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Memória Roda Viva

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Ronaldo Caiado

6/10/1986

"O produtor rural não é vilão" diz o então presidente da UDR, afirmando também que problemas de abastecimento ocorreram em decorrência da má administração do Plano Cruzado

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Rodolfo Gamberini: Boa noite. Nós estamos começando mais uma edição do Roda Viva, o programa de entrevistas e debate da TV Cultura.  O nosso entrevistado dessa noite é Ronaldo Caiado, presidente da UDR, a União Democrática Ruralista. E para participar deste Roda Viva, esta noite entrevistando Ronaldo Caiado, estão aqui conosco o jornalista Carlos Azevedo, jornalista da TV Cultura; Dermy Azevedo, jornalista da editoria política da Folha de S. Paulo e editor da revista Tempo e Presença, do Sedi; Anamarcia Vainsencher, editora do suplemento agropecuário do DCI; José Carlos Cafundó de Moraes, editor do Caderno Agropecuário do jornal O Estado de S. Paulo; Rubens Zaidan, jornalista correspondente de O Globo em Ribeirão Preto; Dirceu Martins Pio, jornalista do Jornal da Tarde que trabalha na cidade de Curitiba; Jorge Escosteguy, editor responsável da revista Isto É; Paulo Markun, jornalista da TV Record. Estão também conosco José dos Santos Reis, coordenador da área rural do Cedec (Centro de Estudo de Cultura Contemporânea); Gilberto Adrien, presidente da UDR de Avaré [...] Bem Caiado, vamos começar com a nossa conversa aqui.

Ronaldo Caiado: Pois não.

Rodolfo Gamberini: A entidade que você preside, a UDR, é considerada, por alguns setores da sociedade brasileira, uma coisa que não existe, inclusive alguns setores do governo brasileiro também pensam assim. Ela é considerada, por outros setores da sociedade brasileira, uma entidade "demoníaca" na citação de alguns casos da Igreja [Católica]. E é considerada, por outros setores, uma entidade que defende os interesses de alguns privilegiados dentro da sociedade brasileira. Finalmente,  para outros setores, é como uma entidade de salvação nacional. O que é a UDR?

Ronaldo Caiado: Bom, a UDR não é nada mais que uma entidade que se propõe a organizar a classe produtora rural, certo? Desconhecer a UDR hoje, realmente, é estar lendo pouco ou estar pouco atualizado. A UDR, hoje, existe em 15 estados, com mais de cinqüenta regionais. É uma entidade que mobilizou e mobiliza toda a classe produtora neste país, e vem mostrando competência para isso. Dizer que a UDR é uma entidade com finalidades, como disse você, diabólica, é, realmente, também querer...

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] Não fui eu quem disse. É o exemplo de alguns setores.

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Não... sem dúvida, essa colocação foi feita por alguns homens extremados, que querem denegrir a imagem de uma entidade que, única e exclusivamente, pratica a democracia. Porque democracia é isso, são todos os segmentos da sociedade organizados em entidades. E é isso que a classe produtora rural se propôs a fazer, quando criou a União Democrática Ruralista. Salvação, eu não diria, mas diria que é a voz do produtor rural de todo o país. Essa é a UDR, a classe produtora se organizando para ser representada, não ser colocada mais à margem das decisões e dos assuntos que nos dizem respeito.

Rodolfo Gamberini: Ela se organiza para ser representada, pedindo decisões que dizem respeito à classe dos produtores, que tipo de coisa a UDR exige ou pede?

Ronaldo Caiado: Veja você, no momento em que nós vamos traçar uma política fundiária, traçar um plano nacional de reforma agrária, nada mais justo do que estar a classe produtora rural representada e decidindo como se faz uma reforma agrária neste país. No momento em que se vai decidir o problema de valor básico de custeio, de preços mínimos, tudo isso, nós temos de estar presentes, não podemos, de uma hora para outra, sermos chamados simplesmente para receber aquilo que já foi decidido, sendo que nós não tivemos sequer a oportunidade de participar das decisões. Então, essa é a participação da UDR, e democracia é isso.

Rodolfo Gamberini: Caiado, o Jorge Escosteguy da revista Isto É, tem uma pergunta a fazer para você.

Jorge Escosteguy: O senhor falou que a UDR existe para organizar os produtores rurais que tem sido colocados à margem das decisões políticas e econômicas do país. Agora, analisando um pouco a história, para não ir muito longe, dos últimos 56 anos, desde a Revolução de 1930, o Brasil teve, pelo menos, seis presidentes pecuaristas que estiveram no poder durante 31 anos. Para não ir mais longe, no atual ministério, há sólidos pecuaristas, como o ministro [Paulo] Brossard, o ministro Íris Rezende, o ministro Aureliano Chaves, o próprio presidente do Senado, José Fragelli, é também pecuarista, e há até mesmo um grande cafeicultor, o chanceler Roberto Costa de Abreu Sodré. O senhor não acha que o setor agropecuário está e esteve muito bem representado e tem poder ao longo desses últimos anos?

Ronaldo Caiado: Eu gostaria de responder ao senhor da seguinte maneira: esses homens, sem dúvida nenhuma, são políticos e são pecuaristas, mas eu estava, há poucos dias, em Minas Gerais e ouvi um companheiro dizer que uma pessoa chegava para falar com o presidente Tancredo e ele perguntava: "tem voto? entra. Não tem voto, deixa para depois que eu não posso perder tempo".  E a classe produtora rural, até hoje, você entende, ela não soube se organizar, não soube fazer política e se estruturar. Ela não soube dar respaldo àqueles homens, que até numa certa fase, quiseram dar apoio à nossa entidade. Então, o que a UDR tem feito é isso: é se organizar para que o voto da classe, hoje, seja para aqueles homens que realmente estarão lá no Congresso nos defendendo. Esses homens se sentirão respaldados com o nosso apoio, e nessa hora, sim, eles não serão simples produtores rurais e políticos, mas serão representantes da classe produtora rural.  É esse o grande problema, nós temos que aprender a andarmos com as nossas pernas, e essa é a importância da classe estar organizada. Nós não podemos esperar que um senhor, que é presidente ou que é ministro de Estado faça tudo por nós, sendo que nós não mostramos competência em nos mobilizarmos. Essa é a necessidade de estarmos estruturados em todo país.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, a próxima pergunta que eu gostaria que o senhor respondesse é do Dermy Azevedo, que trabalha na Folha de S. Paulo, e é editor da revista Tempo e Presença, do Sedi.

Dermy Azevedo: Doutor Ronaldo, existe alguma coisa em comum entre a UDR e a Tradição, Família e Propriedade [a TFP é uma entidade abrigada na Igreja Católica, de orientação conservadora e anti-comunista, fundada em 1960 por Plínio Correia de Oliveira (1908-1995), jornalista e deputado federal (1934)]? A UDR pagou alguma matéria da TFP na grande imprensa brasileira, com pareceres de juristas sobre a ocupação de terras, segundo admitiu em entrevista à Folha de S. Paulo a própria TFP?

Ronaldo Caiado: Isso é uma inverdade, uma calúnia. A União Democrática Ruralista é uma entidade que se propõe a organizar a classe produtora rural. Ela é única e exclusivamente constituída por produtores rurais, sustentada por produtores rurais, sem vínculo nenhum com qualquer outra entidade neste país. É uma entidade totalmente independente, seja ela com entidades brasileiras, com governo ou com entidades estrangeiras. Nós somos, sem dúvida nenhuma, a única entidade independente neste país. Não existe nenhuma ligação, e muito menos financiamos pareceres de outras entidades. É uma inverdade isso aí, é uma maneira de querer denegrir e assacar contra a nossa entidade.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, a próxima pergunta é da Anamarcia Vainsencher, do Diário Comércio e Indústria.

Anamarcia Vainsencher: Eu gostaria de saber por que a União Democrática Ruralista mudou de linguagem? Eu me explico: quando foi inaugurada a segunda sessão, aqui em São Paulo, foi dito, por exemplo, que os produtores rurais iriam resistir com milícias armadas à política fundiária do governo. Recentemente, a UDR está dizendo que está disposta a colaborar com o governo colocando o "boi na mesa ou na praça", o que aconteceu?

Ronaldo Caiado: Bom, quem fala pela UDR são seus diretores e seus presidentes. Eu peço desculpa à senhora, mas eu não conheço nenhum dirigente da nossa entidade que tenha falado dessa maneira, que nós iríamos formar milícias e muito menos armarmos homens para nos defender. Sabe por quê? Eu gostaria de dizer à senhora uma coisa: primeira coisa, nós, além de produtores rurais, somos brasileiros e conhecemos as normas e as leis vigentes no nosso país. Por que entrarmos na clandestinidade? Por quê? Sendo que nós temos que exigir deste país somente o cumprimento da Constituição Federal, do Código Civil, do Código Penal. Nós estamos, simplesmente, usando esses elementos que temos para impedirmos os invasores, os agitadores, que querem destruir o setor produtivo primário, por quê? Se nós pagamos impostos, se nós produzimos neste país, nós temos que cobrar segurança do governo. Nós não temos obrigatoriedade nenhuma de termos milícias e muito menos nos preocupamos com isso. Isso é função do governo, única e exclusivamente do governo, e seria, não só uma infantilidade, como também uma atitude pouco inteligente da nossa parte se nós entrássemos por esse lado.

Anamarcia Vainsencher: Bom, você falou que gostaria de ver as coisas na boca de diretores da UDR. O senhor Gilberto Adrien, que está aqui, que inclusive é presidente da UDR em Avaré, e secretário da UDR paulista, ele me disse, numa entrevista, que em São Paulo não há mais como fazer reforma agrária, que deveriam pegar os sem-terra, colocá-los em caminhões e levá-los para Rondônia. É essa a posição da UDR em relação à reforma agrária?

Ronaldo Caiado: Nós temos que explicar muito bem. Eu gostaria de continuar a resposta. O problema, minha senhora, dos sem-terra, é uma coisa que nós produtores rurais, como toda sociedade brasileira, não aceita bem. Generalidade, sem-terra, sem-banco, sem- televisão, sem-indústria; daqui a pouco, tudo neste país vira “sem”. O que nós temos e o que nós achamos que não tem sentido, minha senhora, é tirar alguém que já mostrou competência, que está produzindo e mostrando capacidade de produção neste país, que chegou e desbravou essas terras, desde seus antepassados, e que lhe seja retirada, lhe seja dado títulos da dívida agrária, e colocar ali homens que não têm vocação nenhuma, não têm tradição nenhuma com a terra. Da mesma maneira como esses homens desbravaram e hoje moram, talvez, com certa comodidade, próximos às grandes cidades de São Paulo, nós temos milhares de paulistas, catarinenses, de paranaenses, de gaúchos, que estão aumentando as nossas fronteiras agrícolas e estão sofrendo todas as dificuldades, intempéries, doenças e estão desbravando este país. Agora, por que ter que tirar de alguém que já está produzindo para colocar uma outra pessoa que não tem nenhuma vivência e nenhuma capacitação para o trabalho, nunca mostrou isso? Por que esse homem não pode mostrar ou participar também desse desbravamento por este país afora? Nós não podemos fazer uma reforma agrária punitiva. A reforma agrária tem que ser em paz e com justiça. Ela não pode ser feita através de concessões a invasores. Porque, de certa hora para cá, passou a ser concessões a invasores e aos homens extremados que querem usar a reforma agrária com ideologia, como pano de fundo demagógico e eleitoreiro. É isso que nós estamos denunciando, ninguém é contra a reforma agrária. Agora, que ela seja feita sem agredir o setor produtivo primário neste país. É essa a nossa posição.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, eu tenho aqui as perguntas feitas por telespectadores que a Angela, a Laís e a Desirrê estão atendendo pelo telefone 252-6525. Tem um telespectador, Rubens, ele se identificou como Rubens, da cidade de José Bonifácio, que é uma cidade da região de Rio Preto. Ele lhe faz a seguinte pergunta: "pela semelhança de siglas UDR e UDN [União Democrática Nacional - partido político de orientação conservadora fundado em 1945, em oposição ao governo de Getúlio Vargas, possuía uma tocha olímpica como símbolo e o lema "o preço da liberdade é a eterna vigilância"], pode-se dizer que o lema da UDR é hoje a eterna vigilância?

Ronaldo Caiado: Não, veja você, quando a UDR nasceu, ela chamava Movimento Democrático Ruralista. Na segunda ou terceira reunião nossa, em Goiás, um companheiro levantou a idéia e disse: "o momento é de união". Eu acho que essa palavra tinha que estar presente aí na sigla da entidade. E daí, nós mudamos [para] União Democrática Ruralista. Não tem nenhuma ligação. Agora, é lógico que é uma entidade que se propõe a manter, no decorrer de todos esses anos, a classe unida neste país.

Rodolfo Gamberini: Qualquer semelhança com a antiga UDN é mera coincidência. O Paulo Markun, jornalista da TV Record que está ali, gostaria de fazer uma pergunta.

Paulo Markun: Quantos bois gordos o senhor tem no pasto?

Ronaldo Caiado: Gordos, meu senhor, eu garanto que em condição de abate, nenhum.

Paulo Markun: Quantos o senhor acha que existem no Brasil?

Ronaldo Caiado: É difícil dizer. Eu teria que, às vezes, usar dados que eu li pela imprensa, que o governo diz que tem, em termos de quatrocentos mil bois gordos.

Paulo Markun: O senhor acha que essa questão da carne [Plano Cruzado - conseqüências] vai se resolver como?

Ronaldo Caiado: Veja, eu acho que isso é um assunto que nós podemos debater um pouco mais, já que está sendo, no momento, um assunto tão debatido e atualizado, e que estão tentando denegrir tanto a imagem da classe produtora rural. Estão tentando assacar contra ela, colocar o produtor rural como sendo um vilão e o responsável por todos esses desacertos que vêm acontecendo. Então, nós teríamos que esclarecer bem isso: veja, nós, produtores rurais, nos cabe a função de produzir grãos e bois gordos. No momento da safra, meu senhor, nós temos que entregar isso aos frigoríficos ou ao governo e seus armazéns, e o que aconteceu? No primeiro semestre de 1986 - e eu sou um médio produtor rural - eu passei 45 dias na fila de frigoríficos do meu estado para poder abater minha boiada. Naquela época, as câmaras frigoríficas estavam lotadas, nós pedíamos encarecidamente aos tecnocratas, aos homens responsáveis pelo setor de abastecimento neste país, que fizessem alguma coisa, que fizessem daquilo um estoque regulador, que eles atendessem a nós, porque, naquele momento, nós precisávamos descartar o nosso plantel gordo. E nós passávamos quarenta e tantos dias na fila.  O governo, com isso, fez com que esses frigoríficos exportassem. E, agora, nós estamos com escassez, com a falta de carne, importando carne congelada com osso, sendo que nós exportamos carne de primeira, desossada e empacotada. Então, o que nós temos que deixar bem claro é que esses homens que fizeram o Plano Cruzado e aumentaram o poder aquisitivo, melhorando a distribuição de renda, deviam também contar com esse aumento do consumo da carne. Eles deveriam prever isso [antes], não agora, quando eles viram que a coisa já aconteceu e não tem como suprir a demanda de carne, e eles não podem, de maneira nenhuma, jogar isso sobre o ombro do produtor rural. Isso é muito grave, meu senhor. Eles estão transformando o produtor rural num vilão, sendo que o produtor rural só fez por este país trabalhar, produzir, pagar a dívida externa e as mordomias.

Paulo Markun: O senhor acha, então, que os produtores rurais não são inimigos do Plano Cruzado?

Ronaldo Caiado: Pelo contrário, nós somos o maior sustentáculo do Plano Cruzado neste país. Nós somos o maior sustentáculo que o plano teve, [o que] nós fizemos é trabalhar e produzir. Nós nunca, meu senhor, vendemos nossas propriedades e entramos em ciranda financeira e nem aplicamos em over, em open, nem dólar no paralelo, e muito menos em banco da Suíça. Toda nossa poupança, todo nosso dinheiro arrecadado foi para comprar terra e produzir grãos e carne. Nós sempre tivemos como lema a produção. Nós nunca tivemos lema de sermos agiotas neste país, não. Então, não podem fazer isso conosco. Agora, o que eu acho é que esses tecnocratas deveriam ter no mínimo humildade. A humildade é uma coisa que o homem tem que aprender. Quando ele se sente todo poderoso, quando ele perde a humildade, aí sim, ele, realmente está próximo à queda. O homem tem que ter humildade para reconhecer, para dizer publicamente à sociedade: "minha culpa, minha culpa. Eu errei. Nós não fomos capazes de prever tudo isso". É hora de fazer um racionamento neste país, nós não temos como atender a demanda, ou seja, o poder aquisitivo pode hoje comprar um quilo de alcatra por 31 cruzados, mas nós não temos como ofertar a quantidade de alcatra necessária para todo mundo que quer comprar alcatra. Então, da mesma maneira como ele teve coragem de implantar o Plano Cruzado, ele deve [ir] à televisão e dizer isso claramente, nós temos de racionar, não temos suficiência de carne para atender a demanda, teríamos que abater todo o plantel deste país para atendermos essa demanda, e não é justo fazer isso numa época de entressafra. Agora, o que tem é um residual pequeno de carne em alguns estados devido às condições climáticas ou [porque] companheiros nossos fizeram confinamentos. Agora, eu pergunto: é justo agredir um companheiro desses? É justo confiscar os seus bois? E eu respondo por essa classe. Ele não quer 215 cruzados ou 280 cruzados, ele não quer nada pelo boi. Ele só quer uma coisa: que pegue o seu boi na fazenda e que lhe dê em troca um trator, um caminhão, uma plantadeira ou a mesma quantidade de boi magro pelo preço do dia 28 de fevereiro congelado [refere-se a data em que foi aprovado o Plano Cruzado. Porém, na realidade, a data de aprovação do pacote é 27 de fevereiro de 1986]. É isso que nós queremos. Porque nós, para produzirmos neste país, estamos comprando tudo no paralelo e com ágio. Nós não queremos um centavo do preço da nossa arroba, queremos que nos dê tudo isso que é necessário para nós continuarmos produzindo neste país, é isso que nós queremos. É um grande absurdo, é uma grande calúnia quererem jogar sobre nós, como sendo adversários do Plano Cruzado. Esses homens que nunca produziram e nunca fizeram nada pelo desenvolvimento deste país.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, o senhor disse, no decorrer dessa resposta, que os tecnocratas deveriam fazer um mea culpa, admitir alguns erros. Qual é o mea culpa que os produtores e os pecuaristas fazem neste momento?

Ronaldo Caiado: Nós, meu senhor?

Rodolfo Gamberini: É.

Ronaldo Caiado: Nós viemos denunciando isso há quinze anos.

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] Os pecuaristas não têm esse mea culpa a fazer?

Ronaldo Caiado: Por quê? Se tudo que nós tínhamos, nós entregamos no período da safra. Há quinze anos, há muito mais neste país não se tem uma política de apoio à agricultura e à pecuária. Há quanto tempo nós viemos denunciando que nós estamos abatendo nossas matrizes para termos condições de sustentar nossas propriedades? Há quanto tempo nós viemos dizendo que o preço mínimo que estão estipulando para a agricultura neste país não é, de maneira nenhuma, suficiente para nós continuarmos produzindo?  No momento em que se falta leite, qual é a medida do governo para se estimular a pecuária leiteira neste país? Quando nós vínhamos denunciando esse problema da carne, qual foi à atitude do governo? Uma atitude emocional, ainda dizendo que está cortado todo o crédito para a pecuária neste país. Ora, meu senhor, não é por aí que se resolve o problema. É estimulando, aumentando subsídios e é fazendo uma política condizente, que realmente nós vamos poder suprir as necessidades deste país.

Rodolfo Gamberini: Numa economia de livre mercado, livre iniciativa, as pessoas tem o direito, e até o dever, porque buscam o lucro, de mudar de atividade quando não conseguem o lucro naquela atividade em que trabalham. O senhor conhece algum pecuarista que tenha saído da pecuária, algum fazendeiro que tenha saído desse setor e trabalhado em outro para ganhar mais dinheiro?

Ronaldo Caiado: Eu posso responder ao senhor, da seguinte maneira: eu conheço muitos grandes empresários que entraram na pecuária e na agricultura e que saíram dela e voltaram para suas atividades, que são muito mais lucrativas do que a agricultura e a pecuária. Agora, o senhor precisa saber de uma coisa: existe uma vinculação com a terra, existe um amor, uma ligação quase que atávica do homem que gosta da terra com a terra.

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] Uma coisa de vocação.

Ronaldo Caiado: De vocação, de tradição. O senhor entende? De capacidade de trabalhar na terra, e nós não podemos de maneira nenhuma, dizer a esse homem que venda suas propriedades e vá aplicar em outros setores, que ele não conhece. Ele é um professor catedrático naquilo, de trabalhar e de produzir grãos e proteínas neste país. Isso é o que ele sabe fazer.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado...

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Eu acho que a maneira certa não é ele mudar de ramo, não, a maneira certa é o governo fazer uma política agrícola e uma política pecuária para este país condizente com a nossa necessidade. Porque não existe país desenvolvido do mundo sem que tenha uma agricultura e uma pecuária forte.

Rodolfo Gamberini: O senhor vai ter oportunidade agora, de responder a pergunta de uma colega sua, uma pecuarista que gravou uma pergunta para o senhor responder. A pergunta vai entrar por ali, por aqueles monitores, por favor.

[VT com Maria Elizabete Carvalho]: Tudo bem? Eu sou proprietária rural de um estabelecimento que o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] considera como empresa rural. Apesar disso, vejo a reforma agrária como uma coisa necessária. O grupo que você lidera é tido como extrema-direita, mas a entidade UDR não representa a média do pensamento do setor. Qual o posicionamento filosófico de vocês? Para ser bem clara, qual a distância que separa vocês do José Eli da Veiga e do Sérgio Cardoso de Almeida?

Ronaldo Caiado: Bem, vamos ser bem objetivos na sua resposta...

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] Senhor Caiado, deixa só eu fazer um esclarecimento para o telespectador. O senhor José Eli da Veiga, que a pecuarista Maria Elizabete citou, é presidente do Incra em São Paulo, e o Sérgio Cardoso de Almeida é um parlamentar que representaria os produtores rurais do estado de São Paulo. Por favor, a sua resposta.

Ronaldo Caiado: A posição da UDR é uma posição de centro, de eqüidistância de qualquer desses extremos. É a posição daqueles homens que querem ver produzir este país, essa é a posição e a defesa da União Democrática Ruralista, a defesa da classe produtora rural. Existem extremados em todos os segmentos da sociedade. Nós, a nossa postura, os nossos diretores, os homens que comungam conosco, são homens que têm o mesmo ideário da sociedade brasileira.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, o Rubens Zaidan é correspondente do Globo, em Ribeirão Preto, gostaria de fazer a próxima pergunta.

Rubens Zaidan: Eu gostaria de saber se é verdadeira a história do Ronaldo Caiado, que fazia panfletagem de esquerda nas estações do metrô de Paris e se transformou no líder de uma entidade considerada de direita. É verdade isso?

Ronaldo Caiado: Em primeiro lugar, nós temos que deixar bem claro, a União Democrática Ruralista nunca foi entidade de direita. Qualquer entidade que representa o produtor rural é uma entidade realmente de centro neste país, porque a voz do produtor rural indiscutivelmente representa a maioria da sociedade brasileira, e a sociedade brasileira não é extrema nenhuma.

Rubens Zaidan: O senhor fazia panfletagem?

Ronaldo Caiado: Bom, quanto a isso eu devo dizer que eu conheço bem a tática da esquerda, porque realmente eu fiz uma boa escola, não é? A Cité Universitaire sem dúvida nenhuma é uma boa escola. E quando eu dizia que a esquerda tem um trabalho árduo, assíduo, perseverante - e nós temos que reconhecer isso - é para nós, se quisermos ganhar espaço, nós também temos que trabalhar, como nós estamos trabalhando, 24 horas por dia.  Porque eu me lembro bem que para que você faça esse trabalho, na maioria das vezes, era exigido que se estivesse presente nas bocas de metrô às quatro horas, às cinco horas da manhã.

Rubens Zaidan: Então, isso é uma tática?

Ronaldo Caiado: Não, não é só isso. Quantos companheiros de lá foram fazer revolução em Angola, em Moçambique, no Chile. Então, eu conheço bem essa tese e aprendi com eles, e acho que tudo, para ir para frente, sem dúvida nenhuma, tem que ter dedicação quase que exclusiva. E é o que eu tenho feito dentro da UDR, dedicação em tempo integral nos últimos noventa dias.

Rodolfo Gamberini: O senhor está se recusando a admitir, a dizer, a anunciar que a UDR é uma entidade de direita, o que é um direito seu.  Agora, o senhor é conhecido admirador do prefeito de Paris, Jacques Chirac [foi prefeito de Paris por 18 anos, sendo eleito em 1977, reeleito em 1983 e 1989. Mais tarde, foi eleito presidente da França, em 1995 e em 2002], que é um homem de direita. O senhor quando estudou na França, voltou encantado, digamos assim, com as idéias dele.

Ronaldo Caiado: Não só voltei, como continuo.

Rodolfo Gamberini: Continua encantado pelas idéias de um homem de direita.

Ronaldo Caiado: Mas existe uma diferença muito grande quando você está falando em direita e esquerda num país desenvolvido, em um país de Primeiro Mundo, certo? Não existe essa conotação como se tem aqui. Lá, falar que é direita e que apóia o Jacques Chirac, não tem nada a ver com essa conotação de país de Terceiro Mundo, onde direita seria apoiar “Pinochets” da vida [refere-se a Augusto Pinochet (1915-2006), general chileno que estabeleceu um regime ditatorial no país entre 1973 a 1990]. Não tem nada a ver. Lá, o senhor é direita porque comunga com a idéia da livre iniciativa ou com a não estatização...

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] O que é ser direita no Brasil então?

Ronaldo Caiado: Ser direita, em qualquer país que está saindo de um sistema não democrático e instalando uma nova república, agora, seria estar comungando com o regime de exceção e um regime autoritário. Isso não é a postura de um produtor rural, entende? Quando você se posiciona como direita na Europa, você não se posiciona ao lado de regime de exceção. Pelo contrário, você se posiciona ao lado de homens que são progressistas, que são homens inteligentes, mas que não aceitam a estatização, e sim são homens que reconhecem que um país, para progredir, tem que progredir pela livre iniciativa. Isso é direita na Europa, é direita num país progressista.

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] O senhor diria que a UDR é uma entidade de direita à francesa?

Ronaldo Caiado: Não. Se a UDR nascesse e estivesse constituída em Paris, eu até aceitaria essa posição do senhor, mas, no Brasil, ela é uma posição de centro.

Rodolfo Gamberini: O Dirceu, jornalista da Folha da Tarde [que] trabalha em Curitiba, tem uma pergunta a fazer para o senhor.

Dirceu Martins Pio: Jornal da Tarde.

Rodolfo Gamberini: Do Jornal da Tarde, desculpe.

Dirceu Martins Pio: Senhor Caiado, a UDR defende a livre iniciativa e o governo da Nova República mantém o mesmo quadro de estatização da Velha República. Os senhores são contra essa reforma agrária que o governo tenta fazer, e o governo insiste com essa reforma agrária que aí está. Os senhores defendem o livre comércio, e o governo represa os preços da carne nos açougues, sem se importar muito com as distorções que isso acarreta lá, nas bases de produção. Hoje, o governo da Nova República considera que os senhores pecuaristas são meros sabotadores do Plano Cruzado. Perguntaria: a UDR está em rota de colisão com o governo da Nova República?

Ronaldo Caiado: Não vamos generalizar, né? Não vamos dizer o governo como um todo. Vamos dizer que nós apoiamos o decálogo do presidente [José] Sarney.  Mas entre o decálogo do presidente Sarney e aquilo que vem sendo praticado pelo Mirad [Ministério da Reforma e o Desenvolvimento Agrário] e o Incra existe uma divergência de 180 graus, certo? Aquilo, realmente, nós não aceitamos. Veja você, propriedades produtivas foram desapropriadas, os homens estão sendo assentados... [abre uma pasta e retira alguns documentos sobre assentamentos] Isso, se o senhor me desse um minutinho, eu gostaria de mostrar aqui uma coisa maravilhosa. Vejam vocês, quando nós denunciávamos que a reforma agrária está sendo feita atualmente com finalidades eleitoreiras e demagógicas. Vejam os homens que foram assentados na primeira desapropriação em Goiás, onde estão colocando lá quarenta e seis famílias. Esse senhor aqui, Antonio Laurindo, aposentado por velhice, um dos assentados. O outro, dos outros quarenta e seis, a senhora Nazária Brandão Cardoso, ela tem uma atividade principal [de proprietária] de lanchonete na cidade de Goiás. Esse terceiro, senhor Milton Duarte, proprietário urbano da cidade de Goiás. Essa senhora Nazária, além de ter a lanchonete, ela é aposentada por invalidez. Este outro senhor aqui é proprietário de quarenta alqueires de terra no nosso estado, foi o outro beneficiado.

Dirceu Martins Pio: Caiado, digamos que haja...

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Veja, então... Veja que nós não somos contra... nós somos contra os absurdos que estão sendo praticados em nome de reforma agrária. Agora, esse problema que o senhor está dizendo, de que o governo está estatizando as coisas, que o governo está mantendo essa interferência em muitos setores, nós devemos dizer que vamos colocar o Estado no seu devido lugar, certo? Isso é democracia. O Estado tem os seus limites, e esse limite vai ser definido agora na Constituinte, e nós vamos colocar o Estado no seu lugar. Não é o Estado nos dizendo normas de cima para baixo não. Somos nós, entidades organizadas, conduzindo o Estado da maneira que a sociedade quer.

Dirceu Martins Pio: O senhor fala em erros...

Ronaldo Caiado: Pois não.

Dirceu Martins Pio: ...desacertos dessa reforma agrária do governo. Eu estive viajando pelas áreas de produção pecuária, e dá para sentir que os possíveis erros dessa reforma agrária representam uma espécie de mola propulsora da UDR. A UDR está crescendo bastante a uma velocidade muito grande, graças aos possíveis erros dessa reforma agrária que está aí. O presidente Sarney, ainda na semana passada, assustou todo país ao dizer que dentro do governo há inimigos do Plano Cruzado. Eu perguntaria ao senhor: não há inimigos da reforma agrária dentro do próprio governo, e, portanto amigos da UDR por trás dessa reforma agrária que está sendo executada?

Ronaldo Caiado: Não, porque nós queremos deixar bem claro que a UDR não é contra a reforma agrária, certo? O que nós devemos posicionar bem é que a UDR é contra aqueles que querem usar a reforma agrária com finalidade ideológica, eleitoreira e demagógica, como isso que eu acabei de apresentar para o senhor. Essa fazenda aqui tinha um parecer contrário do próprio Incra, e foi desapropriada a pedido político, e os homens que estão sendo assentados lá, o senhor está vendo, que é para atender pedidos políticos. Eu gostaria que esses homens, que hoje desapropriaram um milhão e trinta e cinco mil hectares neste país, em nome da reforma agrária, que já estão de posse de mais de trezentos e cinquenta mil hectares, que mostrassem à sociedade, não só que viessem à imprensa dizer: "desapropriamos hoje mais um milhão de hectares". Não vamos fazer isso, não. Vamos trazer para a sociedade: "desapropriamos um milhão de hectares, assentamos cento e tantas mil famílias e aumentou a produtividade em tantos milhões de toneladas". Isso é o que nós precisamos, meu senhor; é mostrar resultado, não é ver o que nós estamos vendo neste país afora que eu tenho andado nesses estados todos, nesses assentamentos do Incra todos aí desativados. Esses homens que foram assentados são quase oitenta mil famílias passando fome, sem condição nenhuma de produção. Então, o senhor não acha que primeiro deveriam arrumar a casa, arrumar essa estrutura toda que está em condições caóticas para depois atirarem na produção, ou seja, na instalação de novos homens que precisam de terra?

Dirceu Martins Pio: Mas o senhor admite que a UDR cresce por causa de problemas iguais a esse que o senhor está citando, na reforma agrária do governo?

Ronaldo Caiado: Eu acredito sim que a UDR cresce neste momento, porque a classe produtora rural está sendo agredida em tudo. Veja o senhor, essa reforma agrária é um verdadeiro terrorismo fundiário, certo? [A reforma agrária] que está sendo praticada, não [a] que foi sancionada. Já fomos ameaçados de excomunhão, de devassa de imposto de renda, de confisco, de Lei de Segurança Nacional, de tudo. Quer dizer, isso, sem dúvida nenhuma, está congregando a classe. Nós só trabalhamos neste país e, de repente, todas essas situações caóticas estão caindo sobre nossos ombros...

Dirceu Martins Pio: [Interrompendo] Isso é bom para a UDR...

Ronaldo Caiado: Não é a questão que seja bom, meu senhor, está ensinando a nossa classe a praticar a democracia, e se praticar a democracia é se organizar em entidades - e a UDR é uma entidade que o produtor rural sentiu a necessidade de se filiar - então, ela vai mostrar competência política, como mostrou competência em produzir grãos e proteínas neste país, se Deus quiser.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado...

Ronaldo Caiado: Pois não.

Dirceu Martins Pio: Durante a instalação da UDR em Ribeirão Preto, o senhor foi claro e firme, disse que a reforma agrária não deu certo em várias partes do mundo e sugeriu que o governo fizesse as experiências nas suas próprias terras, e que a reforma agrária é coisa da moda. Palavras textuais.

Ronaldo Caiado: Não é de bom tom, virou modismo, quer dizer, sou a favor de... Tudo bem, sou a favor de... Mas vamos estudar com profundidade. A favor de que no momento em que for desapropriado algum produtor rural, que lhe seja pago pelo justo valor e a dinheiro, e à vista, certo? Quem propõe deve dar bom exemplo. O governo brasileiro é o maior latifundiário do mundo. Só em três estados, eu tenho aqui levantado, cento e doze e qualquer coisa de milhões de hectares neste país. Não custava nada começar por aí, aumentar o número de produtores rurais e ampliar a fronteira agrícola deste país. Aí, sim.

Dirceu Martins Pio: Do jeito que está não está funcionando?

Ronaldo Caiado: Fazer cortesia com chapéu alheio, meu senhor, aí não, pelo amor de Deus. Isso aí foi fruto de muito trabalho de muitos anos.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, um telespectador ligou para cá, e ele fez uma pergunta em cima da pergunta que eu lhe tinha feito sobre a mea culpa dos produtores rurais. O senhor disse que não tinha mea culpa nenhum a fazer. Então, o telespectador Ivan, de São José dos Campos, ligou para cá dizendo o seguinte: o senhor disse que os agricultores não têm nenhum mea culpa a fazer. O que é que o senhor tem a dizer então, a respeito do escândalo da mandioca? Eu vou esclarecer aqui para o público, que foi o seguinte: um escândalo, como houve outros, em que os produtores rurais tiravam crédito para financiar plantio de alguns produtos, pegavam esse dinheiro de crédito dos bancos e aplicavam na ciranda financeira, coisa que o senhor disse que não faziam, mas ficou comprovado em vários casos que era feito isso. O que o senhor tem a dizer sobre esses casos? Houve culpa desses produtores rurais, ou seria mais uma coisa que foi assacada contra os produtores?

Ronaldo Caiado: Não, isso aí foi levantado e comprovado, os homens foram presos, não é isso? Agora, o que nós temos que responder para esse companheiro é o seguinte: que não se pode por erro de um, de dois ou de alguns [é] denegrir a imagem de uma classe. Não é justo isso. Nós não podemos generalizar. Eu não posso agredir a classe jornalística porque uma pessoa não procedeu bem, nem a de engenheiros, nem a de produtores rurais. Então, eu acho que isso é um caso que existiu, foi punido e foi fiscalizado. Se outros existirem dessa maneira, deverão ser punidos também. A UDR, como produtor rural autêntico e verdadeiro, não comunga de maneira nenhuma com isso. Nós não somos esse tipo de homem. Nós somos homens íntegros, normais, pais de família, trabalhamos normalmente e somos conceituados na nossa sociedade. Então, a grande parcela da classe produtora rural são esses homens, realmente, trabalhadores e teimosos, que numa dificuldade como essa que é produzir neste país, continuam produzindo.

Rodolfo Gamberini: Eu queria pedir a licença de todos que estão aqui no estúdio, senhor Caiado, inclusive, que nós vamos para um pequeno intervalo, e voltamos daqui a pouquinho. Daqui a pouquinho a gente volta então, e continuamos com Roda Viva. Até já.

[intervalo]

Rodolfo Gamberini: E nós voltamos, então, com o Roda Viva entrevistando, nesta noite, Ronaldo Caiado, presidente da UDR, União Democrática Ruralista. Senhor Caiado, a próxima pergunta é do jornalista José Carlos Cafundó de Morais, editor do suplemento agrícola do jornal O Estado de S. Paulo.

José Carlos Cafundó de Morais: Doutor Caiado, estão dizendo por aí e publicado nos jornais que a UDR é uma entidade bastante rica, tem promovido diversos leilões, arrecadado bastante dinheiro e eu gostaria de saber, então, o seguinte: quanto a UDR tem em caixa e o que pretende fazer com esse dinheiro?

Ronaldo Caiado: Bem, nós gostaríamos, em primeiro lugar, de deixar bem claro que a UDR, que os produtores rurais constituíram uma sociedade, a União Democrática Ruralista, e que para que ela continuasse formando novas UDR's ela precisava ter fundos e arrecadar dinheiro. E a maneira com que o produtor rural achou, para que essa entidade tivesse subsídio para poder continuar essa maratona por todo este país, foi promovendo leilões, e de quê? Leilões de seus produtos, onde são doados desde uma galinha, saco de trigo, de arroz, de soja, de bois, de café, enfim, de tudo que representa produtividade neste país. E aquilo é leiloado à luz do dia e com a presença de todos, e aquela renda - todos conhecem o quanto é arrecadado - tem a finalidade, o objetivo de contratar uma assessoria jurídica de alto nível, contratar técnicos especializados para nos orientar no momento em que formos fazer recadastramento junto ao Incra ou no momento em que as nossas fazendas são vistoriadas... Porque, infelizmente, esses técnicos do Incra não são homens imparciais, são homens parciais que estão lá muito mais por funções políticas e ideológicas do que técnicas. Então, nós tivemos que contratar tudo isso. Contratamos uma assessoria de imprensa para mostrar à sociedade o perfil real do produtor rural, e não isso que tentam colocar sobre nós, querendo nos transformar em vilões e "sinhozinhos maltas” da vida [refere-se ao personagem da novela Roque Santeiro, exibida em 1985 na Rede Globo, interpretado por Lima Duarte, Sinhozinho Malta é um grande fazendeiro e demonstra ser um homem corrupto e sem caráter]

Rodolfo Gamberini: Quem é que deseja transformar a UDR em vilões, na sua opinião?

Ronaldo Caiado: Veja, a UDR é uma entidade...

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] Mas quem tem ou teria esse interesse?

Ronaldo Caiado: Mas veja, a UDR é uma entidade que rapidamente extrapolou a fronteira de Goiás, chegou a quinze estados, com mais de cinqüenta regionais. Mostrou uma capacidade de arregimentação ímpar. O que aconteceu? Quando uma fração de homens extremados de esquerda viram o crescimento dessa entidade, porque eles não tinham rédeas nem controle sobre ela, eles tentaram denegrir a imagem com aquela tese muito conhecida, como eu disse a vocês, nós temos boa escola disso, que é de mentir, mentir e mentir até que alguma coisa fique [como verdadeira] para a sociedade.

Rodolfo Gamberini: Essa idéia [de que] a idéia repetida mil vezes virou uma verdade não a de um homem de esquerda, é de um homem de direita.

Ronaldo Caiado: Mas é muito bem utilizada por eles, certo? Então, eu devo dizer que essa orquestração foi feita por essas pessoas que viram que, realmente, a UDR nascia e crescia com uma rapidez ímpar, e que ia, indiscutivelmente, participar decisivamente na parte política deste país.

Rodolfo Gamberini: Como se explica esse crescimento tão rápido da UDR, que o senhor mesmo acabou de expor? Será que a UDR não via no regime militar problemas para os produtores rurais? Ela tinha sua representação no governo, nos interesses que estavam no poder, mas, de repente, o país passou para uma fase mais democrática de maior participação popular e a UDR perdeu, talvez, aquela representação tão forte que tinha no regime militar, onde a reforma agrária não era tocada, e aí sentiu necessidade de se organizar e vir à tona lutar por seus interesses, não teria sido isso que aconteceu com a UDR?

Ronaldo Caiado: De maneira nenhuma. Nós estamos nos queixando de uma política agrícola e de uma política agrária, neste país, há mais de quinze anos.

Rodolfo Gamberini: E porque só agora, no final do regime militar, alguns meses depois da posse de um governo civil, ela apareceu?

Ronaldo Caiado: Ela apareceu exatamente em maio de 1985. Aí que ela apareceu. Quando a classe produtora rural recebeu uma proposta do Plano Nacional de Reforma Agrária, feito pelo Mirad, pelo Incra, pela CPT [Comissão Pastoral da Terra] e pela Associação Brasileira de Reforma Agrária. Vejam os senhores, entidades que nunca produziram e que estavam lá sentados à mesa e descrevendo o Plano Nacional de Reforma Agrária. Foi nessa hora, quando faziam um plano nacional punitivo ao produtor rural, confiscatório, ideológico, que nós nos levantamos contra aquilo e constituímos a nossa entidade. Acoplamos junto com isso o problema da política agrícola, o problema do preço mínimo, da política pecuária e da política leiteira.Tudo isso foi acoplado nesse momento. Agora, a luta da classe produtora rural vem de vários períodos, até antes da revolução [golpe militar de 1964].

Rodolfo Gamberini: A próxima pergunta é do senhor José dos Reis Santos, representante do Cedec, por favor.

José dos Santos Reis: Eu sou professor e não perco o fascínio e tampouco a tentação pela análise. E o que me fascina, neste momento, é a utilização da linguagem. O senhor Caiado, para se posicionar enquanto presidente de uma entidade de classe, tem a necessidade de criar os seus vilões, e é claro, os vilões são, ou a esquerda, os técnicos do Incra, ou o CPT, ou o movimento sem-terra etc.  Fascinante esse movimento, a linguagem.  Agora, seriam interessantes algumas respostas objetivas no seguinte sentido: o senhor fala que não se pode, por erro de uns, denegrir a classe como um todo, e o senhor aponta algumas coisas que a gente precisaria investigar, de uma melhor maneira, alguns documentos, já que, em sua opinião, qualificariam a reforma agrária. Isso serve para denegrir a reforma agrária, no entanto, o escândalo da mandioca não serve para denegrir os produtores rurais. Mas tomemos a seguinte pergunta: o senhor recomendaria a aplicação da Lei Delegada número quatro ao especulador pecuário que, neste momento, estivesse escondendo o gado? Eu estou falando em defesa da legislação, o senhor está falando em democracia, e a primeira pergunta é essa. A segunda pergunta é: quais são as posições públicas e quais são as medidas concretas que a UDR já tomou contra a grilagem no estado de Goiás? A terceira pergunta: quais são também as posições públicas e as medidas concretas já tomadas pela UDR contra as milícias privadas que, realmente, existem. Isso está fartamente comprovado pela imprensa, no sul do Pará, no norte de Goiás e grande parte do Maranhão, em toda região, enfim, de um grupo executivo de terras do Araguaia e Tocantins? Respostas objetivas, por favor.

Ronaldo Caiado: Pois não. Quando o senhor diz que eu estou tentando denegrir a imagem de algumas entidades, não, eu estou simplesmente denunciando aquilo que eles vem fazendo contra a classe produtora rural. No momento em que nós estamos falando que um homem que fez o escândalo da mandioca foi um grupo de... Não é a mesma coisa comparar com os absurdos que estão sendo praticados pelo Mirad e pelo Incra, que são órgãos responsáveis do governo para promover a reforma agrária neste país. Eu acho que não cabe, de maneira nenhuma, essa comparação do senhor. Em relação à primeira pergunta em que o senhor diz que nós estaríamos de acordo com leis de exceção para especuladores de carne, nós gostaríamos de responder muito claramente: em primeiro lugar, em um regime democrático, nós devemos abrir mão de leis de exceção, certo? Isso eu acho, que é a postura de um homem democrata.  Em segundo lugar, eu devo dizer ao senhor que especulador é aquele que está forçando um preço maior, sendo que tinha uma quantidade enorme para resolver o problema. O que nós temos, neste país, é um residual de poucos companheiros nossos que tem, por condições climáticas ou por condições de confinamento, um boi preparado neste período do ano, o que é raro porque são poucos homens que tem isso. E eu estava dizendo ao senhor, e respondendo, e falo por toda minha classe nesse momento, que esses homens não são especuladores, meus senhores. Esse homem entrega tranqüilamente o seu boi, desde que o senhor o reponha, em bois magros, em tratores, em caminhões, em implementos agrícolas, sementes e adubos; tudo isso. Então, por que ele é o especulador, a ele pode ter a Lei Delegada número quatro? E contra aqueles que seguram os carros no parque, os tratores que exportam para outros países não pode ser usada a lei? Por que ser tão tendencioso em cima do produtor rural? Só nós que temos que cumprir o acordo do congelamento? As outras empresas e todo o resto deste país pode trabalhar no paralelo? Então, esse que é um grande absurdo, isso é o que nós temos que denunciar, isso é o que nós temos que mostrar à sociedade que, para nós produzirmos neste país, nós precisamos de todos esses implementos que nós estamos dizendo aqui, e nós não os temos. Nós estamos em fila de tratores  há quase um ano para podermos receber. Quando o senhor diz a respeito do problema de milícias que existe no interior, eu quero dizer que nós podemos ver, realmente, que não é o produtor rural que está formando e capacitando homens com preparação de guerrilhas no Bico do Papagaio, não [região de grandes conflitos, localizada no extremo norte do estado de Góias]. Não somos nós, que temos, nos presidentes dos nossos sindicatos, homens formados em Nicarágua e em Cuba, com capacidade de desencadear isso no Bico do Papagaio, no sul do Pará e no sul do Maranhão não, meu senhor, certo? Não somos nós que estamos sendo subsidiados por dinheiro estrangeiro para trazermos a verdadeira luta de classe nesses pontos que o senhor disse e eu conheço muito bem. Esses homens que estão lá não são produtores rurais, esses [homens] são dessas entidades que eu acabei de dizer ao senhor. Eles são os verdadeiros inimigos do produtor rural e da democracia neste país. Isso sim, e o senhor teve a comprovação, quando foi feito levantamento no Bico do Papagaio, quando chegaram lá e perguntaram onde estão as armas da UDR. Eu li pelos jornais, não é? Então, são inverdades. Nós nunca nos formamos em milícias e nós não precisamos disso para nos defender. Nós precisamos da lei e do cumprimento dela, agora os grandes adversários não somos nós. O senhor me desculpe, ficou uma terceira resposta sem eu responder.

Rodolfo Gamberini:  Sobre a grilagem em Goiás.

Ronaldo Caiado: A grilagem da terra, isso não é função da UDR, isso é função do governo do estado, que tem um órgão competente para tal, e que nós produtores rurais nunca apoiamos e nunca acatamos homens que se propõem a ser grileiros de terra. Agora, isso o governo deveria realmente definir quais são, levantar essas áreas e punir esses homens. Não são produtores rurais.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, tem uma pergunta de uma telespectadora, Taisa Helena Treviscovdilha. Ela ligou daqui da capital de São Paulo. Ela faz, na verdade duas perguntas em uma, e eu espero que essa moda de fazer duas ou três perguntas em uma não pegue. Cada um faça uma pergunta só de cada vez, mas eu vou colocar dessa telespectadora. Ela pergunta o seguinte: com que base o senhor pode dizer que todo trabalhador rural, como o senhor disse aqui, sem-terra não tem base agrícola e nem conhecimento para trabalhar na terra?

Ronaldo Caiado: Não, eu disse sem-terra, desculpa...

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] Que o trabalhador sem-terra não pode trabalhar na terra.

Ronaldo Caiado: Sem-terra não, se diz trabalhador rural sem-terra. Sem-terra é generalidade, o senhor vai num acampamento, tem um borracheiro, tem um bancário, tem tanta gente ali dentro, tem um homem de lanchonete, tem qualquer coisa que nunca teve tradição e vocação.

Rodolfo Gamberini: Então não são todos? Alguns deles tem vocação, mas não tem terra?

Ronaldo Caiado: Exato. Veja, eu gostaria de esclarecer para essa pessoa, a propriedade que foi desapropriada no município de Iturama em Minas Gerais, [na] fazenda Barreirão [que] desapropriaram, tinham quinze ou dezoito arrendatários, homens capacitados que a vida inteira produziram nessa fazenda. O que aconteceu? O Incra foi lá e tirou todos os quinze homens que trabalhavam lá que eram sem-terra e que eram arrendatários. O que é que a UDR fez? Entrou com um mandato de segurança, e voltou com esses quinze homens para o local.

Rodolfo Gamberini: Defendeu os sem-terra, a UDR?

Ronaldo Caiado: Sem dúvida. Não, sem-terra, meu senhor, pelo amor de Deus, essa palavra...

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] O senhor disse que os arrendatários eram sem-terra, então a UDR defendeu os sem-terra...

Ronaldo Caiado: [sobreposição de vozes] São arrendatários sem-terra porque não tinham terra, mas não o termo que todo mundo diz sem-terra, são trabalhadores rurais que tem competência, que tem vocação e que foram tirados desse local que já trabalhavam lá. Esses, a UDR deu todo apoio, entrou com mandato de segurança e retornou esses homens para essa fazenda, que foi desapropriada.

Rodolfo Gamberini: A segunda parte, então da [pergunta da] telespectadora Taisa Treviscovdilha: como o senhor, sendo um partidário e tendo um ideário liberal, e sendo um empresário bem sucedido, pode reclamar subsídios governamentais?  Isso não seria a admissão da falência da missão do empresário?

Ronaldo Caiado: Nós precisamos de subsídios, não é pessoal é para a classe, para uma política agrícola neste país. Nós vemos subsídios nos países mais desenvolvidos do mundo, no setor da agropecuária, nós vemos subsídios nos Estados Unidos, no Canadá, na Argentina, na Austrália, isso é normal, o governo tem que arcar com isso, ele tem que subsidiar porque tem que saber que o produtor rural não dá conta de arcar com as intempéries, com secas...

Rodolfo Gamberini: ...Com o imponderável.

Ronaldo Caiado: Sem dúvida. Então, isso aí não pode cair sobre o nosso ombro. Isso tem que ter a participação do governo para tal.

Rodolfo Gamberini: Próxima pergunta Carlos Azevedo, da TV Cultura.

Carlos Azevedo: Doutor Caiado, o senhor não respondeu para o Cafundó quanto dinheiro que a UDR tem já acumulado nesses leilões, e o que ela pretende fazer. Tem se falado que a UDR pretende eleger uma bancada de sessenta constituintes, mais ou menos. Então, eu estou me perguntando, quem são os eleitores que vão eleger essa bancada da UDR? Serão os bóias-frias, que são camponeses sem-terra, os empregados das grandes fazendas, os pequenos proprietários rurais, que também não têm terra suficiente para plantar, os assalariados urbanos, enfim é a maioria? Se ela tem uma bancada tão grande, como ela vai fazer para ter esses votos?

Ronaldo Caiado: Bom, então primeiro eu preciso de... Me desculpe, mas essa última palavra do senhor, nós não concordamos. Nós somos homens que praticamos democracia e não compramos ideologia de ninguém. Agora, eu quero responder à pergunta do senhor. O senhor me perguntou quanto a UDR tem arrecadado. A UDR deve ter hoje feito em todo país, no máximo, uns oito leilões de bois [e de] de cereais, certo? Esses oito leilões de bois devem ter dado à UDR, mais ou menos em torno de 25 a trinta milhões de cruzados.

Rodolfo Gamberini: Quantas cabeças teriam sido vendidas nesses leilões?

Ronaldo Caiado: Veja, eu estou numa maratona dia e noite, eu não tenho parado e não tenho condições de dizer a você hoje, o levantamento atual de quantas reses...

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] Mais ou menos.

Ronaldo Caiado: É difícil, existem lugares, como aqui em São Paulo, onde foram leiloados dois mil bois, como há também lugares [tais como] no interior de Goiás, onde foram leiloados seiscentos bois, no interior de Minas Gerais, foram leiloados 150 bois e cinqüenta sacas de soja e de arroz, essas coisas. É difícil para nós darmos esses dados hoje, nós não estamos parando para contar isso. O nosso tempo é escasso, nós temos que trabalhar dia e noite para mostrar competência agora nesta Constituinte. Agora, quando o senhor diz, quem vai votar em nós, em nossos candidatos, o senhor não é de formação muito urbana, deve conhecer o interior deste país e sabe que o produtor rural é um homem que, graças a Deus, tem credibilidade na sociedade. Um homem que tem uma vasta amizade e que é amigo de todos que trabalham com ele, é amigo de todos aqueles seus vizinhos, e sempre foi uma pessoa de credibilidade junto a clubes, como o Rotary, o Lions e a outros clubes que ele participa. Então, o produtor rural, na política do interior deste país, sempre foi um importante cabo eleitoral. Sempre foi um homem que tem capacidade de arregimentar votos, tem capacidade de trabalho e persuasão, porque ele é sério, ele realmente traz a bandeira do progresso e do social neste país, no interior principalmente. Então, esse homem tem uma credibilidade enorme, e basta sua posição ao lado de um deputado, para que este deputado seja muito bem votado em sua cidade.

Carlos Azevedo: Mas não deixa de ser interessante que os trabalhadores sem-terra, os pequenos proprietários que tem terra insuficiente iriam, talvez, votar nos candidatos da UDR porque é contra a divisão da propriedade.

Ronaldo Caiado: Não, pelo contrário. Por que contra? Nós somos contra a destruição do setor produtivo primário. Nós vivíamos muito bem e harmonicamente com os nossos trabalhadores rurais, isso é o que vocês precisam entender. Não existe esse desentendimento e esse confronto que eles querem criar e orquestrar, não existe. Esses homens trabalham conosco, tem condições realmente de ganharem dinheiro, muito mais do que nas cidades, e tem capacidade de também comprar um pedaço, um quinhão de terra. Lógico que mais distante,  mas tem condição de comprar. Então, a grande verdade é que esses homens são companheiros nossos. Não existe divisionismo dentro da classe e muito menos dentro da UDR, porque, sem dúvida nenhuma, ela tem que ser reconhecida que ela deu mostra de inteligência ao crescer. Ela não cresceu em capital, o senhor nunca viu a UDR ser fundada em capital. A UDR vai ser criada na cidade de São Paulo, não existe isso. A UDR sabe muito bem que qualquer entidade, para ser representativa, tem que ser representativa na sua base, e a UDR, ao nascer, ela primeiro anda em toda região do estado, cria todas as regionais, leva ao produtor rural a necessidade e a mensagem da união, e depois de todas as regiões do estado terem sido visitadas, aí sim, nós nascemos como a UDR forte e estadual.  Mas esse é o respaldo e é porque a entidade hoje é representativa, não é entidade de cúpula, ela é representativa do pequeno, do médio e do grande produtor.

Carlos Azevedo: Ela tende a ser um partido?

Ronaldo Caiado: Não, a UDR não tende a ser partido. Ela vai continuar como entidade, ela é suprapartidária. Nós temos uma boa escola para isso, ela não vai... Por que ela iria se transformar em partido político? Não tem necessidade, nós temos companheiros nossos que são da Frente Liberal, do PDS, do PTB, do PMDB. Por que ela teria que se transformar em partido político?

Carlos Azevedo: [Interrompendo] Mas ela então, não se sente suficientemente representada pelos partidos, PDS, PFL...

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Por quê? Nós vamos identificar um homem...

Carlos Azevedo: [Interrompendo] Estão montando uma outra organização, uma outra entidade.

Ronaldo Caiado: Bom, se vai ter um outro partido, futuramente, onde vão engajar todos estes deputados, essas várias siglas, nós vamos ver depois de 16 de novembro [refere-se à eleição do dia 15 de novembro de 1986 para deputados federais e senadores da Assembléia Nacional Constituinte], mas não a UDR se transformar em partido político.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, o senhor tem viajado muito pelo Brasil todo, como mesmo disse, para organizar a formação da UDR nos locais onde ela não existe, evidentemente. Talvez, o senhor não tenha visto aqui em São Paulo o horário eleitoral gratuito. Tem um partido que fez um personagem, chamado Roni Cajado, que eu queria que o senhor assistisse, e desse a sua opinião sobre ele.

[VT do horário eleitoral gratuito – partido não identificado] Personagem Roni Cajado fala: Como você sabe, eu herdei cento e setenta e cinco fazendas. Agora, com essa tal de reforma agrária, eu vou ter que sair da cidade e ir para o interior para conhecê-los. Como presidente da União da Concentração da Terra, para mim não existe os sem-terra. Você é um sem-terra, Juarez? Toma aqui um pouquinho de terra para você [o personagem joga um punhado de terra e é vaiado pelo público].

Rodolfo Gamberini: O que o senhor achou?

Ronaldo Caiado: São os últimos estertores.

Rodolfo Gamberini: De quem?

Ronaldo Caiado: Desses homens que estão desesperados, e num momento de desespero partem até para isso. Isso realmente é quando falta argumento. Porque você sabe que um partido que tem bandeira, um partido que tem realmente mensagem, eles não precisam entrar nisso. A pessoa que entra nesse campo são aqueles que realmente, infelizmente, estão pouco capacitados, e acham que é por aí, pela agressão, por essa maneira de tentar denegrir, se vai angariar votos. Isso mostra, realmente, que estão dando os últimos estertores.

Rodolfo Gamberini: O senhor ali aparece... Seria a representação das idéias que o senhor defende, aquela figura de maneira caricata, ele menciona uma coisa que o senhor disse aqui no programa, que os sem-terra não existem...

Ronaldo Caiado: Bom, a palavra sem-terra foi criada por homens que nunca fizeram nada pela agricultura neste país. Nunca produziram nada, são produtores de agitação. Os homens que criaram o tema sem-terra, esses homens da CPT, me desculpem, mas eles tem know-how em agitação, já em produção agropecuária, eles não tem nenhuma. E eles foram os homens que criaram o termo sem-terra. Esse termo não existe. Se você chegar no interior e perguntar [por] trabalhador rural, posseiro, arrendatário, meeiro, todos eles sabem: "não, aquele é arrendatário, esse é meeiro, esse é posseiro", todo mundo sabe. Se você perguntar onde é que está o grupo dos sem-terra: "não existe, meu senhor. O senhor deve estar enganado. Não existe essa palavra aqui no meio". Então não existe isso no meio rural. Isso é uma terminologia criada com finalidades pré-eleitorais.

Rodolfo Gamberini: Mas, o fato das pessoas de um determinado grupo social não conhecerem um jargão específico de outro grupo social, não significa que aquela coisa descrita por esse jargão ou aquele não exista. Existem homens que não tem propriedade, homens que trabalham na terra e não tem a propriedade da terra.

 Ronaldo Caiado: Certo. E como existem também os "sem-televisão".

Rodolfo Gamberini: Existem.

Ronaldo Caiado: Tem um grupo grande, aqui "sem-banco", "sem -indústria". Vamos criar todos eles, agora? Hein? Então, quer dizer que eu acho que está encerrado esse assunto. Mostra que isso, realmente, não tem nenhum motivo para ser.

Rodolfo Gamberini: A próxima pergunta é do Gilberto Adrien, que é da UDR daqui de São Paulo, por favor.

Gilberto Adrien: Ronaldo, o produtor rural sempre botou comida no prato do brasileiro e  sempre exportamos o excesso. Produzimos 15 milhões de bois e, para o mercado interno nós produzimos dois milhões e trezentas mil toneladas. Em 1985 o Brasil exportou qüinhentas mil toneladas de carne para o exterior. Em 1986, quatrocentas mil toneladas contra nossa vontade, e contra a vontade do produtor porque ia precisar no mercado interno. Isso rendeu um bilhão de dólares para o Brasil, 35% mais do que toda indústria automobilística, e ninguém falou nada. O Brasil, hoje, é a oitava economia do mundo, e nós representamos, os homens do campo, 54% dessa oitava economia. Você não acha que, com essa política, o governo, está tirando o interesse do homem produzir no campo?

Ronaldo Caiado: Sem dúvida. Nós já estamos nos queixando disso há muito tempo, nós estamos nos queixando por uma política agrícola condizente com as nossas necessidades para que venha atender tudo isso que você está dizendo, Gilberto. Descrevendo essa entidade, que é a classe, é o produtor rural, que vem sendo o maior sustentáculo deste país, responsável por 54% do Produto Interno Bruto, e, no entanto, nós não somos ouvidos, nós não temos uma participação nos assuntos que nos dizem respeito e não temos uma política condizente. Isso indiscutivelmente desestimula, e isso que está sendo responsável por termos escassez de leite, de carne. E se, futuramente, tivermos escassez também de arroz, de outros grãos, [é] porque o pessoal, ou seja, a nossa classe está se sentindo desestimulada por não ter uma política condizente com nossas necessidades.

Rodolfo Gamberini: Próxima pergunta para o senhor Caiado, é da jornalista Anamarcia Vainsencher, do DCI.

Anamarcia Vainsencher: Está demorando muito a rodar aqui. Vou fazer duas perguntas, primeira: a entressafra do ano passado foi pior do que este ano, a gente teve estiagem etc. No entanto, a média de abates na entressafra do ano passado foi de vinte mil por dia, agora está doze, gostaria de saber por quê. Em segundo lugar, logo na sua primeira fala, o senhor falou que a UDR veio para organizar a classe produtora rural, então, o que é feito da Sociedade Rural Brasileira, das federações estaduais de agricultura, do Conselho Estadual de Agricultura? Quer dizer, eles não defendem os interesses dos produtores rurais, é isso?

Ronaldo Caiado: Vamos lá pela primeira. No período da entressafra, pode-se dizer que havia um abate de vinte mil reses. Esses dados, eu não tenho, mas vou responder dizendo o que levava o produtor rural a abater gado nessa época. No momento em que o produtor rural, o pecuarista não tinha uma política pecuária e não tinha condições de manter a sua propriedade, porque ele não tinha recursos para que eles fizessem empréstimo no banco, o que ele fazia? Ele pegava - nós chamamos de matrizes - as vacas e abatia, porque se a senhora oferecesse essa matriz para ser comercializada, ela tinha um menor valor do que se ela fosse vendida ao frigorífico. Então, com isso, para o seu auto-sustento, ele abatia a matriz nesse período de entressafra para ter um fluxo de caixa e poder continuar tratando a sua propriedade. Isso é o que acontecia. Isso é tão verdade que 45% das reses abatidas eram fêmeas em nosso país. Depois do Plano Cruzado, sem dúvida nenhuma, terminada essa ciranda financeira, a fêmea, ou seja, a matriz teve um preço de comercialização melhor do que o preço de abate. Então, o produtor rural, ao invés de abater a sua matriz no frigorífico, ele vendia. Está aí uma das grandes explicações do porque da diminuição da matança nesse período. Quanto ao problema que a senhora fez, a segunda pergunta, dizendo o quê?

Anamarcia Vainsencher: Não, como o senhor falou que a UDR nasceu, e está crescendo.

Ronaldo Caiado: A respeito das entidades.

Anamarcia Vainsencher: É, das existentes.

Ronaldo Caiado: A senhora sabe muito bem que as entidades, as federações e os sindicatos existem por concessões de cartas patentes, vinculadas ao Ministério do Trabalho.

Anamarcia Vainsencher: A Sociedade Rural Brasileira não.

Ronaldo Caiado: Não, estou falando... A senhora me perguntou sobre sindicato e federação rural brasileira, certo? Essas entidades, sindicatos e federações, são tuteladas, até por questões estatutárias, e que não devem se intrometer no problema político, certo? Então, por isso é que elas não tem uma certa autonomia, e nem.. [sobreposição de vozes] Eu gostaria de terminar. E nem uma certa independência de ação porque, como a senhora sabe, nós pagamos o imposto chamado contribuição sindical, junto do nosso imposto territorial, mas no momento em que o governo, às vezes, não fica muito simpático com a Confederação Nacional da Agricultura, ele simplesmente não repassa aquela verba. Já é uma maneira de bloquear qualquer movimento, já que dificulta qualquer campanha que aquela federação ou aquela confederação queira fazer naquele momento. Então, nós nos reunimos em Goiás... Veja como nasceu a UDR, a casa da UDR em Goiás é dentro da Federação de Agricultura, com a participação de todas as entidades representativas do produtor rural no estado de Goiás. Ela nasceu assim, porque todos esses segmentos e companheiros nossos sentiram a necessidade de criar uma entidade ágil, que tivesse um estatuto diferente e que pudesse discutir todos esses assuntos, e ser independente do governo e auto-suficiente financeiramente, para não precisar de repasse do governo e não ter tutela do Ministério do Trabalho. Foi daí que nasceu a União Democrática Ruralista.

Anamarcia Vainsencher: [sobreposição de vozes] ...quer dizer, a legislação sindical, que tutela os sindicatos - e isso é horizontal, e vale [tanto] para empresários como trabalhadores - impediu que as entidades de classe, ou seja, federações, sindicatos, Sociedade Rural Brasileira defendessem preços mínimos, política agrícola etc.

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Não é defender, é ter capacidade de mobilização como nós temos, entende? Nós precisamos entender muito bem, o que adianta a senhora ser a grande representante da classe produtora rural ou a presidente da Confederação Nacional da Agricultura, se não tem um lobby político por trás, para que a vontade da classe produtora seja escutada no Ministério da Fazenda? Não adianta nada. Então, não adianta nada criarmos lideranças e órgãos representativos da classe. O que nós temos que aprender, neste país, o que a classe produtora entendeu é que nós precisamos de lobby, precisamos de quantidade significativa de deputados e senadores, para que no momento em que se venha a discutir o problema ligado à agricultura e à pecuária, nós sejamos ouvidos e teremos direito a participar diretamente naquilo. Então, essa participação política, esse trabalho de representatividade é que a UDR vem desencadeando. Não é que essas entidades não lutem pela classe, eles lutam pela classe, querem uma política condizente com aquilo que o produtor rural quer, mas só que eles não conseguem, fica restrito àqueles tecnocratas que lá descrevem e acham que aquilo que deve ser feito e acabou. Então, nós precisamos ter força política, e força política se consegue por intermédio de lobby político. Essa é a função da UDR.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, a senhor disse, há pouco, que tem viajado muito e está um pouco atrapalhado, e que não sabia citar os números exatos de caixa da UDR, o que é absoluta e completamente compreensível. Agora, tem um telefonema aqui de um telespectador do bairro de Santana, dona Maria Viana e ela quer perguntar para o senhor o seguinte: o senhor falou agora até em lobby, e eu acrescento à pergunta da dona Maria Viana de Santana, o seguinte: quais são... O senhor falou na formação de lobby, cite para a gente alguns nomes dos homens que a UDR quer ver na Constituinte.

Ronaldo Caiado: Isso é para consumo interno, e é um trabalho de pé-de-ouvido.

Rodolfo Gamberini: Por quê?

Ronaldo Caiado: Isso porque é uma tática, que nós estamos trabalhando nela.

Rodolfo Gamberini: Por quê? É secreto isso?

Ronaldo Caiado: Não, não é secreto.

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] E por quê? Então torne público.

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Ela é conhecida de toda a classe produtora rural. Ela é trabalhada, porque cada regional está levantando quais são os homens confiáveis e que podem ser votados pela classe produtora rural.

[sobreposição de vozes]

Ronaldo Caiado: Isso não cabe à nacional fazer. Esse trabalho não cabe à nacional fazer.

Rodolfo Gamberini: Os homens confiáveis, segundo os pecuaristas, não devem ter o nome propalado, não devem ser conhecidos da população brasileira?

Ronaldo Caiado: Não, não se trata disso, meu senhor.

Rodolfo Gamberini: Mas, o senhor disse isso.

Ronaldo Caiado: Não, eu disse que nós não vamos soltar listagens de homens.

Rodolfo Gamberini: Não, o senhor não precisa fazer uma lista, cite três nomes.

Ronaldo Caiado: Mas três nomes? Eu citaria... eu não vou citar três nomes aqui, porque eu não tive contato com o pessoal de São Paulo. Eu estou chegando hoje em Minas Gerais, certo? Então, o que eu quero dizer, é que isso está sendo levantado pelas regionais, e que nós estamos levantando esses nomes, e que não vamos agora estar preocupados em números e nem nomes. Nós vamos fazer essa avaliação no dia 16 de novembro.

Rodolfo Gamberini: Mas, se os senhores vão e querem ter representação na Constituinte, a Constituinte exige campanha, que ela está nas ruas, a campanha exige dinheiro e o dinheiro está com a UDR, o senhor... Como é dia 16 de novembro vocês vão dizer quem são os representantes que os senhores elegeram ou aqueles que os senhores vão escolher para que o representem. Vocês já estão financiando alguns candidatos, já estão ajudando na campanha de alguns candidatos para as eleições. Porque o senhor não revela o nome desses candidatos?

Ronaldo Caiado: Por que essa eterna idéia de que o produtor rural vale por aquilo que ele pode pagar por alguma candidatura? Não faça isso. O produtor rural tem representatividade, ele tem prestígio...

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] Mas é o senhor quem está demonstrando alguma...

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Pelo contrário, eu estou dizendo ao senhor que essa não é uma verdade. A UDR está se mobilizando para que a classe não faça votos de compadre e nem votos de partido, se faça voto classista, essa é a finalidade. Agora, nós decidimos na reunião nacional da UDR, de que o levantamento dos nomes, a identificação dos candidatos confiáveis à classe produtora rural, esses nomes serão levantados pelas regionais, e que cada regional tem independência de entrar em contato com esses homens e trabalhar com eles, e difundir seu nome. Não cabe à nacional ficar soltando lista de quais são os confiáveis em cada região de São Paulo e nem de Minas.

Rodolfo Gamberini: Como é que a UDR trabalha com os candidatos?

Ronaldo Caiado: Trabalha apoiando o candidato.

Rodolfo Gamberini: Como? Apoiando como?

Ronaldo Caiado: Trabalhando, fazendo comitês políticos.

Rodolfo Gamberini: Isso vai dinheiro?

Ronaldo Caiado: Dinheiro... O produtor rural sempre gastou dinheiro, a nossa contabilidade está aberta, certo? Nossa contabilidade está aberta, exposta para qualquer um que quiser ver, não tem participação nenhuma do dinheiro da nossa entidade na campanha de quem quer que seja. O produtor rural...

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] O senhor acabou de dizer que abrem comitês.

Ronaldo Caiado: Mas o produtor rural não pode abrir? Eu, como pessoa física sou um produtor rural, eu posso gastar com o candidato que eu quero, eu como pessoa física. Eu não posso é usar o dinheiro da minha entidade com finalidade de promover nenhum candidato.

Rodolfo Gamberini: E o dinheiro da entidade é usado para quê?

Ronaldo Caiado: O dinheiro da entidade, pela terceira vez, é usado para contratar consultoria jurídica, consultoria de técnicos especializados no Incra, consultoria de uma assessoria de imprensa, de formação de novas UDRs em todo país, pagamento de viagens, pois nós somos obrigados a nos deslocar por todo este país com aviões, e isso nos custa caríssimo, não podemos ficar aguardando aviões de carreira. Tudo isso é feito com o caixa da UDR. Agora, impressionante é o seguinte, nós já levantamos nosso caixa, mostramos nossa contabilidade, expusemos tudo isso, mostramos nosso estatuto, nossa conta bancária, mas, no entanto, nós não conseguimos nunca levantar a conta bancária da CPT, da CUT, da CGT. Interessante... Nosso dinheiro é claro, cristalino, é produção brasileira, é leilão à luz do dia, e, no entanto, sobre nós ficam todas essas interrogações, que não tem por quê. Porque nós estamos jogando aberto, nós estamos jogando claro e, no entanto, essas entidades que querem nos denegrir, vivem como? A UDR ainda não teve condições nenhuma de fazer o grande encontro no Rio de Janeiro, dentro do Maracanãzinho. Veja você, que a nossa verba deve ser irrisória em relação a eles, não é? Agora, porque que a sociedade não interroga de onde vem esse dinheiro. Isso é patriótico?  Rubro, dólar, marco, entrando no Brasil... Isso aí é patriótico?

Rodolfo Gamberini: Mas o senhor está dizendo...

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Será que esse dinheiro... realmente está sendo cumprida a função com que ele foi deslocado por este país?

Rodolfo Gamberini: O senhor está falando em convenção no Maracanãzinho, alguns minutos depois de falar que não vai dizer quais são nem os candidatos que o senhor apóia. Para que fazer convenção, para mostrar às pessoas que as convenções são secretas?

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Mas isso é uma decisão de foro íntimo. E o voto é secreto. Cabe a nós, e cabe a mim...

Rodolfo Gamberini: Mas a campanha não é secreta. O voto é secreto, a campanha não.

Ronaldo Caiado: Exatamente, mas em cada região deste país, cada companheiro nosso está lá abraçado, é cabo eleitoral, certo? Se você chegar em cada regional, você vai ver, declaradamente, que cada produtor rural está com o plástico dele na caminhonete, trabalhando e arregaçando as mangas com ele. Isso não tem nenhum... Agora , porque que você quer que eu cite nomes, listinha, não vamos fazer listinha, não é isso. Cada regional tem o seu candidato, e essa regional trabalha e abraça o seu candidato, é só isso.

Rodolfo Gamberini: Eu queria, por favor, que o senhor...

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Agora, você poderia insistir para a gente. Vê essa verba da CUT, da CGT, da CPT, isso é importante. Imagine bem, essa quantidade de dinheiro que entra, essa soma vultuosa de rubros, dólares, marcos e francos que entram neste país. Com que finalidade vem isso para o Brasil?

[sobreposição de vozes]

Ronaldo Caiado: Você não acha que é extremamente importante, que a sociedade deveria saber disso?

Rodolfo Gamberini: [Interrompendo] Eu gostaria de lembrar que nós estamos aqui entrevistando o presidente da UDR, não estamos entrevistando o presidente da CUT.

Ronaldo Caiado: [Falando ao mesmo tempo que Roberto Gamberini] Não, mas eu concordo com você, mas quando eles estiverem aqui, por favor, nos ajude nisso...

Rodolfo Gamberini: Quando tivermos aqui o presidente da CUT, se ele estiver aqui, o senhor pode até fazer a pergunta por telefone.

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Nós gostaríamos de trazer nossa contabilidade, colocar à disposição de todos os contadores da CUT, mostrarmos a origem do nosso dinheiro.

Rodolfo Gamberini: Perfeito, quando o presidente da CUT estiver aqui, o senhor pode fazer a pergunta por telefone e podemos até mandar uma equipe gravar a pergunta, assim como o senhor vai agora, por favor, responder a uma pergunta do seu colega Samir Gilbran, que foi gravada, também.

[VT com Samir Gilbran]: Meu nome é Samir Gilbran, eu represento uma pecuária familiar, de mais ou menos sessenta anos, e eu não tenho uma pergunta propriamente dita, mas gostaria que o Caiado nos dissesse o que aconteceria com a pecuária nacional, caso o governo efetue o confisco e abata bois de 11, 12 arrobas?

Ronaldo Caiado: Bom, companheiro, eu acho que o governo vai repensar bem, ele já sentiu que a classe produtora rural não merece ser tratada dessa maneira, nós merecemos respeito dessas autoridades, não é por aí que se resolve o problema. Não se pode, de maneira nenhuma, matar nossas boiadas, que hoje tem aí em torno de 12, 13 arrobas, que não estão preparadas para o abate, nos prejudicando enormemente, quando temos condições de entregar essas reses no período da safra, com 18, 19 arrobas. Quero dizer ao companheiro que nós, de maneira nenhuma, temos condições de obstacular, se eles quiserem usar ou utilizar uma Lei Delegada número quatro. Mas nós não aceitaremos que eles venham nos impor como eles querem, ou seja, nós iremos recorrer ao judiciário, com mandato de segurança, porque não aceitamos essa atitude dentro das nossas propriedades.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, a próxima pergunta vai ser feita pelo jornalista Dermy Azevedo, da Folha de S. Paulo e da revista Tempo e Presença.

Dermy Azevedo: Doutor Ronaldo, há cerca de um mês o senhor enviou para a Folha de S. Paulo, um conjunto, assim de mais ou menos umas duzentas páginas, com cópias e inquéritos policiais, contra o padre Josimo Moraes Tavares que foi assassinado dia dez de maio [de 1986. Foi assassinado com dois tiros pelas costas enquanto subia as escadas do prédio da Mitra Diocesana de Imperatriz, MA, onde funcionava o escritório da CPT Araguaia-Tocantins]. Eu pergunto: por que esse interesse específico da UDR no padre Josimo? Como o senhor vê, do ponto de vista ético... Quer dizer, o senhor é médico e preza muito a ética com certeza, esse... ou seja, mandar documentos contra a memória de uma pessoa que já está morta, que não tem condições de se defender? Uma segunda pergunta, é a seguinte: o senhor, há pouco, disse que as pessoas que atacam a UDR são extremistas de esquerda. Ora, na nossa prática jornalística, nós sempre temos documentos enviados pela CNBB, documentos assinados por Dom Ivo Lorscheiter, [(1927-2007) presidiu a CNBB durante o regime militar, entre 1965 e meados da década de 1970], por Dom Luciano Mendes de Almeida. Eu pergunto: por acaso, Dom Ivo Lorscheiter, Dom Luciano Mendes de Almeida [(1930-2006) foi o quarto arcebispo de Mariana (MG) e responsável pela Pastoral do Menor no período de 1976 a 1988], são extremistas de esquerda? O senhor considera que eles são comunistas porque eles atacam a UDR e, inclusive, já entregaram documentos em mãos do presidente Sarney criticando a UDR?

Ronaldo Caiado: Em primeiro lugar, nós queremos dizer a respeito da sua primeira pergunta sobre o problema da morte do padre Josino. A UDR nasceu, meu senhor, para abortar as violências e denunciar as invasões orquestradas que estavam sendo preparadas em todo estado de Goiás, onde estava sendo preparada uma invasão em vários pontos no dia primeiro de julho, que coincidiria com as férias forenses, para que nós, produtores rurais, não tivéssemos como recorrer ao judiciário. Nós tivemos a capacidade de vermos isso rapidamente, com provas evidentes, e denunciamos tudo isso. A UDR veio para abortar a violência no campo que estava sendo deflagrada naquela hora, principalmente no estado de Goiás, na região do Bico do Papagaio. A nossa luta sempre foi limpa, clara e nunca acusamos ninguém sem documento. Mas o senhor mesmo, como jornalista, viu quanto foi assacado, o quanto mentiram contra a nossa entidade quando morreu o padre Josino. O senhor mesmo viu que isso foi manchete de vários jornais, dizendo que a UDR era partícipe ou era mandante daquele crime, e que, quando foi levantada a causa e o porquê aquele homem foi assassinado, o senhor sabe muito bem, que isso é motivo de um levantamento da Polícia Federal.

Dermy Azevedo: O senhor justifica a morte do padre Josino?

Ronaldo Caiado: Eu não justifico, porque a UDR não justifica ato de violência, porque se ela vem para abortar o que queriam desencadear em Goiás, que era uma verdadeira luta de classe, nós nunca achamos que é por aí que se resolve um problema neste país. Se resolve é com inteligência, com debate e com idéias. Não é, de maneira nenhuma, com violência.

Dermy Azevedo: [Interrompendo] Mas porque que o senhor mandou o dossiê sobre ele?

Ronaldo Caiado: Mas eu vou chegar lá. O senhor me dê dois minutinhos, por favor.

Dermy Azevedo: Pois não.

Ronaldo Caiado: E, nessa hora, orquestraram tudo contra nossa entidade sem prova nenhuma. Não havia sequer uma prova que existisse alguma coisa da UDR contra padre Josino. E, no entanto, nós fomos quase crucificados perante a sociedade, uma coisa grave isso. Nós somos homens sérios, pais de família.  Eu tive oportunidade de passar por uma situação difícil naquela hora, onde a minha filha de sete anos de idade me perguntava: papai, o senhor preside uma entidade que participou da morte de um padre? Veja você o quanto isso é grave. Você, sendo perguntado por um filho, uma consagração de uma mentira contra a nossa entidade. Nós nunca participamos, fomos coniventes ou achamos que é por aí a solução dos problemas deste país.

Dermy Azevedo: O senhor diz que não há provas contra a UDR, não é isso?

Ronaldo Caiado: Não há.

Dermy Azevedo: Agora, o senhor sublinhou todos os documentos e mandou à Folha de S. Paulo, o senhor mesmo sublinhou. O senhor tem provas daquilo?

Ronaldo Caiado: Bom, deixa eu continuar.

Dermy Azevedo: Pois não.

Ronaldo Caiado: Agora, o que aconteceu e foi levantado pela Polícia Federal, e por todas as autoridades locais, que aquilo foi uma vingança familiar, certo? Porque os familiares do senhor Donda, um pequeno produtor rural da região que foi assassinado três dias antes, acusavam o padre Josino como sendo o mentor intelectual ou mandante daquilo, e eles resolveram agir dessa maneira. Então, isso é o levantamento da Justiça e das autoridades locais, e nunca existiu a participação da União Democrática Ruralista e nem do produtor rural. Agora, no momento em que isso ficou esclarecido, ninguém foi às grandes manchetes dizer: "a UDR nada tem com isso. A UDR não comunga com esse tipo de violência". É uma injustiça o que fizeram com a UDR, ela veio realmente para defender, mas em alto nível, com inteligência, com discussão, com debate, não com a violência. Nós não tivemos nenhuma grande manchete para denunciar isso. Agora, saíram com esse homem como sendo mártir e nós, produtores rurais, tínhamos sido os mandantes [da morte] desse homem. Então, nós mostramos à sociedade que esse homem também não era nada daquilo que eles estavam dizendo, que ele tinha um mandato de prisão preventiva na...

Dermy Azevedo: [Interrompendo] O senhor considera ético mandar isso, sem que a Justiça tenha se pronunciado, para os jornais?

Ronaldo Caiado: O senhor considera ético assacar contra uma entidade sem nada ter provado, meu senhor?  O senhor considera ético denegrir a imagem de uma classe sem prova nenhuma?

Dermy Azevedo: [Interrompendo] E denegrir a pessoa de um defunto, de uma pessoa que já foi morta?

Ronaldo Caiado: Não, mas ninguém está denegrindo, nós estamos simplesmente levando ao conhecimento da sociedade o seu curriculum vitae e a sua vida pregressa.

Dermy Azevedo: E o senhor considera isso ético?

Ronaldo Caiado: Ético? Não, eu acho que a verdade tem que vir à tona, doa a quem doer, meu senhor, certo? A verdade não pode ser encoberta. Os processos, os crimes, não podem ficar restritos às delegacias e aos fóruns, tem que chegar ao conhecimento da sociedade. Esse homem, com o passado que teve, ele não pode ser canonizado neste país como sendo mártir, certo? Ele tem que ser reconhecido também pelos seus erros, e nós, sem dúvida nenhuma, achamos que tem que deixar bem claro o que ele fez na sua vida pregressa. Não podemos, amanhã, o senhor ou qualquer um de nós, não ter agido de uma maneira não responsável ou criminosa e depois ser tido com uma bandeira, um mártir, um ídolo brasileiro. Isso não era o correto. Então, não fomos nós que começamos. Mentiram sobre nós, assacaram contra nossa entidade, tentaram denegrir, crucificar toda classe produtora rural neste país, e no momento em que nós mostramos... e veja o senhor, no momento em que nós pedíamos uma missa de sétimo dia para o companheiro Donda e para Braz Dornelles [foi assassinado quando chegava de caminhonete à fazenda Marajoara, município de Xinguara, sul do Pará, onde era capataz e onde ocorriam conflitos entre os proprietários e famílias assentadas], o homem que também foi assassinado, tocaiado no sul do Pará. O que nós recebíamos de resposta, daquele bispo que disse que a entidade [UDR] era demoníaca, em Conceição do Araguaia?: "Vamos primeiro avaliar a vida pregressa desse homem para ver se podemos rezar a missa de sétimo dia".  E eu dizia, sou católico e praticante, não sei, esse novo catolicismo agora está me trazendo coisas que eu não conheço, que alma tem valor ponderal, que esses homens tem um poder aqui na terra de julgar e dizer a quem merece uma missa de sétimo dia. Por que o Donda e o Braz Dornelles, produtores rurais, não tiveram direito de uma missa com setenta autoridades eclesiásticas e a presença de um ministro de Estado, meu senhor? Eles valem menos do que a alma do padre Josino? Por que essa maneira tendenciosa, essa maneira orquestrada de não querer aceitar o produtor rural nas igrejas, como nós temos hoje, situações difíceis no Bico do Papagaio, no norte de Goiás e no sul do Pará, onde, quando um produtor rural vai batizar uma criança, o padre se nega a fazer o batizado porque o padrinho é produtor rural. O senhor acha que isso é igreja de Cristo? Isso é igreja que prega a paz, a harmonia e o entendimento entre os homens? O senhor acha que essa é a igreja que nós fomos criados e nela e que nós praticamos? Não é essa, meu senhor.

Dermy Azevedo: E quanto à Dom Ivo e à Dom Luciano, o senhor considera que são extremistas de esquerda porque criticam a UDR?

Ronaldo Caiado: Criticar a UDR é uma coisa, num regime democrático, nós temos o direito de não comungarmos com as idéias e criticarmos.

Dermy Azevedo: Eles não só criticam, mas pedem que o governo intervenha contra a UDR.

Ronaldo Caiado: Mas eles não podem pedir nada, meu senhor. Ninguém pode pedir nada. O senhor só pode pedir alguma coisa quando tem prova. Pelo amor de Deus, isso não é ditadura não, meu senhor. O senhor não pode chegar lá e falar: "olha, seu presidente, eu não vou com os olhos da UDR e eu quero que ela seja fechada." Não é isso, essa fase já passou. Nós estamos num regime democrático. Para irmos contra qualquer entidade, temos que chegar e levarmos prova: "olha, realmente, a UDR é uma entidade que está com outras finalidades, e que não pode sobreviver em regime democrático". Aí sim nós podemos responder processo, podemos ser até punidos. Agora, pelo amor de Deus, não podemos mais viver no tempo em que o senhor não gosta de mim, chega lá e manda punir minha entidade. Não é assim mais, certo? Então, tem que ter provas, documentos, e a UDR sempre se pautou pelas provas e documentos, certo? Que ele apresente os documentos contra nós. Por que ele nunca apresentou?

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, a pergunta do Dermy Azevedo é, o que o senhor acha de Dom Ivo e de Dom Luciano? Se o senhor acha que eles são comunistas, extremistas, porque estão criticando a UDR. O senhor acha ou não acha?

Ronaldo Caiado: Eu não acho que são extremistas e nem que são comunistas. Eu acho que eles não estão procedendo de uma maneira correta ao chegarem no presidente da República e pedirem para extinguir a União Democrática Ruralista. Isso não é função dele, não cabe a eles e não tem nenhuma prova contra a União Democrática Ruralista. E, no entanto, nós temos várias provas, neste país, contra o padre Josino, e nunca pedimos o fechamento da sua diocese, certo?  Porque nós sabemos o seguinte, que a Igreja [Católica] nós a respeitamos e somos católicos. Não vamos deixar, de maneira nenhuma, de sermos católicos, e esse segmento de homens que tentam denegrir a imagem do catolicismo neste país, não são os homens que comungam com a Igreja do Papa, a qual nós pertencemos.

Rodolfo Gamberini: O Carlos Azevedo, jornalista de TV Cultura, gostaria de fazer uma pergunta.

Carlos Azevedo: Doutor Ronaldo.

Ronaldo Caiado: Pois não Carlos.

Carlos Azevedo: O senhor, há pouco, disse que não aceita e não aceitará nunca a aplicação da Lei Delegada [número quatro] nas fazendas para fazer o confisco do boi, não é? Eu faço uma pergunta, que é a seguinte: na sua opinião, qual a diferença entre a intervenção das tropas do Exército na greve dos operários de Volta Redonda, que foi na semana passada, e num eventual envio de tropas do Exército às fazendas para confiscar o boi gordo no pasto?

Ronaldo Caiado: Bom, a respeito da participação de tropas do Exército, onde? Eu não...

Carlos Azevedo: Na greve dos operários em Volta Redonda, que foi na semana passada.

Ronaldo Caiado: Mas deve ter sido para proteger alguma coisa, em que iam atentar contra, ou destruir alguma coisa. Não estavam ali para bloquear greve, nem para dificultar a greve. Estavam ali, talvez, para proteger um imóvel, que pudesse ser destruído, não é isso meu senhor?

Carlos Azevedo: Qual a diferença entre essa intervenção e a aplicação da...

Ronaldo Caiado: [Interrompendo] Agora, veja bem, espere aí, o senhor tem uma propriedade, tem uma indústria, é feito uma greve na indústria. A greve são as pessoas que não querem participar do trabalho.

Carlos Azevedo: Não querem trabalhar, só querem o salário.

Ronaldo Caiado: Exatamente, não querem trabalhar. Agora, entre não querer trabalhar e destruir a empresa do senhor existe uma diferença muito grande, e para isso o senhor paga imposto.

Carlos Azevedo: Não houve nenhuma ameaça, nesse sentido.

Ronaldo Caiado: E para isso o senhor paga imposto. Eu só vejo a participação da polícia em proteger o imóvel, a fábrica, a nossa casa, proteger as nossas fazendas, certo? Eu não vejo com outra finalidade. Nós não aceitamos isso num regime democrático. Agora, um momento em que tropas são agilizadas para entrar na nossa propriedade e pegar um boi que se diz gordo, eu perguntaria ao senhor: qual é a avaliação... Como esse homem vai saber...Como ele pode avaliar aquela carcaça do meu boi e dizer que meu boi, com 14 arrobas, está gordo? Eu posso dizer, este boi dá 18 arrobas, ele não está gordo. Então, quem vai ser que vai julgar isso, quem vai nos pagar o prejuízo que nós estamos tendo ali naquela hora? Então, por que nós vamos usar de atitudes intempestivas, arbitrárias como essa, num regime democrático? Por quê? Para atendermos um erro, uma falha dos tecnocratas; eles são os responsáveis, não nós produtores rurais. A sociedade está consciente disso hoje, de que não somos nós os responsáveis por essa falta de carne neste país.  São esses homens que não souberam arcar com a responsabilidade, ou seja, em fazer uma política de abastecimento para este país, para atender às necessidades da entressafra. Agora, se ele quiser usar, na medida em que ele pode usar, agora, nós não comungamos com isso, certo? Nós não vamos... E nós vamos recorrer ao judiciário, que é a via normal de qualquer cidadão, num regime democrático, se eles agirem dessa maneira.

Rodolfo Gamberini: Senhor Caiado, infelizmente o nosso tempo se foi, já é bem tarde, o senhor está defendendo aqui suas idéias já há algum tempo, e eu gostaria de pedir licença a todos vocês, para encerrar o Roda Viva. Agradecer a presença de todos os jornalistas que estiveram aqui, e de todas as pessoas que participaram desta entrevista. Muito obrigado ao senhor, muito obrigado a todos.

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