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Memória Roda Viva

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Fernando Collor de Mello

8/8/1989

Primeiro colocado nas pesquisas, o candidato à Presidência fala de sua atuação política em Alagoas e de suas propostas para o Brasil

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[programa ao vivo]

Augusto Nunes: Boa noite. Estamos começando mais um Roda Viva Eleições 89. Nesta série de programas, serão entrevistados aqui durante a semana os candidatos à Presidência da República com melhor colocação nas pesquisas de opinião. São dois programas por noite. O primeiro começa às nove e meia; o segundo, às dez e meia. Em cada programa, será entrevistado um candidato durante uma hora. Para esta série especial, convidamos dois grupos de jornalistas que serão os entrevistadores diariamente aqui, representando alguns dos mais importantes veículos de comunicação do país. O Roda Viva Eleições 89 está sendo transmitido ao vivo em rede nacional, através da FUNTV e da Radiobrás. Atinge as TVs Educativas do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Piauí, Pará, Sergipe, Ceará, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Alagoas, Santa Catarina, Pernambuco, Maranhão, Acre, Rondônia e Amazônia, além da TV Curitiba e da TV Nacional de Brasília, que integram o sistema Radiobrás. O primeiro convidado desta noite é o candidato à Presidência da República pelo Partido da Reconstrução Nacional, o PRN, Fernando Collor de Mello, que até aqui vem liderando com larga vantagem as pesquisas de opinião. Para entrevistar o ex-governador de Alagoas e candidato à Presidência, Fernando Collor de Mello, estão presentes nesta noite os seguintes jornalistas: Carlos Nascimento, editor de jornalismo da TV Record; Júlio César Mesquita, diretor do jornal O Estado de S. Paulo; Roberto Müller, vice-presidente do jornal Gazeta Mercantil; Rodolfo Konder, editor-chefe do Jornal da Cultura; Luiz Weis, redator-chefe da revista Superinteressante; e Clóvis Rossi, jornalista da Folha de S.Paulo. Registramos e agradecemos a presença entre nós de convidados da produção do Roda Viva. Governador Fernando Collor de Mello, o senhor tem se apresentado até aqui, durante a campanha, como um político diferente dos demais, e a imprensa tem atribuído, em parte pelo menos, o seu sucesso a essa característica. Agora, tem-se registrado adesões a sua candidatura de políticos que compõem o que poderíamos chamar de perfil ortodoxo, isso em vários estados. São políticos tradicionais e são políticos pouco deferentes dos políticos que o eleitorado brasileiro supostamente pretende aposentar pelas urnas. O senhor não teme que esse tipo de adesão desfigure a forma como o senhor tem apresentado a sua candidatura de político diferente dos outros?

Fernando Collor de Mello: Bom, inicialmente, seria bom colocar o nascimento da minha candidatura. Ela nasceu de uma maneira inteiramente diferente das outras, das candidaturas tradicionais, que normalmente, não somente nesse período, mas em outras eleições passadas, a cúpula partidária se reunia, ungia um candidato, impunha às bases esse candidato e depois fazia com que ele transitasse em busca dos votos necessários para conseguir uma eleição. Eu alcancei a liderança das pesquisas, mercê, naturalmente, do entendimento que existe entre a sociedade civil e a minha mensagem, e sem apoio de nenhuma dessas estruturas tradicionais, sem apoio de nenhum governador, de nenhum senador, de nenhum deputado federal, de nenhum grande empresário brasileiro, de nenhum banqueiro e nem do sistema militar. Mas, naturalmente, eu entendo que é necessário que se estabeleçam alianças, alianças em torno de um ideal, alianças em torno de um projeto consistente de reconstrução nacional. E eu não posso ser o julgador do mundo. Eu acho que somente a Deus cabe julgar o ser humano. Naturalmente, o meu programa aí está colocado, com linhas muito claras, com linhas muito definidas. O objetivo a ser alcançado também [está] muito nítido e, naturalmente, as alianças, as pessoas que desejem se incorporar a esse projeto, às vezes pessoas que eventualmente até desejem se reciclar politicamente, naturalmente eu recebo de bom grado, até porque eu desejo estabelecer uma aliança que possa fazer com que, eventualmente eleito presidente da República, eu possa implementar as reformas e as transformações que o país necessita, de modo que eu lanço mais uma vez um apelo para que todos aqueles que desejarem, indistintamente de qualquer questão meramente pessoal, mas que quiserem se incorporar a esse projeto, que eu julgo ser o melhor para o Brasil, será bem-vindo. Sem que, naturalmente, nós modifiquemos uma vírgula, nenhum ponto-e-vírgula do programa já estabelecido.

Augusto Nunes: Vamos então fazer a primeira rodada. Carlos Nascimento.

Carlos Nascimento: O presidente das Organizações Globo, o jornalista Roberto Marinho, manifestou apoio à sua candidatura. Eu pergunto: é uma atitude isolada do doutor Roberto ou significa um compromisso, um acordo de apoio das Organizações Globo ao candidato Fernando Collor? E pergunto também: quais são os outros veículos de comunicação da chamada grande imprensa, veículos de primeira linha, que têm algum tipo de compromisso com o senhor?

Fernando Collor de Mello: Bom, é preciso também que a gente recupere a pergunta anterior para demonstrar também que não foi exatamente na grande imprensa que eu encontrei apoio para a candidatura quando ela já [estava] posta. Eu não escondo que eu gostaria bastante de poder contar não somente com o apoio da Rede Globo de Televisão, mas também do SBT, como da Manchete, como da Record, como da Bandeirantes, enfim, de todos, mas [gostaria de] conseguir esse apoio não em troca de qualquer coisa, não transacionando qualquer coisa, mas a troca de um apoio a partir do momento em que esses proprietários, que esses integrantes dessas emissoras verificassem que o meu programa não somente é o programa mais adequado ao Brasil, mas que a mim é dada a obstinação, a decisão política e a coragem de poder implementar. Porque, fundamentalmente, nós hoje verificamos, e os jornais noticiaram, que a indústria está crescendo bastante, que o comércio nunca vendeu como agora, que a agricultura vem produzindo muito bem, e nós estamos atolados na mais profunda crise da história republicana brasileira. Então, onde reside essa crise? A crise reside no Estado, exatamente no Estado. E para que nós possamos lancetar o Estado no seu gigantismo, na sua ineficiência, na sua prática corrupta, é necessário não somente um bom discurso, mas são necessárias a obstinação, a decisão e a coragem de poder reduzir esse Estado a um tamanho que permita a ele ser eficiente o bastante para poder, por exemplo, cumprir com suas atribuições básicas em relação à sociedade, que é poder dar o remédio quando o cidadão dele necessite num posto de saúde, que seja possível dar um pedaço de giz para que a professora possa dar aula, e mais do que isso, que possa pagar salários condignos aos profissionais de educação e de saúde, que hoje passam por momentos de muita dificuldade.

Carlos Nascimento: Não há troca de compromissos com veículos de comunicação?

Fernando Collor de Mello: Absolutamente, nem em relação a um veículo de comunicação, nem em relação a quem quer que seja que hoje ou que no futuro venha se incorporar a esse nosso movimento.

Augusto Nunes: Roberto Müller.

Roberto Müller Filho: Governador Collor, eu tenho ouvido algumas entrevistas que o senhor tem dado e um aspecto me chamou muito a atenção. Não raro, mais de uma vez, eu ouvi o senhor dizer que, com relação à questão da dívida externa, que é um dos mais dramáticos, sabe o senhor melhor do que eu, problemas que preocupam a sociedade brasileira, o senhor não vai brigar com o FMI – imagino estar reproduzindo quase que as suas palavras –, mas vai brigar dentro do FMI.

Fernando Collor de Mello: Isso.

Roberto Müller Filho: Isso me deixou curioso e eu vou socializar a minha curiosidade com os telespectadores. Eu me recordo que várias pessoas tentaram fazer isso: brigar dentro do FMI, e acabaram até brigando fora. Eu me lembro do [presidente] Alan García, no Peru; [presidente Raúl] Alfonsín, na Argentina; [presidente] Miguel de la Madrid, no México. No Brasil, desde o ministro [da Fazenda] Delfim Netto, que brigou ao seu modo dentro [do FMI], até o saudoso ex-ministro [da Fazenda] Dilson Funaro, sobre quem o senhor tem feito tantos elogios, que, cansado de brigar dentro, acabou brigando de fora para dentro e fazendo a moratória [Moratória 1987]. Pergunto ao senhor duas coisas: como o senhor consegue imaginar, concebe ser possível brigar dentro e mudar toda aquela antiga estrutura que impõe aos países pobres uma política tão recessiva e que nos obriga a produzir saldos fantásticos na balança comercial para pagar juros? Como o senhor acha que é possível, o senhor que terá sido pela primeira vez, dentro do Fundo Monetário, que é um ambiente hostil, porque é dominado pelos países mais ricos, inverter essa coisa? E a segunda pergunta: se finalmente tiver o mesmo destino dos antecessores, não conseguir, o senhor seguirá o caminho do enfrentamento?

Fernando Collor de Mello: Bom, inicialmente é bom que se diga que nós estamos vivendo uma fase inteiramente diferente das fases a que você se refere na sua pergunta. Hoje, o cenário internacional é extremamente favorável para uma ampla renegociação da dívida externa que não seja exatamente nas bases em que hoje, no passado recente, essa dívida foi renegociada. A última renegociação brasileira foi extremamente danosa e nós estamos vendo os resultados na ordem do dia, não é? Então, o cenário internacional é extremamente favorável. Em segundo lugar, há uma necessidade básica do Brasil de não abrir mão do seu crescimento econômico. Ou seja, não se trata de saber quanto é que nós poderemos crescer depois de pagar a dívida externa, mas sim de quando nós poderemos pagar depois de garantir o crescimento econômico, única maneira de nós sairmos da situação caótica em que nos encontramos. Há uma consciência do sistema financeiro internacional de que não somente o Brasil, mas que ao Terceiro Mundo há uma absoluta incapacidade de se pagar uma dívida hoje estimada em um trilhão de dólares, quando a capacidade de exportação de todos os países devedores do Terceiro Mundo não alcança talvez 500 bilhões de dólares. O cenário internacional, eu volto a dizer, é extremamente favorável. Outro dia, no Rio de Janeiro, depois de um encontro com alguns empresários, dois banqueiros credores privados do Brasil presentes, ao final dessa reunião eles me chamaram e procuraram saber um pouco mais de detalhes da minha proposta da dívida externa, que trata da retirada do aval do Tesouro em relação a todos esses contratos da renegociação, de uma forma descentralizada, caso a caso, dessa mesma dívida. Então, eu comecei a explicar a eles, e eles disseram: “Bom, mas isso parece uma forma muito heterodoxa, muito diferente na nossa prática em relação aos países devedores”. Eu falei: “Bom, eu quero que vocês entendam isso como uma senha, como um sinal para que nós possamos promover uma ampla renegociação dessa dívida em outras bases que não são exatamente essas em que estão sendo tradicionalmente feitas”. Eles disseram: “Bom, mas que propostas o senhor teria?”. Eu disse: “Bom, é preciso primeiro ganhar a eleição para que depois nós possamos oferecer uma proposta concreta a vocês, até porque descobrir o jogo com tanta antecedência talvez não seja o método mais fácil de se conseguir um bom entendimento”. Mas eles insistiram e disseram...

Augusto Nunes: [interrompendo] Desculpe interromper, eu vou pedir que tanto os nossos entrevistadores quanto o governador sejam um pouco mais concisos...

Fernando Collor de Mello: Perfeitamente.

Augusto Nunes: ...nas exposições para a gente completar a rodada rápido.

Fernando Collor de Mello: Bom, então eu vou concluir. Eles insistiram e eu coloquei qual seria uma proposta, que me veio assim à cabeça. Eu disse: “Bom, uma proposta que seria por mim aceita para discussão seria renegociarmos a dívida, no montante em que ela está, com quarenta anos de prazo, vinte de carência e juros de 4% fixos ao ano”. E qual não foi a minha surpresa quando eles olharam e disseram assim: “Isso é perfeitamente possível, dá para nós conversarmos”. Eu senti que tinha feito então uma proposta não muito boa. Quer dizer, então a briga dentro do FMI significa que nós temos aliados lá dentro que podem se aliar, que podem se juntar a nossa posição para defender essa nossa posição junto às áreas mais monetaristas, mais ortodoxas, mais da Escola de Chicago [corrente de pensamento que defende o livre mercado], tão ao gosto do FMI, que lá estão na coordenação de alguns setores do Fundo Monetário Internacional. É por isso que eu acredito. Por eu acreditar que o mundo industrializado não pode penalizar um mercado como o da América Latina e como o brasileiro, não pode ferir de morte, obrigando que a gente cresça negativamente ou sejamos obrigados a uma recessão, ele não pode nos obrigar a uma situação como essa que vai prejudicar no futuro todo o sistema internacional.

Augusto Nunes: Vamos lá então, mais agilidade, todos nós. Luiz Weis.

Luiz Weis: Governador, como todos estamos exaustivamente informados, o senhor é um dos críticos mais veementes do governo do presidente José Sarney. Inclusive, as suas criticas se centram na questão da honorabilidade de mais de um membro da administração federal. Eu gostaria de saber, governador, se no seu modo de ver, o Brasil de hoje estaria melhor se, no Palácio do Planalto, em vez do presidente José Sarney, lá estivesse Paulo Maluf, em quem o senhor votou no Colégio Eleitoral [que elegeu Tancredo Neves à Presidência, derrotando Paulo Maluf, em 1985].

Fernando Collor de Mello: Bom, nós precisaríamos partir do princípio de fazer essa comparação em relação ao doutor Tancredo, porque naturalmente o eleito foi o doutor Tancredo pelo Colégio Eleitoral. E eu não sei, se ele lá estivesse...

Luiz Weis: [interrompendo] Mas, em contrapartida, o senhor votou em Maluf.

Fernando Collor de Mello: ...se ele lá estivesse, se a situação estaria melhor. Eu acredito que sim. Em relação ao meu voto no Colégio Eleitoral, que é tão falado, realmente cumpri com a lealdade de sempre aos partidos aos quais servi com o meu compromisso. Não me afastei em momento nenhum pelo oportunismo de ir rapidamente para o barco vencedor, e já se sabia que a candidatura do doutor Tancredo estava vitoriosa a dois meses antes da realização da própria eleição no Colégio Eleitoral. Eu preferi cumprir e manter os meus compromissos dentro do partido [na época, Collor era filiado ao PDS], até o último instante, como cumpri dentro do PMDB [partido pelo qual foi eleito governador de Alagoas em 1986], até o momento em que o partido resolveu rasgar o seu programa, resolveu rasgar o seu ideário com a votação, dando condições para que o presidente da República ficasse por mais um ano no poder, contrariando o que o partido estava desejando, sobretudo, nas suas bases. Fundamentalmente, essa é a posição, e eu não saberia especificamente responder se nós estaríamos melhor ou pior. O fundamental é que nós reconheçamos que a situação com que hoje o Brasil se debate é extremamente grave, é extremamente séria, é a mais grave crise que nós estamos atravessando no nosso período republicano, como afirmei há pouco. E é fundamental que haja, primeiro, a legitimidade do poder, que haja a independência necessária daquele que vier a ser eleito, que haja autoridade, e esse pacto de confiança entre a sociedade civil organizada e o futuro presidente da República, para que nós possamos encontrar as soluções mais apropriadas para os problemas que hoje estão atormentando a vida do cidadão brasileiro.

Augusto Nunes: Clóvis Rossi.

Clóvis Rossi: Governador, no seu tijolaço de hoje na Folha de S.Paulo, para rebater informações a respeito do uso da verba secreta na sua gestão do governo de Alagoas, o senhor disse que usou essa verba dentro de critérios estritamente da lei, da contabilidade e da ética. Eu gostaria de saber que ética é essa que lhe permite gastar, em cinco meses, um milhão de dólares em itens tais como: 25 mil cruzados novos em flores, presentes finos, [cuja empresa de quem o estado comprou] aliás, é da prima da sua mulher, 135 mil cruzados no Enseada Hotel, que é de um contraparente seu, e 58 mil cruzados na Lug Táxi Aéreo, que é do senador e usineiro João Lyra, seu correligionário. É essa a ética que o senhor pretende levar para a Presidência?

Augusto Nunes: Governador, essa é basicamente a pergunta do Fábio Valadão, de Campinas.

Fernando Collor de Mello: Bom, inicialmente eu queria dizer que essa verba não é tão secreta, a ponto de todos terem conhecimento dessa verba. Ao contrário, é uma verba inteiramente aberta, há informações erradas, equivocadas na Folha, em relação às flores... não há nenhum parentesco com a minha esposa...

Clóvis Rossi: [interrompendo] Foi a dona da floricultura que disse.

Fernando Collor de Mello: Não é, precisa se informar melhor.

Clóvis Rossi: Ela mentiu?

Fernando Collor de Mello: Não sei, mas isso é fácil de se provar, é só ir, talvez, no... como se chama isso? Na Secretaria de Indústria do Comércio, onde que tem o registro das firmas, para se verificar isso. E estava se falando em flores, não tem nada de presentes, foram flores, compradas naturalmente para nós podermos ornamentar e receber os ilustres visitantes que recebemos, e não foram poucos, foram muitos. Nós tivemos o prazer e a satisfação de receber, em um fato inédito para o estado de Alagoas, cinco ou seis embaixadores de países estrangeiros. Recebemos delegações de países estrangeiros, e essas delegações nos propiciaram, por exemplo, a assinatura de um convênio com o governo alemão que nos deu condições de montar um laboratório excepcional para o setor do meio ambiente lá de Alagoas. Hoje a nossa Secretaria do Meio Ambiente, o nosso órgão do meio ambiente, é considerado no Brasil como um dos melhores. E nós fizemos isso graças às flores que talvez, eventualmente, nós tenhamos recebido as pessoas que lá estiveram. É o caso de dizer: as flores se transformaram em laboratórios de pesquisa para proporcionar a nós o melhor controle ambiental daqueles que teimam ainda hoje, em Alagoas, de atentar contra o nosso meio ambiente.

Clóvis Rossi: Quer dizer que basta oferecer flores para o FMI para fazer um acordo? Parece-me um raciocínio muito...

Fernando Collor de Mello: [interrompendo] Sairá muito mais barato, sairá muito mais barato, eu garanto que sairá muito mais barato.

Clóvis Rossi: E o hotel, o táxi aéreo, tudo isso também foi para os embaixadores?

Fernando Collor de Mello: Não, o táxi aéreo, porque houve necessidade de utilizar o táxi aéreo para cumprir compromissos inadiáveis em Brasília. E, naturalmente, eu não posso ser preconceituoso ao ponto de saber quem é o dono para poder alugar ou não um equipamento de uma firma. Eu estaria sendo muito preconceituoso e agindo de uma maneira a perseguir, às vezes, pessoas que não fossem exatamente da minha linha política, o que não faz o meu estilo.

Augusto Nunes: Rodolfo Konder.

Rodolfo Konder: Apesar de o Brasil ser signatário da convenção da ONU contra a tortura, as entidades internacionais voltadas para os direitos humanos se preocupam muito com o fato de que no Brasil ainda se pratica a tortura regularmente nas delegacias de polícia e nos presídios. Se o senhor for eleito, que medidas o senhor pretende tomar objetivamente para acabar com a tortura no Brasil? E ainda nessa área de direitos humanos, eu gostaria de saber se o senhor é a favor ou contra a pena de morte.

Fernando Collor de Mello: Bom, eu sou absolutamente contra a pena de morte, absolutamente contra. E essa questão do que há nas delegacias, isso é fruto único e exclusivo do sistema extremamente injusto sobre o qual nós estamos vivendo. Quer dizer, esse sistema injusto que é baseado no modelo econômico draconiano concentrador de renda que enfraquece o nosso mercado interno, que aumenta as nossas desigualdades regionais, que achata os salários, cria esses bolsões de conflitos, cria esses bolsões de quase de clima beligerância entre os cidadãos brasileiros. Salários baixos pagos aos policiais fazem com que eles se utilizem, talvez, de métodos que são absolutamente reprováveis e que nós temos que condenar, e nós temos que lutar para evitar de uma vez por todas. Mas, fundamentalmente, não adianta nós tratarmos disso utopicamente sem resolvermos o problema na base. Nós temos é que mudar o sistema que aí está. Nós temos é que estabelecer um modelo econômico que crie oportunidades para todos e que possa fazer com que o nosso cotidiano não seja tão atropelado como ele hoje é. Não somente para nós que, eventualmente pertencemos a uma classe média, temos uma vida razoavelmente confortável, embora com muita apreensão, mas sobretudo para aqueles que hoje estão morando em favelas, que estão morando em palafitas, que estão morando debaixo de viadutos.

Augusto Nunes: Julinho Mesquita.

Júlio César Mesquita: Os jornais vêm noticiando, de sexta-feira para cá, uma notícia plantada no jornal O Globo sobre a substituição do ministro [da Fazenda] Maílson [da Nóbrega] e do ministro [do Planejamento] João Batista de Abreu. E é visto que isso é um embate entre o doutor Roberto Marinho, que quer impor um novo ministério econômico no país, e tentando digladiar a força dele com o presidente atual, José Sarney, o qual o senhor tanto combate. Nós sabemos perfeitamente que a sua família em Alagoas possui uma coligada da Rede Globo de Televisão. Eu gostaria de saber o seguinte: em primeiro lugar, qual é o relacionamento do senhor com o doutor Roberto Marinho? Qual é o relacionamento do senhor com o doutor Jorge Serpa, advogado, que hoje em dia substitui o doutor... me falha o nome no momento... substitui atualmente o doutor Armando Falcão, nas Organizações Globo. Eu gostaria de saber: se esse fato vier a ocorrer no seu governo, de as Organizações Globo tentarem substituir alguns de seus ministros, qual será a sua atuação?

Fernando Collor de Mello: Bom, eu eleito presidente da República, ninguém irá substituir quem quer que seja. A minha posição é conhecida por ser de absoluta independência. Eu acho que o que causa muito incômodo na minha presença no cenário político nacional é minha mais absoluta independência em relação a tudo. Os meus únicos compromissos são aqueles que eu assumo em praça pública, que eu assumo em relação à sociedade brasileira, e eu costumo cumprir rigorosamente os compromissos que eu assumo. Então, qualquer ingerência dessa natureza, seja de quem for, mesmo que seja da minha família, ela será rechaçada de pronto, porque presidente da República, dentro do sistema presidencialista que aí está, que eu espero que algum dia venha a ser o regime parlamentarista dos nossos sonhos, mas enquanto houver o sistema presidencialista, o responsável, aquele que deve conduzir a política do país é o presidente. E ele não pode abrir mão dessa sua autoridade sob pena de ser – como hoje acontece com o atual presidente da República –, ser levado na chacota, ser levado na brincadeira.

Augusto Nunes: Governador, antes de liberar a roda aí para a entrada em cena... eu queria fazer algumas perguntas de telespectadores. Como o senhor pode ver, são dezenas de perguntas e, infelizmente, só vou poder fazer algumas. Vou selecionar as mais freqüentes. Cláudio José Ribeiro, do Rio de Janeiro, diz o seguinte – vários outros leitores fizeram a mesma pergunta –, “No dia 29, o Jornal da Tarde publicou a notícia com o titulo: ‘Collor, o criador de marajás das Alagoas'. Nessa reportagem, são listados 65 nomes, entre parentes e amigos do candidato, que foram admitidos sem concurso público na Assembléia Legislativa daquele estado”. Ele pede que o senhor comente essa reportagem. É o mesmo pedido feito pelo Josemar Lopes Barbosa [...]. E Humberto Gomes, de Taubaté, observa o seguinte: que a todas as denúncias de corrupção do seu governo, o senhor responde que as suas contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado. E ele observa que também as contas do governo Sarney, que é acusado de corrupção, foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União...

Fernando Collor de Mello: [interrompendo] Não, não é verdadeira essa informação.

Augusto Nunes: Então eu queria que o senhor comentasse.

Fernando Collor de Mello: O Tribunal de Contas da União, exatamente, tem vários processos pendentes da administração do atual presidente José Sarney e não aprovou as contas dele, é diferente. Inicialmente, eu gostaria de me reportar ao modo como eu governei Alagoas. Eu fiz uma campanha para o governo do estado contra o sistema dominante, contra o poder econômico, o desvirtuamento do poder econômico, contra o sindicato do crime, contra os marajás. Tive logo nos primeiros meses de governo um embate com a Assembléia Legislativa do Estado, com o Tribunal de Contas do Estado e com o Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas. Pela primeira vez na história republicana do país um governador levou ao Supremo Tribunal Federal o Tribunal de Justiça do seu estado, a Assembléia Legislativa e o Tribunal de Contas, não é? Quer dizer, para demonstrar que realmente a minha eleição para o governo, atrelada a um projeto de mudanças, era para ser cumprida. Muito bem, em relação a essa...

Augusto Nunes: [interrompendo] Sobre a questão levantada pelo Jornal da Tarde.

Fernando Collor de Mello: Sobre essa questão do Jornal da Tarde, a notícia veiculada faz com que o eleitor seja levado a pensar que as pessoas ali elencadas foram contratadas por mim. E eu já lancei um desafio; o meu desafio foi claro; eu lanço um desafio a quem quer que seja, que apresente um ato meu autorizando a nomeação para o governo do estado de Alagoas sem o devido concurso público, sem a devida prova de méritos ou em desacordo com a lei. Mais ainda, eu desafio quem quer que seja a trazer um ato meu que aponte qualquer nomeação, mesmo por concurso público, que eu tenha feito de algum parente meu. Absolutamente, isso... Bom, muito bem, a questão elencada, e falam de pessoas com sobrenome Mello, pessoas com sobrenome Malta e tal. O sobrenome Malta, desde o final do século passado a família Malta tem um desempenho político no estado de Alagoas. Já teve lá dois governadores: Euclides [Vieira] Malta [entre 1900-1903 e 1906-1909] e Joaquim [Paulo Vieira] Malta [entre 1903-1906]. Em relação aos Mello ali elencados, coincidentemente um deles sofre um processo meu na Justiça. Coincidentemente, eles estavam num partido diferente do meu. Nós estivemos participando, alguns deles, a partir de 1986, quando eu ingressei no PMDB, e eles já lá estavam. Ou seja, essa vinculação que querem estabelecer entre isso que foi feito e a minha gestão no governo de Alagoas é para mim inaceitável, porque não há nenhuma correspondência na realidade. [Aparecem alguns convidados no auditório, entre os quais, Zélia Cardoso de Mello]

Luiz Weis: Governador, o senhor não cessa de dizer que, se eleito presidente da República, o senhor vai botar corrupto na cadeia.

Fernando Collor de Mello: Isso.

Luiz Weis: Eu estranho muito essa frase, e eu gostaria de entender o que concretamente isso possa vir a significar.

Fernando Collor de Mello: Pois não. Há na sociedade brasileira...

Luiz Weis: Permita-me completar a pergunta...

Fernando Collor de Mello: Pois não, me desculpe, eu achei que havia...

Luiz Weis: Visto que nós estamos num estado democrático de direito, pôr corrupto ou qualquer outro delinqüente na cadeia é função do judiciário...

Fernando Collor de Mello: Perfeitamente.

Luiz Weis: ...não do presidente da República.

Fernando Collor de Mello: Perfeitamente.

Luiz Weis: Qual é a sua intenção no governo? Ser o xerife do país?

Fernando Collor de Mello: Bom, muito bem, a corrupção sempre vem associada à impunidade, quer dizer, se na sociedade de um país, uma sociedade considerada, não houvesse a impunidade, a corrupção seguramente ou inexistiria, ou seria muito reduzida. E o que é a impunidade? A impunidade é a certeza de que o corrupto ou o delinqüente tem de que, cometido o ato delituoso ou mesmo o ato de corrupção, nada vai lhe acontecer, porque haverá sempre alguém na estrutura do poder a lhe proteger, a lhe colocar as mãos em cima e impedir que a Justiça faça justiça, que o coloque atrás das grades. O crime de corrupção é um crime de ação pública, é um crime contra a cidadania. Cabe ao Estado prover os meios necessários para que essas denúncias embasadas, devidamente circunstanciadas possam ter sua conseqüência. Então, quando digo: vou colocar os ladrões na cadeia, talvez simplificando a estratégia, é exatamente o seguinte: do que se trata? É contar com o apoio da Procuradoria Geral da República, que tem representações em todos os estados brasileiros. E essas representações das Procuradorias da República serviriam como um balcão para receber do cidadão comum toda a denúncia que ele quisesse formular...

Luiz Weis: [interrompendo] Aí não seria necessário ir ao ministro da Justiça carregando [...].

Fernando Collor de Mello: E ele encontraria nessa procuradoria um meio de dar conseqüência a essa sua denúncia. Se fosse uma denúncia na órbita federal, a Procuradoria Geral da Justiça no estado, a sua representação, formularia, formalizaria o processo e remeteria à Policia Federal para fazer as devidas investigações. Se fosse na área do estado, encaminharia à Procuradoria Geral de Justiça do estado, para que ela procedesse da mesma maneira. Isso tem um sinal, isso tem um significado, que é estabelecer na sociedade brasileira que não podemos mais conviver com a impunidade. No momento em que um cidadão se sentir penalizado na sua cidadania, nos seus direitos, por corrupção, por atos e por desvios de recursos ou de funções, sejam elas de que natureza for, no momento em que ele sentir que isso está penalizando um seu direito, ele tem onde bater à porta, onde encontrar ressonância ao seu apelo e a sua denúncia.

Clóvis Rossi: Governador, eu gostaria de fazer algumas observações sobre as suas acusações, que ficam sempre pela metade. Por exemplo, no caso dos marajás, tudo bem que o senhor não tenha nomeado marajás, mas o senhor construiu a imagem de caçador de marajás e não pode negar que nove membros da sua família estão empregados na Assembléia Legislativa, independentemente de quem os nomeou, com salários de marajás, de quatro mil cruzados novos a dois mil cruzados novos. Inclusive o líder do seu partido na Assembléia Legislativa de Alagoas, o deputado Euclydes Mello, não esconde que está nomeado, inclusive o seu braço direito de assessoria política, o deputado Cleto Falcão, que está também nomeado com salário de 4,9 mil. Eu gostaria de saber o seguinte: os marajás são só os das outras famílias? E dois: a coisa da verba secreta, o código [...] especifica muito claramente, entre os itens que podem ser envolvidos nesse código, despesas de caráter secreto ou reservado. Portanto, não é verdadeira a afirmação de que essas verbas não são secretas, parte delas é secreta.

Fernando Collor de Mello: Todos sabem, todos sabem, as chamadas verbas secretas, isso é uma obra de ficção, não é? Quer dizer, todo mundo sabe o que consta da verba secreta, tanto que você está relacionando aí todos esses dados. Eu não posso aceitar essa junção que você queira fazer entre o que houve na Assembléia e a minha participação no governo de Alagoas. Eu não aceito, eu a repilo com veemência. Em relação àquele que serviu como meu líder na Assembléia Legislativa, e que se portou e se houve com muita bravura e com muita correção, ele pertence a uma família que foi tradicionalmente adversária nossa no estado de Alagoas. O ex-governador [Sebastião Marinho] Muniz Falcão [entre 1956-1961] foi um dos adversários... tio do deputado Cleto Falcão, a quem você se refere, foi um dos adversários mais ferrenhos do meu pai [Arnon Afonso de Farias de Mello (1911-1983), que foi senador da República e governador de Alagoas]. E nesse trabalho de pacificação que eu tentei fazer, e graças a Deus consegui em grande parte lá em Alagoas, nós conseguimos reunir as famílias que estavam tão desavindas em função de problemas políticos. Então, essas pessoas que aí estão colocadas, tem pessoas que foram colocadas em 1960, em 1969 em 1970, quando talvez eu não tivesse sequer idade ainda para votar...

Clóvis Rossi: [interrompendo] Em 1969 o senhor era aliado político das pessoas que colocaram o governador Divaldo Suruagy, o governador Guilherme Palmeira, que foram seus aliados políticos. [Suruagy governou Alagoas entre 1975-1978, 1983-1986 e 1995-1997; Palmeira, entre 1979-1982]

Fernando Collor de Mello: Em 1969 eu era estudante, em 1969 eu era estudante na Universidade de Brasília, tendo feito o meu vestibular para economia, não é?

Clóvis Rossi: O senador Divaldo Suruagy e o senador Guilherme Palmeira não foram os seus aliados políticos?

Fernando Collor de Mello: No partido, pertenciam ao mesmo partido que o meu, que era o mesmo partido do meu pai, porque eu teimo em ser leal aos pais, eu teimo em ser leal ao meu pai...

Clóvis Rossi: O senhor nunca sugeriu a esses novos marajás que pelo menos se demitissem em nome dessa cruzada?

Augusto Nunes: Rossi, eu só gostaria que você completasse a sua pergunta e o governador respondesse para a gente continuar adiante.

Fernando Collor de Mello: É importante que se diga o seguinte: quando eu iniciei o meu governo no estado de Alagoas, e quando levei ao Supremo Tribunal Federal a Assembléia Legislativa do Estado, foi exatamente para impedir que fatos, quaisquer fatos, não viessem a ocorrer na minha gestão, fosse em que poder fosse, mesmo eles tendo absoluta independência. Eu não tinha, na realidade, por que procurar essa briga com a Assembléia Legislativa, tanto que governei em minoria no decorrer de todo o meu período. Todo o meu período, eu estive em minoria na Assembléia, exatamente porque nunca aceitei transformar o meu governo num balcão de negócios. Nunca aceitei transacionar com quem quer que seja em busca de mais um voto na Assembléia ou menos um voto na Assembléia. Quando levei ao Supremo Tribunal Federal, foi exatamente pelos salários que estavam sendo pagos, pelos subsídios pagos aos deputados. E fui vitorioso no Supremo. Eu quis com essa ação demonstrar que eu não poderia nem aceitaria participar de qualquer atividade com a Assembléia Legislativa, mesmo sabendo que ela é um poder independente e que, portanto, tem que prestar contas dos seus atos ao Tribunal Popular, na época da eleição, e também ao Tribunal de Contas, a quem cabe examinar as suas contas ao final de cada exercício legislativo.

Augusto Nunes: O Nascimento, o Julinho, o Konder e agora o Müller já fizeram sinais. Antes eu faço uma pergunta feita por vários leitores que eu resumo aqui na questão levantada pelo Domingos Pitre, de Ribeirão Preto. Ele diz o seguinte: ele observa que, lá em Ribeirão, o senhor tem 30 outdoors; ele quer saber, como outros leitores, de onde vem o dinheiro que financia a sua campanha.

Fernando Collor de Mello: Bom, nós temos, naturalmente, condições, como eu disse outro dia num programa, de graças a Deus poder tocar a minha campanha do tamanho das minhas pernas. Graças a Deus eu pertenço a uma família que não passa por muitas dificuldades. E, além disso, nós temos outros amigos, sobretudo aqueles que estão fervorosamente adotando essa mensagem de renovação, de recuperação de mudanças nisso, que podem nos dar a tranqüilidade de poder fazer uma campanha rigorosamente espartana. A primeira peça publicitária que nós temos, fora os adesivos, é esse outdoor. Todos os outros candidatos já iniciaram a fixação de outdoors, a partir de janeiro deste ano. E nunca foi feita nenhuma admoestação, nunca foi manifestada nenhuma preocupação por isso. No momento em que, seis meses depois de iniciado o ano eleitoral, eu coloco uns outdoors nas cidades, coloco uns outdoors nos estados brasileiros, parece que o mundo está desabando. Naturalmente isso está... E como houve uma interpelação a nível judicial, eu estou lá com o meu advogado, que vai responder e demonstrar, item por item, de onde está vindo o recurso, como está vindo esse dinheiro, como ele está sendo aplicado, de acordo com a exigência da Justiça Eleitoral. Eu espero que todos façam da mesma maneira.

Carlos Nascimento: Governador, o senhor acaba de dizer que vem de uma família que não passa necessidades, enfim, que não tem dificuldades. Eu diria até que o senhor é um homem rico. Agora, por que razão o senhor abandonaria a classe social a que pertence e que hoje tem os privilégios neste país e se dedicaria a resgatar a situação aí de mais da metade dos brasileiros que vivem na mais absoluta miséria? E mesmo que o senhor quisesse fazer isso, como é que o senhor conseguiria?

Fernando Collor de Mello: Bom, é necessário que a gente remeta um pouco ao passado. O meu avô materno, Lindolfo Collor [1890-1942], foi o criador do Ministério do Trabalho. Ele foi o primeiro ministro do Trabalho no Brasil e, ao mesmo tempo, foi ele quem criou a legislação trabalhista, que até hoje socorre e acode o trabalhador que busca os seus direitos. O meu pai, Arnon de Mello, foi governador de estado [entre 1951-1956], eleito pelo voto popular, lutando contra uma oligarquia sanguinária no estado de Alagoas. E conseguiu fazer naquela ocasião, naquela época tão difícil, conseguiu fazer prevalecer aquele seu ideário de poder pacificar a sociedade alagoana, que naquela época estava absolutamente conflagrada. O fato de pertencer a uma família...

Carlos Nascimento: [interrompendo] Rica.

Fernando Collor de Mello: ...uma família... rica, não sei qual o padrão hoje, com essa inflação é difícil saber quem tem e quem não tem, não é? Porque o que [se] tem hoje, com essa inflação se evapora. Mas [uma família] que não tenha muitas dificuldades, eu diria que isso naturalmente faz com que me alerte esse sentimento de que alguma coisa deva ser feita com urgência...

Carlos Nascimento: [interrompendo] O quê?

Fernando Collor de Mello: ...para que nós evitemos o colapso da sociedade brasileira.

Carlos Nascimento: [interrompendo] O quê, por exemplo?

Fernando Collor de Mello: Hoje, o que está acontecendo é que a falta de referências na sociedade faz com que haja os embates entre classes sociais, entre pessoas, entre até em amigos. E essa desagregação é o primeiro passo para a finalização de um ciclo, e nós esperamos que essa finalização não seja dada de uma maneira muito danosa para todos nós. O que fazer?

[sobreposição de vozes]

Fernando Collor de Mello: O que fazer? Nós sabemos que é absolutamente impossível nós estabelecermos uma política salarial consistente, de nós estabelecermos uma desconcentração de renda com um processo inflacionário como este a que nós estamos assistindo. É impossível, absolutamente impossível se ter alguma política, seja na área industrial, seja na área social, seja na área agrícola, seja na área financeira, sem que nós controlemos esse dragão que consome as nossas energias, chamado inflação. Então, quando a gente fala para melhorar a qualidade de vida da população brasileira, isso deve ser [...] da seguinte maneira: trazer e estabelecer o bem-estar social. O que significa o bem-estar social? Significa viver numa sociedade com a inflação baixa, com os salários recuperados de acordo com esse índice baixo de inflação, mantendo a sua condição de compra, mantendo a possibilidade de uma família poder alimentar, ter a sua habitação, poder se deslocar para o seu serviço...

[sobreposição de vozes]

Luiz Weis: [interrompendo] Mas isso é o que todos os candidatos acham, não há quem não afirme isso.

Fernando Collor de Mello : Mas o que falta é a decisão, a determinação e a coragem de promover essas reformas. Isso eu tenho. Eu tenho essa coragem, essa determinação e essa obstinação de promover as reformas no país. É aí que está a diferença, até porque soluções econômicas, todos nós sabemos que não são mágicas. Ninguém vai tirar o coelho da cartola para dizer que descobriu, que descobriu uma nova fórmula. Não há essa. As fórmulas estão aí em todos os compêndios, estão aí para todos aqueles que estudam. O que diferencia é o seguinte: é a possibilidade que uns têm de promover isso, de aplicar essas medidas, e que outros não têm, seja porque não têm independência, seja porque não têm a determinação e a decisão política de promover essas reformas.

Augusto Nunes: Governador, eu vou pedir ao senhor um pouco mais de concisão nas respostas. Eu sei que as questões são importantes, mas o tempo é realmente curto. Eu peço também desculpas aos telespectadores, porque evidentemente só algumas poucas perguntas poderão ser feitas. Uma delas, antes do Julinho Mesquita, também resume a preocupação, a curiosidade de vários outros telespectadores. O Weimar Brandão, de Perdizes, quer saber se algum corrupto foi preso em Alagoas.

Fernando Collor de Mello: Os corruptos lá de Alagoas saíram todos. Aqueles que estavam encastelados no poder, os seus processos foram devidamente abertos e [foram] colocados para fora. Muitos deles, inclusive, fugiram até do próprio estado, porque sabiam que, se lá permanecessem, estariam atrás das grades.

Augusto Nunes: Julinho.

Júlio César Mesquita: Governador, o atual governo do presidente José Sarney está anunciando no dia de hoje uma série de medidas econômicas, entre elas a venda da casa dos ministros. Se ele tiver sucesso nessa medida e conseguir vender a casa dos ministros, e se o senhor for eleito, seus futuros ministros não poderão habitar essas casas. O que o senhor acha dessa medida?

Fernando Collor de Mello: Bom, essa medida do atual presidente da República vem posteriormente à inclusão, no meu programa de governo, exatamente disso...

Júlio César Mesquita: [interrompendo] O senhor quer dizer que ele está copiando o programa do governo do senhor?

Fernando Collor de Mello: Eu não diria que está copiando, mas pelo menos seguindo alguns pontos que são positivos.

Júlio César Mesquita: Então o senhor aplaude essa medida dele?

Fernando Collor de Mello: Sim, sem dúvida, sem dúvida nenhuma. Todas as medidas que visem a acabar com as mordomias e com essas questões, independentemente da minha oposição ao governo, eu tenho que reconhecer que são medidas corretas. Eu espero apenas que ele faça, que ele venda essas casas, que ele acabe com essas mordomias, porque isso ofende a nossa dignidade.

Júlio César Mesquita: Se ele não conseguir vender, o senhor vai tentar vender?

Fernando Collor de Mello: Tentar não, venderei.

Júlio César Mesquita: Venderá e colocará os seus ministros onde?

Fernando Collor de Mello: No local onde eles acharem melhor. Eu não estarei preocupado exatamente em saber exatamente onde eles irão morar, mas apenas que eles podem morar onde desejarem, menos sob os auspícios do bolso...

Júlio César Mesquita: No seu programa [...], por exemplo, que tipo de habitação deve ter um ministro?

Fernando Collor de Mello: De jeito nenhum, ao contrário, o ministro tem que morar na sua casa, do jeito que ele achar conveniente.

Rodolfo Konder: A ecologia é uma questão essencial hoje no cardápio da modernidade. O senhor acha, por exemplo, que essa questão da Amazônia é uma questão que aceita, acolhe interferências de outros países? A ecologia para o senhor é uma questão supranacional, evidentemente, que permite interferência de outros países? Ou o senhor vê isso com os olhos do nacionalismo e da preservação da soberania nacional?

Fernando Collor de Mello: Eu fiz uma viagem há poucos...

Augusto Nunes: [interrompendo] Governador, é um bom desafio para uma resposta mais curta, essa questão da Amazônia é bastante extensa. Peço ao senhor que seja conciso.

Fernando Collor de Mello: Há poucas semanas atrás, eu estive viajando ao exterior, mantendo contato com vários chefes de Estado. E o que me levou a essa viagem foi tratar de três assuntos básicos: o primeiro é a questão da integração da Latino-América ao continente europeu, já que nós somos um reflexo do continente europeu. Em segundo lugar: a questão ecológica. E, em terceiro, a questão da dívida externa. Na Alemanha e na França eu encontrei uma preocupação muito grande com a questão ecológica e basicamente centrada na Amazônia. E senti também, nas conversas que mantive, o interesse de associar a solução da questão da dívida externa com a questão amazônica, ou seja, trocar, como foi feito aqui há poucos meses atrás, pelo atual ministro das Relações Exteriores em contato com um grupo de senadores americanos, em que ele aventou a possibilidade de se trocar um bilhão de dólares da dívida externa por um milhão de hectares da Floresta Amazônica, o que é absolutamente reprovável sob todos os aspectos. E quando esse assunto me foi tratado por esses chefes de Estado, e por alguns presidentes da República, imediatamente eu disse: “Olha, eu não posso considerar essa possibilidade. Eu acho que a dívida externa é uma coisa, a questão amazônica é outra. E vamos encontrar soluções estanques para cada um desses problemas, sem que nós tenhamos que subordinar a nossa soberania à solução da questão da dívida externa vendendo as nossas riquezas naturais”. Eu incorporei a tese do professor Samuel [Isaac] Benchimol [1924-2002] e levei para esses chefes de Estado, a instituição de um imposto internacional sobre poluição, ou seja, a ONU coordenaria esse trabalho e aplicaria esse imposto sobre os países que estivessem poluindo de qualquer forma e com qualquer origem o nosso ecossistema. E se estabeleceria uma alíquota, tantos dólares por tonelada de gás emanado e colocado na atmosfera, e assim por diante. Isso formaria um fundo; os recursos desse fundo seriam aplicados em projetos de preservação do meio ambiente naqueles países que estivessem demonstrando rigorosamente compromissos com a preservação ambiental. E quando eu levei essa proposta, muitos deles não gostaram. O Felipe González, o primeiro-ministro espanhol, achou muito boa a idéia. O primeiro-ministro [francês Michel] Rocard também. Mas não encontrei a mesma receptividade, por exemplo, na Alemanha e na Inglaterra...

Augusto Nunes: [interrompendo] Por favor, governador, a fila de entrevistadores é grande.

Fernando Collor de Mello: Nós não somos exatamente... O que eu não aceito é que o Brasil seja colocado no banco dos réus pela poluição que vem acontecendo no mundo. Não somos nós, por exemplo, que estamos soltando bombas atômicas no Atol de Mururoa. Não somos nós que estamos soltando bombas atômicas no deserto de Nevada. Não somos nós que estamos causando as chuvas ácidas nas florestas do Canadá nem nas florestas da Escandinávia. Não somos nós que nos negamos a assinar a moratória da pesca da baleia. Não somos nós que estamos jogando fluorcarboneto na atmosfera a ponto de perfurar a nossa camada de ozônio. Não somos nós que estamos jogando monóxido de carbono para causar o efeito estufa. Ou seja, os países industrializados têm uma responsabilidade muito maior do que a nossa em relação à degradação ambiental. É preciso que cada um de nós – isso sim – varra a sua própria casa. O Brasil e a sociedade civil devem fazer esforços junto ao governo para que ele tome medidas efetivas no sentido de preservar o nosso meio ambiente. Se os países industrializados desejarem participar com fornecimento de tecnologia, sem naturalmente cobrar royalty, muito bem, eu acho que será muito bem-vindo. Agora, nunca uma interferência na nossa soberania no que tange à questão ambiental.

Augusto Nunes: Roberto Müller.

Roberto Müller Filho: Governador, por falar em tecnologia, o senhor é um governador do Nordeste, existe uma questão controversa e eu gostaria de saber a sua opinião. Por forte inspiração do atual ministro Roberto Cardoso Alves, do governo que o senhor tanto combate, estão sendo ampliadas as Zonas de Processamento de Exportação [distritos industriais onde há, para as empresas de exportação ali instaladas, incentivos fiscais, cambiais e regulatórios], que em muitos lugares, muitas pessoas comparam a verdadeiros paraísos fiscais, a setores desnacionalizantes, importadores de caixas-pretas. Mas muitos governadores do Nordeste, supondo que aquilo possa trazer algum progresso, estão a favor. Eu queria saber a sua opinião: o senhor é a favor das ZPEs ou o senhor é contra, como os industriais paulistas?

Fernando Collor de Mello: No momento em que essa questão das ZPEs começou a ser tratada, participando do Conselho da Sudene, eu ficava preocupado porque em nenhum instante esse assunto foi levado à deliberação do conselho, em nenhum instante. E eu cobrava insistentemente que alguma literatura nos fosse enviada. Que nos encaminhasse para debater conosco no plenário, conversar conosco no plenário do Conselho Deliberativo da Sudene alguém que nos mostrasse o que seria uma ZPE: o impacto de uma ZPE numa economia de um estado nordestino; a consequência da instalação, da possível instalação de uma ZPE e assim por diante; em que consistiria; qual era a filosofia desse projeto; se não haveria uma concorrência muito grande, inclusive com empresas já estabelecidas no sul do país e assim por diante. E, infelizmente, esse assunto em nenhum momento foi levado à discussão no plenário da Sudene. Nós não recebemos nenhum tipo de informação.

Roberto Müller Filho: [interrompendo] E até hoje o senhor está sem opinião formada sobre isso?

Fernando Collor de Mello: E por isso foi assinado, inclusive, eu não sei se vocês se lembram, mas isso demorou para ser assinado: “Vai ser assinado hoje, não, depois de amanhã”. E, de repente, a gente viu que o decreto havia sido assinado lá rapidamente, de uma maneira pouco transparente. Então, como essa coisa não está muito bem definida, como isso não está muito bem explicado, eu não posso emprestar o meu apoio enquanto eu não conhecer pelo avesso qual é rigorosamente a proposta dessa ZPE e o impacto que ela vai ter, não somente na economia do Nordeste, mas em relação também a outros estados de outras regiões do país.

Augusto Nunes: Governador, o senhor freqüentemente fala como se já estivesse eleito. Não haveria aí um perigoso excesso de autoconfiança?

Fernando Collor de Mello: Ao contrário, ao contrário, eu procuro sempre...

Luiz Weis: [interrompendo] Augusto, o governador também fala não só como se já estivesse sido eleito, mas como se houvesse entre o Palácio do Planalto, que o senhor espera ocupar a partir de 15 de março, e a sociedade brasileira um vácuo. Eu não tenho ouvido o senhor se referir muito ao Congresso Nacional, a partidos políticos. O senhor é candidato por um partido recém-nascido; o senhor, embora descendente de uma estirpe de políticos, vai governar com minoria, se for eleito. Há quem veja aí o germe de uma crise institucional, de um lado, pelos poderes que o Congresso passou a ter depois da Constituição, e há quem veja também, de sua parte, uma vocação autoritária e bonapartista.

Fernando Collor de Mello: O meu compromisso é com a democracia. Nós todos...

Augusto Nunes: [interrompendo] Governador, desculpe, eu gostaria que o senhor começasse, ressalvando a importância da pergunta do Weis, pelo começo: o senhor se considera eleito?

Fernando Collor de Mello: Quer que eu comece por lá?

Augusto Nunes: Por favor.

Fernando Collor de Mello: Não me considero eleito, absolutamente. Eu acho que ninguém mais do que eu vem dando provas de que não se considera eleito. Eu tenho trabalhado 18 horas por dia. Tenho viajado por este Brasil inteiro. Tenho procurado de todas as maneiras mostrar o meu programa, mostrar a minha mensagem em todas as localidades deste país. Isso faz com que se veja, na prática, que eu não me considero eleito. Se eu estivesse nesse remanso da possibilidade de uma vitória já alcançada com três meses de antecedência, talvez eu estivesse refreando esse meu animus vincendi [empenho por vencer] na questão eleitoral. Então, absolutamente, eu tenho a perfeita consciência de que a eleição só se ganha depois de colocado o voto na urna, depois de contado esse voto e depois de proclamado oficialmente, por quem de direito, o resultado da eleição.

Roberto Muller Filho: O senhor não está querendo dizer que desconfia das pesquisas, não é?

Fernando Collor de Mello: Não, absolutamente. Eu confio muito nas pesquisas. Eu espero apenas que elas me concedam, sejam ainda mais generosas e que, até o dia 15 de novembro, nós possamos ter um índice ainda mais confortável do que aquele, que seguramente nós temos.

Augusto Nunes: Agora, a questão levantada pelo Weis.

Luiz Weis: A questão de como o senhor vai exercer o poder pelo qual o senhor trabalha 18 horas por dia.

Fernando Collor de Mello: Eu vejo com muita preocupação, com muita preocupação o fato de essa eleição não estar sendo decidida pela questão partidária, nem muito pouco se dando importância às lideranças políticas. Isso é preocupante. Mas isso não é sintoma, como alguns apressadamente desejam entender, da alienação da sociedade, absolutamente. Essa é a resposta que a sociedade dá a uma classe política que, numa parte dela, teima em fazer da atividade política uma profissão vil, ao invés de uma atividade nobre. É a resposta que a sociedade civil está dando aos partidos políticos que desprezaram os seus programas e os seus compromissos com a população. Ou seja, é a reação da sociedade contra isso que aí está. Então, eu vejo com preocupação o fato de essa eleição estar sendo definida sem que se tangencie a questão partidária, a questão das lideranças políticas...

Luiz Weis: [interrompendo] Mas o senhor tampouco tem feito coisas no sentido oposto.

Fernando Collor de Mello: Veja bem, porque isso não é exatamente um serviço à causa democrática. O meu entendimento é de que a grande participação que eu posso dar, caso eu venha a ser eleito presidente da República, é estabelecer uma nova prática na convivência entre os partidos. E dou uma prova na minha ação efetiva. O meu partido é um partido jovem, é um partido novo, que nasceu em fevereiro deste ano. Eu poderia já ter, no meu partido, mais de cem parlamentares federais. E, no entanto, não os tenho. Tenho pouco mais de vinte parlamentares. Por quê? Porque também, na minha cabeça, não cabe mais a idéia, a possibilidade de se estabelecerem neste país partidos hegemônicos. Já não basta o presidencialismo ser um devorador de partidos e de sistema partidário para que nós ainda pioremos a situação estabelecendo aqueles partidos mastodônticos, não é? Que não trazem nenhum serviço à democracia neste país...

Luiz Weis: [interrompendo] [...] Partido Trabalhista e [o Partido] Conservador na Inglaterra como o Partido Republicano e [o Partido] Democrata nos Estados Unidos. Isso não traz benefício à democracia?

Fernando Collor de Mello: Veja bem, num sistema como o nosso, não, porque é difícil, quase impossível, você fazer conviver um sistema presidencialista com um sistema partidário forte. É absolutamente impossível. Por isso que eu defendo a instituição e a implantação do parlamentarismo, porque o parlamentarismo sim, ele convive bem com partidos. A partir da instituição desse sistema de governo, nós teremos possibilidades de criar, de estabelecer no Brasil partidos com contornos definidos, partidos ideologicamente consistentes, de modo a que a sociedade possa se sentir refletida neste ou naquele partido e fazer dele como verdadeiros condutos...

Augusto Nunes: [interrompendo] Estamos no finalzinho do programa.

Fernando Collor de Mello: ...os verdadeiros condutos das aspirações populares junto aos centros de poder.

[sobreposição de vozes]

Augusto Nunes: [interrompendo] Por favor, nós temos só quatro minutos. Eu queria que todos fossem extremamente concisos agora, para que possam falar. Julinho.

Júlio César Mesquita: Eu gostaria de saber o seguinte: o senhor é a favor ou contra o aborto?

Fernando Collor de Mello: Eu sou contra o aborto.

Júlio César Mesquita: O senhor é a favor de que Igreja, progressista ou tradicional?

Fernando Collor de Mello? Eu sou católico apostólico romano e vejo na Igreja, como um todo, uma demonstração da religiosidade da nossa fé.

Augusto Nunes: Rossi, rapidinho.

Clóvis Rossi: Governador, eu gostaria de entender essa história de políticos contra isso que está aí. O senhor é parte disso que está aí. O senhor foi membro do partido do governo durante todo o ciclo militar, foi prefeito biônico de Maceió [entre 1979-1982], foi deputado federal, aliás com poucos projetos apresentados, a maioria deles de cunho estatizante, de benefícios ao funcionalismo público...

Fernando Collor de Mello: [interrompendo] Talvez seguindo o exemplo do doutor Tancredo, o exemplo de outros assim também...

Clóvis Rossi: O doutor Tancredo, ao que me consta, não foi membro do partido de sustentação do governo...

Fernando Collor de Mello: [interrompendo] Foi membro do parlamento.

Clóvis Rossi: Mas não tem nada a ver com o regime militar, a não ser que o senhor confunda o executivo com o parlamento...

[sobreposição de vozes]

Fernando Collor de Mello: O que é o seguinte: rigorosamente, essa é a minha posição, a minha posição é essa. Realmente o fato de ter sido sempre leal ao meu pai, eu não poderia deixar jamais de segui-lo, como hoje, se ele estivesse vivo, eu o estaria sempre seguindo rigorosamente o que ele dissesse, mesmo que não concordasse, mas o estaria seguindo, estaria seguindo o que ele me dissesse, sem dúvida nenhuma. Eu fiz isso no decorrer de toda a minha vida, até o dia em que ele deixou a mim, a minha família e nos deixou a todos. Então, fundamentalmente, o que eu defendo é o estabelecimento de uma maneira de se fazer política baseada na austeridade, na dignidade, na honradez, no caráter...

[sobreposição de vozes]

Augusto Nunes: [interrompendo] Rapidinho, Müller, Nascimento e encerra o programa.

Roberto Müller Filho: O senhor defendeu o parlamentarismo; a Constituição prevê lá para a frente. Eleito presidente da República, o senhor enviará uma mensagem ao poder legislativo propondo a antecipação do parlamentarismo para que haja durante o seu governo?

Fernando Collor de Mello: Veja bem, eu entendo que, caso eu venha a ser eleito, eu poderei dar uma grande colaboração, uma grande contribuição à implantação do sistema parlamentarista. Como? Sendo o presidente – sempre se eleito for – que vai fazer a transição de um sistema para o outro, de acordo com o que reza o dispositivo constitucional que já estabelece a revisão constitucional, e também o novo plebiscito para se estabelecer se monarquia, presidencialismo ou parlamentarismo como o sistema de governo que a sociedade mais deseja. Isso eu estarei fazendo para que não haja esse trauma, para que não haja essa fissura institucional que, caso não tenha um presidente com compromisso com o parlamentarismo, poderia seguramente haver.

Augusto Nunes: Nascimento, última pergunta. O governador só tem um minuto para a resposta.

Carlos Nascimento: Além da famosa caça aos marajás, pela qual o senhor se tornou nacionalmente conhecido, eu gostaria que o senhor citasse aqui dez... ou seis obras que o senhor fez no governo de Alagoas e que o habilitam para pretender administrar este país.

Fernando Collor de Mello: Bom, uma delas, que me dá muita gratificação, foi a construção de um conjunto habitacional de três mil casas, aproximadamente, em noventa dias, por um custo um terço inferior ao que a Caixa Econômica financiava naquela oportunidade.

Carlos Nascimento: Segunda.

Fernando Collor de Mello: Segunda: o emissário submarino, que foi uma obra iniciada com recursos do governo federal, em governos anteriores ao meu, no valor de 12 a 14 milhões de dólares, dos quais o governo federal deu apenas uns quatro milhões iniciais, e que, com recursos próprios, nós tivemos que concluir na base de 12 a 11 milhões de dólares de recursos próprios para concluir uma obra da maior importância para o saneamento básico da cidade de Maceió.

Carlos Nascimento: Terceira.

Fernando Collor de Mello: Terceira: o recapeamento e a construção de cerca de trezentos quilômetros de rodovias; a construção de postos de saúde; recuperação de hospitais; construção de novos hospitais; construção de escolas, de salas de aula. Tudo isso faz parte de um elenco que me deixou muito gratificado no decorrer desses dois anos e dois meses, sobretudo pela perseguição implacável que nós sofremos por parte do governo federal.

Augusto Nunes: Governador, o senhor me desculpe, porque devo interromper agora o programa. Nossos agradecimentos ao governador Fernando Collor de Mello, aos entrevistadores e aos telespectadores que nos ligaram.

 

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