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Memória Roda Viva

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Eduardo Suplicy

9/10/1990

Aguardando a confirmação da votação que o elegeu senador, Suplicy defende as posturas do PT e afirma que a melhor política para combater a crise se dá pelo diálogo e não através de medidas provisórias

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Rodolfo Konder: Boa noite. Estamos começando mais um Roda Viva [...] O convidado desta noite é o presidente da Câmara Municipal de São Paulo e senador eleito, Eduardo Suplicy [...] Para entrevistar Eduardo Suplicy estão conosco: Hugo Studart, subeditor de política da revista Veja; Marcelo Parada, repórter de política da Folha de S.Paulo; Luciano Martins, colunista do jornal O Estado de S. Paulo; José Antônio Severo, jornalista da Gazeta Mercantil; José Márcio Mendonça, comentarista político da TV Bandeirantes; Márcio Chaer, editor de política do Jornal da Tarde; Delmar Marques, editor político da revista Visão e Luiz Augusto Michelazzo, repórter de política do jornal O Globo. Descendente de tradicional família paulista, Eduardo Matarazzo Suplicy nasceu em São Paulo e tem 49 anos. Ex-boxeador, Suplicy é formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Obteve os títulos de mestre e doutor em economia nos Estados Unidos. Escritor e jornalista, iniciou sua carreira política em 1978, quando se elegeu deputado estadual pelo antigo MDB [Movimento Democrático Brasileiro]. Dois anos depois, participou da fundação do PT [Partido dos Trabalhadores], partido no qual se encontra até hoje. Foi um duro opositor do então governador Paulo Maluf. Em 1982 foi eleito deputado federal e enfrentou o ex-ministro Delfim Netto no caso Coroa-Brastel, que mais tarde se tornaria em mais um livro de Eduardo Suplicy. Ainda na Câmara, participou da Comissão de Economia e da CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da Dívida Externa. Em 1985, candidatou-se à prefeitura de São Paulo e perdeu. No ano seguinte, disputou o governo paulista e também perdeu. Em 1988, foi o vereador mais votado do país. Como presidente da Câmara Municipal de São Paulo, apontou funcionários fantasmas e promoveu investigações na contabilidade, o que resultou em prisão e demissão de vários funcionários. Eduardo Suplicy é apontado pelas projeções dos institutos de pesquisa de votos como o candidato eleito ao Senado por São Paulo depois de uma acirrada disputa com Ferreira Neto da coligação União por São Paulo [(1938-2002) jornalista e apresentador do programa Ferreira Neto, de debate político. Foi candidato ao Senado pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN)]. Boa noite vereador.

Eduardo Suplicy: Boa noite.

Rodolfo Konder: Posso tratá-lo já por senador?

Eduardo Suplicy: Bom, com apenas 73% dos votos apurados, as projeções são nessa direção, mas, obviamente, eu tenho que tomar a devida precaução.

Rodolfo Konder: Está certo. Vereador, as suas declarações, publicadas nos jornais recentemente, tanto sobre um possível apoio ao candidato do PMDB, Fleury Filho [secretário de Segurança Pública no estado de São Paulo entre 1987 e 1990, foi governador do estado entre 1991 e 1994], quanto sobre as relações que o senhor, como senador, manterá com o governo federal são revelações que indicam um perfil suave, não um perfil agressivo. Isso significa o quê? Das urnas está emergindo um novo PT ou significa que o senhor vai para Brasília como senador de São Paulo mais do que um senador de um partido de São Paulo?

Eduardo Suplicy: É, Rodolfo, quem conheceu a minha trajetória como deputado estadual, entre 1979 e 1983, sabe que eu fui um duro opositor, como, de fato, mencionou a sua introdução, ao então governador Paulo Salim Maluf, que tinha uma característica extremamente condenável para nós: não foi eleito diretamente pelo povo. Durante o período de 1983 a 1987, fui deputado federal e forte opositor ao então regime militar e ao presidente João Figueiredo. Na oportunidade, combati duramente todas as ações que considerei incorretas da parte, por exemplo, do então ministro da Fazenda, Ernane Galvêas [ministro entre 1980-1985] e do Planejamento, Antonio Delfim Neto [ministro entre 1979-1985], como foi, por exemplo, a investigação do caso Coroa-Brastel. E pode esperar, como sempre disse ao longo da minha campanha, da minha parte [haverá] uma dura oposição ao presidente Fernando Collor, especialmente no que diz respeito à política econômica. Mas há uma diferença com respeito àquele tempo, tratava-se de um governo eleito indiretamente. Então, na ocasião, quando eram governadores e presidentes não eleitos, a nossa posição era de nem ir conversar com o governador ou com o presidente, nós tínhamos a preferência de estarmos investigando, requerendo informações e solicitando, sempre que necessário, audiências para obter esclarecimentos, mas o tipo de diálogo era sempre bastante distante. Obviamente, com o governo Collor, nós teremos a posição, que é do Partido dos Trabalhadores e minha própria, de oposição. Nós acreditamos que o governo Collor está levando adiante uma política econômica que eu acredito possa ser qualificada de selvagem, especialmente quando leva milhões de trabalhadores ao desemprego em função de uma recessão planejada, a qual eu não acredito que seja necessária para combater a inflação. Eu acho que é perfeitamente possível... Inclusive, Lula estaria levando adiante uma política econômica para combater a inflação que, em primeiro lugar, estaria fazendo a economia crescer, fazendo com que houvesse um nível de emprego mais elevado e nós estaríamos dialogando, sim, com os economistas do governo, com os responsáveis pela política econômica. Então, sempre que houver qualquer desvio de recurso público, qualquer inadequação na forma de se administrar e, se o governo continuar baixando medidas provisórias ao invés de construir projetos de lei com a sociedade, de dialogar com os segmentos da sociedade, pode esperar de mim uma dura oposição.

Rodolfo Konder: Agora, o senhor vai para Brasília como senador de São Paulo ou um senador de um partido de São Paulo?

Eduardo Suplicy: Vou para Brasília senador eleito pelos paulistas, indicado pelo Partido dos Trabalhadores, mas eleito pelos paulistas e consciente de que tive uma votação não apenas do Partido dos Trabalhadores, mas todos aqueles que, por exemplo, votaram no candidato a governador Plínio de Arruda Sampaio [intelectual e militante político, foi um dos fundadores do PT. Em 1986, foi eleito deputado federal constituinte. Ficou nacionalmente conhecido por defender um modelo constitucional de reforma agrária que pretendia acabar com latifúndios], todos aqueles que votaram nos deputados estaduais e federais do Partido dos Trabalhadores votaram em mim como senador. Mas pessoas que também votaram em outros candidatos para governador e para deputados também votaram em mim. Isso, eu tenho que levar em conta. Então, eu fui eleito senador por São Paulo.

Rodolfo Konder: Hugo Studart.

Hugo Studart: O senhor foi eleito com o slogan “Eduardo Suplicy é o que o Senado precisa”. O que significa isso? O que o senhor planeja fazer de diferente lá no Senado, diante daquelas “velhas raposas”? O senhor que será o único senador do PT.

Eduardo Suplicy: Eu já observei, na Assembléia Legislativa, na Câmara dos Deputados e na Câmara dos Vereadores que, às vezes, um grupo pequeno de parlamentares consegue mexer muito com o parlamento desde que tenha uma vontade férrea e, pelo seu exemplo e trabalho árduo, acaba sendo respeitado por todos. Então, da mesma forma que, na Câmara Municipal, nós colocamos em prática aquilo que sempre defendíamos, e, por estarmos num posto legislativo mas que era também do executivo, porque eu sou responsável, até 31 de dezembro, como presidente da Câmara, por administrar aquela casa de leis, nós teremos [no Senado], por princípio, a prática de realizar a transparência total nos atos da administração...

Hugo Studart: [interrompendo] O senhor permite um aparte?

Eduardo Suplicy: ...Então, isso, tipicamente, é algo que nós vamos exigir no Senado Federal para dar o exemplo, para exigir também no governo da República que haja transparência total dos atos da administração, e nem sempre isso está ocorrendo. Eu, por exemplo, tenho a intenção, em um dos meus primeiros atos, de requerer informações sobre o que se passa com os fundos sociais; o PIS/Pasep [Programa de Integração Social/Patrimônio do Servidor Público], o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, todos os fundos sociais... Por exemplo, o Salário Educação, pelo que nós temos tido notícias, desde 15 de março para cá, está sendo administrado sem uma real transparência. E vamos exigir isso, vamos requerer informações, solicitar dos ministros responsáveis o total esclarecimento desses atos.

Rodolfo Konder: Luciano Martins.

Luciano Martins: O senhor foi eleito por um colégio supra partidário, pode se dizer assim, e se coloca numa posição muito interessante dentro do partido. Diante das discussões que vão acontecer no partido em relação ao segundo turno, como será o seu voto nessas discussões internas? Com Fleury, com Maluf ou nenhuma das anteriores?

Eduardo Suplicy: Bem, Luciano, isso, realmente, merece prolongada reflexão. Inclusive, aqueles que, por ventura, tenham votado em Maluf e em mim, alguns até me disseram: “vou votar no Maluf e vou votar em você para que você tome conta dele”

[risos]

Eduardo Suplicy: ...Outros votaram em Fleury e em mim, outros votaram em Covas e em mim, e a grande maioria dos meus votos foi para o Plínio e para mim. Pois bem, os que, em qualquer dessas alternativas, votaram em mim sabem muito bem que eu sou crítico de Paulo Salim Maluf e considero a sua trajetória uma antítese de tudo aquilo que eu defendo. A forma dele fazer política é muito diversa da que eu entendo como correta. Certa vez, uma pessoa muito próxima de Paulo Salim Maluf me disse o seguinte para ilustrar o seu comportamento: “olha, se o Maluf for presidente da República e tiver que negociar com o Fundo Monetário Internacional, uma coisa que ele vai fazer é, por exemplo, dar uma jóia a senhora do presidente do Fundo Monetário Internacional. Ele vai dar uma jóia da Tiffany para tentar agradá-la...” Quer dizer, ele já fez isso, por exemplo, com a senhora do ex-presidente Costa e Silva [(1899-1969) foi presidente do Brasil no regime militar, entre 1967 e 1969] para obter alguns postos. Esse é um tipo de procedimento que não cabe na minha trajetória. Eu fui deputado estadual de 1979 a 1983, no primeiro semestre de 1979, por volta de abril, o então jornalista Cláudio Abramo [(1923-1987) responsável por mudanças importantes na formatação e conteúdo de vários jornais brasileiros], muito amigo meu, disse o seguinte: “olha, o governador Maluf foi almoçar lá na Folha e disse ao senhor Otávio Frias e a outros que estavam na mesa” - era abril de 1979, nós éramos 53 deputados estaduais do MDB e 26 da Arena [Aliança Renovadora Nacional] – “ele disse que tinha em suas mãos, ao seu lado, quase que metade da bancada do MDB”. Eu não pude acreditar quando o Cláudio me disse isso em abril, mas quase ao final do semestre, a votação para abrir ou fechar a questão sobre a designação de Reinaldo de Barros, prefeito de São Paulo [entre 1979 e 1982], para ser um prefeito biônico foi de 27 a 26. Quer dizer, ele teve a metade mais um e eu fui atrás das razões e constatei que ele foi distribuindo favores àqueles 27 que votaram nele. Então, é um procedimento com o qual eu não posso concordar. Quer dizer, é a história do regime militar, a forma como ele reprimiu trabalhadores com a gravidade de ter causado a morte de Santo Dias da Silva [(1942- 1979) operário, morto por policiais quando comandava um piquete de greve no dia 30 de outubro de 1979, em frente à fabrica Silvânia, em Santo Amaro], a forma como protegeu pessoas que torturaram neste país, isso, são coisas muito graves. Por isso eu disse, por maior respeito que eu tenho àqueles que votaram em Paulo Salim Maluf, nós precisamos até pensar as razões pelas quais nós, do Partido dos Trabalhadores, não conseguimos esclarecer suficientemente a população sobre esses fatos históricos. Eu acho que, inclusive, a própria imprensa não colaborou o suficiente para esclarecer isso, mas alguma razão levou uma parte considerável da população a votar nele, não sei se 35% ou 37%. Mas, para mim, eu acho muito difícil termos um governador que teve essa história. Para mim, seria incompatível com os procedimentos que nós queremos democráticos neste país.

[...]: [interrompendo] E os deputados do PMDB que se venderam?

Eduardo Suplicy: E olha que eu conheço bem – perdão - conheço bem algumas das pessoas que estão trabalhando para o senhor Paulo Salim Maluf. Eu tenho como meu colega de departamento, diretor da Escola de Administração de Empresas, Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, que hoje coordena o seu plano de ação, é uma pessoa séria e tudo, mas, realmente, a imagem que fiz de Paulo Salim Maluf é como se fosse, para mim, um rio irrecuperável. Não consigo ver formas de recuperá-lo diante da sua história.

Luciano Martins: Bom, uma alternativa está eliminada, restam duas.

Eduardo Suplicy: Restam as outras alternativas. Pois bem, então, aqui cabe outra reflexão, porque o governo Orestes Quércia, na minha opinião, teve aspectos negativos, alguns extremamente graves e alguns aspectos que eu considero positivos. Mas os aspectos negativos graves [foram], por exemplo, a forma como usou a máquina administrativa, as suas prioridades sociais foram invertidas em minha opinião. Aquilo que fez com os professores e com as escolas públicas. E, conforme até o diagnóstico feito pela Apeoesp [Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo], que está aqui presente o João Felício, meu primeiro suplente e presidente da Apeoesp... Quer dizer, eu conversei muito com ele e ele me mostrou muito claramente o diagnóstico de como, em primeiro lugar, o governo Paulo Salim Maluf tinha contribuído para sucatear a escola pública no estado de São Paulo e, em segundo lugar, o outro governo que contribui para isso foi exatamente o governo Orestes Quércia. O senhor Luiz Antonio Fleury Filho também foi uma das pessoas que tratou o professores de forma extremamente inadequada quando – e eu estava presente – quiseram os professores dialogar com o governo e receberam a cavalaria, a violência dos policiais. E, especialmente, também a forma de extraordinário poder econômico que caracterizaram ambas as campanhas, de Paulo Salim Maluf e Orestes Quércia. Agora, há alguns pontos que merecem algum respeito na história do PMDB... Infelizmente, quando, por exemplo, o PMDB abraçou cinco anos para José Sarney [presidente do Brasil em 1985, após a morte do presidente eleito Tancredo Neves, de quem era vice e que faleceu antes de tomar posse], muitos deles recebendo favores pessoais de forma parecida com aquela que eu estava descrevendo em 1979. Isso tudo são procedimentos que eu condeno. Se houve alguns aspetos positivos no governo Quércia? Eu acho que houve. Por exemplo, eu acho que o esforço para desativação da Febem [Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor] como instituição fechada é uma coisa importante. A dinâmica introduzida na Secretaria da Cultura pelo secretário Fernando de Morais, eu acho algo relevante, merece o nosso respeito. A aproximação do governo Quércia aos países da América Latina. Nesta semana, ele estará se empenhando mais uma vez para receber o presidente do México, mais um chefe de Estado. A forma como recebeu, quando esteve em São Paulo, o presidente de Cuba, Fidel Castro [governou Cuba desde a revolução que derrubou Fulgêncio Batista (1958-1959) até 2008, quando renunciou oficialmente ao cargo de chefe de Estado, deixando em seu lugar o irmão Raúl Castro. Ver entrevista com Fidel no Roda Viva], eu aceitei o convite de ir ao Palácio dos Bandeirantes porque achei aquilo importante. Eu acho importante um governador se aproximar com os países da América Latina sem restrições aqueles que têm algo relevante para contribuir para o processo de democratização do Brasil. Acho difícil, entretanto, decidir... Hoje, a direção estadual do Partido dos Trabalhadores fez uma recomendação que vai para a direção nacional de não votar em qualquer dos candidatos. E eu não irei fazer campanha para qualquer dos candidatos. Eu serei oposição a eles. A minha decisão pessoal sobre como vou proceder, na hora da votação, merece ainda maior reflexão.

Rodolfo Konder: José Márcio Mendonça.

José Márcio Mendonça: Vereador, na resposta à pergunta do Konder, o senhor se referiu aqui a uma política econômica selvagem do governo Collor que o senhor pretende combater. A tônica da campanha dos candidatos do PT aos governos estaduais no país todo foi exatamente uma crítica violenta a essa política econômica selvagem. Abrem-se as urnas e nós vemos o quê? Os candidatos que combateram essa política econômica selvagem, todos, à exceção do Acre, não foram bem vistos, bem aquinhoados pelos eleitores. Como o senhor explica essa contradição? Há essa política econômica selvagem ou realmente ela ainda não existe ou, mesmo existindo, por que os eleitores não foram para o PT, que era contra essa política e defendia uma outra política?

Eduardo Suplicy: Olha, em primeiro lugar eu, em todos os meus pronunciamentos e comícios, disse com clareza: “considero a política econômica do governo Fernando Collor selvagem e vou propugnar a luta por uma política econômica que eu possa caracterizar de civilizada”. Costumava dizer e, inclusive, num artigo da Folha de S.Paulo abri com a seguinte questão: “qual é a diferença entre o amor e a prostituição”? Como a prostituição leva um valor no mercado e o amor não, muitos que tem a filosofia defendem que, para se combater a inflação, é necessário recessão e desemprego, vão dizer que a prostituição tem maior valor, porque alcança um valor no mercado. Eu até tive a oportunidade de dialogar com o Antônio Kandir [Na época integrante da equipe econômica da então ministra Zélia Cardoso de Mello e do presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, que criou o Plano Collor] que, como economista é uma pessoa que eu respeito e ele me disse: “puxa, você acha que eu vou considerar isso? Para mim, o amor é uma coisa infinita, não tem valor de troca”. Pois bem, mas acontece que essa é exatamente a pressuposição que está por trás de quem acredita, como o presidente Collor, que fez discurso dizendo que era necessário como que punir trabalhadores porque estariam querendo aumentos de salários. Então, [ele dizia] “vamos deixá-los na rua da amargura em número suficiente para levá-los à mesa de negociação sem o devido poder de barganha”. Eu estarei defendendo que há de haver pleno emprego na economia para que os trabalhadores possam ir à mesa de negociação, sim. Todavia, primeiro, com forte poder de barganha resultante de não estarem com a "guilhotina no pescoço" da ameaça do desemprego. E mais, que possam também ter acesso às informações econômicas e financeiras de cada empresa onde estiverem trabalhando para que possam discutir a devida partilha dos frutos de desenvolvimento ou dos rendimentos para os quais todos estão contribuindo. Então, esse tipo de diretriz, eu defendi em todos os pronunciamentos escritos, orais e fui eleito senador por São Paulo com essa diretriz. Isso é o que eu estarei defendendo no Congresso Nacional.

Rodolfo Konder: Delmar Marques.

Delmar Marques: O senhor vai para o Congresso como senador do PT, único senador do PT. A bancada do PT, na Câmara, ainda que eu espere um crescimento pelas projeções que estão se fazendo, vai ficar entre trinta, 32 deputados, e será uma bancada minoritária. Portanto, para ter um papel atuante no legislativo, o PT precisará fazer acordos, buscar apoios, não é? O senhor não considera que essa decisão de não fazer acordos nas campanhas eleitorais de agora não prejudicará, mais tarde, esse trabalho legislativo? Quer dizer, não será uma coisa dúbia: “não fazemos acordo para eleger ninguém e depois vamos lá pedir apoio para defender as nossas teses”.

Eduardo Suplicy: Olha, o Partido dos Trabalhadores com 16 e depois com 17 membros na Constituinte, na Câmara dos Deputados, tem agido com extraordinário peso qualitativo, realizando, inclusive, entendimentos com os partidos progressistas e os que são, efetivamente, a favor da democratização em profundidade neste país. Isso continuará. Se nós conseguimos tanto com 17, imagina, então, com 32 ou mais e ainda com uma participação dos demais partidos do campo progressista e mais a esquerda neste país que, certamente, irá aumentar. Quer dizer, claro que estava torcendo pelo nosso candidato no Rio de Janeiro, Milton Temer, mas considero Darcy Ribeiro [ver entrevistas com Darcy Ribeiro no Roda Viva]. Eu até liguei para ele na sexta-feira passada e ele me disse: “acho que vamos estar nós dois contra o resto”. Então, eu estou vendo a relação... Talvez, sejamos muito poucos. Mas eu espero que Fernando Henrique e Mário Covas estejam formando, no campo progressista, bem como alguns poucos outros... Foi eleita uma senadora pelo PSB [Partido Socialista Brasileiro] no Amapá, não a conheço ainda, espero que esteja junto conosco. Mas como disse há pouco, se alguns poucos parlamentares realizarem um trabalho de grande profundidade, um trabalho árduo, acabarão sempre ganhando o respeito de todos os demais. E, com base no chamamento pelo bom senso por aquilo que é necessário fazer neste país, nós iremos conquistar, efetivamente, um desenvolvimento. E, com melhor distribuição da renda e riqueza, [conseguiremos] conquistar liberdade, justiça e democracia para todos. E isso nós vamos conseguir.

Delmar Marques: Desculpe, mas voltando ao teor da minha pergunta, quer dizer, o senhor vai fazer um chamamento ao bom senso no legislativo, mas e agora, nas campanhas estaduais, não seria o caso de chamar também o PT ao bom senso?

Eduardo Suplicy: Nós teremos posições de bom senso, seremos respeitados. Nós, certamente, com aqueles candidatos mais afins... Por exemplo, eu não tenho dúvidas de que no Rio Grande do Sul, nós estaremos apoiando o candidato do PDT [Partido Democrático Trabalhista], Alceu Collares [prefeito de Porto Alegre entre 1986 e 1889 e governador do Rio Grande do Sul entre 1991 e 1995]. Nós não temos dúvida de que os partidos progressistas vão estar nos apoiando no Acre com o nosso candidato a governador.

Delmar Marques: Essa resolução tirada hoje, então, se refere tão somente a São Paulo?

Eduardo Suplicy: É uma resolução que, inclusive, será examinada pelo diretório nacional esta semana. É a posição que hoje o diretório estadual tomou, à luz dos acontecimentos, mas ainda passa pelo exame nacional.

Rodolfo Konder: Luiz Augusto Michelazzo.

Luiz Augusto Michelazzo: Senador, eu acho que eu ainda não entendi bem qual é a posição do senhor, voltando ao apoio ao Fleury em detrimento ao Paulo Maluf. Dentro do partido, há muita gente que tem opinião conflitante. Por exemplo, eu acabei de ver um artigo do Carlito Maia [(1924-2002) publicitário e um dos fundadores do PT] declarando o seu apoio ao Fleury na base do “mal menor”. Objetivamente, como o senhor vê a diferença entre Paulo Maluf e o Fleury? Não o Paulo Maluf e o Quércia, mas o Paulo Maluf e o Fleury? Isso para orientação do eleitor.

Eduardo Suplicy: Eu disse isso há poucos dias. Bom, primeiro, o Carlito Maia, que é um dos petistas históricos mais importantes, ele não é filiado ao partido, mas é como se fosse petista, talvez, mais livre de todos...

Luiz Augusto Michelazzo: [interrompendo] Ele é um guru, não é?

[risos]

Eduardo Suplicy: O super-conselheiro. Então, ele terá sempre o direito de expressar a sua opinião e ela será sempre muito ouvida. E ela é muito ouvida por todos nós, do Partido dos Trabalhadores, porque ele é um companheiro que nós consideramos demais, além de ser um amigo muito querido meu. Então, quer dizer, Paulo Salim Maluf, para nós, constitui um mal quase que irrecuperável, quem sabe só lá, na outra vida, ele consiga recuperação.

[risos]

Eduardo Suplicy: Porque aqui, com tudo que ele apronta, até hoje, não dá para nós considerarmos que ele esteja recuperado para a vida democrática. Acho que ele precisa passar por mais eleições ainda, até que consiga efetivamente... Vamos ver, esmerando... No dia em que ele fizer uma eleição realmente sem gastar, completamente diferente dessa; no dia em que ele deixar de lado...

Rodolfo Konder: [interrompendo] O senhor propõe para ele um purgatório eleitoral, é isso?

[risos]

Eduardo Suplicy: Se ele tivesse deixado de lado tantas – não preciso gastar o tempo aqui – companhias. Mas não vê? É irrecuperável, não tem jeito. Agora, em minha opinião, Luiz Antônio Fleury constitui também um mal de grande peso. Então, é um dilema. Eu não vou resolver aqui, hoje, nesta hora. Eu disse que estou refletindo e eu preciso saber... Nós temos aí, até 25 de novembro. A direção estadual, na sua primeira reunião, resolveu que não dá para apoiar qualquer um dos dois. Realmente, não dá para nós, por nossa história, subirmos no palanque [ao lado] de um ou de outro. Agora, nós temos que pensar na responsabilidade de procurar salvar São Paulo dessa coisa, em minha opinião, terrível, terrível mesmo. Agora, é preciso pensar por que 37% da população mais ou menos votou nessa alternativa que, na minha avaliação, é terrível.

Luiz Augusto Michelazzo: Como o senhor explica isso? Esse expressivo segmento da população aceitando as idéias dos...

Eduardo Suplicy: [interrompendo] Felizmente não foi mais da metade da população. Eu acho que há muito claramente aqueles que fizeram uma opção diante do receio do que poderia ser, por exemplo, a alternativa Plínio de Arruda Sampaio, a alternativa Partido dos Trabalhadores, porque a nossa alternativa é, de fato, mudar prioridades. A Luiza Erundina [prefeita de São Paulo entre 1989 e 1993] veio para São Paulo para mudar prioridades. E há pessoas que se vêem com a necessidade de ficar com tudo que tem, com uma acumulação de riqueza extraordinária... Então, é como que uma afinidade ideológica. E, no sentido de se proteger, até mesmo não se vendo... Porque alguns se vêem como pessoas corretas, honestas, querem ver a seriedade no trato da coisa pública, mas, se de repente surge um Paulo Salim Maluf com a possibilidade de ganhar e só porque ele diz que vai defender esse sistema, com todas as distorções que existem, então: “ah, vamos votar nele porque é a nossa alternativa ideológica”. É assim que um grupo de pessoas [pensa], aquelas de maior nível econômico e social que votaram em Paulo Salim Maluf por opção ideológica. A outra parte é aquela semelhante a dos “descamisados” que votou em Fernando Collor de Mello, e hoje está um tanto decepcionada, porque ele não modificou ainda a sua vida, mas que foi levada por um programa eleitoral bem feito, por uma diretriz. E é preciso observar que o programa do horário eleitoral do Paulo Salim Maluf teve qualidades no sentido de conquistar exatamente essa população. E nós, com nosso programa eleitoral gratuito muito menor, bem como os demais partidos, não conseguimos quebrar isso. Quer dizer, a oportunidade foi dada, mas nós não conseguimos conquistar esse eleitorado grande. Inclusive, eleitorado relativamente mais pobre e que, naturalmente, seria a nossa expectativa conquistar, como era a de Lula no ano passado em muito maior escala. E, no entanto, Fernando Collor, em 1989, e agora Paulo Salim Maluf conseguiram conquistar uma boa faixa [desse eleitorado]. Mas isso é algo que ocorreu numa fase da história. Nós não desistimos, nós acreditamos que vamos conscientizar, inclusive, essa população. A população, por exemplo, que veio em massa ao comício final da nossa campanha e ali estavam trinta ou cinqüenta mil pessoas e era uma população de trabalhadores. Ali estavam favelados, classe média, intelectuais, mas ali, a população é aquela que nós já conquistamos no sentido da sua conscientização, e ainda é insuficiente e nós precisamos compreender isso. Nós, do Partido dos Trabalhadores, começamos a realizar esse trabalho de conscientização há dez anos. Eu acho que avançamos significativamente, às vezes, tivemos expectativas de que a coisa iria ser mais rápida, mas não é, e nós não perdemos as esperanças.

Rodolfo Konder: Márcio...

Eduardo Suplicy: Nós temos a certeza de que vamos conseguir remover as montanhas, como na história do velho que removia as montanhas.

Luiz Augusto Michelazzo: [interrompendo] O senhor chegou a se manifestar...

Eduardo Suplicy: Já disse bastante. Aqui já estou dizendo bastante..

[risos]

Eduardo Suplicy: Mas eu passei dois dias descansando. Agora eu vou conversar muito

[risos]

Eduardo Suplicy: ...Mas, nem mesmo a apuração terminou. Eu, ontem, estava preocupado, liguei para meus amigos, “o que houve? 73%. Parou a apuração, por quê? Por que parou?”. De repente, estão fazendo alguma coisa lá na apuração porque eu não entendo que negócio é esse? Parar com 73%? Só para fazer cosquinha na gente. O que é? Ou será que vai ocorrer uma surpresa? Então, é preciso dar um tempo...

Delmar Marques: Quer dizer que o senhor se dá o direito de ter um momento de vacilação, como Mário Covas ano passado?

Eduardo Suplicy: Não é de...

Rodolfo Konder: [interrompendo] Delmar, vamos deixar os outros terminarem a roda.

Eduardo Suplicy: É de reflexão. Quem está acompanhando o meu raciocínio, está percebendo para onde estou caminhando.

Rodolfo Konder: Márcio Chaer.

Márcio Chaer: Verdade. Dá para perceber sim.

[risos]

Márcio Chaer: Eu queria fazer uma pergunta sobre o PT...

Eduardo Suplicy: [interrompendo] Eu quero dizer uma coisa. Eu, por exemplo, não sou a favor do voto nulo porque acho que, para quem acredita muito, como eu, na democracia, o voto nulo não é muito educativo. Didaticamente, as pessoas gostariam que eu não... Quer dizer, não é do meu feitio votar nulo... Se tivessem dois malufs aí não tinha jeito...

[risos]

Eduardo Suplicy: Mas mesmo aí... Aí seria... Pode ser em branco, sei lá, mas eu teria que pensar muito. Aí não tinha jeito. Mas, felizmente, não chegamos a tal profundeza do inferno.

[risos]

Márcio Chaer: Bom, eu queria fazer uma pergunta sobre o PT. Dez anos atrás, o PT era o que havia de novo na política brasileira, era a grande novidade, era quem tinha as propostas mais novas ali no cenário. Hoje, nós temos um PT que defende o emprego do funcionalismo público, de uma maneira radical, mesmo quando se trata dos ditos ociosos, não é?

Eduardo Suplicy: [interrompendo] Não, espera aí. Nós defendemos o bom uso...

Márcio Chaer: [interrompendo] É contra toda...

Eduardo Suplicy: [interrompendo] O bom uso do servidor público. Nós defendemos o bom uso do dinheiro público. Nós...

Márcio Chaer: [interrompendo] O senhor concorda que está inchada a máquina administrativa, em termos de funcionários, ou não?

Eduardo Suplicy: Um exemplo que tenho aqui é o da prefeita Luiza Erundina. Ela, por exemplo, está propondo que haja o sistema de transporte gratuito na cidade de São Paulo. Então, há milhares de pessoas que são cobradores. O que vai fazer? Vai despedir? Não é a proposição dela. A proposição dela é de fazer com que essas pessoas sejam retreinadas para assumir outras funções e, como na administração pública municipal, há muita coisa por ser feita, seja no setor de transporte, seja na saúde, na educação, essas pessoas serão redirecionadas para serem utilizadas no seu potencial para fazer algo produtivo e não, simplesmente, acabar por se colocar milhares de pessoas em disponibilidade, ganhando e sem nada a fazer. Nisso nós estamos em desacordo.

Márcio Chaer: Aí entra algo de opinião. Eu acho que tem funcionário demais, o senhor não acha? Mas o que eu depreendo de todo esse quadro...

Eduardo Suplicy: [interrompendo] Então, nós defendemos a racionalização da máquina administrativa.

Márcio Chaer: Perfeito. O senhor pode discordar também, mas eu acho que o governo tem órgãos inúteis, órgão que nãos servem para nada, que não servem o cidadão.

Eduardo Suplicy: [interrompendo] Claro, exatamente, isso mesmo. Então, temos que reformular a máquina administrativa federal. Por exemplo, na Câmara Municipal de São Paulo, eu, hoje estou em meio a uma reestruturação organizacional da Câmara. Aliás, isso é até algo importante que eu gostaria de transmitir aos meus colegas vereadores da Câmara Municipal. No final de junho nós íamos dar o primeiro passo da reforma administrativa, aí os vereadores disseram: “não, ainda não! Só em agosto”. Quando chegou agosto, os vereadores da oposição disseram: “olha, nós achamos que agora não há clima” basicamente porque qualquer coisa que ocorresse, se desse certo ou se desse errado, iria acabar influenciando, por exemplo, a minha eleição. Então, [ficou] para depois do dia três de outubro. Pois bem, agora chegou a hora e eu vou solicitar amanhã de todos os vereadores, dos 53 vereadores, que sentemo-nos e venhamos a refletir sobre a reestruturação organizacional que se faz necessária, já há um diagnóstico pronto, vamos conversar e ver como melhor utilizar os recursos humanos na Câmara Municipal de São Paulo.

Márcio Chaer: [interrompendo] Sim, mas...

Eduardo Suplicy: [interrompendo] E o objetivo aí não é de estarmos despedindo pessoas, é de utilizar melhor cada funcionário da Câmara Municipal de São Paulo. E veja que nós, de alguma forma, enxugamos bastante a Câmara Municipal. Ela tinha, quando nós entramos, 55 funcionários por número de vereadores, por cada vereador, hoje tem 33 por cada vereador. Quer dizer, houve um aumento de 33 para 53 vereadores e o número de funcionário permaneceu relativamente estável. Então, por número de vereadores, diminuiu. Agora, nós precisamos fazer com que cada um ali esteja servindo da melhor maneira possível o interesse do legislativo. Eu estou citando esse exemplo porque, do ponto de vista da administração pública, nós queremos racionalizar. Sabemos perfeitamente que há organismos federais que não funcionam ou que funcionam inadequadamente. Então, precisamos de transparência. Precisamos que o Congresso Nacional esteja muito atento a tudo que se passa em cada organismo público federal. Eu sei que são milhares de organismos, não é fácil para cada deputado estar olhando Petrobras, ou Correios e Telégrafos, ou a ferrovia, ou a rede ferroviária, porque cada um desses é uma estatal gigante e que, para o parlamentar ou um grupo de parlamentares, se enfronhar e saber muito bem do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, de tudo que ocorre com o PIS/Pasep é difícil, mas nós temos que enfrentar esse desafio.

Márcio Chaer: [interrompendo] Mas deixa eu terminar a minha pergunta vereador...

Rodolfo Konder: [interrompendo] Vereador, nós já estamos na metade do tempo, mas nós não vamos fazer o intervalo antes que a primeira rodada esteja completada.

Márcio Chaer: Deixa eu terminar a minha pergunta rapidinho aqui.

Rodolfo Konder: Então, eu vou pedir só para darmos chance aos outros fazerem as perguntas antes do intervalo.

Márcio Chaer: Então, a minha pergunta completa dizia respeito não a sua atuação pessoal, mas atuação do PT, que nós acompanhamos em Brasília. Nós temos um PT que defende, indiscriminadamente, o emprego do servidor público e fim de papo; é contra a extinção de órgãos públicos; é contra a privatização e é contra abertura dos portos, já que essa importação de produtos melhores e mais baratos, o Plínio [de Arruda Sampaio] define como nocivos ao trabalhador brasileiro que poderia perder o eu emprego. Tomando por base que conservador é aquele que não quer mudanças, será que eu poderia chamar o PT, hoje, de um  partido conservador?

Eduardo Suplicy: Primeiro, nós não seremos contra a desativação de órgãos que não servem ao interesse público. Houve, por exemplo, na história das estatizações brasileiras, muitos organismos que foram absorvidos pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] porque eram mal administrados pela iniciativa privada, então, numa forma de socializar prejuízos, houve, por exemplo, hotéis que o BNDES pegou e isso se fosse agora privatizado ou não, não seria importante. A outra coisa é você querer privatizar e vender, "na bacia das almas", [expressão popular que significa vender, perder ou ganhar no último instante, no calor do momento, sem opção, negociação ou ponderação] uma companhia Vale do Rio Doce, uma Cosipa, uma siderúrgica nacional, isso é algo que tem que ser muito bem cuidado. Oras, o patrimônio do povo tem que ser protegido e nós seremos rigorosos nessa questão. Agora, funcionário público não pode ficar em casa ganhando sem fazer nada como está ocorrendo no governo Collor. Os que foram... Como chama?

Márcio Chaer: Colocados em disponibilidade.

Eduardo Suplicy: Colocados em disponibilidade estão sendo pagos para nada fazer! Isso é uma situação de humilhação, é uma situação de degradação para o ser humano. Eu não posso, vou atacar isso para valer. Acho que é uma inadequação. Então, acho que isso é condenável. A outra pergunta que você colocou Márcio, perdão...

Márcio Chaer: ...De uma maneira global a privatização...

Eduardo Suplicy: [interrompendo] A questão das barreiras. Aqui se trata das barreiras alfandegárias. Toda economia que se industrializou posteriormente, as que já eram industrializadas, tiveram um período de proteção da indústria nascente. Os Estados Unidos em relação à Inglaterra, os países europeus mais atrasados em relação aos mais adiantados. O Japão em relação aos demais países, ele protegeu as suas indústrias por longo tempo. Eu tenho consciência de que a proteção exagerada acaba incorrendo em quê? Em fazer com que a indústria acabe se “oligopolizando”. Os mais diversos setores, por exemplo, da indústria automobilística, de autopeças, os da petroquímica e assim por diante, acabam se tornando pequenos grupos que formam oligopólios, cartéis e precisam do quê? Precisa haver meios de forçar a concorrência para que, inclusive, não atrapalhe o combate à inflação. Então, é preciso ter uma política, não de simplesmente baixar as barreiras alfandegárias de um dia para o outro para sucatear a indústria nacional, mas você precisa ter uma política planejada. E eu acho que o governo não está fazendo isso, uma política planejada de fazer com que o Brasil venha a competir, passo a passo... Quer dizer, de um lado, sem permitir que haja a proteção exagerada para a indústria nacional, mas de outro lado, gradativamente, baixar as barreiras alfandegárias sem, entretanto, levar à destruição, ao sucateamento as indústrias, como ocorreu no Chile e na Argentina, e pode ocorrer aqui com esse tipo de política que o Fernando Collor está adotando.

Rodolfo Konder: Severo.

José Antônio Severo: Vereador, eu gostaria de fazer uma pergunta sobre a questão interna do PT. Nós vimos o PT, ano passado, na eleição, pelo desempenho que teve e que não corresponde, absolutamente, ao que se viu nesta eleição, com exceção, exatamente, do seu caso, o senhor teve uma votação muito maior do que a do partido. Agora, o PT, quando foi para o segundo turno, fez acordos que não foram cumpridos, os diretórios regionais derrubaram o presidente do partido deixando uma situação muito difícil por sinal, aliás, para o candidato do partido. E nós vemos o Maluf ganhar no ABC, ou seja, essa vertente obreira do PT está começando a se dissociar do partido e os grupos que dominam a máquina estão levando o partido, justamente, para isso que o Márcio falou, para ser um partido de funcionário públicos, de professores, esse tipo...

Eduardo Suplicy: Olha, veja bem, eu sou otimista em relação ao que aconteceu com as eleições...

José Antônio Severo: [interrompendo] O senhor acha que o PT foi bem nessa eleição agora?

Eduardo Suplicy: Olha, é difícil nos compararmos 31 milhões de votos do Lula, no segundo turno, com aquilo que nós obtivemos agora, mas o 16 milhões que Lula teve no primeiro turno, se não me engano foi isso...

[...]: 16%.

Eduardo Suplicy: É, 16%, 11 milhões, não está muito distante daquilo que o PT nacionalmente vai conseguir em termos de votação para o legislativo, para o Congresso Nacional, para as Assembléias Legislativas. Nós vamos ter, pela primeira vez em diversos estados, representantes nas Assembléias Legislativas e no Congresso Nacional por estados onde não havia representação do PT. Mesmo a votação que os deputados federais, estaduais estão tendo no ABC é muito significativa. A votação que tive no ABC é da ordem de 40%, 50%...

José Antônio Severo: [interrompendo] Votaram no Maluf e no senhor...

Eduardo Suplicy: Sim. Mas ali houve esse fenômeno que eu acredito que nós vamos ter que fazer uma análise profunda sobre as razões pelas quais não conseguimos conscientizar inteiramente [a população] como nós acreditávamos. E como o Maluf, pela sua forma de proceder, pelo seu horário eleitoral... Por que, infelizmente, o nosso candidato, Plínio de Arruda Sampaio, não conseguiu conquistar ainda mais o eleitorado. Porque o Plínio teve uma significativa votação no ABC, uma votação entre segundo e terceiro lugar, isso é muito significativo. E nós vamos ter que estudar em profundidade para ver como, na próxima eleição, vamos conscientizar ainda mais. Porque erro houve e nós temos que ver isso.

José Antônio Severo: Quer dizer, o senhor acha que houve erros de lá para cá?

Eduardo Suplicy: Tem que fazer "um tijolo em cima de outro tijolo", nós vamos... Esse partido, nós sabemos que ele foi construído para viver por muito tempo e para construir um Brasil com muita paciência e para, realmente, transformar em profundidade. Agora, nós saberemos refletir sobre os nossos próprios erros e vamos seguir adiante.

Rodolfo Konder: Marcelo Parada.

Marcelo Parada: Vereador, o candidato Plínio de Arruda Sampaio deu uma entrevista na sede do diretório regional do PT, a primeira dele depois do dia três de outubro. Nessa entrevista, ele culpou o cerco da imprensa, do poder econômico e do TRE [Tribunal Regional Eleitoral] e a ausência de debates, ao seu insucesso no dia três de outubro e ratificou uma posição que ele já havia adotado. Segundo ele, as pesquisas eram manipuladas. Eu pergunto ao senhor se as pesquisas, no seu caso, também foram manipuladas. Gostaria também que o senhor comentasse a afirmação que o candidato fez ao explicar o sucesso do senhor nas urnas. Ele disse textualmente o seguinte: “Suplicy é uma pessoa que tem um trânsito muito grande nos meios de publicidade, é uma pessoa que tem outro tipo de comunicação com a massa, mais ampla do que uma proposta política, mais radical e mais rígida como eu defendo”. O senhor se considera mais moderado do que o Plínio de Arruda Sampaio?

Eduardo Suplicy: Olha, eu não ouvi a entrevista do Plínio. Então, ficaria difícil comentar, não tive a oportunidade de ouvir as palavras que ele disse, mas eu já passei por situação semelhante a que ele passou. Fui candidato em 1985 e aí tive um crescimento muito considerável, chegando quase a ter 20% dos votos, embora derrotado, na [época] foi então eleito Jânio Quadros [(1917-1992) foi deputado, prefeito (por duas vezes: em 1953 e em 1985) e governador de São Paulo. Foi presidente do Brasil em1961, renunciando após sete meses de mandato marcando a história política brasileira], eu fiquei em terceiro e Fernando Henrique em segundo. Depois, em 1986, eu cheguei a ter, por volta de março, abril na primeira pesquisa da Folha, 17% dos votos. Quando chegou em setembro, eu tive 5% a 6% dos votos. Não desacreditei das pesquisas de opinião. Eu acho que elas são um indicador e a verdade é que acabaram revelando. Então, por menos que a gente goste, as pesquisas de opinião indicam alguma coisa e nós tivemos formas de detectar que elas tinham algum significado. Agora, é fato que eu tenho muitos amigos nos meios de comunicação, como tenho muitos amigos entre todos os segmentos de profissão neste país e em São Paulo, e eu acho que a história das relações das pessoas com o povo se faz no dia a dia e decorre de cada gesto que se tem a cada momento da nossa vida. Quando, em 1985 e em 1986, por exemplo, eu tive dificuldades com alguns setores do partido, com alguns segmentos, eu procurei fazer daquilo algo que eu tivesse que aprender. E eu disse, algumas vezes nessa campanha, que o meu relacionamento com a direção, com a base do partido e com a população, estava em “lua de mel” e realmente eu...

Rodolfo Konder: [interrompendo] Vereador, nós vamos, infelizmente, nós vamos ter que interromper. Vamos ter que fazer um intervalo, retornando aí o senhor conclui, porque nós vamos ter que fazer um intervalo agora por razões de tempo, inclusive, porque nós estamos em rede. Vamos ao um pequeno intervalo e voltamos em seguida para a conclusão do Roda Viva. Por favor.

[intervalo]

Rodolfo Konder: Muito bem, voltamos aqui aos estúdios da TV Cultura com o programa Roda Viva que hoje está entrevistando o presidente da Câmara de Vereadores, Eduardo Suplicy, senador eleito por São Paulo [...] Muito bem, vamos concluir aqui a resposta ao Marcelo Parada, da Folha, que o senhor estava no meio e eu tive que interromper.

Eduardo Suplicy: Então, a minha relação com o povo é diferente talvez, em relação à do Plínio, mas é uma relação construída no dia a dia, ao longo das nossas vidas. Sobre se eu sou mais ou menos radical, depende em relação ao quê. Por exemplo, eu sou radicalmente transparente. O Plínio acha que, às vezes, eu sou transparente demais. Ele mesmo disse outro dia, “transparência demais, Suplicy”. Eu sou mesmo. Eu sou a favor da transparência. Eu sou a favor que se diga as coisas, para mim, não tem que ter segredos. Eu acho que a coisa pública tem que ser transparente. Lá, na Câmara Municipal, muitas pessoas se incomodam comigo porque eu já vou logo revelando. Quer dizer, a diferença fundamental que houve quando eu entrei na presidência em relação ao antigo presidente é que ele não falava com a imprensa e comigo a imprensa entra, sai, conversa, pergunta na saída, na entrada, às vezes, toma um café. Então, a qualquer momento do dia eu falo, eu converso, por quê? Porque eu presido a coisa pública, eu presido o legislativo municipal, as coisas que ali se passam têm que ser transparentes. Então, exemplo, a reunião da mesa diretora, como se faz? Nós, primeiro resolvemos gravá-la, transcrevê-la, colocar a transcrição na biblioteca para quem quiser saber. E, mais do que isso, resolvemos transmiti-la, assim como uma reunião plenária da Câmara Municipal foi transmitida para qualquer setor da casa... É como, por exemplo, na Folha de S.Paulo onde a reunião da diretoria, não apenas com os editores, mas a própria reunião administrativa, a que decide sobre os funcionários, quem vai ser contratado, quem não é, fosse aberta, transmitida. Por que isso? Porque lá está se administrando a coisa que é do povo. Então, não tem que ficar escondendo. Aí eu sou, realmente, radicalmente transparente. Também sou radicalmente a favor da democracia, eu acredito [nela], e esta eleição me fez ter mais fé na possibilidade de transformarmos revolucionariamente, em que sentido? No sentido de transformar as coisas para valer por meios democráticos. Eu acredito que a forma mais revolucionária de se transformar a sociedade humana é pela democracia. Então...

Marcelo Parada: Vereador, o candidato Plínio de Arruda Sampaio se utilizou da expressão “o senhor é muito transparente” no dia três de outubro quando o senhor saía de um colégio da Capela do Socorro e, contrariando um gesto de políticos, disse que havia votado em Hélio Bicudo [jurista. Foi ministro da Fazenda no governo João Goulart, em 1963. Também foi deputado estadual e vice-prefeito da cidade  de São Paulo. Ficou famoso ao denúnciar os crimes do Esquadrão da Morte. Ver entrevista com Hélio Bicudo no Roda Viva] para deputado federal e Pedro Dallari para deputado estadual. Coincidentemente são dois candidatos que não andam muito de bem com a direção do partido. Hélio Bicudo, inclusive, já qualificou essa direção de stalinista e burocrata. É apenas uma coincidência ou o senhor vê neles mesmo os melhores candidatos?

Eduardo Suplicy: Eu vejo neles candidatos excepcionais e, em desacordo com a interpretação de que isso pudesse significar qualquer atitude contra a direção do partido, inclusive, contra a direção do partido que eu acabo de dizer, tem ótima relação comigo, então, não teve nada haver. Eu aproveito para dizer por que tantos companheiros mereciam o meu voto, eu gostaria de dar votos a muitos companheiros candidatos a deputado federal. Agora, Hélio Bicudo teve uma relação histórica comigo importante, e eu quero explicar a todos aqueles que gostariam também de ter o meu voto que é como uma homenagem a alguém que, na Comissão Teotônio Vilela dos Direitos Humanos, foi meu companheiro de muitos anos, foi candidato a vice-governador quando eu muito batalhei, ao seu lado e ao lado de Lula, em 1982. Quando, em 1986, ele e Jacó Bittar [um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), foi prefeito de Campinas em 1988] foram candidatos ao Senado, então, nós estivemos juntos muitas vezes. Hélio Bicudo terminou a campanha um pouco ressentido comigo. Ele falou: “ah, não tive todo o espaço que eu gostaria no horário gratuito”. “Por quê?”. “Porque foi dado muito espaço ao Eduardo [Suplicy]”. Aquilo não foi uma decisão minha, foi uma decisão do partido. Então, como eu quis dizer, foi uma espécie de homenagem a ele, porque eu acredito que ele vai ser um excelente deputado federal. E não teve importância essa questão recente, por exemplo, dele não ter sido escolhido para a direção nacional do partido, não teve. Bem como a escolha de Pedro Dallari é um testemunho que dei da qualidade excepcional do trabalho que ele teve como vereador na Câmara Municipal de São Paulo. Há muitos outros que eu gostaria de também votar. Agora, eu, como qualquer cidadão, tenho um voto, é uma escolha... Agora, como eu sabia o peso do voto de um candidato ao Senado, então, eu não fiz a revelação antes do dia da votação, para não usar do meu peso e privilegiar um em relação ao outro. Mas, naquele dia, por que não revelar? Ué! Bom, é uma opção minha. Eu respeito o direito de quem prefere não revelar o seu voto. O voto é secreto também. O Fleury usa muito isso, eu acho que ele deveria revelar o voto dele. Eu revelo, não tem problema.

Marcelo Parada: Se ele dissesse que votou em Lula, o PT o apoiaria? Facilitaria as coisas?

Eduardo Suplicy: Como parece que ele votou em Collor, por essa razão que complica ainda mais.

[risos]

Rodolfo Konder: Nós estamos já com muitas perguntas aqui dos telespectadores. Eu vou pedir só, no caso das respostas aos telespectadores, que a gente procure fazer respostas mais rápidas possíveis. A Cecília Thompson, do Ibirapuera, São Paulo, pergunta o que o senhor acha do voto distrital e da obrigatoriedade do voto.

Eduardo Suplicy: Eu achava que não precisaria haver voto obrigatório, hoje estou mudando de posição. Mas essa eleição indica que não há porque estar considerando o voto uma obrigação. Eu acho que o voto é um direito, aliás, é uma das frases brilhantes do Carlito Maia, “voto é direito do povo”. Tem que se dar todo o direito para ele exercer isso, as condições para ele exercer, sem qualquer constrangimento, sem estar se dando qualquer favor a ele. Então, hoje sou favorável ao voto facultativo. Agora, voto distrital tudo bem, desde que misto, porque há muitos representantes do povo que tem um a representação muito mais do que distrital. Então, é preciso levar em conta as duas coisas.

Rodolfo Konder: Jaime Rosie, do Jardim Paulista, São Paulo e Antonio Oliveira, de Mogi das Cruzes, São Paulo, ambos perguntam sobre as consequências do escândalo na Câmara Municipal, se houve punição, se haverá punição. E quais foram os resultados.

Eduardo Suplicy: No âmbito administrativo, houve 22 comissões processantes, quase todas concluídas. Houve alguns funcionários que foram suspensos, mais ou menos depois de uns 15 dias, outros depois de noventa dias, outros foram afastados, demitidos, no caso de faltas graves. Por exemplo, aqueles que estavam utilizando recursos da Câmara Municipal para aplicar na sua conta pessoal, no Over [overnight é a taxa média que indica as aplicações financeiras feitas no open-market de um dia], esses casos foram demitidos. O caso de maior responsabilidade, por solicitação proposta na mesa... Aliás, especialmente, o vereador José Viviani Ferraz fez um pedido, ele, que é do PL [Partido Liberal], falou: “olha, estão dizendo que se você julgar esse caso antes da eleição vai ser utilizado em beneficio da campanha, então vamos julgá-lo após a eleição”. E eu ponderei: “tudo bem”. Esse é um caso de grande responsabilidade, trata-se da decisão administrativa, não a que está tramitando na Justiça sobre o ex-diretor geral da casa. Então, vai ser julgado daqui a alguns dias, portanto, após dia três de outubro. Mas todos os processos estão chegando a uma conclusão, do ponto de vista administrativo. Aqueles que estão no âmbito da Justiça, pela informação que tenho, dos diversos fóruns onde estão tramitando – e há diversos juízes responsáveis – é de que até o final deste semestre todos os casos serão concluídos. A sentença judicial é de responsabilidade do juiz. Nós enviamos para o âmbito da Secretaria da Segurança, o promotor público fez as denúncias. E depois enviamos para a Justiça todos os casos. Então, a sentença agora cabe a Justiça.

Rodolfo Konder: Maria Beatriz Siqueira, de Martinópolis, São Paulo; Abel augusto, da Mooca, São Paulo; Osteno Souza, de Ilha Solteira; Gino Aríete, de Água Rasa, São Paulo; Paulo Roberto Conti, de São Bernardo do Campo, São Paulo; Eduardo Pires, do Jabaquara, São Paulo, todos eles perguntam sobre o voto nulo. O senhor já respondeu, mas eu queria fazer uma menção porque são pessoas preocupadas com relação a esse problema e a posição que o PT vai adotar no segundo turno. Agora, Jaime Souza Marcos, do Jardim Bonfiglioli, pergunta: “como o senhor explica a vitória de Paulo Maluf no ABC?” O senhor também já respondeu a isso. E Neili Bortoletto, de São Caetano; Regina Soares - aqui temos algumas perguntas de eleitoras - do Sumaré, São Paulo e Rita de Cássia, de São Caetano; as três perguntam como o senhor mantém a sua boa forma física e como o senhor conseguiu esse bronzeado.

[risos]

Eduardo Suplicy: Eu normalmente acordo cedo e vou... Não deu para fazer nos últimos três meses. Mas, normalmente, umas três ou quatro vezes por semana eu vou ao Parque do Ibirapuera e corro por uma hora. Recomendo a todos fazerem isso nos parques mais próximos de suas casas, faz um bem danado. Com respeito a...

Rodolfo Konder: Quanto ao bronzeado?

Eduardo Suplicy: Eu estive na praia, em Picinguaba, estive lá conversando com os pescadores... Aliás, queria até fazer um agradecimento, porque é incrível... Isso tem a ver um pouco com a questão que o Marcelo Parada me fez. Quer dizer, não são apenas os jornalistas, os pescadores de Picinguaba que me conhecem há 12 anos, desde 1978, todos vieram a mim neste final de semana e disseram: “olha, nós aqui demos muita força a você. Estávamos torcendo e quase todos nós aqui” - não posso saber todos, mas eles falaram - “aqui quase todos nós pescadores” – e são famílias que vivem de maneira simples, ali é uma vila entre Ubatuba e Parati, uma das últimas vilas de pescadores e mais bonitas que existem no litoral paulista – então, eles disseram: “olha, nós aqui votamos em você”! “Por quê?”. “Porque conhecemos você no dia a dia”. Eu dialogo com eles, troco idéias, ouço a respeito dos seus problemas de pescadores. Quer dizer, essa é uma coisa que ocorre ao longo da vida... Sobre a questão do voto e da decisão do diretório estadual, o José Américo, inclusive, no intervalo, me esclareceu o resultado da reunião. Estão aqui o Paulo Okamotto, presidente estadual do Partido dos Trabalhadores, o José Américo e o Cândido Vaccarezza, todos os três da direção estadual, e me informaram o seguinte: a direção estadual tomou hoje uma posição que vai para a direção nacional, mas vai também ser discutida pelas bases do partido. E as bases do partido terão, como é próprio do Partido dos Trabalhadores, a possibilidade de discutir, refletir... Inclusive, eu, como membro dessa base do partido, estarei trocando idéias com todos. Então, a dinâmica que vai ocorrer nos próximos dias poderá fazer o partido refletir numa ou noutra direção, isso é muito importante. E eu quero ir para esse encontro com o partido para refletir sobre essa decisão muito difícil. Quer dizer, se nós estamos diante do inferno e diante de outra situação que nós ainda não conseguimos compreender se vai ser também inferno, então, qual decisão tomar? É isso que o partido tem que decidir, não é?

Rodolfo Konder: Calisto Fernandes Filho, de Mogi das Cruzes, São Paulo; Denise Jordano, de Jundiaí, São Paulo e Natércia de Fátima Gilio, da Bela vista, São Paulo também perguntam sobre as funções do senador, em que o senador se distingue do deputado federal.

Eduardo Suplicy: Bem, o senador é um representante do estado. A federação com diversos estados tem em cada estado, não importa se pequeno ou grande... Por exemplo, nós temos estados como o do Amapá, do Acre, cada um desses estados vai ter três senadores. O Distrito Federal tem três senadores e São Paulo, que é o mais importante em termos de população e economicamente falando, vai ter também só três senadores. Então, o senador por São Paulo é eleito... no caso, Fernando Henrique e Mário Covas foram eleitos com quase oito, seis, setes milhões de votos. No caso, eu serei eleito com quatro milhões e meio, é preciso distinguir que lá todos tinham oportunidade de votar em dois, agora só em um. Então, daí também essa diferença de votos. Se todos pudessem ter votado em dois senadores, eu acredito que eu teria uma votação ainda mais expressiva. Pois bem, eu vou para o Senado Federal com esse peso de votação. Mas em termos de voto, o senador do Acre, Amapá, terá tanto quanto eu. Agora, o senador, basicamente é um representante do povo que tem a função de legislar, fiscalizar o executivo, dizer os anseios da população em cada momento. Há algumas coisas que o distingue em relação ao deputado federal, o senador tem maior possibilidade de estar fiscalizando o executivo. Quando vem um ministro responder perguntas dos senadores, cada senador tem muito maior possibilidade de estar dialogando do que um deputado federal, que tem apenas três minutos, eu fiz isso com o Delfim Neto, com Dílson Funaro [(1933-1989) ministro da Fazenda entre 1985 e 1987], com Francisco Dornelles [ministro da Fazenda entre março e agosto de 1985], era uma angústia. Eu tinha três minutos para perguntar tudo que queria e depois não tinha direito a réplica. Daí, eu ia ao Senado e via o senador pergunta, o ministro responde, o senador intervém de novo e ficam trinta ou quarenta minutos, é a regra do jogo ali. Então, o senador tem muito mais possibilidade. O senador é muito importante no que diz respeito às questões externas, é o senador quem aprova ou não a designação de cada chefe de missão diplomática. Isso é só o senador que faz. O senador também aprova o nome do presidente do Banco Central, tem muito maior responsabilidade sobre a situação das autoridades monetárias, como estão administrando o país. Então, aí estão alguns exemplos.

Rodolfo Konder: Leo Alcaros, de Interlagos, São Paulo, pergunta se o senhor vai prosseguir na sua luta pela redução do mandato dos senadores para quatro anos?

Eduardo Suplicy: Sim! Essa é uma das primeiras medidas que apresentarei na emenda constitucional, reduzindo de oito para quatro anos o mandato do senador. Por que razão? Para que nenhum se acomode ao longo de um período tão longo de mandato.

Rodolfo Konder: Perfeito. Vamos voltar aqui a nossa roda. Studart, por favor.

Hugo Studart: O senhor acaba de fazer um voto, uma transparência, aliás, eu até anotei as suas palavras, o senhor disse que é radicalmente a favor da transparência e que acha que o homem público não deve ter segredos. Eu gostaria de fazer duas perguntas, uma de ordem pessoal e outra de uma questão interna, um segredo do PT. A de ordem pessoal, eu gostaria de saber quanto o senhor ganha? Ou seja, quais são as somas dos seus rendimentos, como professor e vereador. E mais, eu não sei se o senhor tem imóveis, rendimentos de família, ações de família. E a outra, também de ordem pessoal, qual é o tamanho da sua riqueza?

Eduardo Suplicy: Está na declaração de bens e, portanto, é público e como candidato...

Hugo Studart: Certo.

Eduardo Suplicy: Apresentei a declaração de bens. As minhas principais propriedades são a residência onde eu moro, na rua Grécia, uma boa residência, tenho uma propriedade pequena, na vila de pescadores de Picinguaba e tenho duas lojas na avenida São Luís e ainda propriedades no edifício da avenida Paulista com a alameda Casa Branca que ainda estão como usufruto de minha mãe. Não tenho qualquer relação de propriedade, por exemplo, com as indústrias Matarazzo, ou seja, não tenho propriedades em indústrias e empresas. Sou professor na Escola de Administração na Fundação Getúlio Vargas, onde a minha remuneração líquida por aulas foi da ordem de oitenta e poucos mil cruzeiros no último mês e a remuneração...

Hugo Studart: [interrompendo] Como vereador...

Eduardo Suplicy: De vereador, incluindo a verba de representação no último mês, acho que foi em torno de 490 [mil cruzeiros], porque é semelhante a do deputado estadual, porque o vereador ganha 80% da remuneração do deputado estadual...

Hugo Studart: Assim, mais ou menos uns quinhentos mil.

Eduardo Suplicy: E com a verba de representação, que cabe ao presidente semelhante ao da prefeita, então, tem esse acréscimo que faz com que a remuneração seja igual a do deputado estadual. Isso é o que eu ganho, pessoalmente.

Rodolfo Konder: Luiz Augusto Michelazzo.

Hugo Studart: Eu gostaria de fazer outra questão sobre o PT.

Eduardo Suplicy: [interrompendo] E da remuneração do meu mandato, 30% vai ao Partido dos Trabalhadores como é próprio de todos os parlamentares do Partido dos Trabalhadores.

Hugo Studart: Vereador, não é segredo do PT que, nesta campanha, a maior parte dos candidatos a deputados não fizeram campanha para Plínio de Arruda Sampaio, aliás, o senhor foi um dos poucos candidatos que fez campanha ao lado dele, como também aparece ao lado de Hélio Bicudo. Mas nós sabemos... Por exemplo, o Lula não só levantou a bandeira pelo Aloizio Mercadante [economista e deputado pelo PT paulista - ver entrevista com Mercadante no Roda Viva]...

Eduardo Suplicy: [interrompendo] Não é verdade. Não é verdade. Aí eu preciso...

Hugo Studart: [interrompendo] Bom, eu queria saber o seguinte: o que aconteceu com o PT?

Eduardo Suplicy: Neste ponto, eu posso afirmar... Porque eu fiz campanha ao lado do Plínio desde que fomos indicados, mesmo antes, em janeiro deste ano eu fui à casa do Plínio e falei: “olha Plínio, de longe você é o melhor candidato a governador que podemos ter.”

Hugo Studart: [interrompendo] O senhor fez. Agora qual...

Eduardo Suplicy: [interrompendo] E, portanto, estando ao lado dele, eu pude testemunhar que todos os candidatos a deputado estadual e federal estiveram juntos nos comícios, nas passeatas e tudo. E o Lula fez campanha. Imagina, o Lula fez muita campanha para o Plínio de Arruda Sampaio. Disso eu tenho certeza, não ouvi em nenhum momento da parte do Plínio, ou de quem quer que seja, que o Lula não tivesse feito campanha...

Hugo Studart: [interrompendo] Com o mesmo empenho que fez para o senhor em 1986?

Eduardo Suplicy: Também. Fez, aliás, com muito empenho. O Lula fez campanha para os candidatos a governador em outros estados. O Lula foi à porta de fábrica de manhã cedo com o Plínio de Arruda Sampaio. Na campanha de 1986, o Lula, muitas vezes, seguia o seu caminho próprio, mas, inúmeras vezes, nós estávamos cruzando e fazendo campanha juntos. Ele, obviamente, era então candidato a deputado federal e tinha que fazer a sua campanha, ele usou a estratégia de fazer a campanha mais na grande São Paulo e eu, candidato a governador, tinha que percorrer o estado todo. Mas, olha, os candidatos a deputado estadual e federal também fizeram campanha para o Plínio.

Rodolfo Konder: Luciano Martins.

Luciano Martins: Voltando à questão do segundo turno. Parece aquela história do caubói que entra no saloon e tem um tiroteio entre o Jesse James e o Billy, the kid [ambos famosos bandidos do velho oeste norte-americano do final do século XIX, retratados, posteriormente, em filmes e romances]. Quer dizer, o PT mais uma vez vai se "deitar embaixo da mesa", como se não pudesse haver a possibilidade de sobrar uma bala perdida ou essa coisa nos remete a uma velha discussão do partido sobre a vocação parlamentar do PT? Uma discussão que houve no começo do partido e que se repete, às vezes mais, outras vezes menos intensamente, a cada eleição. Não seria o caso do PT ter centrado a sua campanha no parlamento, antecipando o que, de certa forma, as urnas acabaram mostrando? Quer dizer, o eleitor votou de uma forma muito mais maciça no candidato a senador, nos candidatos a deputado do que no candidato ao executivo.

Eduardo Suplicy: A primeira parte, eu sou a favor de que não fiquemos embaixo da mesa. A segunda parte, eu acho que o [jornalista] Jânio de Freitas fez um comentário importante, naquele "P versus o T",  e eu acho que nós deveríamos ter dado maior importância ao legislativo e temos que pensar que, na próxima vez, temos que dar mais tempo. Felizmente, nós estamos conquistando maior número agora, na Assembléia Legislativa e na Câmara dos Deputados e, em conseqüência, a grande conseqüência positiva disso é que nós teremos, na próxima vez, mais tempo para apresentar as nossas propostas, tanto para o executivo quanto para o legislativo, e vamos ter que equilibrar isso.

Rodolfo Konder: Luiz Augusto Michelazzo.

Luiz Augusto Michelazzo: Senador, como o senhor vê esta propalada ida da esquerda, via CUT [Central Única dos Trabalhadores], que é de forte influência petista, para negociar com o governo Collor? O senhor acha que a negociação com o governo é um meio válido para colocar posições consistentes? Como o senhor vê essa questão?

Eduardo Suplicy: Olha, a CUT sempre quis colocar as suas proposições para o governo federal. O fez com enorme dificuldade no governo Sarney e nem sempre conseguiu ser recebida, embora solicitando. E, agora, enviou as suas proposições ao governo Collor. Eu acho que quem agiu incorretamente foi o presidente Fernando Collor, porque logo que assumiu... E isso não era de se esperar de um presidente eleito diretamente pelo povo depois de trinta anos, de medidas vindas de surpresa, de uma hora para outra, era de se esperar que ele convocasse, logo no início, todos os segmentos da sociedade, os trabalhadores, a CGT [Confederação Geral dos Trabalhadores], a CUT, os empresários, que todos sentassem na mesa com os partidos políticos de situação e de oposição, e não simplesmente baixasse medidas provisórias para depois dizer ao Congresso Nacional: "vocês têm que aprovar isso!" Distribuir favores aos aliados para que aprovassem sem muita discussão, sem nenhum diálogo de maior respeito para com a oposição. Isso eu achei o "fim da picada". Agora que o plano está em dificuldades é que ele resolve finalmente convidar a CUT. Já tentou há três meses, entretanto, de uma forma tão impositiva que não foi possível o diálogo. Agora, o presidente Fernando Collor... E veja em que situação ele está! Uma situação difícil em que ele verifica que talvez a coisa não vai dar certo, então, "vamos chamar a CUT para dizer a ela que tudo está em aberto e em negociação". Vamos ver, exatamente, o que é que vai ocorrer. A CUT se posicionou, eu acho que com muita dignidade, e é preciso respeitar os seus pontos de vista. O governo diz que está em aberto. Vamos ver se realmente está em aberto, mas um dos problemas maiores é relativo à dívida externa. E aqui há que se fazer uma advertência à nação, porque isso está ocorrendo amanhã. A ministra Zélia Cardoso de Mello anunciou há poucos dias, antes de três de outubro, que ela iria construir, criar um fundo de poupança para fazer frente ao pagamento dos credores internacionais. Ela, que tanto criticava aquele comitê de bancos, está indo para Nova Iorque negociar no terreno deles as condições, sabendo que o comitê de bancos, que, incrivelmente, tem as suas despesas caríssimas pagas pelo governo brasileiro. E a ministra Zélia, enquanto assessora do candidato Fernando Collor de Mello, tanto criticava o procedimento de estar negociando com esse cartel, ela resolve novamente negociar com esse cartel e dá sinais evidentes de estar cedendo às pressões desse cartel internacional. Sinal disso é esse fundo que ela vai criar. Vai criar a partir de recursos de onde? Se for para fazer esse fundo com a poupança do povo brasileiro congelada por 18 meses, a partir de 16 de março, então, mais uma vez, serão os pequenos, os médio poupadores, além dos descamisados e trabalhadores assalariados que irão pagar o pato.

Rodolfo Konder: Delmar, vamos fazer uma última pergunta, porque o tempo já está se esgotando, por favor.

Delmar Marques: O senhor está muito correto na sua afirmativa de que o PT deve fazer perto de oito, nove milhões de votos, muito perto da votação do Lula no primeiro turno. As somas de voto de PT, PDT e PSDB devem chegar perto de 26 milhões de votos. Apesar de ter esse apoio maciço da população, as esquerdas não conseguiram fazer muitos governadores. Quer dizer, o que aconteceu é que houve uma divisão muito grande da esquerda, a partir até da posição isolacionista do PT, que não quer fazer acordos. Então, se procura grandes culpados, hoje o Plínio deu entrevista contando várias razões, agora uma das principais razões das derrotas, que foram impingidas às esquerdas como um todo, não estão nesse isolacionismo?

Eduardo Suplicy: Olha, me desculpe o Plínio, mas aqui vou discordar um pouco dele. Apesar do cerco da imprensa, do extraordinário poder econômico dos nossos adversários, eu acho possível quebrar isso. E eu vou voltar à história do velho que removia as montanhas, porque se nós tivermos a vontade que tivemos em formar o Partido dos Trabalhadores, em 1980, em batalhar por aquilo que acreditávamos, na extraordinária campanha "sem medo de ser feliz" [música tema da campanha presidencial de Lula], de 1989, se a gente continuar com a fibra que, muitas vezes, caracterizou a campanha de 1989... A campanha de 1988, da Luiza Erundina. Ela deu uma lição incrível em 1988. Eu, que em 1986 tive momentos difíceis, na campanha, vi a Luiza Erundina chegar e dizer: “puxa, agora eu entendo porque você, às vezes, até parou aqueles três dias, porque eu tive motivos para isso”. Ela falava, mas ela não desistia. E, na época, muitas pessoas estavam desacreditando, três semanas, duas semanas antes, inclusive, membros da direção do partido, e ela foi em frente, não desistia, cada vez mais animada até a última gota, e conseguiu ganhar a eleição. Nós temos que acreditar em nós mesmos. Nós temos que ir até o fim, não desistir, até a última hora e da mesma maneira. Eu, em algumas ocasiões, contei essa história no comício e vou relatá-la de novo: tinha um velho que vivia nas montanhas, uma montanha o atrapalhava muito, era o sol que atrapalhava para fazer a plantação onde ele queria, ele foi querer remover aquela montanha. E todo dia ia para o topo dela com a pá, com a enxada, com o balde e trabalhava, trabalhava. E um velho, seu vizinho, foi e disse: “mas o que você está fazendo?”. “Estou removendo essa montanha, você não está vendo?” "Mas você não vai conseguir! Você vai trabalhar a vida toda. Essa montanha não vai sair daí”. “Vai sair. Eu vou trabalhar, eu com meus filhos, os filhos dos meus filhos”. Até que um dia os anjos dos céus vendo o homem trabalhar tanto se comoveram e removeram aquela montanha. É algo assim que eu acredito. Essa história, para quem conhece o Livro Vermelho, de Mao Tse Tung [(1893-1976), fundador da República Popular da China, em 1949, e criador do marxismo-leninismo-maoismo], é contada por ele, quando ele dizia, em muitas histórias como esta,  que "se na velha China acontecia isso, na China que ele vivia havia  montanhas”. O Roberto Muylaert, diretor desta emissora, presidente da TV Cultura, sabe muito bem como essa história nos emocionou quando estivemos na China juntos, em 1976. Então ele dizia: “hoje na China...” - 1920, 30, 40 – “há três grandes montanhas que atrapalham o povo chinês, o feudalismo, o imperialismo e o capitalismo, e o povo chinês vai lutar com tanta fé, que vai um dia remover essas montanhas”. Eu acho que, da mesma maneira, nós, que formamos a União Democrática Popular nesta eleição, nós, do Partido dos Trabalhadores, que estamos há apenas dez anos nessa caminhada, nós vamos remover a montanha da corrupção, a montanha da inflação, a montanha daqueles que se aliam aos interesses econômicos, daqueles que ficam financiando suas campanhas, certos de que depois vão poder partilhar do bolo de uma maneira incomensuravelmente indigna para o povo, mas que por isso financiam tanto as campanhas desses nossos adversários, que agora estão aí disputando o segundo turno, para a nossa tristeza. É muito difícil para nós a decisão. É difícil. Mas nós vamos continuar batalhando, e eu acredito que nós não podemos desistir de maneira alguma. Ao Plínio de Arruda Sampaio, que teve um desempenho à altura da confiança que o partido lhe deu, “olha Plínio, não se trata apenas da questão do cerco que a imprensa fez, não se trata apenas do extraordinário poder econômico que outros tiveram, mas vamos ter fé naquilo que a gente tanto acredita. Você vai conseguir levar adiante também o que você acredita”.

Rodolfo Konder: [interrompendo] Vereador, eu vou ter que cercear o seu tempo. Já estamos sendo advertidos, porque o tempo esgotou. Temos que terminar, infelizmente...

Eduardo Suplicy: Tudo bem.

Rodolfo Konder: De qualquer forma eu agradeço muito, em nome da TV Cultura, a sua presença aqui, vereador Eduardo Suplicy, presidente da Câmara de Vereadores e agora senador eleito por São Paulo. Agradeço a presença dos jornalistas que nos ajudaram a fazer a entrevista. Aqui a Bernadete, a Cristina e a Viviane que atenderam tão gentilmente o telefone, a presença dos convidados da produção e a atenção dos telespectadores, inclusive, daqueles que nos honraram com as suas perguntas. E teremos um novo programa Roda Viva, na próxima segunda-feira, às nove e meia da noite, como sempre. Muito obrigado e até lá.

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