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Memória Roda Viva

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Paulo Maluf

23/10/1995

Com a promessa de que deixaria a prefeitura em melhor situação do que encontrou, o então prefeito de São Paulo defende a lei anti-fumo em restaurantes e a obrigatoriedade do uso cinto de segurança, entre outras questões polêmicas

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[programa ao vivo]

Matinas Suzuki: Boa noite. Ele está transformando a cidade em um canteiro de obras que faz a ponte como seu futuro político. No túnel do Roda Viva desta noite está o prefeito de São Paulo, Paulo Salim Maluf.

[Comentarista]: Engenheiro civil pela USP, casado, quatro filhos, Paulo Salim Maluf estreou na vida pública em 1967, quando ganhou, do governo militar, a presidência da Caixa Econômica Federal, em São Paulo. Em 1969, foi nomeado prefeito de São Paulo e deu ênfase às obras viárias, como as marginais e a via elevada, conhecida como Minhocão. De 1971 a 1975 ocupou a Secretaria Estadual dos Transportes, e, em 1978, derrotou Laudo Natel [fgovernador de São Paulo em dois mandatos: o primeiro entre 1966 e 1967 e o segundo, indiretamente, entre 1971 e 1975. Também foi diretor e presidente do São Paulo Futebol Clube e ficou conhecido por viabilizar a construção do estádio do Morumbi] na eleição indireta para governador. Assumiu com uma proposta polêmica: mudar a capital para o interior. Maluf queria também procurar petróleo em São Paulo e criou a Paulipetro. Até ser extinta, a empresa consumiu mais de trezentos milhões de dólares sem resultados. Em 1982, Maluf fez seu primeiro teste nas urnas e se elegeu deputado federal pelo PDS [Partido Democrático Social] com a maior votação do país. Tentou a presidência e perdeu para Tancredo Neves [(1910-1985), primeiro presidente civil, depois de 20 anos de ditadura militar no Brasil] no Colégio Eleitoral, em janeiro de 1985. Seguiram-se mais quatro derrotas, para governador, prefeito, presidente e, novamente, para governador, mas ele se recuperou, melhorou sua imagem e se elegeu prefeito de São Paulo em 1992. A administração de Paulo Maluf está sendo marcada por medidas polêmicas, mas de apoio popular como a proibição de fumar em restaurantes, o uso obrigatório do cinto de segurança e a prestação de um serviço gratuito de esterilização, laqueadura e vasectomia na rede municipal de saúde. Maluf quer implantar um novo plano de atendimento à saúde, que prevê a administração dos hospitais por cooperativas de médicos; e executa o projeto Cingapura, que prevê a construção de prédios em áreas ocupadas antes por favelas. Em meio às polêmicas, ele também enfrenta acusações, uma delas é que a prefeitura dobrou os gastos com publicidade e pagou um milhão e duzentos mil reais para transmitir pela TV a maratona de São Paulo, e mostrar nove de suas principais obras, incluindo o túnel sobre o Ibirapuera. O prefeito de São Paulo tem uma ambição declarada: quer suceder Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República.

Matinas Suzuki: Para entrevistar o prefeito Paulo Salim Maluf, nós convidamos os jornalistas Marcelo Beraba, que é secretário de redação da Folha de S.Paulo; Pedro Cafardo, editor chefe do jornal O Estado de S. Paulo; Luciano Suassuna, chefe de redação da revista Isto É, em Brasília; Josemar Gimenez, que é diretor de redação do Diário Popular; Nirlando Beirão, editor sênior da revista Playboy; e Marcelo Parada, diretor de jornalismo da rádio Eldorado AM. [...] Boa noite prefeito Paulo Maluf.

Paulo Salim Maluf: Boa noite.

Matinas Suzuki: O senhor parece muito bem disposto, estava brincando que se boa disposição ganhasse as eleições, o senhor seria um sério candidato nas próximas eleições presidenciais.

Paulo Salim Maluf: Obrigado.

Matinas Suzuki: Prefeito, embora nosso programa seja transmitido nacionalmente, e eu acho que para o senhor é muito bom isso, em São Paulo, um dos grandes assuntos que atravessam algumas semanas as conversas da cidade é sobre o polêmico decreto sobre a proibição de se fumar nos restaurantes. Prefeito, o senhor não acha que o senhor exagerou um pouco na dose, e que essa proibição é radical demais?

Paulo Salim Maluf: Não. Não acho que exagerei. Em primeiro lugar, porque, quando você vai numa igreja, você não fuma, quando você vai num culto evangélico, você não fuma, quando você está no ônibus, você não fuma, quando você vai para o cinema, você fica duas horas sem fumar. Então, eu não estou proibindo ninguém de fumar, quem quiser fumar pode fumar na sua casa, pode fumar na rua, quem quiser fumar no automóvel pode, pode fumar nas redações dos jornais, pode fumar no seu escritório ou no seu trabalho. O que nós pedimos é baseado em três leis existentes: de que nos restaurantes não se fume, ou seja, você vai para um almoço de uma hora, uma hora e meia você não pode fumar. E os restaurantes podem ter o fumódromo. Ou seja, se você desejar fumar, o restaurante tem um lugar para fumar. Nos bares onde não se servem comidas, no seu pequeno lanche, nas boates ao vivo é permitido fumar. Agora, o que se pede é que nos ambientes fechados de restaurantes não se fume. Por quê? Porque está absolutamente comprovado, inclusive na Inglaterra é motivo de reclamação trabalhista; garçons que não fumam que trabalhavam nos pubs e que tiveram câncer no pulmão, fizeram reclamação trabalhista contra seus próprios...

Matinas Suzuki: [Interrompendo]  Mas isso poderia ser resolvido com os garçons tabagistas servindo consumidores tabagistas, e garçons não tabagistas servindo os outros...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Eu posso lhe garantir que todo indivíduo que fuma vai morrer de câncer no pulmão, a não ser que morra antes de uma outra coisa.

Matinas Suzuki: Não necessariamente, prefeito.

Paulo Salim Maluf: Vai morrer de câncer no pulmão. Todos os que fumam vão morrer de câncer no pulmão, a não ser que morra antes de alguma coisa. Então, está comprovado hoje cientificamente. Eu até te faço um apelo: vamos à redação de Folha de S.Paulo, se vocês permitirem, eu quero medir o índice de nicotina das pessoas que não fumam antes de entrar na redação, e eu quero que me permitam medir o índice de nicotina depois de oito horas, saindo da redação sem fumar. Você vai perceber que o fumante passivo, aquele que é obrigado a fumar por tabela, ele vai ter as mesmas possibilidades de adquirir doenças, porque está num ambiente fechado.

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Mas prefeito, eu sou uma pessoa que nunca fumei... Podemos fazer essa medição em vários lugares ...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Então, na Folha de S.Paulo.

Matinas Suzuki: Agora, a questão é a seguinte: em primeiro lugar, gostaria de lembrar ao senhor que eu, aqui, sou mediador do Roda Viva. E eu sou - o que me honra muito - editor executivo da Folha de S.Paulo, mas estou trabalhando aqui como mediador do Roda Viva. Portanto, gostaria de responder, neste programa, somente aos assuntos pertinentes ao Roda Viva. Agora, queria dizer ao senhor o seguinte: eu não sou fumante, já que o senhor está usando o meu caso, nunca fumei, no entanto, eu acho que é absolutamente um direito de outras pessoas... Eu prefiro, por exemplo, num vôo, sentar ao lado de um fumante, que eu acho que são pessoas mais agradáveis e menos tensas,  a sentar ao lado de um não fumante. Isso é um direito meu. Por que num restaurante eu não posso fazer a mesma coisa? Restaurante não é culto religioso.

Paulo Salim Maluf: Você tem direito a fumar, não é proibido fumar. O que nós estamos pedindo, é que não se fume nos restaurantes.

Matinas Suzuki: Mas o senhor...

Paulo Salim Maluf: Sim, é um decreto proibindo e há uma alta multa muito séria para quem fumar. Pois bem, nos Estados Unidos da América do Norte, todos os vôos são não fumantes. Se você pegar um coast to coast, por exemplo, Miami a Los Angeles, Nova Iorque a Los Angeles, Nova Iorque a São Francisco, são cinco horas e pouco onde todos os vôos são não fumantes. Perdão, e a partir de primeiro de janeiro de 1996, daqui dois meses e pouco, todos os vôos que saírem...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] O Canadá, por exemplo, está revertendo todas as leis adotadas até agora contra a proibição do fumo, pois foram consideradas anticonstitucionais, acabou de sair. O Canadá, que é um exemplo de país que está preocupado com meio ambiente.

Paulo Salim Maluf: Então, eu vou lhe dar uma informação que é muito importante que a população saiba, todos os vôos que saem dos Estados Unidos também terão de ser para não fumantes, ou seja, se você pegar um avião a partir de janeiro de 1996 da Air France, Nova Iorque a Paris, por exemplo, serão todos vôos não fumante. Agora, o que se discute, e aqui no Brasil também existe essa mania, de ser constitucional ou não.  Então, quando se discutiu o cinto de segurança, ninguém dizia que o cinto de segurança não salvava, diziam: "não é constitucional". Quando se discutiu o problema do passe ou plano de saúde idem. Todo mundo dizia: "não é constitucional". Mas se salva vidas, existe na Constituição um preceito que é uma cláusula pétrea, ou seja, existe a autonomia municipal. E sobre o cigarro, não é problema do governo federal e nem do governo do estado, é um problema das prefeituras fazerem suas próprias legislações.  Então, nós achamos que temos que defender primeiro o não fumante. Segundo pesquisa do seu jornal, do Data Folha, indica que 75% da população não deseja que se fume nos restaurantes, e 19% deseja. Isso quem diz é o seu jornal, o Data Folha. E mais, o seu jornal diz o seguinte:  67% dos fumantes desejam que não se fume nos restaurantes, então, não é contra fumante, é contra o fumo no restaurante.

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Então, por que a controvérsia é tão grande? Não estamos dizendo que é contra o fumante. Nós estamos falando exatamente sobre o caso dos restaurantes, eu fui muito claro. Eu insisto, prefeito, para não criar um clima ruim entre o senhor e eu, que eu sou o mediador do Roda Viva, teria a maior honra de estar aqui defendendo a Folha de S.Paulo se eu estivesse aqui, neste momento, cumprindo essas funções . Eu não estou aqui como diretor executivo, então, toda a vez que eu for me referir a Folha...

Paulo Salim Maluf: [Falando ao mesmo tempo que Matinas Suzuki] Você já leu a Folha?

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Eu gostaria que o senhor dissesse sobre a Folha, que é uma pesquisa verdadeira. Agora, é uma pesquisa que mede a intenção e não mede concretamente o que está acontecendo, como toda a pesquisa de opinião, porque senão, não teria polêmica. O cinto de segurança, por exemplo, não teve nenhuma polêmica.

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Teve sim, senhor

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Desse grau, não.

Paulo Salim Maluf: O próprio diretor do Detran, Cyro Vidal disse que era inconstitucional.

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Nesse grau, não. E nós temos, em São Paulo, restaurantes recorrendo contra esse decreto. Nós temos uma movimentação.

Marcelo Beraba: [Interrompendo] E ganhando.

Matinas Suzuki: Uma movimentação, e, além de tudo, ganhando.

Marcelo Beraba: Se fosse uma coisa tão nítida, sob o ponto de vista constitucional, alguns restaurantes não estariam em guerra.

Paulo Salim Maluf: Sim, alguns juízes de primeira instância...

Marcelo Beraba: [Interrompendo] Mas é isso que...

Paulo Salim Maluf: Então, eu recomendo a você Marcelo...

Marcelo Beraba: [Falando ao mesmo tempo que Paulo Maluf]

Paulo Salim Maluf: Espera! Você vai me deixar falar. Eu recomendo a você que leia a decisão do presidente do Tribunal de Justiça, do desembargador José Alberto Weiss de Andrade, que é a maior autoridade de todo o estado de São Paulo, para dirimir dúvidas. Quando você vai à primeira instância, um dá [um parecer] a favor, outra dá [um parecer] contra, um dá a favor, outra dá contra e quem é que decide? É a instância superior.

Marcelo Beraba: Sim, só que ele não decidiu.

Paulo Salim Maluf: Ele decidiu sim.

Marcelo Beraba: Não. Tanto que alguns restaurantes continuam...

Paulo Salim Maluf: Perdão, ele decidiu cancelando todas as liminares dadas anteriormente. Posteriormente, foram dadas algumas outras liminares.

Marcelo Beraba: Então?

Paulo Salim Maluf: De maneira que o procedimento processual é o seguinte...

Marcelo Beraba: [Interrompendo] O que demonstra prefeito...  

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] [Me] deixa explicar. Você não deixa eu falar!

Marcelo Beraba: Mas você também não deixa eu falar prefeito!

Paulo Salim Maluf: Mas espera. Você deixa eu [me] explicar. O procedimento constitucional é o seguinte... Já que agora o tribunal pleno, através de seus 25 desembargadores, decidam se a decisão do presidente é válida ou não, mas até o momento, o que vale é a decisão do presidente do Tribunal da Justiça de São Paulo.

Marcelo Beraba: Desculpe prefeito, mas não é isso que está acontecendo.

Pedro Cafardo: Desculpe prefeito, mas eu queria fazer uma pergunta.

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Bom, eu quero responder a todos. É só me darem tempo, com muito prazer.

Pedro Cafardo: É continuando nesse assunto.

Paulo Salim Maluf: Eu respondo ao Marcelo ou a Pedro?

Matinas Suzuki: Então, o assunto é o mesmo? O senhor, por favor, é mais ou menos sobre o assunto? [Dirigindo-se a Pedro Cafardo]

Pedro Cafardo: É sobre o assunto.

 Matinas Suzuki: Vamos ouvir o Pedro, [depois] o senhor responde aos dois.

Pedro Cafardo: O senhor justificou a questão, o fumo faz mal a saúde. É óbvio [que] ninguém vai dizer que não faz mal a saúde. O que se discute é uma questão de bom senso. Tudo bem, o fumo faz mal a saúde, mas tem pessoas que gostariam de fumar no restaurante.

Paulo Salim Maluf: Pode fumar.

Pedro Cafardo: Sim.

Paulo Salim Maluf: No fumódromo.

Pedro Cafardo: Por que não poder servir comida no fumódromo? Isso não se pode, então, em uma parte com mesas onde as pessoas que querem fumar comem ali e fumam também.

Paulo Salim Maluf: Porque a liberdade daquele que defende fumar, no meu entender, infringe a liberdade daquele que não deseja que fume ao seu lado.

Pedro Cafardo: Mas se está num lugar fechado e separado, qual é o problema? Todos os que estão ali são fumantes.

Paulo Salim Maluf: Eu não entendi.

Pedro Cafardo: A lei não permite que se tenha um fumódromo onde se sirva comida.

Marcelo Beraba: Como antiga ala de fumantes.

Pedro Cafardo: Não há uma ala de fumantes fechada onde há mesas.

Paulo Salim Maluf: Não. Existem hoje restaurantes...

Pedro Cafardo: [Interrompendo] Mas não haveria nenhum problema, é só uma questão...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Eu não quero fazer aqui nenhum comercial de nenhum restaurante, mas há inúmeros restaurantes que fecharam o seu bar e no restaurante não se fuma, mas quem quiser fumar, está no bar comendo e bebendo.

Pedro Cafardo: Mas no bar, onde serve comida, é proibido fumar, mesmo que seja fechado com vidro.

Paulo Salim Maluf: Não. Se for um pequeno aperitivo pode.

Pedro Cafardo: Aperitivo, mas não comida, é o que estou dizendo...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Aperitivo pode. Em boate pode. Agora, o que se pede simplesmente é que não se fume no restaurante. Por quê? O direito de você se suicidar não lhe dá o direito de você assassinar seu vizinho.

Pedro Cafardo: E por que não posso ter um restaurante exclusivo para fumantes? Por quê?

Paulo Salim Maluf: Porque a legislação não permite. Não tem legislação...

Pedro Cafardo: [Interrompendo] Mas é uma legislação arbitrária.

Paulo Salim Maluf: A legislação desde que ela é lei, não é arbitrária.

Pedro Cafardo: Se fosse assim, fosse chamar "para fumante".

Paulo Salim Maluf: Foi assim em cinquenta cidades da Califórnia, é assim em mais de uma centena de cidades americanas, e daqui há dez ou vinte anos, você vai ver que as pessoas vão rir daqueles que se suicidavam fumando, porque o fumo faz mal. Então,  ninguém é contra o fumante. Você pode fumar. Você fuma no seu escritório, você fuma na sua casa, fuma no seu automóvel, fuma na rua. O que se pede é o seguinte: não fume em um lugar onde sirva comida ao lado de alguém que não quer ser importunado. 

Marcelo Beraba: Prefeito, por favor, o senhor estava colocando a questão como definitiva, do ponto de vista jurídico, e não é verdade. Enquanto tiver liminar, essa questão do ponto de vista jurídico não está dirimida. O senhor está insistindo que é... 

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Não, você disse que era ilegal e eu disse que tem uma decisão....

Marcelo Beraba: [Interrompendo] Eu não falei que era ilegal.

Paulo Salim Maluf: ...do presidente do Tribunal da Justiça.

Marcelo Beraba: O senhor me desculpe, mas eu não falei ilegal.

Paulo Salim Maluf: Quer dizer, e a decisão...

Marcelo Beraba:[Interrompendo] Essa decisão não é clara, não é constitucional como o senhor está argumentando, enquanto não for dirimido definitivamente na Justiça e restaurantes estiverem ganhando liminares, esse assunto está em aberto.

Paulo Salim Maluf: Sim, mas, Marcelo, um minutinho. Existe uma decisão que eu vou mandar amanhã para você por fax.

Marcelo Beraba: Qual decisão? O senhor mesmo admitiu que tem liminares.

Paulo Salim Maluf: Espera, tem decisão do presidente do Tribunal de Justiça.

Marcelo Beraba: Tem restaurantes que aceitam ou não aceitam, tem ou não tem?

Paulo Salim Maluf: Dá licença.  Tem restaurantes que, posteriormente, conseguiram a liminar e será dirimida pelo Tribunal Pleno...

Marcelo Beraba: [Interrompendo] Sim, mas não foi dirimida.

Nirlando Beirão: O senhor acha que essa questão não é relevante? Nós estamos vivendo numa cidade com problemas terríveis, enormes, problemas de trânsito, problemas de saúde, educação. O que é isso?  Nós estamos discutindo isso por quê? Porque tem que ser importante se a pessoa quer fumar ou não quer fumar, quer dizer eu acho que a questão...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Eu estou discutindo isso porque vocês estão perguntando. E eu não me nego a responder nenhuma pergunta aqui.

Nirlando Beirão: Às vezes, eu sinto que o senhor tem o prazer de proibir as coisas, sabia?

Paulo Salim Maluf: Por exemplo?

Nirlando Beirão: Proibir.  Ditar normas de comportamento pessoal. Deixa a pessoa fumar.

Paulo Salim Maluf: Por exemplo, além do negócio de fumar, o que mais que foi proibido?

Nirlando Beirão: O negócio do cinto de segurança. Eu tenho que andar com aquilo me amarrando?

Paulo Salim Maluf: Eu acho que salva a tua vida.

Nirlando Beirão: Prefeito, mas eu posso decidir sobre isso? Não posso prefeito?

Paulo Salim Maluf: Não, eu acho que você não deve decidir sobre isso. Vou dizer porque: porque se você quiser decidir sobre isso, você está pregando, não o Estado de direito, mas o Estado de anarquia. Existe uma estatística na cidade de São Paulo.

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Prefeito, o álcool faz mal. O senhor vai proibir o álcool na cidade de São Paulo?

Paulo Salim Maluf: O álcool, nós não vamos proibir.

Matinas Suzuki: A motocicleta é perigosa. Motocicleta não anda mais em São Paulo?

Paulo Salim Maluf: Já se proibiu o álcool. Já se proibiu o álcool nas beiras das estradas.

Nirlando Beirão: Os carros matam....

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Como já se proibiu o álcool, várias culturas já proibiram tabagismo, como café já foi proibido, essas coisas vão e voltam, prefeito, culturalmente, vão e voltam.

Paulo Salim Maluf: Matinas, eu estava em uma estrada na França...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] O senhor faz um teste com um carro a trezentos quilômetros por hora, o senhor vai proibir isso?

[sobreposição de vozes]

Paulo Salim Maluf: Espera, então, espera um pouquinho aí. Eu fiz... Dá licença.

Matinas Suzuki: [Interrompendo] o senhor pega o seu carro por prazer, que é a mesma relação que tem com o cigarro, e a pessoa vai lá e pode fumar.  Então, o senhor deveria proibir também....

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Não, senhor, perdão, você está tergiversando. Vamos falar, em primeiro lugar, sobre o álcool. O senhor me deixa responder sobre o álcool ou não?

Matinas Suzuki: Mas claro, pois não.

Paulo Salim Maluf: Muito bem, eu estava numa estrada na França à noite, tinha um comando, o comando me parou e eu tirei os documentos e ele me disse: "não", e me deu um bafômetro. Os documentos não interessavam a ele, ele queria saber se eu tinha bebido e se estava guiando na estrada. De maneira que eu acho, se as autoridades brasileiras fossem, quem sabe, um pouco mais severas para fiscalizar os motoristas nas estradas para saber se bebem ou não, provavelmente alguns acidentes não teriam acontecido. Ninguém sabe se esse acidente de ontem no Rio de Janeiro que matou quinze pessoas, se o motorista não tinha bebido antes. Inclusive, há um decreto aqui no estado de São Paulo que proíbe os bares à beira de estradas de vender álcool, e eu acho que está perfeito. Agora sobre [os] trezentos quilômetros por hora, primeiro lugar, você precisa ler o seu jornal, a Folha de S.Paulo, que não foi trezentos, foi 230.

Matinas Suzuki: Bom, grande diferença.

[Risos]

Paulo Salim Maluf: E, em segundo lugar, é bom que se diga onde foi. Foi em um lugar onde estava sendo feito um racha público pela Federação Paulista de Automobilismo, onde era cada motorista isolado, onde? Na pista do aeroporto de São José dos Campos que é de quatro quilômetros, então, era motorista a motorista, cada vez, com célula fotoelétrica vendo a sua velocidade. Então, não foi nada que atentasse em absoluto contra a segurança de ninguém numa estrada ou numa cidade.

Luciano Suassuna: Só um minutinho. Prefeito, o senhor não fica discutindo essa questão do cigarro, na verdade, para fazer um pouco de fumaça sobre... para encobrir um pouco outros assuntos que deviam estar mais à tona. E segundo, eu pergunto para o senhor o seguinte...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Mas quem está discutindo o problema do fumo? Não são só vocês? Eu não estou discutindo nada, vocês estão perguntando e, neste programa, eu não me nego a responder nada.

Luciano Suassuna: O senhor não toma essa atitude um pouco para criar essa polêmica que está aparecendo em torno de uma questão que parece um pouco irrelevante. O senhor não teme que depois de uma decisão final da Justiça, se for contra o seu decreto, toda essa discussão aqui, quer dizer, acaba fazendo um pouco papel de...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Não. Se a Justiça amanhã vem achar que o meu decreto é ilegal, eu, de maneira muito democrática, apresento, apesar de já existir, três leis anteriores na Câmara Municipal, eu apresentarei democraticamente à Câmara Municipal uma nova lei. Como, aliás, fiz no PAS [Plano de Atendimento à Saúde], a Justiça achou que era ilegal meu decreto. Eu  ganhei cinco mandatos de segurança e perdi um. Ora, você sabe o que é julgar um mérito de um mandato de segurança, no Brasil, ia demorar cinco ou seis anos. Eu me dei por satisfeito com a liminar, depois entrei com projeto de lei na Câmara, aprovei o projeto de lei e o PAS vai ser uma realidade. Então, respondo a sua pergunta: o nosso decreto é legal, tanto que o presidente do Tribunal de Justiça, o desembargador Weiss de Andrade, achou que era legal. Amanhã, se o Tribunal Pleno achar que o voto dele não foi um voto que os outros desembargadores estejam de acordo, então, o meu decreto não é legal, mas não quer dizer que eu não possa amanhã aprovar uma lei proibindo exatamente o fumo nos restaurantes. E digo que o farei.

Josemar Gimenez: Prefeito, com relação a essa medida do cigarro, sob a questão legal. Os restaurantes que ganharam essa liminar em primeira instância estão acusando a prefeitura de perseguição, ou seja, os fiscais, juntos aos núcleos da prefeitura como da Semab [Secretaria Municipal de Abastecimento], vão lá e multam... Já teve restaurante multado por panela amassada, e era restaurante que ganhou liminar. O senhor tem conhecimento disso?

Paulo Salim Maluf: Eu almocei na Veja com todos os seus redatores e convidei, mais uma vez, a Veja e convido todos vocês. Hoje, São Paulo pode se orgulhar de ser a capital gastronômica deste país, porque nós fazemos, através da Secretaria do Abastecimento [e do] doutor Valdemar Costa Filho, cem fiscalizações por dia, são duas mil fiscalizações por mês em bares, confeitarias, restaurantes, lugares públicos de comida, clubes; cem por dia e dois mil por mês. Já fizemos dezessete mil fiscalizações este ano. Ora, duas, por acaso tinham uma liminar, que é até um grande amigo meu, que até se queixou disse: "olha! O doutor Valdemar Costa Filho, ele tem a absoluta liberdade para ir em qualquer cozinha liberar ou interditar". Agora uma coisa é certa, você acha, Josemar, que o restaurante que teve uma liminar sobre a questão do fumo, pode eventualmente ter uma comida estragada ou podre?  Acho que não pode. Então, foi uma coincidência, nós não perseguimos ninguém. Olha, tivemos paradas muito difíceis, indigestas nesse negócio de fiscalização. Por exemplo, você interditaria o estádio do São Paulo Futebol Clube? Nós tivemos coragem, e eles estão lá refazendo o estádio porque eu não queria ter nas minhas costas e na minha consciência, cair uma arquibancada e matar cinco mil pessoas.

Josemar Gimenez: Agora, essas medidas como, por exemplo, fechar o Morumbi, fechar o Ibirapuera não fazem parte disso que o Nirlando e o Suassuna estavam dizendo, do senhor conquistar um espaço na mídia?

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Não. Vocês colocam o nome Paulo Maluf, mas é que nós temos um engenheiro na prefeitura que eu gostaria até de ter mil, gostaria de ter cinqüenta, gostaria de ter vinte iguais: é o doutor Venturelli, um homem que tem liberdade de entrar no gabinete do prefeito, [ele] interditou o salão do gabinete do prefeito, porque tinha lá um lustre cheio de cupim, ia cair o lustre de uma tonelada no salão azul e ia matar dez ou vinte pessoas. Ele interditou o meu gabinete. Ele interditou o Estádio Municipal do Pacaembu, porque ia cair aquele chamado tobogã e ia matar duas, três, quatro, cinco mil pessoas. Então, quando ele interdita, ele é um engenheiro, ele põe a sua assinatura que está interditado. Isso é uma coisa que é bom que você saiba, não tem pressão política do prefeito contra ele não, porque é ele que coloca a "espada na sua cabeça" assinando a interdição, então ele é que fica responsável. De maneira que o doutor Venturelli, vai [e] interdita um prédio, seja um prédio público ou prédio privado, no início todo mundo briga, depois o pessoal aplaude. Exemplo: primeiro que ele interditou, logo no início de sua administração, o [edifício] Baronesa de Arary, três mil pessoas morando lá, aquilo iria pegar fogo uma noite, ia morrer duas mil pessoas. Ele interditou e até a artista Elke Maravilha ficou contra e tal. Pois bem, terminamos o prédio, entregamos o prédio com toda parte de fiação nova, toda a parte elétrica nova, toda a parte que estava insegura ficou segura, e eu estive lá e aquelas senhoras de mais idade me beijando, me abraçando, dizendo o seguinte: "doutor Paulo, nós morávamos na Avenida Paulista, numa favela de concreto armado.  O nosso apartamento ninguém pagava vinte mil reais, agora que ele está seguro, já rejeitamos cento e cinqüenta mil." Então, esse problema de segurança nos restaurantes, nos prédios públicos ou nos prédios privados é uma coisa que a prefeitura de São Paulo vai continuar perseguindo. E, olha, graças a Deus nós temos na Secretaria de Abastecimento, repito, um homem que foi três vezes prefeito de Mogi das Cruzes, Valdemar Costa Filho e vai ser nomeado pela quarta vez prefeito, porque é um homem de bem, honrado, decente, e é um lugar difícil ser secretário do Abastecimento, porque lida com toda a compra da merenda escolar do município, é um homem impecável. E temos, no setor de uso de solo, o doutor Venturelli, que é outro homem absolutamente impecável nas suas ações.

Matinas Suzuki: Prefeito, nós temos aqui muitas perguntas sobre esse assunto, e para encerrar esse bloco, eu gostaria de dizer para o senhor que, em primeiro lugar, o Nelson Santana, de Ribeirão Pires, quer parabenizá-lo pela medida tomada a respeito do fumo. E o Renato Formigone, de Sumaré, aqui, de São Paulo dizendo: "eu sou fumante e concordo em gênero, número e grau o decreto que proibe o fumo em restaurantes". O Mário Cavalari, daqui de São Paulo, diz: "prefeito, a sua energia na fiscalização dos restaurantes não condiz com sua benevolência com a sujeira das barracas dos camelos". O senhor tem alguma coisa a responder sobre isso?

Paulo Salim Maluf: Olha, se você me fizer à seguinte pergunta: Você está satisfeito com a limpeza do centro da cidade? Eu vou lhe dizer que não estou satisfeito. Então, quais são as medidas que eu estou tomando? Quais são as medidas que eu vou tomar? Em primeiro lugar, para você exigir a limpeza, você é obrigado a ter a lixeira ou a cesta de lixo. Pois bem, compramos, mediante concorrência pública, dez mil lixeiras. É a maior compra feita na história da cidade e vamos instalar as dez mil lixeiras na cidade de São Paulo, nos pontos de mais movimento. Eu mesmo estive recentemente na [rua] Barão de Itapetininga e fiquei um pouco triste, a rua estava suja, mas tinha lixeira, e a cinqüenta centímetros da lixeira tinha papel jogado na rua. Quer dizer, é que está havendo um problema cultural, nós temos que ensinar a população...

Pedro Cafardo: Você pensa em fazer um decreto, senhor prefeito, para multar as pessoas que jogam lixo na rua?

Paulo Salim Maluf: Eu vou chegar lá. Em primeiro lugar, nós temos que ter as lixeiras, em segundo lugar, nós temos que ter uma campanha educativa. Até recentemente no programa do Jô Soares [ver entrevista com Jô Soares no Roda Viva], ele me disse que até participaria de uma maneira gratuita numa campanha educativa. E eu quero contar também com a televisão Cultura, que participe gratuitamente de uma campanha educativa. Em terceiro lugar, já existem leis muito severas de punição. Acontece que essas leis nem sempre podem ser aplicadas porque o sujeito jogou um jornal na rua, você chega lá para ele e diz o seguinte: "você deve estar multado em tanto". Como é que você vai conseguir a identidade dele se ele não que se identificar? Então, essas coisas, eu acredito, que depois de instalado essas lixeiras, o segundo passo, o segundo round  será uma campanha educativa onde a pessoa se sinta envergonhada de jogar fora...

Marcelo Beraba: Quando o senhor vai instalar essas lixeiras?

Paulo Salim Maluf: Elas já estão compradas há cerca de três meses, já têm duas mil instaladas e [as] oito mil que sobram devem estar instaladas até o final do ano.

Nirlando Beirão: Prefeito, no caso do cigarro não poderia ter feito a mesma coisa?  Uma campanha educativa antes, quer dizer, vamos fazer a coisa gradativa, vamos ensinar as pessoas a não...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Prefeito, só para continuar o senhor poderia responder [é] que tem várias perguntas sobre esse assunto e a gente encerra ele, tá? A dona Marisa Valentin, de 58 anos...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Olha, eu não tenho prazo aqui, tenho tempo a vontade.

Matinas Suzuki: É que temos muitas outras coisas para perguntar para o senhor também. A Dona Marisa Valentin, de 58 anos, moradora de Interlagos, diz o seguinte: "como fumante, gostaria de dizer ao senhor prefeito, se a fumaça jogada por caminhões e ônibus na cidade, que afeta fumantes e não fumantes, faz menos mal que a fumaça de cigarro dos fumantes em restaurantes, local onde só vai quem quer?"

Paulo Salim Maluf: Olha, nós temos esse dado medido cientificamente por um laboratório inglês. A fumaça do cigarro faz quatro vezes mais mal do que a fumaça dos caminhões.

Matinas Suzuki: Não, mas isso é uma amostra um pouco viciada, porque os carros ingleses são melhor controlados do que os carros brasileiros.

Paulo Salim Maluf: Não, eu estou falando sobre caminhões.

Matinas Suzuki: Carros e caminhões brasileiros são muito menos controlados que os ingleses.

Paulo Salim Maluf: Tem um problema de controlar [carros e caminhões] aqui também.

Matinas Suzuki: É, exato.

Paulo Salim Maluf: Começar a controlar aqui também.

Matinas Suzuki: O José Roberto Dias, de Santa Cecília, pergunta se o senhor já tentou proibir a sua esposa, dona Sílvia, de fumar?

[Risos]

Paulo Salim Maluf: Eu posso garantir para você que em restaurante ela não fuma.

Matinas Suzuki: Certo. E a Daniela Franco, do Morumbi, aqui de São Paulo, pergunta para o senhor o seguinte: o que o senhor achou da declaração do secretário do senhor que diz que toda mulher que fuma fica com bafo de tigre louco?

Paulo Salim Maluf: Olha, eu respeito o direito de fazer qualquer declaração, mas é uma declaração que eu não faria, que não estou de acordo.

Matinas Suzuki: Prefeito, outra questão que tem sido muito discutida aqui, na cidade de São Paulo, é a questão dos gastos que a prefeitura estaria fazendo. Comenta-se muito que - e há números sobre isso, embora sejam controversos com os números apresentados pela prefeitura - a prefeitura de São Paulo está crescendo muito o endividamento. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Paulo Salim Maluf: Está aqui conosco, assistindo, o doutor Celso Pitta, que tem sido o meu exemplar secretário de Finanças. Eu quero dizer o seguinte para você: existem duas maneiras de você aumentar a taxa de investimentos  e criar empregos; a primeira é diminuindo despesas, nós fizemos de maneira exemplar, fazendo a maior privatização do Brasil, que foi a privatização da CMTC [Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos], a Usiminas tinha quatorze mil funcionários, por exemplo, e a CMTC tinha vinte e oito mil. Então, nós não estamos endividando não, nós estamos sim é diminuindo as despesas. A segunda despesa que nós diminuímos foi a chamada “municipalização” do transporte coletivo, onde não era nada municipalizado, era uma mera subvenção do dinheiro da prefeitura por empresário privado. Eu, se fosse empresário privado de ônibus, nunca votaria no Maluf, votaria no PT que encheu eles de quinhentos milhões de dólares por ano de subvenção. Pois bem, essas duas subvenções davam um bilhão de dólares por ano, o que é uma brutalidade para uma prefeitura, é uma brutalidade para o estado, quanto mais para uma prefeitura. [Em] segundo lugar, além de diminuir despesas, nós aumentamos receitas sem aumentar imposto, impedindo a sonegação de IPTU [Imposto Predial Territorial Urbano], fazendo com que as declarações de IPTU fossem certas, que aquelas que fossem domiciliares não fossme comerciais e vice-versa, aumentando o ISS [Imposto sobre Serviços] e aumentando brutalmente a arrecadação do ICMS dentro da cidade de São Paulo. Então, sobre o endividamento da prefeitura, hoje, o endividamento é exatamente igual ao número que era quando herdamos da [última] prefeita...

Marcelo Beraba: Quanto o senhor herdou? Qual era a dívida da prefeitura, quando a [prefeita Luiza] Erundina [prefeita de São Paulo entre 1989 e 1993] acabou o governo dela e o senhor assumiu, qual era a dívida?

Paulo Salim Maluf: [Era de] 1.3 bilhões de dólares e, hoje, você pura e simplesmente colocando custo financeiro, é dois.

Marcelo Beraba: Quanto é hoje?

Paulo Salim Maluf: É dois [bilhões]

Marcelo Beraba: Dois [bilhões]?

Paulo Salim Maluf: É dois. Porque nós temos uma aprovação oficial do Banco Central de quando o presidente do Banco Central, que era Pedro Malan [economista e engenheiro, além de presidente do Banco Central  (1993-1994), foi ministro da Fazenda de janeiro de 1995 a dezembro de 1992], no fim do governo Itamar [Franco] e que foi aprovado pelo Senado da República, da emissão de mais ou menos seiscentos e poucos milhões de dólares ou de reais para pagar precatórios, e que nós não utilizamos. Isso, você coloca a correção monetária como se não tivesse sido utilizada, hoje, deve estar qualquer coisa em torno de um bilhão. Então, esses títulos estão emitidos, mas estão em carteira e não estão com o tomador final, ou seja, nós não emitimos para o tomador final nem um dólar, nem um real a mais do que herdamos da administração passada, ou seja, a nossa dívida é igualzinha a que era, mais o custo financeiro dela.

Marcelo Parada: Como o seu sucessor vai encontrar, então, a prefeitura no futuro?

Paulo Salim Maluf: Vai entrar com um bilhão e seiscentos milhões de dólares em caixa, que é o que nós temos hoje. Mas evidente que os títulos que eu não for utilizar, eu não vou deixar ninguém se endividar de maneira criminosa, quer dizer, como o Banco Central e o Senado nos deram um voto de confiança, eu acho que a legislação vai me permitir, no fim da minha administração, devolver esses títulos ao Banco Central porque não foram utilizados.

Luciano Suassuna: Espera aí. O senhor vai deixar esse um bilhão e seiscentos milhões para o sucessor do senhor?

Paulo Salim Maluf: Não. Eu vou... Uma parte disso, eu disse, são os títulos que nós podemos hoje emitir, podemos jogar no mercado, é dinheiro amanhã, porque os títulos da prefeitura são hoje os títulos mais cobiçados, porque eu digo com a boca cheia, e disse na frente de ministros da República outro dia, que o único grande poder da República, único, que paga suas contas em dia é a prefeitura de São Paulo. As obras que nós estamos fazendo estão sendo pagas, portanto, elas estão custando, por preço unitário, metade dos preços das outras obras estaduais e federais. Então, esse dinheiro, não é porque ele existe que nós vamos gastar, em absoluto. Nós estamos com programas muitos sérios e até com alguma dificuldade que o governo federal não nos dá ajuda no projeto Cingapura, estamos fazendo por conta própria. O nosso PAS, Plano de Atendimento da Saúde que o ministro [Adib] Jatene [foi secretário de Saúde do estado de São Paulo no governo Maluf e duas vezes ministro da Saúde, no governo Collor, e no governo Fernando Henrique, quando aprovou o imposto sobre a movimentação do cheque, conhecido depois como CPMF. Ver entrevista com Jatene no Roda Viva] quer um novo imposto, e nós estamos fazendo sem aumentar imposto nenhum. Quer dizer, todos os nossos projetos sociais, por exemplo, o [programa] Leve Leite para as crianças que, tendo boa freqüência na escola, vão poder receber dois quilos de leite em pó, que são dezesseis litros por mês de leite. Todos esses projetos são financiados pelo orçamento municipal. Então, eu não pretendo aumentar impostos, mas esse dinheiro que sobrar, nós não pretendemos emitir esses títulos, eu pretendo devolvê-los ao Banco Central no momento certo.

Matinas Suzuki: Agora, prefeito, as questões das indenizações. Há muitas indenizações a serem pagas, essas estão computadas na dívida da prefeitura ou não?

Paulo Salim Maluf: Estão.

Matinas Suzuki: E o senhor as estima em quanto?

Paulo Salim Maluf: Deve ter, de indenizações, hoje, que estão em processamento, entre pequenos, médios e grandes, deve ter qualquer coisa entre duzentos, 220 milhões não pagos ainda.

Matinas Suzuki: Não pagos. O senhor está colocando como valores...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Tem uma ordem cronológica, quer dizer, se você, hoje... Se a prefeitura for condenada, por exemplo, a pagar duzentos mil reais em uma casa, então, você vai por ordem cronológica. Não posso pagar na frente dos outros. Então, tem uma ordem cronológica de acordo com o orçamento que vai sendo pago, e tem uma coisa que é muito importante, Matinas, esta administração não fez nenhum acordo para pagar ninguém fora da ordem cronológica.

Pedro Cafardo: Senhor prefeito, eu não quero ser dedo duro, mas o secretário [Celso] Pitta, que está atrás das câmaras, quando fizeram essa pergunta ele fez assim com os dedos: trezentos! O senhor falou em duzentos.

Paulo Salim Maluf: Trezentos? Pode ser duzentos, 250, pode ser que cresceu para trezentos.

[sobreposição de vozes] 

Paulo Salim Maluf: Pode ser que cresceu para trezentos.

Pedro Cafardo: [Interrompendo] A questão das indenizações.

Paulo Salim Maluf: Sim. Mas quero dizer isto aqui que, em face à saúde financeira da prefeitura, poder monetarizar amanhã um bilhão e seiscentos milhões de dólares e pagando nossas contas todas em dia, se o meu número de duzentos e vinte, que o Pitta que conhece mais do que eu diz que é trezentos, isso não representa, graças a Deus, nenhum problema de liquidez para nós.

Pedro Cafardo: Prefeito, há uma estimativa para o final de sua administração? Em quanto o senhor acha que ficará a prefeitura? Quanto a prefeitura estará devendo no final do seu mandato?

Paulo Salim Maluf: Nada mais do que está devendo hoje.

Pedro Cafardo: Um bilhão e seiscentos milhões.

Paulo Salim Maluf: Não. Está devendo hoje cerca de dois e pouco [bilhões], mas você sabe que todo mês tem...

Marcelo Beraba: [Interrompendo] Prefeito, a dívida não era de três, quatro bilhões?

Paulo Salim Maluf: Sim. Mas tem um bilhão e pouco de títulos que não estão no tomador final. Não é dívida, é emissão de títulos, é bem diferente. É emissão de títulos, estou lhe dizendo, não é dívida. Hoje e amanhã falo isso com você, são títulos que estão em carteira e que não foram monetarizados.

Marcelo Beraba: Prefeito, o senhor demonstrou...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Mas por que o Tesouro contabiliza como uma dívida?

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Não. É tudo em carteira, como se você fosse uma empresa. Empresa tem duplicatas em carteira, vocês têm um haver que não está devendo nem um custo financeiro sobre isso. Quando ela chegar no dia do vencimento, a pessoa vai pagar.

Nirlando Beirão: Eu estou errado ou eu entendi que, de qualquer forma, o senhor vai deixar uma situação pior do que encontrou?

Paulo Salim Maluf: Não.  Igualzinha a que eu encontrei. Aliás, devo deixar melhor, porque sabe que eu não vim aqui, que não é meu feitio... você, Nirlando, já me conhece. Você já me viu alguma vez - eu que já tive seis cargos públicos - atacar assim a administração anterior? Eu pego e vou embora. Vou continuando a trabalhar, vou terminando as obras. Mas a administração anterior disse que deixou tudo em ordem para pagar, pois bem, o que eles fizeram? Todos os vencimentos de outubro, novembro, dezembro, eles pagaram correção monetária e passaram para janeiro [risos]. Aí quando eu assumi, tinha quatro meses para trás. Mas isso aqui não estou me queixando, eu quero dizer o seguinte: eu vou deixar a prefeitura na melhor situação do que qualquer poder público neste país...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Só um minuto. Falando para a câmara da verdade. O senhor não vai usar em nenhum momento esses seiscentos milhões ou um milhão ou um bilhão de dólares de títulos...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Estou autorizado a emitir e não pretendo usar.

Matinas Suzuki: O senhor disse que vai devolver.

Paulo Salim Maluf: Espera aí, mas espera um pouquinho, eu estou autorizado a emitir e não pretendo usar. Agora admito o seguinte: que ninguém pague ICMS amanhã, que haja uma inadimplência total de IPTU. Você, quando tem crédito...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Que haja mais obras do que tem capacidade para pagar.

Paulo Salim Maluf: Não, isso não. As obras que estão sendo contratadas são obras que estão dentro do orçamento, e elas só são contratadas quando tem verba e dinheiro, senão, não são contratadas. Repito - sabe que em Brasília tem muita gente me ouvindo e em outros estados também - único grande poder da República que está contratando e pagando em dia é a prefeitura de São Paulo. A nossa administração financeira é absolutamente exemplar.

Luciano Suassuna: Prefeito, se a administração do senhor está tão boa, por que o senhor não tem um candidato favorito a sua sucessão?

Paulo Salim Maluf: Bom, em primeiro lugar...

Luciano Suassuna: [Interrompendo] No partido do senhor. Todos são adversários do senhor?

Paulo Salim Maluf: Em primeiro lugar, Luciano, porque uma coisa é certa, a eleição, o primeiro turno é três de outubro, segundo turno é quinze de novembro do ano que vem. Eu acho que, no momento que eu lançar um candidato hoje, a administração deixa de ser administrativa e começa a ser política. Eu tenho nomes na cabeça, nomes do meu partido e outros nomes, tenho excelentes nomes e São Paulo não vai se decepcionar com os nomes que eu vou lançar. Mas eu acho que o momento certo é março.

Luciano Suassuna: Mas os nomes que o senhor vai lançar, significa mais de um? O senhor vai apostar em mais de um candidato?

Paulo Salim Maluf: Eu tenho quatro ou cinco. Quem vai determinar sou eu, mas não é o meu sentido pessoal de ter o candidato. Eu acho que hoje você tem que ter duas pesquisas, uma é pesquisa qualitativa que indica qual é o perfil de candidato que eu vou votar...

Pedro Cafardo: [Interrompendo] O Francisco Rossi [eleito duas vezes prefeito da cidade de Osasco (1973-1977 e 1989-1993),  foi candidato derrotado três vezes em eleições para prefeito de São Paulo] pode ser seu candidato?

Paulo Salim Maluf: Ele está no PDT. Quer dizer ele é candidato de Brizola.

Pedro Cafardo: Mas o senhor ainda conversa com ele...

Paulo Salim Maluf: Não, ele hoje apareceu no programa eleitoral do Brizola.

Matinas Suzuki: Já que o Luciano tocou nessa pergunta, o outro Luciano, que é colunista do Jornal da Tarde, enviou um fax aqui dizendo o seguinte: "o engenheiro Reinaldo de Barros reassumiu, na semana passada, a Secretaria de Obras, depois de dez dias de férias em Miami, onde disse de boca cheia a amigos que é candidato à prefeitura de São Paulo com seu apoio". Isso quer dizer que o senhor já tem candidato à sucessão?

Paulo Salim Maluf: Veja, ele, depois do túnel Ayrton Senna... Eu dei para ele, naquele sábado - porque nós tínhamos o feriado do meio da semana, no dia 12, que era na quarta feira - para ele passar quatro dias fora, segunda, terça, quinta e sexta. Bom, e quero dizer o seguinte para você e vou ser muito claro: Reynaldo de Barros [secretário de Serviço e Obras e Vias Públicas da gestão Paulo Maluf (1993-1996), foi acusado de corrupção pela construção do Complexo Viário Ayrton Senna], que já foi prefeito [entre 1979 e 1982], um grande prefeito, que tem uma vida pública inatacável, um homem de bem, honrado e pode ser que seja meu candidato. Mas hoje, eu acho que a minha postura é de continuar trabalhando administrativamente. Ele pode ser meu candidato, é um grande candidato, o Pitta pode ser meu candidato, tem outros nomes que não estão no partido, mas estão sondando entrar no partido. Eu só digo o seguinte: hoje é cedo para você batizar um candidato e começar a campanha. Queremos continuar administrando esta cidade, porque eu fui eleito por quatro anos e não por três.

Josemar Gimenez: Agora, prefeito, além do doutor Pitta e do Reynaldo de Barros, o senhor disse quatro, quais são os outros dois?

Paulo Salim Maluf: Bem, é porque um está aqui e outro ele citou.

Josemar Gimenez: Tá, o senhor falou que tem quatro. Quais são os outros dois?

Paulo Salim Maluf: São dois também de mais alta respeitabilidade.

Josemar Gimenez: São secretários também? Porque o que se comenta [por] aí é que os secretários do senhor tem...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Não, não são secretários.

Nirvano Beirão: Prefeito, e o doutor Olavo Setúbal [(1923-2008) engenheiro, banqueiro, foi prefeito da capital paulista, indicado pelo governador Paulo Egydio Martins de 1975 a 1979]? O senhor não esteve com ele? O senhor não propôs nada a ele? Quer dizer, toda essa tranqüilidade que o senhor está demonstrando e tudo, nesse caso, não pararia tudo e seria o doutor Olavo?

Paulo Salim Maluf: Doutor Olavo Setúbal foi um grande prefeito desta cidade.

Nirlando Beirão: O senhor o procurou?

Paulo Salim Maluf: Ele? Procurei, almocei com ele junto com o doutor Roberto Paulo Richter e a razão do almoço com ele foi a seguinte: existe uma polêmica muito grande sobre a reurbanização da Avenida Paulista. E o Banco Itaú, do qual ele é presidente, fez uma campanha exatamente escolhendo a Avenida Paulista como símbolo da cidade de São Paulo. Então, disse o seguinte: "doutor Olavo, você foi um grande prefeito, um grande homem público, eu acho que você poderia ser o presidente da Associação Avenida Paulista Viva, e eu lhe dou todas as prerrogativas de ser o prefeito da Avenida Paulista. Você reúne quem você quiser: arquitetos, engenheiros, empresários, diga o projeto que você quer fazer e eu assino [embaixo]." Ele aceitou. E, depois de amanhã, eu estou muito honrado, muito feliz que um homem do nome de Olavo Egydio Setúbal vai tomar posse da presidência dessa comissão e prestar mais esse serviço para São Paulo. Agora, se ele aceitar a ser candidato a prefeito, quero dizer que ele é um forte candidato à vitória.

Josemar Gimenez: É um dos quatro, prefeito?

Paulo Salim Maluf: Eu não conversei com ele, e vocês me deixariam muito constrangido em fazer um convite para alguém pela televisão, isso, no mínimo, seria uma deselegância total. Quero dizer o seguinte: ele já foi um grande prefeito, ele seria grande em tudo neste país, grande ministro da Fazenda, grande presidente da República, grande governador de São Paulo, agora, é um problema pessoal dele saber se entra de novo na vida pública.

Matinas Suzuki: Agora prefeito, o senhor tem fama...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Agora, se ele entrar na vida pública, quero dizer muito claro: São Paulo se enriquece com isso.

Matinas Suzuki: O senhor tem fama de não transferir voto, o senhor acha que isso é um mito?

Paulo Salim Maluf: Olha, Matinas, realmente, a transferência de votos não é uma coisa que a população brasileira aceite muito. Veja, no auge da popularidade do Juscelino [Kubitschek], tem uma derrota tão grande com o [Marechal] Lott [Teixeira Lott]. Você vê, no caso das prefeituras de São Paulo, por exemplo, nunca ninguém elegeu o seu sucessor, então, é uma coisa relativa. Eu tenho uma pesquisa que pode ser válida que diz o contrário, que 25% da população gostaria de votar num candidato apoiado por mim, porque o próprio Data Folha, o último, indica o seguinte: 40% da população acha Maluf ótimo e bom e 41% regulável, ou seja, tem 81% de aprovação quando, Jânio Quadros no fim dos quatro anos teve 61%, e Luiza Erundina, no fim dos quatro anos, teve 67%. Então, eu estou feliz que eu estou com 81% e não completei ainda três anos, vou tentar conquistar até um pouquinho mais. Agora, se isso a gente vai transferir ou não para o meu candidato, eu não sei, mas que eu gostaria, Matinas, que o futuro prefeito de São Paulo continuasse o Cingapura, o PAS, as laqueaduras e a vasectomia; que continuasse com o projeto São Paulo Cidade Saudável, os projetos sociais e os projetos urbanistícos. Eu gostaria que o meu sucessor fosse alguém que não jogasse tudo na lata do lixo como fizeram e pararam as obras, e que continuasse essa obra que está sendo feita. Eu gostaria que o meu sucessor continuasse a minha obra.

Matinas Suzuki: Prefeito, nós temos que fazer agora um breve intervalinho e voltaremos daqui a pouco com o segundo tempo da entrevista com o prefeito Paulo Maluf, até já.

[intervalo]

Matinas Suzuki: Bem, nós voltamos com o Roda Viva, que está entrevistando esta noite o prefeito Paulo Salim Maluf [...] Prefeito, o senhor também organizou, ou melhor, a prefeitura organizou uma maratona recentemente e há uma contestação, com relação a essa maratona, de que o senhor teria pago um milhão e duzentos mil dólares à Rede Globo de Televisão pela realização dessa maratona, quando em qualquer outro evento esportivo é a emissora que paga pela transmissão e não o contrário. Como o senhor responde essa questão?

Paulo Salim Maluf: Bom, [em] primeiro lugar, eu não paguei. Quem pagou foi a prefeitura, em segundo lugar, não foi pago pela transmissão, foi pago conforme... inclusive, a Rede Globo...

Marcelo Beraba: Desculpe prefeito.

Paulo Salim Maluf: Espera. Espera.

Marcelo Beraba: [Interrompendo] Desculpe. O contrato não diz isso. O contrato diz [que pagou] pela transmissão. O senhor... Estou lhe mostrando o contrato aqui [mostra o contrato]

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Espera um pouquinho. Se você não me deixa terminar de falar...

Marcelo Beraba: Não. Eu entendi que o senhor tinha sido claro.

Paulo Salim Maluf: Eu vou ser muito claro.

Marcelo Beraba: [Interrompendo] Que o senhor não pagou pela transmissão.

Paulo Salim Maluf: Você acha que a Rede Globo... que dez minutos, que custa um milhão e duzentos [dólares], que a Rede Globo vai fazer três ou quatro horas de transmissão por um milhão e duzentos [dólares]?

[Sobreposição de vozes]

Paulo Salim Maluf: Perdão, um milhão e duzentos foi pago pela organização, e, evidentemente, como foi pago pela organização, eles tinham que transmitir. Eles iriam pagar pela transmissão e não iriam transmitir? É lógico, ora!

[Sobreposição de vozes]

Marcelo Beraba: Então, por que colocar isso no contrato, prefeito?

Paulo Salim Maluf: Espera. Espera um pouquinho.

Marcelo Beraba: Se é uma coisa tão óbvia, então por que colocar isso no...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Óbvia porque é o seguinte: veio uma corredora russa, alguém pagou a passagem dela e ela não chegou no dia, ela veio quinze dias antes, treinou, alguém pagou hotel e o restaurante. Vieram corredores americanos, vieram corredores do Brasil inteiro, vieram corredores da Ásia, ou seja, tinha mais de cinco mil corredores.  Perdão, [sobreposição de vozes] a pergunta foi feita por ele, eu estou aqui até às três da manhã, me deixa responder ao Matinas, em seguida você pode interromper, está bom?

Marcelo Beraba: Por favor.

Paulo Salim Maluf: Eu nunca te interrompi. Então, foram pagos para cinco mil corredores, alguns que vieram do outro lado do Brasil, e tivemos que pagar, evidentemente, a estadia, outros vieram de outras partes do mundo, tivemos que pagar a passagem e a estadia. O primeiro lugar brasileiro ganhou um automóvel, a primeira colocada brasileira ganhou também um carro, então, a organização, conforme matéria paga pela Globo, essa organização custou um milhão e duzentos [dólares] e eles tinham a obrigação de transmitir. Agora, veja o seguinte: as maratonas do mundo, a de Nova Iorque, a de Boston, as maratonas européias... Esta maratona promoveu como jamais a cidade de São Paulo foi promovida para o resto do Brasil, com toda a sua beleza, com seus encantos.

Matinas Suzuki: É muito questionável, não é prefeito?

Paulo Salim Maluf: São Paulo hoje, Matinas, você sabe que vive...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Passou nas obras que o senhor inaugurou.

Paulo Salim Maluf: Ah sim. Eu já vou te falar, já chego lá também. [São Paulo] vive de turismo. Turismo de quê? Turismo de negócios, turismo de quem vem ver as feiras do Anhembi, turismo universitário, turismo de compras. São Paulo não é mais o maior centro industrial da América Latina, ele tem ainda uma indústria muito importante, as indústrias pequenas, as indústrias, por exemplo, elétricas, eletrônicas, mecânicas, pequenos artesanatos, pequenas indústrias têxteis, enfim, São Paulo vive basicamente desse turismo, tanto é que você vê... Quantos novos hotéis estão sendo construídos em São Paulo?

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Existe uma corrida tradicional, em São Paulo, que é a corrida de São Silvestre. Esta sim é tradicional, promovida durante anos pela Gazeta Esportiva. Por que a prefeitura não fez com a Gazeta a corrida de São Silvestre? Não deu um milhão e duzentos mil dólares para a Gazeta? Por que a Gazeta não vincula nacionalmente?

Paulo Salim Maluf: Bom, em primeiro lugar, é evidente que, para a cidade de São Paulo, a mídia interessa.

Matinas Suzuki: Então, o senhor está pagando vinculação de um milhão e duzentos.

Paulo Salim Maluf: Não senhor [sobreposição de vozes]. A Globo aceitou fazer nacionalmente por quatro horas, e aquilo que foi pago foi ínfimo em relação, inclusive, à corrida de Fórmula I, onde vocês nunca reclamaram.

Marcelo Beraba: O SBT disse claramente que não cobraria.

Paulo Salim Maluf: O SBT não disse que não cobraria. Não disse. Porque o doutor Roberto Paulo Richter ligou para o Guilherme Stoliar, ele disse que aquela declaração ele nunca deu.

Marcelo Beraba: Imagina.

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Dá licença. Então, você está autorizado a falar com o SBT.

Marcelo Beraba: Não tenho dúvida.

Paulo Salim Maluf: Espera um pouquinho. Para que ele transmita a próxima e pague toda a organização gratuitamente. Está certo?

Marcelo Beraba: Não tenho dúvida, agora, posso me colocar, prefeito, posso falar?

Paulo Salim Maluf: Perdão, eu ainda não respondi ao Matinas. Você perguntou se passou sobre obras?

Matinas Suzuki: Não... Porque no trajeto evidente que passou...

[sobreposição de vozes]

Paulo Salim Maluf: Eu quero dizer a você o seguinte: eu não fiz o trajeto e, evidentemente, vocês hão de acreditar que não é função do prefeito. Foi feito pela Globo com a Secretaria de Esportes, agora, eu não fiquei triste [risos] eu fiquei muito alegre que passou no túnel Ayrton Senna.

Matinas Suzuki: Coincidência, não é prefeito?

[Risos]

Paulo Salim Maluf: Fiquei muito alegre, e ainda hoje como disse, almoçando na [revista] Veja me fizeram a mesma pergunta, e eu disse o seguinte: se passar aqui em frente à Veja, na [avenida] Marginal iria ter que passar numa obra minha, porque essa obra fui eu que fiz quando fui prefeito da outra vez. Então, se você andar quarenta quilômetros na cidade de São Paulo, você vai passar em algumas dezenas ou centenas de obras minhas. E eu me orgulho disso, que São Paulo tem obra para mostrar, graças a Deus.

Marcelo Beraba: Desculpe prefeito. O juiz Wilson Gomes de Melo, da quarta Vara da Fazenda Pública, determinou que o senhor devolva aos cofres públicos todo esse dinheiro. O senhor vai devolver? É uma liminar, é Justiça!

Paulo Salim Maluf: E eu vou te perguntar, você entende alguma coisa de direito?

Marcelo Beraba: Alguma coisa.

Paulo Salim Maluf: Eu quero dizer, então, claro para você, como chama esse juiz?

Marcelo Beraba: Chama-se Wilson Gomes de Melo, da quarta Vara.

Paulo Salim Maluf: Eu tenho todo o respeito pela Justiça. Já tive sete desembargadores trabalhando comigo nos meus governos, mas se eu fosse um examinador de uma banca para juiz, com essa tese, ele seria reprovado, porque não tem liminar onde o indivíduo...

Marcelo Beraba: [Interrompendo] A liminar só é boa quando favorece o senhor. A Justiça é boa quando ele favorece...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Mas o que eu digo eu mantenho. Não tem liminar que possa entrar no mérito e obrigar uma ação. Ele poderia obrigar a devolver, no final da ação popular, depois de transitado e julgado. Eu tinha direito a ir ao Superior Tribunal da Justiça e direito de ir até o Supremo, como foi no caso dos automóveis, está certo? Então, quero dizer o seguinte: essa sentença é absurda. É absurdo ele dizer o seguinte: "pagou tem que devolver", antes de entrar no mérito de uma liminar. Não tenho nem uma dúvida que esta liminar vai cair, porque ela é absolutamente ilegal.

Marcelo Beraba: Sim, mas não caiu. Da mesma maneira que não caiu o cigarro ainda, e o senhor insiste em ser Justiça, acima da Justiça.

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Essa liminar eu lhe digo que é ilegal. Eu lhe digo o seguinte: é uma pena que você não concorde comigo, não sei por quê. Numa liminar, o juiz não pode entrar no mérito e decidir, não pode. Ele errou. O juiz errou e sabe que errou, e eu li na Folha de S.Paulo que o jurista Ives Gandra da Silva Martins, que você deve ter lido, disse também que o juiz errou, não disse?

Marcelo Beraba: O senhor vai devolver o dinheiro?

Paulo Salim Maluf: Você leu ou não leu?

Marcelo Beraba: Eu li. O senhor vai devolver ou não? Bom, e outros dizem que não.

Paulo Salim Maluf: Essa decisão é absolutamente ilegal. Em primeiro lugar, não foi eu que assinei o contrato, quem assinou o contrato foi o secretário de Esportes, que assumiu toda a responsabilidade pelo contrato. Segundo lugar, eu l i na Folha de S.Paulo, que você deve ler...

Marcelo Beraba: [Interrompendo] Uma das opiniões.

Paulo Salim Maluf: Que o jurista Ives Gandra Martins disse que essa decisão é ilegal.

Marcelo Beraba: [Ele] Não é juiz, é um jurista. Ele não decide.

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Mas se ele teve coragem de dizer...

Marcelo Beraba: Assim como se ouvem outros, prefeito, que dizem ao contrário. Esse é o papel da imprensa.

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Se ele teve coragem de dizer que essa decisão era ilegal, não vale então...

Marcelo Beraba: Esse é o papel da imprensa, é ouvir vários lados. Talvez seja difícil para o senhor entender, mas esse é o papel.

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Então me faça o favor, se esse é o papel da imprensa me ouça amanhã outros dez juristas que me digam que, se em uma liminar de mandato de segurança, ele pode entrar no mérito e mandar devolver o dinheiro.

Marcelo Parada: Agora, prefeito, os juristas também se posicionam contra isso que o Marcelo Beraba está falando. Posicionam-se contra essa medida do cigarro e o senhor não demonstra essa mesma veemência contra os juristas. Quer dizer, fica a sensação de que a Justiça, quando vai a seu favor é...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Essa decisão é ilegal, e quando existe uma decisão do presidente do Tribunal de Justiça que diz que é legal, para mim, o que eu fico é com a decisão da Justiça.

Marcelo Parada: Prefeito, agora, independente da discussão jurídica, para qualquer cidadão com o mínimo de bom senso, ficou absolutamente evidente que a transmissão daquela maratona tinha uma finalidade da propaganda da administração do senhor, mesmo que diga o contrário. Mas o senhor pode fazer uma pesquisa aí, com qualquer pessoa que assistiu a maratona, para ver se aquilo lá teve ou não a finalidade de pura propaganda.

Marcelo Beraba: Tanto que a comparação que o senhor faz é essa, o que ganhou com a transmissão da [Rede] Globo, essa é a comparação que o senhor faz.

Paulo Salim Maluf: Eu me sinto muito honrado.

Marcelo Beraba: Não duvido.

Paulo Salim Maluf: E me sentiria envergonhado se qualquer maratona nesta cidade não tivesse uma obra minha. Se você andar nas marginais Pinheiros e Tietê, são obras do Paulo Maluf. E o seu jornal disse há vinte e cinco anos que eram obras faraônicas. Se você andar no Minhocão, que foi tão criticado, é obra sim do Paulo Maluf. Se você entrar na Estação Rodoviária do Tietê, que diziam que era faraônica, hoje ficou pequena. Se você vier de avião pelo aeroporto de Cumbica, de Guarulhos, que todo mundo dizia que era faraônica, também é obra do Paulo Maluf junto com a aeronáutica. Se você andou no metrô...

Luciano Suassuna: [Interrompendo] Se investigar a Paulipetro, não se descobriu uma gota de petróleo nesse estado, não é prefeito? Pelo amor de Deus.

Paulo Salim Maluf: Perdão! Estamos falando por enquanto da maratona, já respondo para você. Se você andar de metrô na cidade de São Paulo; você lembra quando [José Vicente] Faria Lima e, em seguida, eu começamos o metrô no Jabaquara e em Santana? Todo mundo criticava o metrô de São Paulo, dizendo que não precisava do metrô. No entanto, estão aí dizendo agora, por que não aumenta um pouco mais o metrô? Então, eu me orgulho muito viu, Marcelo, mas muito, de tudo aquilo que fiz nesta cidade. Eu amo São Paulo, eu adoro São Paulo. E se eu tenho um arrependimento é pelas obras que eu ainda não fiz. Vou continuar trabalhando 16 horas por dia para fazer mais túnel, viadutos, Cingapura, obras sociais, saúde pública, educação. Amanhã estou no Jabaquara, inaugurando uma creche com mais [programa] Leve Leite. Enfim, eu amo esta cidade e vou continuar trabalhando por ela. Agora, se uma maratona mostrou essas obras é porque elas existem.

Pedro Cafardo: Senhor prefeito, eu gostaria então de falar a respeito de uma obra. Me parece que a maratona não passou no Minhocão, o senhor citou o Minhocão aqui, e para quem não é de São Paulo, Minhocão é um elevado, o elevado Costa e Silva, que atravessa o centro da cidade e tem uns três quilômetros mais ou menos, e que deteriorou uma área central de São Paulo, construída pelo senhor Paulo Maluf em 1970. O senhor se arrependeu de fazer o Minhocão?

Paulo Salim Maluf: Não. Porque em primeiro lugar, a Avenida São João, você sabe muito bem, já era uma área, há vinte e cinco anos, que não era das melhores para você morar. Em segundo lugar, se você hoje chega a Londres, você sai do aeroporto de Heathrow, e vai até o centro de Londres por um Minhocão que passa ao lado de prédios. Se você chega a Buenos Aires, você sai do [aeroporto] Ezeiza até o centro de Buenos Aires num Minhocão. Se você vai na Périphérique [Via perimetral] de Paris, que são as suas marginais, todas elas por minhocões, e não são de quatro fachos de tráfico não....

Pedro Cafardo: [Interrompendo] Mas nenhuma dessas obras, prefeito, fecham à noite.

Paulo Salim Maluf: Perdão. São de oito fachos de tráfego ao lado de prédios e apartamentos. Se você vai a Nova Iorque, desde o tempo do [aeroporto] La Guardia, antes da Segunda Grande Guerra, no Hudson River  e no East River, tem minhocões em volta da cidade ao lado de prédios de apartamentos. Então, quero dizer para você que a solução adotada em São Paulo não foi nada diferente da solução que foi adotada em outros países. Mas, eu chego agora no Japão, em Tóquio onde exatamente é um lugar muito espremido, porque o Japão tem 120 milhões de habitantes num território menor do que o estado de Minas Gerais. Pois bem, nós temos em Tóquio lugares onde tem sete andares de minhocões. Tem três abaixo, onde você tem dois metrôs e um trem de subúrbio. Você tem um no térreo e tem mais três acima. Então, Tóquio, porque é uma cidade exatamente onde não tem território, tem lugar que tem sete minhocões. É uma solução que, eu quero dizer para vocês muito claramente, tomei a melhor solução, e se vocês quiserem ver as conseqüências da não existência do Minhocão, respondendo a você, eu peço a você que lute, no seu jornal, para fechar o Minhocão por uma semana, aí você vai ver a utilidade que ele tem.

Matinas Suzuki: Agora prefeito, Minhocão, túnel, marginais são só obras para [meios de] transportes individuais e para quem tem acesso ao carro.

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Não senhor, onde o transporte individual vai mais rápido o transporte coletivo também vai mais rápido.

Matinas Suzuki: Há um conceito, quase que um consenso hoje universal, que a política tem que ser política de transportes coletivos, coisa que o senhor, aparentemente, investe menos do que nas obras para carros particulares.

Paulo Salim Maluf: Não é verdade, Matinas. Quem instalou os trens de subúrbio na cidade de São Paulo...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Mas o que está sendo feito agora quanto a isso para aumentar...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Perdão. Você tem que colocar na minha vida pública, quem instalou os trens de subúrbio da Fepasa foi o Paulo Maluf, que hoje transporta mais de um milhão de passageiros. Contra tudo e contra todos, quando nós compramos os trens novos tivemos todo tipo de oposição contra aquele projeto, porque nós mudamos a bitola da antiga [empresa ferroviária] Sorocabana, de um metro para um 1,70m para poder dar interpenetração na antiga Central do Brasil e na antiga Santos/Jundiaí. E se hoje nós temos um transporte só, reunificado na bitola de  1,70m, foi graças ao nosso projeto. Sobre o metrô: 50% do metrô de São Paulo foram construídos quando Paulo Maluf foi prefeito e Paulo Maluf foi governador, e se hoje....

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Prefeito. Com tanto dinheiro que o senhor tem, por que não faz um acordo com o governo estadual para construir metrô em vez de..

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Então, vou fazer agora aqui um compromisso público.

Matinas Suzuki: O senhor poderia financiar o governo, se o seu espírito é tão público; o senhor poderia financiar para o estado, podia estar...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Eu agradeço esse elogio, porque a prefeitura de São Paulo, que tem um orçamento que é um quarto do orçamento do governo do estado, financiar o governo, quer dizer: é um banquinho pequenininho financiando o Banco do Brasil. Eu agradeço esse elogio e faço aqui um compromisso público: se o governador Mario Covas me procurar, de maneira séria, e quiser um programa em conjunto para a cidade de São Paulo que tenha como escopo metrô mais o grande anel. Se ele quiser fazer um acordo de conjunto, eu faço um convênio com ele e pago [sobreposição de vozes].

Josemar Gimenez: O governo do estado disse que já procurou o senhor, prefeito, está esperando uma resposta, o governador Covas, sobre o metrô agora...

Paulo Salim Maluf: Você publicou no seu jornal?

Josemar Gimenez: Não. O governo do estado disse.

Paulo Salim Maluf: Se você não publicou no seu jornal não existiu essa notícia.

[Risos]

Josemar Gimenez: Mas o governo estadual disse que está esperando essa resposta do senhor, para ver se dá para trabalhar em conjunto com relação a isso.

Paulo Salim Maluf: O meu telefone é 225-9077.

Pedro Cafardo: O governador [Mario] Covas nunca conversou com o senhor sobre isso?

Paulo Salim Maluf: De maneira absolutamente concreta não.

Pedro Cafardo: Ele disse que já conversou.

Pedro Cafardo: Quais são as condições que o senhor impôs?

Paulo Salim Maluf: Eu não impus condição nenhuma. Não conversamos que condição se impõe?

Marcelo Beraba: Não. O senhor falou que tiveram uma conversa.

Paulo Salim Maluf: Não. [Em] Primeiro lugar é o seguinte, a solução do problema das marginais de São Paulo não é, como muita gente diz, construir viadutos por cima. Nada disso. Você veja o absurdo que existe. No limite, vamos raciocinar: um caminhão, que venha de Belém do Pará, e ele se destine a Porto Alegre, por que razão ele tem que passar dentro da cidade de São Paulo? Essa é a pergunta que se faz: ele tem que passar dentro da cidade de São Paulo? Um caminhão que vem de Belo Horizonte em direção, por exemplo, a Curitiba, tem que passar dentro da cidade de São Paulo. Então, a solução para o problema de poluição nas marginais e o problema de trânsito de transporte coletivo é o "grande anel". É um anel a trinta quilômetros de distância  das atuais marginais que, por exemplo: quem vem do Rio de Janeiro para Santos, quando chegar à altura de Arujá, ele já pode entrar para cima da serra para chegar à serra onde estaria a via Anchieta ou a rodovia dos Imigrantes. Unir a rodovia dos Imigrantes em continuação até chegar à Raposo Tavares, à BR 116, à Castelo Branco, à Anhanguera, à Bandeirantes, à Fernão Dias e até chegar, novamente, ao viaduto. Então, se você tiver um grande anel por fora, esses caminhões seriam todos desviados dentro do trânsito da cidade de São Paulo. Ou seja, essa é uma obra para o governo do estado, porque a prefeitura de São Paulo não pode realizar obras em outros municípios, eu só posso realizar dentro. Mas eu estou disposto, até não sei se é deselegante eu fazer uma proposta ao governador de maneira pública, mas eu quero dizer o seguinte: eu nasci para trabalhar, governo não foi feito para reclamar, foi feito para resolver.

Nirlando Beirão: O senhor está falando do governador Mario Covas?

Paulo Salim Maluf: Eu estou dizendo que governo não foi feito para reclamar, foi feito para resolver, e é assim que eu estou aqui, neste desafio, dizendo o seguinte: eu sento com o governador e faço um pacote para a cidade de São Paulo, ele faz a parte dele e a parte dele dentro da cidade de São Paulo, que ele não pode fazer, eu ajudo.

Marcelo Parada: Agora prefeito, o senhor fala da cidade limpa, fala do transporte público...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Agora, alguém fez uma pergunta aqui que eu não respondi. Perdão, eu quero responder a todos pela ordem.

Luciano Suassuna: Sobre a Paulipetro. Sobre a exploração de petróleo, Paulipetro.

Paulo Salim Maluf: Pois muito bem, eu estou hoje muito alegre e muito feliz, mas numa alegria brutal...

Luciano Suassuna: [Interrompendo] Quanto o senhor gastou na Paulipetro?

Paulo Salim Maluf: Perdão, eu quero dizer a você que eu estou alegre e muito feliz, numa alegria brutal, porque há dezesseis anos eu tentei flexibilizar o monopólio do petróleo, fui criticado por gregos e troianos, quem mais me criticou foi o governador que me sucedeu, Franco Montoro [(1916-1999) eleito governador do estado de São Paulo, em 1982, na primeira eleição direta para o cargo desde 1965, com 5,5 milhões de votos. Ver entrevista com Montoro no Roda Viva]. E eu vejo que, depois de dezesseis anos, quem lutou pela flexibilização foi Fernando Henrique Cardoso, tucano, companheiro de Franco Montoro, e ele montou agora a flexibilização. Então, eu acho que, com dezesseis anos de diferença, eu estava certo.

Marcelo Beraba: Prefeito, ninguém discutia flexibilização, discutia?

Paulo Salim Maluf: E o que era a Paulipetro, senão a flexibilização?

Marcelo Beraba: Não senhor. Era gastar dinheiro onde se sabia que não iria ter nada.

Paulo Salim Maluf: Não senhor, não senhor.

[Sobreposição de vozes]

Paulo Salim Maluf: Não senhor. Não era essa discussão, não era essa a discussão, tanto que na bacia do [rio] Paraná...

Marcelo Beraba: É sim senhor. O senhor pode fazer, pode dar um "chantili" na história, mas não era essa a questão que está em jogo.

[Sobreposição de vozes]

Paulo Salim Maluf: Eu estou disposto a responder a todos. Vamos falar cada um no seu ponto.

Matinas Suzuki: Prefeito, eu quero que o senhor responda mais uma também. O senhor fez grande declaração de amor a São Paulo. Por que queria levar a capital, então, para o interior? [risos] Foi...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Dá licença. Eu amo São Paulo e adoro São Paulo, mas é evidente que você não pode dizer que você gosta da poluição de São Paulo. Não pode dizer que você gosta das favelas de São Paulo, e que tem problemas na cidade de São Paulo, que tem hoje dez milhões de habitantes, há problemas na sua região metropolitana de 17 milhões de habitantes, e problemas em Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Osasco e Guarulhos, que não existiriam se a grande São Paulo em vez de 17 milhões tivesse 15, 14, e se tivesse outro pólo de desenvolvimento com dois milhões de habitantes, quem sabe se teria evitado muita gente nessa periferia que não encontra emprego. Agora, sobre a Paulipetro, sobre a exploração de petróleo...

Luciano Suassuna: [Interrompendo] Para começar. Quanto o senhor gastou?

Paulo Salim Maluf: Em termo de petróleo, ínfimo. Quando você fala em trezentos milhões de dólares e você vê, por exemplo, que desde que foi fundada....

Luciano Suassuna: [Interrompendo] Não. Nós estamos falando de dinheiro público.

Paulo Salim Maluf: A Petrobras gastou vinte bilhões de dólares em projetos que não deram petróleo. Eu pergunto o seguinte: eu tive dois anos para pesquisar, a Petrobras foi fundada em 1954...

Marcelo Beraba: [Interrompendo] O senhor torrou 15% em dois anos.

Paulo Salim Maluf: Como?

Marcelo Beraba: Torrou 15% do que a Petrobras levou anos para gastar, o senhor torrou em dois anos.

Paulo Salim Maluf: 15% de quê?

Marcelo Beraba: Ué! Do que a Petrobras gastou.

Paulo Salim Maluf: Quer dizer, um e meio.

Marcelo Beraba: Não. Por que um e meio?

Paulo Salim Maluf: De vinte bilhões, trezentos é 1,5 bilhão.

Paulo Salim Maluf: Não. Quinze tira três bilhões de dólares. Você errou na matemática me desculpe, é um e meio. Eu gastei um e meio, está certo? E eles gastaram 98 bilhões, eles pesquisaram na Amazônia, não encontraram, e em diversos lugares. Essa área da Bacia do Paraná, quem colocou em concorrência pública não foi a Paulipetro mas a Petrobras. Nós entramos numa concorrência pública com outras empresas. Agora, eu quero perguntar para vocês o seguinte: do lado de lá do rio [Paraná], na Argentina, tem gás, por que no lado de cá em Santa Catarina, Paraná e nós, São Paulo, não temos? Do lado de lá, na Bolívia, tem gás, por que Mato Grosso não tem? Na Amazônia Peruana, tiram cem mil barris dia, por que na Amazônia brasileira não tem? Então, será possível que Deus fez a fronteira geográfica do Brasil com os países latinos americanos, igualzinha a fronteira geológica? Ou seja, do lado de lá tem e do outro não tem. Eu vou dizer por que o lado de cá não tem. Porque enquanto os Estados Unidos perfuram sessenta mil poços por ano - os Estados Unidos é o mesmo tempo maior produtor do mundo, o maior consumidor e o maior importador - enquanto eles perfuram sessenta mil poços por ano, o Brasil até há pouco perfurava  trezentos poços por ano. Então, evidente que estatisticamente eles encontram muito mais. Eu acho o seguinte: que a Petrobras pode continuar o seu papel, pois é uma grande empresa. Agora, por que outras empresas nacionais e estrangeiras não podem ajudar o Brasil a ser auto-suficiente? E é nisso onde o presidente Fernando Henrique Cardoso merece todo nosso apoio e nosso aplauso, porque ele mudou completamente a sua posição estatizante de anos atrás...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] Mas o senhor não está querendo dizer, com isso, que o presidente apoiaria a criação da Paulipetro, que seria mais uma estatal nesse mundo de estatais, não é prefeito?

Paulo Salim Maluf: Eu quero dizer para você o seguinte, sobre a flexibilização: vão surgir inúmeras empresas estatais, paraestatais ou de economia mista com participação estatal minoritária ou majoritária. Vão surgir, se Deus quiser, porque é o seguinte: o problema de tornar o Brasil auto-suficiente em petróleo, eu acho que é um problema estratégico que todos nós temos que dar nossa contribuição. Não é monopólio da Petrobras...

Matinas Suzuki: [Interrompendo] O senhor concorda com o PT nessa questão então? Porque petróleo é questão estratégica.

Paulo Salim Maluf: Mas é lógico que é estratégica, mas ele só será nosso se for encontrado aqui dentro, se ele não for encontrado aqui dentro ele continuará sendo dos árabes e pago com dinheiro que nós não temos.

Matinas Suzuki: Prefeito, o Marcelo Parada, que nós interrompemos, peço a delicadeza da gente voltar.

Marcelo Parada: Prefeito. O senhor estava falando da cidade limpa e do transporte coletivo. Agora, a sua administração consagrou em São Paulo a proliferação indiscriminada do ônibus clandestino que polui adoidado, que transporta passageiros sem a menor segurança e, no entanto, há uma verdadeira complacência da sua administração na fiscalização desses ônibus, que além de sujar o ar da cidade de São Paulo, talvez de uma forma muito mais nociva que os cigarros nos restaurantes, transportam contingentes de paulistanos numa situação de insegurança absoluta.

Paulo Salim Maluf: Bom, eu acho que você se enganou com a sua palavra, não existe complacência.

Marcelo Parada: Como não, prefeito?

Paulo Salim Maluf: Não. Ao contrário, é aprovação.

Marcelo Parada: Certo.

Paulo Salim Maluf: Não é complacência, é aprovação. Porque na gestão passada eles eram perseguidos e todo o indivíduo que tem um emprego honesto, que você tira o seu emprego dele, ele vai se tornar bandido, pode lhe assaltar amanhã. Então, quando você tem um trabalhador que ganha sua vida honestamente, você tem que verificar como pode compatibilizar o trabalho dele com a legalidade. Então, o que é que nós fizemos? Eles eram clandestinos, hoje a palavra clandestino não tem mais conosco, são ônibus alternativos. O que eles fazem? [risos] Sim, esse é o nome. Basicamente o que eles fazem?  Eles fazem o transporte bairro a bairro que as linhas regulares não fazem. Por quê?

Marcelo Parada: Vá até o corredor [da Avenida] Nove de Julho e vê se o senhor acha um?

Paulo Salim Maluf: De vez em quando eles aparecem lá sim.

[Risos]

Marcelo Parada: De vez em quando não. Todos ao dias eles estão lá.

Paulo Salim Maluf: Sim, eles aparecem [por] lá. Mas o que eu quero dizer para você é muito claro: onde eu vir um trabalhador, eu não vou, em hipótese nenhuma perseguir um trabalhador. Eles foram regularizados, hoje nós sabemos quem são os proprietários dos ônibus e os motoristas, eles tem um custo muito mais barato do que das empresas e eles não tem cobrador.  Eles fazem na sua maioria o transporte de bairro a bairro que as empresas não querem fazer, e eu acho que, ao contrário, não tem complacência não, tem aprovação.

Marcelo Parada: O senhor acha que...

Paulo Salim Maluf: Os ônibus alternativos estão sendo úteis à população. E tem mais, vou lhe dar uma informação: eles que usavam ônibus velhos, caindo os pedaços, eles estão ganhando dinheiro, cada um deles está se tornando um pequeno empresário e o Morelli, que é o presidente do sindicato, esteve comigo recentemente na prefeitura e me disse o seguinte, espero que ele não esteja mentindo, que eles vão comprar mil ônibus novos, os alternativos. Então, são empresários, que se formaram empresários a custa do seu próprio trabalho...

Marcelo Parada: Prefeito, eu, da minha parte, não entro em um ônibus clandestino nem que me paguem, eu morreria de medo e tenho pena do paulistano que tem que andar no transporte coletivo, acho que eles circulam numa condição de insegurança e, para a coletividade, a poluição que gera na cidade é uma coisa muito...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Eu te informo que não tem insegurança, porque todos os ônibus alternativos que eram clandestinos antes, e que hoje são alternativos, eles são fiscalizados regularmente nas oficinas da prefeitura.

Nirlando Beirão: Eu estou um pouco aflito aqui porque o tempo está passando e a gente...

Paulo Salim Maluf: Bem, eu não tenho problema de limite. Eu fico aqui até as três da manhã.

Matinas Suzuki: Nós temos.

Nirlando Beirão: O Matinas tem. Ele nos expulsa daqui. É nós não estamos falando de política, eu acho que a gente pode estar aqui participando de um, digamos, de um primeiro ato de uma campanha eleitoral. É visível, é óbvio isso, e nós não temos falado nesse assunto. Eu li hoje a manchete da Folha de S.Paulo, que o senador Antônio Carlos Magalhães, veio com uma idéia um pouco estranha e extravagante, de que deve haver reeleição para o Fernando Henrique, mas que esta questão só deve ser colocada depois que os atuais prefeitos tiverem deixado o seu cargo. O que o senhor acha da idéia do seu amigo Antônio Carlos Magalhães?

Paulo Salim Maluf: Bom, em primeiro lugar ele não diz que o presidente Fernando Henrique deve ser reeleito. Ele diz que o presidente Fernando Henrique deve ter o direito de se candidatar de novo. Se a população gostar dele, vai reelegê-lo, senão gostar dele não vai reelegê-lo, ou seja...

Nirlando Beirão: [Interrompendo] Quer dizer, o senhor poderia eventualmente ser um adversário do Fernando Henrique numa campanha?

Paulo Salim Maluf: Bom, eu tenho mais de 18 anos de idade, sou eleitor inscrito, sei ler e escrever, nada me impede. Agora eu acho que o Fernando Henrique...

Marcelo Beraba: [Com] a premissa dele, o senhor concorda?

Paulo Salim Maluf: Perdão, a premissa da reeleição, sim.

Marcelo Beraba: Para o Fernando Henrique, na sequência?

Paulo Salim Maluf: [Sobre] a pergunta: a premissa da reeleição, sim, pronto. Em primeiro lugar, eu explico: todos os países do Primeiro Mundo tem, ou no sistema presidencialista ou no parlamentarista, eles tem o preceito da reeleição. Por quê? É muito mais lógico, lícito, honesto e válido, você julgar o executivo depois que ele cumpriu o seu mandato, do que antes, quando ele era somente uma esperança. Então, eu posso lhe garantir o seguinte: muito governante brasileiro, e tome isso muito a sério, se soubesse que poderia passar pelo crivo de um segundo julgamento de uma eleição, ele seria mais correto, honesto, austero e tomaria um pouco mais de cuidado. Então, o instituto da reeleição existe nos Estados Unidos que é um país presidencialista, na França com sete anos, quer dizer, o François Miterrand teve 14, se não estivesse doente poderia ter 21, foi quase um reinado. Mas quem decide se ele vai ser reeleito ou não é o povo. Por isso a palavra reeleição está um pouco errada, deveria ser, sim, nova apresentação. Então, eu defendo isso sim, mas não vou mexer uma palha para que esse instituto me proteja eventualmente, não. Eu acho que deve ser aprovada a reeleição para todos os cargos do executivo, e que eu não devo mexer uma palha para o meu caso... [Em 1995, o então presidente Fernando Henrique Cardoso enviou ao Congresso uma série de emendas constitucionais, entre as quais a proposta de reeleição presidencial, aprovada no ano seguinte, em primeira votação]

Luciano Suassuna: Prefeito, no artigo da [revista] Isto É, o governador de Mato Grosso, Dante de Oliveira, defendeu a idéia da reeleição, mas disse que deve ser feito com plebiscito.

Paulo Salim Maluf: Não, ele acha que...

Luciano Suassuna: [Interrompendo] Ele acha que um plebiscito deve definir a reeleição.

Paulo Salim Maluf: Bom, plebiscito é uma das formas. Pode ser por plebiscito ou pelo próprio Congresso. O Congresso foi eleito para votar sim ou não, então, pode ser pelo Congresso. Pelo plebiscito é um pouco de zelo a mais. Eu acho o seguinte: que o Brasil tem muito a ganhar se os homens públicos do executivo souberem que vão ter que, no fim de seu mandato, prestar contas ao povo. É o povo que vai reeleger ou vai mandar o camarada para a sua casa, numa sanção social pior que a derrota.

Luciano Suassuna: Nessa área política, prefeito, o senhor trocou, quer dizer, mudou recentemente a sigla do seu partido de PPR para PPB com incorporação de alguns parlamentares do PP, e o presidente do seu partido, o senador Esperidião Amin, disse que, na verdade, foi trocado seis por meia dúzia, quer dizer só serviu para trocar siglas. O senhor concorda com isso?

Paulo Salim Maluf: Não.  Acontece o seguinte: que eu sou contra... e vocês estão vendo eu não tenho nenhuma dificuldade em aprovar os bons projetos na Câmara Municipal, nunca aliciei ninguém, ao contrário, até perdi alguns vereadores. Então, nós também, no plano federal, fizemos a primeira fusão com o PDC [Partido Democrata Cristão], fundando o PPR, e agora fizeram uma fusão com o PP, porque é muito mais lícito, lógico e correto, você diminuir o número de partidos. E, veja, de três partidos que tínhamos, hoje somos um. No mínimo, a população ganha, pois a cada semestre dois [partidos] enchem a paciência, que é aquela uma hora a que o partido tem direito de horário gratuito. Eu acho que, no Brasil, cabem cinco partidos, o resto são legendas de aluguel.

Marcelo Beraba: [Interrompendo] Qual é o leque?

Paulo Salim Maluf: Cinco é o seguinte: é o nosso PPB [Partido Progressista Brasileiro] que tem 83 deputados, o PMDB que tem...

Marcelo Beraba: [Interrompendo] O PPB está na ponta direita ali, ou não?

Paulo Salim Maluf: Não.  Eu coloquei o meu primeiro, é lógico, eu acho que o meu é melhor. Você acha que eu vou achar algum outro melhor? O meu é o melhor mesmo, tem o Roberto Campos, Delfim Netto, Francisco Dornelles, Esperidião Amin, Jarbas Passarinho; o nosso produto é bom pela qualidade, inclusive, o nosso PPB; PMDB, que tem 101, 102 deputados; o PFL que tem 89, noventa deputados; o PSDB que está também com  oitenta e poucos deputados e o PT ideológico. Acho que esses cinco partidos têm condições de existir. Agora, partido que tem um deputado...

Marcelo Beraba: [Interrompendo] E o PDT?

Paulo Salim Maluf: O PDT tem vinte e poucos, quer dizer, eu acho que ou ele cresce, ou ele fica um partido carioca.

Josemar Gimenez: Agora, prefeito, jogando a questão um pouco mais para frente. Uma vez o senhor disse que...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Agora, espera um pouquinho. Eu quero frisar isso aqui: são dezenove partidos que tem representação no Congresso, alguns com um deputado. Quer dizer, o partido com um deputado tem o direito de ter uma hora em cadeia nacional duas vezes por ano. Isso é um abuso para o telespectador e é um abuso para todo o contribuinte, porque o dinheiro dessa hora, você sabe, a empresa de televisão pode deduzir no imposto de renda. Então, todos nós estamos pagando para aquele indivíduo que fez um partido com um deputado e teve direito a duas horas em cadeia nacional. Isto é um abuso e tem, no meu entender, que ser revogado.

Josemar Gimenez: Jogando a questão um pouco mais para frente, uma vez, o senhor disse que...

Paulo Salim Maluf: [Interrompendo] Agora, a gente tem que ter coragem, entendeu? Tem que ter coragem para dizer essas coisas, porque todo mundo fica fazendo média com todo mundo. Partido de um deputado é legenda de aluguel, uma legenda mercenária que não poderia nem deveria existir no Brasil, como não existe em lugar nenhum no mundo. Veja, nos Estados Unidos é democrata ou republicano. A Inglaterra é conservadora ou trabalhista. Na França é gaulista ou socialista. A Alemanha é social democrata ou conservador. O Japão é liberal democrata ou socialista. É só no Brasil que nós temos dezenove partidos, que é essa salada russa.

Matinas Suzuki: Pensando nessa...[falando ao mesmo tempo que Paulo Maluf]. É que ele me concedeu a palavra democraticamente.

Paulo Salim Maluf: Pois não, desculpe.

Matinas Suzuki: ...pensando nessa conjuntura nacional, é que o senhor tem aparecido muito na TV Manchete?

Paulo Salim Maluf: Eu apareço aqui, na televisão Cultura, tive até a gratidão de vocês...

Matinas Suzuki: Quando o senhor é notícia prefeito, aparece aqui.

Paulo Salim Maluf: Colocaram-me inaugurando a [Avenida] Faria Lima. Eu tenho aparecido na Globo, na Manchete, no SBT, na Bandeirantes. Eu apareço em todas as televisões, e, olha, quando vocês me puserem mais de uma vez também, eu não faço questão de não aparecer.

Matinas Suzuki: Mas o senhor na TV Manchete, tem aparecido um pouquinho mais. Por quê?

Paulo Salim Maluf: Não. Todo mundo reclama e eu sei do quê, reclama do Jornal de Domingo. Até um dia, um juiz estava conversando comigo: "puxa eles te elogiaram!" Eu perguntei: "quer dizer então que a televisão só existe para 'meter o pau'? Quando a televisão 'mete o pau' é uma televisão decente? Quando a televisão é imparcial e mostra o fato..."

[Risos]

Josemar Gimenez: Voltando um pouquinho sobre sucessão, o senhor, uma vez, me disse que - não sei se a palavra certa seria um sonho - tinha um sonho, que era disputar uma eleição de segundo turno para presidente com o Lula. O senhor ainda pensa isso? O senhor ainda imagina travar uma disputa com o Lula num segundo turno?

Paulo Salim Maluf: Veja, eu sou candidato a ser um bom prefeito de São Paulo. E acho que o Lula ele tem méritos, é uma pessoa simples que veio lá do interior de Pernambuco para São Paulo, fundou o sindicato e fundou um partido. Eu não estou de acordo com as idéias dele e se o PT cometer um erro... uma parte do PT porque a outra parte do PT já acordou. Mesmo Lula disse: "nas próximas eleições temos que fazer coligação". Quer dizer, eles já acordaram que o Muro de Berlim caiu e que o comunismo da Rússia não é o melhor para o mundo, que a solução da Tchetchênia, matando um terço dos seus habitantes, não é uma solução democrática. Que aquilo que o comunismo deixou na Iugoslávia não é o melhor que queremos para os nossos filhos. Então, também eles estão enxergando que esquerda e direita... Na Europa, se você disser que você quer ir para a esquerda ou para a direita você vai estar numa avenida, ouseja, esquerda e direita é sinal de trânsito, você vai ao Champs Éllysées, você pode virar para a esquerda, para Avenida Montaigne, pode virar para a direita.  Entendeu? Então, esquerda e direita é sinal de trânsito [risos] porque só na vida lá, na Europa, a pessoa é bem sucedida se tiver eficácia, eficiência e trabalhar muito.

Josemar Gimenez: Mas o senhor gostaria de disputar uma eleição com o Lula?

Paulo Salim Maluf: Eu acho que se ele continuar com essas idéias antiquadas e arcaicas, ele não é páreo para nenhum outro candidato contra ele. Perderá sempre. O Lula só será válido para a vida pública brasileira, e para ele, se ele se modernizar, tem que ir para a escola estudar.

Josemar Gimenez: Portanto, ele é o adversário ideal, não é isso prefeito?

Paulo Salim Maluf: Para ele perder a eleição, sim.

Nirlando Beirão: Para o senhor, por exemplo.

Paulo Salim Maluf: Não digo para mim. Eu não sou candidato ainda.  Ainda eu sou um candidato a ser um bom prefeito.

Marcelo Parada: Amanhã vai haver a votação na Comissão de Constituição de Justiça. Qual foi a movimentação que o senhor fez, se é que fez alguma, em torno dessa votação do parecer da reforma administrativa?

Marcelo Beraba: O senhor enquadrou o PPB ou não?

Paulo Salim Maluf: Eu não enquadro, não é do meu feitio. Cada deputado em Brasília sabe que... Até eles obedecem muito minha liderança porque eu nunca mandei eles votarem a favor nem contra. Cada deputado foi eleito e sabe o que ele deseja, tanto, inclusive, que o parecer contra foi de um deputado meu amigo, do meu partido, [José Humberto] Prisco Viana, que foi ministro do [José] Sarney, foi voto meu no Colégio Eleitoral, mas ele tem toda a liberdade de ter o seu ponto de vista num país onde, democraticamente, você tem que respeitar. O que eu disse aos meus amigos e ao líder, Odelmo Leão, é que tem duas fases do processo, e que me parece que até a própria imprensa não comunicou bem a população quais são as duas fases. A primeira fase que se vota amanhã é a admissibilidade ou não da emenda, isso quer dizer o seguinte: se a emenda é constitucional ou não. No entanto, já estão entrando no mérito: "não, devemos fazer o seguinte, só poder admitir depois de cinco anos". Não é isso que vai se decidir amanhã, pois vai ser só decidido a admissibilidade ou não, ou se pode demitir com dois anos, cinco anos ou com dez na Comissão de Mérito, que é um outro problema completamente diferente. Então, eu ainda hoje falei com o deputado Odelmo Leão e disse o seguinte: "eu não quero influenciar ninguém, cada um vota como quiser, mas eu acho que vocês estão invertendo a discussão". A discussão de mérito é daqui a uma semana, duas ou três, na Comissão de Mérito. Amanhã o que se discute é admissibilidade ou não da Constituição poder ser modificada, e eu acho que ninguém tem direito adquirido com a modificação da Constituição. Tanto é que o Sarney teve seis anos de mandato; ele foi eleito para seis anos e a Constituinte lhe deu cinco, e a Constituinte deu cinco anos para o Collor, mas mudou para quatro durante o Itamar Franco. Então, ninguém tem direito adquirido face à Constituição. Fernando Henrique não vai poder dizer: "não, a Constituição anterior era de cinco estão me devendo um". Se a Constituição mudou, ninguém tem direito adquirido face à Constituição. É o meu ponto de vista.

Matinas Suzuki: Prefeito, eu vou pedir desculpas a nossa bancada de entrevistadores, eu deixei o debate que estava muito bom, correr, mas eu tenho que fazer aqui algumas perguntas dos nossos telespectadores, que foram muitas.

Paulo Salim Maluf: Mas olha, Matinas, se vocês puderem prorrogar o prazo aqu,i eu estou às ordens.

Matinas Suzuki: Não. Nós não podemos prorrogar, mas eu encaminharei todas as perguntas ao senhor e a sua assessoria poderá responder diretamente a cada um dos nossos telespectadores.

Paulo Salim Maluf: [É] que está sendo um debate muito esclarecedor.

Matinas Suzuki: Agora, se o senhor puder responder, por favor, rapidamente, para a gente poder ler mais de uma pergunta. Sobre educação, tem várias perguntas: Maria Helena Peres, a Fátima Ribeiro, professora de educação infantil sem identificação, o José Augusto, do Tucuruvi, pergunta para o senhor: "e sobre o 113% de reajuste que o senhor iria dar a todos os educadores, vai sair?"

Paulo Salim Maluf: Bom, em primeiro lugar nunca foi prometido 113%, segundo lugar, você sabe muito bem, se nós aumentássemos 113% de todo o salário de todos os funcionários da prefeitura sem aumentar os impostos - e eu não quero aumentar impostos - é evidente que nós levaríamos a situação financeira da prefeitura àquela condição que, exatamente, o Marcelo e todos vocês não desejam, eu não quero entregar a prefeitura inadimplente e nem insolvente. Mas nasceu o 113% de um presidente do sindicato que ainda diz: "não, tinha que dar 156% e fica devendo mais 43%". Olha, não é verdade, nunca se prometeu nada, o que eu disse e vou fazer é o seguinte: nós vamos fazer uma reestruturação para verificar ainda, apesar dos funcionários públicos de São Paulo serem os mais bem pagos do Brasil e da cidade, apesar das professoras da prefeitura ganharem muito mais da que as do estado, assim mesmo nós vamos fazer uma reestruturação para corrigir ainda eventuais injustiças. Mas não é o 113%.

Matinas Suzuki: O escritor Marcelo Rubens Paiva pergunta para o senhor: "quais as medidas a prefeitura tem adotado para que os deficientes físicos possam ser reintegrados à sociedade e poder conviver de uma maneira mais fácil com a cidade de São Paulo?"

Paulo Salim Maluf: Olha, todas as novas guias de sarjetas que estão sendo feitas hoje são rebaixadas. Estamos em processo, nas empresas de ônibus, para rebaixar diversos ônibus, onde eles possam entrar inclusive com as cadeiras. Inclusive, em duas passarelas que nós estamos agora projetando, estamos colocando escada rolante.

Matinas Suzuki: Bem, o Roda Viva está acabando. Eu queria dizer aos senhores que eu recebi aqui alguns faxes que questionaram as perguntas os entrevistadores. O Paulo Santos, de Brasília, Distrito Federal, o Fabrício Junqueira, de São José dos Campos, a Marília Martins, do Jardim Paulistano, todos eles dizendo que a bancada dos entrevistadores exagerou na questão do fumo. E o José Cláudio Bruno, de Brasília, disse que esses jornalistas que estão tentando ridicularizar Maluf estão agindo como imbecis: "nunca vi tanta estupidez ao mesmo tempo, vocês estão ridículos com essa apologia do cigarro, essa técnica estúpida da polêmica, estou horrorizado com o programa que colocou um bando de fumantes mal educados para discutir a proibição do cigarro em restaurantes, é como amarrar cachorro com lingüiça. Nessa questão o Maluf está certo". Eu só queria esclarecer ao José Cláudio Bruno que eu posso ser imbecil, mas não sou fumante e defendo o direito total de quem quiser fumar, inclusive, em restaurantes. E o Marcos, da Aclimação, se o senhor pode responder rapidamente, ele acha que o senhor mudou o visual, e que se isso é necessário para ser presidente do Brasil? O senhor fez plástica, prefeito? Implantou cabelo?

Paulo Salim Maluf: Implantei. Já faz nove anos, em 1986, implantei aqui alguns fios. O que eu fiz realmente, que todo mundo sabe, por recomendação médica, eu troquei os óculos, e até recomendo a você, Matinas, lentes de contato, e fui obrigado, que eu tinha aqui um papo, a fazer uma pequena cirurgia. Mas minha mulher gostou.

Matinas Suzuki: Então está bom [risos]. Prefeito, eu agradeço muito a presença do senhor, eu agradeço aos nossos entrevistadores, agradeço a atenção e a participação dos telespectadores e lembro que o Roda Viva volta na próxima segunda-feira, às dez e meia da noite. Até lá. Uma boa noite para todos e uma boa semana.

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