do aluguel. Aquelas eu não ajudo, eu não dou mais nada, mas elas continuam trabalhando e saíram do aluguel. A minha avó por parte do meu pai, que foi a pessoa que me criou e tudo, também dei um apartamento e ajudo ainda mensalmente. Dou uma mesada para ela comer, se vestir, enfim, pagar as contas. E ela mora com uma tia também, que foi quem  ajudou a me criar e a minha mãe....

Barbara Gancia: [interrompendo] Fala o nome, Helena. Não é Helena?

Edmundo: É.

Barbara Gancia: [interrompendo] Fala o nome dela que ela deve estar assistindo.

Edmundo: Minha mãe, minha mãe e meu pai e meu irmão, se eles forem trabalhar hoje... Minha mãe era empregada doméstica, lavava roupa para fora, meu pai era barbeiro, se aposentou. Então eles, meu pai e minha mãe, eu dou de tudo, procuro dar o máximo, mas só que a vida é meio complicada, acho que você sabe melhor do que eu, até porque é mais vivido...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Não está me chamando de velho, não!

[Risos]

Edmundo: A família da gente é assim... Para citar um exemplo, quando eu comecei eu dava duzentos reais – um exemplo – para minha mãe e para o meu pai e dava para pagar as contas, comer, se vestir, tudo. Quer dizer, eu não ganhava nada, dava o mínimo possível. Aí, hoje, eu passei a dar dois mil e não pagava mais aluguel, não pagava mais nada, roupa, essas coisas. Sempre tem que comprar algumas coisas eu vou lá e compro e hoje não dá, entendeu? Então, eu ajudo, a minha família hoje vive... Nossa, eles me agradecem a todo o momento, vivem maravilhosamente bem. Mas se der vinte mil, trinta mil, cinqüenta mil, vai continuar sendo pouco.

Eri Johnson: Tem um time de futebol lá de Niterói, não tem?

Edmundo: Não, é de Jacarepaguá...

Eri Johnson: De Jacarepaguá. Conta essa história?

Edmundo: Esse time foi... Voltando a aquele assunto que eu estava falando - até vou me comprometer um pouco agora.

[Risos]

[...]: Agora já foi!

Edmundo: Já foi. Eu vou me comprometer, mas vou falar, é uma Roda Viva! Esse time jogava todo domingo um campeonato de várzea e eles me pagavam, por exemplo, cem reais por jogo, não sei o valor exato. E era todo domingo. Domingo que o Vasco jogava no júnior eu inventava uma desculpa, uma contusão, porque eu não tinha dinheiro para treinar na semana. Às vezes eles iam me buscar porque o Vasco jogava na preliminar, era uma hora [o jogo pelo Vasco] e o jogo lá era às cinco, às vezes o jogo era às três, os caras iam me buscar, eu inventava uma contusão, saia no primeiro tempo, tudo para poder ir treinar, porque era muito mais difícil conseguir o dinheiro da semana para treinar, que era com esse dinheiro que eu me mantinha e hoje eu ainda não consegui fazer o que eu quero. Esse time ainda existe, eu vou lá de vez em quando.

[...]: [interrompendo] Você virou patrono do time?

Edmundo: Não, de forma nenhuma. Foi assim, eles estavam com um pouco de dificuldade para botar o time no campeonato e me pediram se eu podia dar uma ajuda. Aí tinha um terreno vazio lá na rua onde é o time e aluguei o terreno e mandei construir uma quadra de futebol society, um barzinho, e lá vão fazer um pagode, é um pessoal bem pobre mesmo, bem humilde. Vão fazer um pagode, já estão fazendo toda sexta e sábado, e alugam a quadra para jogar, e aí com esse dinheiro... Então, a minha ajuda foi só no aluguel que eu antecipei e na construção. Mas eu, agora, a partir disso aí que eu vi que foi uma coisa legal, uma iniciativa boa, e tem muita criança lá. A partir disso aí eu estou tentando desenvolver um projeto, alguma coisa, para dar uma força porque, sem dúvida nenhuma, se não fosse eles eu teria largado o futebol para ter feito outra coisa.

Juca Kfouri: Você se acha afetivamente carente Edmundo?

Edmundo: Não, pior que não. Eu tenho muitos amigos, muitas pessoas que gostam de mim.

Barbara Gancia: Se depender de torcida feminina, não.

[Risos]

Juca Kfouri: Eu estou perguntando isso porque eu me lembro de uma entrevista sua dada ao Milton Neves, na Jovem Pan - que foi, aliás, o que sugeriu aquela capa da [revista] Placar “O Animal precisa de carinho” [manchete da capa. Edmundo aparece na foto carregando um ursinho de pelúcia], que você dizia para ele mais ou menos como você disse ao Matinas, agora, “Você é mais vivido do que eu. Eu espero chegar a sua idade e ter toda essa maturidade, toda essa experiência de vida. Vocês só não se dão conta da minha história de vida, do que foi a minha infância. Eu sou um cara de pouco mais de vinte anos e eu preciso que as pessoas tenham um mínimo de compreensão comigo e me acarinhem um pouco”. Eu ouvi essa entrevista.

Edmundo: Claro, acho que isso no meio em que eu vivo. Porque, voltando àquilo que eu falei, no meio em que eu vivo as coisas que eu faço têm uma ocupação muito maior do que outro jogador, considerado um santinho, que nunca teve problema. Tudo bem, isso aí eu até concordo. Mas eu sou uma pessoa que recebo carinho demais. Eu tenho muitos amigos. Tenho a minha família que, Nossa Senhora, caiu do céu. Acho que eu nem merecia ter a filha e esposa que eu tenho pelo meu jeito de ser.

Antoninho Marmo Trevisan: Edmundo, você acha que a imprensa acaba moldando o jogador, ela acaba fazendo o Edmundo Animal? O Edmundo sonhou um dia em ser Animal, ou um belo dia chamaram o Edmundo de Animal? Osmar Santos [Grande narrador esportivo. Ficou conhecido por usar vários jargões na narração dos jogos, entre esses, "ripa na chulipa" e "pimba na gorduchinha". Em 1994 sofreu um acidente que deixou o lado direito do corpo paralisado. Foi quem apelidou Edmundo de Animal] transferiu aquela figura dele. E aí você virou o Animal?

Edmundo: Não, a história do Animal nem é complicada, porque..., vocês têm filhos na escola, devem saber. Isso surgiu de uma gíria de escola, tudo que era bonito, tudo quer era bom, que era legal, era chamado: "esse é animal; essa camisa é animal; essa bola é animal", era assim. Essa foi a história que o Osmar Santos me contou, eu não sabia. E, a partir daí, ele falou: “Vou começar a falar isso dentro do jogo”. E acho que o primeiro jogador que ele chamou de Animal foi o Cafu, que depois, numa entrevista, ele reclamou. E durante a semana o Neto [meio-campista que ganhou fama pelo Corinthians] falou: “Domingo eu vou ser o animal do jogo” e realmente foi... Acho que fez um gol contra o Palmeiras, não sei contra quem foi. E todo cara que era melhor em campo o Osmar Santos falava: “esse garotinho é um animal, ele foi o animal do jogo”.

Barbara Gancia: E você sabe que o Osmar Santos, nessa última edição da Revista da Folha de domingo - ele está falando pouco e tal - fizeram uma pergunta para ele, o Armando Antenore fez a pergunta: "o Edmundo vai se dar bem no Corinthians?" E ele falou: “Não”. O que você tem a dizer sobre isso?

Edmundo: Eu não sei. Quanto a isso é difícil. Eu não sei o que vai acontecer daqui a dez minutos, não sei qual é a pergunta...

Antoninho Marmo Trevisan: [interrompendo] Você não ficou com saudades ontem dos 6x1 ó Palmeiras goleou a Ferroviária por 6 a 1 na primeira partida do Paulista] do Palmeiras? Você não ficou com uma vontade de estar lá no meio, Edmundo?

Edmundo: Olha, eu sinto... Saudades eu não sinto, não é saudade a palavra...

Antoninho Marmo Trevisan: [Interrompendo] Mas os palmeirenses sentem...

Edmundo: Eu sinto falta daquele time que nós tínhamos. Era um time muito vencedor, que ganhava tudo. Eu adorava jogar no Palmeiras, mas eu precisava, necessitava sair do Palmeiras no momento em que eu saí.

Nando Reis: Então, deixa entrar nessa brechinha, exatamente. Do Palmeiras você foi para o Flamengo naquele ataque dos sonhos, que realmente você, Romário e o Sávio são três “cracaços”. Eu queria que você contasse um pouco para nós, torcedores, o que aconteceu que não conseguiram produzir um futebol que se imaginava que três jogadores desse talento poderiam fazer. E se isso tem uma relação também com o fato do treinador ser um jornalista, que tipo de dinâmica...

[risos]

Nando Reis: ...porque é uma curiosidade mesmo. O cara que não é..., enfim, não quero que você fale bem ou mal. Quero que você dê o depoimento de quem estava lá dentro, uma versão dos fatos.

Edmundo: Olha, eu acho assim, é difícil falar porque são todos meus companheiros, são todos amigos e, se você vai contra alguém, é meio complicado. O Kléber Leite [Radialista. Foi presidente do Flamengo por quatro anos, o primeiro começou em 1995, ano do centenário do clube. Trouxe para o time nessa época Romário, Sávio e Edmundo, formando o chamado ataque dos sonhos] foi um cara sensacional para o Flamengo. Ele foi o cara mais bem intencionado que eu já vi entrar no futebol. Só que ele não é conhecedor do futebol. Então, ele teve que ir pelo que você fala, pelo o que o outro fala, por indicação. E aí o Flamengo errou muito no sentido de trocar as peças, ele acabou trocando “seis por meia dúzia”. E jogadores que já eram incorporados à camisa do Flamengo, como é o caso do Fabinho, Charles Guerreiro [ex-lateral do Flamengo] que saíram... O Márcio Costa, Djair... Eles são excepcionais... Mas a função deles dentro do campo era feita pelo Fabinho e pelo Charles tranquilamente. Mas já fez, já aconteceu. Então, o Kleber teve a preocupação de formar no papel o melhor time possível dentro das indicações do treinador. O Edinho [treinador do Flamengo entre 1994 e 1995], que era o treinador na época, trouxe o Pingo, que depois acabou não jogando. Enfim, trouxe uma série de jogadores. E a única coisa que eu acho que foi fundamental para não ter dado certo foi que o discurso foi sempre assim, até quase outubro por aí, outubro para lá é que começou a ter treinamento com a chegada do Washington Rodrigues [Radialista e comentarista esportivo, conhecido como Apolinho. Foi técnico do Flamengo ao final de 1995] e do Arthur Bernardes [Técnico do Flamengo em 1995, em conjunto com Rodrigues] que fez um trabalho excepcional. Flamengo foi o time que mais vitórias conquistou na Supercopa dos Campeões [da Libertadores] em todas a histórias da Supercopa, sete vitórias, só perdeu uma partida [O Flamengo terminou como vice-campeão] . E esse time que foi campeão, ao contrário, ganhou duas partidas e foi o campeão [O Independiente, da Argentina. O Flamengo perdeu a primeira partida das finais por 2 a 0 e venceu a segunda por 1 a 0, em casa]. Nós ganhamos sete...

Nando Reis: ...regulamentos.

Edmundo: ...quer dizer, passou a ter isso aí. Era passado o seguinte... pela imprensa todo mundo fez, o Sávio é hoje uma das maiores revelações, Romário tinha acabado de ser o maior jogador do mundo, era, foi o maior jogador do mundo. Eu estava num super momento. Então, foi passado mais ou menos assim [pela comissão técnica]: “Vocês três fazem os gols. E vocês sete defendem, está bom?” “Está bom”. Para nós era ótimo. A gente só ia atacar. Só que a gente passou a ser previsível. O Romário é um cara que joga mais pelo meio, eu jogo mais pela direita e o Sávio mais pela esquerda. A gente passou a ser previsível, o que acontecia? A gente estava sempre no meio de dois, sempre no meio de dois e a bola nunca [chegava]... Eu não lembro um gol nosso, não digo meu, não, nosso, do Flamengo, onde a jogada foi trabalhada pelo meio campo e chegou para a gente só concluir. Até porque são jogadores que têm essa condição, mas jogavam três no meio de campo e a preocupação deles era de marcar. Então, eles erravam o passe, tinha que voltar. Então, eu acho que nós fomos mal conduzidos. O Washington, para mim... em toda a minha vida ele e o Jorge Rodrigues, que é um outro amigo meu, foram as duas maiores coisas que eu ganhei na minha vida em termos de amizade. Foi o Washington Rodrigues e o Jorge Rodrigues.

[...]: [Washington que é] Jornalista.

Edmundo: Washington, sem ser... Tirando o jornalista, acho que ele foi...

[Risos]

Juca Kfouri: Apesar de ser jornalista... Claro, eu entendi.

Edmundo: Coincidentemente ele sempre foi o cara que sempre disse que eu era o melhor jogador do mundo, e que isso e que aquilo. Até mesmo quando o Romário foi eleito melhor jogador do mundo... ele tinha uma rixa com Romário, eu tenho lá em casa uma coluna dele no Jornal dos Esportes que ele dizia que achava o Edmundo muito mais jogador que o Romário. E depois acabamos ficando amigos. Então, o Washington é uma excelente pessoa. Foi sensacional para nós no aspecto de grupo, no aspecto de amizade, de relacionamento, mas que não conseguiu fazer o pessoal...

Nando Reis: ...só para completar.

Matinas Suzuki: Nando, por favor. Eu preciso apitar aqui o final do primeiro tempo e deixar o Edmundo ir para o vestiário se recuperar, porque nós queremos que você esteja melhor no segundo tempo aqui do que no jogo em Ribeirão, está bom? A gente volta daqui a pouquinho com o Roda Viva que entrevista hoje o craque Edmundo, até já.

[Intervalo]

Matinas Suzuki.: Bem, nós voltamos com Roda Viva que entrevista está noite o jogador Edmundo [...] Eu peço a sua paciência, as linhas devem estar congestionadas. Eu mesmo estou me afogando aqui em perguntas. Vou fazer algumas agora, Edmundo, se você puder responder para mim. Primeiro, eu tenho aqui, um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, perguntas. Se você puder responder rapidamente... "Você vai jogar no Corinthians como jogou no Palmeiras?" Vou ler só o nome, Juliana Elias, de Perdizes, que, aliás, a Juliana deve entender de futebol, porque diz o seguinte: “Apesar do esquema ostensivamente irresponsável do técnico Eduardo Amorim [então técnico do Corinthians] dá para vencer a Libertadores?”

[Risos]

Edmundo: O esquema do Eduardo é excepcional. Ele não está [contando] com todos os jogadores em condições normais. Eu espero jogar no Corinthians muito, mais até do que eu já joguei em outros clubes. Mas vontade não basta, eu acho que tem uma série de detalhes. Só que a gente está no começo. Eu, particularmente, tive os problemas todos de contusão, acidente, e me tiraram um pouco do clima e da parte tática e técnica do futebol. Mas eu acho que no mais tardar aí, [depois] de dois, três, ou quatro jogos, eu acho que eu já [estarei] em "ponto de bala", porque eu fiquei muito surpreso com a minha atuação no sábado.

Matinas Suzuki: Edmundo, o Roberto Santos de Oliveira, daqui de São Paulo; o João Neto, lá de Brasília; e a Renata Ramos da Silva – presença feminina aqui nas perguntas – perguntam se você vai resistir à pressão dos adversários e à pressão da torcida? Se você está preparado para isso? Aliás, parece que lá em Ribeirão já começou uma provocação forte em cima de você etc e tal.

Edmundo: Foi meio chato, mas eu estou preparado, tranqüilo, com a cabeça fresca. Estou preparado e muito para saber administrar esse tipo de coisa. Agora, na prática, é um pouco diferente. [E] quanto aos torcedores...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] A pressão da torcida adversária é muito forte para um jogador dentro de campo?

Edmundo: Não, a pressão é normal. Quando não é uma coisa direcionada é normal, ela é aceita normalmente. Eu acho que a torcida lá do Botafogo de Ribeirão Preto foi mal, não é porque foi comigo não, eu fiquei muito chateado com a torcida do Flamengo quando aconteceu o episódio do Dener [(1971- 1994) grande jogador dos anos 1990, morreu em um acidente de carro no Rio de Janeiro (RJ). Ficou conhecido na Portuguesa (SP), mas quando faleceu jogava pelo Vasco], e o Eri estava junto comigo no Maracanã e é testemunha disso, ele pode contar. Eu até falei isso para os torcedores do Flamengo, para os chefes da torcida e eles falaram que, realmente, foram mal quando puxaram o coro e depois isso foi levado à frente. Quando cantaram uma música [sobre] o Dener, que já tinha morrido, só faltava o Valdir [Valdir Bigode. Atacante que se notabilizou nos anos 90 jogando pelo Vasco]... Quer dizer, alguma coisa nesse sentido. Agora, eu acho que a torcida do Botafogo foi muito mal, não só porque foi comigo não, acho que o que aconteceu comigo acontece com qualquer um. Eu não gostaria que ninguém no mundo, talvez o meu pior inimigo, que eu não tenho, eu não tenho. Não considero que eu tenha nenhum inimigo. Acho que [não] tenho um bom relacionamento com algumas pessoas, mas inimigo eu não tenho. Então, se eu desejar algum mal para alguém que caia tudo em cima de mim. Eu não desejo para ninguém nesse mundo passar o que eu passei, não é isso não. A torcida está gritando, falando isso aí. Não, isso é uma coisa administrável, mas o problema em si que eu tive, eu não gostaria que ninguém no mundo tivesse esse problema. E é chato porque você, quando está numa situação como essa, e está sujeito a acontecer, são poucas as pessoas que estão do seu lado. E eu, particularmente, estou conseguindo sair bem dessa situação porque acho que vou me sair melhor na hora em que o meu trabalho estiver fluindo com mais tranqüilidade, com mais naturalidade, vai ser bem melhor. E dentro do trabalho eu vou encontrar forças para estar bem, eu acho que ninguém ia suportar, ninguém ia conseguir. Eu, particularmente, tenho que agradecer muito as pessoas que estiveram do meu lado. Foram meus amigos que me tiraram, junto com minha família, foram os meus amigos que me tiraram dessa situação ruim.

Matinas Suzuki: Oliveira, por favor.

Oliviero Pluviano: Como único representante da imprensa estrangeira eu vou te fazer uma pergunta...

Matinas Suzuki: [interrompendo] Não pensa que [porque] é estrangeiro é melhor não!

[Risos]

Oliviero Pluviano: Você tem mais vontade de vencer que qualquer outro, aqui todos os jornalistas falam que você é craque número um no Brasil. A pergunta é essa, por que não está jogando na Europa, na Itália? O Roberto Carlos [lateral-esquerdo. Jogou pelo Palmeiras entre 1193 e 1995 e na temporada seguinte transferiu-se para a Inter de Milão] era outro craque do Palmeiras bicampeão [paulista e brasileiro em 1993 e 1994], agora é o ídolo em Milão. O Juninho [Juninho Paulista, meia que jogou pelo São Paulo entre 1993 e 95. Envolveu-se em briga durante uma partida com Edmundo], que você não gostava muito...

Edmundo: [interrompendo] Não, não pelo contrário, depois que eu o conheci...

Oliviero Pluviano: Falou que [ele] apanha até do meu primo de dez anos!

Edmundo: Teve um probleminha... aí depois eu o conheci, Nossa Senhora, hoje tenho muito bom relacionamento.

Oliviero Pluviano: Em todo caso todos têm um lugar lá na Europa, estão ganhando muito dinheiro [Juninho foi para o Middlesbrough,da Inglaterra, em 1995]. Cadê o seu pulo do gato que você prometeu em 1995?

Barbara Gancia: [interrompendo] Vai ser na Seleção?

Edmundo: Olha, eu posso ser bem sincero? Abrir meu coração para você? Eu acho que o Juninho e o Roberto Carlos, você citou exemplos claros, eles poderiam estar ganhando no Brasil hoje mais do que ganham lá. E eu ainda não fui para nenhum time da Europa, especialmente Itália e Espanha, até Inglaterra mais recentemente, eu ainda não fui e não vou pelo aspecto financeiro. Eu não vou sair daqui para ganhar menos lá, eu não tenho vaidade nenhuma de dizer “eu joguei no Milan”. Eu não joguei, mas estou bem.

Oliviero Pluviano: Esses são os milagres do Plano Real [Plano de estabilização econômica iniciado em 1994. Um dos pilares do Plano foi a paridade cambial 1 dólar = 1 real]?

Edmundo: Eu acho que sim, o Plano Real hoje e o tetracampeonato mundial foram sensacionais para o futebol brasileiro, não sei até quando vai durar, mas...

Matinas Suzuki: [interrompendo] Você viveu uma experiência inovadora no futebol brasileiro que foi participar de uma empresa dando apoio para um clube. Em sua opinião, essa é uma modificação estrutural que o futebol não pode mais viver sem ela daqui para frente?

Edmundo: Esse é o futuro do futebol brasileiro. Se os clubes não acordarem para isso aí vai ser difícil segurar os seus jogadores aqui no Brasil. O mercado está muito inflacionado. Hoje, graças à imprensa, o jogador, num campeonato só ... Quer dizer, o caso mais típico aí do...

Oliveiro Pluviano: [interrompendo] Giovanni.

Edmundo: Não do Giovanni [Jogou no Santos Futebol Clube (1994-96 e 2005- 06) e na Seleção Brasileira (1995-1999). Grande ídolo do Santos nos anos 1990, quando o time foi vice-campeão Brasileiro em 1995] porque Giovanni já vem jogando há um bom tempo. Do Donizete [apelidado de Pantera. Jogou pelo Botafogo entre 1989 e 1990 e retornou em 1995 quando foi Campeão Brasileiro], que jogou no Brasil um bom tempo, foi para o México, voltou com 28 anos, jogou seis meses aqui no Campeonato Brasileiro, hoje é considerado um dos maiores craques do Brasil. Se ele viesse para o Corinthians, se fosse para o Palmeiras que eram os clubes que [o] queriam, ele ia ganhar um salário talvez maior do que ele ganhava lá. Eu acho que a imprensa hoje ajuda muito nisso...

Oliveiro Pluviano: [interrompendo] E o Japão?

Edmundo: Eu não falo só no aspecto negativo, a imprensa também ajuda muito em certos aspectos. Eu acho que se o clube não se juntar hoje com uma empresa o clube dificilmente vai conseguir manter os seus jogadores. E a Parmalat ganhou a sorte grande, ganhou na sena umas dez vezes, porque se você for enumerar comprou jogadores por... O Roberto Carlos comprou por seiscentos mil e vendeu por sete milhões. Quer dizer, um lucro em dois anos muito alto.

Juca Kfouri: Mas isso não é também, Edmundo, porque em terra de cego quem tem olho é rei. Quer dizer, nesse mundo de amadores que dirige o futebol brasileiro aparece um grupo de profissionais, [não] era óbvio que isso ia acontecer desse jeito, dar essa diferença?

Edmundo: A Parmalat foi sensacional comigo, então, eu chegava lá conversava com Brunoro [José Carlos Brunoro, diretor de esportes da Parmalat], que quero até aproveitar para mandar um abraço, um paizão também que eu tinha ou tenho, não sei se ele ainda gosta de mim da mesma forma...

Matinas Suzuki: [interrompendo] Depende de como você for no Campeonato!

[Risos]

Edmundo: Eu chegava lá e conversava: “olha, é isso, isso, isso, está bom”.... Chegava lá no Palmeiras... o meu contrato, eu assinava em branco e eles foram sensacionais, não só para o futebol, e por isso que tiraram alguns proveitos, dia cinco era dia cinco [o pagamento] estava lá. Quer dizer, eles foram... Agora, eu não sei não posso dizer, mas eles foram excepcionais.

Barbara Gancia: Vamos falar de futilidade mais um pouco, Edmundo.

Juca Kfouri: [interrompendo] Departamento de futilidade: Barbara Gancia.

Matinas Suzuki: Ansiosa!

Barbara Gancia: Mulher entende de futebol?

Edmundo: Entende.

Barbara Gancia: Quando, quem, por exemplo?

Edmundo: Ah, eu não conheço.

Barbara Gancia: Eu também não.

[Risos]

Edmundo: Não conheço porque discutir futebol é uma coisa muito difícil.

Matinas Suzuki: Você gosta de ver futebol?

Edmundo: Eu vejo todos, todos, todos.

Eri Johnson: Até pelada, né?

Edmundo: Até pelada, eu saio da minha casa para ir ver pelada. Eu amo o futebol, eu vivo futebol intensamente.

Barbara Gancia: A Adriana está vendo esse programa?  Você sai da sua casa para ver pelada!

[Risos]

Edmundo: Não, futebol. Eu não discuto futebol, até porque é muito difícil você discutir futebol. Discutir futebol é uma coisa complicada, você nunca chega a um consenso.

Barbara Gancia: Mas você já conversou de futebol com mulheres, você já respeitou alguma coisa que alguma mulher possa ter dito?

Edmundo: Por exemplo, eu já vi desse tipo, assim: a menina falou que era esquema disso, aquilo. Outras vezes já parei alguém na rua, a gente está no hotel concentrado, alguém liga: “olha, joga assim, assado. Faz assim, assado”.

Eri Johnson: E a Adriana não fala nada, Edmundo, “Joga mais assim, joga mais assado”?

Edmundo: Adriana não fala nada.

Matinas Suzuki: Edmundo, agora, uma das coisas interessantes do renascimento do futebol no Brasil nos últimos anos foi que as meninas foram para o estádio e passaram a usar camisa dos times como se fosse uma coisa importante, essa coisa toda. Além de deixar o estádio mais bonito e mais interessante, essa coisa toda. É muito complicado para uma pessoa como você, que é visado pelas mulheres tanto quanto é visado pelos marcadores... É muito complicado administrar essa questão?

Edmundo: Não, não, eu acho que não.

Matinas Suzuki: Você recebe dez cartas... Quantas cartas você recebe por dia de mulher?

Edmundo: De mulher...

Juca Kfouri: Olha!

[Risos]

Edmundo: Eu não sei de mulher...

Matinas Suzuki: [interrompendo] Quer dizer, eu não estou dizendo que você...

Edmundo: Eu recebo de dez a 15 cartas por dia. Eu recebo lá no clube. Eu acho muito legal, eu trato como fãs. Eu fiquei impressionado no jogo Flamengo versus Independente, que eu fui assistir lá na Argentina, um pedaço [no estádio] só para crianças, um pedaço só para mulheres, um pedaço para torcedor comum e um pedaço só para torcida organizada. A torcida organizada não fica... E aquilo me impressionou, as crianças aplaudindo e eu fiquei sentado, assim, no camarote em cima da onde estavam as mulheres. As mulheres levantavam, xingavam... Quer dizer, uma coisa legal, uma coisa bonita, eu fiquei impressionado. E isso na Argentina, que é um país violento.

Juca Kfouri: Edmundo, você conhece de perto as quatro maiores torcidas do Brasil: Vasco, Palmeiras, Flamengo e, agora, Corinthians. Tem alguma diferença de comportamento entre essas torcidas que você possa dizer o que as distingue? [Por exemplo] a torcida do Flamengo é isso, a do Vasco é isso, a do Corinthians é isso, a do Palmeiras é isso.

Edmundo: Não, particularmente não. Mas, como eu vou dizer... quando comecei no Vasco, o ídolo maior era o Bebeto [atacante, fez dupla de ataque, comecei jogando com ele, aí eu fui adquirindo, f com Romário na Seleção Brasileira em 1994] fui pegando moral com a torcida até que ele saiu e eu fiquei como ídolo da torcida. Aí nós fomos campeões invictos nos campeonatos [o Vasco foi campeção estadual em 1992], quer dizer, eu não vi... Não tive problema de ter que sofrer [...], alguma coisa parecida. Aí, vim para o Palmeiras. O Palmeiras formou aquele super time. Quer dizer, esperança de ser campeão e fomos campeões: Campeão Brasileiro e tal. Então, era só festa, só alegria e a torcida do Palmeiras foi especial para mim porque foi maravilhosa comigo, me apoiou até nas coisas erradas, que eu até sei que fiz. Aí, eu fui para o Flamengo, uma nação muito grande. E lá... Ontem eu fui ao Maracanã, eu cheguei no segundo tempo, só vi o segundo tempo, saí até um pouco antes de acabar para não pegar tumulto, e vi uma faixa bonita com alguns dizeres da torcida do Flamengo. Quer dizer, eu não fiz nada, nada. Eu tenho a consciência de que eu não joguei 10% dentro do que eu posso dentro do Flamengo, ou melhor, posso até ter jogado mais, mas o resultado não foi esperado. Então, para mim a torcida do Flamengo... Por quê? Porque ela me apoiou, me incentivou e está comigo. Queria que eu estivesse lá e sem eu ter feito nada, acho que um carinho gratuito é legal. Claro que você quer a troca, você quer fazer, quer jogar, quer arrebentar para eles te aplaudirem. Mas quando você está por baixo geralmente torcedor vem e pisa na cabeça. Mas nesse momento eles foram lá e me deram a mão, me trouxeram para cima, então, isso é muito gratificante. E no Corinthians está sendo a mesma coisa. E a diferença que a gente tira, que eu consigo tirar nisso tudo aí, acho que é clube de massa, tanto Corinthians, quanto Flamengo é clube de massa, é clube de povão que vive esses problemas, que tem dificuldades, que veio do nada, que é do nada como eu, entendeu? Então, sabe, eu acho que a torcida do Corinthians e a do Flamengo, quer dizer, a do Flamengo, e hoje do Corinthians, são as que eu mais me identifico, até porque o "palavrear" é igual.

Nando Reis: [interrompendo] Edmundo...

Matinas Suzuki: [interrompendo] O são-paulino Nando.

[Risos]

Nando Reis: Dando seqüência à parte específica de futebol. Tem se discutido muito entre os jornalistas e a Fifa [Fédération Internationale de Football Association. Entidade mundial máxima do esporte], enfim, mudanças de regras. Uma das questões é a quantidade de números de faltas. Eu tenho, particularmente, uma opinião junto com o Marcelo [Frommer (1961-2001), companheiro de banda de Nando nos Titãs. Também era seu parceiro na crônica esportiva], a gente escreve uma sugestão e queria saber a sua opinião. Se não há um dos critérios para essa limitação do número de faltas na partida, ao invés de ser a falta coletiva, assim 25, seria a falta individual? O zagueiro que fizer a partir da terceira falta "pimba", vermelho. Porque a discussão é como você não vai adulterar o jogo com a punição, como você vai limitar. E você, que é um dos caçados pelos zagueiros, o que você tem a dizer sobre mudanças de regra e se essa sugestão tem algum sentido, punir. Na terceira falta, meu amigo, [vai para o] chuveiro.

Edmundo: Eu acho que toda coisa que for criada é válida, mas tem que ser estudada, qualquer opinião tem que ser respeitada. Eu ainda sou um conservador do futebol antigo, só que tem uma coisa que eu acho muito importante e que cooperou para o futebol estar, hoje, violento como está dentro do campo. O que cooperou muito foi que, antigamente, o futebol ele era jogado por quem realmente sabia jogar futebol. Porque você vê, o cara que é excelente jogador, que sabe jogar com a bola no pé, sabe driblar, ele dificilmente faz uma falta. Ele faz, mas dificilmente é desleal. Quer dizer, eu, às vezes, já fui, mas eu estou dizendo no geral. Você não vê o Giovanni, por exemplo, que é, hoje, um dos maiores craques que nós temos... Então, você não vê. Antigamente, não era violento assim, por quê? Só quem queria jogar futebol é quem realmente tinha talento e tinha condições para isso, hoje, o futebol virou uma profissão para todos. Hoje o cara vai lá, grandão, forte: “Vou jogar, sou zagueiro”, baixa o pau e acaba jogando. Eu acho que o que deveria mudar era isso. Eu acho que tinha que prevalecer mais o talento. É claro que hoje virou uma competição, eu não quero saber de que forma eu vou ganhar de você, mas eu quero ganhar. Antigamente o cara ganhava, fazia seis gols e tomava cinco.

Nando Reis: Mas dentro daquilo que dá para se controlar... porque isso que você está falando é uma coisa muito difícil...

Edmundo: Difícil.

Nando Reis: Porque daí vem das bases e tal. Eu tenho uma dúvida. Eu acho que, na verdade, o que é mais simples... os juízes são ruins no Brasil, a impressão que se tem é [que existe] um livro básico de 17 regras que não são aplicadas, não é? Eu queria [fazer] uma pergunta também de torcedor. Como é a relação de jogador e juiz? Quem fica vendo lá de cima os caras gesticulando tem-se a impressão que os juízes tratam os jogadores de maneira hostil e ofensiva, isso nunca é reconhecido, nunca é punido. Os juízes não são punidos, é muito fácil ele tirar um vermelho e esfregar na sua cara e fazer aquele gestual todo. Como é, o juiz xinga jogador?

Edmundo: Xinga...

Nando Reis: Manda, abaixa o nível?

Edmundo: Tem uma série deles que xingam, uma série, uma série. Mas também, por exemplo, o Mocellin [José Mocellin, árbitro gaúcho] que apitou o jogo sábado [No dia 27/01/1996 o Corinthians empatou com o Botafogo-SP em 2 a 2], ele é sensacional, tu faz umas jogadas lá embaixo da perna ele fala “que jogada linda, você é fera” [Os elogios foram feitos a Edmundo quando o Palmeiras venceu o Guarani por 5 a 0, em 8/2/1995]. Quer dizer, isso é legal, o relacionamento. O João Paulo Araujo também é outro que para mim é sensacional. Ele vibra, sabe? Você vê ele vibrar com as jogadas, com o drible, essas coisas. Ele “porra, que golaço” tipo assim, isso é gratificante. Mas, por outro lado, tem muitos que abusam do poder de ter o cartão, aí te xingam mesmo, falam... Eu já escutei um juiz falar na minha cara mesmo, em um jogo do Palmeiras e Flamengo, lá no Maracanã, “Eu sou flamenguista e vocês não vão ganhar”. E aí eu xinguei ele e fui expulso...

[Risos]

Edmundo: Ele me pediu a camisa. Ele me falou: “Eu sou flamenguista e vocês não vão ganhar”. Aí está bom, passaram uns dez minutos, ele falou “Edmundo, você podia me dar a tua camisa”; eu falei “não, não posso dar a minha camisa”. Ele falou “Você está mascarado, você era mais humilde quando jogava no Vasco”; eu falei “e você era menos ladrão”.

[Risos]

Juca Kfouri: Quem foi esse cidadão? Falou o milagre conta o nome do santo!

Edmundo: Eu não posso contar porque amanhã ou depois eu caio dentro do campo com ele e aí ele vai me expulsar, mas ele sabe quem é.

Juca Kfouri: Ele sabe bem.

Edmundo: É só vocês pegarem um jogo no Maracanã.

Juca Kfouri: Ele falou de brincadeira.

Edmundo: Não, eu falei sério.

[Risos]

Matinas Suzuki: Edmundo, você está num time que se prepara para disputar três campeonatos. Você falou que Roberto Carlos e Juninho talvez não tivessem tanta vantagem financeira indo jogar na Europa, mas eles vão participar de temporadas regulares, fazendo aí no máximo sessenta, 65 jogos por ano...

[...]: E olhe lá.

Matinas Suzuki: Vão poder se preservar. E provavelmente a carreira deles vai ter muita longevidade se eles ficarem na Europa. Exemplo, Alemão, Toninho Cerezo, Júnior [meio-campistas de grande sucesso nos anos 1980 e que atuaram na Europa], que puderam ficar boa parte da vida profissional jogando em torneios organizados. Você, aqui pelo Palmeiras, fez oitenta, noventa jogos por ano. Deve ter feito isso pelo Flamengo e, certamente, vai fazer isso pelo Corinthians. Isso não encurta muito a carreira do jogador?

Edmundo: Sabe o que eu acho? No Brasil a coisa mais errada que existe é que quem ganha, quem é campeão...

[...]: É punido.

Edmundo: É punido. E infelizmente, no Brasil, a imprensa, torcida, enfim, no geral... No Brasil só tem lugar para um, só para quem ganha. Aí, você abre mão do Campeonato Paulista para jogar Libertadores; se você perde um jogo no Pacaembu, por exemplo, para o Corinthians, Nossa Senhora, está morto. Não querem saber com que time entrou, o treinador vai ser criticado, o treinador vai ser mandado embora. O treinador, aqui, faz contrato de seis meses. Lá fora o treinador do Barcelona tem contrato de dez anos. "Está bom, quer me mandar embora manda, mas me paga os dez anos". Quer dizer, há uma coerência, eles esperam o trabalho dar resultado, ele ficou três anos sem ganhar nada, depois nos outros três ganhou tudo. Quer dizer, eu acho que o Brasil poderia ser um dos maiores futebol do mundo, ele devia ter o calendário um pouco mais honesto com o jogador. Porque quem marca o jogo você sabe que não joga. Quem marcou cinco jogos para o Corinthians de domingo passado até sábado passado não jogou nenhum, mas marcou os jogos.

Matinas Suzuki: Além dos jogos, Edmundo, você tem viagens, tempo de concentração. Quer dizer, uma hora acho que você não suporta mais olhar o cara que viaja com você, que dorme e tal. Você leva isso para dentro do campo porque é um problema de relacionamento, então, o stress é muito grande.

Edmundo: É verdade, é verdade. Quer dizer, aí vai o lado que você pensa em sair, ir para a Europa, para o Japão, enfim, essas coisas.

Oliviero Pluviano: [interrompendo] E você pensa em sair daqui?

Edmundo: Eu penso, eu penso, eu penso. Agora, antes de vir para o Corinthians eu tinha duas outras propostas, uma que acabou não se concretizando que foi do Japão, que era do Kashima [Antlers]. O Flamengo não queria me vender, só fazia o negócio se fosse em troca do Leonardo [meio-campista e lateral-esquerdo], quer dizer, eles estão muito satisfeitos lá com Leonardo. E a outra era o Napoli, na Itália, que não acertei a minha condição...

Barbara Gancia: [Interrompendo] Lá [em Nápoles] você ia ser considerado um tímido!

[Risos]

Juca Kfouri: [interrompendo] Também não ia receber salário!

Edmundo: A minha condição foi financeira.

Antoninho Marmo Trevisan: Edmundo, Seleção Brasileira naturalmente foi uma grande frustração para os brasileiros, você não ter jogado na última Copa. E eu li no jornal que você, quando foi para o Rio, você disse que uma das vantagens em estar jogando em time carioca, estar no Rio de Janeiro, é que isso ia facilitar eventual convocação sua para a Copa do Mundo porque você estaria mais perto, mais próximo dos dirigentes e mais próximo do técnico. Agora, em São Paulo, você acha que fica mais difícil? Você acha que estar mais perto dos dirigentes facilitaria estar jogando uma Copa do Mundo pelo Brasil?

Edmundo: Eu, particularmente, não tenho vaidades para futebol hoje, olhando daqui de fora. Na época da Copa eu não tive arrependimento nenhum de não ter ido, que a única coisa que eu ia ter trazido de lá, da Copa do Mundo, era a premiação e o título de Campeão, porque eu tenho certeza absoluta que eu não ia jogar, assim como o Ronaldinho [Ronaldo Nazário, atacante, conhecido como "Fenômeno"] não jogou.

Juca Kfouri: Por quê?

Edmundo: Porque o Parreira [Carlos Alberto Parreira; técnico da Seleção em 1983, 1984, 1991 e de 2003 a 2006] estava muito obcecado pelo esquema.

Juca Kfouri: Aconteceu alguma coisa entre você e o Parreira, entre você e o [Mário Jorge Lobo] Zagalo [ex-jogador e ex-treinador quatro vezes campeão com a Seleção Brasileira]?

Edmundo: Não, pelo contrário. Eu, agora, recentemente, no dia que eu me apresentei ao Corinthians aqui, eu encontrei com o Zagalo lá no Rio em um restaurante; e ele tinha ido encontrar com o Paulo Autuori [técnico, então no Benfica] , ele falou: “Porrada, agora vai para lá, arrebenta lá para você voltar com a gente”. Eu só tenho coisas boas a falar da comissão técnica da Seleção. Mas o Parreira, em si, ele estava muito direcionado para aquele esquema. Ele achava que quem ia ganhar a Copa seria o Bebeto e o Romário e acabou acontecendo com o Dunga...

Sílvio Lancelotti: [interrompendo] Quer dizer, quando você diz “ele achava”... você teve uma informação a respeito desse pensamento, desse raciocínio? Alguém contou para você ou é uma intuição sua?

Edmundo: Não, não. Eu comecei ir para a Seleção no começo de abril de 1992, comecei profissionalmente em janeiro de 1992 e na Seleção dois meses depois, no começo de abril. Eu fui para a Seleção até a penúltima convocação, eu fui a todas. Até que na Copa do Mundo, eu já sabia que o esquema do... Eu acho até que uma das coisas que atrapalhou foi aquela pressão do Romário: tem que ser três atacantes, tem que levar o Edmundo, tem que levar o Edmundo.

Sílvio Lancelotti: [interrompendo] Matinas defendia até cinco atacantes!

Matinas Suzuki: Com você dentro!

[Risos]

Edmundo: E aí, com certeza, num momento... O Romário fala o que quer, fala o que pensa. Num momento de estabilidade na Seleção o Romário ia falar: “Não, tem que botar o Edmundo”. Como eu sei de coisas que aconteceram na Copa do Mundo, que talvez não seja do conhecimento de vocês...

Barbara Gancia: [interrompendo] Conta vai!

Edmundo: Por exemplo, coisa fácil, jogadores que iam ser barrados, que o Parreira ia barrar. E aí reuniu o Branco, o Dunga, o Romário, jogadores mais influentes na Seleção e eles pediram para não barrar, entendeu? Quer dizer, a Seleção acabou dando certo, eu torci demais, fiquei feliz demais como todo brasileiro. Foi uma Seleção sensacional, mas eu digo assim, eu digo... Isso parece até papo de quem está frustrado, de quem não foi, mas não é. Ir lá para assistir do banco eu assisti daqui. Claro, eu queria estar lá. Se fosse pensar em escolher eu escolheria estar lá, claro, lógico.

[...]: Até porque estava quente.

Edmundo: Porque lá eu teria condições de jogar, teria condições de estar, mas como eu não fui.

Oliveiro Pluviano: Tem 1998 então.

Edmundo: 1998 é a minha maior meta. Acho que tudo o que eu quero na minha vida é jogar uma Copa do Mundo. Não por vaidade “eu joguei uma Copa do Mundo”, mas eu quero representar o Brasil. Eu quero representar o meu povo. Vocês não imaginam, quem já jogou... acho que aqui ninguém jogou.

[...]: Copa do Mundo eu já joguei. Eu já saltei de pára-quedas.

Edmundo: Jogar com a camisa da Seleção Brasileira representa para o ser humano uma coisa fora do comum, fora do normal. Quer dizer, é [como] para você ser considerado o maior jornalista do Brasil.

Juca Kfouri: Eu acho que não, acho que não. Nada deve ser comparado a vestir a camisa do Brasil e jogar no Maracanã lotado... Todos nós queríamos, todos nós trocaríamos a nossa vida por isso...

Barbara Gancia: [interrompendo] Cantor de rock, portanto, é o único que pode conhecer mais ou menos...

[sobreposição de vozes]

Matinas Suzuki: Um de cada vez, por favor.

Juca Kfouri: Eu queria, rapidamente, aproveitando o número oito nas suas costas, que você desse nota para oito personalidades que eu listei aqui: presidente Fernando Henrique Cardoso.

Edmundo: Nota nove.

Juca Kfouri: Antonio Carlos [zagueiro. Jogou nos quatro grande clubes paulistas: Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos], seu ex-companheiro do Palmeiras.

Edmundo: Cinco. Dez como jogador e zero como pessoa.

Juca Kfouri: Armando Diego Maradona [ex-jogador argentino, um dos melhores jogadores do mundo].

Edmundo: Nota nove.

Juca Kfouri: Seu ex-companheiro do Palmeiras Evair.

Edmundo: Nota dez.

Juca Kfouri: Vera Fischer.

Matinas Suzuki: Em que sentido!?

[Risos]

Edmundo: Ela dá para dar um sete. Como atriz é dez, como mulher é dez. Quer dizer, o que a gente sabe aí, vai sete.

Juca Kfouri: Vice-presidente do Vasco: Eurico Miranda

Edmundo: Nota dez.

Juca Kfouri: Vanderlei Luxemburgo.

Edmundo: Agora você me complicou. Como treinador, nota dez.

Juca Kfouri: Qualquer cinegrafista equatoriano [Em março de 95 Edmundo chegou a ter a prisão decretada no Equador após agredir o cinegrafista Germán Veras, ao final do jogo entre Palmeiras e Nacional, pela Libertadores. Foi liberado após três dias em que passou trancado no hotel, quando o Palmeiras pagou US$ 10 mil pelo equipamento danificado]

[Risos]

Edmundo: Como o quê, como cinegrafista?

Matinas Suzuki: Aí, Edmundo, que nota você daria?

Barbara Gancia: Atletas de Cristo!

Edmundo: Para mim seis, dá para passar.

[Risos]

Silvio Lancelotti: Esse episódio do cinegrafista, por exemplo, é um daqueles dos quais você se arrepende, você não repetiria?

Edmundo: Não, claro que não. Eu me arrependo do que eu passei lá, as coisas que aconteceram. Claro, eu fiquei muito chateado, por quê? Olha como é que eu sou... Eu estou meio azarado, um período meio ruim, mas essa “inhaca” está saindo. Eu chutei a câmera, o dono da emissora é diretor do Emelec [Club Sport Emelec. Compunha o Grupo 4 da fase de grupos da Libertadores em 1995, junto com Palmeiras, Grêmio e Nacional. O Palmeiras enfrentou o Emelec no dia 10 de março, em Quito, três dias após do episódio com o cinegrafista e da partida contra o Nacional. Por pressão da comunidade local o Palmeiras acabou não escalando Edmundo. Venceu o Emelec por 1 a 3]

[Risos]

Edmundo: Era só pagar a câmera não era? Só pagar a câmera, não tinha problema nenhum. E ele aproveitou... o jogo era sexta-feira a noite, o negócio lá fechava, a delegacia não sei. Porque lá, se você for na manicure e ela tirar sangue de você você pode ir na delegacia protestar e a pessoa vai ter que prestar, se esclarecer, enfim. E foi isso que aconteceu. Eles saíram de... Como que é a cidade! De Quito e foram para... Qual é a outra?

[...] Guayaquil.

Edmundo: Guayaquil para fazer a denúncia [O jogo aconteceu em Quito, mas emissora para quem o câmera trabalhava era a Telessistema de Guayaquil]. Fizeram lá. A delegacia fechava seis, sete horas da noite, era como se fosse Rio - São Paulo, e aí se eu tivesse saído daqui naquele momento e fosse lá me explicar, estava livre e poderia jogar. Aí eles fizeram às seis horas, lá fechava as sete. Quer dizer... Quando chegou ao meu conhecimento eu já não tinha mais como ir lá, porque fechava e só abria na segunda-feira e aí eu não poderia jogar, porque eu poderia ir de livre e espontânea vontade ou sendo levado pela policia de lá. Então, aconteceu assim: eu não podia sair de um local particular porque, senão, a polícia de lá me levava para prestar a coisa lá; e não ia adiantar porque estava fechado [Edmundo refere-se explicativamente ao tempo que levou para deixar o país]. Eles iam me levar para lá e eu ia ter que ficar trancado, preso, no caso. Então, nesse sentido, eu me arrependo sim, mas em ter chutado, eu não me arrependo não porque...

[Risos]

Barbara Gancia: [interrompendo] Você falava que você não tinha chutado. Antigamente, você falava: “Ele veio com a câmera”. Agora, você está falando...

[...]: Chutou porque ela estava na frente dele.

Edmundo: O que aconteceu antes de eu ter chutado foi complicado. O cara botou o microfone na minha boca e falava e eu vinha para cá, ia para lá. Aí eu fui dar um drible nele para sair pelo outro lado, o fio agarrou no meu pescoço. Quando o fio agarrou no meu pescoço, a câmera veio e caiu e bateu na minha perna, tinha perdido o jogo, perdi um pênalti... Aí, a câmera caiu na minha perna e na minha frente e aí eu....

[...]: É gol!

[Risos]

Edmundo: E por azar meu a câmera filmou tudo.

[Risos]

Barbara Gancia: Provando.

Edmundo: Provando até que não aconteceu nada com a câmera, soltou aquele negócio ali, que é o monitor que eles olham. Foi aquilo que soltou, só.

[...]: Quer dizer, nem chegou a quebrar.

[...] Você disse a “inhaca” está saindo. A camisa do Corinthians é um bom remédio?

Edmundo: O trabalho é um bom remédio. O grupo do Corinthians que eu encontrei é um excelente remédio. A torcida tem me dado um apoio sensacional, então, sem dúvida nenhuma o Corinthians caiu como se fosse uma luva para mim.

Matinas Suzuki: [interrompendo] Agora, Edmundo, já passou esse filme na sua cabeça? Você entrando no Pacaembu lotado, 50% torcida do Corinthians, 50% torcida do Palmeiras? Um jogo decisivo para valer. Esse filminho já passou na sua cabeça? Como vai ser?

Edmundo: Isso aí vai acontecer...

[...]: Claro!

Edmundo: Hoje, Palmeiras, Corinthians e São Paulo são as maiores forças aqui de São Paulo no futebol. Isso aí vai acontecer, vai ser inevitável e vou entrar para jogar. Eu fiquei muito surpreso com o contato que eu tive com o Paulo Serdan [então presidente da Mancha Verde, maior organizada do Palmeiras]ve outros os presidentes das torcidas do Palmeiras, que hoje não existem mais [A Mancha Verde foi oficialmente extinta por envolvimento em casos de violência. Foi reaberta quase imediatamente como Mancha Alviverde]. Mas eu fiquei muito surpreso com eles, o carinho que eles demonstraram por mim, sabe, eles entenderam que eu não tinha mais, eu não tinha realmente... A palavra é essa, eu não tinha mais condições de jogar pelo Palmeiras naquele momento. Agora, quando eu vim para o Corinthians houve a possibilidade de voltar ao Palmeiras e eu estava totalmente aberto para voltar, de coração aberto para voltar, e aí... O Vanderlei até queria, mas eu fui barrado lá.

Eri Johnson: [Queria] Aproveitar esse seu gancho. Houve uma coisa maravilhosa no Maracanã, no jogo entre Botafogo e Vasco; Leandro, meio campo, até ali jogando no Botafogo, gritaram tanto, a torcida do Botafogo gritando "Leandro, Leandro, Leandro" e a torcida do Vasco também gritando "Leandro"...

Edmundo: Aconteceu comigo.

Eri Johnson: Você acha que isso pode acontecer agora? Pode vir acontecer Corinthians e Palmeiras?

Edmundo: Pode.

Eri Johnson: Pode?

Edmundo: Acho que pode. Até porque o período que eu vesti a camisa do Palmeiras eu vesti com maior amor, com maior dedicação, honrei a camisa do Palmeiras em todos os sentidos. Eu acho que fiz muito bonito para a torcida do Palmeiras. Isso aconteceu comigo, Palmeiras e Vasco, um jogo no Maracanã, nós ganhamos de 1x0, gol do Zinho de cabeça... Tinha pouca gente, sabe? Tinha cerca de cinco mil pessoas [O jogo aconteceu em 23 de outubro de 1993, pelo Campeonato Brasileiro]. Para o Maracanã é pouca gente. Quando eu entrei a torcida toda gritando meu nome, fui lá acenei...

Eri Johnson: Mas ali era diferente, ali eram duas torcidas que torcem... [Refere-se ao fato de alas das torcidas organizadas de Palmeiras e Vasco nutrirem certa simpatia]

Edmundo: Mas foi legal. Eu acredito plenamente que isso possa vir acontecer aqui, normalmente.

Eri Johnson: Eu torço por isso.

Antoninho Marmo Trevisan: Ô Edmundo, você quase voltou para o Palmeiras. Quem te barrou? Você não concluiu isso, eu estou curiosíssimo!

[Risos]

Antoninho Marmo Trevisan: Ele acabou de falar, mas não deixamos concluir, ele disse: “Eu quase voltei aí me barraram”. Como quase voltou e te barraram?

Edmundo: Um cara que é excepcional para o Palmeiras, excepcional, Seraphim Del Grande, foi ele quem não quis que eu voltasse.

[...]: É um louco!

Matinas Suzuki: Edmundo.

Edmundo: Ele é excelente para o Palmeiras. Oi.

Matinas Suzuki: Edmundo, a propósito disso a Juliette Nunes, de Guarulhos; o Fernando Figueiredo da Silva, tem 14 anos, lá de Joinvile, Santa Catarina; e o Ranieri Albuquerque, lá do Ceará, perguntam qual o seu verdadeiro time do coração.

Edmundo: Ahhhh!

Eri Johnson: Olha a palhaçada!

[Risos]

Edmundo: Agora eu estou mais na Roda Viva do que nunca. Então, eu vou explicar mais ou menos, vou dar uma explicação. Acho que a vida da gente é complicada, o coração da gente é igual a manteiga, pelo menos o meu é. Eu nasci vascaíno, fui criado...

Eri Johnson: [Interrompendo] Pronto, acabou, respondeu! Já respondeu, está bom.

[Risos]

Edmundo: Eu nasci no Vasco, sabe?

[Risos]

Matinas Suzuki: [interrompendo] O primeiro time é que vale, não é?

Edmundo: Antes de jogar no Botafogo eu já havia jogado no Vasco. Aí, então, conhecia tudo do Vasco. Depois, joguei no Botafogo, só que no período que eu joguei no Botafogo eu torcia pelo Botafogo porque tinha uns amigos meus, que jogavam comigo no juvenil, mas que já estavam no profissional. Então, eu torcia por eles. E aí quando eu vim para o...

[...]: Palmeiras.

Edmundo: Para o Palmeiras, eu gostei do Palmeiras, não conhecia muito, gostei, tudo bem. Quer dizer, de coração mesmo, você tem que falar o time da cidade que você nasceu, essas coisas. Mas essa minha ida para o Flamengo, até em função daquilo que eu falei...

Eri Johnson: [interrompendo] Vai acabar no Corinthians!

[Risos]

Edmundo: Até em função daquilo que eu falei, aquele carinho que eles demonstraram por mim sem eu ter feito nada, eu fiquei como uma forma de gratidão, talvez o sentimento não seja esse. Portanto, ontem eu fui ao Maracanã, como eu já falei antes, e eu torci pelo Flamengo. Então, é uma confusão para mim, na minha cabeça, é difícil explicar isso aí...

Juca Kfouri: Eu tinha uma última pergunta a lhe fazer, que é a seguinte: de tudo na sua carreira, o único lance que, realmente, até hoje não consegui entender, veja bem, de tudo que eu já te vi fazer em campo e fora de campo, o lance que eu não consigo entender até hoje foi como você deu um tapinha no argentino e virou as costas para ele com tantos anos de praia. Você entendeu o que você fez aquele dia?

Edmundo: Não, não...

[Risos]

Edmundo: Mas sabe o que é, as pessoas insistem, insistem, insistem para que eu seja um cara bonzinho, para que eu tenha boas atitudes. Eu não consegui me conter porque ele me deu uma cotovelada e sangrou. Quando eu vi o sangue passei [o sangue] nele e ele me deu um tapa – zero a zero, estamos quites. Eu acho até que eu estava perdendo, porque eu tinha levado uma cotovelada antes. Virei as costas como um bom moço para agradar os outros, o normal era revidar... aí tomei. [O defensor Zandona, do Velez Sarsfield, atingiu Edmundo com um soco por trás, no ouvido]

Matinas Suzuki: [interrompendo] Começaram a cobrar isso de você?

[sobreposição de vozes]

Edmundo: Foi um dos maiores erros dentro do campo.

Matinas Suzuki: Edmundo, nós estamos indo para a final do nosso Roda Viva com você. Eu gostaria, nós realmente estouramos hoje de fax, então, eu gostaria de dar a voz ao nosso telespectador. A Carmem, de Socorro pergunta o seguinte: “No Palmeiras, vários jogadores e atletas de Cristo tentaram te convencer e não conseguiram. E agora será que você vai conseguir se livrar das garras do Marcelinho?”

[risos]

Edmundo: É muito relativo. Eu acho que ser ou não ser atleta de Cristo é uma questão única e exclusivamente de momento e de oportunidade. Os próprios atletas de Cristo falam isso: “Jesus tocou no meu coração”, eu acho que ele ainda não tocou no meu. Eu freqüentei vários cultos lá dentro do Palmeiras com todos os jogadores, eu ia sempre nas reuniões que existem. Agora, a primeira concentração que teve do Corinthians eu participei, gostei, achei uma coisa legal, até o Marcelinho me fez orar: "Ora para a gente". Eu falei: “ai meu Deus do céu e agora”.

Barbara Gancia: Você acredita neles, Edmundo?

Edmundo: Eu acredito, eu acredito.

Barbara Gancia: Você já deu declaração falando que você achava eles meio...

Edmundo: Não, espera aí. Não concordo com algumas atitudes deles, que falam que são de um jeito e, na verdade, são de outro.

Barbara Gancia: [interrompendo] Depois vão lá e dão paulada no meio de campo, é isso?

Edmundo: Dentro do campo não, dentro do campo tem que dar mesmo.

Matinas Suzuki: Edmundo, nós também recebemos durante o programa algumas críticas a você, como de Hortolândia, o Emerson Gomes de Oliveira que falou que você precisa jogar mais e falar menos.

Edmundo: Eu tenho que deixar bem claro para ele que não sou eu que falo.

Matinas Suzuki: Perguntam para você!

[risos]

Edmundo: Eu sou obrigado.

[sobreposição de vozes]

Edmundo: Se eu sair do treino e os jornalistas me perguntarem... Teve uma época no Palmeiras que eu fiz isso [Não dar entrevistas]... Aí fica complicado. Não é que eu falo muito, me perguntam muito.

Matinas Suzuki: E a Vilma Zandim, daqui da Lapa diz: “Edmundinho, se eu conhecer a sua mãe pediria que lhe desse um puxão de orelha de vez em quando”.

Edmundo: Coitada da minha mãe!

Matinas Suzuki: Agora, em compensação, eu estou aqui com um monte de mensagens de apoio e incentivo a você. Eu vou ler rapidamente algumas já que a gente está terminando o programa. Adriana Ventura diz que é São Paulina roxa, mas fã incondicional do jogador Edmundo; o John Odonhez, de Campinas diz: “Gostaria de dizer que só conheci o Edmundo antes desse programa Roda Viva pelas notícias e não simpatizava com ele. Agora, depois de assistir o programa, passei admirá-lo e descobri o seu verdadeiro ser humano”; “Edmundo sou sua fã palmeirense, sempre gostei muito do seu futebol, um beijo, Maria Virginia Forte”. “Edmundo, quero lhe dizer que dou a maior força nessa nova fase do seu trabalho”, Ana Raquel Samabelo, de Santo André, 14 anos. “Edmundo, nós da família Pavão de São Caetano do Sul estamos torcendo por você como corintianos e desejamos tudo de bom para você, seja bem vindo á família corintiana”, Jorge Roberto, de São Caetano do Sul. “Seja bem vindo, quero ser como você quando crescer, aplauso ao programa...”.

[...]: Que responsabilidade!

[Risos]

Matinas Suzuki: Não tem nome aqui, eu não consigo decifrar o nome. "Quero parabenizá-lo pela sua simplicidade, transparência e segurança nas suas colocações, sua voz, postura refletem isso, continue assim, o mundo precisa de pessoas como você", Alaísa Silva Tuma, de Lorerna, São Paulo. Essa daqui é engraçada. A Luciana Furlan, de Campinas diz o seguinte: “Sou sua maior fã e gostaria de saber por que você não responde as minhas cartas...”.

[Risos]

Matinas Suzuki: O Sergio Vedez: “Edmundo muito obrigado por tudo que você fez pelo Palmeiras, boa sorte no Corinthians”. Também tem aqui: “Embora palmeirense, desejo sucesso no seu novo clube, o Corinthians, o futebol paulista ganha muito com a sua volta.” É o Fernando, de Jundiaí. Então... Eu poderia continuar aqui, nós já estouramos o nosso horário, já estamos na prorrogação...

Edmundo: Ah, vamos jogar mais um pouquinho!

Barbara Gancia: O Edmundo está com os olhos marejados.

Matinas Suzuki: Eu gostaria de fazer a última pergunta do programa ao Edmundo. Sempre é possível recomeçar?

Edmundo: Lógico, na vida você recomeça a cada dia, até porque a vida é para frente, a vida não é para trás. Acho que para trás só serve de lição, as coisas boas tem que ser repetidas e as coisas ruins esquecidas, a minha vida sempre foi assim. Eu hoje erro muito menos do que quando eu tinha 18, 19, é que aqui 18, 19 ninguém me conhecia, mas hoje eu erro muito menos dentro da minha conduta, dentro do meu jeito de ser. Eu tenho certeza que quando eu chegar aos trinta anos, eu vou errar muito menos do que hoje, com 24. E a vida segue para frente, é com esse pensamento, com essa mentalidade que eu tenho forças. Porque se a vida não desse condições de recomeçar eu preferiria não estar vivendo hoje.

Matinas Suzuki: Edmundo, eu queria agradecer muito a sua presença nesse programa. Você suou a camisa como dá para ver. Queria agradecer também a participação dos nossos entrevistadores. Acho que conseguimos fazer um programa excelente.

Edmundo: Coitado, o Silva não fez nenhuma pergunta!

[risos]

Matinas Suzuki: Mas ele está feliz...

Barbara Gancia: Graças a Deus.

Matinas Suzuki: Ele, como corintiano, já está feliz! Eu queria agradecer bastante a atenção dos nossos telespectadores, mais uma vez pedir desculpa por não ter conseguido dar vazão a quantidade imensa de perguntas que chegou. E lembrar a vocês todos que o Roda Viva volta na próxima segunda-feira às dez e meia da noite. Até lá.

Edmundo: Matinas.

Matinas Suzuki: Pois não.

Edmundo: Deixa em mandar um beijo para minha filha que deve estar me assistindo essa hora, a minha filha, a minha esposa, minha mãe... Porque eu tenho tão pouco tempo de estar em casa. Negócio de concentração, eu chego duas, três horas de jogo e eu acordo a minha filha, a mãe dela fica louca porque eu brinco um pouquinho, canso.

Matinas Suzuki: Um beijo na filha do Edmundo, nós nos despedimos, até segunda-feira, uma boa noite, uma boa semana para todos.

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