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[Programa ao vivo]
Jorge Escosteguy: Boa noite. Estamos começando mais um Roda Viva. O convidado do Roda Viva desta noite é o ex-goleiro da seleção brasileira e atual técnico da Sociedade Esportiva Palmeiras, Emerson Leão. Para entrevistar Emerson Leão nesta noite nós convidamos os jornalistas: Regiani Ritter, repórter e comentarista do Mesa Redonda da TV Gazeta; Alfredo Ogawa, chefe de redação da revista Placar; Alon Feuerwerker, editor de esportes do jornal Folha de S. Paulo; Gênia Winitzki, editora da revista Nova; Luis Alberto Volpe, editor de esportes e apresentador do Vídeo Esporte da TV Cultura; José Góes, locutor e entrevistador da TV Cultura; Silvio Luiz, jornalista e comentarista da TV Bandeirantes; Tonico Duarte, editor de esportes do jornal O Estado de S. Paulo. Emerson Leão tem 39 anos, nasceu em Ribeirão Preto e é uma das personalidades mais polêmicas e um dos goleiros mais importantes do futebol brasileiro. Tem 25 anos de futebol, participou de quatro Copas do Mundo e foi tricampeão em 1970 no México. Foi goleiro, entre outros times, do Palmeiras, do Vasco, do Corinthians e do Grêmio. Começou como técnico em 1987, no Sport Club do Recife. Depois foi para São José e o time ficou em terceiro lugar no Campeonato Paulista. Este ano veio para o Palmeiras e a equipe está fazendo uma excelente campanha, não perdeu nenhum jogo durante esse campeonato e tirou do Corinthians a Taça dos Invictos. Leão, você é considerado um técnico bastante disciplinador e isso, aliás, tem sido uma das queixas que se fazem ao seu método de trabalho. Agora você, como goleiro, em certos momentos, não foi muito disciplinado. Você foi colocado na reserva, por exemplo, pelo Telê, você chiou bastante, reclamou, etc. Você como técnico hoje, aceitaria a reclamação de um jogador eventualmente colocado na reserva por sua determinação?
Jorge Escosteguy: Na época do Telê [Santana, (1931-2006), como técnico de futebol, foi campeão regional nos quatro principais estados do Brasil e treinador da Seleção Brasileira em duas Copas do Mundo, 1982 e 1986], você procurou o diálogo com ele quando ele o colocou na reserva?
Jorge Escosteguy: Silvio Luiz tem uma pergunta.
Emerson Leão: Nenhuma das três. A minha linha é simplesmente a linha “Emerson Leão necessidade de momento”.
Emerson Leão: Bom, primeiro nós não recorremos a uma censura dentro do Palmeiras, porque tem vários companheiros seus que estão todos os dias no Palmeiras e sabem que isso não existe. O que existe naquela oportunidade é que eu, como treinador, eu como responsável de uma equipe, deveria, antes de mais nada, tomar todas as providências necessárias e cabíveis para que as coisas funcionassem mais simples e não mais longas. Eu, sabedor de que no meio esportivo tudo o que se faz em curto se torna longo - naquela oportunidade a que você está se referindo foi o fato de uma briga entre o Gaúcho [centroavante, atuou no Palmeiras entre 1988 e 1989] e o Murilo [durante um treinamento. Naquela oportunidade eu estava distante, foi fotografado por um fotógrafo.
Emerson Leão: Por esse... E, na ocasião, na metade do treinamento, eu me dirigi até ele e pedi a ele: “se for possível” - delicadamente ainda, escrito no outro dia pelo Dinoel, no Jornal da Tarde, me parece - “se for possível, gostaria que você me desse o filme porque só você está aqui, você não faz o futebol no dia-a-dia, e isso não vai levar a nada. Nós estamos às vésperas de uma partida, e isso não leva nada. Pense, e se for possível, no final do treino você entrega”. “Ok”- ele falou assim – “Eu vou pensar”. Quando, para minha surpresa, eu fui até ele e disse: “Como é, está sendo possível ou não”? Ele pegou, me entregou o filme e ainda me pediu que não contasse aos companheiros do trabalho dele para ele não ficar mal com os companheiros de trabalho. Então você vê que foi uma solicitação aceita pelo fotógrafo. Muito bem, como já pertenço ao meio há algum tempo, naquele exato momento eu me dirigi a minha diretoria, dizendo: “existe um filme nesse sentido assim e eu acredito não ter nada dentro. Vai acontecer isso e isso e isso". O que também não teria problema nenhum, porque nós não escondemos o fato depois de ele ocorrer, nós lamentamos o fato. E assim foi. Eu acho que ele tentou enganar, apesar de eu não ter enganado ninguém; faltou primeiro, como um homem, a coragem de dizer para mim: “Olha Leão, você vai me desculpar, eu estou realizando um trabalho jornalístico e eu não vou te dar o filme”. Perfeitamente viável! Eu gosto da palavra franca, e ele não o fez, ele faltou com a responsabilidade, não foi homem suficiente para assumir essa atitude e por isso foi isso. E eu não acho isso uma censura à imprensa, eu acho uma solicitação normal de um técnico que se preocupa com a sua equipe.
Emerson Leão: Primeiro, eu não dei essa entrevista na revista Placar porque eu não dou entrevista na revista Placar há mais de dez anos. Então, esse é o primeiro caminho.
Emerson Leão: Um minutinho só. Segundo, eu tenho muitos amigos, e mais de 90% desses amigos foram feitos através do futebol e não só com o futebol. Então eu acho que futebol é uma abertura muito grande para que você faça novos amigos. Agora, depende de você cultivar ou não essa amizade. A outra pergunta?
Emerson Leão: Eu não dou entrevista à revista Placar já desde o tempo em que eu era atleta, mais ou menos uns dez ou 12 anos atrás, por não concordar com a linha de conduta. Eu acho que é uma revista negativa para o futebol, ela vê um outro ângulo... Digamos que, se nós jogarmos uma partida - “nós”, que eu digo, é a Seleção Brasileira, nós do Brasil - 90%, e nos 10% que restam dessa partida nós perdemos de 1 a 0, pode ter certeza que essa revista vai enaltecer os 10% negativos a favor da outra equipe e não os 90% positivos. Então é uma linha de conduta que eu não concordo e já tive problemas; logicamente se há de convir que em 25 anos de carreira você tem que ter algum tipo de problema. Se você ficar 25 anos dirigindo uma revista, você vai ter problemas com seus companheiros, então aí está explicado o motivo de eu não dar entrevista.
Emerson Leão: Eu acho que bom... O programa está bem... só falando em agressividade, né? A realidade é que seguindo a linha do programa...
Emerson Leão: Sua?
Emerson Leão: [risos] Ah, é?! Então tá bom. Realmente nós procuramos sempre uma atividade agressiva, mas agressiva sempre no bom sentido para vencer as partidas. Agora eu acho que realmente está difícil você permitir não só sua esposa, mas principalmente uma família, para ir no estádio...
Emerson Leão: A minha esposa assistiu a uma partida minha, sim, no Rio de Janeiro, na época em que eu estava começando na Seleção Brasileira, e depois disso ela não assistiu mais. Agora as famílias estão se afastando dos estádios. Então, se você vai com sua família ao estádio e você tem três filhos, pode ter certeza que no futuro nós teremos mais três torcedores buscando alguma coisa melhor. E com esse problema de organização, de torcida organizada, realmente a coisa dificultou um pouco. Eu acho que nós temos, primeiro, [temos] que não dar tanta ênfase como nós damos a qualquer problema negativo no futebol, principalmente em se tratando de torcida. Nós estamos cedendo um espaço maior do que o necessário para essas torcidas. Acho também que os problemas que têm ocorrido - vide Inglaterra, um mau exemplo – têm refletido negativamente no nosso país. Mas o brasileiro não é para isso, brasileiro não é para guerra. Acho que nós temos a obrigação, cada um no seu setor, de melhorar. O meu setor será dar à minha equipe, consequentemente à equipe do Palmeiras, consequentemente à torcida do Palmeiras, resultados positivos para que eles vão a campo ver o espetáculo, se sentir alegre e não brigar.
Emerson Leão: Não temos conseguido retorno. Mas já nesse último domingo, como eu soube hoje, eles foram até à missa em Novo Horizonte, tiveram um comportamento muito bonito, realmente é isso que nós esperamos. Esperamos também para essa próxima partida, que será quarta-feira, um comportamento agressivo sim, mas agressivo na medida do incentivo, na medida do espírito vencedor.
Emerson Leão: Perfeitamente. Não pedi isso.
Emerson Leão: Não, muito pelo contrário, senão eu não viria aqui só para receber elogios.
Emerson Leão: Primeiro, a Placar, a linha de conduta da Placar deve ser mantida, porque se a Placar está com uma boa vendagem já, iniciou em 1970, na época do [...], na época do Vital Bataglia, e está até agora, por quê? Ela tem mérito, antes de mais nada. Então, nós não vamos mudar a nossa linha, mas vamos conviver juntos, nós convivemos [em] paralelo. Não quer dizer que eu não saia na sua revista, e que a sua revista não coloque coisas minhas. Agora, com respeito à punição do Palmeiras, realmente a Federação ia tomar algumas atitudes, porque estava no regulamento. Só que eu não vejo como tomar uma atitude contra a entidade Palmeiras porque nós entramos em campo, e dentro do campo não teve nada entre os jogadores, não foi um problema criado pela parte diretiva, ou pela parte técnica, ou pela parte dos atletas. Então não tem como punir o Palmeiras e muito menos porque não era no seu estádio. Sei também que a recíproca seria verdadeira, sei também de que não é o certo. Agora o Palmeiras não deve ser punido por uma coisa que não fez; a sua torcida, sim. Nós não podemos classificar como torcida do Palmeiras todos os que estão de verde, nós temos que entender isso. Acho que houve excesso, acho que houve exagero, acho que algumas coisas foram acertadas e acho também que não teremos mais esse tipo de repetição negativa.
Emerson Leão: Eu não parei ainda para pensar desse jeito, ou nesse sentido. Realmente eu cobro um estado de alerta, guarda alta, como eu costumo dizer a eles, sempre. Eu acho que o atleta profissional tem condição de trabalhar no seu limite máximo de rotação ou de capacidade. Então nós temos que estar sempre cobrando desse atleta, mas a cobrança é uma cobrança saudável, uma cobrança de posicionamento de ordem individual, um posicionamento de ordem coletiva dentro do campo. Eu acho que isso pode até desgastar o atleta em alguns aspectos, mas não desgasta o relacionamento entre a parte diretiva e a parte do atleta, porque ele gosta de ser cobrado. Você há de convir que você já cansou de ouvir falar “eu não faço nada, aquele treinador não me cobra”. O atleta gosta de ser cobrado, porque ele está sabendo que tem alguém ou algumas pessoas interessadas numa produção maior do que aquilo que ele possa dar. Eu acho que todo jogador tem reserva de qualidade, e a nossa obrigação é extrair essa reserva de qualidade que ele tem, inclusive no seu subconsciente, que talvez esteja adormecido ou esperando alguém despertar. Eu lido muito com isso, trabalho nessa rotação alta que você falou. Mas não tenho sentido um desgaste maior e não procuro com isso passar para a torcida, porque eu peço até que a torcida nos cobre empenho, dedicação, comparecimento, mas não necessita cobrar resultados positivos, porque se você tiver condição, comparecimento, esforço, sacrifício, o resultado vai chegar.
Silvio Luiz: Passou rápido pelo Guarani também, entrou de manhã e saiu à noite, foi uma passagem rapidíssima...
Emerson Leão: Talvez tenha sido uma parte de desamor, podemos assim dizer. No Coritiba eu passei quase três meses. Cheguei lá pensando, tentando inovar, [com] uma concepção mais realista do futebol atual. E na realidade o Coritiba - [como] dito antes de ontem por um repórter que passou por São Paulo e me telefonou para me cumprimentar pela campanha do Palmeiras - que o Coritiba não estava preparado para o tipo de profissionalismo que eu queria realizar dentro do Coritiba. E então nós começamos substituindo algumas peças, tentando implantar um regime profissional e o Coritiba não estava preparado para aquele teste. E foi um teste não só para o Coritiba, mas também para mim. Eu acho que nós temos que procurar, às vezes, os lugares para se identificar. Apesar de não ter sido muito duradoura, essa passagem me levou a algumas coisas interessantes em termos de observação. E quando saí do Coritiba o time estava classificado no quarto lugar do Campeonato Brasileiro. Então o resultado estava bom, mas em relação à conduta não estava. Eu não estava satisfeito, eu estava atrapalhando uma diretoria que queria exercer um outro tipo de trabalho, e esse trabalho eu não permitia, então existiu um conflito de pensamentos, de critério. E é mais fácil, logicamente, sair uma pessoa do que sair todo mundo.
Emerson Leão: Não, nós decidimos... nós decidimos, não, eu pedi uma reunião com o presidente. Fui de manhã, às 8 horas, e falei: “gostaria de comunicar ao senhor que eu não vou mais continuar”. Ele falou: “Quando”? Eu falei: “agora. Eu estou indo para São Paulo à tarde”. “Por quê?” “Porque fica mais fácil para o senhor”, aquele negócio todo. “Ah, tá bom, Leão, e tal”. E foi assim que nós resolvemos a situação.
Emerson Leão: Não, porque o Coritiba estava na sétima rodada e em quarto lugar; nós tínhamos mais vinte e poucas rodadas, eu acho que isso não quer dizer “no meio do caminho”, acho que nem no princípio estava chegando.
Emerson Leão: Com o Guarani eu não cheguei, não entrei. O presidente naquela oportunidade achou melhor nós não iniciarmos porque ele pensava de uma maneira e eu pensava de outra; ele disse que nós não íamos combinar. E eu achei interessante e verdadeiro [da parte] dele, desejei boa sorte para que o Guarani conquistasse o mais rápido possível um título. Depois, por força do destino, nós fomos disputar, o Guarani acabou ficando em segundo lugar, e a equipe de São José que eu dirigia na época acabou ficando em terceiro lugar. Mas o Guarani continua sendo um grande clube, um excelente time e que um dia vai chegar novamente a ser campeão.
Alon Feuerwerker: Gostaria de voltar um pouco ao assunto da disciplina. Você procura sempre veicular, sempre colocar o ponto disciplina como central no seu trabalho. Mas os jogadores do seu time, no Palmeiras, até agora em 22 jogos do campeonato, têm 60 cartões amarelos, uma média de quase três por jogo. Entre os 12 finalistas do campeonato seu time é o que teve mais jogadores expulsos até agora, teve cinco jogadores expulsos. O que acontece, Leão? Você não consegue transmitir essa necessidade da disciplina ou a disciplina é só no treinamento e deixa de haver no momento em que eles entram em campo para jogar?
Emerson Leão: Respondo para você [Alon] ou para o Sílvio?
Emerson Leão: Nós temos que entender o seguinte, você fez uma estatística para fazer essa pergunta, correto?
Emerson Leão: Tudo bem. Vamos partir do princípio que são os números, só que esses números não dizem ou não informam como esses cartões amarelos foram conseguidos. Na realidade, 20% desses cartões amarelos foram por uma agressividade para com o adversário, outras foram ou por um chutinho a mais na bola, [por]que agora os árbitros estão mais rigorosos, ou por uma indisciplina de ter respondido ao árbitro do futebol. Enfim, 20% foram conquistadas através de jogadas mais violentas, no caso interpretadas pelo árbitro; outros por cartões necessários, para uma queima, para completar o ciclo de três cartões. E as expulsões: o Gaúcho foi expulso em dois jogos por um problema pessoal com seu marcador, então, um fato isolado. Fora isso, eu acho que está perfeitamente respondido e, acredito eu, compreendido.
Emerson Leão: Vamos esclarecer a sua dúvida.
Emerson Leão: Por isso que eu treino todos os atletas, não só os 11 titulares. Eu acho que a necessidade de ter na Seleção Brasileira 22 capazes é justamente por isso. [Para] Nosso país conseguir 22 jogadores capazes não é difícil. Agora, também não gostaria de ser campeão moral.
José Góes: Antes, como atleta, e agora como jogador, você sempre teve a preocupação de se apresentar bem diante do público, aparecer bonitinho, [com] roupas de grife, sapato, cabelo arrumadinho. É uma questão de vaidade pessoal ou marketing que você procura formar para vender a sua imagem dentro do esporte? E até que ponto a sua família participa dessa sua preocupação, a esposa, as filhas, dando conselho, ajudando na escolha da roupa, da cor?
José Góes: Impõe mais respeito?
José Góes: O seu pessoal ajuda na sua escolha?
Jorge Escosteguy: Temos aqui várias perguntas da torcida do Palmeiras e boa parte delas... eu tenho aqui seis perguntas: o Murilo de oito anos, de Cerqueira César; o Sílvio César de Paula, da Vila Carrão; Edson Martins, de Santo André; Marcos Grape, não diz de onde é; Luciano Reolon, do Alto da Lapa; e João Luis Borin, de Jundiaí. Eles querem saber o seguinte: se você protege o Gaúcho e por que você tira tanto o Neto do time se ele joga tão bem?
Jorge Escosteguy: Quer dizer então que a dúvida sobre essa questão continua.
Jorge Escosteguy: Significa eventualmente que ele perdeu três vezes o gol também.
Emerson Leão: Perdeu, mas ele só perdeu porque esteve próximo ao gol. Eu fico chateado – eu sou um pouquinho diferente talvez – eu fico chateado no dia em que ele não perde nenhum, porque ele não compareceu à área, não esteve presente na sua zona de trabalho. Então um dos motivos é esse [por]que eu não tiro o Gaúcho. E quando necessita, ele pode sair aos cinco minutos de jogo, como pode não sair. A respeito do Neto, que eu também acho um craque de bola, nós não temos que ver só o craque de bola individualmente, nós temos que ver o craque de bola coletivamente. E o Neto, quando saiu, é porque estava devedor. Agora nós sabemos que ele é o titular da equipe, mas nós precisamos ter mais de 11 titulares. E quando nós necessitamos mudar a condição tática da equipe... ou sai o Neto, ou sai o Gaúcho, ou sai o Caçapa, como saiu ontem, e pode sair qualquer um.
Silvio Luiz: [primeiro bebe um bom gole de água] Você falou que não gostaria de ser campeão... [alguém observa que ele está com sede] A sede era... calor, comi agora uma pizza de aliche, [estava] meio salgada [risos]. Você falou que não gostaria de ser campeão moral, mas você tem esse título. Em 1978, afinal de contas, o Brasil foi campeão moral na Argentina, quer dizer, você não pode negar o título, já o tem. Agora, a pergunta não é bem essa, não, isso foi apenas um lembrete.
Silvio Luiz: Não é uma crítica não. Imagine!, quem sou eu para criticar o Leão? Pelo amor de Deus! Quando você jogava...
Silvio Luiz: ... e eu me lembrava de determinados gols que você sofria, você nunca teve culpa em nenhum gol que você tomou, segundo suas declarações após os jogos. Se era de noite, [era] a luz do refletor, [era] o zagueiro que ficou na sua frente - coitado do Luís Pereira! - ou o campo, [por] que tinha lá um morrinho. Quero saber se no instante em que você perder no Palmeiras, você é daqueles técnicos que dizem o seguinte: “eu ganhei, nós empatamos e eles perderam”?
Silvio Luiz: Mas eu reconhecia. O problema é que você nunca... Qual foi o grande frango da sua vida, vamos simplificar a pergunta.
Silvio Luiz: Resultado não. Quero que você aponte uma inversão de resultado por minha causa agora. Eu aponto 200 gols...
Silvio Luiz: O que você nunca achou...
Silvio Luiz: É que você nunca achou.
Silvio Luiz: Pode, desculpe.
Silvio Luiz: Também acho.
Silvio Luiz: É a mesma coisa dizer que você não tem condições de julgar uma arbitragem, porque é específico, é a mesma coisa.
Silvio Luiz: Já tomei cartão um cartão amarelo, [risos] tá vendo, por sua causa, dentro dos 20%, [por] agressividade.
Silvio Luiz: Um frango, não. Quero [um exemplo] em que você tenha a culpa. Frango é uma coisa muito difícil porque você era um bom goleiro.
Silvio Luiz: Foi uma frase que ficou na história.
Silvio Luiz: Mas era difícil de reconhecer. [risos]
Silvio Luiz: Mas era muito difícil.
Silvio Luiz: Aliás, você só lembrou desse fato porque foi pelo meio da perna.
Silvio Luiz: Esse da mulher grávida eu lembrei porque foi pelo meio da perna.
Emerson Leão: Não é verdade. Por exemplo quem?
Emerson Leão: O Baideck no meu tempo era juvenil, não jogava comigo, você está enganado.
Emerson Leão: Estou esclarecendo, ele que é mal informado neste exato momento.
Emerson Leão: Não, vamos ao outro zagueiro.
Emerson Leão: Ah, bom, então não sabe! Está certo [com ironia], agora eu posso te explicar. Talvez até por [eu] ser de origem italiana, nós gesticulamos muito. Você vê aqui estou falando e estou abrindo os braços, é uma característica minha. Eu gostaria que você continuasse observando todos os jogos que você acompanha, e você vai ver que é uma característica dos goleiros, e todo goleiro deve se preocupar em alertar, em comandar a defesa porque faz parte da necessidade dele. E hoje os treinadores de goleiro também treinam esse tipo de orientação.
Emerson Leão: Hoje sou bem mais velho também, essa é que é a verdade. Nós já percorremos uma distância muito grande dentro do futebol. Só o fato de eu ter, como profissional, 25 anos na minha carteira, já me dá um conhecimento e um lastro para você observar. Na minha condição hoje de treinador eu sou obrigado e tenho por necessidade ser um pouco mais flexível, um pouco mais compreensivo. Porque, na realidade, dentro de uma equipe, eu passo a ter um escalão de chefe, na parte da equipe de treinador. Então você tem que entender, às vezes, algum jovem, um atleta que não está num dia favorável, que ele tem o direito de errar. Que ele às vezes se torna rabugento na medida em que até não compreende a situação de momento, ou às vezes de reserva, ou às vezes titular. Então o treinador precisa ter um pouco disso, ter mais flexibilidade, ser mais compreensivo, ter um pouco de psicólogo, um pouco de amigo, um pouco de chefe. Enfim, eu acho que isso faz parte dos requisitos necessários para ser um treinador de futebol.
Silvio Luiz: Vai mexer com a experiência aqui eu vou botar a baiana pra rodar.
Emerson Leão: Vamos tentar explicar essa contradição toda. Você é italiana? Não, né? Pelo seu sobrenome, acho que não, mas fala bem com a mão também.
Emerson Leão: Tudo bem. Realmente eu disse, não disse para o espelho, não, eu disse para o repórter. Ele me disse: "Leão, você se acha bonito? Leão, você se acha feio"? Eu disse: “olha, eu não me acho nem feio nem bonito, eu me acho com cara de homem”. O que é cara de homem? Cara de homem é aquele que não tem um rosto para manequim, que está toda hora passando base, que não pode tomar sol porque a fotografia não fica legal. Então acho que homem é aquele do dia-a-dia, aquele que marca sua presença com o passar do tempo e não enche os olhos na primeira olhada e depois esquecem, entendeu?
Emerson Leão: Não entendeu ainda? Então está difícil de explicar.
Emerson Leão: Recapitulando, vai. Eu acho que eu me sinto não uma pessoa muito frágil. Pronto, está respondida sua pergunta.
Emerson Leão: Sou. Aliás, por eu ser vaidoso, na época em que comecei a escurecer o cabelo... que por sinal já faz 14 anos, muito prematuramente o cabelo branco apareceu, quando eu tinha 25 anos de idade, uma herança do meu pai, eu sou o mais novo da família e o que tem o cabelo branco. Eu trabalhava com o público, tinha 25 anos de idade e era goleiro do Palmeiras e goleiro da Seleção Brasileira. Como um jovem ia entender uma pessoa de 25 anos de cabelo totalmente branco? Poderiam pensar até que eu era Papai Noel em época diferente.
Emerson Leão: Então, esse tipo de preocupação, essa vaidade me levou a escurecer meu cabelo.
Emerson Leão: E também hoje eu tenho na minha casa duas filhas que não gostam de ver o pai de cabelo branco, então eu estou ajudando os dois lados.
Emerson Leão: Não, eu não me lembro de ter respondido... [mostra-se confuso, hesitante]
Emerson Leão: Eu não o conheço, assim, pessoalmente, mas eu não me lembro de ter respondido esse tipo de pergunta. Agora, se eu respondi esse tipo de pergunta, devo ter sido mal interpretado. Eu acho que ser elegante... talvez nós estivéssemos falando de outro nível de elegância, de comportamento, de ser cavalheiro ou alguma coisa assim, e não em relação à roupa ou qualquer outra coisa assim.
Emerson Leão: Eu não entendi a sua pergunta.
Emerson Leão: Não, não aceitaria, só que não mentiria a ele.
Emerson Leão: Apenas não deixaria de assumir a minha condição de repórter. Eu estava trabalhando, eu ia trabalhar como repórter até o final. As conseqüências na época não estavam importando, ou na hora não estavam importando, somente isso.
Emerson Leão: Primeiro, nós precisamos ver o grau de relacionamento que nós teríamos na época. Eu acho que isso não levaria à morte de ninguém. Isso é perfeitamente viável, desde que nós possamos estabelecer e conseguir uma confiança mútua. Eu não gostaria de ver traída minha confiança por um atleta.
Emerson Leão: Para simplificar mais, se eu tivesse um atleta que estivesse concentrado para uma partida que será realizada amanhã à noite, e nesta noite aparecesse, digamos, uma namorada ou uma mulher sensacional que ele quisesse conhecer um pouco mais, talvez essa mulher fosse a Brooke Shields [atriz norte-americana, cujo filme mais conhecido é A lagoa azul (1980)] – por eu ser fã dela, estou citando como exemplo. Eu acho que não teria nada de mais, eu daria liberdade a ele porque teria a confiança e seria sabedor de que ele não iria exagerar nessa confiança dada pelo treinador. Eu acho que isso é perfeitamente viável dentro do diálogo, eu acho que não iria fazer mal nenhum.
Emerson Leão: Eu acho que isso...
Emerson Leão: ... seria ignorância, é um pouco diferente.
Emerson Leão: Pode até ser. Quanto tempo você está no Placar, só para saber?
Emerson Leão: Desde 1986, tá bom. Eu acho que cada um fecha e abre portas de acordo com a sua capacidade, seu relacionamento. Eu posso até aceitar que talvez algumas portas tenham sido fechadas a princípio, mas depois que você consegue através de diálogo, através do trabalho, demonstração, essas mesmas portas se tornam mais abertas do que estavam anteriormente. Desde que conheçam sua personalidade, desde que conheçam sua maneira de trabalhar e principalmente a sua honestidade.
Emerson Leão: Se eu posso citar algum caso? Olha, a minha volta para o Palmeiras, a minha volta para a Seleção Brasileira são casos específicos. Eu trabalhei a princípio nove anos no Palmeiras, deixei o Palmeiras, e depois voltei, cinco anos mais tarde, para voltar a trabalhar no Palmeiras. Eu trabalhei, ao todo, treze anos no Palmeiras, e hoje fui novamente convidado a ser o técnico do Palmeiras. Então... esse tipo de fechar portas, entre aspas, aconteceu na época. O mesmo com a Seleção Brasileira: se eu não fui convocado, por uma opção, em 1982, isso não quer dizer que eu não poderia voltar em 1986. Então eu fiz um trabalho novamente, de reconstrução, reprogramação para voltar. Então eu acho que são dois exemplos bons para você.
Emerson Leão: Por incrível que pareça, nunca briguei com Serginho. Ele era uma pessoa que eu respeitava como atleta, era um adversário difícil de ser enfrentado, era um centroavante canhoto e todo o centroavante canhoto é perigoso. Serginho tinha seu temperamento irreverente, irrequieto dentro do campo, mas era boa gente. Naquela oportunidade que ele me agrediu dentro do campo, com um chute não muito forte, numa final de campeonato, ele estava mais transtornado pela derrota do que pela razão. Posteriormente a isso, nós seguimos dialogando e até hoje, quando nos encontramos, conversamos. Eu acho que não tem nada além do normal de uma prática do futebol.
Emerson Leão: Eu acho que poderia. E nós estamos, logicamente, sempre dispostos a jogadores que trabalham e que fazem gols. O Serginho era centroavante que não trabalhava muito, me parece, mas que fazia gol. Então, nós iríamos estabelecer um meio-termo com ele, nós tentaríamos alguma coisa de interessante com ele.
Luis Alberto Volpe: Aqui no Brasil é costume o técnico que está dirigindo a Seleção, antes e durante as eliminatórias, cair antes da Copa. Você tem esperança de chegar à Seleção Brasileira na Itália e você sabe se o seu nome é bem aceito na CBF [Confederação Brasileira de Futebol]?
Jorge Escosteguy: Faremos um rápido intervalo e o Roda Viva volta daqui a pouco com a entrevista com o técnico do Palmeiras, Emerson Leão, até já.
[intervalo]
Emerson Leão: O Silvio Luiz, eu acho que ele não é muito contra. Ele gosta mais de tirar as coisas que eu possa oferecer para ele quanto a perguntas, contestação. Eu não acho que ele seja contra, não. Eu acho que ele é implicante, isso eu acho, isso é um outro problema. Agora, contra não, e ele disse que depois vai explicar. Com respeito a em quem eu votaria para presidente, sinceramente hoje eu não voltaria para ninguém, porque dos que estão se apresentando, eu não tenho candidato.
Emerson Leão: Respondendo pelo final. Não houve desgaste no relacionamento com Nelson Duque, que na época era o presidente do Palmeiras. Simplesmente ele...
Emerson Leão: Gozado, depois disso ele chegou a me convidar, inclusive, para dirigir o Palmeiras, como treinador, e ele era presidente. Na realidade, houve uma opção; ele concordou com a minha saída, requisitada talvez, ou endossada pelo treinador, na época o Carbone, e eu também aceitei. A outra pergunta...
Emerson Leão: Como eu administro o rótulo de arrogante e prepotente? Simplesmente eu não desminto. Eu acho que faz tanto tempo que falam isso, que já faz parte do dia-a-dia. Eu só posso responder das pessoas que convivem comigo, eu acho que isso é mais importante. Como também convivo com o mesmo rótulo de honesto e bom profissional.
Emerson Leão: Eu acho que nós não temos um melhor goleiro, eu acho que nós temos vários goleiros buscando uma definição. Se você notar, de algum tempo para cá, de alguns anos, o gol do Brasil ficou vago e alguns postulantes estão disputando...
Emerson Leão: Não, desde que o Waldir [Peres, goleiro titular da Seleção Brasileira em três Copas do Mundo: 1974, 1978 e 1982] ou o Carlos [Roberto Gallo, goleiro titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1986] largou, porque ele foi o último titular. Eu fui até um pouco antes e, na última Copa, eu não cheguei a jogar por uma preferência técnica, jogou o Carlos. Mas nós podemos dizer, se você comparar em termos de década, sim, eu acho que nós temos alguns bons goleiros aparecendo, mas ainda para se definirem. Espero que a Seleção Brasileira logicamente passe a eliminatória e chegue à Copa do Mundo, aí sim nós teremos uma definição. Eu posso dizer que o [Cláudio André Mergen] Taffarel [como goleiro do Internacional, levou seu time às finais da Copa União de 1987 e 1988, sendo eleito o melhor goleiro nas duas competições] é um bom goleiro, que precisa um pouco mais de reafirmação no Brasil do que no exterior. O [Wagner Fernando] Velloso [destacou-se como goleiro no Campeonato Paulista de 1989] é um jovem goleiro no Palmeiras que tem qualidades para que possa ser um futuro goleiro da Seleção Brasileira. Mas, para que isso seja possível, ele precisa ser convocado o mais rápido possível, o mais jovem possível, para adquirir um know-how, adquirir experiência. E não acontecer o que aconteceu em 1986. Naquela oportunidade, eu fui com 37 anos de idade. Se nós tivéssemos levado um goleiro com 20 anos de idade, talvez já tivessem a definição para o gol do Brasil para a próxima Copa do Mundo, uma vez que eu não joguei e eu não representava mais nada para o futuro como atleta.
Emerson Leão: Eu acho que não deveria ser convocado para ficar na reserva. Eu tinha condição de jogar, é bem verdade, mas se fosse para ficar na reserva, eu gostaria que tivessem levado um jovem. Como o [Mário Jorge Lobo] Zagallo [treinador da Seleção Brasileira por dois períodos: 1970 a 1974 e de 1995 a 1998] naquela oportunidade me levou à Copa do Mundo de 1970. Eu tinha 18 para 19 anos de idade, aprendi muita coisa. Ali, sim, foi o início da minha carreira, na observação; sem jogar, eu aprendi muito.
Emerson Leão: Porque eu achei que seria titular.
Emerson Leão: Não foi bem assim.
Emerson Leão: Eu explico também.
Emerson Leão: Na oportunidade, Cartão vermelho, né?
Emerson Leão: Era bem parecido com esse programa. Um rapaz foi estabelecer um convite, eu aceitei o convite, disse que ia, falei assim: “olha, então tudo bem". "Como cachê, é um televisor".
Emerson Leão: Ele falou “só que o cachê é um televisor”, a pessoa que foi me contactar. Eu falei “tá legal, tudo bem”. Agora, eu jamais poderia imaginar que, naquela circunstância, a televisão não fosse a cores, né, Sílvio? Essa que é a verdade.
Emerson Leão: É verdade, Sílvio, então foi isso. Agora, sinceramente, eu não tenho você como um inimigo, uma pessoa que me persegue; muito pelo contrário, eu acho que nós dois demos certo.
Emerson Leão: Perfeitamente.
Emerson Leão: Que eu me lembre, não.
Emerson Leão: [risos] Eu acabei, por coincidência ou não, de fotografar novamente repetindo essa mesma propaganda, só que agora com uma perspectiva mais familiar. Ali nós passávamos, naquela oportunidade, a imagem de uma pessoa só, digamos, até solteira, visando um outro tipo de vendagem. Hoje eu fotografei para o Dia dos Pais e para o Natal, vai sair já com um layout diferente, com uma criança, como se fosse um pai recebendo um filho em sua cama, e de cueca.
Emerson Leão: Aí que eu vou chegar...
Emerson Leão: Talvez quando eu estiver um pouco mais velho, eu possa estar fazendo [comercial] da família. Aquele que está hoje fotografando como meu filho será o pai e eu serei o avô. É bem verdade que aí será uma samba-canção.
Emerson Leão: Se for um chato como você, deve ter merecido, essa é que é a verdade. [risos] Agora ele deve estar um pouco equivocado, porque em 1984 eu não jogava no gol do .... Eu joguei no gol do Corinthians em 1983, naquela oportunidade o Corinthians foi campeão. Logicamente que eu não considero agressivo, hoje eu sou... Até as pessoas que já me conheceram brincam comigo que eu sou: “Pô, Leão, você ficou tranquilo demais, ficou muito bonzinho”.
Emerson Leão: Pode até ser Sílvio, por isso que eu ainda continuo tentando melhorar a cada dia. Agora, com respeito ao Marinho Chagas, nós tivemos uma discordância de opinião profissional.
Emerson Leão: Não, não chegou a ter exagero nenhum.
Emerson Leão: Não chegou a ter exagero nenhum.
Emerson Leão: Ah, isso pode ser.
Emerson Leão: Vamos por parte, você vai me lembrando porque você fez cinco perguntas em uma só, eu preciso ir respondendo aos poucos para você. A primeira delas? Qual foi?
Tonico Duarte: Do filme, Glasgow e a democracia. Foram três.
Tonico Duarte: O Estado de S. Paulo.
Tonico Duarte: Era do Estado de S. Paulo.
Emerson Leão: Já responde bastante... não precisa me apontar o dedo Sílvio [apontando o dedo para Silvio Luiz], porque você não é árbitro mais.
Silvio Luiz: É a caneta. É que eu sou descendente de italiano, [mexendo as mãos e braços] eu falo muito com as mãos [risos].
Silvio Luiz: Descendente de italiano é um perigo.
Tonico Duarte: E por que você se deu mal na democracia corintiana?
Tonico Duarte: O que é democracia para você?
Emerson Leão: Até hoje é um pouco complexa. Eu acho que tive um ano de trabalho no Corinthians, procurei trabalhar e muito no Corinthians. Aprendi a andar com minhas próprias pernas; conseguimos o resultado naquela oportunidade e [era] aquilo que o torcedor queria, nós demos aquilo que o torcedor queria, que naquela oportunidade era o bicampeonato. Terminado o campeonato, eu fui para minha região de férias, fui para o Nordeste, e me surpreendi – Porto de Galinhas – com alguns comentários que eu estava saindo do Corinthians por uma desavença. Nada disso, foi apenas uma reposição de peça, o Corinthians entendeu que deveria comprar o Carlos - que na oportunidade era um excelente goleiro - mas a torcida do Corinthians não ficou satisfeita com minha saída, e isso me deixou muito mais satisfeito ainda. Então, eu convivi com a chamada democracia por um ano só, com sucesso. Naquela oportunidade, em 1983, eu não me lembro da equipe do Corinthians ter recebido uma única vaia da sua torcida, então eu tive um ano de sucesso no Corinthians.
José Góes: Se, por acaso, hoje a direção do Palmeiras entregasse a você, em condições imediatas de jogo, o Casagrande [Walter Casagrande Júnior, atuou principalmente como centroavante do Corinthians. Integrou a Seleção Brasileira na disputa da Copa do Mundo de 1986], que está na Itália, você aceitaria?
Emerson Leão: A condição imediata do Casagrande, na época... Se ele jogasse igual a 1983, quando estava jogando no Corinthians, mais do que depressa. Eu acho que o Casa é um excelente jogador, muito bom goleador. Hoje a cabeça do Casa – outro dia encontrei com ele – está diferente, hoje ele está pensando mais no aspecto pessoal e profissional, e também coletivo dentro do campo. E nisso a Itália ajudou bastante, as cabeçadas ajudaram bastante, a vida ajudou bastante. Então, ele teria lugar, sim, no Palmeiras.
Emerson Leão: Nada. O Dulcídio, eu repito, é muito bom árbitro, ele tem a sua maneira de conduzir dentro do campo; às vezes excede, quando excede eu não concordo. Mas nós não temos nenhum problema, eu acho que o Palmeiras não tem também nada contra ele, não fez nenhum veto a ele. Eu acho que ele é um dos principais árbitros do nosso país e de São Paulo, só isso.
Emerson Leão: Verdade.
Emerson Leão: Ah, com o time. Tá certo.
Emerson Leão: Pode até ser, você colocou um ponto realmente certo. Mas o Dulcídio foi retirado do jogo não por pedido do Palmeiras, mas pelo bom senso da Federação. Porque, na realidade, o Dulcídio está com problema no Tribunal de Justiça Desportiva em relação ao atleta Eraldo, que é atleta do Palmeiras. No domingo ele estava dentro da competição também, então poderia. Digamos que o Dulcídio não desse esse pênalti, e fosse o Dulcídio. Iam falar que o Dulcídio estava marcando o Palmeiras. Digamos que tenha sido fora da área, e o Dulcídio desse dentro da área, iriam falar que ele estava protegendo o Palmeiras. Então o bom senso prevaleceu. E hoje, na hora do almoço, assistindo ao Sílvio, o Sílvio falou que foi bem feito para o Palmeiras. Talvez tenha sido até bem feito para o Palmeiras, com o bom senso da Federação, e nós temos que entender. Agora o que nós não esperávamos é que depois de uma arbitragem infeliz do Fidalgo, no jogo do Santos, ele caísse em seguida com o Palmeiras e o Novo Horizontino. Dito pelo presidente do Novo Horizontino: se fosse eu não aceitaria um juiz que teve, há 40 ou 72 horas antes, um problema com outro time grande. Mas o Palmeiras acatou a decisão normalmente. Nós estamos chateados, mas nem por isso totalmente decepcionados. Nós demos o direito até ao árbitro de errar. Infelizmente ele errou contra nós.
Emerson Leão: Só que o Bragantino jogou dentro da sua casa.
Emerson Leão: Os atletas são os mesmos.
Regiani Ritter: [fala ao mesmo tempo que Leão] Eu já fiz muitos jogos [...]
Regiani Ritter: Seria.
Regiani Ritter: O Góes disse que foi fora. Foi dentro ou foi fora?
Emerson Leão: Góes, eu vi. O que eu achei fora foi o carrinho iniciado pelo beque para derrubar o Marcus Vinicius [jogador do Palmeiras]. Isso não quer dizer que, na hora em que ele colocou o seu bumbum chão, tenha feito ali a sua primeira infração. Quando deslizou, pegou o Marcos dentro da área, ele iniciou fora da área. Então é um momento. Eu só acho que primeiro de tudo, o Fidalgo estava mal colocado, ele estava no meio do campo, esse foi o maior problema
Emerson Leão: Tá aí uma coisa que eu penso todo dia, viu. [risos] É uma situação difícil, desagradável para os pais, mas nós temos que enfrentá-la, principalmente no mundo de hoje. Eu tenho conversado, não com as minhas filhas ainda, mas com a minha esposa, de que é um problema que eu penso e ainda não consegui a solução. Eu acho que nós estamos retornando às origens; acho também que a liberdade sexual da juventude foi mais do que a própria juventude desejava, e por isso se perdeu. Então, o retorno às instituições, o retorno ao casamento, o retorno à família está começando a prosperar de uma forma positiva. Então eu acho que o próprio homem, a própria mulher, vai saber se dar, vai saber se respeitar muito mais do que acontece hoje.
Emerson Leão: Eu não sei se eu posso me considerar um homem de direita; eu me considero um homem, digamos, de centro. Porque eu acho que nos dois lados existem os excessos, e eu não sou homem de estar buscando sempre os excessos. Eu realmente fui convidado para participar da política na oportunidade pela Arena, agora mais recentemente pelo PDS [Partido Democrático Social], pelo PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro], pelo PL [Partido Liberal]...
Emerson Leão: Hoje eu não seria candidato, mas tenho aqui a franqueza de dizer para você que [embora] eu goste de política também, eu não estou diretamente ligado à política...
Emerson Leão: ... mas se eu fosse hoje escolher a política... eu iria escolher uma política até para daqui a uns dois anos. Eu iria começar a ler um pouco mais, a me interessar um pouco mais, conhecer um pouco mais o que está acontecendo. Porque você não vive a política no dia-a-dia, eu vivo esporte no dia-a-dia, então eu não seria o homem ideal para diferenciar o certo do errado. Mas eu iria procurar me informar, me educar mais nessa área. E eu não tenho preferência por partido, eu acho que talvez seria o Partido Verde, por ser ecologista ou coisa assim...
Emerson Leão: Você já me disse isso hoje, é a segunda vez que você me diz que eu sou contraditório.
Emerson Leão: Eu acho que cada mulher deve pensar na sua cabeça.
Emerson Leão: Olha, eu não penso assim, sabia?
Emerson Leão: Depois desses dois cartões amarelos que você me deu, eu vou começar a pensar nisso.
Emerson Leão: Gozado, eu não penso por esse aspecto. Acho que a venda da imagem é a venda de um homem talvez saudável, de um atleta, agora de um ex-atleta, que está passando uma mensagem saudável para o público. A interpretação pessoal, o erotismo, vai muito das pessoas; às vezes o seu é um pouco maior do que a sua amiga ou coisa assim, entendeu? Agora, o fato de eu ser conservador... eu acho que, antigamente, também, na época do cinto de castidade, eles eram tão conservadores que por isso criaram o cinto de castidade, é um problema maior para pensar.
Emerson Leão: Talvez daqui a pouco.
Emerson Leão: Não, não acho. Acho que o excesso pode prejudicar.
Emerson Leão: Você passar a noite em claro fazendo sexo, usando logicamente do cigarro, usando da bebida, isso é um excesso.
Emerson Leão: Só que o antes do jogo importante, isso se você está falando de 24 horas antes...
Emerson Leão: Eu acho que não tem problema nenhum.
Emerson Leão: Algumas vezes sim, Sílvio.
Emerson Leão: Não, eu nunca fui um atleta por esse lado, eu sempre fui um atleta pelo lado do dia-a-dia. Eu acho que eu poderia me apresentar bem, tinha confiança de que eu iria me apresentar bem, porque eu trabalhei bem durante a semana. Eu me sentia capaz daquilo que eu iria resolver, naquilo que eu iria competir. E se eu fosse um atleta individual, eu tinha certeza que eu poderia vencer uma partida. Apesar do adversário ser tão bom quanto, porque aí eu punha uma dose de estímulo naquela reserva de qualidade que eu falei para você. Agora, é bem verdade que todo brasileiro tem o seu lado pessoal, sua mística pessoal. Se hoje eu uso camisa amarela, a princípio eu comecei usando camisa amarela para uma melhor identificação do atleta para comigo, porque o treinador de futebol fica numa trincheira abaixo do nível do futebol e o jogador quase não observa, não sabe quem grita, quem gesticula. Então aquilo foi uma forma de identificação e aquilo passou a ser meu, eu passei a usar e me identifiquei com a cor, e através disso continuo. Nunca acendi vela, mas sempre tenho logicamente o meu momento de solidão.
Emerson Leão: Aquele momento de solidão, aquele momento de tranquilidade, aquele momento de ausência me transportava a um outro período. E aí eu pedia realmente alguma coisa para que pudesse dar condição a mim, para que eu pudesse terminar a partida do jeito que eu entrei, como eu entrei, como me preparei para entrar. Então eu me preparei para entrar com condicionamento psicológico, técnico e físico muito bons, e esperava sair da partida da mesma maneira, independente de acertar ou errar.
Alfredo Ogawa: Só voltando um pouco ao assunto que você tratou agora, que é aquele negócio de você aparecer bastante e cultivar a sua imagem. Agora, ao mesmo tempo em que você aparece bastante, ao contrário do que acontece com muitos jogadores e muitos técnicos, a sua família aparece muito pouco. É difícil até você conseguir uma entrevista sobre qualquer assunto com a sua esposa ou com suas filhas. É verdade mesmo que você teme que elas sejam seqüestradas?
Jorge Escosteguy: Tonico, você tinha uma alguma pergunta a fazer ao Leão? Depois a Regiani.
Emerson Leão: Eu acho que depende muito do seu grupo de trabalho. Você tem que procurar de um grupo heterogêneo, tornar homogêneo através do dia-a-dia. Felizmente, no Palmeiras, nós tivemos a possibilidade de levá-los 30 dias para uma estância, para fazermos uma pré-temporada. Isso deu uma condição de relacionamento entre os atletas, um conhecimento da comissão técnica e dos atletas também, e um relacionamento entre eles. Agora, eu acho que você deve jogar de acordo com a necessidade; uma necessidade que não chegue aos extremos. Não é o fato de você precisar impedir que um atleta adversário faça um gol, nem por isso você precisa quebrar a sua perna. Mas você pode obstruir esse atleta, você pode segurar esse atleta, você pode, logicamente, até receber um cartão vermelho quando a necessidade se faz presente, desde que aquele cartão vermelho vá dar à sua equipe uma condição - como você disse - de liderança, de vencedor e de campeão.
Emerson Leão: Naquela realidade... aquilo era uma realidade em que todos nós esperávamos um tipo de comportamento diferente do nosso país. Nosso time era essencialmente técnico e com muitas estrelas, essa que é a verdade. E com estrelas capazes mesmo. Nós podemos ver que, do meio para a frente, eram todos excelentes jogadores, cada um ídolo da torcida, ídolo do seu país, e por isso não abdicaram da sua vaidade para conseguir um resultado. A primeira - falando hoje, como treinador - a primeira atitude que eu tomaria, naquela oportunidade, eu escalaria o Batista [volante, jogou pelo Internacional, grêmio e palmeiras, entre outros] também, naquela partida, desde o princípio. Eu acho que nós entramos em campo, campeões, porque o empate dava o suficiente para o Brasil se classificar, então nós não precisávamos exceder; nós tivemos, por três vezes, uma passagem quase à finalista, mas a habilidade, a criatividade foi exercida de um modo muito forte. Então eu acho que ali faltou um pouco mais de bola parada, um pouquinho mais aquilo que você pediu agora há pouco, um pouquinho de malandragem, um pouquinho até de rabujice dos atletas e, consequentemente, de jogadores mais pegadores.
Emerson Leão: Eu não fiz crítica ao Telê, eu respondi uma pergunta a ele. [apontando para Tonico Duarte]
Emerson Leão: Não é verdade.
Emerson Leão: Ele tinha. Ele era uma preferência técnica, e estou dizendo eu como técnico, entendeu? Se eu estou ganhando, necessito do resultado, é o suficiente.
Emerson Leão: Paciência, aí tinha razão o Telê. Não estamos contra o Telê.
Emerson Leão: Sobre o Telê como treinador?
Emerson Leão: Eu acho que ele é um treinador que tem uma doutrina pessoal muito grande, tem um tipo de personalidade. Eu acho que o Telê é uma pessoa muito só. Que, apesar de ter equipe de trabalho, na hora de conversar ele conversa consigo mesmo. Tem capacidade, tem provado ao longo [do tempo] a capacidade dele, com os resultados conseguidos, só que eu acho que a era Telê na Seleção Brasileira já foi passada. Ele teve suas duas oportunidades, esteve quase ao ponto de conseguir, teve equipes muito boas dirigidas por ele, mas ele pegou a geração que não venceu. Mas ele continua sendo um bom técnico.
Emerson Leão: É difícil você classificar o melhor técnico. Eu posso dizer que o técnico com que eu me identifiquei bastante foi o técnico, o capitão Coutinho. Identificação, não disse que ele era o melhor.
Jorge Escosteguy: Aproveitando o que a Regiani falou sobre o homossexualismo, o telespectador José Lauro de Albuquerque, de Ermelino Matarazzo, pergunta: “Há algum tempo comentava-se muito sobre casos de homossexualismo no futebol”. Ele quer saber se houve um caso no qual sua posição como técnico, como homem tivesse sido contestada, a fim de você ter que intervir. E se isso ainda ocorre hoje no meio futebolístico?
Regiani Ritter: Agora o surgimento desse vírus trágico teria ocasionado essa volta à família, à reconstrução da família?
Regiani Ritter: E em que as pessoas que se projetam através do esporte, como você e seus atletas, podem fazer para ajudar uma população como a nossa que é muito carente?
Jorge Escosteguy: Por favor, o Volpe tem uma pergunta. Em seguinda, eu vou encerrar com duas perguntas dos telespectadores
Emerson Leão: Eu acho que a mudança de filosofia, antes de mais nada, foi assimilada por esses que você citou como mais velhos. Nós convivemos num meio... por incrível que pareça, esses quatro treinadores que você citou foram ex-atletas, então eles aprenderam a conviver no meio e daquilo retirar o que de bom eles aprenderam e viram. De todos os treinadores, até um treinador que você poderia entender que não sabia nada, ele estava lhe ensinando ou passando alguma mensagem de como não fazer. Então ele lhe ensinou alguma coisa, você tem que ser agradecido a ele. Se você pegou todos esses ensinamentos, colocou nos dias de hoje... logicamente, em relação ao diálogo, o mais jovem tem uma característica melhor, talvez seja até mais informado, às vezes até mais culto, e ele tem no seu condicionamento físico também o seu sucesso. Ele convive com o atleta no dia-a-dia, ele pratica com o atleta, ele demonstra para o atleta, ele mostra uma filosofia, ele exige. Enfim, além de ser um técnico, ele também é um prático, e isso ajuda bastante.
Emerson Leão: A síndrome dos 13 anos existe para o Palmeiras, mas não existe para todos os atletas, a maioria dos atletas são novos no Palmeiras. Eles estão conscientes da sua capacidade; quem tem capacidade não precisa temer síndrome de 13 anos. Eu acho que com capacidade se consegue muita coisa, e o Palmeiras garantiu o direito de tentar ou postular esse título. O Palmeiras tem segurança, sim, dentro do campo. Um time que faz 22 partidas invicto é porque confia na sua capacidade. Então essa segurança tem sido demonstrada através da sua regularidade alta. O time do Palmeiras é um time regular, mas um regular alto, no seu limiar máximo daquilo que pode ser qualificado como regularidade. Acho também que, com o apoio da torcida, essa torcida que está sendo combatida hoje, através de uma violência, mas que vai comparecer em campo todos os jogos nesta final... porque eu entendo que o Bragantino, nesta quarta-feira, é uma final, e já estou logicamente trabalhando a equipe não só psicologicamente, mas em todos os setores, para conseguir o máximo de rendimento para um bom empenho e um resultado positivo.