;

Memória Roda Viva

Listar por: Entrevistas | Temas | Data

Orestes Quércia

12/3/1990

Em seu primeiro mandato à frente do governo de São Paulo, Quércia fala de educação, política, obras e presidência da República

Baixe o player Flash para assistir esse vídeo.

     
     


Jorge Escosteguy: Boa noite! Estamos começando mais um programa Roda Viva pela TV Cultura de São Paulo. Este programa é ainda retransmitido, ao vivo, pelas TVs educativas de Porto Alegre, Minas Gerais, Espírito Santo, Piauí, TV Cultura de Curitiba e TV Cultura do Pará. É ainda retransmitido para mais 15 emissoras que formam a Rede Brasil, através da TVE do Rio de Janeiro. O convidado do Roda Viva desta noite é o governador de São Paulo, Orestes Quércia. Para entrevistar o governador Orestes Quércia esta noite, no Roda Viva, nós convidamos os seguintes jornalistas: Márcio Chaer, coordenador de política do Jornal do Brasil; Fernando Mitre, diretor de jornalismo da TV Bandeirantes; Hugo Studart, sub-diretor de jornalismo da revista Veja; Hermano Henning, repórter especial do SBT; Carlos Tramontina, editor e apresentador do jornal Bom dia, São Paulo, da TV Globo; Luis Weis, redator-chefe da revista Superinteressante; José Márcio Mendonça, editorialista de política do Jornal da Tarde, e João Batista Natali, repórter de política do jornal Folha de S. Paulo. O governador Orestes Quércia é considerado um dos políticos mais fortes hoje no PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro]. Para ele, nesses últimos anos, o partido se transformou numa carga de certa forma pesada de carregar. Quércia defende uma espécie de perestroika que garanta a sobrevivência do partido. Dentro do PMDB, ele era um forte candidato à sucessão presidencial [eleições de 1989, que elegeram Fernando Collor de Mello], mas não foi escolhido porque teria faltado boa vontade da cúpula do PMDB. Atualmente, o governador de São Paulo encontra algumas dificuldades, também, para fazer o seu sucessor dentro do PMDB. Ainda à espera das medidas que serão tomadas no governo Collor, Orestes Quércia faz questão de lembrar que o PMDB é oposição, mas, para ele, ser oposição não significa que o partido deixe de apoiar as medidas importantes do novo governo. Boa noite, governador.

 Orestes Quércia: Boa noite.

Jorge Escosteguy: O senhor, hoje, assistiu a mais uma desistência de candidato a candidato do PMDB ao governo de São Paulo, que foi o ex-secretário da Fazenda, José Machado de Campos, mas ainda resta o ex-secretário João Osvaldo Leiva [(1935-2000), ex-secretário de obras e saneamento e presidente do PMDB. Candidatou-se à prefeitura de São Paulo em 1988, mas perdeu para Luiza Erundina] que diz que não pretende desistir da sua pré-candidatura. Além desse problema, o PMDB enfrenta o problema com uma certa rejeição nas urnas, a julgar pelas últimas eleições presidenciais. Como é que o senhor vê a solução desses dois problemas, ou seja, a sucessão do estado e a questão eleitoral do PMDB?

Orestes Quércia: Eu gostaria, inicialmente, de saudar os telespectadores do estado de São Paulo e dos outros estados, dizer que é com muita alegria que venho aqui participar do programa com os senhores e as senhoras. Essa questão da sucessão aqui no estado de São Paulo, do ponto de vista do nosso partido, eu acredito que vai indo muito bem. Ainda hoje, como você disse, o Machado desistiu da sua pretensão para apoiar o Fleury [Luiz Antonio Fleury Filho, ex-secretário de Segurança Pública do governo Orestes Quércia. Eleito governador de São Paulo em 1990] e há uma tendência muito grande dentro do partido, uma aceitação muito grande no sentido de que o nome mais indicado seja, exatamente, o Luís Antônio Fleury, que é o nosso secretário da segurança pública. O Leiva tem uma tese no sentido de que o ideal seria uma prévia. Ocorre que a prévia, do meu ponto de vista, está inviabilizada dentro do partido porque a prévia pressupõe... quer dizer, um entendimento dos candidatos em torno de regras que não existem por imposição da lei. Teriam que ser estabelecidas a critério do diretório, mas em comum acordo com os candidatos. Isso, na verdade, a impossibilidade desse entendimento, é que gerou a impossibilidade da prévia. Hoje, nós temos um candidato que praticamente se consolida como candidato a governador que não estava disputando. O Fleury não era candidato. Nós tínhamos diversos candidatos, que eram o Pinotti, o Leiva, o Machado e o Almino [Almino Afonso, vice-prefeito durante o primeiro governo de Quércia. Foi ministro do Trabalho e Previdência do governo de João Goulart] . Então, em razão das ocorrências dos últimos dias, hoje eu poderia dizer que há uma tendência muito generalizada em torno de que o Fleury seja o candidato. E, do meu ponto de vista, acho que é um candidato muito forte, em condições de ganhar a eleição e de dar prosseguimento ao nosso governo. Com relação ao PMDB, o PMDB sofreu muito, inclusive no resultado eleitoral da sucessão presidencial, nós vimos uma rejeição muito grande do MDB [referindo-se ao PMDB. MDB era a sigla do partido durante o regime militar], que se identificou muito com o governo Sarney [José Sarney, presidente da República entre 1985 e 1990] e todas aquelas coisas que nós sabemos [o governo Sarney ficou conhecido por um período de hiperinflação e moratória, ou seja, a suspensão do pagamento da dívida externa]. Eu acho que, no entanto, hoje, nós estamos passando por um processo e acho que ainda há algumas restrições com o PMDB. Mas, aqui em São Paulo, na verdade, há uma aceitação grande do nosso governo. Tanto no interior quanto na capital. E nós vamos, na campanha eleitoral, usar muito esse aspecto, né, que eu acho que há condição de ganhar a eleição.

Luis Weis: O senhor acredita que esse apoio que o senhor alega existir da população de São Paulo ao seu governo se transfere automaticamente ao candidato que o senhor indicar, seja ele qual for? Ele não tem que ter uma luz própria? E, ao que consta, o secretário de segurança não a teria?

Orestes Quércia: Bom, o secretário de segurança tem uma luz própria. É um secretário muito competente. Nós, quando assumimos o governo tínhamos um quadro em que, das preocupações da população de São Paulo, segurança era a grande preocupação. 70 %. 70% da preocupação era a segurança. Hoje a preocupação é bem menor: 18% em algumas pesquisas. Há alguns dias mesmo, a Folha de S. Paulo publicou, no [instituto de pesquisa] Datafolha, que a preocupação com segurança é 9%. Evidente que ainda existem problemas, existe crime, mas houve um avanço excepcional na atuação do governo no que diz respeito ao resguardo da população. Então, hoje, a população em São Paulo, tanto na capital quanto no interior, se sente mais segura. Isso não foi de graça. Foi um sacrifício muito grande, um empenho muito grande do governo, empenhando, equipando as polícias militar e civil, aumentando o efetivo, modernizando, policiamento padrão, rádio-patrulhamento padrão, as construções dos presídios, dos distritos policias... um trabalho enorme. E o Fleury esteve à frente desse trabalho. Então, ele tem, hoje... o Fleury tem uma imagem própria, de bom administrador, de homem sensível, firme, mas ao mesmo tempo sensível, e isso é importante. Acho que essa questão de transferência... é possível transferir sim. Acho que é preciso uma campanha muito bem elaborada nesse sentido. Ainda há poucos dias, nós vimos essas perguntas que se fazem em pesquisas, uma pesquisa que dizia que o poder de transferência... você votaria em um candidato apoiado pelo governador? Dá uns 22% ou mais [sendo interrompido]. Isso não significa, assim, uma coisa muito tranqüila, que vai ser... Mas eu acho que há condição de fazermos uma campanha bem elaborada e de o Fleury, evidentemente, sendo ele o candidato, ter condições de ganhar a eleição.

José Márcio Mendonça: [todos falam ao mesmo tempo] Governador, eu só queria observar o seguinte: é que o senhor fez uma experiência idêntica de transferir também esse prestígio para o João Osvaldo Leiva na sucessão municipal e essa experiência não funcionou. O senhor não acha que essa idéia de tirar um candidato do bolso do colete, às vezes, não funciona... quase nunca funciona?

Orestes Quércia: É, não é... não significa tirar um candidato do bolso do colete no caso do Fleury. Porque eu fui procurado pelo diretório do partido, pela comissão executiva. A pedido da comissão executiva, fiz uma análise consultando muita gente Eu posso não entender muito de política, mas alguma coisa eu devo entender. Então, eu consultei muita gente. Eu conversei com muita gente e a tendência dentro do partido... Tanto que houve uma consolidação muito grande quando eu procurei o partido e: "Olha, a tendência é o Fleury". Nós tivemos... todos os deputados da Assembléia Legislativa apoiaram, assinaram o documento - inclusive alguns amigos do Almino. Todos os deputados federais. Isso significa que não houve essa história de bolso do colete. É alguém que tem luz própria, que tem respaldo dentro do partido e que tem condições de ganhar a eleição. Qual o outro aspecto da pergunta mesmo?

José Márcio Mendonça: O caso do Leiva, que foi um caso também de alguém que o senhor poderia transferir o prestígio e não conseguiu.

Orestes Quércia: Eu poderia dizer que, evidente, o processo político não é tão simples assim, matemático: "Olha, você transfere". Poderia dizer que para o Leiva foi transferido. Ele chegou, em determinado momento a ficar em primeiro lugar. Uma vez só, né? Então, ele subiu na campanha eleitoral, chegou a 27%, o Maluf a 26%, a Erundina não me lembro agora. Mas ele, em um momento da campanha, ele passou ao primeiro lugar. É que depois, aí, meu caro, essas coisas não são assim. Aí houve um processo eleitoral, uma tendência em favor da atual prefeita [Luiza Erundina] e aconteceu um fato até inusitado. Nós tivemos uma pesquisa de um dia antes da eleição que mostrava o Maluf em primeiro, o Leiva em segundo... não, a Erundina em segundo, mas com 21% ou 22% e o Leiva com 20%. Então nós tínhamos esperança ainda de dar uma virada em favor do Leiva no último dia. Essa pesquisa é um tanto válida porque o Maluf, por exemplo, se recusou a aceitar a hipótese de ter perdido, porque a pesquisa do dia anterior dava a vitória para ele. Eu tenho essa pesquisa. Então houve, no caso do Leiva, transferência. O que houve é que, no processo final da eleição, houve uma tendência que beneficiou a atual prefeita.

Jorge Escosteguy: Carlos Tramontina, por favor.

Carlos Tramontina: Esta questão do bolso do colete foi reafirmada ontem pelo vice-governador, que, ao comunicar, ao anunciar seu desligamento do PMDB, acusou o senhor de autoritarismo e de vetar o nome dele dentro do processo de escolha do candidato do partido. O que o senhor tem a dizer sobre essa posição do vice-governador?

Jorge Escosteguy: Governador, essa também é a pergunta do telespectador Miguel Gonçalves, de Osasco.

Orestes Quércia: Olha, não houve isso. O Almino saiu do partido, decidiu sair do partido e fez essa agressão com relação a mim e não é verdade. Eu não impus nenhuma candidatura, eu fui procurado pela comissão executiva do partido, inclusive o irmão do Almino, que faz parte da comissão executiva do partido. O próprio Almino recomendou que eu ouvisse: "Consulte as pessoas". Eu consultei. Então, houve uma avaliação que eu fiz e que corresponde à avaliação do partido. Então, não houve imposição, não houve candidato de bolso de colete e não houve autoritarismo da minha parte. Eu fui procurado pela comissão executiva que me pediu [aponta para si] que fizesse uma avaliação e orientasse com a minha experiência, que não é muito grande, mas é alguma coisa, pelo menos a comissão executiva entende isso, o que se deveria fazer. Porque eles estavam tentando equacionar a questão de se encontrar um candidato e não conseguiam. A comissão executiva não conseguia. Então, delegou a mim, condição de fazer uma avaliação. Então, por que eles não conseguiam? Porque a idéia era fazer uma prévia no partido. Eu propus isso. Uma prévia no partido. 

Carlos Tramontina: Em determinado momento dessa escolha, o senhor afirmou: "Eu não voto no Almino". O senhor, de certa forma, não estaria induzindo, ou determinando, implicitamente, ao seus seguidores dentro do PMDB que não o apoiassem?

Orestes Quércia: São tantas coisas, né? Em debate isso é muito comum. Aquilo que dizia o padre Vieira: "As palavras de Deus, tiradas do contexto, podem parecer palavras do diabo, né"? Isso que eu falei, foi num contexto diferente. Num contexto em que ele estava fazendo declarações contra mim etc. Eu, na verdade, achava naquela altura e acho hoje... eu respeito muito o Almino, gosto dele, é uma pessoa excepcional, é um homem honesto, um homem que reúne todas as condições que você pode imaginar. Eu tenho muita admiração por ele, nunca houve problemas entre nós. Nós poderíamos lembrar casos, como os companheiros lembram, de ele ter faltado a Ulysses, na hora final lá em Brasília, mudou apoiando o Valdir ou pelo fato, aqui em São Paulo, de nós termos tido uma postura de independência com relação à sucessão presidencial e ele ter apoiado o Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à presidência da República em 1989], mas, tudo isso, eu acho que não tem importância, porque ele é um homem que tem uma história, foi ministro com trinta e poucos anos. Então, eu não tenho nada contra o Almino. Eu respeito muito, vou continuar respeitando sempre. Mas eu não sou obrigado a ter a mesma opinião que ele tem. Eu fiz uma avaliação. Essa avaliação mostrou claramente uma tendência no partido de que o ideal seria o Fleury, e não o Almino, que o ideal seria que o Almino aceitasse ser senador. E isso, a assinatura de todos os deputados... eu não pedi para nenhum deputado assinar nada. Não pedi para nenhum deputado estadual assinar nenhum documento, não pedi para nenhum deputado federal assinar nenhum documento. Houve uma assinatura unânime na alternativa do Fleury governador. O que significa que não houve autoritarismo meu. O que houve? O Almino, evidente, se machucou, e acho que essas coisas acontecem, decorrem da natureza humana. Mas, não significa dizer que eu seja autoritário, ao contrário: respeito o Almino, respeitei o Almino. Apenas tive uma alternativa de opinião, que eu acho que a maioria tem direito de ter opinião, não tem? A minoria também tem.

Jorge Escosteguy: Governador, o Natali tem uma pergunta para o senhor, mas eu queria lhe informar que essa questão sobre o vice-governador Almino Afonso também foi levantada pelo Jesus de Souza Lima, de Ferraz de Vasconcelos [cidade de São Paulo]. Por favor, Natali.

João Batista Natali: Governador, me perdoe passar da área regional para a área nacional por alguns instantes. Os últimos ministros da Fazenda, Dilson Funaro [foi responsável pela criação do Plano Cruzado, de estabilização financeira], professor Bresser Pereira [Luiz Carlos Bresser Pereira, que foi ministro da Administração Federal e Reforma do Estado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso] e o próprio Maílson da Nóbrega [ocupou o cargo de Bresser Pereira em 1987] tiveram a delicadeza de informar aos governadores de estado, às vésperas da adoção de medidas econômicas bastante bruscas... para que os governadores fossem informados, pelo menos para saber como é que eles poderiam reagir em termos de administradores das suas próprias finanças. A ministra Zélia Cardoso de Mello [ministra da economia durante a administração de Collor. Foi responsável pelo confisco de dinheiro aplicado na poupança durante 18 meses] teve essa mesma delicadeza para com o senhor? É a primeira pergunta. A segunda, se o senhor está inteirado do que vai ocorrer na noite do dia 16 [16 de março, um dia após a posse de Fernando Collor de Mello] em termos de anúncio do pacote econômico? O senhor acha que essas medidas são corretas ou incorretas ou de que maneira elas repercutiriam na economia paulista?

Orestes Quércia: Bom, não fui consultado pela futura ministra a respeito de nada. E também não sabia que os ex-ministros costumavam consultar governadores, porque eu também nunca fui consultado por eles. Então, só se eles consultavam outros governadores. 

Luis Weis: Pelo visto eles iam consultá-lo. Eles informavam, eles comunicavam antecipadamente...

Orestes Quércia: [interrompendo] Não. A mim, nunca foi... [não] houve comunicação nenhuma do Maílson, nem do Bresser. Do Bresser houve em razão até das ligações que nós tínhamos, né? Do outro, então, nunca houve também. Só para efeito de esclarecer o que é fato. Não houve nenhuma comunicação. As pessoas têm me perguntado muito a respeito disso porque, quando esteve me visitando aí o Bernardo Cabral [foi ministro da Justiça durante o governo Collor, mas demitiu-se em 1990], ele teria... teria não, ele declarou, que eu ouvi, que os governadores seriam ouvidos pelo presidente, ou pelo ministro do... né? Então me perguntam muito em razão disso. O fato é que eu não fui consultado até agora. 

Luis Weis: Nem informado?

Orestes Quércia: Nem informado.

Jorge Escosteguy: Hermano Henning, por favor.

Hermano Henning: Governador, há quem acredite, e com alguma dose de razão, que...

Orestes Quércia: [interrompendo e referindo-se à pergunta anterior] Nem estou pedindo para ser informado. Desculpa, eu acho que aí o presidente faz o que achar que deve fazer, a gente tá torcendo para ele se sair bem. Desculpa [referindo-se ao Hermano Henning].

Hermano Henning: A sua má vontade em relação ao vice-governador Almino Afonso, ela teria origem na campanha do PMDB e mesmo naquele processo de escolha do candidato a presidente. O Almino representaria, sairia muito mais com aquela corrente do Waldir Pires [ministro da Previdência do governo Sarney], Miguel Arraes [foi prefeito de Recife, deputado estadual, deputado federal e, por três vezes, governador do estado de Pernambuco], eu diria, a corrente de esquerda do partido, que o senhor, então, teria... o senhor foi acusado, por próprios integrantes do seu partido, de exercer um apoio, de uma certa forma, disfarçado à candidatura do presidente eleito, Collor de Mello. O senhor votou? Eu iria mais longe. Em quem que o senhor votou no segundo turno? 

Orestes Quércia: Bom, deixa eu fazer duas colocações: primeiro, a sua pergunta no início, o senhor disse o seguinte: "A sua má vontade com relação ao Almino"... nunca houve má vontade.

Hermano Henning: [interrompendo] Qualquer pessoa ligeiramente informada de política reconhece que o Almino Afonso não era, não é seu candidato.

Orestes Quércia:[interrompendo] Tudo bem, isso não significa que eu teria que ter má vontade contra a candidatura dele.

Hermano Henning: [interrompendo] O senhor acredita que o Fleury é um homem muito mais popular, de mais condições?

Orestes Quércia: Tudo bem, má vontade com relação à candidatura dele não significa má vontade com relação a ele. É diferente.

Hermano Henning: Eu diria má vontade em relação à candidatura dele, politicamente falando.

Orestes Quércia: Candidatura dele, politicamente falando, tudo bem, em razão até das circunstâncias às quais eu me referi: da avaliação que eu fiz, do meu pensamento pessoal. Eu acho, hoje, que o PMDB tem condições de ganhar a eleição com a candidatura Fleury, entende? Nós temos que fechar o quadro com relação a vice-governador, a senador, tudo bem. Com relação à...

Hermano Henning: À sua postura na campanha. 

Orestes Quércia: É. Eu também gostaria de dizer o que todo mundo sabe. Não existe apoio disfarçado em política, né? [sorri] Se há uma coisa que... você pode até disfarçar apoio...

Hermano Henning: [interrompendo] O senhor liberar seus auxiliares, os seus aliados, os seus assessores [a votar em Collor]... não é uma forma de apoio disfarçado, sem ir à televisão e dizer: "Eu apóio o Collor de Mello"?

Orestes Quércia: Todos os que vieram me perguntar... por exemplo, o prefeito de Monte Alegre disse o seguinte: "O Lula tem uma chácara em Monte Alegre, eu preciso votar e trabalhar para ele, tudo bem"? E eu disse: "Tudo bem". E não apoiei o Lula, embora eu tenha liberado o prefeito de Monte Alegre, por exemplo. Deputados estaduais da Assembléia [Legislativa], deputados federais que vieram conversar comigo, que queriam apoiar o Lula, foram liberados para o Lula, como os que quiseram apoiar o Collor também foram liberados nesse sentido. Então, houve liberação, não houve favorecimento nem para um nem para outro. Eu não apoiei nenhum dos dois. 

Hermano Henning: O senhor votou no Collor?

Orestes Quércia: Olha [olha pra cima e faz breve pausa], eu não votei . Eu tive lá um voto secreto, vai ficar secreto [risos].

Jorge Escosteguy: Governador. Fernando Mitre, por favor.

Fernando Mitre: Esse voto secreto nós, talvez até o fim do programa, tenhamos uma idéia vaga do que seja e tal [risos]. Mas o senhor tem dito que... apesar do voto secreto... que o PMDB é um partido de oposições e o senhor estará na oposição. O senhor tem dito isso, se bem que o senhor vê com bons olhos algumas medidas que seriam positivas. Eu gostaria que o senhor explicasse, situasse agora se o senhor, que votou secretamente para a presidência da República, agora como é que o senhor se situa em relação a esse governo. Como é que o senhor se situa?

Orestes Quércia: É o seguinte: eu, como todo o brasileiro, acho que... pelo menos a maioria, acho que todo mundo não, porque aí é uma questão de política, envolve muita paixão... eu acho que nós temos obrigação de torcer para que o presidente eleito resolva o problema da inflação, o equilíbrio da economia do país, resolva o problema da possibilidade de investimento estrangeiro, que haja mais empregos, melhores perspectivas para o futuro trabalhador. Eu acho que é uma obrigação nossa desejar que um cidadão jovem, como o futuro presidente, eleito de uma forma extraordinária, principalmente aqui em São Paulo, que teve um apoio muito grande, um fenômeno. Eu tenho restrições com relação à postura política do presidente.

Fernando Mitre: Se o senhor puder influir, por exemplo, para que alguns deputados ligados ao senhor votem a favor das medidas provisórias, que certamente ele vai mandar ao congresso, o senhor influiria?

Orestes Quércia: Se eu estiver [estivesse] de acordo com as medidas, influiria. Eu não conheço as medidas. A minha disposição, eu, quando conversei com Bernardo Cabral e com o irmão do presidente [Pedro Collor de Mello], foi no sentido de... eu disse que minha disposição seria a de analisar as medidas e, naquilo que houvesse o entendimento nosso de que eram ações necessárias, nós apoiaríamos.

Hermano Henning: O que o senhor achou da escolha dos ministros? O senhor nomearia, no lugar dele, Zélia Cardoso de Mello como sua "superministra" de economia?

Orestes Quércia: Eu não, porque eu nem conheço. Agora, é uma avaliação difícil de fazer. Eu acho difícil [mexe as mãos de um lado para o outro] avaliar pessoas que você não conhece. Então, eu não conheço. Pelas informações que eu tenho, aparentemente ela não tem experiência e isso eu acho que... Para navegar na economia, é preciso ter experiência. Então, eu tenho muita preocupação em razão da não-experiência dela. Eu acho que a economia, principalmente, eu acho que nós temos que... Formular a economia é uma coisa, você ter que executar a economia é um dia-a-dia extenuante, difícil, complicado, que é preciso experiência, firmeza na pessoa que comanda a economia.

Fernando Mitre: Então concorda com a linha de demitir funcionários públicos, por exemplo, para enxugar a máquina do Estado?

Orestes Quércia: Eu concordo com a linha de se demitir gente ociosa, evidentemente. Eu fiz isso aqui em São Paulo.

Hugo Studart: O senhor apoiaria o presidente Collor de Melo em um novo congelamento de preços [medida tomada no governo Sarney. Os preços e os salários ficaram congelados por um ano. O objetivo era controlar a inflação. Para isso, havia o gatilho salarial, que corrigia os salários na mesma porcentagem quando a inflação chegasse a 20%], numa caçada aos sonegadores e, especialmente, na caçada aos remarcadores de preço nos supermercados? Como houve fiscais do Sarney [cidadãos que davam queixa à polícia informando os produtos que eram taxados com ágio durante o congelamento]?

Orestes Quércia: Eu acho, nesse quadro de hoje, por exemplo, do dia 15 [de março], muito difícil que o governo decrete o congelamento. Muito difícil. Não há condições para isso: uma inflação desordenada, uma coisa, um desequilíbrio na economia, acho que é um risco muito grande. Eu acho que o congelamento não pode ser descartado, e não deve ser descartado, pelo governo na seqüência de medidas que o governo deve tomar. Eu acredito que existem algumas medidas que, pelo que a gente sente na imprensa, que devem ser tomadas, de enxugamento do meio circulante, que eu acho que é um aspecto bom, uma tentativa de diminuir a inflação, e eu sou favorável a qualquer... Os remédios da economia, eles são alguns, cinco, seis ou oito, não sei, né? Tenho [abre os braços] ouvido falar nesses remédios há muitos anos. A questão é o remédio e a dosagem de cada remédio. Isso depende muito da sensibilidade do dia-a-dia do ministro, do presidente. Por isso que eu disse que é muito importante pessoas que tenham experiência em conduzir o processo. Então, a preocupação que eu tenho com a ministra... embora respeite a ministra, tenha um crédito de confiança com ela, tenho muita preocupação. 

Luis Weis: Governador, eu queria continuar nesse diapasão federal, mas ligando com a questão local paulista. O senhor disse que, como quase todos os brasileiros, torce para que o programa econômico do presidente dê certo.  Supondo que este governo dê certo, sobretudo na área econômica, o senhor acha que isso pode ter algum reflexo nas sucessões estaduais? E, tendo reflexo nas sucessões estaduais, principalmente no caso de São Paulo, fica pior ou melhor, para o senhor?

Orestes Quércia: Bom, eu não sei se fica melhor ou pior. Eu acho que isso é uma coisa que o futuro vai dizer. Eu acho que o presidente, tendo sido eleito recentemente, se a coisa for bem no sentido de combater a inflação, ele vai ter influência nas sucessões estaduais, eu acho. No país inteiro.

João Batista Natali: Eu posso colocar as coisas de uma maneira diferente? O senhor aceitaria ou rejeitaria uma coligação do PMDB com o PRN [Partido da Recontrução Nacional] em São Paulo para sua sucessão?

Orestes Quércia: Isso é difícil de avaliar agora [balança a cabeça negativamente]. Difícil [sendo interrompido]. Nós temos um quadro em que nós vamos ter um candidato. O acordo com o PRN [sorri] só significaria uma desigualdade eu falar isso, porque significaria que eles apoiassem os meu candidatos e, se eles quiserem apoiar meus candidatos, eu faço acordo. Está feito. É só dizer para eles que eu estou aceitando. Então, eu acho uma desigualdade falar [sendo interrompido]... quem quiser apoiar o nosso candidato a governador e a vice, eu aceito. Então, está feito o acordo. Se é esse o acordo...

Luis Weis: Mas eu não vejo a questão no plano de um acordo partidário, eu vejo a questão do nome do PMDB, da marca de nascença que esse partido tem como oposição. Há um governo que pode dar certo. Se não experiência política, pelo menos um bom senso indicaria que a chance de um candidato identificado com o logotipo PMDB seriam menores nesta eleição do que... ou de candidato de, rasgadamente,de posições muito antagônicas com as do presidente, como seria o caso de um candidato de uma coligação PT [Partido dos Trabalhadores] -PDT [Partido Democrático Trabalhista], ou o candidato, digamos, na área do PDS [Partido Democrático Social]. O senhor não acha?

Orestes Quércia: Olha, eu acredito que a influência do partido nessas eleições não vai ser uma influência... embora sempre haja  influência do partido, não vai ser algo decisivo. Eu acho que até, nesse sentido, nós vamos ser prejudicados, porque há muita restrição ainda contra o PMDB, mas eu acho que, nas circunstâncias de São Paulo, esse prejuízo... nós vamos superar esse prejuízo com condição de ganhar. Então, eu não acredito que alguém, de repente, saia de candidato do PRN e ganhe a eleição porque é do PRN. É preciso ser alguém que tenha condição, que seja aceito pela opinião pública de São Paulo, como acontece em todas as eleições. Então, eu não acredito que os partidos, embora nós devamos deixar aos partidos influências nas eleições [mexe as mãos de um lado para o outro], não acredito que, nessas eleições, embora eu ache que a gente possa sofrer algum prejuízo, não acredito que vai ser coisa decisiva [todos falam ao mesmo tempo]. Entre nomes, o esquema de São Paulo. Acredito que o meu apoio vai ser muito importante, essas coisas todas.

Hermano Henning: O que o senhor vai fazer [todos falam ao mesmo tempo]? Como objetivo político, o que o senhor vislumbra aí?

Orestes Quércia: Eu tenho sido... hoje não porque as pessoas sabem que eu vou ficar até o final do governo... pressionado para ser candidato a senador ou deputado federal. Eu vou ficar até o final do governo. E, depois, evidente, porque eu termino o mandato em março, se Deus quiser, em março do ano que vem [1991]. 15 de março. Então, eu vou ter pelo menos dois anos sem eleição, porque as primeiras eleições serão municipais. Então, eu vou ficar dois anos sem um mandato.

Hermano Henning: O senhor não acha ruim isso?

Orestes Quércia: É. Normalmente as pessoas... ainda mais os políticos mais antigos, sempre quando ouço políticos mais antigos, eles: "Ah, não pode ficar sem mandato". Mas, sabe, eu não acho bem isso, não. Você veja o exemplo do Brizola [Leonel Brizola (1922-2004), foi governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro]. O Brizola não tem mandato e tudo bem. [todos falam ao mesmo tempo] O Maluf também...

Jorge Escosteguy: Governador, só um pouquinho, para completar a roda, o Márcio Chaer está querendo fazer uma pergunta há algum tempo, a gente completa a roda e voltamos no ping-pong, por favor.

Márcio Chaer: Vou até aproveitar e fazer duas logo [risos].  Porque eu não sei se vou conseguir falar outra vez. Primeiro, governador, por que o senhor não saiu candidato à presidência da República? Segundo...

Orestes Quércia: [interrompendo] Já te falei isso aí.

Márcio Chaer: Já, mas é uma coisa que sempre fica, né, governador? O senhor estava fazendo uma análise bastante precisa aí sobre o que o país está precisando em termos de economia e essa é uma pergunta que sempre volta. A segunda é a seguinte: o senhor tem na Assembléia Legislativa o apoio do PFL [Partido da Frente Liberal, tornou-se Democratas em 2007], o apoio do PTB [Partido Trabalhista Brasileiro]. Nas prefeituras do estado o senhor tem prefeitos ligados ao senhor de quase todos os partidos: do PDS, do PRN, não é? O prestígio do senhor, nas pesquisas que existem de três meses atrás, no [instituto de pesquisa] Gallup dão uma faixa de quase 60% de aprovação ao senhor, enquanto que o PMDB tem 19% ou menos que isso. O senhor aboliu o PMDB? O senhor aboliu partidos em São Paulo? O senhor teria criado o quercismo?

Orestes Quércia: Não. Esse quadro não é só São Paulo, não é? Eu sou um político que acredita que os partidos são fundamentais no processo democrático. Se, às vezes, não há influência decisiva nos partidos, como não houve na eleição passada, por exemplo, de presidente, eu lamento [coloca a mão no queixo]. Mas é o processo político que é assim. O ideal é que o processo político seja feito através de partido. Então, eu tenho muita lealdade com o partido, sou um soldado do partido, acho que não foi abolido o partido. Acho que é importante que todos nós tenhamos uma atuação voltados com esse objetivo, uma democracia com partidos políticos. Com relação à questão de candidatura, eu nunca fui candidato a presidente. Houve uma tendência muito grande, na base partidária, no sentido de que eu fosse candidato, uma má-vontade da cúpula, mas uma tendência muito grande da base partidária. O fato é que... chegou um momento em que até eu achei que ia acabar sendo candidato, porque havia uma pressão tão grande.

Márcio Chaer: E que momento foi esse?

Orestes Quércia: Às vésperas da... Achava que... né? Mas não porque eu fosse candidato.

Luis Weiss: Antes de Dona Mora [Ida de Almeida Guimarães, esposa de Ulysses Guimarães] reunir os governadores.

Hermano Henning: O senhor nunca confessou isso, hein?

Orestes Quércia: Não, já disse.

Hermano Henning: O senhor não acha que um homem público não deve ser mais aberto, confessar, dizer as coisas com mais franqueza?

Orestes Quércia: Estou acabando de dizer, mas eu acho. Acho. Estou de acordo [balançando a cabeça em sinal de concordância].

Hermano Henning: O senhor, por exemplo, evitou dizer que votou no Collor ou deixou de votar. O senhor não acha que o homem público deveria ser mais transparente?

Orestes Quércia: Eu acho que o homem público deve ser transparente. É que o voto é secreto! Por algum motivo, o voto é secreto. Não é por brincadeira. Acho que é alguma coisa.

Hermano Henning: Mas em confessar, confessar a vontade de ser candidato : "Não, eu quero ser presidente da República, ou não, eu não quero ser presidente da República" [todos falam ao mesmo tempo]...

Orestes Quércia: Eu não queria! Eu estou acabando de dizer claramente, Hermano, que eu nunca fui candidato. Evidentemente, se eu aspiro ser candidato a presidente, quem sabe? Mas que queria terminar meu mandato de governador.

Hermano Henning: Foi isso que o senhor deixou claro?

Orestes Quércia: Foi. É. Eu tinha um programa de governo que estava sendo realizado e ia indo muito bem, e vai indo muito bem. Então, eu tinha o meu... eu lutei muito para ser governador do estado. Então, de repente, eu teria que parar o processo da administração quase que na metade, na metade, porque eu teria que sair dois anos antes. Eu iria sair do governo seis meses antes das eleições. Então, havia muitos fatores. Analisei a questão, fui procurado, houve insistência de muita gente, e decidi não ser candidato. Se eu quisesse ser candidato, eu teria sido candidato.

Hermano Henning: O senhor acha que o governador da Bahia fez mal, Waldir Pires , em deixar o governo?

Orestes Quércia: A situação dele era muito ruim, viu? Ele costuma dizer que saiu, que foi um sacrifício, mas estava com muita dificuldade em continuar no governo [sorri e é interrompido]. Acho que foi uma vantagem para ele sair do governo. Essa é a verdade. Se ninguém nunca disse isso, eu vou dizer, porque eu estive na Bahia, na época, e a situação era péssima. Então, a verdade é que ele estava precisando arrumar um jeito de sair de lá.

Fernando Mitre: O PMDB, na verdade, é um partido problemático, é uma sigla quase maldita, digamos assim. O senhor dizia, a pouco, que acredita nos partidos, que não há política sem partido. Realmente a política saudável como entendemos precisa de partido... e o Brasil, infelizmente, nunca conseguiu isso. A história partidária brasileira é uma tragédia. Mas, agora, embora essa eleição tenda a se encaminhar para nomes, e não para partidos, não se pode negar que o partido vai ter alguma força, e o PMDB pode ter até uma força negativa. Certamente, é em cima disso que o senhor tem falado em perestroika. O que significa essa perestroika no PMDB? O senhor quer fazer uma perestroika lá? O que significa isso? Modernizar o partido, atualizar o partido? O senhor tem usado muito essas palavras por aí. O que significa isso?

Orestes Quércia: É, eu usei muito quando, depois das eleições, eu entendia que o ideal para o PMDB era que houvesse uma renúncia de todo o diretório nacional e houvesse uma... se abrisse a janela, refrescasse tudo, ventilasse tudo, mudasse tudo. Porque o PMDB, na verdade, como um todo, ele falhou. Entende? Falhou. Porque ele não teve competência de levar... quer dizer, não foi só isso. Porque houve a fatalidade do falecimento do Tancredo [Tancredo de Almeida Neves (1910-1985), presidente eleito pelo Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985. Não tomou posse porque morreu vítima de infecção generalizada em 21 de abril do mesmo ano] e a fatalidade da ascensão do Sarney [que era o vice-presidente de Tancredo Neves]. Então, esse foi um problema sério que o PMDB enfrentou. Além disso, as circunstâncias todas que nós conhecemos, o governo Sarney, o processo da interferência do PMDB, através do Ulysses Guimarães, na escolha de ministros...

Fernando Mitre: Até na eleição com o Plano Cruzado [plano econômico lançado pelo governo Sarney, através do ministro Dílson Funaro. O Plano tentou controlar a inflação congelando preços e mudou a moeda do Brasil de cruzeiro para cruzado e, em seguida, para cruzado novo]. No dia seguinte...[sendo interrompido]

Hermano Henning: O senhor achou um erro cinco anos [proposta de governo em que o presidente eleito deveria governar por um mandato de 5 anos, não 4]? O senhor acha que, se ele tivesse ficado quatro anos [todos falam ao mesmo tempo] no exercício da presidência da República...

Orestes Quércia: Teria sido melhor.

Hermano Henning: O senhor se arrepende de ter apoiado os cinco anos inicialmente?

Orestes Quércia: Eu não apoiei os cinco anos, viu? Simplesmente...

Hermano Henning: Aquela reunião de governadores, os governadores empenhados...

Orestes Quércia: É, houve uma manifestação de todos os governadores no sentido de se antecipar para um ano o mandato do Sarney, o que significava cinco anos. Não houve uma campanha nossa. Eu, pelo menos, não pedi para ninguém votar por cinco anos.

Hermano Henning: O senhor acha que, se ele tivesse ficado quatro anos, a situação econômica do país, a inflação poderia não ter chegado aonde chegou?

Orestes Quércia: Teria sido diferente. Até para ele seria melhor, eu acredito. Para o Sarney.

Hermano Henning: Sairia melhor.

Fernando Mitre: Mas o senhor compartilhou, aí, dos maus momentos do PMDB? Certamente preparando o que o senhor vai dizer a respeito da perestroika ou da modernização do partido, o que seria? Por exemplo, esse é um dos temas.

Orestes Quércia: É. Quando eu propus que houvesse a renúncia coletiva do PMDB, evidentemente que seria também substituir o Ulysses. Mas isso não era possível, porque precisava de haver renúncia de todo mundo. Então, aí que nós falamos de perestroika, usamos isso numa... se eu não me engano, numa entrevista com o Márcio, que saiu no Jornal do Brasil... perestroika, uma mobilização. Agora, isso nós vamos ter que fazer ao longo dessa campanha de governador. Nós estamos em um processo...[sendo interrompido]

José Márcio Mendonça: [interrompendo] Governador, o senhor é candidato à presidência do PMDB?

Orestes Quércia: Não. Nós estamos em um processo importante, porque cada estado está fazendo uma mobilização pelas candidaturas a governador. Em seguida à eleição de governadores, nós vamos ter que fazer uma modificação no diretório e [que], inclusive, vai coincidir com o mandato do...[sendo interrompido]

Hugo Studart: [interrompendo] O deputado Ulysses Guimarães... Refrescar o partido, rejuvenescer o partido? O senhor acha que, após a eleição para governador, em novembro próximo [1991], é o momento de renovar o partido? O deputado Ulysses Guimarães, por exemplo, sair?

Orestes Quércia: Acho.

Hugo Studart: O senhor é candidato a substituí-lo... ser, digamos, o Gorbatchov [Mikhail Gorbatchov. Foi o último secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, de 1985 a 1991. Contribiu para o fim da Guerra Fria] do PMDB?

Orestes Quércia: Não, de forma nenhuma. Quem sou eu para me comparar com o Gorbatchov com toda a sensibilidade que ele demonstrou na abertura [processo de democratização que levou o Partido Comunista a perder poder e acabou dando início ao colapso da União Soviética] ....

Carlos Tramontina: Mas o senhor precisaria de um cargo importante como esse para, entre outros motivos, para se manter no noticiário, para comandar o partido no momento em que o senhor deixar o governo do estado e preparar a campanha do senhor para a presidência da República.

Orestes Quércia: Vou assinalar essa sua opinião aí [risos].

Jorge Escosteguy: Luis Weis, por favor.

Carlos Tramontina: Mas o senhor não disse se concorda ou não.

Orestes Quércia: Eu acho que sim. Eu não sou candidato, né? Agora, tudo bem, admito, como você: se eu, por acaso, for o presidente do partido é bom. Não significa dizer que eu vou ser candidato.

Luis Weis: O senhor deseja, né?

Orestes Quércia: Talvez.

Luis Weis: Governador, eu queria falar um pouco de administração. O seu governo se distinguiu, entre algumas coisas, algumas realizações... pela de haver elevado, substancialmente, a arrecadação, né?

Orestes Quércia: Não.

Luis Weiss: Não? Então mais um motivo para eu lhe perguntar com é que o governo convive, o estado de São Paulo convive, com quebras de arrecadação que decorrem do fato de ações executivas, cobranças executivas por parte do estado não poderem ser levadas à cabo em benefício dos devedores pelo fato de o estado estar carente de colaboradores?

Orestes Quércia: Em benefício dos...

Luis Weis: Dos devedores, dos acionados pelo estado, pelo fato de haver um déficit na Procuradoria Geral do estado. E eu sei que, no finalzinho do ano passado, houve um concurso aí para procuradores. E tamanho é o déficit, que 160, 170, algo nessa ordem de grandeza... 160 cadastros foram aprovados e até agora não houve nomeação. Por que o senhor não nomeia esses procuradores?

Orestes Quércia: Olha, sinceramente, eu não sei, viu? Aí é uma questão... Não chegou a mim ainda para nomear, isso deve ter sido feito o concurso na Secretaria da Justiça. Essa máquina burocrática é um negócio de louco. Pode ser, não sei, não conheço essa história. Mas eu tenho nomeado, eu nomeei recentemente um grupo grande de procuradores. Nomeados em um concurso, se eu não me engano

Luis Weis: Não, o último concurso que houve, a última leva, é essa que eu me refiro.

Jorge Escosteguy: Essa é a mesma pergunta que faz, governador, o telespectador Wilson Guimarães, da Aclimação aqui em São Paulo [todos falam ao mesmo tempo].

Orestes Quércia: Já vejo amanhã isso, viu? Eu vou ver se está acontecendo alguma coisa e, com o máximo de brevidade possível ,vou verificar o que aconteceu e, se for o caso, pode...[sendo interrompido]

Hermano Henning: [interrompendo] Governador, o senhor é acusado, quase que sempre, constantemente, de gastar muito em publicidade [sendo interrompido]... inclusive numa cifra de US$200 milhões até agora gastos em seu governo. Por quê? Por que o senhor gasta tanto?

Orestes Quércia: Você veja, eu ainda anteontem via na Folha de S. Paulo: "gasto em publicidade", e daí abro as páginas, assim, vê lá uma página inteira de anúncio de edital.

Hermano Henning: A última informação é que o governo federal... o novo governo vai copiar o seu estilo de publicidade.

Orestes Quércia: Então, só para você saber: eu me lembro que, no ano passado, quando as pessoas diziam: "Olha, um gasto muito grande no memorial [Memorial da América Latina, localizado no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Abriga exposições da cultura latino-americana e também apresentações de teatro e de orquestras]". Então eu dei um exemplo, acho que até no programa aqui eu dou um exemplo. O memorial, se você levasse em conta 50 milhões de dólares, parecia uma importância enorme. Muito bem, significa 5% de uma folha mensal de salário do estado. Então, para o estado de São Paulo, a obra do memorial, embora você, pegando isoladamente... parecia um grande vulto, o recurso não era. Publicidade... eu não gasto nem mais nem menos do que os outros gastaram. E publicidade, você pega os editais, que você tem enchido de editais, livros que você precisa... Então tudo isso está na conta publicidade.

Hermano Henning: Propaganda também, né?

Orestes Quércia: Propaganda também. Então, propaganda é preciso fazer. Você sabe que eu não gasto nem mais nem menos do que os outros governadores. Eu gasto menos que o Maluf. E... Eu não tenho essa comparação agora, mas eu me lembro que, no ano passado ou ano retrasado, eu mandei levantar... então, era menos que o governo anterior, que é do Montoro [André Franco Montoro (1916 - 1999)]. É um volume que, você olha assim, isoladamente, parece uma coisa, mas não é.

Hermano Henning: Televisão, por exemplo, não publica editais, né? E o senhor gasta muito em televisão.

Orestes Quércia: Não acho que seja muito. É o que todo mundo sempre gastou. É preciso divulgar as obras do governo porque, você veja, a imprensa, de maneira geral, divulga as coisas negativas. E a imprensa procura até, pelas razões que eu também não sei, até acho que tudo bem... se você faz uma obra enorme, uma estrada, uma duplicação, dificilmente sai no noticiário. Então, é preciso fazer a divulgação do governo, que não é mais do que os outros governos. Possivelmente seja até menos. Então, parece que é uma importância grande, mas não é, entende? É uma importância até pequena. E esse item de publicidade envolve todas as publicidades do governo, todos os editais, todas as manifestações públicas do governo, e é preciso que seja assim. Toda empresa tem que ser divulgada, todo o governo tem que ser divulgado, faz parte da natureza das coisas. E o governo gasta pouco, não gasta muito.

Carlos Tramontina: Tentando transformar essa questão da publicidade em números, os extratos de contrato publicados no Diário Oficial nos dias 20 e 24 de fevereiro, dois, três de março, falam dos contratos com algumas empresas que vão fazer publicidade para o governo. Esses contratos são, no valor de hoje, de NCz$357 milhões. Transformados em dólares, são US$12,4 milhões. Hoje, a companhia habitacional [Cohab] de São Paulo constrói uma casa, no regime de mutirão, por NCz$250 mil. Quer dizer, esse valor da publicidade que, segundo o senhor, inclui editais e outros tipos de produtos, seria suficiente para se construir 1400 casas populares, que é um problema seriíssimo.

Orestes Quércia: Nós vamos construir 200 mil, muito mais do que 1400.

Carlos Tramontina: Só que até agora não construiu.

Orestes Quércia: Está construindo. Casa é um tijolo em cima do outro, não é conversa fiada, viu?

Carlos Tramontina: [todos falam juntos] Boa parte das casas que o senhor entregou ao longo do governo do senhor tiveram seu início no governo Montoro.

Orestes Quércia: Uma afirmação que não corresponde à realidade, embora você seja o jornalista... não tem essa informação direito.

Carlos Tramontina: Informações da Secretaria de Habitação do governo Quércia.

Orestes Quércia: O fato é que nós estamos fazendo. A companhia de habitação, no nosso governo, já entregou 55 mil casas. Em 23 anos de existência, entregou 32 mil. No nosso governo, entregou 55 [mil]. E nós vamos definir mais 200 mil nesse processo desse ano, já vamos nesse... talvez dentro de 10 dias, anunciar convênios com prefeituras e, se não me engano... o total, você lembra [pergunta para um dos convidados da platéia]?

[...] : umas 25 mil.

Orestes Quércia: 25 mil nesses próximos dias. E há um programa de fazer as 200 mil casas nesse processo de termos aumentado 1% do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços], só nesse ano. Entende? É uma idéia que deu resultado, alguns outros estados estão tentando fazer esse processo. Essas comparações que você fez com a propaganda, tudo bem... O Memorial... você também faria muitas casas com o memorial. Mas você faz o Memorial e faz as casas. Não é conversa fiada. Então, eu estou fazendo as casas. Eu diria só esse número para você: o CDH [referindo-se à CDHU, Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do estado de São Paulo, que é responsável pela política habitacional paulista], que é uma empresa do governo do estado, em 23 anos fez 32 mil casas. No nosso governo fez já 55 mil. Vai fazer mais de 200 mil.

José Márcio Mendonça: A sua meta de campanha era 400 mil casas.

Orestes Quércia: Não de campanha. Depois da eleição, na campanha eu não dei número nenhum, eu fiz um plano de 400 mil casas, fiz convênios, dois convênios com festa e tudo, inclusive meu velho amigo Marcos Freire [(1931 - 1987), foi ministro da Reforma Agrária], que era presidente da Caixa Econômica Federal... fizemos lá um belo convênio, festejei o Marcos Freire e tal e não veio nenhum tostão do governo federal. Aliás, o governo federal não aplicou um tostão durante o meu governo em casas populares em São Paulo. O planejamento nosso falhou... de 400 mil porque o governo federal, que é quem tem a responsabilidade, ou deveria ter, de fazer casas populares, como sempre ocorreu no Brasil e ocorre no mundo inteiro, falhou terrivelmente. Mas, mesmo assim, para compensar essa falha, nós aumentamos o imposto de 1% do ICMS por um ano. Pela primeira vez, um governo estadual está fazendo diretamente um volume enorme de casas populares para compensar a falta do governo federal.

José Márcio Mendonça: Quer dizer, governador, só uma coisa, que é questão de prioridade de administração pública: o senhor sabia que não teria, então, o dinheiro do governo federal para construir essas 400 mil casas?

Orestes Quércia: Como eu sabia que não teria? Eu assinei um convênio com o pessoal do governo federal. Eles assinaram. Como é que eu sabia que não teria, meu Deus do céu?

José Márcio Mendonça: Mas depois o senhor viu que o dinheiro não vinha.

Orestes Quércia: Mas depois que não veio é que eu vi que não vinha!

José Márcio Mendonça: O senhor tinha o dinheiro para construir ou algumas casas ou fazer o memorial, e a sua prioridade foi o memorial?

Orestes Quércia: Aí que está, você veja, o que é a pouca vontade com relação ao raciocínio, né? Primeiro, eu não sabia que o governo federal não ia cumprir. Não sou adivinho! Então, eu assinei um convênio com o governo federal, o Marcos Freire. Depois de o Marcos Freire saiu da Caixa, eu assinei com outro, que até estou esquecendo o nome dele, outra vez. Festejei etc e tal e nada. Então houve falha. Eu não sou obrigado a adivinhar que o sujeito está fazendo um contato comigo e que vai falhar! O que eu vou fazer? Para compensar essa falha do governo federal, é que nós introduzimos essa modificação no ICMS. A Assembléia Legislativa, com muita sensibilidade, aprovou o projeto, e nós vamos fazer 200 mil casas, com 50, 250 mil. Não é as 400 que eu pensei no começo do meu governo, que eu não consegui fazer porque o governo federal falhou. E falhou porque assinou um convênio e não cumpriu [faz sinal negativo com os dedos].

Jorge Escosteguy: Governador, nós temos aqui várias perguntas de telespectadores, principalmente sobre trabalho do funcionalismo, e nós vamos fazê-las em seguida, logo após o intervalo. O Roda Viva volta daqui a pouco, entrevistando hoje o governador de São Paulo, Orestes Quércia. Até lá.

[intervalo]

Jorge Escosteguy: Voltamos com o Roda Viva, que hoje está entrevistando o governador de São Paulo, Orestes Quércia. Governador, tenho aqui várias perguntas de telespectadores, eu vou aqui enumerá-los: Jorge Simão, Vila Prudente; Fausto Luz Faraco, Ipiranga; Elaine Garcia Rbeiro, Jabaquara; Hilda Piaulino, Santo Amaro; Milton Goulart de Oliveira, Piqueri; Olga Maria Vidigal, Sapotamba; Antônio Alves, São José do Rio Preto; Cláudio Muniz, de Campinas; Maria Lúcia Oliveira, do Aeroporto; Luís Roberto de Carvalho, de Santos e Sérgio, do Ipiranga. Todos eles dizem que o senhor paga muito mal o funcionalismo público do estado. Falam de professores, trabalhadores da saúde, fiscais de renda etc. Eles perguntam se o senhor tem algum aumento para dar para eles ou o que vai ser deles como funcionários do estado.

Orestes Quércia: Nós temos dado, todos os meses, o reajuste de acordo com a inflação. O reajuste no estado é mensal. É que, num processo de inflação tão grande quanto esse, quer dizer, um mês de espera para o reajuste, evidentemente, gera prejuízo. Infelizmente, a economia é aquela história da bicicleta [gira as mãos]: você pedala, a roda vai andando, se você parar de pedalar, pára tudo. Então, a inflação, ela faz com que o estado receba no mês seguinte o resultado do aumento da inflação. Então, o estado paga no mês seguinte o salário para o servidor. Eu sei que o servidor não tem grandes salários. Em alguns setores tem alguma coisa melhor, entende? E nós temos dado 75%, aliás, o ano passado deu quase 80%, de toda arrecadação do estado para o item servidores. Então há uma... a Constituição Federal estabelece 60%, que o estado deve estabelecer 60% para o nível de salário dos seus servidores. Aqui em São Paulo nós estamos pagando entre 75% e 80% para os servidores.

Jorge Escosteguy: Tem muitos servidores em São Paulo?

Orestes Quércia: Não tem. Não tem, não, viu? Nós cortamos, fizemos uma redução grande também no começo do governo, temos uma limitação muito grande para contratar. Na universidade... nós estabelecemos  a independência das universidades. Hoje, as universidades de São Paulo são autônomas em todos os sentidos, quer dizer, apenas no que diz respeito à escolha dos reitores é que eles... eles entenderam que seria melhor que o governador continuasse a nomear o reitor. Porque, até com relação à indicação de reitores, eu estaria disposto a dar total autonomia para as universidades do estado. Então, nós temos, como eu disse, 75% para os servidores. E tem dado muito mais do que 75%. Temos dado rigorosamente, nos últimos meses, com essas inflações enormes, nós temos dado  exatamente a inflação cada mês de reajuste. Eu sei que, como eu disse e vou repetir, o servidor público não tem salário grande, mas é o que o estado pode pagar.

Carlos Tramontina: O que o senhor faria se o senhor ganhasse 4200 cruzados por mês de salário?

Orestes Quércia: Bom, eu viveria de acordo com o que vivem as pessoas que... Se o destino tivesse me levado a ganhar 4200 cruzados por mês, eu teria a vida igual às pessoas que ganham Cz$4.200,00, isto é, uma vida sofrida, uma vida desesperada, uma vida de muita insegurança.

Carlos Tramontina: O senhor não acha um salário desses para um professor, um salário inicial para um professor que trabalha, um salário para um professor com formação em segundo grau, um professor que trabalha 20 horas por semana, um salário muito, mas muito baixo? Um salário indigno até para as responsabilidades que esse professor vai ter?

Orestes Quércia: Acho [sendo interrompido]. Me permita só... [concluir] É um salário para um professor que dá 16 horas de aula por semana. Não é um professor que dá todo o horário de 40 horas. Esse salário que você se referiu existe para o professor que dá 16 horas de aula por semana.

Carlos Tramontina: Segundo as entidades dos professores, 20 horas por semana.

 Orestes Quércia: Tudo bem. 20 horas, concordo. Porque aí tem a história das 4 horas para corrigir provas e tal, mas de aulas mesmo são 16 horas.

Fernando Mitre: Haveria também necessidade de tempo para o professor se aperfeiçoar, estudar  etc. O senhor não acha que esta área deveria ser uma prioridade, não, governador?

Orestes Quércia: Acho não. Ela tem que ser.

Fernando Mitre: E por que professor continua ganhando 4200 cruzados?

Orestes Quércia: Bom, não é bem assim, viu, ganhar 4200 cruzados... Eu conheço muitos que ganham 25 mil, 30 mil [cruzados]. É uma minoria, é uma minoria pautando no... não sei te dizer se é minoria que ganha 4200. São as pessoas que dão 20 horas, que na verdade são 16 horas por semana. Quem trabalha 40 horas ganha muito mais. No mínimo, o dobro. Mas é pouco.

Hermano Henning: O que é preciso um professor fazer para ganhar 25 mil cruzados?

Orestes Quércia: 25 mil cruzados? Ter tempo de serviço. Eu não quero ficar aqui...[sendo interrompido]

Luis Weis: [interrompendo] Sejam 16 horas, 20 horas, hoje, o fato, governador, é que, no estado de São Paulo, três de cada quatro estudantes que conseguem entrar na Universidade de São Paulo, cujo ex-reitor é seu atual secretário da Educação [José Goldemberg (1928- ), foi secretário da Ciência e Tecnologia, ministro da Educação e secretário do Meio Ambiente do governo do estado de São Paulo]... três em cada quatro estudantes, eu repito, vieram da escola particular, ou seja, o investimento que o estado está fazendo com educação não satisfaz. Os professores se queixam de ganhar uma miséria. E não resolve a demanda de acesso ao ensino superior da grande massa da população.

Orestes Quércia: [ajeita-se na cadeira] Essa questão educacional, eu diria para vocês que é o grande problema do Brasil. Então, evidentemente, eu não vou ficar aqui achando que o professor ganha bem, porque eu sei que não ganha. Eu sei que não ganha. É um aspecto só da gravidade da situação da escola pública no Brasil. Eu mesmo [aponta para si], quando estudei na escola pública, a escola era melhor. Muito melhor. Hoje, houve um processo de deterio... como é que é [que se fala]... deterioração

Luis Weis: Os alunos da escola pública não sabem soletrar essa palavra.

Orestes Quércia: Não, sabem sim [sorri]. É um equívoco aqui de quem está cansado... que ficou a segunda corrida, aí, que vocês não imaginam. O fato, é que há efetivamente uma deteriora... Como é que fala? [risos]

Carlos Tramontina: Tá ficando mal, tá ficando pior. É isso o que o senhor queria dizer?

Orestes Quércia: Vocês já entenderam o que eu queria dizer [ri].

Fernando Mitre: Mas, governador, o que pode ser feito? Podia ter sido ou que pode ser feito ainda? O que é que o seu candidato vai propor?

Orestes Quércia: Eu gostaria, se o senhor permitisse, de fazer uma colocação. Eu acho muito importante a pergunta que o Luis colocou. Nós temos um processo difícil da educação no Brasil. Ainda há poucos dias, estava lendo lá aquele Kennedy [John Pendleton Kennedy], um escritor americano que fez uma entrevista na Veja. Eu não li o livro ainda, que faz sucesso, em que ele dizia que, hoje, na Coréia, por exemplo, ou no Japão, um garoto de 16 anos sabe mais matemática do que um garoto de 20 anos na universidade e nos Estados Unidos. Porque os coreanos investiram maciçamente na escola pública. O grande problema nosso é escola. Então, no começo do governo, nós fizemos muitas coisas para que, aqui em São Paulo nós tivéssemos uma minoria no nível da escola pública. A jornada única nas escolas... Então, nós tínhamos 1 milhão e 300 mil crianças que, ao invés de ficar 3 horas e meia na escola, ficam 6 horas. Melhoramos o nível de alimentação. Ainda não é o ideal, então, de vez em quando...[sendo interrompido]

Hermano Henning: [interrompendo] Não chega a ser um Ciep [Centros Integrados de Educação Pública, escolas que tinham uma proposta de horário integral, com alimentação, esporte, ensino e atividades paradidáticas, como leitura em biblioteca. Ficaram conhecidos como Brizolões, pois foram criados durante o governo de Leonel Brizola (1922-2004), no Rio de Janeiro, mas foram concebidos por pelo antropólogo, escritor e político brasileiro Darcy Ribeiro (1922-1997)].

 Orestes Quércia: Não chega mesmo, porque o Ciep também é uma minoria, não é? [sendo interrompido] Então, nós atendemos todas as crianças, a rede da escola inteira. O Ciep já atendeu uma parte das crianças. Então nós atendemos toda uma rede escolar. Crianças de primeiro e segundo ano ficam, ao invés de 3 horas e meia, 6 horas na escola. Melhoramos o alimento. Ainda não é o ideal, mas melhoramos. Nós estamos com um projeto, aprovado agora pelo Banco Mundial, que vai trazer US$ 200 milhões para que nós possamos investir esses recursos na jornada única nas escolas. E temos um trabalho grande, no sentido de melhorar o nível de educação em São Paulo. Evidente que isso não se faz em um governo. Mas eu acho que é a grande meta dos governos no Brasil. Nós temos hoje, isso que o Luis falou, que a escola pública hoje está completamente desarticulada. Então, uma criança, um jovem que entra hoje na universidade, ele fez escola particular. Fez escola particular. E a escola pública não dá condições ao jovem de entrar na universidade. Essa é a verdade. Então houve uma inversão. Hoje o rico é que entra na universidade. E o pobre não tem condições. O pobre tem que entrar em uma universidade paga, que são as escolas que têm uma qualidade de ensino discutível, pelo menos grande parte delas.

Hermano Henning: Governador, nós estamos, aí, a três dias do novo governo, não é? A história do país está mudando. Depois de amanhã o Brasil está respirando outra vez. O senhor tem uma receita, em termos nacionais, para atacar esse setor, o setor de educação, por exemplo? O senhor acha que o novo ministro é uma pessoa capaz, o senador Chiarelli [Carlos Alberto Gomes Chiarelli (1940- ), ministro da Educação durante o governo de Fernando Collor de Mello]?

Orestes Quércia: Eu não o conheço... conheço mais ou menos o senador Chiarelli. Acho que não é uma pessoa, pelo menos desse ramo, não sei se ele é professor ou não, da administração da educação...

Hermano Henning: Ele é professor universitário.

Orestes Quércia: Eu não sei. O que eu acho é que é preciso fazer algo de revolucionário no Brasil na questão pela escola pública. É preciso fazer.

João Batista Natali: Governador, o senhor está falando como se nunca tivesse exercido o poder, me perdoe, eu me sinto um pouquinho chocado.

Orestes Quércia: Não fique chocado, não, porque eu estou fazendo tudo o que eu posso. Não fica chocado, não. Eu não quero que você fique aí...[sendo interrompido]

João Batista Natali: [interrompendo] Me perdoe a intervenção, mas agora há pouco eu estava me lembrando do seguinte dado: seu ex-secretário da Fazenda dizia, bastante orgulhoso, que o senhor havia investido no ano passado o equivalente a US$ 3 bilhões dentro do governo do estado de São Paulo, ou seja, aquilo que São Paulo gastou depois de ter pagado seus funcionários. Então, eu fico pensando: se eu tivesse 3 bilhões de dólares para funcionário o quanto eu teria melhorado o ensino, sobretudo tudo quanto o senhor mencionou, essa comparação que o Kennedy que fez na entrevista à Veja entre o grau de aprendizado de matemática nas universidades norte-americanas, bem inferior aquele das escolas coreanas ou de Taiwan ou assim por diante. Então, o senhor tem esse instrumento nas mãos. E é verdade que os professores estão ganhando mal. É verdade que o processo de deterioração das escolas públicas prosseguiu no seu governo. Não houve uma estancada nisso tudo. O senhor só tem um ano de mandato. Será que há uma chance, uma oportunidade...

Carlos Tramontina: Será que dá tempo? 

Orestes Quércia: Existe tempo, sim. O que eu queria dizer pra você...[sendo interrompido]

Jorge Escosteguy: [interrompendo] Governador, para complementar, mais três telespectadores se reportam a essa questão da educação: a Helena Silveira, de Bauru; Gilberto Debussy, aqui de São Paulo e Carlos Richard, de Presidente Prudente.

Orestes Quércia: Então, eu acho o seguinte: o problema da escola pública deteriorada.. agora falei certo. Agora vai... é muito sério. É uma questão, eu diria... eu, no começo do governo, quando eu coloquei lá o Chopin [Chopin Tavares de Lima (1926 - 2007)]... eu me lembro de quando ele trouxe para mim a proposta da jornada única. Então, a jornada única era uma tentativa que... há muitos anos, os educadores, as entidades de professores, todo mundo queria fazer a jornada única. E não se fazia, porque era um volume... você imagina: crianças, ao invés de 3 horas e meia, 6 horas na escola e outras, a questão de alimentação etc. Então, eu me lembro que eu saí da sala ali com o Chopin, os assessores dele, fui para outra sala. Ainda pensei assim: "Se é uma coisa que eu vou fazer é isso, custe o que custar". E fiz. Implantei a jornada única. É uma tentativa. Então, eu tenho feito um esforço grande na construção escolar, um esforço grande... Você, por exemplo, veja: nós criamos, aqui em São Paulo, os Cefans, que são as escolas normais. Moças e moços que estudam para ser professor. E nós estamos pagando um salário mínimo para cada um desses alunos. Eles estudam o dia todo. Nós estamos querendo criar professores em condições, melhores condições de dar aula. Então, criamos os Cefans. As crianças, os alunos ficam lá o dia inteiro, ganham um salário mínimo [faz o gesto com o dedo] para estudar. Tem a obrigação de ser professores do estado. Se eles não forem professores do estado, tem que repor para os cofres essa importância que o estado gastou com elas. Nós temos 46 escolas em todo o estado de São Paulo. Escolas normais são os Cefam's [Centros de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério], que é uma tentativa, um empenho para que possamos melhorar mais professores. E aí um deles vai se formar durante o meu governo. Porque a primeira turma, se eu não me engano, se forma em 1991. Entende? Então, mas é um empenho que nós estamos fazendo para médio prazo.

 Hugo Studart: Se o senhor  fosse o presidente da República ou pudesse se reeleger governador por mais quatro anos, o que o senhor faria para fazer essa revolução no ensino público, como o senhor mesmo falou?

Orestes Quércia: Olha, você veja, entre os aspectos negativos da escola pública, um aspecto que me parece muito negativo é algo relativo a um estatuto dos [...] de magistério. Hoje em dia, você sabe que o diretor não tem comando na escola. O diretor não tem comando na escola. Hoje o professor tem certa autonomia, que é uma legislação que foi feita no governo passado [de Franco Montoro], que os professores tem uma... você não pode mexer no salário de um professor, porque você movimenta toda a máquina [eleva a mão direita]. Você veja: a greve do ano passado. Os professores fizeram uma greve que durou 90 dias e eles reivindicavam, o que eles reivindicavam, por acaso, se o estado fosse pagar, significaria duas vezes e meia o que o estado arrecada. Então, era um pedido impossível. Mas eles ficaram naquele pedido até o final. E, além disso, tem outras questões em que você, por exemplo, poderia... nós estamos, eu vou talvez anunciar pela primeira vez aqui, estamos estudando, com o Goldemberg, o professor de tempo integral. Um tipo de professor igual na universidade.

Luis Weis: [interrompendo] Dedicação exclusiva?

Orestes Quércia: Dedicação exclusiva. Então, esse professor vai ter condição de ter um belo salário, nós vamos estabelecer um, mas eu não sei, é uma pena que eu tenha chegado...

Luis Weis: [interrompendo]: Professor primário?

Orestes Quércia: Professor primário. Isso só no último ano de governo, o que vai fazer, né? Eu tenho tentado todo um empenho com a jornada única, com todos os esforços em favor de melhorar o nível de ensino. Mas, o fato é que nós vamos estudar até essa possibilidade de o professor... porque você vai colocando uma escola em melhores condições e vai tentando [gesticulando] chegar todas as outras escolas para que elas tenham essa melhor condição. Você veja: há pouco tempo eu fui visitar o "Culto à Ciência", em Campinas, que era o melhor colégio de Campinas. Hoje o "Culto à Ciência" é igual aos outros. É péssimo. Por quê? Porque eles acabaram com a autonomia das escolas. Então, hoje, um professor faz um concurso, ele vai... é professor de geografia da escola tal. Chega lá é o professor. Tem autonomia, o diretor quase que não manda na escola hoje em dia. Antigamente, essas escolas, por exemplo, que é o que nós queremos reviver, o "Culto à Ciência", como aqui tinham diversas escolas em São Paulo... [sendo interrompido] o professor, ele prestava concurso lá naquela escola. Naquela escola. Então, o diretor tinha autonomia, o professor não tinha essas garantias que tem hoje. Tudo bem, eu acho que, do ponto de vista social são importantes, mas prejudicam a educação. Então, essa autonomia desses colégios, por exemplo, em que os professores iam lá, faziam exame naquele colégio, eram os melhores [abre os braços] professores que nós tínhamos no "Culto à Ciência", era um nível de ensino extraordinário. Acabou. Por quê? Porque nivelaram tudo por baixo. Nós tínhamos, por exemplo, algumas escolas, 40% de escolas que eram ótimas. Nós ficamos com 100% péssimas.

João Batista Natali: Agora, governador, o senhor me perdoe. Eu tenho a impressão que existe uma espécie de defasagem entre toda as perguntas em pequenas intervenções que foram feitas ao senhor e aquilo que o senhor está respondendo. É reconhecido, obviamente,  que o governo postule um grande setor de prestação de serviços que é a educação. Mas eu tenho a impressão que o essencial de tudo isso é que, se nós percorrêssemos, pegássemos, por exemplo, o mapa de São Paulo, nós percebemos que São Paulo tem, hoje em dia, um sistema viário  próprio ao primeiro mundo. São Paulo tem estradas de rodagem pavimentadas, duplicadas, estradas vicinais, assim por diante, próprios ao primeiro mundo. Quando nós damos uma volta para saber exatamente como é que funciona o outro sistema de prestação de serviços que não é mais transporte, e que é educação, nós caímos no terceiro mundo, mas em um terceiro mundo justamente com essa dimensão enegrecida que o senhor acabou de dar. Então, por que num momento de definição de certas prioridades, há três anos atrás, quando o senhor iniciou seu mandato, o senhor não teve para com a educação a visão tão primeiro-mundista quanto o senhor está tendo agora com o sistema viário em termos de modernização de rodovias, duplicação de não sei quantos milhares de quilômetros que foram feitos pelo seu governo? Aí o senhor estaria investindo em alguma coisa que poderia ir de encontro àquele raciocínio pelo qual essa massa crítica, essa inteligência que está sendo investida dentro da sociedade nos jovens, que vai permitir que o Brasil possa ser primeiro mundo algum dia, que possa ter capacitação técnica para evoluir e assim por diante. O senhor está em um espaço...  governando o estado mais importante do Brasil. O senhor tem um orçamento brutal, se comparado ao dos outros governadores.

Orestes Quércia: Não é diferente dos outros governadores que me antecederam. O orçamento do estado hoje, ele não tem diferença na proporção. É igual ao dos outros governadores. Eu poderia dizer para você o seguinte: eu tenho feito, no governo de São Paulo, um empenho muito grande em todos os setores. Então, criança, segurança... o que nós estamos fazendo, em matéria de crianças, é uma coisa excepcional. Temos 15 iniciativas da Secretaria do Menor, que foi o primeiro ato que eu assinei como governador, criando a Secretaria do Menor, e que nós temos feito um trabalho... SOS Criança, o Circo Escola, Casa Aberta, nós estamos atendendo mais de 200 mil crianças, tiramos umas 10 mil das ruas de São Paulo. Temos a Casa Renascer, para criança que é viciada, um trabalho excepcional que nós fazemos pela criança abandonada em São Paulo e pela criança, de maneira geral, que é a nossa obrigação pelo compromisso que eu assumi. Segurança, eu já disse aqui, nós melhoramos muito a segurança, felizmente. Você acaba de se referir às estradas, as duplicações, as vicinais, o metrô, em São Paulo, que é basicamente para a população mais pobre. Estamos investindo muito no metrô de São Paulo, no transporte de massa, para que o trabalhador chegue mais cedo em casa, tenha condições de lazer com a sua família. A saúde, a municipalização da saúde, por exemplo, é uma revolução que estamos fazendo em São Paulo, melhorando a saúde. Nós pegamos os recursos do governo federal, do governo do estado, passamos aos municípios...

Luis Weis: Os municípios, os prefeitos estão reclamando que não estão recebendo.

Orestes Quércia: Tudo bem. O que houve agora, esse problema que há uma reclamação agora, é que, com uma inflação de 70%, sempre quem paga é a Previdência. A Previdência sempre atrasa 30 dias, 40 dias. Sempre foi suportável o atraso da Previdência de 30 a 40 dias. Acontece que, com a inflação de 70%, esse atraso se torna insuportável, porque é esse o problema que eu espero [aponta para si], diminuindo a inflação, se resolva essa questão. Então, o problema, essa questão é esse aspecto. No geral, a situação melhorou extraordinariamente. E, no que diz respeito, eu fazendo essa introdução longa... é industrialização do interior, é habitação popular, o esforço, o sacrifício que eu fiz para poder fazer habitação popular porque o governo federal falhou com o compromisso que assinou comigo, com a colaboração da Assembléia, que me ajudou. Os deputados estaduais que votaram aprovando um planejamento de habitação que nunca houve em São Paulo na história. Nunca o governo de São Paulo fez casa popular. Nós estamos fazendo, e muita. Bom, educação. Nós estamos em um quadro de deterioração enorme de muito tempo para cá. Então, não é coisa de agora. Você diria: "Mas você está fazendo alguma coisa"? Estou fazendo. Estou fazendo um esforço que você não imagina, de muito sacrifício do governo para melhorar o nível de educação. Eu sei que eu não vou resolver essa questão nos meu quatro anos de governo. Mas não significa dizer... quando você lembra que o governo vai fazendo muitas coisas de primeiro mundo, estradas de primeiro mundo, cuidando de crianças, cuidando da segurança pública, que hoje [gesticulando], o nível de São Paulo e Rio, você se lembra antes de eu assumir o governo, você tinha aquele pavor de pensar em segurança no Rio e em São Paulo. Hoje em São Paulo tem ainda crimes, tem violência, mas a segurança é muito melhor [sendo interrompido]. E eu não me omiti nunca com relação à educação. Fiz um empenho grande para melhorar o nível do ensino, não vou resolver no meu governo. Não vou resolver, mas vou deixar um saldo excepcional de melhoria do nível de educação em São Paulo.

Hermano Henning: É sintomático que o seu candidato, a sua sucessão tenha saído da Secretaria da Segurança Pública e não da Secretaria da Educação. Talvez fosse melhor. O senhor reconhece que, nessa área, o senhor investiu mais do que na educação? É mais importante construir uma cadeia do que construir uma escola.

Orestes Quércia: Não. Eu investi mais em educação. O maior nível de investimento em São Paulo é educação. São 13% do orçamento. Entende [sendo interrompido]? Foi muito mais do que segurança e tudo. São circunstâncias políticas que envolvem a possibilidade do Fleury ser o candidato a governador. Espero que seja eleito para que nós possamos em oito anos... há muito mais condições de fazer coisas pela educação do que em quatro.

Hugo Studart: Se o senhor me permite uma pergunta pessoal, e desviando um pouco o assunto da administração, há alguns meses que circula um boato na administração de São Paulo, que o senhor estaria com câncer linfático [Quércia ri]. Bom, afinal, o senhor sofre de alguma doença, algum mal crônico?

Jorge Escosteguy: Governador, essa pergunta é feita também pelo telespectadores Arnaldo Garcia, de Birigui, Antônio Rodrigues Pereira, de São Paulo, Carmen Ramada, de São Paulo e Veimar Brandão, também de São Paulo, aqui do Bairro de Perdizes. A pergunta oficial é se há algum problema com a sua saúde.

Carlos Tramontina: Um jornal do interior chegou inclusive a escrever uma página, em Itu, dando detalhes de uma possível doença que o senhor teria.

Orestes Quércia: Para os meus inimigos, eu tenho uma péssima notícia: eu estou bem, muito bem [sendo interrompido]. Os meus amigos eu quero tranqüilizar: estou otimamente bem. Corro seis quilômetros quase todo dia, faço exercício, vou bem, estou fazendo abdominal para acabar com a barriga.

Hermano Henning:  A que o senhor atribui esse boato, essas informações que periodicamente aparecem?

Orestes Quércia: Olha, isso daí, na verdade, não sei.

Hermano Henning: É terrorismo... são seus inimigos políticos?

Orestes Quércia: Acho que não, né? Não sei. Eu sei que saiu uma notinha no Jornal do Brasil uma vez e aí começou essa história toda e a pouco tempo até, lembrou o Tramontina aí bem, o jornal de Itu, República de Itu [risos]... imagina a desmoralização que se deu ao jornal, porque pertence a um ex-prefeito cuja mulher era quarta suplente de deputado. Então, na reformulação de secretariado, a quarta suplente teve que sair da Assembléia [Legislativa] e o homem ficou com ódio do governador, porque a mulher era deputada e perdeu o lugar de deputada. E ele colocou no jornal dele lá... aliás, eu estava abatido na fotografia, devia ser algum dia que eu estava cansado de alguma coisa, o olho [coloca as mãos nos olhos] bem abatido, então bem assim: "Comprovado: Quércia está com câncer linfático!" Eu nem sei o que é que é isso, né?

Hermano Henning: Isso atrapalha sua vida pública, os seus objetivos como político, homem público?

Orestes Quércia: Não. Não tem problema nenhum. Minha família fica chateada, minha mulher... mas o que vai fazer? Isso aí faz parte.

Carlos Tramontina: Eu queria, governador, um esclarecimento do senhor a respeito do futuro das usinas hidrelétricas que estão sendo construídas no estado de São Paulo. Os prazos iniciais, o projeto inicial, já foram todos vencidos...

Orestes Quércia: Antes do meu governo. Todos. Todos vencidos antes do meu governo [sendo interrompido]. Continuam vencidos depois do meu governo.

Carlos Tramontina: Sim. Só que agora está havendo uma intervenção na hidrelétrica de Porto Primavera [Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, localizada no rio Paraná], semana passada  demissões. A Camargo Correia [grupo de contruções e comércio responsável pela contrução das rodovias Imigrantes e Bandeirantes, entre outras] ameaça com 3 mil demissões. Qual é o futuro dessas construções que estão em um ritmo bastante lento?

Orestes Quércia: O problema todo... energia é um outro aspecto. Nós tínhamos que investir no Brasil 6 bilhões de dólares em energia por ano. Nós investimos dois... 600 milhões do governo do estado de São Paulo. Então, muito aquém do que precisa ser investido em energia. Nós estamos com problemas sérios. A partir de 1993, teremos problemas sérios com questão de energia. Então, eu acho que é uma questão para o novo governo federal. Na verdade, esse assunto... O estado de São Paulo é o único que investe em energia. Acho que Minas tem uma parte, pouca, mas os outros estados, no geral, não investem. O estado de São Paulo investe 600 milhões de dólares por ano em energia. Exatamente na continuidade dessas... Mas nesse ano, por exemplo, nós vamos fechar a Três Irmãos [a maior usina do rio Tietê. Localizada entre os municípios de Andradina e Pereira Barreto, em São Paulo]. A Três Irmãos, estamos já preparando a desapropriação, está havendo até alguns problemas com relação à população, mas vamos fechar... Eu vou inaugurar a Três Irmãos. A Porto Primavera, não porque não há recursos, e o que nós estamos podendo aplicar, estamos aplicando em Três Irmãos, mesmo porque essa obra, ela é fundamental para o São Paulo e para o Brasil, não só por causa da energia. Porque nós vamos ter possibilidade de transporte fluvial de Barra Bonita, no futuro, pela modernização do transporte fluvial, nós poderemos chegar até perto de São Paulo. Nós vamos sair de Barra Bonita, que fica para cá de Bauru, subir pelo [rio] Tietê. Nós estamos terminando, junto com a Três Irmãos, o canal do Pereira Barreto. Então, nós vamos ligar o rio Tietê ao rio Paraná, Paranazão, lá no noroeste do estado de São Paulo, vamos descer... nós vamos sair de transporte fluvial, de Barra Bonita, como eu disse, no futuro, podemos chegar até perto de São Paulo, vamos lá no noroeste pelo canal do Pereira Barreto, Três Irmãos, Paraná, vamos até o centro de Goiás. O centro de Goiás vai ser ligado ao porto de Santos de uma forma excepcional. Vamos diminuir o transporte de soja, por exemplo... O grande problema do Brasil é que nós temos a nossa soja, por exemplo, ela é produzida muito mais barato. O que encarece a soja é o transporte. Quando nós tivermos esse transporte mais barato, e nós já temos... muitos produtores de soja estão construindo chapas, já antevendo nosso transporte, estão construindo chapas, já mandaram construir, que eu sei, que eu tenho notícias disso. Então, vamos transportar do centro de Goiás... por exemplo, o governo de Goiás já faz propaganda para o pessoal se instalar lá no centro de Goiás por causa do transporte fluvial. Então nós vamos fazer o transporte fluvial, que vai ser algo de revolucionário porque é o mais barato que se conhece, ligando Goiás, e, no futuro, podemos ligar... logo nesse ano nós vamos ligar a Goiás, e também descer até a usina, essa grande que nós construímos com o Paraguai, a Itaipu. E nós vamos ter condição de transporte fluvial pelo rio da Prata até Buenos Aires. Num futuro, que eu espero que não seja muito longe, nós vamos ter um transporte fluvial entre São Paulo e Buenos Aires. Tudo isso [sendo interrompido]  vai ser possibilitado por esse fechamento que nós estamos fazendo. E também porque, desde 1950 devendo, São Paulo já prepara isso. Garcez [Lucas Nogueira Garcez, governador de São Paulo entre 1951 e 1955], o governador Garcez, ele começou desde 1950. Portanto, todas as usinas que estão sendo construídas no rio Tietê têm a possibilidade de transporte.

Jorge Escosteguy: Governador, eu queria mudar um pouquinho de assunto. Há pouco, o Natali perguntou ao senhor se o senhor tinha informações sobre novas medidas que serão tomadas pelo governo Collor. O telespectador Cícero Aberaldo Silva, aqui da Penha, de São Paulo, ele diz que estão correndo boatos de feriado bancário dia 15, 16 etc. Ele pergunta onde o senhor aplica suas economias e onde o senhor pretende deixá-las até o dia 15.

Orestes Quércia: Olha, infelizmente...

Carlos Tramontina: O senhor também é consultor financeiro, é isso? [risos]

Orestes Quércia: Eu não tenho economias para aplicar.

Carlos Tramontina: Sei, o senhor ganha R$ 4.200,00.

Hermano Henning: O senhor também não tem aparelho de som em casa [risos]?

Orestes Quércia: Eu não tenho, sinceramente, não tenho.

Hermano Henning: Se o senhor os tivesse, os deixaria?

Orestes Quércia: [interrompendo]  Mas eu tenho empresas em que eu sou sócio e que têm investimentos. Olha, é difícil, viu? Porque eu acho que o governo [aponta para si] vai, nessa tentativa de enxugar a economia, o dinheiro, aliás... Eu acho que vai haver alguma coisa no sentido do open [referindo-se a aplicações financeiras], até na caderneta de poupança. Eu acho que... não que eles vão acabar, dar o calote, não. Eu acho que deverá haver algum tipo de imposto que possibilite ao governo segurar um pouco esses recursos.

Hermano Henning: O senhor acredita em congelamento?

Orestes Quércia: Não. Acho que deverá haver algum tipo de imposto, por exemplo, você paga tantos por cento se você tirar em 30 dias, se for em 60 paga menos e, se for em 90, paga bem menos. Acho que vai ser algo por aí.

Fernando Mitre: Governador, há esses sinais todos aí na imprensa e tal, não é nada conclusivo, mas é possível fazer um quadro, pelo menos, de sinais de medidas que virão aí no dia 16. O senhor, de um modo geral, o senhor não acha que esses sinais são positivos? Quer dizer, o senhor acha que essas tentativas estão se encaminhando para um lado bom? O senhor acha que vem aí um pacote competente? O senhor acredita nisso? Pelos sinais que o senhor tem visto até agora, que todos nós temos visto pela imprensa e por uma entrevista aqui e ali etc? Por exemplo, o senhor fala aí do over. Uma redução, aí, dos lucros de quem aplica no over, por exemplo. O senhor acha positivo? O senhor é contra o congelamento, mas o senhor aprovaria alguma política de pré-fixação, por exemplo?

Orestes Quércia: Viu, Mitre, o grande problema é o seguinte: é que, às vezes, quando você fala... over, é um sujeito que tem muito dinheiro no over... Não é. Às vezes é uma pequena empresa que, se houver uma taxação, como eu acho que é o que se pretende fazer, pelo que eu percebo... Eu estou aqui, nem devia estar [falando sobre o assunto]... mas estão me perguntando, não vou me omitir de dar um...[sendo interrompido]

Hermano Henning: [interrompendo] Poderia haver uma corrida aí [da população aos bancos]...

Orestes Quércia: Mas é que isso aí...  Pode amanhã... algumas empresas podem ficar sem recurso até para pagar o salário dos seus empregados, entende, se houver como segurar alguma coisa em relação à caderneta de poupança. Eu acho o seguinte: eu acho que vem alguma coisa...

Fernando Mitre: [interrompendo] O senhor é contra o congelamento. Então, no lugar do congelamento, o senhor faria o quê?

Orestes Quércia: Não sou contra o congelamento, não. Acho que não há condições de se fazer o congelamento agora. Acho que o governo tem que preparar para se fazer o congelamento [sendo interrompido]. Eu acho difícil... eu não respondi direito. Eu acho difícil, hoje [a existência de algum pacote econômico]. Você tem que acreditar no governo. Eu deixaria, por exemplo, na caderneta de poupança. No open eu teria dúvidas.

Luis Weis: Governador, eu gostaria de voltar ao plano estadual. Eu estou ouvindo atentamente a explanação que o senhor fez respondendo à excelente pergunta do Natali sobre educação e o leque de áreas que o senhor atentou atacar e os sucessos que o senhor alega já ter tido dentro da sua administração. E, como sempre, todo detentor de cargo executivo, ele narra suas dificuldades, as suas realizações a partir de um ponto zero. Como se nada tivesse havido antes ou como se antes deles houvesse um oceano de problemas. Eu queria saber, governador, o senhor está decepcionado com a herança que o senhor recebeu do governo Montoro?

Orestes Quércia: Não. Porque... [sendo interrompido]

Luis Weis: [interrompendo] O que o senhor está podendo fazer [colocar em prática os planos de governo] tem algo a ver ou não com aquilo que o senhor recebeu?

Orestes Quércia: Porque, na verdade, o governo Montoro [abre os braços] não fez um plano de realizações como o meu governo. Tem o valor dele, eu era o vice-governador, eu acompanhei. É um outro estilo. Eu, por exemplo tenho um sentido... segurar... Eu controlo pessoalmente as despesas do estado. Então, isso dá condição de uma economia muito grande. Então, eu tenho condição hoje de fazer as obras que eu estou fazendo por quê? Porque eu controlo a despesa pessoalmente.

Luis Weis: O senhor é um bom pagador como governador?

Orestes Quércia: Sou.

João Batista Natali: Mas o senhor está dando a entender que o Montoro era meio perdulário? Eu não entendi direito. Ou que ele não controlava? Como é que era?

Orestes Quércia: Não. É que a máquina administrativa é tão grande, que, se você não tiver um controle das despesas, elas saem pelo vão do dedo e você não percebe. Porque, na verdade, eu tive o mesmo volume de recursos, de investimento, que o Montoro teve. Então, eu não sou milagroso. Por que eu faço tantas obras e os outros não fizeram? Não é milagre nenhum, é isso que eu estou te falando. Então, recursos eu tenho igual. Não tenho mais. Inclusive porque o Montoro pegou o Plano Cruzado, que foi muito bom para os governos todos, não é? Ele foi bom. Não quero criticar o Montoro não.

José Márcio de Mendonça: Mas eu queria que o senhor fizesse uma comparação, já que o senhor conheceu, esteve dentro dos dois governos. O governador Montoro recebeu um governo melhor ou pior do que o senhor recebeu? A herança para o senhor  foi melhor?

Orestes Quércia: Ele recebeu pior. Eu recebi melhor com o Montoro. Sem dúvida [todos falam ao mesmo tempo]. O meu sucessor vai receber pior do que eu recebi, porque eu vou deixar um volume imenso de obras encaminhadas...

Jorge Escosteguy: [interrompendo] O nosso tempo está se esgotando. Mais duas perguntas, uma do Hermano Henning, e outra do Márcio Chaer, por favor.

Hermano Henning: Eu insisto em voltar aos temas nacionais, né? Eu acho realmente que a gente está vivendo aí um momento muito importante, eu vou voltar até a insistir nisso. O senhor falou em estilo. O senhor é um político experiente. Apesar de jovem, é um político experiente. O que é que o senhor acha desse estilo "Indiana Collor" [referindo-se ao personagem do cinema, Indiana Jones, um aventureiro destemido] de fazer política? O que é que o senhor realmente está pensando? E eu gostaria que o senhor realmente fosse sincero.

Orestes Quércia: Eu sou sincero [todos falam ao mesmo tempo]. Eu falo tudo que eu penso. Eu falo porque eu acredito [risos].

Hermano Henning: Eu acredito realmente que o senhor seja sincero. Eu acredito. Mas, então, diga com toda a sua sinceridade que lhe é característica.

Orestes Quércia: Eu acho o seguinte. Eu acho o Collor... Ele é bem intencionado, tem vontade de fazer as coisas, eu acho que ele não tem experiência suficiente para ser presidente da República. E acho a postura política dele... Eu não concordo com a postura política dele, com o estilo político dele, entende? Eu tenho outra formação. Isso não significa dizer que eu torça contra ele. Eu quero que ele acerte. O que me interessa mais é o bem-estar do Brasil, acabar com a inflação.

Hermano Henning: Colocar um delegado de polícia como secretário da Receita Federal, por exemplo. Fazer questão de ser fotografado fazendo cooper de manhã, andando de motonáutica, não sei exatamente o quê. Enfim, o senhor tinha falado antes do estilo Montoro, do estilo Quércia... o senhor colocaria tudo numa mesma...

Fernando Mitre: [interrompendo] Esta renovação que o novo presidente está propondo, governador, com esse estilo, o senhor acredita nessa renovação? Quer dizer, de repente a Zélia tem 35 anos, 36 anos e é ministra.

Hermano Henning: Pois é, mas renovação apoiada por Antônio Carlos Magalhães [ex-senador, baiano, da República pelo Democratas, antigo PFL], pelo PFL, pelo centrão. O que o senhor acha?

Fernando Mitre: É isso que eu gostaria de perguntar: Essa renovação existe mesmo? O senhor acredita nela?

Orestes Quércia: Olha, eu tenho às vezes preocupação com relação a essas opiniões que eu tenho. Não que eu tenha receio de dizer o que eu penso. O Sarney, sempre convivi bem com ele, e sempre critiquei porque acho que ele, infelizmente, não foi um bom presidente. Eu torço muito para que as coisas melhorem no país, que haja uma diminuição da inflação, haja uma perspectiva melhor. Então, eu tenho muita preocupação, até na condição de governador do estado, de fazer certo tipo de colocação que possa prejudicar o governo. Eu não quero prejudicar o governo. Eu quero ajudar!

Fernando Mitre: Pode ser até uma advertência, às vezes, aí, é edificante.

Orestes Quércia: Tudo bem. É que aí é muito... Por exemplo, a colocação que o Henning faz, que estou disposto até a dar, estou dando algum indício do que eu penso, é coisa muito subjetiva: "O que você acha da....?" Então, aí é que eu tenho preocupação. Não que eu tenha receio de dizer porque eu digo o que eu penso. Eu tenho dúvidas com relação a esse estilo. Eu acho que a experiência é fundamental para quem conduz um país. A economia de um país, por exemplo. Eu sei, veja, por exemplo, a ministra [referindo-se à Zélia]. Ela não tem experiência nenhuma. Nunca participou de ministério, teve lá um cargo de terceiro escalão. Eu tenho preocupações. Eu torço para que ela se saia bem. Mas eu tenho preocupação porque eu sei, pelo fato de ter sido prefeito, senador, governador de São Paulo, de ser o governador de São Paulo, que as coisas, elas dependem muito de experiências. Por exemplo: eu, pelo fato de ter sido prefeito em Campinas, aprendi coisas que usei agora como governador. Não tenho nem dúvida disso. Então, a pessoa que tem experiência... Numa questão, por exemplo, da situação do Brasil de hoje. Você tem que administrar o país todo dia. Então, você tem que... É igual a um navegador. Você tem que saber o que diz aquela nuvem lá em cima. Se não sabe, você vai aprender? Você não tem condições de resolver o problema do país.

Jorge Escosteguy: Governador, uma última pergunta para encerrar, por favor, do Márcio Chaer.

Márcio Chaer: O senhor recebe essa semana o presidente eterno de Cuba [Fidel Castro], não é? Eu só queria saber se o senhor o recebe sem constrangimento, se o senhor vai fazer algum acordo com ele, se vai assinar algum acordo, se o senhor pretende retribuir essa visita, se pretende dar um conselho a ele.

Orestes Quércia: Não. Eu estive com ele já, uma semana visitando Cuba. Fiz uma amizade com ele, vou recebê-lo aqui como presidente de Cuba. Esse aspecto de ele se manter na presidência de Cuba, isso ocorreu no mundo inteiro. Agora é que está havendo algum tipo de modificação.

Fernando Mitre: Se o senhor quer uma perestroika no PMDB, imagine em Cuba, hein, governador?

Orestes Quércia: É. Eu acho que o processo vai conduzir a isso. Na Nicarágua já houve eleição direta. Mas eu vou receber muito bem o presidente Fidel Castro, que estimo, me dou bem com ele, gosto dele pessoalmente.

 Márcio Chaer: Não assina nem um acordo?

Orestes Quércia: Tem acordo com ele já. Nós temos um acordo na Secretaria de Saúde. Nós usamos aqui diversos aparelhos fabricados em Cuba. Tenho a linha da Vasp [Viação Aérea São Paulo, fundada em 1933, entrou em recuperação judicial em 2005] que liga o Brasil a Cuba, que é empresa de São Paulo. Então, é um bom entendimento e eu vou atendê-lo muito bem. Vou oferecer um jantar para ele e desejo que ele seja feliz e conduza o processo de Cuba, até, inclusive, na linha do novo tempo, de uma reformulação como houve na Nicarágua.

Márcio Chaer: O senhor vai chegar a inaugurar alguma obra?

Orestes Quércia: Existem algumas alternativas de programa dele aqui em São Paulo. Uma das alternativas é a inauguração de uma obra em Jundiaí, que é uma estação de tratamento de água da grande São Paulo.

Jorge Escosteguy: Governador, nós agradecemos muito sua presença hoje aqui no Roda Viva, agradecemos a presença dos nossos convidados jornalistas e aos telespectadores, inclusive aqueles que telefonaram. As perguntas que não puderam ser feitas no programa, serão entregues ao governador. O Roda Viva volta na semana que vem, às 9h30 da noite. Uma boa noite a todos e até lá.

Sobre o projeto | Quem somos | Fale Conosco