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Memória Roda Viva

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Nabi Abi Chedid

9/1/1989

Homem ligado ao mundo dos cartolas do futebol, Chedid faz importantes revelações sobre o modus operandi da política na CBF na conturbada década de 1980, falando, em especial, sobre o processo eleitoral da entidade

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Jorge Escosteguy: Boa noite. Está começando mais um Roda Viva. Este programa é transmitido ao vivo pela rádio Cultura AM e pelas TVs educativas do Piauí, Ceará, Bahia, Porto Alegre e TV Cultura de Curitiba, e ainda é retransmitido pelas TVs educativas do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo. O convidado do Roda Viva desta noite é o deputado Nabi Abi Chedid, vice-presidente [no período de 1987-1989] da CBF [Confederação Brasileira de Futebol]. Para entrevistar Nabi Abi Chedid, nós convidamos para o Roda Viva desta noite: Gil Rocha, editor de esportes da TV Paranaense; Sílvio Luiz, jornalista e narrador da TV Bandeirantes; Oldemário Touguinhó, repórter do Jornal do Brasil e de O Estado de S. Paulo no Rio de Janeiro; Gustavo Assupção, editor de esportes da TV Cultura; Luciano Borges, repórter do jornal Folha de S. Paulo; Tonico Duarte, editor de esporte do jornal O Estado de S. Paulo; Mário Sérgio Venditti, repórter da revista Placar - da Editora Abril; Cosme Rimoli, repórter do Jornal da Tarde. Para registrar os melhores momentos do Roda Viva, também está conosco o cartunista Paulo Caruso. Os convidados da produção assistem o programa na platéia. Nabi Abi Chedid é um dos personagens mais controvertidos e criticados do futebol brasileiro. Deputado estadual pelo PFL de São Paulo [Partido da Frente Liberal. Desde 2007 o partido é denominado Democratas], construiu uma carreira política paralela às atividades do futebol. É vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol [CBF], e foi um dos principais articuladores da campanha do atual presidente, Octávio Pinto Guimarães. Há poucos dias, cotado como um dos mais importantes candidatos à presidência da CBF, Nabi anunciou a retirada da sua candidatura.  [Eleições para a presidência da CBF de 1989] Sílvio Luiz tem uma pergunta:

Sílvio Luiz: Boa noite. Vejo que o deputado está com os cabelos brancos - parece que o Octávio [Octávio Pinto Guimarães, presidente da CBF no triênio 1987-1989] colocou um pouquinho de neve na sua cabeça. Uma pergunta, deputado: o que vocês fizeram em prol do futebol brasileiro? Você acha que a administração sua e do Octávio foi uma belíssima administração, foi uma administração “mais ou menos”, ou foi a catástrofe que todo mundo já conhece?

Nabi Abi Chedid: Olha, nem o extremo nem outro, nós podíamos ter feito muito mais. Acontece que o Octávio estava doente durante a campanha. Ele não sentiu que, durante uma campanha eleitoral, você realmente sente os anseios, as aspirações, a vontade, o desejo de um colégio eleitoral, o que ele reivindica, o que pensa, o que quer que se cumpra. Porque nós elaboramos um programa de governo e o candidato até cinco minutos antes era eu, como disse há pouco. Invertemos a chapa pelo problema da idade...

Sílvio Luiz: É verdade.  [fala simultaneamente]

Nabi Abi Chedid: ... porque os presidentes das federações, que estavam no hotel aqui em São Paulo, estavam recebendo pressões: alguns para serem “raptados”, outros com polícia, outros para serem levados de madrugada embora - um foi retirado.  Fala-se tanto em corrupção na eleição de 1986 - o caso chamado Toniquinho lá do Acre - mas ninguém se lembra que o João Torres - da federação de Mato Grosso - foi arrancado do nosso grupo e levado para o lado de lá. [Eleições para a presidência da CBF de 1986]

Sílvio Luiz: Não houve nenhum cheque na situação [dinheiro de suborno]?

Nabi Abi Chedid: Que eu tenha conhecimento, não. Houve compromissos que foram cumpridos. Com relação à administração, houve um choque de filosofia de trabalho, vamos dizer a verdade.

Sílvio Luiz: [Choque de filosofia] entre você e o Octávio?

Nabi Abi Chedid: Perfeitamente, então eu era favorável a uma descentralização administrativa, a cursos e simpósios, que a FIFA oferece graciosamente. [FIFA - Fédération Internationale de Football Association, com sede em Zurique, na Suíça. Tradução: Federação Internacional de Futebol Associação] A Cobraf  [Comissão Brasileira de Arbitragem de Futebol] em nenhum instante se interessou - o setor você conhece bem. Eu entendia a forma para o campeonato brasileiro, qual esquema deveria ser - tanto que, das vezes que ele viajou, eu assumi a presidência da CBF - em 1986 eu estava afastado, devido ao problema eleitoral, à minha reeleição a deputado. Em 1987, fui eu quem formulou o campeonato - buscou uma solução no momento de crise, no momento em que ele viajou. Eu quem estabeleci os módulos, para poder ajustar uma posição de ordem esportiva e jurídica. Em 1988 aconteceu a mesma coisa. [Fui eu] quem pediu aos clubes, às federações, ao CND, para que houvesse um pleno entendimento e, em razão disto, o professor Manoel Tubino implantou as resoluções 16, 17 e 18, que retiravam o poder da própria CBF [e] das federações - federações estas, que tinham entrado na Justiça comum para derrubar estas resoluções e não conseguiram. [Manoel José Gomes Tubino, então presidente do CND] Através do diálogo, do entendimento, reunido em agosto com os clubes [e] com as federações - que possuem clubes que iam disputar a chamada primeira divisão do futebol brasileiro -, nós chegamos a um entendimento, e houve a resolução 11/1988 do CND, que devolveu o poder à CBF [para organizar o Campeonato Brasileiro]. Organizamos o campeonato, tivemos de aceitar a inclusão de alguns clubes - como uma solução intermediária - para implantarmos o processo de primeira divisão. Ninguém no Brasil gosta de pertencer à segunda divisão [ou] terceira divisão, então implantamos a divisão especial, a segunda e a terceira - como uma divisão de acesso. Conseguimos conciliar, e o campeonato foi iniciado, com todas as dificuldades que nós enfrentamos - porque o Octávio viajou dia 31 de agosto. O campeonato iria começar no dia 4 de setembro -, e nós tínhamos de definir [um campeonato] para 24 clubes, com pleno entendimento, com o acordo dos clubes, do CND e das próprias federações. Com relação à seleção brasileira, eu fui nomeado coordenador do futebol brasileiro desde o dia 17 de janeiro de 1986, indicado pelas próprias federações - como o doutor Octávio fala. Mas essa minha atribuição era relativa, havia momentos em que eu encontrava algumas dificuldades. Quem escolheu Carlos Alberto Silva [para o cargo de técnico da seleção principal] fui eu. O primeiro convite [foi] para o Cilinho, o segundo foi para o Ênio Andrade, depois eu convidei o Carlos Alberto. Comuniquei o Octávio, nos encontramos no Hotel Luxus, conversamos cinco horas com o Carlos Alberto Silva e ele foi confirmado. [Ele] iniciou o trabalho no pré-olímpico - um novo trabalho na seleção brasileira, o lançamento de uma geração nova. Houve uma continuidade. Vocês devem se lembrar, houve momentos em que queriam mandar o Carlos Alberto embora - o trabalho que eu tive para manter o Carlos Alberto... O Renê Simões! O Renê Simões foi indicação minha, está aí o excelente trabalho dele, como o de Carlos Alberto, à frente da seleção de jovens. Neste ano de 1988 foi campeão em Buenos Aires, com a seleção de juniores. Foi campeão sul-americano no Equador, nas duas competições da seleção de infantis. Vai agora para Arábia Saudita para disputar o tricampeonato da seleção de juniores - com uma grande seleção, tem 800 jogadores catalogados. E a seleção principal, nós praticamente vendemos uma seleção. Os clubes venderam [jogadores da seleção] para o exterior, de março de 1987 até agora. Nós hoje temos uma seleção lá fora, [e] temos outra aqui. Aceitamos o desafio de uma seleção que se superou no México, pela sua idade. [refere-se à Copa do Mundo realizada no México em 1986]. Nós tivemos uma parte positiva nesse trabalho, não conseguimos realizar aquilo que nós desejávamos, mas nos momentos em que assumi a presidência da CBF eu consegui realizar. Porém sempre há certa injustiça [na avaliação do trabalho].

Sílvio Luiz: Não há nenhum negócio com o Ricardo [Teixeira]?

Nabi Abi Chedid: Não.

Sílvio Luiz: Não?

Nabi Abi Chedid: Não.

Tonico Duarte: Deputado, o senhor falou em gesto de desprendimento. Não teria ocorrido também um erro de avaliação da sua parte, em relação à saúde do doutor Octávio e o tempo que lhe restava, porque todos sabem que ele tem um problema de saúde grave...

Nabi Abi Chedid: Eu não vou dizer para você que houve um erro de avaliação. Eu quis ter segurança na eleição, e quem ganha um cargo de presidente no hospital, só comparecendo no dia da eleição, você está tranqüilo que vai cumprir [o mandato no lugar de Octávio Pinto Guimarães] - com um programa de governo dessas [federações], elaborado até por essas federações que nos apoiaram. Ele estava mal de saúde na ocasião. Pelas informações que nós recebemos, estava realmente mal - tanto que foi precipitada uma assembléia para reformulação do estatuto, porque nós estávamos em plena fase de Copa do Mundo e qualquer fatalidade realmente poderia criar uma crise [e acarretar] uma nova eleição, depois da [eleição] tumultuada de janeiro de 1986, [que ocorreu] antes da Copa do Mundo do México. Graças a Deus ele se recuperou, o poder o retemperou, deu motivação de vida a ele, e ele está mais forte que todos nós.

Tonico Duarte: Quer dizer que o senhor não acreditava mesmo neste triênio, ele poderia, vamos dizer... [pausa]

Sílvio Luiz: Bater as botas.

Tonico Duarte: É isso aí.

Sílvio Luiz: Vamos falar claramente.

Tonico Duarte: Carregamos ali, na alça de um ataúde.

Nabi Abi Chedid: Eu não joguei com isto, porque na vida você nunca pode saber o que vai acontecer. Nós estamos aqui, podemos sair daqui e sofrer um acidente, sermos atropelados, ou sermos assaltados e levarmos um tiro. Tem muita gente mais idosa de que nós lá no hospital - em um leito de hospital - que pode viver mais de que nós.

Sílvio Luiz: Claro.

Nabi Abi Chedid: Então, havia uma preocupação com o estado de saúde dele, disto não resta a menor dúvida.

Jorge Escosteguy: Oldemário Touguinhó, por favor.

Oldemário Touguinhó: Bem, é o seguinte: nessa eleição o fato é - nós que estamos na CBF sabemos - que a indicação do Octávio logicamente foi pela idade, mas ninguém na diretoria estava [o] apoiando, acreditando que o Octávio fosse sobreviver, porque ele estava vindo de uma segunda operação, quase morto. De fato, a preocupação foi tão grande - achando que o Octávio poderia morrer -, que o primeiro ato da diretoria foi realizar uma assembléia para conseguir mudar [o estatuto], porque pelo estatuto antigo você teria de realizar uma nova eleição em menos de três meses.

Nabi Abi Chedid: Em menos de dois anos.

Oldemário Touguinhó: Não, menos de três meses.

Nabi Abi Chedid: Dois anos. [aponta o dedo para o entrevistador]

Oldemário Touguinhó: Se ele morresse, em menos de três meses teria de mudar [a presidência]. Bem, também em dois anos. Então se alterou o estatuto para dizer que, se ele morresse naquele período, o vice-presidente assumiria - que neste caso seria o Nabi - só que ele, o Octávio, ficou cheio de saúde.

Nabi Abi Chedid: É como eu acabei de falar.

Oldemário Touguinhó: Então é justamente isso, o Octávio ficou com saúde. Você não acha que todas as críticas que foram feitas ao campeonato brasileiro, e à CBF - eu, por exemplo, freqüento diariamente a CBF, [e vejo que] o Octávio não manda absolutamente nada, o Octávio não tem comando de nada no futebol brasileiro, ele não dá palpite em nada, o Octávio está preocupado exclusivamente em viajar -, afinal, não representam um pouco a incompetência que você e o Octávio tiveram para dirigir a CBF?

Nabi Abi Chedid: A convocação da assembléia geral não foi ato da diretoria, foi um consenso, e quem fez o edital de convocação e marcou a data foi o próprio Octávio.

Oldemário Touguinhó: Não foi o Octávio porque senão ele teria desmaiado, ou ele assinava ou desmaiava.

Nabi Abi Chedid: Como que ele ia desmaiar?

Oldemário Touguinhó: Ele não podia nem ficar em pé direito.

Nabi Abi Chedid: Por isto você percebe a preocupação que havia. Você sabe perfeitamente [com o] que nós convivemos.

Oldemário Touguinhó: Ninguém achava que ele ia passar de três meses. Senão teriam escolhido outro nome.

Nabi Abi Chedid: Nós passamos três anos convivendo no Rio de Janeiro.

Oldemário Touguinhó: Eu sei perfeitamente.

Nabi Abi Chedid: Você sabe que eu sou absolutamente transparente - com você eu era - por isso que nós temos um relacionamento espetacular, uma das grandes amizades que eu conquistei no Rio, que eu prezo e quero conservar é a sua - mesmo me afastando agora um pouco da área na linha de frente do futebol -, porque você é muito autêntico, sério, competente. Na conversa franca que nós sempre tivemos, você tem me ajudado muito com suas observações. Com relação ao Campeonato Brasileiro, eu sou o bode expiatório de tudo: se lá no Morumbi, ou no Maracanã, deixarem de enganchar a rede no gancho, o Nabi é culpado; se chover, o Nabi é culpado. Eu fui o líder da campanha, eu fui o chefe da campanha, nós derrotamos uma chapa vitoriosa [e] com todo o poder, você sabe disso.

Oldemário Touguinhó: Até a hora do almoço.

Nabi Abi Chedid: Até a hora do almoço. Às 11:00 horas, nós recebemos um telefonema do hotel para um encontro. É verdade o que você está falando, por isso que nós nos damos bem, porque nós falamos [e] fazemos o jogo da verdade. Eu assumi certas atitudes, eu fui a “linha de frente”, poderia ter sido omisso, ter ficado na retaguarda, não tomar nenhuma atitude, poderia ter aceitado o conselho das federações, quando surgiu o problema do impeachment: “Vai para São Paulo, você volta aqui carregado [nos nossos braços]”. Houve uma reunião no hotel aqui em São Paulo, me disseram: “Sai de cena, e você volta carregado”. Eu senti que naquele momento eu não devia fazer isso, eu não devia. É uma questão de princípio de cada um. Nós vivemos uma fase de transformação no futebol brasileiro. Futebol é polêmico! O futebol em si é apaixonante. Acaba uma grande geração de jogadores, como acabou na Copa do Mundo, você parte para formar uma nova seleção. Como eu disse, nós convidamos um [para o cargo de técnico], convidamos dois, o terceiro nome aceitou - sem [impor] condição nenhuma, não exigiu absolutamente nada, aceitou o desafio. Você começa um trabalho de reformulação na seleção - você sabe que é difícil - às vezes você quer ajustar aqui, quer ajustar ali, não se torna nada fácil. Com relação ao campeonato brasileiro, em 1986 eu estava aqui, em plena campanha de reeleição a deputado estadual e eu não participei. Em 1986 houve aquele problema do Joinville com o Piauí. [A disputa no tapetão pelos pontos da partida entre Joinville e Sergipe, movida pela equipe catarinense devido a doping de jogador adversário, ameaçava a classificação do Vasco da Gama. Nabi confunde as equipes, trocando Sergipe por Piauí]

Oldemário Touguinhó: [Este problema] foi colocado pelo Tubino.

Nabi Abi Chedid: Nós tivemos um projeto [de campeonato] para 32 [clubes], foi para 36. Em 1987, você se lembra, o Octávio viajou, deixou a bomba.

[Oldemário tenta dizer algo]

Nabi Abi Chedid: Não, não ouse analisar... Em 1987... [interrompido]

[...]: Quem paga essas viagens?

Nabi Abi Chedid: Só um momento. Em 1987, você sabe que ele viajou e eu fiquei com a “bomba” de fazer o campeonato, eu fiz o campeonato! Em 1988, foi a mesma coisa, [dirigindo-se a Oldemário] você sabe disso, você está mais perto.

Jorge Escosteguy: Agora, o repórter Luciano Borges da Folha de S. Paulo. Depois, por favor, o Gil Rocha - para completar a roda.

Luciano Borges: Nabi, só três coisinhas. Responda rapidinho - para nós amarrarmos o começo desta entrevista. É uma coisa que eu acho que nós podíamos pegar. Você disse que o edital [para as eleições na CBF para o triênio 1989 – 1991] não respeitou o estatuto da CBF. O edital foi feito pelo Octávio?

Nabi Abi Chedid: Cadê o edital? [procura entre vários papéis que traz consigo]

Jorge Escosteguy: Esses papéis atrás, ali. [indica a Nabi um maço de papéis atrás de sua cadeira]

Nabi Abi Chedid: Aqui. Eu tenho uma cópia do edital se quiser olhar alguma coisa. O edital foi feito pelo departamento jurídico.

Luciano Borges: Pelo departamento... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Na reunião da diretoria, foram duas propostas de edital: uma proposta de edital, dando condição de voto a todas as federações; e outra proposta de edital, dando direito a voto àquelas que têm condições, e as outras para serem nominadas e dizerem [por] qual o motivo que não podem. Acontece que, na reunião de diretoria, o presidente Octávio Pinto Guimarães entendeu que seria um constrangimento, não seria ético nominar as federações devedoras.

Luciano Borges: Certo.

Nabi Abi Chedid: Eu acredito que em razão disso não saiu à relação... [interrompido]

Luciano Borges: Para nós esclarecermos um pouco: federação devedora não poderia votar. Algumas dessas federações devedoras apoiavam Ricardo Teixeira, correto?

Nabi Abi Chedid: E algumas nos apoiavam.

Luciano Borges: Existia uma possibilidade de “otenizar” as dividas, chegou a pensar nisso ou não? [OTN – Obrigações do Tesouro Nacional, um indexador inflacionário existente entre 1986 e 1989]

Nabi Abi Chedid: Eu não pensei. Quem pensou foi o Conselho Fiscal. Olhe aqui, olhe aqui. [mostra o maço de papéis que tem em mãos]

Jorge Escosteguy: Por favor, Gil Rocha tem uma pergunta para senhor.

Gil Rocha: Deputado... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Houve uma recomendação do Conselho Fiscal, para que estás dividas fossem “otenizadas”, no mês de janeiro de 1988. Está aqui o edital, tenho o recorte [entrevistado mostra a página de jornal com o edital. Na mesma página está estampada a manchete “Polícia gaúcha investiga suborno do Sport”]. Eu procurei buscar. Eu não acreditei que [o edital] havia saído sem a relação [das federações aptas a votar], então eu procurei a página toda, vê-se que aqui não há relação nenhuma.

Luciano Borges: Foi falado da polícia em cima [faz referência à manchete do jornal].

[alguém ri]

Tonico Duarte: Deputado só um detalhe... [interrompido]

Luciano Borges: Quando o Nabi fala em um ato de desprendimento, a pergunta que eu faço é a seguinte: se o Ricardo Teixeira tem o apoio de 23 federações, a partir de hoje ou amanhã deve ter da vigésima-quarta, do presidente da Federação Baiana. Ao ameaçá-lo com uma intervenção - ou seja, vamos usar o próprio estatuto da CBF para entrar com alguma liminar para tentar impedir esse trabalho. Nabi, isso lhe deu certo cacife para poder negociar a sua desistência?

Nabi Abi Chedid: Absolutamente.

Luciano Borges: Porque você fala hoje em sair da linha de frente do futebol.

Nabi Abi Chedid: Absolutamente.

Luciano Borges: Onde é que você fica nesta situação?

Nabi Abi Chedid: Você sabe o ditado, quem está no futebol, não abandona o futebol, a não ser o aventureiro. Eu não sou aventureiro.

Luciano Borges: Deputado, por favor... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Eu não sou aventureiro. Eu nasci no futebol - eu conversei com você em Bragança, você estava lá [aponta o dedo para um entrevistador]. Desde garoto eu gosto de futebol – você esteve lá na... [ sobreposição de vozes] Olha aqui [aponta para um documento e inicia a sua leitura]: “Ata da reunião do Conselho Fiscal da Confederação Brasileira de Futebol, realizada em 28 de janeiro de 1988. Recomendação um: no nosso entender, existindo devedores da CBF, como débitos das federações, débitos dos clubes, débitos dos funcionários e débitos de adiantamento. Todos estes, de grande expressão, os quais já vêm de longa data - por mais de [um] ano -, deveriam ser não só cobrados, como corrigidos de acordo com a inflação”.

Jorge Escosteguy: Por favor, deputado, o Gil Rocha tem uma pergunta para lhe fazer.

Gil Rocha: O que eu queria discutir com o senhor é o seguinte: na abertura deste programa o senhor disse: “quem não gosta de poder?”. Agora há pouco o senhor justificou porquê não foi candidato a presidente na eleição de Octávio Pinto, e agora o senhor está ai explicando porquê não pôde ser candidato a presidente dessa vez. O senhor de considera frustrado, já que o senhor gosta do poder?

Nabi Abi Chedid: Não. Não me considero. Pelo contrário, sexta-feira eu me senti aliviado [quando renunciou à disputa pelo comando da CBF]. Eu me senti bem.

Gil Rocha: O senhor não gostou da experiência?

Nabi Abi Chedid: Quem, eu? Eu sou um homem de luta, eu trabalho desde os oito ou nove anos de idade. Eu faço futebol desde garoto. Estudei em colégio interno onde eu morava - não morava em Bragança na época, eu estudava em um colégio interno. Eu saia da escola, dava um jeitinho, dava uma fugidinha. Ia comprar A Gazeta Esportiva e O Esporte daquela época - porque não tinha outro jornal, era O Esporte, do Lido Piccinini. Vocês não estão lembrados, ainda não tinha nascido naquela época.

Tonico Duarte: Eu lembro.

Nabi Abi Chedid: Então você tinha [nascido]. [risos] Eu gosto [de futebol]. Fui vinte anos presidente do Clube Atlético Bragantino.

[sobreposição de vozes]

Tonico Duarte: Quem tomava conta do time? Naquela época o senhor fazia parte do time ou tomava conta do time?

Nabi Abi Chedid: Não, eu tomava conta do time, eu tomava conta... [interrompido]

Tonico Duarte: O senhor já jogou bola alguma vez?

Nabi Abi Chedid: Joguei no colégio, eu nunca fui profissional, eu nunca fui nada, porque como jogador de bola somente “dava para o gasto”.

Sílvio Luiz: Mais ou menos como o Ricardo Teixeira, que também nunca jogou bola, não é?

Nabi Abi Chedid: Eu dirigi vinte anos um clube de divisão do interior. Dirigi a Federação três anos, fui um ano vice-presidente, e três [anos] vice-presidente da CBF.

Sílvio Luiz: Agora você vai voltar para o Bragantino?

Nabi Abi Chedid: Eu não. Eu vou ficar na expectativa, vou descansar um pouquinho. Vou acompanhar o futebol, eu não posso ficar fora. Quem ficar fora está traindo a si próprio. Ou eu sou um aventureiro do futebol, ou eu estou no poder, ou não estou no futebol.

Gil Rocha: Por que o senhor se considerou aliviado, então?

Nabi Abi Chedid: Considerei-me pelo seguinte: eu cheguei ao senhor Ricardo Teixeira e disse para ele: “O senhor vai manter o campeonato brasileiro com as três divisões, conforme nós realizamos o campeonato de 1988, com a primeira divisão de 22 clubes para 1989, divisão especial com 22 e a de acesso com numero ilimitado? O senhor pode organizar conforme o seu departamento de futebol, ao seu entender. E vai manter a resolução nossa - que foi minha, com no exercício da presidência da CBF - para descenderem quatro e ascenderem dois [clubes], até possuirmos duas divisões fortes, de 16 clubes?”. Ele concordou. “O senhor vai manter a seleção permanente, em atividade todos os meses, em um processo de convocação no domingo, apresentação na segunda, e liberação na quinta-feira?”. Ele concordou. “O senhor assume o compromisso da modernização da CBF, com telefax, computação, informática e a reformulação da estrutura física da CBF?” A própria imprensa não tem condições, lá é um “chiqueirinho”, ou não é verdade?  “O senhor promete que vai criar o departamento técnico?” - como há aqui em São Paulo. A Federação Paulista aqui é um exemplo para o departamento técnico [da CBF]. Quem fez a tabela do segundo turno do campeonato brasileiro foi a Federação Paulista, por ordem do [Eduardo José] Farah e João Atala, que nos ajudaram [respectivamente ex-presidente e ex-dirigente da Federação Paulista]. “O senhor promete que vai criar a memória do futebol?” O futebol não tem memória - está aí o Touguinhó [de testemunha]. Se você chegar a CBF e perguntar quantos gols fez ou deixou de fazer o Pelé, todo mundo sabe, mas quantos gols fez o Garrincha? Tem lá na CBF? Tem em algum lugar?

Luciano Borges: Tem um diretor de futebol? [risos]

Nabi Abi Chedid: É verdade [e assente com a cabeça]... A extinção da Cobraf e a formação de uma comissão. Não são necessários nove, três membros [é o suficiente] - competentes do ramo, fazendo os simpósios, criando os cursos com a Fifa. Há toda a facilidade, a Fifa se dispõe, e vários países sul-americanos estão fazendo.

Gil Rocha: Pelo visto, o senhor passou toda a plataforma.

Nabi Abi Chedid: A minha plataforma! [e bate os dedos no peito]

Oldemário Touguinhó: Mas por que o senhor disse tudo isso?

Nabi Abi Chedid: Deixe-me completar, calma, eu vou chegar lá. Falo ponto por ponto, para você. A criação das regionais: a descentralização da CBF é a criação das regionais. “Plenamente de acordo”. O escritório em Brasília! Por que um escritório em Brasília? Nós tivemos uma [Assembléia] Constituinte, temos uma nova Constituição. Nós vamos ter agora as leis complementares, as leis ordinárias. Quem acompanha o andamento da entrada de projetos que se referem aos esportes e especificamente ao futebol? É preciso fazer um lobby. Todo mundo faz lobby em Brasília. O futebol precisa fazer, para realmente se modernizar e atender os interesses de toda a comunidade esportiva brasileira.

Jorge Escosteguy: Deputado...

Nabi Abi Chedid: Deixe-me completar. A presença ativa na área internacional da seleção. Hoje se vende, com toda a crise [pela falta de títulos] - desde 1970 não ganhamos Copa do Mundo -, mas a seleção brasileira é vendida por um preço muito maior de que a seleção Argentina - que é bi-campeã do mundo e foi a última campeã do mundo - e qualquer seleção do mundo.

Sílvio Luiz: Qual é o preço, deputado?

Nabi Abi Chedid: 100, 120, até 150 mil dólares.

Sílvio Luiz: [Ou] o equivalente.

Nabi Abi Chedid: Lembrou bem.

Jorge Escosteguy: Terminou deputado? Eu só queria completar a roda... [interrompido abruptamente]

Nabi Abi Chedid: ...E fiz uma recomendação, porque eu entendo que a escolha de técnico é um problema pessoal do presidente e do diretor de futebol, mas eu entendo que a própria imprensa chegou a um consenso no final do ano pela permanência do Carlos Alberto Silva - que é um técnico vitorioso - e do Renê.

Gil Rocha: Se não fosse o Octávio, o senhor teria condições de ter feito tudo isso dentro da CBF? Se não fosse aquele acordo político?

Nabi Abi Chedid: Não resta a menor dúvida, tanto que o campeonato brasileiro eu [quem] implantei - está aí o Touguinhó [de testemunha]. [O Octávio Guimarães] viajou e no dia seguinte eu resolvi. Não resolvi? [aponta para Touguinhó]

Jorge Escosteguy: Só um momentinho Gil. Deputado, por favor, eu queria completar a roda, o Mário Sérgio da Placar, tem uma pergunta para o senhor, depois o Cosme do Jornal da Tarde, por favor.

Mário Sérgio Venditti: Você expõe alguns dos motivos que fizeram a sua desistência no pleito da CBF. Você refuta desde agora que dificilmente vai fazer uma composição futura com o Ricardo Teixeira, e o senhor não vai ocupar nenhum cargo na gestão dele? O senhor promete isso em público, ao vivo, agora?

Nabi Abi Chedid: Eu não refuto nada. Jamais direi: “desta água não beberei”, porque sou um homem experimentado na vida, experiente. Eu me afasto, vou cuidar um pouquinho da... [faz uma pausa], descansar um pouco, dar uma atenção a minha família, aos meus negócios, à atividade política. Nós temos uma constituinte paulista agora, importante. Eu sou o líder do PFL na Assembléia Legislativa de São Paulo - um dos lideres do PFL. Tenho condição de me dedicar mais um pouco. E ele [Ricardo Teixeira], em assumindo o compromisso, ele poderá cumprir tudo isso, tem condições. Além de tudo isto, ele é genro do [João] Havelange [ex-dirigente de futebol, foi presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e da Fifa]. Eu disse para ele: “É difícil, mas não é impossível ganhar a Copa do Mundo. Eu conheço os bastidores do futebol, não é impossível! Você tem uma grande responsabilidade... Quase chegamos [ao título da Copa] no México; nós temos condições na Itália - time bom, bom jogadores... Você não tem o fora de serie, mas você tem um conjunto de bons valores - de excelentes valores -, que bem trabalhados pode lhe dar grandes alegrias e pode dar a Copa de noventa para o Brasil”.

Mário Sérgio Venditti: Então existe a possibilidade de você trabalhar ao lado de Ricardo Teixeira?

Nabi Abi Chedid: O que ele me solicitar, eu vou colaborar. Eu quero que ele execute. Se eu for - mas serei sempre um observador -, vou acompanhar a administração. Nós implantamos um Campeonato Brasileiro que no primeiro turno havia jogos só aos domingos. Sentíamos que havia necessidade de aproveitamento de algumas quartas-feiras, por causa do programa de viagens. Nós iríamos fazer um aproveitamento de algumas quartas-feiras, veio o problema de férias, e nós tivemos que resolver tudo no atropelo, mudar uma legislação - por delegação do CND, que nós agradecemos, pela confiança dos próprios clubes, da própria federação. Vocês nos delegaram, os clubes nos delegaram. Tudo isso colocado: o compromisso assumido, a responsabilidade, o trânsito na área internacional, um trabalho somado de todos. E eu também tenho certeza que o Octávio não vai ser candidato até o final. É brincadeira, para que isso? Não devia nem ter registrado chapa.

Jorge Escosteguy: Deputado, por favor. O Cosme, do Jornal da Tarde, teria uma pergunta para o senhor.

Nabi Abi Chedid: Desculpe-me, é que às vezes eu não completo [a resposta]. Cobre-me na transição [para outra pergunta], eu sei que você está tendo problema na transição [encara o mediador do programa].

Cosme Rímoli: São duas perguntas, a primeira é a seguinte: o senhor acha que perdeu essa eleição na verdade para o João Havelange, e não para o Ricardo Teixeira?

Nabi Abi Chedid: Não, nós ganhamos a de 1986, do João Havelange, Giulite Coutinho... [pausa] [Giulite Coutinho, candidato derrotado à reeleição em 1986, era apoiado por João Havelange, à época presidente da Fifa]

Cosme Rímoli: E essa derrota [na eleição de 1989], você perdeu de quem?

Nabi Abi Chedid: Derrota nenhuma!

Cosme Rímoli: Como não?

Nabi Abi Chedid: Uma grande vitória! O homem não é só no poder que se realiza. Quando ele tem alguém que pode realizar por ele, ele se realiza. Eu sou homem realizado! Eu lutei! Eu fui [por] três anos o bode expiatório de tudo de mal que acontecia no futebol brasileiro!

Cosme Rímoli: Mas o senhor tem a garantia... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Mas agora eu saio! Eu saio de cena!

Cosme Rímoli: O senhor tem garantias que ele [Ricardo Teixeira] vai cumprir tudo isso que o senhor pediu?

Nabi Abi Chedid: Eu confio na palavra dele. Eu vou cobrar, e eu estou dizendo aqui, publicamente.

Sílvio Luiz: Não é o que está aqui. [mostra um jornal e aponta para alguma reportagem]

Tonico Duarte: Não é masoquismo de sua parte ao dizer que foi bode expiatório...

Nabi Abi Chedid: Não sou masoquista. Tudo o que existia de errado: “Foi o Nabi”. Porque também houve um início de campanha, o Ricardo começou a trabalhar a [sua] campanha desde o dia 16 de janeiro de 1986. Então houve esquemas, houve lobbies de desgaste, eu reconheço isso. Tem de ser autêntico, o que eu disse para você? [aponta para um entrevistador] Houve, você sabe que houve, lógico! Faz parte do processo eleitoral, [de] qualquer tipo de eleição, não é só na área do futebol, e eu respeito. Agora, quero dizer uma coisa: eu não fui derrotado, eu ganharia a eleição!

Cosme Rímoli: Então explique qual a influência do Havelange nesta eleição?

Tonico Duarte: Com quantos votos... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Eu acho que a influência direta, nenhuma.

[sobreposição de vozes]

Gustavo Assumpção: Como o senhor não perderia a eleição? Com quantos votos você ganharia a eleição?

Nabi Abi Chedid: A aritmética de você ter a apresentação de uma chapa com a assinatura... [interrompido]

Sílvio Luiz: Sem a liminar você ganhava.

Nabi Abi Chedid: Eu vou chegar aonde você quer. Eu ganharia a eleição, pelo seguinte: aqui há uma relação das federações que assinaram a apresentação da chapa. [observa os papéis que estão na sua mão] O voto é secreto... A apresentação da chapa: você há de entender que a partir de um determinado momento o Octávio quis se lançar, porque quando ele voltou em outubro da Europa, da viagem que ele fez a Seul etc., eu disse para o Octávio: “Octávio, [por] uma questão de coerência, você [que] se viabilize!”

Oldemário Touguinhó: Disseram que a chapa dele é o passaporte do Brasil [faz referência jocosas às inúmeras viagens de Octávio Guimarães ao exterior]. [risos]

Nabi Abi Chedid: “Você se viabilize”, eu disse a ele. “Você se viabilize candidato à presidência da CBF. Se você não se viabilizar eu sou o candidato, mais se você se viabilizar, eu te apoio”.

Cosme Rímoli: Você não respondeu a minha pergunta.

Nabi Abi Chedid: Eu disse isso a ele, e ele não se decidia: vai, não vai, vai, volta etc. Não se viabilizou, e foi passando o tempo. Eu tive os problemas do Campeonato Brasileiro - não poderia atropelar [as coisas] - se não o campeonato não terminaria; é lobby sobre os jogadores, para que, no problema das férias, não se jogasse; é [outro] problema agora, um clube que veio em cima do Sócrates [ex-jogador da seleção brasileira], o Bangu veio em cima do problema do Sócrates; outro recurso de outro clube que... Querem embananar o campeonato, porque os clubes não se conformam com os resultados da... [interrompido]

Cosme Rímoli: E o Havelange está por trás de tudo isso.

Nabi Abi Chedid: Não. [É] o lobby, o próprio lobby do processo eleitoral e o interesse de sobrevivência do dirigente. O dirigente não gota de perder, não quer descer.

Cosme Rímoli: Mas lobby de quem?

Nabi Abi Chedid: O João é um homem de prestígio, [e Ricardo Teixeira] é o genro do João. Somente em dizer que é o genro do João, ele já tem uma grande responsabilidade, já disse isso a ele.

Sílvio Luiz: Mas na outra eleição [a de 1986] o João apoiava o Medrade e vocês ganharam a eleição.

Nabi Abi Chedid: Nós ganhamos a eleição, e essa nós ganharíamos, vou lhe dizer o porquê.

Sílvio Luiz: Qual é a explicação?

Sílvio Luiz: Não havia genro.

Nabi Abi Chedid: Não, não havia genro, era somente o Medrade.

Sílvio Luiz: Mas havia alguma coisa por trás disso aí, não é?

Nabi Abi Chedid: Comigo, eu tinha vários presidentes que assumiram o compromisso: “em você eu voto”. Outros disseram: “não me coloque na fria”. Se der para ganhar, eu vou “para o pau” com você, mas não me coloque em situação difícil”. São as próprias injunções de um processo político, está compreendendo? Respondendo a você [aponta para Cosme Rímoli], eu ganharia a eleição pelo seguinte: liminar.

Sílvio Luiz: Sem liminar?

Nabi Abi Chedid: Não senhor, com liminar.

Sílvio Luiz: Com liminar?

Nabi Abi Chedid: Lógico, lógico! Com liminar.

Sílvio Luiz: É o velho esquema conhecido.

Nabi Abi Chedid: O velho esquema, não! Ora doutor, se existe o furo, se não se cumpre a lei, tem de se fazer cumprir a lei!

Sílvio Luiz: Por isso você publicou aquele edital para fazer... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Não, eu não publiquei não.

Sílvio Luiz: ... [...]

Nabi Abi Chedid: Não, não, não, não!

Sílvio Luiz: Então isso é em cima do edital.

Nabi Abi Chedid: Não senhor! Eu fiquei surpreso, quando soube que não havia sido publicada a relação, porque foi uma omissão maluca! Saíram das reuniões e foram direto para o jornal, esqueceram de levar uma relação geral! Poderiam ter levado a relação geral e não levaram. Está aqui o meu mandado de garantia [exibe um documento].

Mário Sérgio Venditti: Por quantos votos você ganharia a eleição?

Nabi Abi Chedid: Eu somente precisava de 13. Eu tinha os 13. Em outra oportunidade, neste programa - eu acho que é inoportuna agora, [por] uma questão ética, nós estamos a poucas horas de uma eleição [sobreposição de vozes]. Eu ganharia a eleição, [olhem] aqui [e exibe novamente o documento]

Nabi Abi Chedid: Está aqui, a portaria eu conseguiria.

Sílvio Luiz: O que é isso?

Nabi Abi Chedid: A liminar eu conseguiria, está aqui - é que não há tempo para ler, eu queria ler aqui para vocês. Clara! A resolução do CND é clara: deve-se publicar o edital, com a relação do colégio eleitoral! Você é candidato; publica-se a convocação para uma eleição, e [imagine] você não saber quem deve procurar para apoiá-lo!

Sílvio Luiz: Imagine! [sarcástico]

Cosme Rímoli: Mas então por que você não continua com a sua candidatura e ganha a eleição?

Nabi Abi Chedid: Eu entendo que, neste momento, uma liminar que determine uma intervenção na CBF a partir do dia 17, conseqüentemente tumultua o futebol brasileiro. Nós estamos a menos de seis meses, ou em torno de seis meses, do primeiro jogo da eliminatória da Copa do Mundo.

Sílvio Luiz: Senhores, eis o salvador do futebol brasileiro. É o Cristo Redentor do futebol brasileiro. [extremamente sarcástico]

Jorge Escosteguy: Deputado um minutinho, por favor.

Nabi Abi Chedid: Não, não sou o Cristo Redentor.

Sílvio Luiz: O senhor teria brigado.

Nabi Abi Chedid: Não! Doutor, há brigas que não compensam, há brigas que não compensam.

Tonico Duarte: Se você ganhasse, iria correr dinheiro?

Nabi Abi Chedid: Não...

Tonico Duarte: No O Estado de S. Paulo do dia 9 de janeiro de 1986 - aqui é uma matéria interessante: o senhor Antônio Piton, presidente da federação baiana, diz ter recebido uma oferta de falecidos dois bilhões de cruzados [a moeda brasileira havia recentemente mudado de cruzado para cruzado novo] para votar em você naquela eleição. Está aqui. [repassa aos entrevistadores cópia da notícia].

Nabi Abi Chedid: De mim ele não recebeu. Ele fez uma grande jogada na época. Sabe qual foi a jogada dele? Ofereceram-me dois milhões para que eu votasse, para inibir qualquer outro cidadão a votar [e] que estivesse disposto a votar em nós. Um deles [é] o presidente da federação do Ceará.

Tonico Duarte: Então o Piton é mentiroso.

Nabi Abi Chedid: Ele mentiu, quero que ele prove que isto foi oferecido a ele. Nunca provou.

Jorge Escosteguy: Deputado, por favor, o senhor já respondeu a pergunta, só um minutinho... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Lançando-se uma notícia dessas, uma denuncia dessa, você inibe qualquer outro membro do colégio eleitoral que quisesse votar em você, [e] que viesse do lado de lá [da outra facção]. Ficaria a dúvida se ele veio por livre e espontânea vontade, ou [se] ele foi comprado.

Gustavo Assumpção: Nabi, a sua carreira política sempre correu paralela a sua carreira no futebol. Você dirigiu o Bragantino, a federação paulista, a CBF, na política você é deputado estadual há vários anos...

Nabi Abi Chedid: Sete legislaturas.

Gustavo Assumpção: Sete legislaturas. Mas na política você não pode ir mais alto, por que você é libanês, não é? [refere-se ao fato de que a Constituição de 1967 impunha restrições mais severas aos candidatos estrangeiros. Dois meses antes desta entrevista fora promulgada uma nova Constituição].

Nabi Abi Chedid: Posso.

Gustavo Assumpção: Já pode?

Nabi Abi Chedid: Pela nova Constituição eu posso.

Sílvio Luiz: [Deputado] Federal pode.

Gustavo Assumpção: Ah, pode? Pode ser federal? Então eu lhe pergunto o seguinte... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Posso ser outras coisas também: ministro, senador...

Gustavo Assumpção: Para você, o futebol é o meio ou é o fim?

Nabi Abi Chedid: No futebol eu me realizo intimamente.

Gustavo Assumpção: Eu quero saber: onde a coisa se mistura?

Nabi Abi Chedid: Da minha parte a coisa não se mistura - porque eu estou no futebol antes de ter entrado na política. Eu faço futebol desde garoto, política eu comecei... [interrompido]

Gustavo Assumpção: ...Usando a federação politicamente, colocando 56 clubes na terceira [divisão do futebol paulista].

Nabi Abi Chedid: Nunca usei a federação. Não coloquei 56 clubes na terceira, quem colocou na época foi o presidente da federação, não fui eu. Chame o [João] Atala e o coloque para sentar aqui, para ele lhe contar a verdade.

Gustavo Assumpção: Foi você e o Marinho.

Nabi Abi Chedid: Não fui eu. Foi o Marinho quem mandou colocar.

Gustavo Assumpção: Você quem cuidava da terceira.

Nabi Abi Chedid: Eu não cuidava da terceira, ele determinou. Ele era o presidente que estava mandando, mesmo estando fora. Ele quem mandou colocar.

Gustavo Assumpção: Então, voltando a minha pergunta: o futebol é o meio, ou é o fim? O senhor quer ser o quê, o presidente da Fifa?

Nabi Abi Chedid: O futebol para mim não é nem o meio é nem o fim. É mais uma atividade que eu tenho, entre as muitas, como empresário, como homem público.

Gustavo Assumpção: Mas você quer chegar a algum lugar?

Nabi Abi Chedid: Olha, você quer que eu lhe diga uma coisa de futebol: o futebol me prejudica. Em 1982, eu tive 86 mil votos, para candidato a deputado - 86570 votos. Com a campanha que se fez contra mim, o problema da CBF... [interrompido]

Gustavo Assumpção: Mas você foi eleito.

Nabi Abi Chedid: Em 1982.

Gustavo Assumpção: Com os votos dos clubes da terceira, meu amigo.

Nabi Abi Chedid: Em 1986?

Gustavo Assumpção: É.

Nabi Abi Chedid: Aí que você está enganado, você está mal informado.

Gustavo Assumpção: Não, não é verdade.

Nabi Abi Chedid: Eu perdi [a eleição de 1986].

Gustavo Assumpção: Eu estava lá.

Nabi Abi Chedid: Eu perdi os votos, você não conhece as minhas margens, você nem sabe onde eu tive votos.

Gustavo Assumpção: Em Bragança.

Nabi Abi Chedid: Em Bragança, qual é o voto meu? É político, é clube de terceira? Eu tenho base. Em 1986, eu tive pouco menos que 27 mil votos, enquanto em 1982 eu tive 86 mil. O futebol me tirou votos. Se eu fosse me preocupar com o futebol para me dar votos, eu não me elegeria. Eu sou deputado a sete legislaturas e vou para a oitava, sem futebol. O futebol para mim é o prazer de participar. Eu não utilizo a CBF para meus interesses, eu não tenho mordomia, não faço mordomia. Eu trabalho com seriedade. Trabalhei na federação, trabalho na CBF. Pode divergir da minha filosofia de trabalho, isso faz parte, essa crítica é valida. “Bom, ele pensa desta forma, eu divirjo”, mas honorabilidade, credibilidade, eu não admito que ninguém coloque em dúvida.

[sobreposição de vozes]

Jorge Escosteguy: Deputado, por favor. Há aqui várias perguntas do telespectador. O senhor falou em divergências e há vários telespectadores que divergem das suas opiniões. Como as perguntas, as indagações, são mais ou menos perecidas, eu vou ler as quatro e o senhor me responda, por favor. O Osvaldo Antônio, de Araraquara, pergunta: “Se o senhor é o bode expiatório de tudo o que ocorre na CBF, por que o senhor não se afasta do futebol brasileiro? Assim será mostrado se o senhor é competente ou não, já que, bastou o senhor deixar a Federação Paulista, para que o seu time, o Bragantino, fosse campeão. Marcelo Cardoso, do Aeroporto, pergunta... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: É para responder uma a uma?

Jorge Escosteguy: ... “Por que as federações de futebol de outros países europeus, de outros países, são super organizadas, e a CBF é bagunçada?”. O Artur José Gomes, de Bocaina, pergunta: “Por que o senhor justifica tantas coisas injustificáveis? - como a maioria dos políticos brasileiros”; e o Edson Alves de Oliveira, da Vila Carrão, pergunta: “Quando o futebol brasileiro vai ser levado mais a sério?” No fundo eles acham que nada disso é sério.

Nabi Abi Chedid: O senhor começa com a primeira?

Jorge Escosteguy: O primeiro foi o Osvaldo Antônio de Araraquara. “Se o senhor é o bode expiatório, por que o senhor não se afasta do futebol brasileiro?”

Nabi Abi Chedid: É o que eu estou fazendo.

Jorge Escosteguy: Quando o senhor saiu da Federação Paulista, o Bragantino foi campeão.

Nabi Abi Chedid: É o que eu estou fazendo! Por que eu estou fazendo? Há alguém que se chama Ricardo Teixeira, que se dispôs a cumprir o meu programa. Eu vou trabalhar, ajudá-lo no que for necessário e torcer para que ele faça. Eu destaquei os pontos: aquilo que foi implantado - é o que precisa ser conservado; e aquilo que precisa ser implantado. Com relação ao Bragantino: o Bragantino montou um grande time, o meu irmão [Jesus Chedid] foi o presidente este ano. É por isso que eles foram campeões [refere-se à conquista do Campeonato Paulista da segunda divisão de 1988]. Eu também fui presidente do Bragantino e ele foi campeão, não é um problema de competência. [Na] minha família há felizmente gente competente.

Jorge Escosteguy: E o senhor acha que o futebol brasileiro está sendo levado a sério, ou deve ser levado mais a sério? Uma pergunta do Edson Alves, da Vila Carrão.

Nabi Abi Chedid: Eu acho que tem de ser levado mais a sério, por todos os seguimentos do futebol: dirigentes, profissionais, a própria imprensa. Não é crítica.

Sílvio Luiz: Mas o que você quer que a imprensa faça pelo futebol, mais de que ela está fazendo?

Nabi Abi Chedid: Que ela preserve... [interrompido]

Sílvio Luiz: Preservar o quê, preservar o que eu acho errado?

Gustavo Assumpção: O caos?

Nabi Abi Chedid: Não, não deve preservar [o] errado.

Sílvio Luiz: Acha que deve preservar o caos, meu amigo?

Nabi Abi Chedid: Você quer que eu lhe diga?

Sílvio Luiz: Quero.

Nabi Abi Chedid: Por vezes há, [mas] não é pela imprensa na sua totalidade. É por setores da imprensa: você liga uma televisão, você liga um rádio, você vê um noticiário de jornal... Há alguns colegas de vocês que são super negativistas!

Sílvio Luiz: Mas em que sentido?

Nabi Abi Chedid: Antes de começar a uma partida de futebol, ele começa a comentar: “Bom, o jogo hoje vai ser ruim, por isso, por aquilo...” Espanta o torcedor profissionalmente.

Gustavo Assumpção: As confusões da CBF não espantam?

Nabi Abi Chedid: Que confusões da CBF? Lógico que espantam! Quando elas existem, não resta a menor dúvida. Porém existem confusões fabricadas. É o lobby que foi criado ao longo do tempo para desgastar a administração. [sobreposição de vozes] Vocês vão ter de aguardar mais um pouco, eu vou voltar neste programa! Vocês irão ver que eu tenho razão! E vou destacar ponto por ponto disto que eu falei, e vou examinar ponto por ponto a ação dos dirigentes. Vocês vão chegar à conclusão de que eu estava com a razão. Por isso que eu estou dando uma saída - respondendo ao cidadão lá de Araraquara -, eu sei dar um passo para trás para [depois] dar dez para a frente. Por isso que eu digo que eu sou desprendido, eu poderia disputar e ganharia a eleição. Você não acredita porque não conhece o processo eleitoral [aponta para Gustavo Assumpção].

Jorge Escosteguy: Deputado, por favor. O senhor falou em confusão, em critérios. Há três telespectadores de Porto Alegre - onde o programa também é transmitido ao vivo -: o Djalma Dal´Russo, o Rodrigo Pitermann e Queize Altenfelder. Eles perguntam: “Quais os motivos que fizeram a CBF colocar o Sport e o Guarani na [Taça] Libertadores da América do ano passado, deixando o Internacional de Porto Alegre e o Flamengo de fora?” [esta pergunta refere-se à Copa União de 1987].

Nabi Abi Chedid: Porque havia um regulamento de um campeonato que eles disputaram, e nesse campeonato havia um quadrangular final. Eles disputaram o campeonato, até o momento que lhes interessou, e não cumpriram o [restante do] regulamento do campeonato. A CBF determinou o seu cumprimento - eles podiam ter sido campeão e vice-campeão, se tivessem disputado -, eles teriam jogado o próprio campeonato. Eles não quiseram disputar. É ou não é verdade, Touguinhó?

Gustavo Assumpção: Em cima disto, quem vai disputar a Taça Libertadores?

Nabi Abi Chedid: O campeão e o vice.

Gustavo Assumpção: Mas o campeonato está em andamento.

Sílvio Luiz: É problema do Ricardo Teixeira.

Nabi Abi Chedid: Eu vou dizer a você quem vai disputar a Taça Libertadores da América. Eu vou lhe explicar.

Sílvio Luiz: Não precisa explicar.

Nabi Abi Chedid: Amanhã nós vamos tomar a decisão.

Jorge Escosteguy: Um momentinho, por favor. [sobreposição de vozes] É a pergunta de outro telespectador, Lourival Silva, de Gravataí, no Rio Grande do Sul. Ele também faz a mesma pergunta.

Nabi Abi Chedid: Qual é a pergunta?

Jorge Escosteguy: Sobre os times que serão designados para a Taça Libertadores.

Nabi Abi Chedid: Deve ser o campeão oficial, está no próprio regulamento. Pedimos para a [confederação] sul-americana - que também antecipou. A sul-americana antecipou a Libertadores, a Libertadores nunca foi realizada no mês de fevereiro. Ela antecipou, e no nosso calendário o campeonato [brasileiro] estava pronto para terminar dia 28 de fevereiro.

Gil Rocha: Foi pedido para eles adiarem a data?

Nabi Abi Chedid: Nós pedimos para eles, uma semana de prazo, ou seja... [interrompido]

Gil Rocha: [dia] 26?

Nabi Abi Chedid: Dia 28. Nós terminaríamos dia 26, e 28 nós teríamos [sobreposição de vozes] o jogo entre o campeão e o vice. Por que 26 e não aproveitar um jogo? Porque tem taxa da sul-americana, tem taxa [de] televisão da sul-americana. Far-se-ia outro jogo, 48 horas depois, com as duas equipes. A Venezuela não concordou e a sul-americana não nos ajudou, disse que não teve condições. Assim nós teremos de antecipar, nós não queríamos. Nós entendemos que, em uma fase nobre do campeonato brasileiro, nós teríamos que jogar [somente] nos finais de semana.

Jorge Escosteguy: Mas tem que ser antecipado.

Nabi Abi Chedid: Está certo. Agora nós vamos [ter de] “atropelar”, vamos terminar no dia 19. [Dia] 21 os dois estréiam. No dia 13 - eles determinaram [dia] 9, dia 13 nós teremos o campeão e [também] os dois classificados...

Jorge Escosteguy: ...que irão para a Libertadores.

Nabi Abi Chedid: Vou pedir amanha para a sul-americana: nós vamos determinar os dois clubes no dia 13, e não há problema nenhum [atrasar a definição dos clubes brasileiros na Libertadores] por quatro dias. Não afeta em nada a Confederação Sul-americana [Conmebol].

Jorge Escosteguy: Muito bem, Sílvio Luiz, por favor, depois o Luciano, que também tem uma pergunta.

Sílvio Luiz: Os clubes acham que essa Libertadores só dá prejuízo.

Nabi Abi Chedid: E brigam para disputar, Sílvio.

Sílvio Luiz: Sabe o que [você] faz? Dá para o Ricardo Teixeira resolver, ele já está empossado.

Nabi Abi Chedid: Mas nós não queremos deixar. Você lê as manchetes dos jornais: “deixando o abacaxi para a outra administração”. Não, vou deixar acertado, não vamos deixar “rabo”. “Rabo preso” é somente a Folha que tem com o leitor. [faz alusão a uma chamada publicitária da época: “Folha de S. Paulo – de rabo preso, com o leitor”]

Luciano Borges: Por falar nisso, em leitor ou eleitor, você é candidato em 1990, nas eleições gerais?

Nabi Abi Chedid: Legislativa?

Luciano Borges: Legislativa.

Nabi Abi Chedid: Lógico que eu sou. Eu nasci na política.

Luciano Borges: Entrar com estes papéis todos que você tem aí, nesta eleição, prejudicaria você, como lhe prejudicou essa sua participação em 1986? [refere-se aos maços de papéis que o entrevistado trouxe para se defender] O futebol poderia lhe prejudicar na sua campanha?

Nabi Abi Chedid: Não resta a menor dúvida, mas iria prejudicar ao homem - ao íntimo do homem Nabi Abi Chedid -, que amanhã poderia ser responsabilizado por uma catástrofe. Às vezes busca-se o gancho para se justificar as derrotas, Eu poderia ser responsabilizado por isso. Por quê? Para ficar como presidente da CBF? “[Ricardo Teixeira], cumpra [seu mandato], vamos acompanhar - realizando está ótimo” Eu fico aqui, acompanhando. Eu tenho este ano a constituinte paulista, tem a eleição do presidente da República. A minha ação na área política é grande, estou sendo solicitado pelos meus companheiros para ficar mais aqui em São Paulo.

Jorge Escosteguy: Deputado, estou falando da situação... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Encontro alguém que realiza. É genro do Havelange [Ricardo Terixeira], tem trânsito internacional. Vislumbra a possibilidade de dar uma Copa. Por que  eu não vou prestigiar?

Jorge Escosteguy: O senhor falou em ação política. É sabido que o senhor foi um dos articuladores, na Assembléia Legislativa, da composição de apoio ao governador Orestes Quércia [foi governador de São Paulo de 1987 a 1991]. O senhor esperava, em troca disso, ter o apoio do governador de São Paulo a sua candidatura à CBF, e de repente ficou sem esse apoio? Ou não?

Nabi Abi Chedid: Não, absolutamente, em nenhum instante. O governador Orestes Quércia sempre me prestigiou, em todos os momentos, se eu pedisse algum apoio a ele... [interrompido]

Jorge Escosteguy: O senhor o prestigiou, nesse acordo na Assembléia. Poderia haver uma recíproca na CBF, e de repente não houve?

Nabi Abi Chedid: Pela amizade que nós temos, independentemente de acordo, pelo relacionamento. Ele foi o meu colega de, 1966 a 1968, depois se elegeu prefeito de Campinas. Foi meu colega por dois anos, quando a Assembléia era no Parque D. Pedro [centro da capital paulista]. O que eu solicitasse dele, ele me prestigiaria - não resta a menor dúvida, mas eu não solicitei, porque não houve necessidade. Eu não cheguei ao ponto necessário para disputar uma eleição, jamais ele faltaria, pela amizade que nós temos a longa data.

Oldemário Touguinhó: É só uma observação. Você desistiu da candidatura. Disse que conseguiria 13 votos. O que fez com que quase todas as federações resolvessem apoiar um candidato de oposição? Por que as federações, em sua maioria, criticaram toda a sua administração e do Octávio? Você acha que foi por erro seu, por erro do Octávio, por incompetência sua, por incompetência do Octávio? Pois vocês terminaram uma administração [a qual] pelo menos 23[federações] estão contra esta administração de vocês.

Nabi Abi Chedid: Não, não é verdade que [são] 23.

Oldemário Touguinhó: São 23, sim.

Nabi Abi Chedid: 23 não estão [conosco], pelo seguinte: o processo eleitoral é uma coisa. A partir do momento em que as águas começam a desembocar, no... [interrompido]

Oldemário Touguinhó: Um minutinho só...

[sobreposição de vozes]

Nabi Abi Chedid: Veja bem, quantos presidentes assinaram para o Octávio?

Oldemário Touguinhó: Por você ser um bom político - que você é,  já disse aqui que foi eleito sete vezes -, como que você, um bom político, que conhece tudo isso, como que você levou três anos administrando a CBF e não conseguiu, nestes três anos, capitalizar os votos dessas federações para você? O que houve?

Nabi Abi Chedid: Eu capitalizei para mim.

[sobreposição de vozes]

Nabi Abi Chedid: Eu capitalizei para mim. Eu disse a vocês e repito: se decidisse disputar a eleição no esquema que eu tinha montado, eu ganharia as eleições. Primeiro, intervenção na CBF. Anularam o edital. Está aqui, assinado pelo advogado. [exibe um documento ao entrevistador] Anulando o edital...

Sílvio Luiz: Anula a eleição.

Nabi Abi Chedid: Dia 17 é a intervenção.

Oldemário Touguinhó: E quem faria a intervenção?

Nabi Abi Chedid: É um problema a discutir.

Sílvio Luiz: A CND.

Oldemário Touguinhó: Seria a CND?

Nabi Abi Chedid: Pode ser a CND.

Oldemário Touguinhó: E você não entrou com isso, porque o Eduardo “Caixa d’água” não suporta o Tubino, e não gostaria que o Tubino participasse desse processo? [Eduardo Vianna, apelidado “Caixa D´água”, ex-presidente da federação carioca]

Nabi Abi Chedid: Absolutamente [nega balançando o dedo indicador]

Sílvio Luiz: Lógico.

Nabi Abi Chedid: Absolutamente, eu não me envolvo com os problemas.

Sílvio Luiz: Claro, meu caro Watson. [concorda com Oldemário fazendo uma alusão ao detetive Sherlock Holmes, personagem de Sir Arthur Conan Doyle, famoso também pelo seu bordão ao decifrar um enigma: “Elementar, caro Watson”]

Nabi Abi Chedid: Eu não me envolvo com os problemas do Eduardo Vianna com o Tubino, são problemas de ordem pessoal.

Sílvio Luiz: Você matou a charada [referindo-se à assertiva de Oldemário].

Nabi Abi Chedid: Pode ter certeza de uma coisa, poderia vir o interventor. Vindo o interventor, haveria uma neutralidade no processo, nós ganharíamos no mínimo trinta dias. Porque o edital é claro, você tem que publicar com trinta dias [de antecedência]. [Em] trinta dias você muda o colégio eleitoral, comigo saindo na frente, candidato - sem estar amarrado como eu estive, e você sabe que eu estive [aponta para Oldemário].

Jorge Escosteguy: Deputado, por favor. Eu queria levantar um assunto mais regional, que o Sílvio levantou. Há quatro telespectadores preocupados com estas duas questões. Ariovaldo Leite da Silva, de Piracicaba, pergunta: “Porque o senhor não “levantou um dedo” em favor da Internacional de Limeira, para disputar a Copa União [de 1988]? Ao invés disso o senhor aceitou colocar o América do Rio, que não havia disputado o campeonato do ano anterior”. O Ronaldo Valentino, de Limeira, também pergunta: “Porque o senhor não convidou a Inter de Limeira a disputar o campeonato desse ano? - já que pelo ranking do ultimo campeonato, ele tinha esse direito”. O João Batista Silveira, de Limeira, e o Arigildo Bizar, de Campinas, querem saber: “Como vai ficar a situação da Ponte Preta?”  [Bandeirante e Ponte Preta conseguiram na justiça esportiva o direito de continuar na primeira divisão paulista em 1988. Após vencerem vários jogos por W.O. (em razão do protesto das demais equipes, exceto o Corinthians), esse direito foi revogado e, como o Campeonato Paulista da segunda divisão de 1988 já estava em andamento, Ponte Preta e Bandeirante somente retornaram a campo na segunda divisão de 1989]

Nabi Abi Chedid: Com relação à Internacional de Limeira, houve um levantamento de ranking e houve um processo político dentro do futebol - dizem que o futebol não tem política -, para você poder desatar um nó. Tenho certeza que os clubes não queriam que fossem 24 [participantes na primeira divisão], queriam 16. Chegaram a vinte, depois a 24. Os clubes não queriam 24. Vinte e quatro não é um número ideal, o número ideal são 16.

Jorge Escosteguy: Com relação ao América e à Inter de Limeira... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Por que entrou o América? Processo político, prestigio político. Você deve conciliar problemas, para poder superar o momento e realizar o campeonato em 96 horas – [inclusive] soltando tabela -, porque o Octávio viajou na segunda-feira. Na terça-feira nós passamos a 24 [clubes].

[risos]

Nabi Abi Chedid: Na terça nós passamos a 24. Na quarta-feira tivemos que publicar uma tabela e o campeonato começou no sábado.

Jorge Escosteguy: Qual foi o preço da inclusão do América? Por que entrou o América e não a Inter?

Nabi Abi Chedid: [Pela] somatória das solicitações, e o [seu] atendimento, para nós resolvermos o impasse.

[sobreposição de vozes]

Jorge Escosteguy: E a Ponte Preta? Desculpe, o senhor não falou da Ponte Preta.

Nabi Abi Chedid: A Ponte Preta está sob júdice, então o assunto a que se refere aqui é problema da Federação Paulista de Futebol. A matéria está sob júdice, então não me cabe absolutamente me envolver em problemas que dizem respeito a uma filial, que é a Federação Paulista de Futebol. O Farah tem competência, tem capacidade para administrar os interesses do futebol de São Paulo, e defender os interesses do futebol de São Paulo.

Jorge Escosteguy: Mas em sua opinião, qual deveria ser a solução para a Ponte Preta? O senhor como político, como homem do futebol.

Nabi Abi Chedid: Somente em um processo de conciliação. Ela perdeu dentro de campo. Ela está recorrendo. Está aqui o presidente do Santos – e se tentou o processo de conciliação. Está aqui o presidente da Ponte Preta. O assunto está na Justiça. Agora, como é que você pode se manifestar enquanto não resolver? A não ser que os clubes se reunissem, que 80% dos clubes resolvessem alterar o número de participantes.

Nabi Abi Chedid: Não é isso, Lauro? [Lauro de Moraes, presidente da Ponte Preta à época. Presente na platéia.] Há outra forma?

Sílvio Luiz: Deputado, a Ponte Preta é o time do governador?

Nabi Abi Chedid: Eu não sei.

Luciano Borges: Ele já posou com a camisa da Ponte Preta.

Nabi Abi Chedid: Quem pode dizer é o Lauro de Moraes. [Lauro de Moraes acena positivamente com a cabeça]

Jorge Escosteguy: Então a Ponte Preta é o time o governador. O Luciano tem uma pergunta a fazer [já] há algum tempo, por favor.

Nabi Abi Chedid: Parece-me que o Guarani também é. [faz referência ao outro clube da cidade de Campinas, rival histórico da Ponte Preta]

Oldemário Touguinhó: Bom, ele é de todos os clubes. Eu já vi que político torce por todos os times. [risos]

Luciano Borges: Nabi é uma coisa rápida. Nesse processo todo, há duas coisas que estão faltando nessa conversa que a gente ouve aqui. Uma é a seguinte: parece que todos estes problemas: a formulação do Campeonato Brasileiro, [e] o número dos times e clubes foi feita na CBF, sem as participações dos clubes... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Foi feita com a participação dos clubes.

Luciano Borges: o Clube dos 13 provocou primeiramente este processo, ou não?

Nabi Abi Chedid: Estão aí [na platéia] o Carlos Miguel Aidar [presidente do São Paulo entre 1984 e 1988, e co-fundador do Clube dos 13], estão aí os clubes. Foi feito com a participação dos clubes, e eu consegui conciliar. Eu consegui conciliar clubes, federações e CBF.

Luciano Borges: O Clube dos 13 acha que, na verdade, eles não conseguiram conciliar, eles acabaram tendo de abrir espaço... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Meu amigo, você quer que eu lhe diga? Conciliou. Está aqui o telex. Eu não vou ler o telex, que é extenso. Está aqui o telex que eu mandei para o Tubino - quando no exercício da presidência [passa a ler o telex]: “Considerando a necessidade de adaptar futebol brasileiro à realidade internacional, fazendo coincidir, tanto o quanto possível, a partir de 1989, o calendário da CBF com os calendários internacionais, rogo a vossa senhoria o seguinte: rever os princípios da resolução 17/1986 - esta contestada pelas federações -, principalmente no que diz respeito ao seu artigo oitavo, quanto aos períodos em que devem ser disputados os campeonatos nacionais, e quanto ao número e denominações das respectivas divisões. Além da primeira divisão já constituída com acesso e decesso de dois, haveria outra divisão denominada “especial”, com o decesso de quatro, e mais outra - denominada “de acesso” -, aberta a número ilimitado de clubes, mas disputado em grupos regionalizados - cada grupo com o mesmo número de clubes, com acesso de quatro clubes. Para essa divisão [de acesso], virão clubes dos campeonatos da primeira divisão de profissionais das federações. Para que este conselho possa examinar esta solicitação, seria necessária ainda a revisão de outras normas que expediu, tais como férias...”

Sílvio Luiz: Ele vai ler o telex inteiro e não vai responder.

Nabi Abi Chedid: “...férias, e a necessidade de terminar o campeonato no mesmo ano que foram iniciados.” Está aqui o telex.

Sílvio Luiz: Eu conheço a fera [falando com os outros entrevistadores e referindo-se ao entrevistado]. Se você deixar ele vai ler o telex inteiro.

Luciano Borges: De quando é este telex?

[sobreposição de vozes]

Nabi Abi Chedid: De 5 de agosto... [interrompido]

Luciano Borges: 5 de agosto de que ano, deste ano 1988?

Nabi Abi Chedid: De 1988.

Luciano Borges: Em 1987, essas mesmas propostas estavam no programa do Grupo dos 13?

Nabi Abi Chedid: [Em] 18 de agosto nós mandamos um telex para o Tubino, aí surgiu a resolução.

Oldemário Touguinhó: A chamada resolução 171. [risos] [faz referência jocosa ao fato de que, no Código Penal, o artigo 171 é relativo ao crime de estelionato]

Nabi Abi Chedid: A resolução 11/1988, está aqui a resolução. [desdobra uma folha grande de papel e exibe aos entrevistadores]

Sílvio Luiz: Não o deixem ler a resolução, pelo amor de Deus.

Nabi Abi Chedid: Eu não posso ler. Aqui tem tudo, é sobre o acordo com os clubes.

[sobreposição de vozes]

Sílvio Luiz: Se o deixarem ler, não vai responder pergunta nenhuma.

Nabi Abi Chedid: Os clubes concordaram, para resolver o impasse. Concordaram com a entrada de Portuguesa, Vitória, Criciúma e América.

Luciano Borges: E depois eles acham que entraram mais quatro.

Nabi Abi Chedid: Não. Esses quatro fizeram 24.

Jorge Escosteguy: Tonico Duarte, do O Estado de S. Paulo. Por favor, deputado, [ele] tem uma pergunta a fazer, depois eu tenho mais duas de telespectador, por favor.

Tonico Duarte: A gente sabe que existem dois brasis: aquele que se preocupa com o assassinato de Odete Roitman,
[referência à famosa personagem - interpretada por Beatriz Segall - da telenovela Vale tudo (no ar entre 1988 e 1989), da Rede Globo, de Silvio de Abreu, que era má e foi assassinada em cenas de grande audiência, gerando o bordão: "quem matou Odete Roitman"] e aquele que se preocupa como o assassinato do Chico Mendes [ambientalista assassinado em 1988, fato que provocou repercussão internacional]. Eu vou ler um conjunto de frases para o senhor: “Sei tudo quanto é malandragem. Se é preciso, jogo com todas as armas. Já conheci todos os submundos, mas o do futebol é o pior.” Esse tipo de coisa fica melhor na boca de um homem público, ou [na boca] de alguns personagens da novela Vale Tudo?

Nabi Abi Chedid: Eu prefiro ficar no episódio do Chico Mendes, eu estou preocupado.

Tonico Duarte: O senhor sabe a quem se atribui essas frases?

Nabi Abi Chedid: A quem?

Tonico Duarte: Ao senhor.

Nabi Abi Chedid: Eu não disse dessa forma.

Tonico Duarte: O Estado de S. Paulo, 22 de Julho de 1979. Matéria assinada por Wanderley Nogueira, que é um respeitável repórter.

Nabi Abi Chedid: Quando foi isso?

Tonico Duarte: Em 1979. O Estado de S. Paulo, 22 de julho de 1979. Matéria assinada por Wanderley Nogueira. Vou ler de novo: “Sei tudo quanto é malandragens, se é preciso, jogo com todas as armas. Já conheci todos os submundos, mas o do futebol é o pior.”

Nabi Abi Chedid: É verdade.

Tonico Duarte: É sua essa frase?

Nabi Abi Chedid: A frase em si não, mas o sentido é verdadeiro. Eu conheço sim, eu conheço o submundo. E quem na vida... [interrompido]

Tonico Duarte: Como é o submundo, hein?

Nabi Abi Chedid: Se me permite. Conheço o submundo em todos os sentidos: na política, no futebol, na atividade empresarial, comercial, e ela existe. Quem disser que não existe é mentiroso. É preciso realmente ser um homem vivido, para conhecer tudo - e eu conheço sim -, e procuro cada vez [mais] me preservar e me defender desse submundo. Por isso tem de conhecer. Você sendo um poeta, um anjinho, você não conhece o outro lado, você precisa conhecer. Agora, uma coisa é conhecer, outra coisa é admitir, outra coisa é pertencer. Eu não admito, não conheço... [reinicia a frase] Não admito, não pertenço e combato. Em razão de conhecer eu combato, e tenho condição de vencê-lo e tenho vencido sempre.

[sobreposição de vozes]

Sílvio Luiz: Eu quero saber se você gosta do Márcio Braga? [presidente do Flamengo por diversas vezes, inclusive desde 2004]

Tonico Duarte: O que quer dizer: “sei tudo quanto é malandragem?” O que quer dizer “sei tudo”? Dá um exemplo do submundo.

Nabi Abi Chedid: O Márcio Braga faz política partidária dentro do futebol. O Márcio Braga não está preocupado em fazer a política do futebol.

Sílvio Luiz: Você faz.

Tonico Duarte: O senhor não faz?

Nabi Abi Chedid: [Política] partidária, não! Nunca fiz!

Jorge Escosteguy: O Cosme, do Jornal da Tarde, tem uma pergunta para o senhor. Por favor, o Cosme ali, à sua frente.

Cosme Rímoli: O senhor disse no começo desse programa que o senhor é um homem que tem virtude: é sério, nunca esteve envolvido em falcatruas por ai. Então, como que o senhor consegue vencer uma eleição na CBF, sem sujar a mão - acabou de falar que [a CBF] é corrupta?

Nabi Abi Chedid: Porque eu me preservo. Eu consigo dominar a ação daqueles que procuram corromper o processo.

Cosme Rímoli: Prender 12 presidentes de federações em um hotel... [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Prender, não.

Cosme Rímoli: Isso faz parte de preservar?

Nabi Abi Chedid: Preservar, não é prender.

Cosme Rímoli: Esse processo não é corrupto?

Nabi Abi Chedid: A imprensa se preocupou com o Toniquinho, [mas] a imprensa não se preocupou e não fala no João Torres.

Cosme Rímoli: Os dois estão certos?

Nabi Abi Chedid: A imprensa não fala nos autores! Quem fala nos autores?

Gil Rocha: O senhor podia explicar melhor então essas duas histórias, deputado?

Nabi Abi Chedid: Eu já falei isso.

Sílvio Luiz: Ninguém falou do Madeira, também.

Nabi Abi Chedid: O João Torres estava conosco.

Gil Rocha: Ele foi comprado?

Nabi Abi Chedid: O João Torres, arrancaram-no do nosso convívio e levaram para o lado de lá.

Gil Rocha: E por que ele saiu?

[sobreposição de vozes]

Nabi Abi Chedid: Por que até hoje se fala da eleição de 1986, se preocupam com o Toniquinho, e ninguém fala do João Torres. Será que ele foi [para] lá pelos lindos olhos de alguém?

Nabi Abi Chedid: O Toniquinho, por exemplo. Ele falou: “olha, prometeram para mim a concessão da minha área e não me deram, estou saindo”, e declarou publicamente. O outro desapareceu, e não se justificou.

Jorge Escosteguy: Deputado, por favor, só um minutinho. Há pouco o Sílvio estava mencionando a questão da Taça Libertadores da América, dizendo que dá um prejuízo, mas todos os times brigam para disputar.

Nabi Abi Chedid: Eu disse.

Jorge Escosteguy: O senhor disse a pouco que ser político, ou ser cartola de futebol, ou ser vice-presidente da CBF é uma coisa prejudicial, porque lhe tirou votos, entre 1982 e 1986. Se é uma coisa tão ruim, por que as pessoas se engalfinham dessa maneira - tiram as pessoas de um quarto de hotel, seqüestram por outro lado.

[...]: Por quê? Esse é um sentimento um pouco masoquista dos cartolas do futebol? Por que esse interesse tão grande?

Nabi Abi Chedid: Não, não é masoquista. Eu disse para você.

Sílvio Luiz: È o submundo.

Nabi Abi Chedid: Quando disse que, às vezes as pessoas se valem do futebol - o político se vale do futebol, para chegar a determinados cargos, a ter vantagens eleitorais em razão da sua participação no futebol -, eu disse o que eu sofri com relação à eleição de 1986. Porém as pessoas que gostam do futebol não o abandonam. Perguntem ao Miguel Assad, empresário [aponta para um dos convidados, à época presidente do Santos]: quanto ele já colocou, [o] que ele sofre pelo seu Santos. Perguntem a ele: se não gostasse do futebol, ele estaria na presidência do Santos? Se não houvesse - está aí o caso do Mauro também e de outros dirigentes - que pensassem dessa forma, que gostassem do futebol - como o Miguel gosta, como nós gostamos... [interrompido]

Jorge Escosteguy: O Miguel [Aidar] já chegou a seqüestrar alguém em um hotel...

[sobreposição de vozes]

Gil Rocha:
A revista Veja dessa semana diz uma frase... Uma frase que é: o que aqueles italianos gostam do futebol...

Sílvio Luiz: Mas o que aqueles italianos gostam de futebol é brincadeira... [sarcástico]

Gil Rocha: O cartola é um personagem destrutivo do futebol brasileiro. Em 1970, os jogadores ganharam a Jules Rimet, e 13 anos depois, os cartolas deixaram que o troféu fosse roubado e derretido. Essas são algumas opiniões da imprensa e [mais o que o] senhor está dizendo ai... Então, o que tem de bom [em] ser um homem público e se sujeitar a um comentário assim.

Nabi Abi Chedid: Eu não estou sujeito a esse comentário. Você acha que - por exemplo, na época [do roubo da Taça Jules Rimet], o presidente era o Giulite Coutinho -, ele queria que tivessem roubado a Taça? Responda para mim. Outra coisa: a seleção de 1970, quando saiu do Brasil, se houvesse um homem de experiência...

[sobreposição de vozes]

Nabi Abi Chedid: ...um homem de experiência na seleção brasileira... Quando a seleção saiu daqui em 1970, ela saiu com um ceticismo... Ninguém acreditava na seleção brasileira, não esperavam que a seleção brasileira fosse campeã. Era uma briga tremenda, saiu em um descrédito tremendo e foi tri-campeã do mundo - verdade ou não, Touguinhó?

Luciano Borges: Nabi, eu tenho uma pergunta curiosa.

Sílvio Luiz: Eu tenho uma curiosa aqui, também.

Luciano Borges: Estão todos curiosos.

[sobreposição de vozes]

Jorge Escosteguy: Por favor, a curiosidade do Luciano. Ele está a algum tempo ali para perguntar, por favor.

Luciano Borges: Há algum dirigente que sofre, um dirigente que está ouvindo, um dirigente que é criticado... E você mesmo está aqui o tempo todo dizendo - eu vou até cometer uma confidência do [dito no] intervalo - que vocês ainda vão pedir a sua volta. Nabi, essa coisa de ser a Odete Roitman do futebol, como que fica isso para você?

Nabi Abi Chedid: Não, não misture. O negócio não “vale tudo”, pelo contrário. Absolutamente.

Sílvio Luiz: Na novela foi todo mundo para a cadeia

Jorge Escosteguy: O Mário Sérgio da Placar. Por favor, deputado, [ele] tem uma pergunta.

Sílvio Luiz: [O Luciano Borges] está misturando [com] novela. Na novela não foi tudo muito certo...

Nabi Abi Chedid: É verdade, deveria ir muita gente para a cadeia. Mas sobrou gente boa, há os efeitos positivos.

Luciano Borges: Tem gente viajando, dando banana, não é?

Nabi Abi Chedid: É isso mesmo! [ri]

Mário Sérgio Venditti: Nabi, você tem certeza [de] que em breve a imprensa e o torcedor vão clamar pelo seu retorno ao futebol?

Nabi Abi Chedid: Não é o retorno em si. Vão fazer justiça.

Mário Sérgio Venditti: Mas, e se isso não acontecer? Com que cara você vai ficar? Como é que você vai armar a sua volta?

Nabi Abi Chedid: Quem, eu? Eu não pretendo voltar.

Mário Sérgio Venditti: Porque é sinal que você está muito a fim de voltar.

Nabi Abi Chedid: Eu não pretendo voltar se eu não for me sentir útil, se houver alguém que faça. Eu acredito que o Ricardo tem condição de fazer. Vou ajudá-lo, vou prestigiá-lo, e vou torcer para que ele fique muito tempo lá.

Oldemário Touguinhó: Nabi, qual foi o grande erro de você na CBF?

Nabi Abi Chedid: Ter invertido a chapa.

Oldemário Touguinhó: Ter invertido a chapa?

Nabi Abi Chedid: É.

Sílvio Luiz: A última vez que fizeram essa pergunta para o deputado, ele quase bateu no repórter. Nabi, qual é a sua próxima jogada? 

Nabi Abi Chedid: A minha próxima jogada é a eleição do Ricardo Teixeira.

Oldemário Touguinhó: Deu uma briga quando lhe perguntaram isso.

Sílvio Luiz: A última vez que lhe fizeram essa pergunta você quase bateu no Marcelo Tas. Por isso que eu estou perguntando: qual é a sua próxima jogada? [A pergunta foi feita pelo ator Marcelo Tas, incorporando o personagem do repórter Ernesto Varella, que fazia perguntas incovenientes aos seus estrevistados. Chedid enfureceu-se e o episódio tornou-se emblemático do personagem Varella]

Nabi Abi Chedid: A próxima é essa, a eleição.

Sílvio Luiz: Eleger o Teixeira.

Jorge Escosteguy: O Gustavo Assumpção da TV Cultura tem uma pergunta.

Gustavo Assumpção: É a respeito do edital, a respeito das dívidas das federações. Eu gostaria de saber quando que elas surgiram, e por que só agora que elas estão sido cobradas. Nunca foram cobradas.

Nabi Abi Chedid: Elas não estão nem sendo cobradas.

Gustavo Assumpção: Só que estão, não é?

Nabi Abi Chedid: Não. Você deve ler a resolução do CND. Ela é clara, Gustavo. Ela determina que, para uma eleição, você tem de publicar o colégio eleitoral. Ninguém iria cobrar coisa nenhuma. Se não houvesse eleição, o Octávio não saberia dizer não...

Gustavo Assumpção: Então quer dizer que as dividas vão rolando e ninguém fala nada?

Nabi Abi Chedid: O Octávio tem um coração e uma alma pura demais. Ele não cobra ninguém, ele não diz não, não tem coragem. Ninguém iria cobrar e a federação pode pagar se ela quiser.

[sobreposição de vozes]

Sílvio Luiz: O Octávio somente diz não quando ele quer entregar o percentual em dólar. Ele fala: “não, essa, essa eu não quero. Por favor, ponha essa nos cofres.” É a única coisa que ele fala: “não.” [risos]

Jorge Escosteguy: Sílvio, por favor, o Tonico Duarte.

Tonico Duarte: Nesse seu comovente sofrimento pelo futebol brasileiro, a gente sente que [em] algumas coisas realmente o senhor tem razão. Como um homem público, algumas coisas que são devassadas, como por exemplo, no cartório de protesto [lê algo como quem procura entre letras miúdas], que tem com o seu nome: “Nabi Abi Chedid, rua São Lourenço alguma coisa...” Isso realmente deve provocar sofrimentos atrozes.

Nabi Abi Chedid: Saiu no O Estado de S. Paulo?

Tonico Duarte: Saiu. Dia 23 de setembro de 1984.

Nabi Abi Chedid: Sabe por quê? Porque não foi entregue o aviso. Você vai ao cartório - se eu soubesse que você iria trazer esse problema, eu traria uma certidão -, e qualquer cidadão, comercialmente está sujeito a isso. Há um grande empresário, um dos grandes empresários do Brasil [que] teve o seu telefone cortado. Será que ele não tinha dinheiro para pagar? Enquanto eu pago para ser dirigente da CBF, muitos que se fingem de anjinho vivem da mordomia da CBF.

Tonico Duarte: Quem?

Nabi Abi Chedid: Tem um monte de gente.

Tonico Duarte: Cite um nome.

Nabi Abi Chedid: Eu não vou citar nomes, por uma questão ética. Você sabe mais de que eu.

Jorge Escosteguy: Deputado, só um minutinho, o senhor falou em pagar para trabalhar na CBF. O Carlos Cardoso Vieira, de São Miguel Paulista, quer saber se o presidente da CBF é assalariado.

Nabi Abi Chedid: Não.

Jorge Escosteguy: O Ailtom Álvares, do centro da cidade, quer saber: “Quanto recebe o vice-presidente da CBF por mês?”

Nabi Abi Chedid: Não é assalariado e não recebe absolutamente nada.

Jorge Escosteguy: O Marcos Amaral, de Porto Alegre, pergunta: “No inicio da Copa União, a CBF criou uma multa aos jogadores que levassem cartão. O dinheiro das multas seria destinado a prêmios para os jogadores mais disciplinados. Tudo isso foi cancelado...” [interrompido]

Nabi Abi Chedid: Não foi cancelado.

Jorge Escosteguy: “...O que foi feito com o dinheiro arrecadado até hoje?”

Nabi Abi Chedid: Não foi cancelado. Saiu uma notícia maldosa, de um dos membros da Cobraf.

Sílvio Luiz: O Rego Monteiro.

Nabi Abi Chedid: Perfeitamente. E depois do dia seguinte ele desmentiu. O dinheiro - eu dei uma declaração, não lembro o número das contas -, está no Bradesco, eu disse para a imprensa.... [interrompido]

Jorge Escosteguy: Mas, por que essa maldade, deputado?

Nabi Abi Chedid: ...divisão primeira, especial... [interrompido]

Oldemário Touguinhó: O Zé Alberto pode ter desmentido - quando o senhor perguntou a ele -, mas eu ouvi o Zé Alberto dizer.

Nabi Abi Chedid: Eu soube que ele falou. Não te desminto.

Oldemário Touguinhó: Que o dinheiro dessa arrecadação havia entrado para os cofres da CBF, e ele não sabia onde estava. O Zé Alberto disse isso, que é o assessor da Cobraf.

Nabi Abi Chedid: Primeiro: ele é membro da Cobraf, ele não tem como saber, por que ele não é do financeiro e não é nem dirigente da CBF. Segundo: por uma questão ética, jamais ele teria feito uma declaração dessas, se ele não tivesse provas. [Isto] demonstra a sua irresponsabilidade. Está “cheio de gente” [irresponsável], em todos os setores de atividade, de um modo especial no futebol. O dinheiro está no Bradesco, em conta, eu não me lembro o número aqui: conta da primeira divisão, da divisão especial, da divisão de acesso.

Jorge Escosteguy: E continua tudo em vigor?

Nabi Abi Chedid: Continua em vigor. O departamento técnico e a Cobraf estão fazendo um levantamento dos jogadores. Ao final do campeonato, esse dinheiro será distribuído entre os jogadores mais disciplinados. Há uma semana havia mais de 40 milhões, mais ou menos.

Oldemário Touguinhó: 48 [milhões].

Nabi Abi Chedid: 48 milhões.

Sílvio Luiz: Devia ir para uma instituição de caridade.

Nabi Abi Chedid: Isso está aplicado, está rendendo.

Jorge Escosteguy: Está rendendo, na ciranda financeira. O Francisco de Assis, de Campinas, pergunta ao senhor: “Qual é a verdadeira explicação do sumiço da taça que ganhamos no torneio da Austrália - taça esta de valor inestimável para os brasileiros”.

Nabi Abi Chedid: Não, do torneio da Austrália não veio a taça.

Luciano Borges: Foi da Bélgica.

Sílvio Luiz: Foi da Bélgica, aquela que caiu do ônibus.

Luciano Borges: Era um lindo vaso de cristal da Antuérpia, que sumiu no ônibus. Vai para lá, vai para cá...

Sílvio Luiz: Pode estar servindo de vaso em algum lugar [por] aí.

Nabi Abi Chedid: Esqueceram no ônibus. Eu não fui chefe da [delegação], o chefe deve saber.

Sílvio Luiz: Quem era o chefe, Nabi?

Luciano Borges: Deputado, o senhor era um estranho no ninho da CBF?

Nabi Abi Chedid: Eu era, sempre fui.

[sobreposição de vozes]

Tonico Duarte: Por que, depois de ter levado essa “pedrada”, o senhor não veio a público e deu “nome aos bois”?

Nabi Abi Chedid: Do quê?

Tonico Duarte: Por exemplo [seleciona algumas frases do entrevistado]: “me atrapalharam”, “eu não podia fazer o que eu queria...” O senhor é uma pessoa inteligente.

Nabi Abi Chedid: Eu conseguia manter o equilíbrio.

Tonico Duarte: Por muitos anos.

Nabi Abi Chedid: Eu conseguia manter um equilíbrio. Quantas vezes o Leão chegava a mim e falava: “Olha, toma cuidado com isso...”, “fala...”

Oldemário Touguinhó: Eu achei que aconteceu isso. O grande problema da CBF [era] que o Octávio não era presidente - não assumiu a presidência, e você também não assumiu a presidência. Você que tinha de ser o segundo homem e o Octávio ser o primeiro. Então você não fazia nada e nem o Octávio, você fazia e o Octávio desfazia. O dia que você decidia uma coisa, o Octávio decidia outra. Você conversava com o [...], o [...] dizia uma coisa. Eu penso [que] a grande incompetência dessa administração foi justamente [isto]: você determinava uma coisa, o Octávio determinava outra. Com isso o futebol foi sendo desmoralizado, porque quando você tomada uma decisão, o Octávio tomava contra e viajava. Quando viajava, na volta ele tomava sorvete, aí você chegava e decidia uma coisa. Então o futebol brasileiro ficou, nesses três anos, entre o sorvete e a viagem do Octávio, e a briga de você com o Octávio. Eu acho que foi perdido o comando do futebol por isso, por essa inconstância entre você e o Octávio. Talvez se só ficasse o Octávio, ou só ficasse em você, poderia ter tomado a decisão. Por exemplo: saiu um diretor de futebol, a CBF não botou outro diretor de futebol. Dentro da CBF, hoje, só há um diretor, que é você - o vice-presidente, e mais ninguém. Queria me lembrar, mas não tem mais ninguém. Tem! O seu João, porteiro....

Nabi Abi Chedid: Não chegue a isso.

Oldemário Touguinhó: Por que não? O Mozar assume a administração - que é o nosso querido Picoli. O Mozar é do pessoal de carteira registro - o Mozar é o secretário. O [Moacir] Peralta chegou na CBF para ser funcionário. [Moacir Peralta, ex-diretor financeiro e de relações internacionais da CBF] Quer dizer, mais ou menos. De funcionário, de repente passou a ser o mordomo e diretor financeiro do Octávio, o que mostra uma desorganização dentro da administração. Quando a delegação viajou, você demitiu o Peralta, durante a viagem.

Sílvio Luiz: Mas ele estava chefiando o Octávio.

Oldemário Touguinhó: Quando ele voltou, continuou pedindo o cargo. É uma prova de que eu estou dizendo, da falta de comando da estrutura do futebol da CBF - resumida exatamente nessa briga entre você e o Octávio. Você demitiu o diretor financeiro, [quando] ele volta, o Octávio diz: “Vou botar ele de novo”. Você não deixou botá-lo, você botou o Vanderlei. Então ficou este problema entre você e o Octávio no futebol.

Sílvio Luiz: Isto está me parecendo um país que eu conheço.

Nabi Abi Chedid: Não, não, não... Ele era o diretor financeiro, viajou com o Octávio... [interrompido]

Oldemário Touguinhó: Ele era mordomo do Octávio.

Nabi Abi Chedid: ...Ficou 40 dias, depois voltou e ficou 15 dias no Brasil. Uma nova viagem e mais 40 e poucos dias [no exterior]. Eu nomeei um novo diretor financeiro. O Octávio voltou, entendeu que iria viajar depois de 15 dias, [mas] não deveria mudar [o novo diretor financeiro], porque o Peralta iria acompanhá-lo, iria tirar por 15 dias... [interrompido]

Oldemário Touguinhó: O que você acha do Peralta na seriedade, no sentido de competência?

Nabi Abi Chedid: Não me cabe fazer um julgamento.

Jorge Escosteguy: Tem a pergunta do Oldemário, depois eu farei uma última pergunta, por que o programa vai ser encerrado. O nosso horário está adiantado.

Nabi Abi Chedid: Com relação a isso: a escolha dele foi do presidente Octávio Pinto Guimarães.

Oldemário Touguinhó: Eu sei, mas como você o analisa?

[sobreposição de vozes]

Nabi Abi Chedid: Ele trabalhou para a minha chapa; é meu companheiro. Não posso fazer um julgamento aqui.

Oldemário Touguinhó: Mas você já fez, quando você disse que o Octávio... [interrompido]

[sobreposição de vozes]

Nabi Abi Chedid: Eu não vou fazer o julgamento de ninguém.

Sílvio Luiz: Uma pergunta: com a inflação, quanto vale o voto na CBF?

[sobreposição de vozes]

Jorge Escosteguy: O Cosme Rímoli do Jornal da Tarde tem uma pergunta, só um minutinho, por favor. O Cosme faz uma pergunta, o Sílvio faz uma outra, e nos vamos encerrar, por que o nosso horário já está estourando.

Cosme Rimli: Em relação ao Peralta, isso me parece ser indicação do Nabi. O Peralta já foi diretor de relações públicas de uma federação na Inglaterra sem saber falar inglês. O Pedro Lopes dirigiu uma delegação na Argentina, em uma Copa América. Após o seu retorno, sumiu, pois o que aprontou por lá em termos de organização foi “uma festa”. Parece-me que esse dois homens trabalharam intensamente na sua campanha, antes mesmo de escolherem o Octávio. E outra pergunta: naquele episódio do Renato [Renato Portaluppi, atacante da Seleção Brasileira], no qual ele finge que embarcar com a seleção, e volta. Você sabia disso ou não? Isso é coisa do Octávio?

Nabi Abi Chedid: Com relação ao Peralta – você tem toda a razão, foi ao Rio de Janeiro para ser um assalariado -, quem indicou foi o Octávio. Ele quis indicar, é um direito que ele tem – porque é um regime presidencialista. Com relação ao Pedro Lopes indo para a Argentina, o que houve de irregular? Nada. Houve a vontade de todos em querer voltarem, e a dificuldade em obter a passagem. Quando o chefe da delegação conseguiu colocar esses jogadores em mais de um avião, para um retorno imediato – porque eles estavam com a “cabeça baixa”, em uma frustração tremenda -, procurou-se, dentro do possível e o mais rápido, o retorno desses jogadores.

Oldemário Touguinhó: Eu estava lá. O Brasil perdeu naquele dia. À noite, todos foram embora. Quem estava no horário pegou a passagem... [sobreposição de vozes] Deixaram Carlos Alberto sozinho. Ele queria encontrar alguém para arrumar sua mala; não encontrou.

Nabi Abi Chedid: No dia seguinte houve uma acomodação dos jogadores para retornar. Alguns retornaram pela Aerolíneas, e outros pela Varig – com o conhecimento do chefe da delegação, e do próprio hotel.

[sobreposição de vozes]

Jorge Escosteguy: Um minutinho, por favor. O nosso tempo já está esgotado. Agradeço a sua paciência e a sua atenção. Agradeço aos convidados, e ao telespectador. O programa Roda Viva volta na próxima segunda-feira às 9:30 da noite. Até lá e uma boa noite.
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